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UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZAGOES a. O Objetivo da Organizagao Visto que a maioria das ages (mas de forma alguma todas) praticadas por um grupo de indivéduos ou em nome dele se do através de uma organizagao, sera proveitoso analisar as organizagdes de uma maneira genérica ou teGrica’. (© ponto légico para iniciar qualquer estudo sistemAtico sobre organizagdes € 0 seu propOsito. Mas existem organizagdes de todos os tipos, formas e tamanhos, mesmo em se tratando de organizagGes econOmicas, ¢ ha ainda a diivida sobre se haveria algum propésito simples que poderia ser considerado caracterfstico de todas as organizagées em geral. Nao obstante, um propésito que de fato € ca- 1. Os cconomistas téim em sua maior parte neglizenciado a elaboragio de teorias das organizagdes, mas Ind algumas obras que abordam o asstnto sob wma ética econdmica. Ver, por exemplo, trés ensaios de Jacob Marschak, “Elements for a Theory of Teams", Managemen Science, 1, jan. 1955, pp. 127-137, ‘towards an Beonomie Theory of Organization and information”, em R. M. Thrall, C. H. Combs & R. L. Davis, Decision Processes, New York, John Wiley, 1954. pp. 187-220. © “Efficient and Viable Organization Forms”, em Mason Haire, Modern Organization Theory, New York. John Wiley, 1959. pp. 307-320. Dois ensaios de R. Radner, “Application of Linear Programming to Team Decision Problems". ‘Management Seience. V. jan. 1959, pp, 143-150, ¢ “Team Decision Problems”, Annals of Mathematical Statisies, XXXL, set. 1962, pp. 857-861. De C. B. McGuire, "Some ‘Team Models of a Sales Organization”, Management Science, VII, jan. 1961. pp. 101-130. De Oskar Morgenstern, Prolegomena toa Theory of Organization, Santa Monica, Calif, RAND Research Memorandum 734, 1951. De James G. March & Herbert A. Simon, Organizations, New York, John Wiley, 1958; ¢ de Kenneth Boulding, The Organizational Revolution, New York, Hagper, 1953. 7 LOGICA DAAGHO COLETIVA racterfstico da maioria das organizagSes, e com certeza de praticumente todas as organizagdes com um importante aspecto econdmico, € a promocZo dos inte- fesses de scus membros. isso deve parecer Sbvio, ao menos da perspectiva do economista. Sem divida, algumas organizagSes podem, por ignorincia, fracas- sar na promogiio dos interesses de seus membros, e outras podem ser tentadas servir somente aos interesses de sua lideranga’, Mas as organizagGes frequente- mente perecem quando nao fazem nada para promover os interesses de seus membros, e esse fator pode reduzir severamente 0 niimero de organizag&es que nao servem aos seus membros. {A idéia de que as organizagdes ou associagdes existem para promover 03 in- teresses de seus membros esti longe de ser uma novidade ou de ser uma nogao peculiar da teoria econdmica. Remete aos tempos de Arist6teles, que escreveu: “Os homens cumprem sua jornada unidos tendo em vista uma vantagemt particular © como meio de prover alguma coisa particular necessaria aos propésitos da vida; de maneira semelhante, a associacgo politica parece ter-se constitufdo original- mente, e continuado a existir, pelas vantagens gerais que traz™. Mais recentemen- te o professor Leon Festinger, psic6logo social, assinalou que “a atragZo que exer- ce a afiliago a um grupo nfo é tanto pela sensagio de pertencer, mas mais pela possibilidade de conseguir algo através desse pertencer™. No final de sua carrei- ra, Harold Laski, cientista politico, considerava ponto pacifico que as “associa- ges existem para realizar propésitos que um grupo de pessoas tém em comum’ (0 tipo de organizagées focalizado neste estudo & aquele que supostamen- te promove os interesses de seus membros®, Dos sindieatos se espera que lutem 2. Max Weber chamou @ atenglo para @ caso em que uma organizaeio continua a exist durante algum tempo apds ter perdido sua razdo de ser apenas porque algum funeiondvio esté vivendo as custas dela. Nera sun Theory of Social and Economie Organization, tad. de "Talcott Parsons & A. M. Henderson, New York, Oxford University Press, 1947, p. 318. 23. Eien vit9.11 60a, 44. Leon Festinger, “Group Attraction and Membership", ein Dorwin Cart Dynamies, Evanston, IIL, Row, Peterson, 1953, p. 93. A Grammar of Politics, 4. ed, London, George Allen & Unwin, 1939, p. 67. ‘De orzanizagaes flantrdpicas e rligiosas nto se espera necessariamente que sirvam somente aos inte resses de seus membros; iis organizagdes tém outros propsatlos considesados mais importantes, nde= Dpendente do quanta seus membros “precisem” pertencer ou se sintam melhorados ou avxiliados pelo {Tato de pertencer. Masa complexidade de tals organizagbes nlo precisa ser debatida extensamente aqui, porque este estudo se concentrara em organizagdes com um significtivo componente evonOmico. O Foco deste trabalho recaird sobre algo parecido a0 que Max Weber chamava de “grupo associative": ‘Weber classifica um grupa de “associative” se “a orientagta de sua ato social funda-se sobre um acon do racionsimente motivado”, Ele conirastou seu “grupo associativo” com 6 “grupo comunal”, fundado Sobre afetos pessosis, relacionamentos exétices ete. como a familia. (Ver Max Weber, pp. 136-139, © Grace Coyle, Sovial Process in Organized Groups, New York, Richard Smith, Ine. 1930, pp. 7-9). A {gies da teoria aqui desenvolvida pode ser estendida a organizagées comunai, eligiosas ¢ ilantsSpi- ight & Alvin Zander, Grows 8 Usta TEOREA DOS GRUPOS SOCIAIS & DAS ORTANTZACORS por salirios mais altos e melhores condigdes de trabalho-para seus afihiados: das organizagdes Turais espera-se que lutem por uma legislago favordivel a seus membros; dos cartéis espera-se que Iutem por pregos mais altos para as empre- sas integrantes; das companhias espera-se que defencam os interesses de seus acionistas”; € do Estado espera-se que promoya os interesses comuns de seus cidadaos (embora nesta nossa era nacionalista o Estado frequentemente tena interesses © ambighes distanciadas das de. scus cidadios). E importante notar que os interesses que todos esses tipos de organizagdes supostamente devem promover so em sua maioria interesses eonuns: 0 intéresse comum dos membros de um sindicate por salirios mats altos, 0 anteresse comum dos produtores rurais por legislagdes mais favordveis, o interesse comum dos membros de um cartel por pregos mais altos, o interesse comum dos ucionistas. por dividendos mais altos € agdes valorizadas, 0 interesse comum dos cidadios por um bom governo, Nao é uma casualidade que de todos os tipos de organiza es listadas acima espere-se que trabalhem pelo interesse comin de seus mem- bros. Intetesses puramente pessoais ou individuais podem ser defendiclos, © em eral com muita eficiéncia, por ages individuais independents. Nao ha obvia- ‘mente nenhum sentido em formar uma organizagzo quando uma ago individual independente pode servir aos interesses do individuo tio bem ou melhor do que uma organizagaio. Nao teria nenhum cabimento, por exemplo, constituir uma organizacao simplesmente pra jogar paciéncia. Mas quando um certo riimero de individuos tem um interesse comum ou coletivo — quando eles compartilham um simples propésito ou objetivo —a agdo individual independente (como loz0 yeremos) ou no teri condigdes de promover esse interesse Comum de forma alguma, ou nao serd capaz dé promové-lo adequadamente. As organizagoes po- dem portante desempenhar uma fungiio importante quando hi interesses comuns ‘ou grupais a seem defendidos e, embora elas freqlientemente também sirvam a interesses puramente pessoais e individuals. sua fungao ¢ earacteristica bésica € sua faculdade de promover interesses comuns de grupos de individuos. A premussa de que as organizagdes existem tipicamente para promover os imteresses comuns de grupos de individuos esté implicita na maior parte da lite ax, mas ela no € particularmente tl no estado e-grupos desse-upo, Ner p.73;nota 17 pp. 174176 {do presente lovra 7 Isiné. seus membros. Fate estndo nha Segue uso terminoligico dos tebricos que descreves empregs~ dos como “membros” da Companhia para a qual tabalhsm. Aqu) € mais cotvenicnte adotar, em ve2 ‘gaguets. Unguagem coudiana ¢ aistimguit os membros ge um sitaicato, por exemplo, dos emprex> dor desse-sindicato, Similarmente, os membros de- um sindicaro sero considerados empregados: da -companhia. para a qual icabatham, ao passo que os membros dessa-eompanhia so seus acionistas. 1 A LOGICA DA AGAO COLETIVA ratura sobre organizagées, ¢ dois dos autores jé citados fazem essa pressuposi- go explicitamente: Harold Laski enfatizou que as organizagGes existem para atingir propésitos ou interesses que “um grupo de homens tem em comum”, & ao que tudo indica Aristételes tinha uma idéia similar em mente quando afirmou que as associagdes politicas s4o criadas e mantidas por causa das “vantagens ge- rais” que trazem. R. M. Maclver também asseverou essa idéia explicitamente ao dizer que “toda organizagao pressupée um interesse que todos os seus membros partilham’”*. Mesmo quando grupos nao constitufdos em organizagiio s&o discutidos, ao menos em tratados sobre “grupos de pressio” e “teoria dos grupos ‘sociais”, a palavra “grupo” € usada de uma mancira que denota “um ndmeto de individuos com um interesse comum”. Obviamente seria razodvel rotular como “grupo” até mesmo um grupo de pessoas selecionadas aleatoriamente (e, portanto, sem ne~ nhum interesse comum nem nenhuma caracterfstica unificadora), mas a maio- tia das discussdes a respeito de comportamento grupal parece lidar principalmen- te com grupos que tém interesses comuns. Como diz Arthur Bentley, 0 fundador da “teoria dos grupos sociais” da ciéncia politica moderna, “niio existe grupo sem seu interesse”’. O psicélogo social Raymond Cattell foi igualmente explicito e proclamou que “todo grupo tem seu interesse’"?, E também nessa acepgfio que a palavra grupo sera usada aqui Assim como se pode supor que os individuos que pertencem a uma orga- nizag&o ou grupo tém um interesse comum", eles também tém interesses pura- mente individuais, diferentes dos interesses dos outros membros do mesmo grupo ou organizagdo. Todos os membros de um sindicato, por exemplo, tém um inte- 8. RUM. Maclver, “Interests”, Encyclopaedia of the Social Sciences, VM, New York, Macmillan, 1932, p. 147. 9. Arthur Bentley, The Process of Government, Evanston, U.. Principia Press, 1949, p. 211. David B. ‘Truman adota uma abordagem semelhante: ver sea The Governmental Process, New York, Alfred A. Knopf, 1958, pp. 33-35. Ver também Sidney Verba, Small Groups and Political Behavior, Princeton, N.J., Princeton University Press, 1961, pp. 12-13. 10. Raymond Catteni, “Concepts and Methods in the Measurement of Group Syntality", em A. Paul Hare, Edgard F. Borgatia & Robert F Bales, Small Groups, New York, Alfred A. Knopf, 1955, p. 115 11. Belaro que qualquer grupo ou organizagio estaré usudimente dividide em subgrupos ou faces an- lagonicas. Esse fato nao debilita a pressuposigao feita aqui de que as organizagoes existem para servir 08 interesses comuns de seus membros, porque essa pressuposicao nao implica que os conflitos in- ternos do grupo estejam sendo desprezados. Os subgrupos antagonicos dentro de uma organizagao uusualmente partitham algum interesse comum (seno, por que manteriam a organizagio?), ao mesmo tempo que cada subgrupo ou facgio também tem um interesse comum independente ¢ s6 seu. Alias, esses subgrupos com frequencia terdo 0 interesse comum de derrotar algum outro subgrupo. Portan- to, a abordagem utilizada aqui nfo despreza 0 conflito dentro de grupos e organizagSes porque consi- dera cada organizagio como uma unidade somente até 0 ponto em que ela de fato tenta servir a um. interesse comum, e considera as varias faccOes oponentes para analisar 0 vigoroso antagonismo entre elas, como unidades. 20 ALOGICA DA ACHO COLETIVA ‘a maximizagao dos lucros das empresas em um setor industrial perfeitamente competitivo pode agir contrariamente aos interesses delas como grupo é hoje perfeitamente compreendido e aceito". Um grupo de empresas ansiosas por uma ‘maximizagio de seus lucros pode aeabar agindo para reduzir seus lueros globais porque em um quadro de competicdo perfeita cada empresa €, por definigao, tio pequena que pode ignorar o efeito de sua produgio sobre o prego. Cada empresa consideraré vantajoso para si aumentar sua produglo até o ponto em que 0s cus- tos minimos de produgo igualem o preco, ignorando os efeitos de sua producdo excedente sobre a posicio de seu setor industrial como um todo. £ verdade que 0 resultado final € que todas as empresas ficam em piorsituagdo, mas isso nao sig- nifica que elas nao tenham maximnizado seus lucros. Se uma empresa, antevendo a queda de pregos resultante do aumento da produgdo de seu setor industrial, res- tringisse sua propria produgao, ela perderia mais do que nunca, porque seu prego cairia de qualquer maneira e ainda por cima ela teria uma produgdo menor para vender. Em um mercado perfeitamente competitivo essa empresa ficaria apenas com uma pequena parte dos beneficios (ou da receita extra) obtidos pelo setor industrial gragas & sua atitude individual de conter 2 producto. Por essas razées € hoje de compreensio geral que, se as empresas de um determinado setor industrial esto maximizando lucros, os lucros desse setor ‘como um todo serio menores do que seriam sem essa maximizacio'*. E quase todo mundo concordard em que essa conclusdo te6rica bate com os fatos em mer- cados caracterizados por competigdo pura. O ponto importante aqui € que isso € verdade porque, embora todas as empresas tenham um interesse comum em pregos mais altos para o produto do seu setor industrial, & do interesse indivi- dual de cada uma delas que as outras paguem o custo (a indispensdvel redugdo da produgio) necessério para obter pregos mais altos. Praticamente a tinica coisa que pode impedir os pregos de cafrem de acor- do com o processo acima deserito em mercados perfeitamente compettivos se- ria a intervencdo externa. Pregos subsidiados pelo governo, tarifas, acordos de cartel e coisas semelhantes podem proteger a8 empresas em um mercado com- petitivo de agirem contra seus prOprios interesses. Tal ajuda ou intervencao é bastante comum. E, portanto, importante perguntar como ela se dé. Como um 13, Baward H, Chambetin, Monopolisic Conpetion, 6.3, Cambridge, Harvard University Pres, 1950, pa 14, Para wma discussio mais comple sabe esa questo, yer Mancur Olson Jr. & David MeFartnd, "The Restoration of Pure Monopoly and the Concept of the Industry”, Quarterly Journal of Economics, XVI, nov. 1962, pp. 613-631 ‘UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES setor industrial competitivo obtém assisténcia do governo para manter o prego de seu produto? Considere-se um setor industrial hipotético, competitivo, e suponha-se que 4 maioria dos produtores desse setor industrial deseje uma tarifa especial, um programa de proteyio de prevos ou algurna outra intervengio governamental para ‘aumentar o prego de seu produto, Para obter essa assisténcia do governo, 08 pro- dutores desse setor industrial presumivelmente tergo de constituir um lobby: te~ Flo de se tornar um grupo de pressao ativo'’. Esse lobby poders ter de levar a cabo uma considerdvel campanita, Se for encontrada uma resistencia significa- tiva, grandes quantidades de dinheiro sertio neceéstrias". Os especialistas em re- lagbes puiblicas terdo de influenciar os jomais, e pode ser preciso fazer alguma Propaganda, Provavelmente serd necessério contratar organizadores profissionais Para armar “manifestagSes populares espontincas” envolvendo os angustiados rodutores do setor industrial em questo ¢ fazer esses produtores escreverem cartas a seus congressistas”, Essa campanha pela assisténcia governamental to- ‘mard tempo de alguns produtores do setor industrial ~ e dinheiro, 4 um notével paralelo entre o problema que o setor industrial perfeitamen- {e competitivo enfrenta quando luta para obter assisténcia do governo e 0 pro- blema que ele enfrenta no mercado quando as empresas incrementam sua pro- dugdo e ocasionam quedas de pregos. Assim: como ndo pareceria racional para um determinado produtor restringir sua produgio a fim de talvee obter um pre- $0 mais alto para 0 produto de seu setor industrial. ndo the pareceria racional sacrificar seu tempo e dinheiro para dar suporte a um lobby que luta pela as- sisténcia do governo a esse mesmo setor industrial. Em nenhum dos dois casos seria do interesse do produtor assumir individualmente nenkum dos custos, Um lobby, ow mesmo uma organizacdo sindical ou qualquer outra que trabathe pe- los interesses de um grande grupo de empresas ou trabathadores de um deter- 15. Robert Michels susteta em seu clsscoestudo quo “a democracia €inconeevel sm oganizaybes", « que “o principio de‘rzanizago € uma condgao absoltamente essencial para Ina pales. das ‘massa. Neo seu Politica! Furtes, ad igl. Eden & Cedar Paul, New Yor, Dover Pblaios, 1959, Pp. 21-22, Vertambém Robert A. Brady, Businer asa System of Power, New York, Columbia Univer. Sy Press, 1985. 193, 16, Alexander Head, The Costs of Democracy, Chape il University of North Carolina Pets, 1960,spe- C/V, Porque se Row, VV, > Cv, entilo Vi>c Portanto, se F; > C/V,, 0 ganho para o individuo que se empenhar para que seja provido 0 benefcio coletivo excederé 0 custo. Isso significa que ha uma presun- Go de que © beneficio coletivo seré provido se seu custo for, no ponto étimo de obtencio do beneffcio para qualquer individuo do grupo, tio pequeno em rela- G40 ao ganho do grupo como um todo com esse mesmo beneficio coletivo que 0 ganho total exceda 0 custo total por tanto ou mais do que o ganho grupal exce- de 0 ganho individual Em sintese, portanto, a regra & que hé uma presuncio de que o beneficio coletivo sera provido se, quando os ganhos do grupo com esse beneficio coleti- vo estiverem crescendo a 1/F, vezes a taxa de crescimento do custo total do pro- Vimento desse beneffcio (isto é, quando dV,/aT = 1/F{dC/AT)), 0 beneficio to- tal para o grupo for um miltiplo maior do custo desse beneficio do que os ganhos do grupo so dos ganhos do individuo em questo (isto é, V,/C > V,/V,). O grau de generalidade da idéia bésica do modelo acima pode ser ilustra- do aplicando-o a um grupo de empresas de um determinado mercado. Tome-se lum setor industrial com um produto homogéneo ¢ suponha-se que as empresas desse setor almejem independentemente aumentar seus Iueros. Para maior sim- plicidade, suponha-se também que 0 custo marginal de produgio seja zero. A fim <2 evitar a introdugio de novos simbolos grificos e de evidenciar a aplicabilidade da analise acima, estabelegamos que T agora se refere a prego, S, a0 volume fi- ssico das vendas do grupo ou setor industrial € 5, ao tamanho ou volume fisico ddas vendas de uma determinada empresa i. F, ainda indica a “fragio” do total Sorespondente a determinada empresa ou membio do grupo (indica agora a fra- ‘s#o das vendas totais do setor ou grupo que cabem 2 empresa i em um determi- ado momento: F, = S/S,). O prego, T, afetard a quantidade vendida pelo setor Jedusirial em uma extensdo dada pela elasticidade da demanda, E. A elasticida- & E = -T/S,(dS,/aT), ¢ disso se segue uma stil equagio para a inclinagdo da ” ALOGICA DA ACKO COLETIVA curva de demanda (dS,/dT): dS, /aT = -ES,/T. Sem eustos de producdo, 0 ponto timo de produgio para uma empresa se daré quando dA aT = a(S TVET = 0 Si+ Masya7) = FS, + TUdS,/aT) ‘Aqui, presumindo-se que a empresa age independentemente, ou seja, nfo espe- +a nenhuma reagio da parte das outras empresas, dS, = d8,, portanto FS, + T(dS,/aT) = 0 e desde que d5,/dT = -ES,/7, FS,—T(ES,/1) = 0 S(FE) = 0. Isso s6 pode acontecer quando F; = E. Somente quando a elasticidade da demanda para 0 setor industrial for menor ou igual a frago da produgZo cotal do setor correspondente a uma empresa em particular, essa mesma empresa terd algum incentivo para restringir sua produgao. Uma empresa que estiver tentan- do decidir se restringiré ou ndo sua produgdo a fim de obter um prego mais alto id comparar 0 custo, ou perda da produgao, previsto ante os ganhos que poderd obter com 0 “beneficio coletivo": o prego mais alto, A elasticidade da demanda seri a medida, Se F,for igual a E, isso significa que a elasticidade da demanda do setor industrial é igual & parcela da producio do setor correspondente em- presa em questao. Se a elasticidade da demanda for, digamos, 1/4, isso significa ue uma redugio de 1% na produgdo traré 4% de aumento de prego, o que torna evidente que, se determinada empresa tem um quarto da produgo total do setor industrial, ela deveria parar de aumentar sua produclo ou restringi-Ia. Se hou- ‘vesse, digamos, mil empresas do mesmo tamanho operando em um determinado setor industrial, @ elasticidade da demanda para 0 produto desse setor teria de ser 1/1000, ou menos, para que se tornasse necesséria qualquer contengio de produ, Portanto, néo hé equilfbrio de lucros em qualquer setor industrial que conte com um nimero muito grande de empresas. Quando, a medida que mais 7 (0 prego mais alto) é provido, a taxa de crescimento dos ganhos do grupo forem I/F, yeres tao grande quanto a taxa a que os custos totais de restri¢ao de produ- ‘go aumentam, uma empresa que almeje um aumento de lucros comecaré por a ‘UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAI E DAS ORGANIZACOES Testringir sua produgio, isto é, comegaré agindo de maneira coerente com os interesses do setor industrial como um todo. Eo mesmo critério de comporta- ‘mento grupal usado no caso mais genérico explicado anteriormente. Essa andlise de um determinado mercado € idéntica & de Coumnot®. O que no € surpreendente, visto que a teoria de Cournot € em esséncia um caso espe- ial de uma teoria mais geral sobre a relago entre os interesses de um membro de determinado grupo € os interesses do grupo como um todo, A teoria de Cournot pode ser encarada coma um caso especial da anilise aqui desenvolvi- da. A soluglo de Cournot eva portanto & conclusio de senso comum de que uma ‘empresa agiré para manter alto o prego do produto que seu setor industrial ven- de somente quando o custo total de manter esse prego alto ndo for maior do que sua parte do ganho que o setor obterd com esse preco alto. A teoria de Cournot 6, assim como a anilise da ago grupal fora de um contexto de mercado, uma teoria que questiona quando seria do interesse de uma unidade individual de um ‘grupo agir pelo interesse do grupo como um todo. H4 um ponto em que 0 caso de Cournot é mais simples do que a situago do grupo fora do contexto de mercado, principal objeto deste estudo. Quando um srupo visa a um beneficio coletivo corriqueiro, ao invés de um prego mais alto através de uma contengio de produgio, ele logo descobre, como se mostrou no Parégrafo inicial desta parte, que a primeira unidade do beneficio coletivo obti- dda serd mais cara em si do que algumas unidades subsequentes do mesmo bene- ficio. Isso se deve 2 morosidade ¢ outras caracteristicas técnicas dos beneficios oletivos e também ao fato de que algumas vezes pode ser necessério montar uma organizagto para obter 0 beneficio coletivo. Isso chama a atengio para 0 fato de que ha duas questées distintas que um individuo em um grupo fora do contexto de mercado deve considerar. Uma é se o ganho toral que ele obteré com © provimento de determinada quantidade do beneficio coletivo excederd 0 cus- fo total dessa quantidade de beneffcio coletivo. A outra questio é a de saber que ‘Guantidade do beneficio coletivo ele deverd prover, se alguma quantidade for pro- “ida, € a resposta depende, claro, da relagdo entre custos e ganhos marginais, ‘mais do que totais. Similarmente, também duas questdes distintas sobre o grupo como um ‘do que precisam ser respondidas. Nao € suficiente saber se um grupo pequeno wird prover-se de um beneficio coletivo ou nic, E também necessério de- jar se a quantidade do beneficio coletivo que o grupo ir obtc, se obtiver ‘Aszusin Coumot, Researches tno the Marhematical Principles ofthe Theory of Wealth tad. am PNathanie!T Bacon, New York, Macmillan, 1897, epecalmente o Cap. vi pp. 70-90. A LOGICA Da acho COLETIVA algum, tenderé a ser um “timo de Pareto” para 0 grupo como um todo. Ou seja: Seré 6timo o nivel de ganho total com relagdo as necessidades do grupo como tum todo? A quantidade étima de um beneficio coletivo para um grupo como um ‘odo, se cle obtiver alguma quantidade, seria dada quando o ganho do grupo es- tivesse crescendo na mesma taxa que 0 custo do beneficio coletivo, isto é, quan. do dV, /aT = dC/aT. Dado que, como foi demonstrado acima, cada individuo do Erupe teria um incentivo para se prover mais do beneficio coletivo até F (dV, /aT = ACAT. ¢ dado que 2F; = 1, poderia parecer & primeira vista que a soma do que 0s individuos, agindo independentemente, proveriam iria bater com o ponto dt. ‘mo para o grupo. Pareceria também que, assim, cada individuo do grupo estaria areando com uma fragao, F;, do Gnus total, de maneira que o custo do provimen- to do beneficio coletivo estaria sendo compartilhado de maneira “correia”, no ‘entido de que seria compartido na mesma proporgio que os beneficios, Mas nio € 0 que acontece. Geralmente, a quantidade de beneficio coletivo Provida serd surpreendentemente subtima, ¢ a partilha do Onus seré surpreen- dentemente arbitréria. Isso ocorre porque a quantidade x de beneficio coletivo ue cada individuo obtém para si iré também automaticamente para os outros Faz parte da mesma definigdo de beneficio coletivo que um membro nto pode excluit os outros membros do grupo das vantagens trazidas pela quantidade x de beneficio piblico de que ele se proven". Isso significa que ninguém no grupo terd um incentivo independente para prover qualquer quantidade do beneficio co. Tetivo uma vez que a quantidade que seria adquirida pelo individuo com o mai. ‘or F; do grupo ja estivesse disponfvel. Isso sugere que, assim como hé uma ten< Géncia a que os grupos grandes nio consigam prover-se de quantidade alguma de beneficio coletivo, hd nos grupos pequenos wma tendéneia a um provimento do beneficto coletivo abaixo do nivel dtimo para 0 grupo como um todo, Essa Subotimidade serd tanto mais grave quanto menor for o F; do “maior” indivfduo do grupo. Jé que quanto maior o nimero de membros do grupo, no mais nito ha. vendo diferencas, menores serdo as F,, segue-se que quanto mais individuos howver no grupo, mais grave serd a subotimidade. Fica claro, portanto, que os Um benefiio psbico pode ser eonrumido em quantiles ‘esiguals por individuos disinose, anda assim, sr ttamente um benefite pubes nc sate a {Ret consumo por um individuo de forma alguna diminul a quantdacedisponvel par os enna E, mesmo quando o consumo entra por um ndviduo aaireta redufées margimas va Gendane de one! PH os outs, ax concluses qulitatvas de que haved subotimidade pita despise clonal de rus eontinuam vidas 0 LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS DAS ORGANIZAGOES ‘grupos com mais membros geralmente desempenhario com menos eficiéncia do que 0s grupos com menos membros. [Nao € suficiente, porém, considerar apenas 0 niémero de individuos ou uni- dades de um grupo, pois a F de qualquer membro dependeré ndo apenas de quanto membros hi no grupo como também do “tamanho” (S;) de cada membro toma- do individualmente, ou seja, a medida em que ele ser beneficiado por um de- terminado nivel de provimento do beneficio coletivo. Um proprietario de vastas fazendas pouparé mais com uma determinada redugo de impostos sobre pro- riedades rurais do que o proprietério de apenas uma modesta casa de campo, «6, no mais nio havendo diferencas, teré um F, maior, Um grupo composto por membros de 5; desigual e, portanto, F; desigual exibiré uma tendéncia menor & subotimidade (e terd mais probabilidade de prover-se de alguma quantidade de determinado beneficio coletivo) do que um grupo, & parte essa caracterfstica, idéntico porém composto por membros de tamanho igual. Considerando-se que ninguém tem incentivo para prover mais nenhuma quantidade do beneficio coletivo uma vez que 0 membro com o maior F; tenha obtido a quantidade que desejava, também exato que em um grupo pequeno a partitha do Onus envolvido no provimento do beneficio coletivo ndo seré proporcio- nal 20s ganhos individuais trazidos pelo beneficio coletivo para cada membro do ‘grupo. O membro com o maior F;arcard com uma parte desproporcional do Gnus"*, 45s difeengas de tamanho também podem te aguma imporincia em contestos de mereado. Una ane empresa em ut dterminado mercado obterd uma frag maior do ganho taal pars o Stor com ‘ualguer prego mas alto do que uma emoresa pequenae ter, portant, maior incentvo para retin: [sca pradugi. Isso sugere que a comptiga ce algunas pouces grandes empresas no meio de mi {as pequenas,contariamenteaslgumasopiige, pode condazirs uma ma alocapto de ecus0s. Para tum visio diferente desta queso, ver Willard D. Aran, "The Competition ofthe Few among the Many", Quarterly Journal of Eeonomirs, LXX, ago, 1986, pp. 327-345, 46-4 siscusso no exo ¢ demasiado breve e simples para fazer tol justiga até mesmo a a}gumas das Siuaées teas mais comuns. Nauele que €alvexo caso mals comm, onde o benetcio coletivo ado uma graificagio em dinhciro a cada membro de determinada grup e alo € algo que cada indiv(- ‘dood grupo posta vender por dinkciro, os ndviues do grupo devern compara o custo adicional om a “vantagen aicfonal que thes proporeonaria a Wm, como a argumentaio do texto pressupde,meramente omparar um custo em dheiro com um retro em dnksro, portanio as cuvasdeinferenga m= bem cram de ser usadas a anlise. A taxa margaal de substiwicio seria afetadando somente pelo fate de que 0 desoja por unidades adicionsis do benefei coletivoviminuiia quanto mas © C0034 ‘isse do benetcio mas também pelos “efeitos da rend’. Os efits da rena lvariam um membro ue vese saciid uma quantidade despropocionl da sua tenda para ober 0 banetci pubico 3 C/V, O reclostnio pode act exposto ainda com ‘mais simplicidade dizendo-se que, se em algun nivel de aquisigdo do beneficio do neoe eg? 250-251, ara um sgestto deus mania conan eae tipo desenvoi- fang af se leds par xparabadinc pesca ier. Revo Wp Sh cae ena, XII ASDAS4 e Lal lance nero oe cn teh 355 ebora adtado pons de pra dicrenes a usando abordsgein de Picante nat ai chan ceelues com sn ses pecs Aliterem com Tira iti, Par inressnes arguments qe sponta os deri evar a ca Ee tf Box preramennis vj dis ure aig ear ee Aner fe concep aie sci late uber lanes M, Dacaaesyieat nonce Eticieney tl Cone nay. 22235,e Roland N McKean, Divergent nd Te. tal Costs within Government’, pp. 243-249, 92 Fe fim FF we constants, ee pote imo individual dade quan FURY AT) + Va fa) cur “ LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES Coe EB Vig BB Do> Ep ‘coletivo o ganho para o grupo excede 0 custo total por uma margem maior do ‘que excede o ganho individual de algum membro, entdo pode-se presumir que ‘© beneficio coletivo seré provido, porque nessas condigdes 0 gano do indivt- excederd o custo total do provimento do beneficio coletivo para o grupo. 1ss0 ‘lustrado no gréfico acima, que mostra que um individuo presumivelmente fi- em melhor situago ao ter conseguido o beneficio coletivo, quer ele tenha wuido a quantidade V ou W ou qualquer uma entre as duas. Se qualquer tidade do beneficio coletivo entre V e W for obtida, mesmo que nfo seja a tidade 6tima para o individuo, F, excedera C/V, A parte técnica desta seg mostrou que certos grupos pequenos podem ese de beneficios coletivos sem recorrer& coergao ou a qualquer estimulo 6 A LOGICA DA AGho COLETIVA além do beneficio coletivo em si mesmo”, Isso ocorre porque em alguns grupos Pequenos cada um dos membros, ou ao menos um deles, acharé que seu ganho Pessoal ao obter 0 beneficio coletivo excede o custo total de prover determina- da quantidade desse bencficio, Hi membros que ficariam melhor se 0 beneficio coletivo fosse provido, mesmo que tivessem de arcar com todos os custos sozi hos, do que se o benefiecio no fosse provido, Em tais situagdes pode-se presu- mir que o beneficio coletivo ser provido, Tal situagio existié apenas quando 0 ganho para o grupo com a obtengio do beneficio coletivo exceder 0 custo total por uma margem maior do que excede o ganho individual de um ou mais mem- bros do grupo. Assim, em um grupo muito pequeno, onde cada membro fica com ‘uma porg&o substancial do ganho total simplesmente porque hd poucos membros ‘no grupo, um beneficio coletivo frequentemente pode ser provido através da aco voluntéria, centrada nos préprios interesses dos membros do grupo. f nos gru- Pos menores, caracterizados por um considerdvel grau de desigualdade — isto é, em grupos de membros de “tamanho” desigual ou desigual grau de interesse pelo benetfcio coletivo — que hé a probabilidade maior de que o beneficio coletivo seja Provido, ja que quanto maior o interesse da parte de cada membro pelo benefi- io, maior a probubilidade de que cada membro obtenha uma poredo tio sig ficativa do ganho total trazido pelo beneficio que saia ganhando ao se esforgar Para que 0 beneficio seja provido mesmo que tenha de arcar com todo 0 custo sozinho. 53. Tenbo uma dvds para com o profesor John Rawis, do Departamento de Filosofia da Universidade 4e Harvard, por me ter emtrado que o ilbsofo Davia Hume pesebeu ques pequencs propos po dem satisfazer aos seus propssios comuns mas cs grandes ndo.O racicini de Hume, no ctante & diferente do meu. Em A Treatve of Human Natze, London, JM. Dent, 1952, I. 239 Hume coor ‘yeu: “Noh nenhuma qualidade da natura humana que cause eros mais Tis na ose eonduta o que aqula qu nos leva a prefer algo preseate e medio, o que quer qu se, 2 algo distnte emoto © ns faz desejar a8 evisas mais por sua situago do que or seu valor intiasco, Doi veh ‘hos podem concordar em drenar uma pradaria que possiem em comom, pois fii para eles conbe ‘cerem as intengds um do outro e ambos pecebem gue a conseqénci media de um facaso fad vidal de sua pre seria fasasso de todo o projta. Mas sera muito dif, na verde impossel, ae mil pessoas consegussem chegar a um acordo em fa siuago. , senda ciel pars els com, ‘zrar um plano to complexo, ainda mais tcl Ies seria execute jf que cada un busearis um bom pretext pra lvarse dos problemas e gasrse procuaiajogar ton a carga sobre os oat. A Sociedade pllticaremedeiafaciimente esas ineonenigaias.Osragstadosencontams un interes 5 imediato nos interesses de qualquer pare considrdvelenvlvia. Ele nfo precsam consulta se loa si préprios para concerar um esquema para a promogio desis interes, e como s fala de ualgues pea individual na execupto do prajeto ests reloionads, emborandoimedatamente, com a fatha do todo, cles evtam ess fatha, porque no véem nethum interese ela, nem imediato tem re ‘moto. Assim, pontes 380 consrutss,porosaberte,fortficagdeserguidas, canals excavan, fas ‘equipada ¢exéicitos disiplinados, porta pate, sb a supervisio do aoverna, que embora tom posto de homens suetos a todas as fraquezs humanas, 8 toma, por uma das melhores ¢ mas uty Invengoes imagindveis, uma composicio que de cera forma isnta de todas esas faquecas” LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAISE DAS ORGANIZAGOES ‘Mesmo nos grupos menores, contudo, 0 beneficio eoletivo geralmente no serd provido em um nivel étimo. Cu seja, os membros do grupo no proverdio toda a quantidade de beneficio coletivo que seria de seu interesse comum pro ver, S6 determinados acertos institucionais espectficos dardo aos membros in- dividuais um incentivo para adquirir quantidades do beneficio coletivo em um nivel que satisfaria aos interesses do grupo como um todo. Essa tendéncia 8 su- potimidade deve-se a0 fato de que um beneficio coletivo é, por definigao, de natureza tal que os demais individuos do grupo ntio podem ser impedidos de ‘consumi-lo uma vez que qualquer membro do grupo tenha se provido dele. E. se esse membro obtiver somente um pequeno tetorno de qualquer novo gasto que tiver para obier mais quantidades do beneficio coletivo, ele iré interromper sua aquisigio do beneficio antes que a quantidade 6tima para 0 grupo como um todo tenha sido obtida. Além disso, as quantidades de beneficio coletivo que deter- minado membro do grupo receber de graga de outros membros irio reduzir seu incentivo para prover mais desse beneficio &s suas prOprias custas. Portanto, ‘quanto maior o grupo, mais longe ele ficard de atingir 0 ponto drimo de provi- ‘mento do beneficio coletivo.. Essa subotimidade ou ineficiéncia serd menos grave em grupos compostos ‘por membros de tamanhos, ou graus de interesse pelo beneficio caletivo, muito Giferentes entre si. Em grupos desse tipo, porém, hé uma tendéncia a uma parti- tha arbitrétia do Gnus de prover o beneficio coletivo. © membro maior, aquele ‘que, mesmo que fosse por sua prépria conta, proveria a maior quantidade do fpeneficio arca com uma parte desproporcionalmente grande do Gnus. O mem- ‘bro menor obtém por definisio uma frago menor do ganho proporcionado por ‘qualquer quantidade do beneficio coletivo provida do que © membro maior e, ‘portanto, tem menos incentivo para prover quantidades adicionais do beneficio “Coletivo. E, sempre que 0 membro menor obtém sua porgio de beneficio coleti- gratuitamente do membro maior, ele tem mais do beneficio do que teria ad- 10 por si proprio ¢ nao tem mais nenhum incentivo para obter novas quan- do beneficio coletivo is suas préprias custas. Em grupos pequenos com es comuns hé, portanto, wma surpreendente tendéncia a “exploragdo” do pelo pequeno, ‘© argumento de que os grupos pequenos que se provém de beneficios €o- tendem a prover quantidades sub6timas-desses beneficios © que 05 Cus prové-los so partilhados de uma maneira desproporcional e arbitria no ‘em todas as possibilidades l6gicas, Alguns acertos institucionais ou Sonais podem conduzir a resultados diferentes. Esse 6 um tema que no “ser analisado adequadamente em uma breve discussio, Por essa razio, € ” ‘A1L6G1Ca Da agho COLETIVA porque o principal foco deste livro sto os grandes grupos, muitas complexida- es e peculiaridades comportamentais dos pequenos grupos foram omitidas neste estudo. No entanto, uma argumentacZo do tipo da recém-esbogada caberia per- feitamente em algumas importantes situagGes préticas e deve bastar para suge- rir que uma andlise mais detalhada do género da desenvolvida acima poderia aju- dar a explicar a aparente tendéncia a que as grandes nagdes arquem com partes desproporcionais da carga nas organizagbes multinacionais,tais como a ONU € @ OTAN, e poderia ajudar a explicar parte da popularidade do neutratismo entre as nagdes de menor porte. Tal andlise também tenderia a explicar as continuas queixas de que as organizagées e aliancas internacionais no recebem quantida- des adequadas (6timas) de recursos™. Poderia ainda sugerir que os governos mu- nicipais vizinhos em Areas metropolitanas que provéem beneficios coletivos (Como estradas vicinais e melhorias na Area educacional) que favorecem 2 po- Pulaglo de dois ou mais municipios da regido tendem a prover quantidades ina- dequadas desses servigos e que 0 municipio maior (como, por exemplo, a me- twOpole) arcaria com uma parte desproporcional dos custos de prové-los**. Uma andlise do tipo da elaborada acima deveria, finalmente, contribuir para uma melhor compreensio do fendmeno da lideranga de pregos, particularmente as possiveis desvantagens de ser a maior empresa de um setor industrial. Contudo, 0 ponto mais importante no que se refere aos grupos pequenos no presente contexto € que eles podem ser perfeitamente capazes de proverem- se de um beneficio coletivo pura e simplesmente por causa da atragao individual que 0 beneficio tem para cada um de seus membros. Nisso os grupos pequenos diferem dos grandes. Quanto maior for o grupo, mais longe ele ficaré de atingir © ponto étimo de obtengao do beneficio coletivo © menos provavel sera que ele aja para obter até mesmo uma quantidade minima desse beneficio. Em sintese, quanto maior for 0 grupo, menos ele promovers seus interesses comuns. ‘54 Algumas complexidades comportamentss dos peguencs grupos sio abordadas em Mancar Olson x ‘& Richard Zeckbauser, “An Economic Theory of Allances", Review of Economies and Statics, XLVI, 3g0. 1966, pp. 266.279, e em “Collective Goods, Comparative Advanige, nd Alliance Eficiene”, em Roland McKean (rg), Inues of Defense Economies: Conference ofthe Unterses- National Burrau-Commitiee for Economies Research, New York, National Bureau of Economie Re- search, 1967, pp. 25-18. 55, Teno uma dvds para com Alun Witiams, da Universiade de York, Ingatera coo estado sobre soverno municipal chamou a minha ateasto para a importincia dese tipo de problema de iteraglo fntre governos muricias, 4“ LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES ¢. Grupos “Exclusivos" ¢ “Inclusivos” © movimento de entrada e safda do grupo jé nto pode ser ignorado. Essa € uma questo importante, jé que os setores industriais ¢ 0s grupos inseridos no contexto de mercado diferem fundamentalmente dos grupos niio inseridos nes- se contexto nas suas atitudes relativas a0 movimento de entrada ¢ safda do gru- po. Uma empresa de determinado setor industrial querer evitar que novas em- presas venham compartir de seu mercado € desejardé que o maior nimero possivel ‘das empresas jd no setor saiam dele. Ela querer que 0 grupo de empresas de seu setor industrial se reduza até que sobre de preferéncia apenas uma empresa no setor: ela. Esse 0 ideal do monopélio. Portanto, as empresas atuantes em um determinado mercado so competidoras ou rivais. Em grupos ou organiza {g8es ndo inseridas no contexto de mercado que visam a um beneficio coletivo ‘corre 0 oposto. Usualmente, quanto maior 0 niimero de membros dispontveis para partilhar os beneficios ¢ os custos, melhor. Um aumento no tamanho do ‘grupo néo acarreta competiglo para ninguém e pode levar a custos mais baixos para aqueles que j& estio no grupo. A veracidade desse ponto de vista fica evi dente com a simples observagio do cotidiano. Enquanto as empresas, inseridas no contexto de mercado, lamentam qualquer aumento na competigio, as asso- ciagBes que lutam por beneficios coletivos em situagdes fora do contexto de mer- ado quase sempre dio as boas-vindas a novos membros. Na verdade, tais or- ganizagdes algumas vezes até tentam tornar compulséria & afiliagdo a elas. Por que existe essa diferenga entre grupos inseridos no contexto de mer- ado e grupos nfo inseridos no contexto de mercado, grupos que as partes ante- riores deste mesmo capitulo mostraram ter fortes semelhangas em outros aspec~ tos? Se o homem de negécios atuante no mercado e 0 membro de uma organi- ‘zagHo lobistica assemelham-se pelo fato de que ambos acham que os ganhos pro- venientes de qualquer esforgo realizado para atingir as metas grupais irdo favorecer principalmente a outros membros do grupo, endo por que eles stio to diferentes no que se refere & maneira de encarar a questio da entrada e safda de ‘membros do grupo? A resposta € que em uma situagio de mercado o “beneficio coletivo” ~ o prego mais alto 6 de tal natureza que se uma empresa vender mais ‘a esse prego as outras venderfio menos, de maneira que, nesse caso, a quantida- de de ganho que o beneficio coletivo pode proporéionar ao grupo é fixa. Mas em situag6es fora do contexto de mercado a quantidade de ganho que o beneficio coletivo pode proporcionar no ¢ fixa. Apenas uma determinada quantidade de tunidades de determinado produto pode ser vendida em um determinado merca- do sem esnduzir 0 preco a uma queda, mas qualquer nimero de pessoas pode ° 4 LOGICA Da AGko coun, era it 8 Uma organizagZo Tobfsticn sem reduzie necessariamente os ganhos Fats 08 demeis membros". Em uma situapdo de mercado, por via de regra, 0 que time empresa obtém, outra nto poderd otier Fssencialmente, em uma situagge form-do contexto de mercado, o que alguen consome, outro também pode wey. il de “beneficio coletivo exclusiva”! B Pelo fato do provimento de os bene. Ficios coletivos em situacdes fora do Sontexto de mercado, em contrast, se ex Pandirem automaticamente quando o Brupo se expande, esse tipo de beneficig Piblico seré chamado aqui de “benefice Coletivo inclusivo™, do, mas, no rau d partial, o Benfica aca. LUMA TORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES ‘Se um grupo se comportaré de maneira exclusiva ou inclusiva dependers, no entanto, da natureza do objetivo que o grupo tem em vista, ¢ ndo de alguma caracteristica do seu corpo de integrantes. Na verdade, o mesmo grupo de em- presas ou individuos pode ser um grupo exclusivo em wm determinado contexto ¢ inclusivo em outro. As empresas de um determinado setor industrial poderiam ser um grupo exclusivo quando buscassem um prego mais alto para 0 produto de seu setor restringindo sua produgdo, mas seriam um grupo inclusivo, ¢ anga- riariam todo o apoio possivel, quando perseguissem ma redugdo de tributos, ou ‘uma alfquota favorével, ou qualquer outra mudanga na politica do governo. A questdo de que a exclusividade oa inclusividade de um grupo depende mais do objetivo envolvido do que de quaisquer caracterfsticas de seu corpo de membros € importante, ja que muitas organizag6es operam tanto no mercado, para elevar (05 pregos restringindo a produgo, quanto no sistema politico e social, para pro- ‘mover outros interesses comuns. Seria interessante, se 0 espaco 0 permitisse, es- tudar tais grupos com a ajuda dessa distingdo entre beneficios coletivos exclusi- ‘vos c inclusivos. A ldgica dessa distingdo sugere que tais grupos teriam atitudes ambivalentes com relagio a novos membros. E na verdade assim é, Os sindica- tos, por exemplo, as vezes clamam pela “solidariedade da classe trabalhadora” € pedem o estabelecimento fechado ao mesmo tempo que estipulam regras de aprendizagem que limitam a entrada de novos membros na “classe trabalhado- ra” em mereados de trabalho espectficos. Na verdade, essa ambivaléncia é um ator fundamental com o qual qualquer andlise adequada daquilo que os sindi- catos pretendem maximizar deve lidar®. tando pou og nenhuma redo do wsufvta do mesmo paras menos antigo do grupo. Hi, em Segundo lugar, urna conexdo entre minha diferencigi0 inclasivefexluivo eum enssi de James M. Bichanan, "An Economic Theory of Clubs. O ensto de Buchanan pressupte que a excks0 € pos- ‘ive, mas que un cero gau (everamentelimitado) de pavtlhailidade de ganhos existe, © most {ee nesashipéteses © ndmero timo de vudrcs de um dterminado beneicio pblico costuma ser Sito, vari de caso pra caro e pode algumas vezes ser bastante pequeno. A abordagem de Buchanan ‘4 minh se igam no fato de que ambos indagamas como os intresses de urn membro de determin Go grupo que desta de um benefcio coleivo seriam afetados pelos aumento ou diminuga0 no mil> tneto de consumidores desse benefci, Ambosextivemos wabalhando neste problema independente- tent, e até pougussimo tempo ats jgorando por completo ointeresse um do auto poc ese pont ‘Em particular. Buchanan diz encrosamente que cu devo tr feito essa pergunta antes que ele,mas 20 asso que eu #6 toque na questo or alo, apenas ara faire elucdarcutosaspecos da minha Sreumentagio, cle desevolveu um modso interessante egenéiceqne mostra 2 relevincia dessa ques {35 para um amplo Smbito de problemas de politica governamenta “© is slgumaincertena a reepeitodaqeio que os sindicaos defo maximizam.Algumas vars se penst ge. naverdde, eles nao wanimizam faces saan, que ssi mais altos reduzema quantida- <& de forga de teabalno demandada pelo empregadore couseqlentemente o nimero de membres do ‘eedicato, Essa redugdo no nimero de sindcstrosé, pordm, cotta a0 intresses institcionsis “@sinicatoeprejueal 0 presi e poder dos Keres sada. inda assim algnssndeatos,como A LOGICA DAAGho CoLET A Mais uma diferenga entre grupos exclusives e inclusvos fica evidente quan- Go hé uma tentativa de agio formalmente organizada ou mesmo informalmente coordenada. Quando hé sforgo organizado ou coordenado em um grupo inelis Puro iodes 08 que puderem ser persuadidos a colaborar serio inclufdos nesse es. foreo®. Ainda assim (exceto em casos excepcionais isolades cm que 0 benet io oletvo mal vale seu custo), nao serd essencial que cada indiviguo do ‘grupo Parcipe da organizagdo ou acordo. Em esséncia isso se dé porque normalmen, fc Me-participante nfo tira dos participantes os ganhos trazidos por um bene. Feio coletivo inclusive. Um beneficio inclusivo é, por defnigo, de tal naturees ie © ganho que um ndo-cooperador recebe ndo ocasiona perdas corresponden tes Aqueles que cooperamt! idzias sobre etse panto 60 Gms tpn eRe m The Theor of litical Calton de que hover a edn Henn costen soto bem-suceis om rains comers otic de aun eer Ne scantto atu de qu os grupos nls wndem a quer suena sea a diame enh ds coneastes dei Hive, pots oargumentde Riker Eocene sce mena gna ae aos ian 3 oma das perder, qu o ante, pr taangee !umenta cm quantdade quanto mais membros a2 benefici coleivo forem provides. Mesino ox stupas que vison begs Conn, Yale University Press 1962, Finke as ge cols fs i “bee poblc puro tad d ein de Semseton, 0 Frege come So opeane nl somene no aaneata uma pricorcsoatenc nee ie, seis gamer come no les uaa pds de enn ip we gunsidae Oecene "see webieparo pace et, conte, denecrnamentrighons parson pepook en “i LUMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANTZACOES Quando um grupo visa a um beneficio coletivo exclusivo através de um acordo ou organizacao entre as empresas no mercado ~ isto é, se hd conluio ex- plicit ou mesmo técito no mercado —, a situacdo é muito diferente. Em tal caso, embora todos desejem que o niimero de empresas no setor industrial seja o me- nor possivel, paradoxalmente quase sempre é essencial que haja cem por cento de participacao dos que permanecerem no grupo. Em esséneia isso se dé porque nese contexto mesmo um nio-participante pode, por via de regra, tomar para si todos os ganhos trazidos pela aco das empresas conluiadas. A menos que os Custos da empresa ndo-participante subam demasiado rapidamente com o aumen- to da produgio®, ela poderé expandir sua produgo imediatamente para tirar vantagem dos precos altos conseguidos pela ago conluiada, até que as empre- sas do conluio, supondo-se que elas continuem irresponsavelmente a manter 0 prego elevado, reduzam sua produgio a zero, tudo para vantagem da empresa ‘o-participante. A empresa ndo-participante pode privar as empresas conluiadas de todos os ganhos resultantes de seu conluio, porque o ganho proveniente de qualquer prego supracompetitivo é fixo em quantidade. Portanto, 0 que quer que ela tome para si, as empresas do conluio perdem. Hé entao uma caracteristica de “tudo ou nada” nos grupos exclusivos, no sentido de que, freqllentemente, se niio houver cem por cento de participagio nao haverd conluio. Essa necessida- de de cem por cento de participagio tem os mesmos efeitos em um setor indus- trial que uma medida constitucional estabelecendo que todas as decisées devem ser undnimes tem sobre um sistema de vota¢Zo. Sempre que € necesséria uma Participago undnime, um Gnico membro do grupo que se recuse a entrar em ‘esto. Com certera eqlentemente& verdadero que depois de um certo ponto 0 advemo de novos ‘membros redaz a quanidadedisponvel do tenecio oltivo para os antigos membros do grupo por ‘mais stil que sja essa reduslo. A agimentasdo do texto no cequcr, porianta, que os beneicios coletivosinclasivos seam benefsis pblicos puros. Quando um beneicio coleivoinclusiv nl for lum beneficio piblico puro, contudo, os membros do grupo ue deseutam do benef no scetr8o ‘um novo membro que mio pague a devids taxsscontbaivs. As txas 36 sero adequadss se orem ‘no minimo equvaletes em valor &redueio do consumo ds atigos membres do grupo ocasionada {pela cota de consumo do nove membro. Enquantocortinunr exis um gaa siniicatve de prt= Iabilidade dos ganhos proporcionados polo beneico coletvo, no entanta, of ganhas para os novcs ‘membros excecerio 0s pagimentos das taxa conrbutvasnecesiias para garati ue o& ants ‘membros sejam adequatamante compersados por qualguerredugio em se consumo, Dsssa mane 12,0 grupo pemaneceré tendo genuinamente“inclusva" “62 Ses custos marginals subssem de manera muito ngreme, tnd consequentementeo incentivo do ‘qualquer empres para sumentar com mits intesidade sua produgdo em esposa so prego mais allo, ‘fo de haver uma dca empresa que se ecusasea fecha ead com as demas para tent obter ‘antagens com uma barganka nto seria necesariament fatal para as empresas contuladss. Mas, ms eesti 8 CARTS Ga ORI BOE TE CD BLE DS OTH pad ‘endria a gambar mais do conuio do que qualquer empresa coniiada,e td o qu ea ganhasse a8 empresas do coaluio perder, 2 ALGICA Da AGO COLETVA acordo com a intengtio de obter vantagens teri um extraordinrio poder de bar- ganha: ele poderd ter condigdes de requerer para si a maior parte dos ganhos decorrentes de qualquer ago grupal®. Além do mais, qualquer membro do gru- po pode tentar fazer isso e exigir uma fatia maior do ganho grupal em troca do seu (indispensivel) apoio, Esse incentivo a recusa de colaboragao toma qualquer ago grupal menos promissora do que seria de outra forma, Também implica que cada membro tem um grande incentivo ® barganha. Ele pode ganhar tudo com ‘uma boa barganha ou perder tudo com uma ruim. Isso significa que € provavel que ocorra muito mais barganha em qualquer situago em que seja indispensé- vel cem por cento de participagdo do que em situagdes em que uma porcenta- gem menor de participago pode garantir suficiente suporte & agdo grupal. Segue-se que o relacionamento entre individuos em grupos inclusivos exclusivos € bastante diferente, desde que os grupos sejam tio pequenos que a aco de um membro tenha um efeito perceptivel sobre algum outro membro e que, portanto, os relacionamentos individuais tenham importancia. As empresas integrantes de um grupo exclusivo querem tio poueas empresas no grupo quan- to possivel, ¢, portanto, cada uma olha com desconfianga para a outra, com medo de que tentem empurré-ta para fora do setor industrial. Cada empresa deve, an- tes de tomar qualquer iniciativa, ponderar se provocari uma “guerra de pregos” ‘ou uma “briga de foices". Isso significa que cada empresa integrante de um grupo exclusive deve ser sensfvel com relagio as outras empresas do grupo e conside- rar as reagdes que elas podem ter a qualquer agio sua. Ao mesmo tempo, qual- quer ago grupal em um grupo exclusivo iré por via de regra requerer cem por cento de participagio, de maneira que cada empresa em um setor industrial é nfo somente uma rival de todas as demais no setor mas, também, uma colaboradora indispensavel para qualquer aco do conluio. Portanto, sempre que houver conluio, no importa quo técito ele for, qualquer empresa do setor poder con- siderar a possibilidade de barganhar ou de se recusat a entrar em acordo para tentar obter uma fatia maior dos ganhos do grupo. A empresa que melhor puder adivinhar que reago as outras terio a cada movimento seu levard uma conside- vel vantagem nessa barganha, Esse fato, aliado ao desejo geral de todas as em- presas de manterem o nimero de empresas de seu setor industrial tio reduzido (63, Sobre as implicates do pré-requisto Ge unanimidade, veo importante livzo de James M. Buchanan & Gordon Tullock, Th Calewas of Consent: Logical Foundation of Constitutional Democracy, Aan Arbor, Univesity of Michigan Pres, 1962, especialmente o Cap. VI pp, 96-116. Acredito que alg ‘as cmpliagbesdesseproveitoso © estinalane estado poderiam ser exlarecids com aaj de a. mas das iia desenvolvidas no presente tastbo; ver, por exempo, mina reseaha sabe va ‘mencionado na Averican Eronome Review, Ll, dex. 1962, pp. 1217-1218. UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES Contudo, n&o é de compreensao geral o fato de que, por outro lado, em Srupos inclusivos — mesmo nos pequenos — a barganha ou a SSebecida. Pelo menos em grupos de um determinado tamanho, essa interagao Deities tende a ser relativamente importante. Referimo.nos oo Ambito de ta- £m due © grupo nio € pequeno o bastante para que um indivfduo julgue 35 A LOGICA DA AGAO COLETIVA um grupo dessas dimensoes através de uma organizagio formal e depois pergun- tando-se © que aconteceria se um membro do grupo parasse de pagar sua parte do custo do beneficio coletivo. Se, em uma organizagao razoavelmente peque- na, uma pessoa em particular para de pagar pelo beneficio coletivo de que des- fruta, 05 custos subiriio perceptivelmente para cada um dos outros membros do grupo. Em conseqiléncia, eles poderio se recusar a continuar fazendo suas con- tribuigdes € o beneficio coletivo poder4 nao ser mais provido. Contudo, talvez 0 primeiro individuo da cadeia se desse conta de que sua recusa em pagar algo pelo beneficio coletivo poderia desencadear esse processo e de que ele ficaria em pior situagdo se 0 beneficio coletivo nao fosse mais provide do que se fosse provido ¢ ele pagasse sua parte dos custos. Portanto, esse membro talvez mudasse de idéia ¢ continuaria contribuindo para a obtenciio do beneficio coletivo. Talvez. Ou talvez nao, Como em um oligopélio numa situagiio de mercado, o resultado € incerto, © membro racional de um grupo desse tipo enfrenta um problema es- tratégico, ¢ embora a teoria dos jogos e outros tipos de andlise possam ser mui- t0 titeis, no nivel de abstracio deste capitulo parece nao haver atualmente nenhu- ma maneira de obter uma solugdo geral, valida e exata para essa questo, Qual sera o ambito dessa indeterminabilidade? Provavelmente, o beneficio coletivo seria provido no caso de um pequeno grupo em que um membro ficasse com uma fragdo to grande do ganho total que sua situacdo, se comparada & de ficar sem o beneficio coletivo, melhoraria mesmo que ele tivesse de pagar sozi- nho todo 0 custo. No entanto, o resultado seria incerto no caso de um grupo em que nenhum membro ficasse com uma parte do ganho trazido pelo beneficio co- (64. B interessante observar de passagem que 0 oligopélio no contesto de mercado é sob alguns aspecios andlogo ao conchavo interpartidirio na politica. Se a “maioria” de que varios partidos neccsstta em luma Assembiéia Legislativa for vista como um benefcio coletiva ~ algo que um partido em particuler nfo pode obver a menos que outros partidos também o desejem -, entio 0 paralelo é bastante proxi. ‘mo, O custo que o congressista gostaria de evitar ¢ a aprovagaio da lei desejada pelos congreseistas slos outros partidos, porque se esses partidos ganham algo com a legislagdo deles, frequentemente Outros, incluindo os eleitores do congressista derrotado, perdem algo. Mas, a menos que eateja dias Posto a votara favor da lei desejada pelos outros partidos. o congressista em questio nao ter chances de conseguir que a lei que seu partido deseja seja aprovada. Assim, o que ele teria de fazer seria aber thar uma coalizio com congressistas de outros partidos ¢ tentar evé-los a votar pela lei que seu parti- ddo quer ver aprovada. Ble. por sua vez, procuraria Ihes dar o minimo possivel em toca, insistinds para ue moderassem suas exigéncias. Mas, dado que todo conchavador em potenctal utiliza essa mesma estratégia, o resultado ¢ imprevisivel: os conchavos podem dar certo ou podem nso dar. Todos os par. fidos ficario em methor situagio se o recurso do conchavo for empregado do que se nao fOr, mas, como cada partido lutaré para obter as melhores barganhas politicas possivels, o resultado final pode ser que ‘nenhum acordo seja logrado, Isso & bastante similar & situagdo dos grupos oligopolistas, pa que touos (9s membros do grupo desejam um prego mais alto e todes ganharo se restringivem sua produeao para ‘atingislo, mas cles podem ndo conseguir chegar a um acordo a respeito da partiha da mercad UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES letivo grande o bastante para que tivesse interesse em prover o beneficio se pre- cisasse arcar com todo 0 custo sozinho, mas que, ainda assim, fosse um grupo no qual o individuo tivesse suficiente importancia para que sua contribuicio, ou falta de contribuigao, para a consecugio do objetivo grupal surtisse um efeito per~ ceptivel sobre os custos € ganhos de outros membros do grupo™. Por contraste, em um grande grupo no qual nenhuma contribuido individual faga uma diferen- ‘ga perceptivel para o grupo como um todo, ou para o Onus ou ganho de qualquer membro do grupo tomado individualmente, € certo que 0 beneficio coletivo ndo ser& provido a menos que haja coergao ou alguma indugdo externa que leve os membros do grande grupo a agirem em prol de seus interesses comuns. ‘A Gltima distingao — entre o grupo to grande que acaba sendo definitiva- mente incapaz de prover-se de um beneficio coletivo ¢ o grupo de dimensdes oligopolfsticas que pode prover-se de um beneficio coletivo ~ é particularmente importante. Ela depende de que dois ou mais membros quaisquer do grupo te- nham ou nao uma interdependéncia perceptivel. isto é, se a contribuigdo ou fal- ta de contribuig&o de determinado membro do grupo tera um efeito perceptivel sobre 0 6nus ou o ganho de qualquer outro membro ou membros do grupo. Se um grupo ter ou nfio condigGes de se prover de um beneficio coletivo sem co- ergo ou indugdes externas dependerd portanto, em um grau considerével, do ni- mero de individuos do grupo, j4 que quanto maior o grupo, menor a probabili- dade de que a contribuigao de qualquer membro seja perceptivel. Nao é, contudo, rigorosamente acurado dizer que depende s6 do nimero de individuos do gru- po. A relacio entre o tamanho do grupo € a importancia de um membro tomado individualmente no pode ser definida com tanta simplicidade. Um grupo cujos ESO resultado & claramente indetermindvel quando F, é menor do que C/V, em todos os pontos ¢ 0 gru- po nia € tio grande a ponto de as ages de um membro ndo terem nentum efeito perceptivel 6 Um critico amigavel me sugeriu que mesmo uma grande organizagao precistente poderia continuar provendo uum beneficio coletivo se realizasse uma espécie de plebiscito enire seus membros, deixando Slara que, se no houvesse um compromisso undnime ou quase undnime dos membros no sentido de ontribuir para o provimento do beneficio caletivo, esse beneficio nfo seria mais provido. Esse argu- ento, se 0 entendi corretamente, € equivocado. Emm tal situae4o, 0 individuo saberia que se 0s outros provessem o beneficio coletivo ele desfrutaria dos ganhos tanto se fizesse alguma contribuicdo quanto nao a fizesse. Nao teria, portanto, nenhum incentive para assumir um compromisso, a menos que ‘Sisse requerido um compromisso absolutamente unanime de todos os membros ou que por alguma outra S250 0 provimento ou nao do beneficio coletivo dependesse exclusivamente de seu compromisso. Mas. = promessa de compromisso fosse exigida de todos os membros, ou se por alguma outra raziio um ‘Sembro pudesse decidir sozinho se 0 grupo obteria ou nfo 0 beneficio coletive, entio um Gnico mem= ‘Se poderia privar de grandes ganhos todos os outros membros do grupo. Ele estaria em posigio de ‘poder barganhar em troca de propinas. Mas, visto que quaisquer outros membros do grupo poderiam SSoregar a mesma estratégia e ganhar tanto quanto ele, nao haveria, nesse caso. nenhuma probabilida- GS gue 0 beneticio coletivo fosse provide. Ver novamente Buchanan & Tullock, op. t.. pp. 96-116. 7 A LOGICA DA AGKO CoLETIVA membros tém graus muito desiguais de interesse por um beneficio coletivo ¢ que visa a um beneficio que € (em algum nivel de provimento) extremamente com- Pensador com relagio ao seu custo teré mais condigdes de prover-se do benefi- cio coletivo do que outros grupos com o mesmo ntimero de membros, mas sem essas caracteristicas. O mesmo padrao prevalece em um contexto de mercado, onde 0 numero de empresas que um setor industrial oligopolista pode aglutinar sem deixar de ser um oligop6lio (e preservando, portanto, a possibilidade de obter lucros supracompetitivos) varia um pouco de caso para caso. A chave para determinar se um grupo ter ou néio capacidade de agir, sem coergao ou indugoes externas, pelo interesse grupal é (como deveria ser) a mesma para grupos inse- Fidos no contexto de mercado © grupos ndo-inseridos: a resposta dependeré se 08 atos individuais de um ou mais membros do grupo sio perceptfveis para qual- quer outro membro do grupo®. Isso 6 claramente, mas nao exclusivamente, uma fungao do nimero de membros do grupo. Agora ja € poss{vel especificar quando ser necesséria ou uma coordena- $40 informal ou uma organizacao para obter um beneficio coletivo. O menor tipo de grupo — aquele em que um ou mais membros ficam com uma frago tao gran- de do ganho total que julgam valer a pena fazer com que o beneficio coletivo seja provido mesmo que tenham de pagar 0 custo total sozinhos — pode se arran- Jar sem qualquer acordo grupal ou organizacao. Um acordo grupal pode ser ace: tado para distribuir mais amplamente os custos ou para determinar o nivel dese- Jado de provimento do beneficio coletive. Mas, sempre que haja um incentivo a acho unilateral ¢ individual para obter o beneficio coletivo, nem uma organiza- $80 formal © nem sequer um acordo grupal informal serfio indispens4veis para obté-lo. Em qualquer grupo de dimensées maiores do que essas, porém, nenhum beneficio coletivo poderd ser obtido sem algum acordo, coordenagio ou organi zac%o grupal. No grupo intermediério ou no grupo de dimensées oligopolisticas, 97. 4 perceptiblidade das agtes individuais de um membro de um grupo pode ser influenciada pela pré- prin estrutura earranjos institucionais do grupo. Um grupo previamente organizado, por exewle feos Cuidar para que as contribuigdes ou a falta de contribuigdes de qualquer membro do grupe eemvenn, {£.¢felto da conduta de cada membro sobre as custos © ganhos dos outros membros; selarn divaloneee impedindo assim que o trabalho do grupo fosse arruinado por falta de informagao, Pertamio, denen “pereeptibilidade" cm termos do grau de informagao e dos arranjos institucionas que a vevdade cas femem qualquer grupo, cm vez de presumir uma “perceptibilidade natural" alo afetada por uate tipo de divulgagto de informagio ou outros acertos institucionais. Esse ponte, joncamenes can tos outros comentérios valiosos, foi tazido & minha atengao pelo professor Jerome Rothenbers: eee hho entanto, atribui muito mais importancia a uma pressuposta capacidade grupal de erlar ume "per, ceptibilidade artificial” do que a meu ver seria desejavel. Nao sei de nenhurn exemple peiviee de ats um grupe ou organizagto que tenha feito algo além de melhorar a informagio parm entation, spore ceptibilidade das agdes de um individuo na luta por um benefieio coletive 8 UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZACOES ‘onde dois ou mais membros devem agir simultaneamente para que um beneficio coletivo possa ser obtido, deve haver ao menos coordenagio ou organizacho té- cita . Quanto maior for o grupo, mais ele precisard de acordo e organizagio, e quanto maior o grupo, maior o ntimero de membros que por via de regra terio de ser inclufdlos no acordo ou organizagiio grupal. Pode no ser necessério que © grupo intciro esteja organizado, j4 que uma subparte do grupo total pode ter condig6es de prover o beneficio coletivo. No entanto, estabelecer um acordo ou organizagaio grupal sempre tenderd a ser mais dificil quanto maior for 0 tama- nho do grupo, porque quanto maior o grupo mais dificil ser4 configurar e orga- nizar até mesmo um subgrupo do grupo total. Além disso, os integrantes do subgrupo terfo um incentivo para continuar barganhando com os outros mem- bros até que a carga esteja esparsamente distribufda, aumentando assim os cus- tes com barganhas. Em sfntese, os custos de organizagio sio uma fungao cres- sente do ntimero de individuos no grupo. (Embora isso ndo signifique que os cus- *8s por pessoa tenham de aumentar quanto mais integrantes houver no grupo c, Portanto, quanto maiores forem os custos totais de organizagao, j4 que sem di- wida ha economia de escala em um processo organizacional.) Em certos casos, em grupo ja estaré previamente organizado para algum outro propésito, ¢ entéio =sses custos de organizacao jd terdo sido cobertos. Nesses casos, a capacidade = um grupo de prover-se de um beneficio coletivo sera explicada em parte pe- tes motivos que originalmente o levaram a se organizar e se manter. Isso chama Sevamente a atencdo para os custos organizacionais e mostra que esses custos | Se podem ser deixados fora do modelo, exceto no caso do menor tipo de gru- Pe. no qual a aco unilateral pode ser capaz de prover um beneficio coletivo. Os ‘Ssstos organizacionais no devem ser confundidos com 0 tipo de custos analisa- anteriormente. As fungdes de custo consideradas acima envolviam somente Sustos-recurso diretos da obtencio de diversos niveis de provimento de um jcio coletivo. Quando nao hé uma organizagio preexistente, ¢ quando os “recurso diretamente envolvidos na obtengao do beneficio coletive que 0 descja so maiores do que os custos com que cada individu poderia ar~ “sezinho lucrativamente, seré preciso assumir custos adicionais para configurar ordo sobre a maneira como o Onus ser repartido e para coordenar ou or- S=ar 2 luta pela obtencao desse beneficio coletivo. Sao os custos de comuni- entre os membros do grupo, os custos de qualquér barganha entre cles € de criar, arregimentar e manter um organizacio grupal formal Um grupo nao pode contar apenas com nfveis infinitesimalmente peque- '@ oranizacao formal, nem mesmo de acordo grupal informal. Um grupo |= dado numero de membros deve ter um certo nivel minimo de organiza- so A LOGICA DA AGRO COLETIVA de algumas unidades subsequentes. Nao importa quao imersoe sejam os ganhos Toles ag nOe Por um beneficio coletivo: quanto mais altos forem os custos tang Tbsolutos envolvidos na obtengto de qualquer quantidade decse beneficio, menos Provivel seré que até mesmo uma quantidade minima desee beneficio possa Sct obtida sem coereao ou incentivos externos independentes, nesses. Primeiro, quanto maior o grupo, menor a fragio do ganho toral grupal que receberd cada membro que atue pelos interesses do grupo. menoe adequada a re~ fo Otime de ee auet aco grupal, e mais longe ficard o grupo de atinait o pon- io Gtimo de obteneilo do beneficio coletivo, se € que obterd algum, Segundo, dado eee ante maior for o grupo, menor sera a parte do ganho total que cabera a fade membro ou a qualquer pequeno subgrupo (sem excesiio), menae seré a pro- babilidade de que algum subgrupo — e muito menos algum membro sozinho — ganhe 0 suficiente com a obtengo do beneficio coletivo para compensar os cus- 128 Ge Prover até mesmo uma pequena quantidade do beneficin Ean outras pa- lavras, quanto'malor for'o grupo, menor seré a probsbilidade oe intera UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS E DAS ORGANIZAGOES Agora que todos os tamanhos de grupos foram considerados, € possfvel desenvolver a necesséria classificagao dos grupos. Em um artigo que era origi- nalmente parte deste estudo, mas que foi publicado separadamente™, este autor ¢ seu co-autor diziam que pode ser dado um sentido tedrico preciso ao conceito de grupo ou setor industrial, que deveria ser usado, além do conceito de mono- p6lio puro, no estudo da estrutura de mercado. Naquele artigo, a situag#io em que ha somente uma empresa no setor industrial era chamada de monopélio puro. As situagdes em que as empresas so to poucas que as agdes de uma de- las tém um efeito perceptivel sobre qualquer outra empresa ou grupo de empre- sas era chamada de “oligop6lio”. E a situagzio em que nenhuma empresa tem um efeito perceptivel sobre qualquer outra era chamada de “competicao atomi- zada”. A categoria “competicie atomizada” subdividia-se em competigao pura © competi¢#o monopolistica dentro de um grande grupo, € a categoria “oligo- ‘que qualquer um dos seus membros se beneficiaria com sua obtengo mesmo que tivesse de pazar todo Gicusto sozinho, e se entao milhOes de pessoas entrassem no grupo mas o custo do beneficio perma- fecesse constante, 0 agora grande grupo paderia ser provide de uma pequena parte desse bencficio Coletivo. Inso porque neste exemple hipatético os eustos permaneceram inalterados e, portanto, aque~ fe membro do inicio ainda tem incentive para se esforcar para que o beneficio coletivo seja provido. ‘Mas, mesmo em um caso assim, ainda no seria completamente correto dizer que o grande grupo esti agindo em proveito de seus interesses grupais, 4 que © nivel de obtengio do beneffcio cotetivo seria incrivelmente sub6timo, O nivel étime de provimento do beneficio publico subiria cada vez que um individuo entrasse no grupo, j4 que o eusto unitario do beneficio coletivo € hipoteticamente constan- te enquanto 0 ganho propercionado por cadaunidade adicional do beneffcio aumenta eada vez que Sm novo membro entra no grupo, O provedor original jé nfo teria nenhum incentive para prover mais Snedida que 0 srupo se expandisse, a menos que formasse uma organizagao para partithar os Custos, Com os outros membros deste (agora grande) grupo. Mas isso implicaria assumir os considerveis custos Ge uma grande organizagao © nda haveria tum modo para que esses custos pudessem ser cobertos atra- SEs da agao voluntaria ¢ racional dos membros do grupo. Portanto, se © ganho total proporcionado for um beneficio coletivo excedesse seus custos por um milhar ou um milhdo de vezes, seria logica- Dente possivel que um grupo grande conseguisse prover-se de alguma quantidade do beneffcio cole~ io, mas, em um caso assim, o nivel de provimento do beneficio seria apenas uma frago minima do inet Gtimo, Nao € ficil imaginar exemplos préticos de grupos que se encaixariam nessa deseri¢io, Sas um cxemplo possivel € discutido na nota 94 do capitulo “A Teoria do ‘Subproduto’ e a Teoria do. Stetcresse Especial”. Contudo, seria fécil eliminar até mesmo esses casos excepcionais simplesmente ExGnindo todos os grupos que pudessem prover-se de alguma quantidade de um beneficio coletivo Sonus “grupos pequenos" (ou dando-Ihes outros nomes) e colocando todos os grupos que no pudes- SS iroverse de um beneticio coletivo em outra categoria. Mas essa via facil deve ser rejeitada, pois ans cata parte da teoria tautoldgiea e, portanto, imune a qualquer refutagilo. A argumentaga0 aqui Tae intengo de desenvolver a (sem davida razodvel) hipétese empirica de que os eustos totais do Pecficio coletivo desejados por grandes grupos sho grandes 0 bastante para exceder o valor da pe- GSaen= fragao do ganho toral que um membro de um grande grupo obterd, de maneira que o individuo, Se proverd o beneficio coletivo, Pode haver exeegdes a isso, como pode haver excegoes a qualquer Sfirmagao empirica, e portanto podem ocorrer situagdes em que grupos grandes conseguiriam nee de beneffcios coletivos (quantidades minimas, ao méximo) através da ago voluntéria € ra~ ‘de um de seus membros. & McFarland, nota 14 A LOGICA DA AGO COLETIVA polio” também tinha duas subdivisdes, conforme 0 produto fosse homogéneo ou diferenciado, Para grupos inclusivos ou fora do contexto de mercado, as categorias tm. de ser ligeiramente diferentes. A situagdio andloga ao monopélio puro (ou monop- s6nio puro) € obviaménte aquela em que um tinico individuo, fora do contexto de mercado, visa a algum beneficio n&o-coletivo, algum beneficio sem econo- mias ou deseconomias externas. No ambito de tamanho correspondente ao oligo- pélio de grupos inseridos no mercado, ha dois tipos diferentes de grupos fora do contexto de mercado: grupos “privilegiados” e grupos “intermediarios””. Um gru- po “privilegiado” um deles, tem um incentivo para se esforgar para que 0 beneficio coletivo seja provido mesmo que ele tenha de arcar sozinho com todo 0 Gnus. Em um grupo assim h4 uma pressuposicao” de que o beneficio coletivo sera obtido e pode ser obtido sem nenhuma organizagdo grupal ou coordenagio de qualquer tipo. ‘Um grupo “intermediario” € um grupo em que nenhum membro obtém so- zinho uma parte do ganho suficientemente grande para incentiv4-lo a prover 0 beneficio, mas que nao tem tantos integrantes a ponto de um membro nao per- ceber se outro est ou nao ajudando a prover o beneficio coletivo. Em tal grupo, um beneficio coletivo pode ser obtide ou pode nao ser, mas nenhum beneficio coletivo jamais sera obtido sem alguma coordenacao ou organizagao grupal”. O grupo anélogo & competicao atomizada na situagao fora do contexto de merca- do é 0 grupo muito grande que aqui seré chamado de grupo “latente”. Ele se dis- tingue pelo fato de que, se um membro ajudar ou nao ajudar a prover o benef um grupo em que cada um de seus membros, ou pelo menos. 70. E concebivel que um grupo “privilegiado " possa nao conseguir prover-se de um beneficio coletivo, 46 que pode haver barganha dentro do grupo e esta barganha pode ser malsucedida, Imagine-se um ‘grupo privilegiado em que cada membro do grupo obtivesse uma pareela 120 grande do beneficio co- Tetivo que ele ficasse em melhor situagio mesmo que tivesse de pagar sozinho o custo total de pro- ver 0 beneficio coletiva do que se o beneficio coletiva no fosse provide, E ainda concebfvel que ‘cada membro do grupo, sabendo que cada um dos outros também fiearia em melhor situago se pro- vyesse sozinho 0 beneficio coletivo do que se nenhum beneficio coletivo fosse obtido, se recusasse a Contribuir para a obtengdo do beneffcio. Todos poderiam se recusas a ajudar a prover o beneficio co~ letivo na errdnea suposigao de que de qualquer maneira os outros o proveriam sem a sua ajuda. No fentanto, nao parece muito provavel que todos os membros do grupo continuassem nesse erro per 71. "O cardter da estrutura numericamente intermedidria pode, portanto, ser explicado como uma mistura {de ambas: cada uma das caracteristicas tanto dos pequenos quanto dos grandes grupos aparece no grt po intermediario como um trago fragmentario, ora emergindo, ora desaparecendo ou se tornando la- lente. Assim, as estruturas intermedisrias partilham objetivamente as carateristicas essenciais das este- luras menores e das maiores — parcial ou allernadamente, Isso explica a incerteza subjetiva no que se refere A dccisio sobre a qual das duas categorias elas pertencem.” Simmel, Sorfology of Georg Shnmel pp. 116-117. 62 UMA TEORIA DOS GRUPOS SOCIAIS £ DAS ORGANIZAGOES cio coletivo, nenhum outro membro seré significativamente afetado e, portanto, tenhum teré razio para reagir. Assim, no grupo “latente” um individue no pode, por definig&o, fazer uma contribuiciio perceptivel a qualquer esforgo grupal & Fé que ninguém no grupo reagiré se ele no fizer nenhuma contribuigko. ele nao tens incentivo para contribuir. Portanto, os grupos grandes ou “latentes” n&o tm incentivo para agir para obter um beneficio coletivo porque, por mais valioso que © beneficio coletivo possa ser para o grupo come um todo, 0 individuo nflo tem nenhum incentivo para pagar taxas contributivas a nenhuma organizagfo que tra" balhe pelos interesses do grupo latente nem para arcar de qualquer outra mancirs com nenhum dos custos da ago coletiva necessaria. Somente um incentive independente e “se! racional em um grupo latente a agir Jetivo” estimularé um individuo de mancira grupal. Em tais circunstancias ‘a agdo grupal pode ser obtida somente através de um incentivo que epere, como ‘0 proprio beneficio coletivo, sobre o grupo com o um todo, mas de maneira se- letiva com relaciio aos seus membros, nfio de forma indiscriminada. O incen- tivo deve ser “‘seletivo” no sentido de que aqueles que nao se unam 2 organiza” 40 que trabalha pelos interesses do grupo ou nao contribuam de outras maneizas para a promogao dos interesses do grupo possam ser tratados de forma diferen- te em relagtio Aqueles que colaboram. Esses “incentivos scletivos” podem ser ne- gativos ou positivos, ou seja, podem coagir com alguma punigdo aqueles que nao ercarem com a parte dos custos da ago grupal que Ihes foi alocada, ou podem Ser extimulos positivos para aqueles que agirem pelos interesses do grupo”. Um grupo latente que tenha sido levado a agir pelos interesses grupais, seja POF Fo" ergo dos membros, seja pelo estfmulo de recompensas positivas a eles ofere= cidas, seré chamado aqui de grupo latente “mobilizado "73. Os grandes grupos si0, portanto, chamados de “latentes” porque tém um peder ou capacidade 1a- 42. Coercao € definida aqui como uma punigae que deixa um individuo em uma curva de indiferenge mais Cerra ‘ius cle teria eado se tivesse arcado com a parte dos custos do beneficio coletivo ave Ine Peet recline nio tivesse sido coagido. Um estimulo positivo é definida como qualquer recompensa ERE duixa um individuo que paga a parte dos custos do beneficio coletivo que The fora alocada ¢ te°e- Mes eet apenas cm uma curva de Indiferenga mais alta do que teria ficado se nfo tivesse arcade com aeeeeeeensstos do bencficio e perdido a recompensa. Em outras palavras: os incentivos sel sear nidas como sendo maiores em valor, em termos das prefertacias/vantagens de cada inclividuo, Se aa rier dor custon do beneficio colctivo para cada indiviayo, Sangdes e estimulos de valor mene 93 ake Ro nao sao suficientes para mobilizar um grupo latenie. A respeito de alguns dos problemas oe ai ere teto.e definigdo de cocrglo e incentivos positives. ver Alfred Kuba, The Study af Society So Ghified Approach, Homewood, lil, Richard D. Irwin, Inc. & Dorsey Press, Inc. 1963, pp, 365.370 93. Decith tarnbern usu 9 termo mobilizagdo em um contexto algo semelhante, mas seu uso da pelavet ae eae ana. ver Karl Deutsch, “Social Mobilization and Political Development.” American Political Science Review, LV, set. 1961, pp: 493-514. 63 A LOGICA DA AGRO COLETIVA tente para a ago, mas esse poder potencial s com a ajuda de “incentivos seletivos” "As probabilidades de a ado grupal ocorrer s#o de fato distinias &™ cada vii dadtaleyoriinpeseer:expostassErnialguns casosjipode-s© ter slmurpe Ses reac que oie ncltacerocitsveniompienonrseth provide: Tim. cntens. PSs Te ecco dorauertalmuaeqgne tajenceinivdn aelesivas) ale nd sent provi id ainda easos em que ele poderia tanto ser quanto nfo ser provide. De qual- Quer forma, o tamanho é um dos fatores determinantes para def possfvel que a busca racional e voluntéria de um interesse individual gere com- portamento grupal. Os grupos pequenos iro promover seu de um modo melhor do que os grandes ‘A questo formulada no comego 6 se pode coneretizar ou mobilizar ir se 6 ou nfo s interesses comuns deste capftulo ja pode ser respondida. Pa- wees claro agora que os pequenos grupos'stio ndo/mpenas quantitarive| mas TO bém qualitativamente diferentes dos grandes grupos € que & existéncia de gran- oer atgociagoes no pode ser explicada pelos mesmos fatores que explicam: a existéncia de pequenos grupos. TAMANHO DE GRUPO E COMPORTAMENTO GRUPAL a. A Coesio € a Eficiéncia dos Grupos Pequenos 'A maior eficigncia dos grupos relativamente pequenos ~ os grupos “privi- fados* e os “intermediarios” — fica evidente tanto pela experiéncia e pela por exemplo, uma reunitio que en- 10 conseguiem tomar decisoes rip gio quanto pela teoria. Considere-se, muita pessoas, que por isso mesmo ni ou suficientemente cautelosas, Todos gostariam que a reunido terminasse sa, mas poucos estardo dispostos, se alguém estiver, a abrir mio de seus ses para que isso ocorra. E, embora presumivelmente todos os participan- éa reunigo tenham um interesse em que sejam tomadas devises seguras € eis, com muita freqléncia isso nflo ocorte. Quando o mimero de partici ‘é grande, o participant tipico tem consciéncia de que seus esforgos in- Js provavelmente nfo influenciarGo muito no resultado finale de que le sfetado da mesma maneira pelas decisGes da reunido tanto se se aplicar {quanto se se aplicar pouco no estudo do assunto em pau. Assim, 0 par te tfpico pode ndo se dar a0 trabalho de estudar tao cuidadosamente © da teunido quanto 0 estudaria se pudesse tomar as decises sozinho. As da reunido sio, portanto, beneficios pablitos para os que dela partici talvez também para outras pessoas), e a contribuiglo de cada participante ‘cbtengaio ou melhoria desses beneficios pablicos diminuiré quanto mator Teimero de partcipantes da reunifo. E por essas razdes, entre outras, que “ A LOGICA DA AGAO COLETIVA as organizagdes recorrem com tanta freqiiéncia ao pequeno grupo: com# subcomités © pequenos grupos de lideranga sao criados — e, uma vez criados, tendem a desempenhar um papel crucial. Essa observagdio € corroborada por alguns interessantes resultados de pes quisas. John James, entre outros, realizou um trabalho empirico sobre 0 assunte ¢ obteve resultados que respaldam a teoria apresentada neste estudo — embers seu trabalho nao tenha sido realizado com a intengao de comprovar nenhums, teoria semelhante. © professor James descobriu que em uma ampla variedade de instituigGes, ptiblicas e privadas, nacionais e locais, os grupos e subgrupos “ati- yos” tendem a ser muito menores do que os grupos © subgrupos que nado agem Em um dos casos que ele estudou, 0 tamanho médio do grupo “ativo” era de 6.5 membros, ao passo que o tamanho médio dos grupos nao ativos era de 14 mem= bros. Esses subgrupos operavam em um grande estabelecimento bancario, cuje secretério proferiu espontaneamente a seguinte opinido pessoal: “Chegamos & conclusio”, escreveu ele, “de que os comités devem ser pequenos quando se espera ago, e relativamente grandes quando se buseam pontos de vista, reagdes ete.”'. Ao que parece esse tipo de situagao nfo se restringe ao ramo banedrio. E amplamente sabido que no Congresso dos Estados Unidos e nas assembléias estaduais 0 poder reside em um notével grau — um grau que a muitos parece alar- mante — nos comités e subcomités*. James constatou que os subcomités do Se- nado dos Estados Unidos tinham em média, & época de sua pesquisa, 5,4 mem- bros, os subcomités da Casa 7,8, 0 governo estadual do Oregon 4,7 © 0 governo municipal de Eugene (Oregon) 5,3°. Em suma, os grupos que realmente fazem © trabalho sao de fato grupos pequenos. Um outro estudo corrobora as desco- bertas de James: o professor A. Paul Hare, em experiéncias controladas com grupos de cinco e de doze garotos, constatou que o desempenho do grupo de cinco era em geral superior’. O socidlogo Georg Simmel declarou explicitamente que os grupos pequenos podem agir com mais decisiio ¢ utilizar seus recursos com mais eficiéncia do que os grupos grandes: “Os grupos pequenos ¢ centri- petamente organizados costumam reunir e empregar todas as suas energias, a0 7 John James, “A Preliminary Study of the Size Determinant in Small Group Interaction", American So- ‘iological Review, XVI, ago. 1951, pp. 474-477. Bertram M. Gross: The Legislative Struggle, New York, McGraw-Hill, 1953. pp. 265-337: ver também Emest S. Griffith, Congress, New York, New York University Press. 1951 3. Para uma argumentagio leve e bem-humorada, mas de qualquer maneira stil, sustentando que © comit® ‘ou gabinete ideal deve ter somente cinco membros, ver C. Northcote Parkinson, Parkinson's Law, Boston, Houghton Mifflin, 1957, pp. 33-34. ‘A, Paul Hare, “A Study of Interaction and Consensus in Different Sized Groups”, American Sociological Review, XVII, jun. 1952, pp. 261-268. 66 TAMANHO DE GRUPO & COMPORTAMENTO GRUPAL passo que nos grupos grandes essas energias permanecem com muito mais fre- qiiéncia em estado potencial’®. (© fato de que a parceria ou sociedade pode ser uma forma institucional de trabalho vidvel quando o nimero de parceiros € pequeno, mas que € geralmente malsucedida quando o némero de parceiros € muito grande, pode constituir mais ma ilustragao das vantagens dos grupos pequenos. Quando uma parceria tem tmuitos membros, © parceiro individual nota que seu préprio esforgo ou cont buigao nao afetaré muito o desempenho grupal € espera obter sus parcela prees- tabelecida dos ganhos tanto se contribuir quanto se nao contribuir com tudo o que poderia ter contribufdo. Os ganhos de uma parceria em que cada parceiro obtém ima parte preestabelecida do retorno dos esforgos grupais so um beneficio co- Ietivo para os membros da parceria, e quando o ntimero de parceitos aumenta, 0 gncentivo que cada um deles tem para trabalhar pelo sucesso da empreitada di- cninui, Essa € sem dtivida apenas uma das varias razdes pelas quais as parcer 0s cendem a perdurar somente quando © ntimero de parceiros € realmente pequeno, mas 6 uma raz%io que pode ter um peso decisivo em uma parceria grande®. ‘A autonomia da administragao na grande sociedade anénima moderna, com seus milhares de acionistas, ¢ a subordinacdo da administragao na sociedade Geonima pertencente a um pequeno numero de acionistas também podem ilus- ‘as dificuldades especfficas do grande grupo. O fato de que a administragio a controlar a grande sociedade andnima e tem condigGes, por VEZ, de over seus proprios interesses as custas dos acionistas € surpreendente, ten Tm vista que os acionistas comuns dispdem de poder legal para depor a ad- Sesstraciio se assim o desejarem — se ela estiver dirigindo a sociedade andni- carcial ou totalmente em prol dos interesses da diretoria ~ © visto também Shes tém, como grupo, um incentivo para fazer isso. Por que, entdo, os acio- ado exereem seu poder? Eles nao 0 fazem porque, em uma grande socie- “casnima com milhares de acionistas, qualquer esforge que o acionista tt Szer para depor a administragao provavelmente seré malsucedido. E mesmo ‘ acionista tivesse éxito, a maior parte dos retornos na forma de dividendos SGenmel, The Sociology of George Simmel, tnd. am. Kurt H. Wolff, Glencoe, Mi, Free Press, 1950, Hern paseagem Simmel diz que as sociedades socialistas ~ com o que ele parece quere! oe Se Pelantirios que partiiham suas rendas conforme algum prinefpio igualiério — Aeve® mie pequenas, "Até 0 presente, os regimes socialistas ou quase-soctalistas foram Pos: Me em grapos muito pequenos, € sempre falharam nos grandes” (p. 85). S clestniado no precisa aplicar-se a parcelros que se supe sejam “parcciros adosmect: Sane Grover zomente capital. Nem leva em conta © fato de que em muitos casos cada Par Ssconsivel pelas/sujeito a perdas de todo 0 grupo de parceiros. 67 A LOGICA DA ACAO COLETIVA © Pre¢gos de agdes mais altos iria para o resto dos acionistas, ja que o tipico possui apenas uma fnfima porcentagem do enorme total das agdes ciedade. A renda da sociedade andnima é um beneficio coletivo Para os) tas. € © acionista que possui apenas uma porcentagem minima do total das como qualquer membro de um grupo latente, nao tem nenhum incentive balhar pelos interesses do grupo. Mais especificamente, ele nado tem incentivo para desafiar a diregao da empresa, por mais inepta ou corrupts ela possa ser. (Este argumento, no entanto, nao se aplica inteiramente ao nista que quer para si préprio a posigio e o dinheiro do diretor, pois nesse cle nao esta trabalhando por um beneficio coletivo; é significativo que a ria das tentativas de depor conselhos administrativos de sociedades a: Sejam iniciadas por aqueles que querem apropriar-se da direcdo da emp: Sociedades andnimas com um pequeno ntimero de acionistas, em contraste_ nao apenas controladas de jure mas também de facto pelos acionistas, pois. tals casos se aplicam os conceitos de grupo privilegiado ou intermediario”. Ha também evidéncias hist6ricas que sustentam a teoria aqui apr George C. Homans, em uma das obras mais conhecidas das ciéncias sociais americanas®, assinalou que o pequeno grupo tem demonstrado muito mais bilidade ao longo da histéria que o giande grupo: No nivel do [...] pequeno grupo, isto é, no nivel de uma unidade social (nie & tando 0 nome que Ihe dermos) em que cada um de seus membros pode conhecer dis fe todos os outros, a sociedade humana, ao longo de muitos milénios a mais do que que a historia escrita registra, conseguiu se manter coesa [...] Esses grupos tem tendsds Produzir um excedente dos beneficios que caracterizam uma organizagdo bem-sucedida. [...] 0 Egito antigo © a Mesopotamia eram civilizagdes. Assim como a India e na cléssicas. E a civilizagdo greco-romana ¢ também a nossa civilizagdo ocidental, que pea veio da cristandade medieval [...] © fato estarrecedor é que, depois de florescer por um certo perfodo, todas as civ zagoes, exceto uma, se esboroaram [...] as organizagées formais que articulavam o todo ex cial se despedagaram [...] boa parte da tecnologia foi até mesmo perdida por falta da cme peragao em grande escala necesséria para coloca-la em pritica [...] a civilizag3o merguthau: Sos Poucos em uma Idade das Trevas, em uma situagiio muito semelhante Aquela a parue da qual ela iniciara seu caminho ascendente, situagtio na qual a hostilidade mitua entre o Pequenos grupos € a propria condicio para a coesio interna de cada um deles [...] A socse. 7 Ner Adolph A. Berle Ir. & Gardiner C, Means, The Modern Corporation and Private Property, New York. Pigemillan, 1932; 1-A. Livingston, The American Stockholder, New York, Collier Books, 1963: P Saseea Warenee: Ownership, Conerot and Success of Large Companies, London, Sweet & Maxwell, 196i. William Mennell. Takeover, London, Lawrence & Wishart, 1962, 8. George C. Homans, The Human Group, New York, Harcourt, Brace, 1950. 6s TAMANHO DE GRUPO E COMPORTAMENTO GRUPAL Gade pode portanto afundar até esse ponto, mas aparentemente no mais abaixo {...] Pode- Se ler essa triste narrativa, contada com eloquéncia, nas obras de todos os historiadores aa givilizagito, de Spengler a Toynbee. A tinica civilizagso que ndlo se despedagou totalmente €@ nossa civilizagdo ocidental, © nos sentimos desesperadamente ansiosos com relagao fase, [Mas] No nivel da tribo ou do grupo, a sociedade sempre conseguiu se manter coves? A afirmagao de Homans de que os grupos menores siio os mais durdveis € bastante convincente ¢ com certeza reforga a teoria desenvolvida aqui. Mas a que cle tira desses fatos hist6ricos no € totalmente compativel com a abordagem do presente estudo. Seu livro se centra na seguinte idéia: “Vamos expor 0 nosso ar- gtmento ainda uma Gltima vez: no nfvel do pequeno grupo, a sociedade sempre Sonseguiu coesio. Inferimos portanto que, para que a civilizagdio se mantenha, sla deve reter [...] alguns tragos do pequeno grupo”. A conclusto de Homane SSpende da pressuposigdo de que as técnicas ou métodos do pequeno grupo stio mais cficientes. Mas isso nao € necessariamente verdadeiro. Os grupos Peque- Bes Ou “Privilegiados”, estilo em uma posigao mais vantajosa jé de safda, por- Be alguns ou todos os seus membros terdio um incentivo para se esforgar a fim Se que tudo corra bem. Isso nao vale para o grande grupo. No grande Brupo os _ @eentivos que concernem ao grupo nai 0 concernem também automaticamente aos Sfduos do grupo. Portanto, nio se segue que, pelo fato de o grupo pequeno sido historicamente mais eficiente, o grupo grande possa evitar o fracaseo co, © 0s métodos do pequeno. O grupo “privilegiado” — © sob esse aspecto tam- © E1uPo intermediario — esto pura ¢ simplesmente em uma posigio mais ajosa'!. ®. Problemas das Teorias Tradicionais * opiniio de Homans de que as ligdes dos grupos pequenos deveriam ser 208 grupos grandes tem muito em comum com a pressuposigdio na qual 3 grande parte das pesquisas sobre grupos pequenos. Uma vasta quanti- '@= Pesquisas sobre © pequeno grupo tem sido feita nos tiltimos anos, boa PP igce, 259. Ver também Neil W, Chamberlain, General Theory uf Economie Provesy, New York, panag shecialmente pp. 347-348, © Sherman Krupp, Pattern in Organisation Anedyata, Yalae Shilton. 1961, pp. 118-139 © 171-176. ep. cit, p. 468. Entre grupos latentes € grupos privilegiados ou intermedidtios ¢ somente um dos virios Soro Tvels Pela instabilidade de muitos impérios e civilizagaes antigas. Eu mesmo apanier fatores em um liveo ainda a ser publicado. «9 A LOGICA DA AGRO COLETIVA Parte delas bascada na idéia de que seus (convenientes) resultados experimen- tais podem ser diretamente aplicados a grandes grupos meramente através de uma multiplicagiio desses resultades por um fator de escala'?. Alguns psicélo- Boe socials, socidlogos ¢ cientistas politicos presumem que o pequeno grupo € 120 parecido com 0 grande em aspectos outros que ndo o tamanho que eles de. went Se comportar de acordo com leis mais ou menos similares. Mas, se € que as distingdes tragadas aqui entre © grupo “privilegiado”, o “intermedidrio” 2 0 tem algum significado, essa pressuposigfo € incerta, ao menos em se tratando de grupos que tenham um interesse comum e coletivo. Porque o grupe Pequeno ¢ privilegiado pode contar com o fato de que suas necessidades colete. whe Provavelmente sero preenchidas de uma maneira ou de outra, ¢ 0 grupo re~ almente pequeno (ou intermediario) tem uma boa chance de que a agio volun. \aria resolva seus problemas coletivos, ao passo que o grupo grande e latente nao Pode agir conforme seus interesses comuns desde que os membros do grupo scjam livres para promoverem seus interesses individuais. As distingdes desenvolvidas neste estudo sugerem também que a explica- séo wadicional das associagdes voluntarias apresentada no primeiro capitulo ne. cessita de algumas emendas. A teoria tradicional enfatiza a (suposta) universali- Gade de participagio em associagSes voluntarias nas sociedades modernas © explica 08 pequenos grupos e as grandes organizag&cs & luz das mesmas causas, Bm sua forma mais elaborada, a teoria tradicional afirma que a prevalénere ae participagao na associagio voluntaria moderna se deve a “diferenciacao estrutu. ral” caracterfstica das sociedades em desenvolvimento — isto é, ao fato cle que, a medida que os grupos pequenos e primarios das sociedades primitivas declina. “latente” ja nogaio de um “instinto membros nessas grandes ¢ seg SeociagOes voluntérias? Ha reconhecidamente fungées a serem desempe_ nhadas pelas grandes associag&es & medida que os grupos pequenos ¢ primarios Sc tornam mais especializados ou declinam. E 0 desempenho dessas fungOes, sem divida, pode trazer ganhos para grande nimero de pessoas. Mas irae ceses ga- nhos constituir para os individuos por eles favorecidos um incentivo » afiliagao, ee eons wr inunld Theory in Sociat Change, New York. Harper, 1951, pp. 163-164; Harold H. Kelley A rau Hy hibaut. The Social Psychology of Groups. New York, John Wiley, 1959, op. 6 HOP Tae and Polina Boney oF Interaction and Consensus". op. eit. pp. 261-268: Siduey Verba, Sinall rome: and Political Behavior, Princeton, N.3., Princeton University Press, 1961, pp. 4, 14, 99-1096 oa6 oe 70 ‘TAMANHO DE GRUPO E COMPORTAMENTO GRUPAL ¢ ainda mais a criago de uma grande associagdio voluntéria para desempenhar essas funcées? A resposta que, nao importa quo vantajosas © benéficas pos sam ser as fungdes que se espera que as grandes associagdes desempenhem, nao hd nenhum incentivo a afiliago a tais associagSes para qualquer membro de um erupo latente". Por mais importantes que essas fungdes possam ser, no h4 por que supor que um grupo Jatente conseguird se organizar ¢ agir no sentido de de- Sempenhar essas fung6es. J4 os pequenos grupos primérios podem presumivel- mente agit a fim de desempenhar fungdes vantajosas para si mesmos. A teoria sradicional das associagbes voluntirias equivoca-se ao supor de forma implicita ‘ue os grupos latentes agirio para cumprir propOsitos funcionais da mesma ma- ‘ecira que 0s grupos pequenos o fariam. A existéncia dessas grandes organizagoes ser elucidada principalmente por fatores distintos daqueles que explicam a sténcia de grupos menores. Isso Sugere que a teoria tradicional € incompleta precisa ser modificada & luz das inter-relagoes I6gicas explicadas no presente . Essa controvérsia € fortalecida pelo fato de que a teoria tradicional das jagées voluntérias nao cst4 em absoluto em harmonia com as evidéncias ricas, que indicam que a participagdo em grandes organizacbes voluntarias to menor do que a teoria tradicional sugere'*. Hi ainda outro sentido no qual a andlise desenvolvida aqui pode ser usada modificar a andlise tradicional. Esse aspecto envolve a questo do consen- “ecupal. Nas discussdes a respeito da coesdo de grupos ou organizagoes, fre- “mente se supde (embora quase sempre de forma implicita) que o ponto 0 prau de consenso. Se houver muitos desacordos sérios, nao haveré ‘coordenado € voluntirio, mas sc houver um alto grau de concordancia a do que se quer e da forma de obié-lo é quase certo que haversi agdo grupal iS As vezes 0 grau de consenso € discutido como se fosse 0 tinico fator [q:e no hé aqui nenhuma insinuagio de que todos os grupos possam necessariamente ser © S luz de seus intereases monetirios ow materials, A argumentagao do presente trabalho na Mqve 0: individuos tenham desejos apenas monetérios ou materiais. Ver nota 17. Seomaravsky, “The Voluntary Associations of Urban Dwellers", American Sociological Review, Toue, pp. 686.698; Floyd Dotson, "Patterns of Voluntary Membership among Working Class vAmuriean Sociological Review, XV1, out. 1951, p. 687; John C. Scott Jr, “Membership and we Voluntary Associations”, American Sociological Review. XXU, jun. 1951, p. 315: © Stauskaceht, The Joiners - A Sociological Description of Voluntary Association Membership Peseed States, Nova torque, Bedminster Press, 1962: Seay of Interaction and Consensus", op. cit: Raymond! Cattell, “Concepts and Methods of Croup Syntality", em A. Paul Hare, Edward F Borgatta & Robert F Bales (ores.) New York, Alfred A. Knopf, 1955: Leon Festinger, A Theory af Cognitive Dissonance, Ta. Row, Peterson, 1957; Leon Festinger, Stanley Schachter & Kurt Back, “The Operation of > cm Donwin Cartwright & Alvin Zander (orgs:), Group Dynaintes, Evanston. I, ROW, Davial B, Truman, The Goveruitental Prncess,.New Yorks Alfred As Knopf, 1958: a A LOGICA DA ACO COLETIVA alte se refere 4 ago ou coesiio grupal. Claro que nae Hta de consenso é adversa a quaisquer perspectives de aG80 © coesdo grupal. Mas disso nao se segue que um consenso perfeito, tanto meglte ¢ Fefere a0 desejo pelo beneficio coletivo quanto ace meios mais efi clentes de obté-lo, sempre traré a consecucao do objetivo &rupal. No caso de um grupo Brande ¢ latente, no haveré nenhuma tendéncia a que © grupo se organi- Go Para atingir seus objetivos através da aco voluntaria e racional dos membros do grupo, mesmo que haja consenso perfeito. Na verdade, este estudo parte da pressuposicao de que hd consenso perfeito. Trata-se, sem duivida, de uma pres- Suposigdo no-realista, dado que a perfeigao de consenso, como de outras coi- sas, € na melhor das hipéteses muito rara. Mas os resultados obtidos & luz dessa Pressuposigao so, por isso mesmo, muito mais s6lidos Porque, se mesmo com consenso perfeito a aco racional e voluntaria nao habilita um grupo grande ¢ latente a se organizar para atingir suas metas coletivas, entio, a fortiori, essa con- clusdo deve se sustentar no mundo real, onde o determinante de relevo no Testa duivida de que uma fa ©: Incentivos Sociais e Comportamento Racional Os incentivos econdmicos nao sto, com certeza, os Gnicos incentivos pos- Siveis. As pessoas algumas vezes sentem.se motivadas também por um desejo de Prestigio, respeito, amizade e outros objetivos de fundo social e psicoldgico. Embora a expresso “status Socioecondmico”, usada com freqtiéncia nas discus, SOes sobre status, sugira que possa haver uma correlagao entre posigao econé- mica € posigdo social, no hé duvida de que as duas coisas so as vezes dife- E € Obvio que € uma possibilidade real. Se os men. ‘as que tivesse um interesse em um benefi- Pessoais, ou pertencessem ao mesmo clube uusessem © Onus de prover esse beneficio co- mesmo que ganhassem algo econo- socialmente com ela, e a perda so- © ganho econémico. Seus amigos cio coletivo fossem também amigos Social, ¢ alguns membros do grupo pi letivo nas costas dos outros, eles poderiam, micamente com esse tipo de conduta, perder cial poderia pesar mais na balanca do que 72 TAMANHO DE GRUPO E COMPORTAMENTO GRUPAL poderiam empregar a “pressiio social” para leva-los a cumprir sua parte no pro- cesso de consecugiio da meta grupal, sob a ameaga de exclusiio do clube social aso no a cumprissem. Esses recursos podem ser eficientes, j4 que a observa- 40 cotidiana mostra que a maioria das pessoas valoriza a companhia de seus amigos e colegas ¢ zela pelo seu status social, prestigio pessoal e auto-estima. A existéncia desses incentivos sociais A agdo grupal, contudo, nao contra- diz nem debilita a andlise desenvolvida neste estudo. Se faz algo, € fortalecé-la, dado que status social ¢ aceitagdo social séo beneficios individuais, ndéo-coleti- vos. SangSes © recompensas sociais so “incentivos seletivos”, isto é, sao incen- tivos do tipo que pode ser utilizado para mobilizar um grupo latente. E da prépria natureza dos incentivos sociais sua faculdade de distinguir entre os indivfduos: 0 individuo recalcitrante pode ser colocado no ostracismo, ¢ o que colabora pode ser convidado para o centro do cfrculo privilegiado. Alguns estudiosos da teoria organizacional ressaltaram, com razdo, que os incentivos sociais devem ser ana- lisados de maneira muito semelhante aos incentivos monetérios'®, E ha ainda ou- ‘ros tipos de incentivos que também podem ser analisados de maneira similar!7. 86. Ver especialmente Chester I. Barnard, “The Economy of Incentives”, em The Functions of the Executive, Cambridge, Harvard University Press, 1938, pp. 139-160, ¢, do mesmo autor, “Functions and Pathology of Status Systems in Formal Organizations”, em Organization and Management, Cambridge, Harvard University Press, 1948, pp. 207-244; Peter B. Clark & James Q. Wilson. “Incentive Systems: A Theory of Organizations”, Administrative Science Quarterly, V1, set. 1961, pp. 129-166. e Herbert A. Simon, Adininistrative Behavior, New York, Macmillan, 1957, especialmente pp. 115-117. Tenho uma divida para com Edward C. Banfield por suas iteis sugestes a respeito de incentivos sociais e teoria organi- 2acional. #7 Além dos incentivos monetirios ¢ sociais, hé também incentivos ersticas, psicoldgicos, morais € muitos mais. Esses tipos de incentivos s6 podem levar um grupo latente a obter um beneficio coletive porque S30 ou podem ser usados como “incentivos seletivos”, isto é, porque tém a faculdade de distinguir entre 95 individuos que apsiam a acao em pro! do interesse comum e aqueles que nao o fazem. Mesmo no e250 em que as atitudes morais determinam se uma pessoa teré ou nio uma conduta grupal, 0 fator Seucial € que a reago moral funciona como um “incentivo seletivo”. Se o sentimento de culpa ou a Sestruigdo da auto-estima que ocorre quando uma pessoa sente que abandonou seu c6 faria aqueles que contribufram para a consecugdo de um beneficio para o grupo tanto quanto os que do contribufram. © eédigo moral nao poderia ajudar a mobilizar um grupo latente. Repetindo: as ati fades morais podem mobilizar um grupo latente somente na medida em que provém incentives vele~ Sivos. A adesio a um e6digo moral que obriga aos sacrificios necessiirios para obter ui beneficio co- ietivo ndo precisa necessariamente, portanto, contradizer nenhuma das andlises deste estudo. Na ver seja maximizada, ele obviamente nao pagaré nada por fins ptiblicos”. Tanto contribuinte pagar muito quanto se pagar pouco ao Tesouro, ele “afetara tao mente a extensio dos servicos piiblicos que, para todos os propésitos prati- ele préprio nao notaré nenhuma diferenga”’. Os impostos so, portanto, ar- Ses compulsérias que mantém o contribuinte no que pode ser denomi- “posigao de desequilibrio”. Assim, esses autores europeus dedicados ao tema das finangas piiblicas = aprendendo uns dos erros dos outros ¢ melhorando progressivamente sua . que depois de varias décadas culminou na concepgao de Wicksell do a, no ensaio em que ele propés sua teoria da tributacdo por “consenso ”” Wicksell tinha uma concepsao correta do problema do financiamen- servicos coletivos providos pelo governo, nao importa o que se pense a ‘0 de sua proposta pritica para a tributagaio. No entanto, ele confinou sua 0 ao caso particular do governo e n&o considerou o problema geral de- sado por todas as organizagdes econdmicas. Nem considerou o qudo peque- ‘em “publico” pode ser antes que a teoria nfio mais seja aplicavel. ‘De modo geral, os autores posteriores a Wicksell aceitaram sua andlise do na basico da teoria dos gastos ptiblicos*. Hans Ritschl foi talvez o mais oso dentre os poucos economistas? que nao aceitaram a abordagem “indi- a” ou wickselliana. Ritschl argumentou: Mazzola, “The Formation of the Prices of Public Goods”, Classics, pp 159-193. Ver também Ma‘feo ssieoni, “Contributions to the Theory of the Distribution of Public Expenditure”, Classics, pp. 16-27 Wicksell, “A New Principle of Just Taxation”, Classics, pp. 81-42 sor exemplo, Richard Musgrave, The Theory of Public Finance, New York, McGraw-Hill, 1959, mente Caps. iv e vi: Paul A. Samuelson, “The Pure Theory of Public Expenditure”, Review of omics and Statistics, XXXVI, nov. 1954, pp. 387-390; Erik Lindahl, “Just Taxation: A Positive sion”, Classics, pp. 168-177 ¢ 214-233. Gutros so Gerhard Colm, “Theory of Public Expenditures”. Annals of the American Academy of seal and Social Science, CLXXXII, jan, 1936, pp. 1-11; ¢ Julius Margolis, “A Comment on the Pure ‘of Public Expenditure”, Review af Economies and Statistics, XXXVI, nov. 1955, pp. 347-349. us A terra ¢ a lingua natais nos irmanam. Todo 0 mundo € bem-vindo & sociedade de tracy Gesde que obedega as suas regras. Mas & comunidade nacional pertencem somente og homens ¢ mulheres da mesma Ifngua, da mesma espécie, da mesma mentalidade [...] Pelas veins da oot Ciedade corre uma dnica © mesma moeda; pelas veias da comunidade, 0 mesino sangue ey Qualauer concepexo individualista do “Estado” € uma aberragho indecente [._] lez nada mais que uma cega ideologia de lojistas e mascates A economia estatal serve A satisfagio das necessidades comunais [...] Se © Estado: 4 satisfaz necessidades puramente individuais, ou grupos de necessidades individwaie que) mrenicamente milo podem ser encaradas de outra maneira que no juntamente, assim O fae apenas por causa da receita, Na economia de livre mercado 0 interesse econdmico pessoal do individuo reina se Fa cldeeice wiiSe nico fator a governar as relagdes € a motivagz0 do lucro, no qual a tea ALOGICA DAACKO COLETIVA | i ‘eas, tais como associagses, cooperati- Vas Ou instituigdes de caridade, que podem ter estruturas internas onde encontramoe mans Pasdes outras além do interesse individual. Imernamente, amor sacrificio, solidariedare ag enerosidade podem ser fatores determinantes. Mas, deixando de lado essas estrutica nomen eit motivacdes nelas-embutidas, as relagoes de mercado entre as unidades eco: némicas sao sempre governadas pelo interesse préprio [0s itdlicos sao meus} Na sociedade de troca, portanto, o interesse egofsta regula sozinho as relagdes entre Os membros. Ja a economia estatal € caracterizada por um espirito comunal denvro da ea, munidade. © egofsmo dé lugar ao esptrito de sacriffcio, a lealdade ¢ ao espirite comunita- Ho [| Essa compreensio do poder fundamental do espirito comunitatio condus « wma car pl 0s membros da comunidade As necessidades coletivas objetivas tendem a prevalecer. Mesmo o politico intransi- Sari ate ingressa em um gabinete governamental € submetido & forga da realidade farual ¢ 2 mudanca espiritual que faz de um Ifder de partido um estadista [..] Nao ha any nico estadista alemdo dos Gltimos doze anos [...] que tenha escapado A submissto a ese lev? O argumento de Ritschl é exatamente o oposto da abordagem deste livro. Ele Pressupoe uma curiosa dicotomia na psique humana segundo a qual o interesse pes- sacrificio pessoal nio conhece limites no relacionamento do individuo com o Es- tado e com os diversos tipos de associagdes privadas. As organizagGes sustentadas ‘cio pessoal so, no entanto, egofstas em todas as suas tran- Para os autores marxistas, a Por esse tipo de sacri sages com outras organizagdes. © Estado e a raga (c, classe) se tornaram entidades metafisicas com necessidades “objetivas” propési- f0S que transcendem as necessidades e propésitos dos individuos que as compéem. 10. Hans Ritschl, “Communal Economy and Market. Economy", Classics, pp. 233-241 ue

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