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Sri Lanka
A vida de Buda cabe
dentro de um triângulo
Club Med Samoëns Protagonista
265 quilómetros de neve Rui Moura Alves,
FUGAS | Público N.º 10.143 | Sábado 27 Janeiro 2018 para esquiar nos Alpes o senhor vinagre

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2 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Semana de lazer
Mais sugestões em lazer.publico.pt

No mapa das tentações,


a bússola aponta para
enchidos e chocolate.
Com arte e carrinhos-
de-choque. Cláudia
Alpendre Marques
Rainha do fumeiro Mais uma ficha,
Montalegre volta a estar no mapa das
mais uma voltinha
tentações, no que à gula diz respeito. A Uma pista de gelo, carrosséis, carrinhos-
27.ª edição da Feira do Fumeiro e Presunto de-choque, montanha-russa, divertimentos
tem na montra as iguarias da terra, da radicais, barquinhos, matraquilhos, jogos
chouriça ao salpicão, passando por rojões, tradicionais, quiosques de artesanato
alheiras, sangueiras, chouriço de abóbora, e espaço de restauração. Neste reino
morcelas, presuntos, orelheiras, pés e vimaranense há de tudo, para todas as
filhós. Um tributo à gastronomia barrosã idades e em nome da diversão. Este ano,
que, todos os anos, leva milhares de o parque conta ainda com Fun with Bricks,
visitantes à vila transmontana. No cartaz, uma exposição de construções com lego
para além dos enchidos certificados, há onde é recriada uma “megacidade” que
música, tasquinhas, petiscos, artesanato e inclui referências a monumentos reais
outros produtos da região, como folares, mas também apontamentos artísticos de
pão de centeio, mel de Barroso, chás ou outros mundos, como as naves do Star
licores. Para guardar no cesto de tradições Wars. Entre farturas e pipocas, com sabor a
a não perder. nostalgia, a proposta é para entrar no Reino
da Diversão.
MONTALEGRE
Pavilhão Multiusos - Parque de
Exposições e Feiras
Até 28 de Janeiro. Sábado e domingo,
a partir das 10h.
Entrada livre

Cartazes de Sonho
Ficou conhecido como o primeiro
grande publicitário português. Fundou
GUIMARÃES a ETP - Empreza Técnica de Publicidade
Pavilhão Multiusos e com ela introduziu moldes e conceitos
Até 13 de Fevereiro. Quinta, das 15h às inovadores, como os outdoors e cartazes
20h; sexta, das 15h às 24h; sábado (e de grande formato. O currículo de Raul
segunda, 12 de Fevereiro), das 10h às de Caldevilla (1877-1951) é marcado por
24h; domingo (e terça de Carnaval), das versatilidade, criatividade, tom humorístico
PAULO RICCA 10h às 20h. e postura progressiva, própria de quem
Entrada livre. Preço especial de 1€ por via no trabalho mais do que a sua função
divertimento à quinta-feira informativa. É para o mostrar que estão
reunidos cem cartazes e posters da sua
autoria, criados para cinema e publicidade,
numa exposição promovida pela Academia
Portuguesa de Cinema, em parceria com
o Museu da Publicidade, a Cinemateca
Portuguesa e a Sociedade Nacional de
Belas Artes. A curadoria é de Theresa
Lobo e Paulo Trancoso. Paralelamente,
a Cinemateca dedica um ciclo de filmes
a Caldevilla, que assinou também como
realizador, produtor, distribuidor e
guionista.

LISBOA
Sociedade Nacional de Belas Artes
Até 12 de Fevereiro. Segunda a sexta,
das 12h às 19h; sábado, das 14h às 20h.
Grátis
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 3

FUGAS N.º 920 Foto de capa: JTB Photo/Getty Images FICHA TÉCNICA Direcção David Dinis Edição Sandra Silva
Costa Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima
e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro, José Alves e Francisco Lopes
Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua Júlio Dinis, n.º270, Bloco A 3.º, 4050-318 Porto.
Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. fugas.publico.pt

Da Índia, com chhau Abra a boca e feche os olhos O butelo e as casulas


Do mosaico de tradições, cores e Se há evento que merece um “Gosto”, A semana de sugestões acaba como
cheiros da Índia, vem Seraikella Chhau. este é um deles. O Chocolate em Lisboa começa: na região transmontana. Em
O espectáculo de dança dramatizada, está de volta à capital com o objectivo de Bragança, as honras da mesa estão por
predominante na parte oriental do dar a conhecer alguns dos melhores do conta do butelo e das casulas. Entre os
território, é protagonizado pela companhia mundo, das marcas de maior prestígio aos costumes antigos da terra por altura do
de Pandit Gopal Prasad Dubey, um projectos artesanais. Aqui há bombons Carnaval e a promoção de versões mais
dos maiores bailarinos do género. Em recheados com queijo da serra, crepes, contemporâneas, conquistaram o direito
palco é apresentada uma “dança pura, chocolate quente, pastelaria fina, bolos, a um festival em nome próprio. Se para
sem diálogo”, ligada a rituais religiosos brigadeiros, macarons com recheio uns se trata de um prato que não prima
e influenciada por artes marciais. As de aguardente da Lourinhã e tudo o pela beleza (um enchido feito de ossos do
máscaras coloridas assumem o papel que se liga ao chocolate, como vinhos, espinhaço envolvido pela bexiga ou bucho
principal e representam personagens cerveja, frutos secos, especiarias, chás do porco e acompanhado por feijão seco
como deuses, demónios, humanos ou
Coming Home ou frutas. Várias atracções animam a com casca), para outros o foco está na
animais, entre outras figuras. Um corpo em A Coreia do Norte “em discurso directo iniciativa, como choco cookings com as tradição em formato generoso, com um
movimento, numa coreografia ao ritmo e à e sem intermediários”. Este é o ponto de dicas de mestres como Carlos Valente, sabor único. Associada ao festival está a
medida do folclore. partida para a exposição Coming Home, Américo Santos, Francisco Siopa, Ricardo Semana Gastronómica, que decorre em
que reúne imagens que testemunham o Tiago, Tiago Bonito e Patrícia Godinho, simultâneo e, até 13 de Fevereiro, convida a
LISBOA quotidiano daquele país, captadas pelo workshops, palestras e diversos espaços experimentar as várias formas de cozinhar
Museu do Oriente fotojornalista David Guttenfelder. E se de entretenimento infantil. Os dados estão a especialidade em 27 restaurantes da
Dia 27 de Janeiro. Sábado, às 18h30. o conteúdo vale pela raridade, a forma lançados: gulosos à arena. cidade.
Bilhetes a 10€ como foi criado e partilhado — numa
imensa galeria virtual revelada no seu LISBOA
ÉVORA Instagram — pisca o olho ao potencial Praça de Touros do Campo Pequeno
Teatro Garcia de Resende das novas plataformas de comunicação e De 1 a 4 de Fevereiro. Quinta a domingo,
Dia 28 de Janeiro. Domingo, às 21h30. democratização das imagens. Um desafio das 10h30 às 21h30.
Bilhetes a 8€ que traz consigo a interacção directa com Bilhetes a 4€ (2€ dos 6 aos 11 anos).
quem “consome” e partilha o seu olhar. Grátis para menores de 5 anos.
SETÚBAL O retrato sócio-cultural norte-coreano é Workshops: 10€ a 15€
Fórum Municipal Luísa Todi complementado, noutro extremo, com as
Dia 30 de Janeiro. Terça, às 21h30. fotografias tiradas no seu regresso a casa,
Bilhetes a 3€ nos Estados Unidos, após duas décadas
fora, onde Guttenfelder “explora a essência
do american way of life”, vestindo agora a BRAGANÇA
pele de um estranho à descoberta do seu Praça Camões
próprio
óprio país. De 2 a 4 de Fevereiro. Sexta, sábad
sábado
d e
domingo, das 10h às 20h.
MATOSINHOS
ATOSINHOS Entrada livre
Manifesto
anifesto
Até
é 31 de Março. Terça a sábado,
das
as 10h às 13h e das 14h às 19h.
Grátis
rátis
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4 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Ásia

Sri Lanka
Quantos
lados tem
um triângulo
cultural? Anuradhapura

Da doçura de Kandy, com o templo do


SRI LANKA
dente sagrado, a Polonnaruwa, cidade- Kandy
modelo em finais do século XII, passando
Colombo
pelas grutas de Dambula e pelo rochedo de 2524

Sigiriya, uma viagem cultural e espiritual


que se perpetua na memória. IC
O
ND
Sousa Ribeiro 75km OC
E AN

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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 5

SOUSA RIBEIRO

a Uma mulher levanta as mãos em


frente ao templo situado do outro
lado do lago e nem se apercebe da
proximidade de um lagarto com uns
dois metros de comprimento quase
aos seus pés.
- É um monitor.
O homem que, adivinhando a
minha curiosidade ou talvez o meu
receio, me presta a informação, for-
necida em forma de tranquilizante,
acompanha-me ao longo da estra-
da que bordeja o lago até chegar ao
centro da cidade venerada pelos bu-
distas de todo o mundo. A manhã
ainda se espreguiça e o sol ameaça
romper a qualquer momento a cor-
tina de um branco-sujo que deco-
ra o céu sobre aquelas águas que
decido contemplar, sentando-me
num banco ao lado de um jovem
de sorriso fácil.
- Kandy é conhecida pela sua
espiritualidade, pelo seu ambien-
te relaxado, pelo charme. É uma
cidade que parece acolher toda a
tranquilidade e todas as fragrâncias
do mundo, observa Raslan Manso-
or, estudante universitário e tam-
bém de visita à antiga capital do Sri
Lanka por uns dias.
O lago, rodeado de magnólias, foi
criado em 1807 por Sri Wickrama
Rajasinha, o último governador do
reino de Kandy, um projecto que
motivou protestos de alguns chefes
locais face à recusa dos trabalhado-
res em participar nas obras. Como
consequência, foram executados
de forma brutal e, para servirem
de exemplo, amarrados a estacas
no leito do lago enquanto os traba-
lhos prosseguiam, incluindo aque-
les que levaram à criação de uma
ilha no centro (ligada ao palácio
através de um túnel secreto) deste
espaço cénico onde planto o meu
olhar, usada por Sri Wickrama Ra-
jasinha como harém e, anos mais
tarde, como depósito de munições
pelos ingleses.
Rodeada de montanhas com os
seus cumes vestidos de um verde
brilhante mas não raras vezes en-
voltos nas brumas, Kandy, situada
a pouco mais de uma centena de
quilómetros de Colombo, a capital,
e a cerca de 500 metros de altitude,
é uma das mais bonitas metrópoles
do país, conservando uma grande
parte do seu encanto e do espírito
colonial britânico. Capital do últi-
mo reino cingalês, Kandy, no cora-
ção do País das Montanhas ou das
Terras Altas, foi conquistada pelos
ingleses em 1815, não sem antes
desafiar, ao longo de três séculos,
portugueses e holandeses — e mes-
mo os ingleses, já depois da tomada
da cidade actualmente com pouco
mais de 100 mil habitantes, tiveram
de esperar 16 longos anos para po-
derem construir uma estrada entre
Kandy e Colombo. c
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6 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Ásia

Despeço-me de Raslan Mansoor Numa primeira fase, o dente teve as pujas (oblações e orações) são Buda e pelo menos três níveis de
e do lago, da simpatia de um e da como destino a cidade de Anura- privados de ver o dente, escondido pinturas do século XVIII ao século
serenidade do outro, e acerco-me dhapura e, ao longo dos anos, via- num cofre em ouro (há três chaves XX que retratam a perahera.
da agitação que se vive nas proximi- jou ao sabor das ondas da história para o abrir, uma guardada pelo ad- Perahera significa procissão e esa-
dades do templo do Dente de Buda do Sri Lanka, até se fixar em Kandy, ministrador do templo e mais duas la perahera designa o espectáculo
— são fortes as medidas de seguran-
ça, ainda na sequência dos danos
se bem que com um conjunto de pe-
ripécias que atestam uma existência
que são confiadas a monges) com a
forma de uma dagoba — uma estupa Capital do mais magnificente de todo o país,
com lugar marcado, todos os anos,
causados por uma bomba detonada
(utilizando um carro armadilhado)
no mínimo turbulenta: em 1283, foi
conduzido de volta à Índia por um
— que contém outras seis dagobas
com o mesmo formato mas de dife- último reino em Kandy e em honra do dente sa-
grado. Durante dez dias do mês Esa-
pelos Tigres de Libertação do Eelam exército invasor mas não tardou rentes tamanhos (um pouco como la ( Julho/Agosto), a cidade conhece
Tâmil (LTTE) em 1998, perto da en- muito tempo até ser recuperado as bonecas russas). cingalês, Kandy uma actividade frenética, enche-se
trada principal, um atentado que pelo rei Parakramabahu III; supos- Mesmo órfão dessa visão, o vian- de vida e de cor, festejando uma tra-
provocou 16 mortos e está ainda vi-
vo em todos os espíritos. Um ataque
tamente, já no século XVI, dele se
terão apossado os portugueses para
dante sente-se grato quando os seus
passos o conduzem ao longo das di-
é o ponto de dição secular ( já era descrita em
1681 por Robert Knox, capitão do
a um dos mais importantes símbo-
los do budismo que provocou uma
o queimar num ambiente de grande
fervor católico em Goa, uma versão
ferentes divisões que compõem o
templo maioritariamente construí-
partida para mar inglês ao serviço da Companhia
Britânica das Índias Orientais, no
onda de emoção e motivou uma
instantânea chuva de donativos de
da história que é prontamente des-
mentida pelos cingaleses. Segundo
do sob as ordens dos reis de Kandy,
entre 1687 e 1707 e, mais tarde, en-
incursões seu livro An Historical Relation of the
Island Ceylon) que tem o seu mo-
forma a que os estragos causados
pela explosão fossem rapidamente
estes, o que os portugueses rouba-
ram foi uma réplica, enquanto o
tre 1747 e 1782, formando parte do
palácio real. O principal santuário
num mundo mento de apogeu na última noite,
a noite da nikini poya (lua cheia). A
reparados. verdadeiro incisivo permanecia
guardado num lugar seguro — ain-
do dente sagrado, um edifício rec-
tangular de dois andares conhecido
vestido de procissão, à qual também não pas-
sou indiferente Fernão de Queirós,
Atribulações de um dente da hoje correm rumores de que o
dente está escondido algures, pelo
como Vahahitina Maligawa, ocupa
a zona central de um pátio empe-
verde, recheado padre jesuíta e cronista português
autor da obra Conquista Temporal
O dente é a mais importante relíquia
budista e, segundo reza a lenda, foi
que, a fazer fé nesta tese, também
o Sri Dalada Maligawa acolhe uma
drado, sob um tecto dourado que
aprisiona todos os olhares e que foi de encontros e Espiritual do Ceilão, é, nos dias
de hoje, uma combinação de cinco
roubado da pira em chamas durante
o funeral de Buda, no ano 483 a.C.,
cópia.
Verdade ou não, durante a visita,
pago graças aos donativos de japo-
neses. O rebentamento da bomba, improváveis diferentes peraheras. Quatro de-
las têm origem nas quatro devales
antes de ser levado, já no século IV, os devotos e os turistas, a despeito há 20 anos, danificou seriamente (complexos religiosos que veneram
para o Sri Lanka, camuflado entre de serem autorizados a errar pela a parede frontal e deixou à mostra divindades hindus ou cingalesas e
o cabelo de uma princesa. sala que abriga a relíquia durante histórias das anteriores vidas de que também são devotos ou servem
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 7

DEAGOSTINI/GETTY IMAGES
Buda) e a quinta no próprio templo As grutas de Dambula acolhem
Sri Dalada Maligawa, todos contri- todos os anos cerca de 200
buindo para o sucesso de um evento mil visitantes que, a juntar à
marcado pelo ritmo forte dos tam- humidade e ao calor, colocam
bores, dos dançarinos, dos acroba- em risco importante património
tas, do movimento das ancas, das cultural
bandeiras coloridas que são agita-
das durante o desfile que também
é acompanhado por cerca de meia Quando o dia caminha para o seu
centena de elefantes ricamente de- final, anunciando já a última carícia
corados — num tempo não muito do sol, regresso a Kandy, às mar-
distante eram mais de cem mas este gens do lago, onde um cego vende
aparente declínio não impede que lotaria.
a perahera seja ainda hoje uma das Compro uma.
mais fascinantes celebrações de to-
do o continente asiático.
As grutas de Dambula
Ao início da tarde, embrenho-me
pelo jardim botânico (a seis quiló- A subida é íngreme — dou por mim
metros de Kandy), considerado um a pensar que o Sri Lanka está tão
dos mais belos da Ásia e lugar de banhado em lendas como eu em
encontro de casais de namorados suor — mas o esforço logo é recom-
capazes de jurar um amor eterno pensado mal avisto, ao fim de uns
sob palmeiras e bambus gigantes, trinta minutos, toda a planície ao
antes de procurarem lugares me- fundo e a estrutura pintada de um
nos recatados, na suave colina das branco leitoso sob um rochedo de
orquídeas, perdidos entre a enorme dimensões biblícas. São as grutas de
variedade de especiarias ou prote- Dambula, transformadas em mos-
gidos pela sombra acolhedora de teiro pelo rei Valagambahu, que
uma figueira de Java que ocupa na- foi acolhido no local durante o seu
da mais nada menos do que uma exílio (quando os tâmiles hindus do
área de 2400 metros quadrados. norte tomaram a cidade de c

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De Macau a Pequim, um périplo pelos mais

VIAGEM CULTURAL À CHINA


fantásticos lugares da China: Guilin, Shan-
ghai, a Barragem das 3 Gargantas do Rio
14 A 29 MARÇO Yangtze e a icónica Muralha da China.
Guia | António Graça de Abreu, historiador, professor de Sinologia e especialista em cultura chinesa.
INFORMAÇÕES E RESERVAS | Ana Filipa Castro | EMVIAGEM LDA | Tel. +351 21 116 74 53 | ana.castro@emviagem.pt Mais informações em www.museudooriente.pt
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8 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Ásia

Os cidadãos portugueses
carecem de um passaporte com
uma validade mínima de seis
meses para entrar no país. As
duas línguas oficiais são o sinhala
e o tâmil — a primeira é a língua
nativa do povo cingalês, o que
representa aproximadamente
70% da população (uns 13
milhões, embora também seja
falada por outros grupos étnicos
como segunda língua); quanto
ao tâmil, é utilizado por cerca de
cinco milhões (15% da população
total), subsistindo outros
dialectos entre minorias como
os rodiya, os crioulos malaios
(vulgarmente designados
bahasa melayu), os mouros e os
veddah. No entanto, o turista não
encontrará grande dificuldade
em comunicar em inglês com os
habitantes da ilha que foi colónia
do Império Britânico — a língua
inglesa serve com frequência
como ligação entre quem fala
sinhala e tâmil e, a despeito de
não ser imposta, nem a uns,
nem a outros, a ela recorrem
preferencialmente governantes e
instituições do estado.
A moeda oficial é a rupia — um
euro equivale a mais ou menos
190 rupias cingalesas.

Anuradhapura), no século I a. C., luz mortiça, há dezenas de estátuas da do mundo, com uma altura de onde se situa o palácio-fortaleza,
rodeado de uma serenidade que de budas (algumas do século I), uns 30 metros. mandado erguer, já no século V,
contrasta com a realidade actual. sentados, outros de pé, outros dei- Tão-pouco é o maior do país. pelo rei Kassapa e encimando o ro-
Em tempos também habitado tados e aos pés dos quais os monges chedo do Leão.
pelos monges, o mosteiro é visita- e os fiéis depositam as suas oferen- O rochedo de Sigiriya A sua história merece ser ouvida
do por mais de 200 mil pessoas ao
longo do ano, uma afluência que,
das por vezes sem dirigirem a sua
atenção para o tecto (que chega a Recordo-me tão bem desse trajecto A noite da e contada.
No século V, o rei Dhatusena, de
ajudada pelo calor e pela humidade,
concorre para uma degradação pro-
atingir sete metros de altura e do
qual tombam constantemente go-
sinuoso, das múltiplas curvas que
o autocarro ia descrevendo, qua- nikini poya, Anuradhapura, foi assassinado pelo
seu filho bastardo, Kassapa. O seu
gressiva das pinturas dos séculos tas de água que são utilizadas nos se tantas como as buzinadelas que irmão e pretendente ao trono, Mog-
XVIII e XIX que traçam as grandes rituais sagrados) com pinturas do enchiam a atmosfera silenciosa, da lua cheia, é gallana, fugiu para a Índia carregan-
etapas da vida de Buda — uma situ- século XVIII. por entre as brumas que tardavam do com ele pouco mais do que uma
ação que se agravou quando as au-
toridades religiosas se recusaram,
Visito as outras quatro grutas,
a Devaraja Viharaya, a Maha Alut
a dissipar-se, teimosas, como que
adiando a chegada, bem no coração
um momento promessa de vingança. Com receio
de uma invasão, Kassapa mandou
há já mais de 20 anos, a autorizar
qualquer obra de restauro num pa-
Viharaya, a Pachima Viharaya e a
Devana Alut Viharaya e, já no exte-
da ilha em forma de lágrima.
O autocarro emite um derradeiro
sublime em erguer uma fortaleza no inexpugná-
vel monólito de Sigiriya. De pouco
trimónio cultural já por essa altura
em perigo.
rior, avisto ao longe o rochedo de
Sigiriya, como um barco encalha-
suspiro junto a um largo de terra
batida, cheio de poças de água que
Kandy, capital lhe valeu. Sigiriya foi mesmo invadi-
da e Kassapa tombou durante uma
Entre as cinco salas do mosteiro
de Dambula, a gruta número dois,
do no meio da selva. Mas a minha
atenção tem de se focar nos maca-
reflectem um céu escurecido.
Um elefante passeia turistas pelo
do reino que batalha, momentos antes de as suas
tropas desertarem.
também conhecida por Maharaja
Viharaya, é a de maior dimensão
cos que andam por ali a enganar os
turistas (espreitando para o interior
alcatrão que serpenteia por entre
a vegetação, um casal aproveita a
interessou a Pouco depois da sua morte, o pa-
lácio foi abandonado, transforman-
(mais de 50 metros de comprimen-
to e mais de 20 de largura) e aquela
de sacos e mochilas) com a mesma
desfaçatez com que se anuncia, uma
montanha como pano de fundo
para as fotografias, e adia, prova-
portugueses e do-se num mosteiro budista e num
bastião do reino de Kandy.
cuja decoração mais prende o olhar
dos turistas. No interior, com a sua
vez terminada a descida, já aos pés
da colina, a presença do maior bu-
velmente para o dia seguinte, como
eu, o momento de alcançar o cume holandeses Canso-me só de imaginar a su-
bida quando fito uma vez mais
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 9

MARIO TAMA/GETTY IMAGES


O Esala Perahera (foto à esquerda) é
um dos eventos mais fantásticos de
todo o continente asiático, um festival
que preenche de vida e cor a cidade
de Kandy, capital espiritual e cultural
do Sri Lanka; à direita, a gruta de
Dambula, transformada em mosteiro
pelo rei Valagambahu

JOHN S LANDER/GETTY IMAGES

SOUSA RIBEIRO

aquelas paredes quase verticais. de explicação daqui a muitos anos.


É um lugar sagrado, o imponen- Difícil de perceber, também, por
te rochedo de Sigiriya, rodeado de que razão alguns turistas atacam a
montanhas, de bosques, de jardins subida no pico do calor, quando o
tão delicados, e guardando, no sopé, sol ameaça queimar tudo e todos
os restos de uma antiga civilização, à sua volta. Sinto-me feliz por per-
onde a imaginação me conduz para correr, à mesma hora, o trajecto
o que poderia ser o lugar há mil anos em sentido contrário, de volta ao
ou mais, e para o que me espera, vale, de volta a uma pequena famí-
nesse futuro imediato: a ascensão, lia que me acolhe num restaurante
pelo meio de escadas que ameaçam humilde, desprovido de estética e,
levar-me ao céu, a tocar a abóbada ao mesmo tempo, tão genuíno, ór-
do mundo, mais de mil degraus, al- fão de nome e, em simultâneo, com
guns deles flanqueados por frescos comida tão deliciosa.
pintados com tanta delicadeza, de - Paga o que quiseres, disse-me a
mulheres com os seios à mostra, na proprietária nessa noite.
moldura do rosto um sorriso enig- Não me lembro do nome da senho-
mático, verdadeiras ninfas, inatingí- ra, do filho que se sentava ao meu co-
veis rainhas de beleza. Seriam espo- lo no meio das refeições, tão-pouco
sas ou concubinas do rei Kassapa? me preocupava em saber, naquela al-
Princesas ou simples escravas? A tura, já com tantos lugares visitados,
dúvida sobre as mulheres de Sigi- quantos lados tem um triângulo.
riya, sobre estes frescos pintados no Sei apenas que tem este sorriso
século V no flanco oeste do roche- que se perpetua e se estende por
do, a cem metros de altura, persiste, toda a ilha. Este lado bom. Para
adensa-se, talvez continue a carecer mim chega.
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10 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Ásia

Anuradhapura
A árvore de tantas vidas
SOUSA RIBEIRO
a Chovia, naquela manhã, tudo era de bacias de sedimentares muni-
silêncio à minha volta, nem os ma- das de filtros. Esta forma engenhosa
cacos, correndo sobre a relva, per- também encontrava eco quando se
turbavam um cenário que transpi- tratava de evacuar as águas utili-
rava quietude. Um monge caminha zadas, como prova a existência de
na minha direcção, aborda-me, são fossas sépticas.
breves os minutos de conversa que “Nem uma única gota de água
antecedem um convite para beber deve chegar ao mar sem que antes
um sumo, seguido de um chá, na tenha beneficiado o meu povo”, as-
sua residência modesta, tão des- sim falou o grande Parakramabahu
provida de tudo excepto de singu- I, soberano de Polonnaruwa entre
laridade. 1153 e 1186.
- Gostava de conhecer outros pa- É com esta frase ainda a bailar-
íses, outras culturas, de conviver me no cérebro que chego a outro
com outras pessoas. Como não o dos vértices que compõem o triân-
posso fazer, procuro obter conhe- gulo cultural do Sri Lanka.
cimentos através da leitura e de al- Sob a liderança de Parakrama-
guns documentários que vejo na bahu I, a fi sionomia do reino de
televisão. Polonnaruwa foi alterada de forma
Ihalahalmilleve Rathanapala faz radical, crescendo de uma forma
uma pausa para me perguntar se que não previa o destino trágico
aceito outro chá. que haveria de conhecer: rios fo-
- Mas, ao mesmo tempo, não me ram desviados e barragens constru-
sinto triste. Pelo contrário, sinto- ídas, enquanto o número de canais
me grato por viver numa cidade simplesmente triplicava. Não satis-
como Anuradhapura, com uma feito, o rei mandou erguer edifícios
história tão rica e uma atmosfera sumptuosos, projectou admiráveis
tão tranquila. Como não posso co- parques e jardins e ordenou a cons-
nhecer o mundo, como tanto dese- trução de reservatórios, um deles
java, espero que o mundo me venha com 2500 hectares, uma extensão
conhecer. Para mim, é uma honra tão inusitada para a época que era
recebê-lo e agradeço-lhe o facto de conhecido como Parakrama Samu-
perder algum tempo da sua vida a tiga do mundo, vigiada de forma Anuradhapura, dra, o mar de Parakrama.
conversar comigo. ininterrupta durante mais de 2000 como nenhum A Parakramabahu I sucedeu Nis-
Senti-me pequenino, como al- anos, mesmo nos períodos em que outro lugar sanka Mala, que em menos de dez
guém que começa a encolher, a Índia ocupou o país. em todo o anos (entre 1187 e 1196), numa ten-
aceitei mais um chá e por ali fiquei, Em Anuradhapura, sente-se, país, produz tativa de igualar ou mesmo de su-
mais duas horas, não dando, em após o primeiro impacto, que há uma imersão perar os feitos do seu antecessor,
momento algum, o meu tempo co- ainda muito para fazer, um traba- na história conduziu o reino de Polonnaruwa
mo perdido, pronto a receber lições lho minucioso que exige paciência do Sri Lanka. à bancarrota, deixando caminho
de vida e de humildade de Ihalahal- e delicadeza para descobrir muito Esta cidade, livre para a selva e para os mosqui-
milleve Rathanapala. do que acolheu a capital do reino Património tos, portadores de malária, bem co-
Anuradhapura, como nenhum ao longo de 13 séculos e antes de Mundial da mo, dada a sua frágil situação, para
outro lugar em todo o país, pro- ser abandonada à selva nos 800 Humanidade uma eventual invasão indiana.
duz uma imersão na história do anos que se seguiram. Não fossem desde 1982 Património Mundial da UNESCO
Sri Lanka. Esta cidade, Patrimó- as crónicas de um monge chinês, e berço do desde 1982, tal como Anuradha-
nio Mundial da Humanidade desde Fa-Hsien, que passou dois anos em budismo na pura, Polonnaruwa, a despeito do
1982 e berço do budismo na ilha, Anuradhapura no século V, e muito ilha, acolhe esquecimento a que foi votada du-
requer tempo ao viandante, exige menos saberíamos sobre a vida des- a famosa Sri rante anos, tem ainda resquicíos
algum esforço para perscrutar to- ta cidade real nos seus tempos de Maha Bodhi, a de algumas jóias que ainda hoje
das as suas maravilhas arquitectóni- esplendor. Graças a ele, sabemos, árvore sagrada podem ser contempladas. Entre
cas, mas revela-se tão gratificante, por exemplo, que o mosteiro de com mais do elas, o Palácio Real, uma estrutu-
instalando em todas as almas, bu- Abhayagiri, a norte, abrigava cinco que 2500 anos ra imponente com sete andares
distas ou não, o sentimento de que mil monges, enquanto o de Jetavana (a ser verdade, os últimos quatro
valeu a pena, com memórias gratas acolhia outros três mil. Mas, mes- seriam em madeira) no tempo de
de tantos lugares que demoram o mo sem esse conhecimento, uma Parakramabahu I, a sala de audi-
seu tempo a afastar-se da nossa errância por alguns dos lugares de ências e algumas impressionantes
memória. Entre eles, talvez mais Anuradhapura permite-nos ter uma estupas entre tantos outros vestí-
do que qualquer outro, o Sri Maha visão da dimensão da cidade nesse gios de um período de esplendor
Bodhi, a árvore sagrada com mais tempo remoto — um surpreendente que podem prender o viandante
do que 2500 anos ali plantada gra- sistema de fornecimento de água, durante dias.
ças a um enxerto trazido da Índia muito bem elaborado para a épo- Ao fim de alguns, regresso a
pela princesa Sangamitta (irmã de ca, com vários reservatórios, uma Kandy e volto a apreciar a beleza
Mahinda, que introduziu os ensi- complexa rede de canais e de ca- do lago. De repente avisto o cego
namentos budistas no Sri Lanka) nalizações subterrâneas, algumas e lembro-me do bilhete de lotaria
— é considerada a árvore mais an- delas ainda em perfeito estado, e esquecido.
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 11

SOUSA RIBEIRO

À falta de uma ligação tornar difícil arranjar alojamento Hotel Shalini


aérea entre Lisboa ou o um pouco por todo o lado (na 41/388, Harischandra Mawatha
Porto e Colombo, uma verdade, mais na zona costeira Anuradhapura
viagem para o Sri Lanka implica, do que no interior). Falar do Tel.: 00 94 25 22 22 425
forçosamente, uma escala. São clima no Sri Lanka é, em todo Email: info@hotelshalini.lk
várias as companhias aéreas o caso, um tema complicado www.hotelshalini.lk
que servem a capital do país que tanto pode pôr em causa Preços: a partir das 850 rupias.
mas, atendendo à qualidade do a credibilidade de jornalistas Neste caso, trata-se também
serviço, às horas de escala e à como de meteorologistas. de um hotel mas que se
tarifa proporcionada, duas delas Dependendo dos planos de destaca mais pela comida que
ganham alguma vantagem sobre viagem, pode-se dizer que, uma é servida no restaurante ao ar
a concorrência — a Turkish vez mais teoricamente, entre livre situado no primeiro andar
Airlines (www.turkishairlines. Dezembro e Março é a época (experimente um caril de jaca ou
com) e a Emirates (www. ideal para percorrer a costa algum dos deliciosos pratos que
emirates.com). Com a primeira, ocidental e a parte sul do país, incluem beringela).
que obriga a uma única escala, ao passo que o oriente da ilha,
em Istambul, espere pagar apesar de conhecer elevados Queen’s Hotel
cerca de 800 euros, enquanto a índices de precipitação durante 4, Dalada Veediya
Emirates cobra um pouco mais, estes meses (na prática é Kandy
com uma paragem no Dubai. De melhor entre Abril e Setembro), Tel.: 00 94 81 22 33 026
qualquer forma, nada melhor do oferece muitas horas de sol ao Email: reservations.queens@
que estar atento a promoções longo do dia (o céu pinta-se de kandyhotels.lk
de outras companhias, como azul após um forte aguaceiro). www.queenshotel.lk
a Lufthansa, a KLM e a Air Daqui se depreende que não há, Preço: a partir de 40 euros por
France ou de pesquisar destinos propriamente, uma altura ideal um duplo.
próximos e talvez com preços para visitar o Sri Lanka, onde Um dos hotéis icónicos do Sri
mais económicos, a partir dos o clima tropical não respeita Lanka, situado no coração de
quais a AirAsia liga a Colombo. qualquer regra: numa zona Kandy e antiga residência do
Desde o aeroporto internacional onde, numa determinada época, governador, o Queen’s beneficia
de Bandaranaike, a alguns devia brilhar o sol, a chuva é de óptima localização.
quilómetros da capital do Sri expectável; numa outra, onde
Lanka, pode optar por um táxi a chuva devia cair, o sol brilha Zinc Journey Sigiriya
ou pelo autocarro 187, com com toda a sua força. Ainda Sigiriya Road
destino ao terminal rodoviário assim, é legítimo falar de uma Sigiriya
da cidade (Bastian Mawatha) e, a (ou mais do que uma) época das Tel.: 00 94 66 22 86 299
partir daqui, torna-se fácil (mas chuvas e de um período seco — Email: info.zjsigiriya@zinchotels.
nem sempre cómodo) utilizar o entre Maio e Agosto, a monção lk
mesmo meio de transporte para Yala carrega chuva para a parte www.zinchotels.com
percorrer toda a ilha. sudoeste da ilha, a monção Preço: a partir de 90 euros por
Maha sacode o Norte e o Leste noite.
A melhor altura para entre Outubro e Janeiro e o Sri Quartos confortáveis e limpos,
visitar o Sri Lanka é Lanka acolhe ainda uma outra, excelente localização (a uns
entre os meses de considerada intermédia, nos 700 metros do rochedo) e boa
Dezembro e Março, em teoria os meses de Outubro e Novembro relação qualidade-preço.
mais secos mas também aqueles que, de uma forma ou de outra,
que registam maior afluência mais ou menos intensa, afecta
de turistas, especialmente toda a ilha.
europeus na ânsia de fugirem
aos rigores de Inverno, um Kandy Muslim Hotel
afluxo que adquire ainda maior Dalada Vidiya
dimensão entre o Natal e o Ano Kandy
Novo, época em que se pode Preços: entre 150 e 500 rupias.
Ao contrário do que o nome
sugere, não se trata de um
hotel mas de um dos mais
recomendáveis restaurantes
em Kandy, onde deve provar
chamuças e, entre outros, o
kotthu, um rotti (tipo de pão
indiano) com carne e vegetais.
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 13

Protagonista
FOTOS: ADRIANO MIRANDA
Antigamente, recorda, “os final, deve-se ter um produto
Alexandra Prado Coelho produtores de vinho tinham a sua que, segundo a lei, não pode
adega e ao fundo da adega tinham ultrapassar os dois graus de
a Passamos a Rua do Comércio, um barrilzito com o vinagre, o álcool.
em Sangalhos, Aveiro, para vinho que estava a azedar”. No Por trás de tudo isto, está,
um lado, voltamos a passar na final do ano, “quando passavam da parte de Moura Alves, uma
direcção oposta e só então damos o vinho a limpo, tiravam um, filosofia na forma de olhar o
pela discreta porta da Soanálise, dois ou cinco litros de vinagre vinho e o vinagre e um respeito
o laboratório de análise de vinho para usarem e atestavam o enorme por estes produtos.
do enólogo Rui Moura Alves. resto do barril com os vinhos Há dois anos, depois de
Espreitamos, vemos uma sala da passagem”. Estas práticas conversarmos por telefone para
pequena, com tubos, frascos e foram-se perdendo, em parte outro artigo, enviou-nos um email
outros materiais de laboratório e porque as novas legislações e as com um texto citando “o gesto de
perguntamos à funcionária se é regras da ASAE tornavam muito Cleópatra, a rainha do Egipto, de
ali que podemos encontrar Moura complicado ter o tal barrilzito no dissolver em vinagre preciosas
Alves. fundo da adega com o vinho a pérolas para, de um golo, beber
É ali, sim. Por trás do pequeno azedar. uma fortuna fabulosa” ou a
laboratório esconde-se um Mas Moura Alves continuava a “estulta pretensão de Aníbal, o
mundo difícil de adivinhar pensar no vinagre. “Eu tinha cá
por quem passa na rua. Há um a minha ideia: a cepa dá uva, a
pátio, cães simpáticos, gatos, a uva dá vinho e dá subprodutos,
casa, árvores, uma colecção de bagaceira, aguardente vínica,
garrafas de aguardente vínica abafado, e dá também vinagre.”
( já falamos dela, mais à frente) Tinha a ideia e decidiu passar à
e aquilo que aqui nos trouxe, a prática. Recorda, no entanto, que
vinagreira, onde se faz o melhor foi “muito criticado” por outros
(e um dos poucos) vinagre natural enólogos e produtores de vinho.
de vinho de Portugal, o Vinagre “Diziam que eu, como enólogo,
Moura Alves — vencedor, em 2016 não devia andar a fazer vinagre.”
e 2017, do prémio O Melhor dos A filha, Isabel Alves, que
Melhores no Concurso Nacional trabalha com o pai, dá uma
de Vinagres de Vinho e Outros e, gargalhada: “Mas hoje uma
também em 2017, do Great Taste. garrafa de vinagre vale mais do
Vamos direitos a ela. São várias que muitas garrafas de vinho.”
barricas de carvalho onde o vinho
vai, ao longo dos anos, deixando
Recentemente, um desses amigos
que o tinha criticado, perguntou-
incrível general cartaginês, de
querer abrir fácil passagem às
também já começou a fazer o
seu próprio vinagre seguindo os ?
de ser vinho e transformando- lhe: “Olha lá, como é que tu fazes suas tropas através das rochas ensinamentos de Moura Alves, e
se em vinagre. Rui Moura Alves o vinagre?”. Moura Alves sorriu calcárias dos Alpes, mandando-as ficamos a ouvir as histórias que, Resposta rápida
resume o processo a três factores para dentro e respondeu: “Deixo regar com vinagre”. um dia, hão-de ser um livro, O que devemos saber para
básicos: “Vinho são, muito azedar o vinho.” Desta vez, no final da nossa garante. “Quando o meu livro sair escolher um bom vinagre?
arejamento natural e oscilações Na realidade, é mais complexo visita, Rui Moura Alves dá-nos vou-lhe oferecer um. Ainda não Como a legislação não é nada
de temperatura, elevada no Verão do que isso. “No início fiz outro texto no qual resume está escrito, mas já tenho a capa e exigente, pode-se ter um vinagre
e baixa no Inverno.” experiências com vinhos de algumas das suas ideias a primeira página”, anuncia, não feito apenas com água e ácido
Mas, sobretudo, a arte de fazer várias castas”, conta, “mas principais. Aí conta que uma ligando aos sorrisos da mulher e acético e não é obrigatório
vinagre tem a ver com o tempo. concluí que a casta não tem das mensagens que quis passar da filha. isso vir escrito no rótulo. O
O Vinagre Moura Alves passa influência nenhuma, o que é para a filha Isabel foi esta: “O Antes de nos despedirmos, consumidor só sabe se mandar
dez anos dentro destas barricas importante é a qualidade do vinho é um ser vivo e faz parte da passamos ainda pela sala onde analisar. Por isso, [para distinguir
e a cada ano corresponde a um vinho. Vou juntando os restos alimentação humana. Por isso, o guarda a colecção de garrafas um bom vinagre] só provando o
grau de acidez. “O vinagre é a de vinhos, uma mistura de enólogo deve ter sempre presente de aguardente vínica. “Tenho Moura Alves e comparando.
transformação do álcool em brancos e tintos, e quando tenho a genuinidade de um produto todas as que há em Portugal
ácido acético”, explica o enólogo. quantidade suficiente vai para natural.” Não se preocupa por desde 1972.” Abre um livro e Como é que usa o seu vinagre?
“A maioria dos vinagres que a barrica onde está, no fundo, a lhe terem chamado “teimoso” mostra os registos, escritos à Uma das coisas que ele mais
se fazem hoje são um bocado mãe do vinagre.” ou “fundamentalista” e orgulha- mão. “Tenho 763 garrafas neste realça são as saladas, mas fica
de vinho, água, ácido acético É muito importante esta se de ter “mantido bem vivo um momento e nenhuma é igual muito bem também num arroz
adicionado, filtra-se, cola-se, está mãe do vinagre, a membrana património cultural, vitícola e à outra. É a maior colecção do de cabidela. Há pessoas que até
feito. E é legal.” E quanto tempo gelatinosa e aveludada que se vinícola”. país.” E alguma vez irá beber uma o põem no leitão. Altera sempre
se leva a fazer um vinagre desses? forma inicialmente por cima do Almoçamos leitão oferecido delas? “Não”, garante, convicto. o gosto para melhor.
Sorri, divertido com a pergunta. vinho e que contém as bactérias por um amigo, “o Paulo, do “Isto é intocável”. Tudo bem.
“Meia hora, talvez uma hora.” que vão ajudar no processo. No restaurante Rei dos Leitões”, que Felizmente, o vinagre não é. Para si, vinagre é de vinho?
O resto é outra categoria?
Um vinho tem 10, 11, 12 graus de

Rui Moura Alves


álcool, cada grau transforma-se
num de acidez e isso demora um
ano. Uma maçã tem dois, três
gramas de açúcar, um vinagre
de sidra tem que levar açúcar

O homem que faz o melhor


para fermentar e transformar-se
em ácido acético. Como isso
demora muito tempo, em muitos
casos tem só água, ácido acético

vinagre de Portugal
e uma essência para lhe dar
aroma de maçã.
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14 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Club Med Grand Massif Samoëns Morillon

a Soubéssemos nós esquiar-esquiar


É o mais recente (e não voltar quase ao início em cada

membro do regresso à montanha) e a experiên-


cia teria sido única. Seriam 265 qui-

Club Med — lómetros de pistas (o quarto maior


domínio esquiável de França), ou

versão neve. E seja, 265 possibilidades de aprovei-


tar este canto dos Alpes. Invejamos

a 1600 metros a liberdade de quem a cada manhã e


tarde descobriu novas pistas, novos

de altitude esta cenários que adivinhamos imacula-


dos — tanto mais que algumas pistas

não costuma estão encerradas. É que nem a neve


faltou à chamada para a inaugura-

faltar no resort ção do novo Club Med Grand Massif


Samoëns Morillon em meados de

situado no Dezembro.
Chegamos e já um manto respei-

quarto maior tável cobre tudo; estamos e os flocos


revelam-se despudorados, aparecen-

domínio do durante o dia, ficando durante a


noite; partimos e o manto tornou-

esquiável se um tapete várias vezes fofo. Po-


díamos usar a nossa varanda como

francês, 148 barómetro da queda de neve, com


as suas duas cadeiras e uma mesa

pistas na quadrada baixa: no início da estadia


distinguem-se bem os três volumes

cordilheira do cobertos de neve, ao terceiro dia não


adivinharíamos que a mesa estava ali

Monte Branco. de tal maneira a neve se encaixou


nos espaços em branco — e inventou

No Club Med espaços, acumulando-se em estreito


equilíbrio no parapeito da varanda.

Grand Massif A promessa de neve adensou-se na


viagem desde o aeroporto de Gene-

Samoëns bra, o mais próximo deste canto do


departamento francês da Alta Saboia

Morillon o (na região de Auvérnia-Ródano-Al-


pes). Quando a auto-estrada fica para

esqui é rei, mas trás e as estradas começam a subir e


a enrolar-se nas encostas a neve vai-

tem uma corte se revelando. As florestas de conífe-


ras, as aldeias com igrejas de pedra,

vasta: haja os estábulos nos retalhos verdes, os


chalets de pedra e madeira — come-

energia para çam isolados e acabam em aldea-


mentos, com pubs onde se anuncia

tudo. Andreia vin chaud, vinho quente. Emergimos


no topo, uma clareira quase despida

Marques Pereira de árvores, uma última curva já com


o edifício à vista e a paragem: o ar
está gélido a 1600 metros de altitude
com a cadeia do Monte Branco no
horizonte. Há ainda últimos traba-
lhos a serem feitos no Club Med, que
abrirá ao público quatro dias depois;
por enquanto, são convidados de
todos os cantos do mundo que vão
enchendo o lobby e percorrer-lhe-ão
os longos corredores descobrindo
os seus segredos. É um Club Med de

Ski in, ski out em 2


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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 15

BÉLGICA

LUX.

NELSON GARRIDO

PARIS

SUÍÇA
FRANÇA
OCEANO Samoëns
ATLÂNTICO

ITÁLIA

Mónaco

ESPANHA
Andorra Mar Mediterrâneo

105 km

Córsega
quatro tridentes e está implantado
no Plateau des Saix, suspenso 850
metros sobre a vila de Samoëns e em
pleno Grand Massif. A estrada acaba é entregue quase em regime de ex-
à sua porta — aliás, a estrada só exis- clusividade às montanhas — vamos
te para chegar a este hotel, isolado vê-las desaparecer engolidas em bru-
no topo de uma montanha. As pis- mas, a brilhar ao sol e a vestirem-se
tas começam à sua porta: 148, para mais de branco. Não vemos as pistas
sermos exactos, nos tais 265 quiló- de esqui, mas escutamos o silêncio
metros que servem cinco estâncias das montanhas.
em sistema de ski in/skin out. Sim, À medida que o dia se vai escoan-
soubéssemos nós esquiar-esquiar... do, mais festivo fica o ambiente no
lobby do hotel, ligado directamente
O silêncio das montanhas com o bar-discoteca-teatro e com
portas envidraçadas a abrirem para
O enorme lobby, tectos altos, grandes um terraço com um pé na neve fres-
paredes envidraçadas para a monta- ca que se vai acumulando ao longo
nha, há-de ficar mais buliçoso. Por da estadia — à noite, um jogo de lu-
agora, não são muitos os que espe- zes torna a escuridão uma espécie
ram o ckeck-in, que vem até nós (é o de aurora boreal. Dentro do resort
conceito easy arrival): os funcioná- a decoração é toda em motivos da
rios de iPad na mão, nós de chá quen- montanha, as florestas, os rios, os
te servido ali mesmo, sentamo-nos animais, a neve, claro, que se insinu-
numa ilha de poltronas orelhudas, am de forma discreta, quase concep-
colocamos a pulseira-chave-porta- tual, num design que pisca o olho ao
moedas, recebemos o ski pass, ou- design nórdico, excepto em alguns
vimos as primeiras instruções. Em momentos — por exemplo, na piscina
breve teremos uma visita-guiada e fi- interior, onde renas azuis se exibem.
caremos a saber tudo o que este Club Em breve já estaremos a subir e des-
Med tem para oferecer. No quarto cer elevadores, a percorrer longos
tentamos perceber-lhe o feitio, mas corredores alcatifados num dédalo
estamos limitados pelo andar baixo que combina 423 quartos (e suítes)
que só nos permite ver uma parte e espaços comuns para todos os gos-
deste imenso complexo que parece tos e idades — afinal, o Club Med é
encaixado na paisagem na sua pedra conhecido por proporcionar férias
e madeira tradicionais: distribui-se para toda a família e, na verdade, não
em degraus no terreno e no topo pro- se poupa a esforços. E descobrire-
porciona vistas de 360 graus sobre mos que tudo termina (ou começa)
a paisagem. Do nosso quarto, a vista com as portas que se abrem c

265km nos Alpes


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16 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Club Med Grand Massif Samoëns Morillon

directamente para a neve: sair de es- fadas, com o flambé de chocolate. os pedidos através de iPads — por ve-
quis nos pés é uma das vantagens (e Um andar abaixo, o Cosy Moun- zes, agem como uma espécie de sous
confortos) indiscutíveis deste resort tain é o restaurante buffet, um espaço chefs, ajudando na preparação.
— quem esquia sabe que não tem pre- enorme dividido em áreas temáticas,
ço (ou melhor, tem — e é alto). digamos assim — do colorido da zona E o après-ski?
Já chegaremos a essa sala, a do es- das famílias à surpresa da zona das
qui, cheia de cacifos (cada um cor- cabinas dos teleféricos feitos cabinas O que seria do esqui sem o après-ski?
responde a um quarto, o número é o de refeições. A comida ocupa, claro, Bem, por nós continuaria a existir,
mesmo, a chave, pulseira, também), o centro: de ilha em ilha (de entra- mas com certeza não teria a mesma
de onde se parte para conquistar a das frias a entradas quentes, das sa- piada. Porque mesmo quem, como
neve — ou então se desce a Samoëns, ladas aos quejos e charcutaria), até nós, apenas anda em pequenas pis-
uma vez que a gôndola se situa aqui ao longo balcão onde peixe e carne tas-colinas, a subir e a descer como
fora. Primeiro, subimos ao último se cozinham diante dos nossos olhos, se num carrossel estivesse — ainda
andar, ao restaurante Skyline, pre- passando pelas pizzas e focaccias, as que com escapadelas bem sucedi-
cedido de uma loja (gourmet, de pro- muitas variedades de pão, para ter- das até umas pistas verdes onde a
dutos da região e não só) e wine bar minar apenas diante das sobremesas. neve fofa, em pó, permite deslizar
com piano — aqui ouviremos o cantor E então o andar onde a sala de es- facilmente (e promete um bom acol-
(e actor) francês Patrick Bruel, em qui é o “outro” lobby, mais importan- choado nas quedas que afinal não te-
versão acústica, ele, a guitarra e uma te, atrevemo-nos, com os seus caci- mos) — sente o peso do exercício nos
dúzia de canções de amor e desamor, fos especiais onde o equipamento vidade no Club Med), com saída re- Este é um Club joelhos e ombros e o cansaço geral a
perante uma audiência quase reve- não só se guarda como seca. Antes, servada para aulas (há aulas a partir Med de quatro que o ar da montanha condena quem
rencial. No Skyline, o restaurante a sala de aluguer de equipamento e dos três anos de idade, mediante um tridentes e está o desafia. Enquanto o restaurante-
gourmet cujo menu ficou a cargo do este aluguer é a única coisa que não pagamento extra; as aulas incluídas implantado no pub instalado num chalet exterior
chef Edouard Loubet — duas estrelas está incluída no regime all-inclusive. no preço começam nos quatro anos) Plateau des Saix, a caminho da gôndola e teleféri-
Michelin e conhecimento profundo O privilégio de ter equipamento no- ou para o jardim de neve. Estamos na suspenso 850 cos não abre — apostamos que está
da cozinha da região, ou não fosse de vo à disposição é raro, mas aí estão órbita do Club Med versão jovem, ou metros sobre a pronto para a abertura ao público,
Val Thorens — temos o nosso primei- esquis, botas, batons e pranchas de melhor, versão bebé, mini, criança e vila de Samoëns no dia seguinte à nossa partida —,
ro jantar, “cozinha regional com um snowboard da marca Rossignol re- adolescente — os “clubes”, cada qual e em pleno Grand o café e o chá das várias máquinas
twist”. Começamos com sopa de er- luzentes, ansiosos por se fazerem à com o seu espaço adaptado à faixa Massif instaladas no resort confortam-nos.
vas aromáticas com tartine de queijo pistas. Nos pés (e mãos) de princi- etária. Aqui, em Samoëns Morillon, o O Club Med aqui não é o estere-
dos Alpes e caracóis, segue-se peito piantes ou profissionais com ou sem Club Med apresenta um novo espaço ótipo de praias exóticas de areias
de pato com mirtilos ou filete de ba- a companhia de professores da École para as famílias, o restaurante Bread brancas e palmeiras a que é nor-
calhau, e terminamos em labaredas, du Ski Français. As crianças têm a & Co, onde os filhos são os anfitriões, malmente associado, como lembra-
controladas e intensamente fotogra- sua própria sala de esqui (uma no- convidando os adultos e construindo rá o CEO Henri Giscard d’Estaing, na
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 17

inauguração oficial. Aqui, a praia é a


montanha e o Inverno com os seus Paul, o símbolo da montanha
O São Bernardo de Samoëns
desportos de neve são reis — ainda
que o resort também esteja aberto no
Verão, oferecendo uma série de acti-
vidades (como caminhadas, ciclismo,
rafting, canyoning, escalada). Aliás, é
apenas no Verão que a piscina exte-
rior abre, mais propriamente no final a O movimento em direcção ao te- moëns decompõe-se em meia dúzia fortificações e construíram os canais
de Abril — a informação acaba com os leférico é bastante, uma multidão de ruas, quase todas desembocam de Saint-Quentin para Napoleão),
nossos sonhos de estar na água entre de fatos coloridos e gorros, mas na praça principal, onde a igreja madeira e cores fortes, os cafés,
a neve que ocupa o grande terraço nós optamos pela gôndola, o Grand (século XIII) se apresenta de lado e boulangeries e lojas de material de
onde a piscina se instala com vista Massif Express, para uma visita a a minúscula mairie quase se escon- esqui abundam. Os bares também
desmedida sobre os cumes nevados. Samoëns. São menos de 20 minu- de. Faltam dez dias para o Natal e o são muitos, com esplanadas com
Sobra-nos o jacuzzi (inactivo no Ve- tos em velocidade lenta suspensos minúsculo mercado natalício de pe- balcão fora à espera do après-ski e
rão) fumegante — talvez porque esta- sobre pinheiros nevados, riachos quenas barracas de madeira verme- todos com promessa de vinho quen-
mos em soft-opening são mais aqueles quase congelados em direcção ao lhas está a meio gás — detemo-nos te. Albergues e residenciais também
que tiram fotos do que aqueles que aglomerado de telhados encaixa- nos queijos, uma das especialidades se anunciam, assim como empresas
usfruem do “caldeirão”. Também dos no vale do Giffre e protegidos da região (Reblochon, Tomme, Be- de desportos. Não há que enganar:
não acertamos quando imaginamos a por picos altos. O silêncio aqui em aumont). Num coberto no centro da a montanha aqui é um modo de vi-
piscina interior ligada à exterior — um cima é quase palpável, uns ines- praça, um trio local toca corneta al- da e ela intromete-se sempre que
erro que emerge do nosso próprio perados raios de sol que furam as pina, comprida, grave; ao lado, uma olhamos para cima. Mas é a olhar
desejo e da sua disposição, encosta- nuvens emprestam uma luz cálida cerca de madeira encerra animais de para baixo, na rua principal, que
da ao vidro —, os custos energéticos ao cenário branco e negro (dos pi- quinta sobre palha (cães, galinhas, conhecemos Paul, um São Bernardo
seriam elevados, dizem-nos. Confi- nheiros vistos ao longe) de uma se- burro, ovelhas, patos); numa banca com o tradicional pipo ao pescoço.
nados ao interior, temos, contudo, renidade ampliada pela sensação oferece-se vinho quente. Todos o querem afagar, tirar foto-
amplas vistas para a paisagem, na de isolamento. Nas ruas estreitas de edifícios grafias — é o verdadeiro símbolo de
companhia inesperada de renas (e A estação de Samoëns está a dez baixos em pedra (nesta região de Samoëns. O dono não se importa,
seus troféus expostos na parede) minutos do centro da vila. Há um pedreiras, o trabalho da pedra é parece-nos que tem o orgulho que
azuis, em amplas cabanas-camas, autocarro que faz a ligação, mas não renomado: pedreiros de Samoëns falta a Paul, indiferente ao alarido
que formam recantos nas paredes é imprescindível. O centro de Sa- trabalharam com Vauban nas suas e esquivo nas poses.
deixando os tipis para as crianças se
imaginarem índios em fato de banho. PUBLICIDADE

No spa, onde os tratamentos têm


a assinatura Carita, a atmosfera é
mais tranquila e o manto branco
continua a apresentar-se à nossa
saciedade através de paredes envi-
draçadas, uma vez mais a abrirem
para terraços. As três salas de exer-
cício, todas contíguas e interligadas,
i oferecem desde aparelhos a aulas e
uma está aberta 24 horas com trei-
nos ditados através de programas
Club Med Grand Massif virtuais — sim, pode fazer-se ioga
Samoëns Morillon de madrugada. E, já que falamos
Plateau des Saix em madrugadas, as festas no Club
74340 Samoëns Med não costumam entrar madru-
França gada dentro, mas todas as noites há
www.clubmed.pt animação com DJ ou música ao vivo.
Haja é energia para tanto. O esqui e
Alojamento: 416 quartos e sete o snowboard consomem a atenção da
suites constituem a oferta. As maioria dos que aqui chegam nestes
suites têm dois quartos, casas- dias pré-abertura oficial, mas há tam-
de-banho e salão. Os quartos bém, por exemplo, caminhadas em
podem ser comunicantes (202) raquetas de neve, sempre com guia.
ou quartos-família (59), com Os mesmos que podem acompanhar
três camas. os esquiadores ou snowboarders mais
Preço: A partir de 3459€ por experientes para lhes mostrar todos
pessoa em Fevereiro; a partir os recantos destas quase três cente-
de 1890€ em Março (sem nas de quilómetros de pistas. Cole-
transportes) - pacotes de uma gas nossos, audazes, aventuraram-se
semana com sky pass e aulas, também fora de pista. Nós pusemos
clube de crianças (dos 4 aos 17 os pés nas pistas largas que rasgam
anos), alimentação, bebidas, clareiras entre os pinheiros e ouvi-
entretenimento. mos falar das mais técnicas, mais re-
Aluguer de equipamento: motas (nesta estação a altitude máxi-
Desde 80€ (por semana). ma chega aos 2500 metros, com vales
Como chegar: A maneira mais a condizer...), onde o Monte Branco
fácil é voar até Genebra e daí fecha o horizonte. Sim, soubéssemos
seguir de carro até Samoëns. nós esquiar-esquiar.

A Fugas viajou a convite


do Club Med
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18 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Crianças

Nem só com insufláveis se diverte uma criança


biente que a introduziu à meditação, oposta, as estações de brincadeira ra de dança que fez uma coreografia
Maria Wilton ao ioga e a uma nova forma de estar
na vida: a motivação para investir ne-
são as mais variadas: desde casinhas
de bonecas a cozinhas, puzzles ou
i personalizada para a música preferi-
da da criança,” divulga Rita. “E esta-
a No Dramático de Cascais, ladeada la e nos seus sonhos. “O espaço aca- mesmo o canto do faz-de-conta, com mos a fazer parceria com o ginásio do
por um ginásio, um campo de futebol bou por surgir da necessidade que eu um palco repleto de disfarces. A Ofi- Oficina das Pulgas Dramático para se poderem fazer fes-
e até um restaurante de sushi, surgiu via como mãe de dar asas à imagina- cina Criativa (casa de lápis, pinturas Dramático de Cascais tas na piscina ou no campo de fute-
a primeira “brincoteca” de Portugal, ção das crianças no que toca à brinca- e plasticinas) e o canto da leitura são 2750-762 Cascais bol, caso alguém queira,” acrescenta.
um recanto dedicado à pequenada de deira e também do sonho que tinha.” os espaços com mais liberdade para Tel.: 914 219 452 Workshops para crianças são outra
cada casa, onde o intuito é partilhar, A “brincoteca”, montada em convidados, numa brincoteca onde https://www.facebook. das vertentes do espaço e todos os dias
brincar e aprender sem impor limites. apenas um mês, vem para expor as por norma os adultos não entram. com/Oficina-Das-Pulgas- haverá meditação infantil, num espa-
“Com crianças existem regras pa- crianças a jogos que já não constam “Acho os livros muito importan- Brincoteca ço no andar de cima da brincoteca
ra tudo,” conta Rita Dias, mãe de três no seu léxico diário, tal como um tes e quis trazer para as Pulgas um Destinada a crianças dos três denominado “Oficina das emoções”.
e fundadora do projecto Oficina das iô-iô, e ao conceito de que brincar é pouco das antigas ludotecas,” afirma aos 10 anos “A meditação para crianças não
Pulgas. “Se lhes ensinamos tudo não aprender — o que pode ser feito de Rita. “Ontem tive uma criança que Preços passa por ficar de olhos fechados e
há margem para errar e aprender mais do que uma maneira. “Eu quero pegou num livro e começou a tentar Pacotes de horas: 15€, três quieto, nada disso,” diz Rita. “A me-
com esse erro.” ser um SOS para os pais que têm que mexer como se fosse um tablet! E isso horas; 25€, cinco horas; 45€, ditação passa por fazer jogos e por
Aos 41 anos, a empreendedora ir a algum lado e não têm onde dei- pode ser revertido.” A mascote do nove horas; 70€, 15 horas. partilha entre as crianças, que conse-
adoptou esta filosofia quando deci- xar os filhos,” diz Rita. “O importante espaço é a pulga que, segundo Rita, é Festas de aniversário: aluguer guem nesses momentos exteriorizar
diu deixar tudo para trás e mudar o aqui é as crianças estarem bem num totalmente inspirado nos seus filhos do espaço para 2h30, 150€; as emoções.” Com a concretização
rumo da sua vida. Em Maio de 2017, sítio acolhedor e familiar. Quero que a quem, desde pequenos, assim os há outros pacotes disponíveis, deste sonho, o essencial para Rita
depois de se divorciar, despediu-se pensem que estão em casa.” intitula: Carolina, de 17 anos, Salva- que incluem catering e é mostrar que as crianças podem
de um trabalho seguro no qual se en- O conceito pretende ir para além dor, de 12, e Leonor, de oito. actividades. divertir-se de forma diferente: sem
contrava há dez anos e averiguou o do típico ATL, já que funciona com Aos fins-de semana estão ainda regras mas também sem confusão.
que verdadeiramente queria fazer. uma modalidade de pacotes de ho- previstas festas de anos, algo que a “É muito fácil montar um insuflá-
“Foi preciso parar e pensar que ras — quanto mais horas compradas Rita já fazia em part-time, que serão vel e deixar os miúdos gastar energia.
não era feliz,” conta Rita. “Mas sa- mais barato fica. No centro da opera- disponibilizadas através de pacotes Mas sinto que se pode trazer algo lú-
bia que não ia ficar sentada à espera ção está um espaço com uma sala ao com modalidades flexíveis, que de- dico para as festas e espaços infan-
do meu próximo passo e por isso fui comprido, ladeada por uma parede pendem do que cada criança gosta. tis, um propósito maior”, conclui a
à procura.” forrada a ardósia e um tecto inclina- “Vamos ter, por exemplo, uma festa mãe, orgulhosa. Texto editado por
Essa procura levou-a até Bali, am- do, todo pintado à mão. Na parede de dança criativa com uma professo- Sandra Silva Costa

+
SEBASTIÃO ALMEIDA

Anagrama – Oficina
dos sonhos
Descrito como um laboratório
de arte e cultura, este espaço
pretende dinamizar a zona dos
Olivais onde se insere, através
de actividades para todas as
idades como mindfulness para
crianças, um atelier de carimbos
e apresentações de livros
infantis.
Av. de Berlim, 35 C Lisboa
Tel.: 211 966 088

Girafa Catita
Com uma vertente de parque
de diversões que encantará
qualquer criança, a Girafa Catita,
em Vila Nova de Gaia, encontra-
se repleta de actividades como
o arborismo, a escalada, o
air bungee e a cama elástica.
As especialidades do espaço
são eventos infantis, festas de
aniversário e festas escolares,
tudo com o intuito de “reavivar a
alegria da infância”.
Rua das Lages, 695, Vila Nova
de Gaia
Tel.: 965 403 150/967 893 874
www.girafacatita.pt
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 19

Fugas dos leitores


Os textos, acompanhados preferencialmente por uma foto, devem ser enviados para
fugas@publico.pt. Os relatos devem ter cerca de 2500 caracteres e as dicas de viagem
cerca de 1000. A Fugas reserva-se o direito de seleccionar e eventualmente reduzir os
textos, bem como adaptá-los às suas regras estilísticas. Os melhores textos, publica-
dos nesta página, são premiados com um dos produtos vendidos juntamente com o
PÚBLICO. Mais informações em www.publico.pt/fugas

Kerala, um mundo para


descobrir na Índia
#fugadoviajante
Esta tag diz-lhe alguma coisa? A Fugas (@fugaspublico) está à procura
a Kerala fica no extremo sudoeste das melhores fotos de viagem. Siga a conta e partilhe os melhores
da Índia e em pleno Inverno as instantâneos das suas férias com a #fugadoviajante
temperaturas atingem os 35º
durante o dia e não descem abaixo
dos 20º à noite. Quase todos os
homens usam a sua refrescante
saia - lungi.
Kerala é a capital do mundo
da massagem ayurvédica e é o
local perfeito para se usufruir
de tratamentos propostos
pela medicina ayurvédica
ou simplesmente aproveitar
algumas massagens pontuais.
Eu costumo optar pelo
panchakarma, um tratamento
com base em massagens, saunas
e óleos específicos com ervas
que funciona como um detox. A
viagem por Kerala pode começar
por Cochim, a maior cidade deste
estado e que tem um charme uma embarcação de acordo com ritual feito todos os dias pelos
que encanta a todos que por o budget disponível e passear hindus. Levam as cinzas dos seus
lá passam. Aqui podem ver- pelos deslumbrantes canais. Há parentes para o mar, de forma a
se as típicas redes de pesca de mesmo a opção de dormir nos ajudá-los a obter o seu moksha,
influência chinesa ou a igreja na barcos-hotéis destes enormes ou a libertação dos ciclos de @atumacaco: “A fotografia foi tirada bem aqui ao pé de casa,
qual Vasco da Gama foi enterrado. lagos. Depois destes obrigatórios morte e renascimento. Primeiro, no Forte de São Vicente. Tem de ser assim, porque embora
O túmulo ainda está lá, mas os passeios, pode-se descer até procuram um dos homens santos seja a minha bicicleta mais fotogénica, esta Confersil made
restos mortais foram levados Varkala, uma zona com várias que se encontram na praia e que in Portugal é como um burro num western, custa-lhe a sair da
para Portugal. Aproveitem para praias e o meu lugar preferido faz com eles uma série de pujas cidade. O Forte de São Vicente foi a mais importante edificação
visitar a sinagoga e a rua judaica, a em toda esta zona de Kerala. Este — orações e agradecimentos. das Linhas de Torres, quem sabe a mais inexpugnável arma
fábrica de gengibre e especiarias e é considerado um local sagrado, Também lhes prepara uma contra o imperialismo alguma vez inventada (pelo menos aqui,
o Museu Indo-Português. também conhecido como Varanasi oferenda para que estes possam em Torres Vedras). As linhas que aparecem na fotografia estão
De Cochim, pode-se ir para o do Sul, um local religioso. Há entregar no mar, juntamente assim explicadas.Quanto ao resto, é uma questão de pose. Por um
interior de Kerala e visitar Munnar várias praias que são serpenteadas com as cinzas dos antepassados. lado, a bicicleta é castanha e não fazia o mínimo contraste com a
e os seus campos de chá. Qualquer por uma monumental falésia: Depois, eles próprios mergulham muralha. Por outro, como não tem descanso (no sentido literal), só
pessoa ficará deslumbrada com as pode-se passear junto ao mar, mas no mar, para que lhes sejam a consigo manter imóvel de pernas para o ar.”
vistas e com os gigantes campos também por cima da falésia, onde removidos os pecados. São rituais
plantados por todo o lado. abundam lojas indianas, tibetanas, muito bonitos, que prendem
A partir de Munnar pode nepalesas, centros de massagem profundamente todos os que
chegar-se ao parque nacional de ayurvédica, escolas de ioga, assim assistem.
Periyar Tiger e, com sorte, ver como inúmeros restaurantes, Em qualquer um destes lugares
os tigres que esta reserva possui, hotéis, onde se usufrui de umas indianos, vale a pena não perder
assim como outros animais: vistas magníficas para o Índico. De um espetáculo de kathakali, uma
elefantes, esquilos gigantes, noite, vêem-se dezenas de barcos arte tradicional, oriunda desta
javalis, uma enorme variedade à pesca, iluminando pequenos zona do país. Os actores são
de pássaros, além dos típicos pontos de luz que se reflectem no pintados com maquilhagens muito
macacos. Até lá chegar, há uma mar negro. complexas, permitindo uma
viagem muito sinuosa para vencer, Papanasam é uma das principais enorme expressividade facial,
por isso é necessário ponderar praias de Varkala, onde inúmeros para que depois os movimentos
se se pretende mesmo ir a este hindus se deslocam de manhã que executam tenham grande
parque. Caso não queiram, cedo, por volta das 5h, para fazer impacto.
podem ir directamente para oferendas e para se banharem nas A gastronomia em Kerala, como
Alappuzha, considerada por águas. São consideradas águas em toda a Índia, é simplesmente
muitos a “Veneza do Oriente”, sagradas e os hindus acreditam maravilhosa, principalmente para
conhecida pelas backwaters, que um mergulho nelas os lava quem gosta de comida picante
que são canais com centenas de de todos os pecados. Papam e carregada de especiarias.
quilómetros de águas continentais significa precisamente remoção de Quem não gosta tem sempre a
que se estendem pelo interior pecados, sendo esta a origem do opção de comida internacional
de Kerala, dando origem a lagos, nome da praia, onde existe uma ocidental. Os indianos adaptam-
lagoas e canais. As backwaters são fonte de água pura e cristalina, se a tudo, sem nunca perderem a
famosas pela sua beleza natural que muitos aproveitam para se sua cultura, e em qualquer sítio @ricardornorton: “Sempre ouvi dizer que ir à Islândia sem visitar
e pelas suas paisagens repletas lavarem e também para encher minimamente turístico terão uma a Lagoa Azul era como ir a Roma e não ver o Papa. Com isto em
de coqueiros, muito importantes garrafões. Eu próprio já me banhei pizza ou um hambúrguer para vos mente, procurei conhecer aquele espaço assim que lá cheguei.
para a culinária e a economia e bebi dessas águas. servir. E valeu a pena. Descobri um local perfeito para quem gosta de
do país. Aqui podem escolher Nesta praia há um importante Rui Bizarro relaxar, perder-se nas horas e fotografar.”
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20 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Duas Portas

Respirar
arquitectura
com o Porto
em todas as
direcções
A porta mais estreita esconde
bilhetes simpáticos, fatias de
bolo caseiro, um terraço de betão
e o bom gosto de uma “família
Pritzker” — o vizinho do lado é o
restaurante vegetariano daTerra.
Luís Octávio Costa (texto)
e Joana Gonçalves ( fotos)
a “Caro Luís Octávio, bem-vindo ao guest house. Sempre gostamos muito
Duas Portas. É com um enorme gos- de viajar e de explorar, mas daí até
to que o recebemos em nossa casa. sabermos como gerir um hotel vai
Desejamos-lhe uma óptima estadia.” uma grande distância.”
O bilhete, escrito à mão, letra redon- O Duas Portas, a porta mais estrei-
da, foi deixado no quarto. Acompa- ta das duas, é “uma casa pequenina”,
nham-no flores de chocolate Arcádia “oito quartos”, quatro em cada um
e um clipe triangular dourado preso dos pisos: quatro com vista para um
a um esguio cartão verde com dois terraço de betão e para um jardim
pequenos rectângulos minimais recuado (nora de ferro “plantada” no
que simbolizam as duas portas — a centro) que apanha três lotes, quatro
estreita e a mais larga — deste pro- com janelas viradas para a foz do rio
jecto familiar que nasce da vontade Douro e para a linha do eléctrico, que
de receber em casa. passa mesmo à porta, número 516 da
Luísa Souto Moura faz as honras. Rua das Sobreiras.
“É uma coisa mesmo entre famí- “A Arquitectura tem um peso mui-
lia”, diz. O pai, o arquitecto Eduar- to grande.” Entre estas paredes, a
do Souto de Moura, comprou uma frase soa quase a pleonasmo. O que
casa antiga em Lordelo do Ouro — está aqui é a recuperação de uma ca-
Cantareira, antiga zona portuária do sa de finais do século XVIII que tenta
Porto, bairro de pescadores, a escas- manter o carácter original, muito
sos passos do estaleiro — e a mãe, presente nos materiais (as madeiras
Luísa Penha, foi a arquitecta do es- e o mosaico hidráulico, as molduras
paço, que está a ser explorado pela de portas antigas que apenas mu-
irmã (Francisca Penha, enfermeira), daram de local), nas aberturas para
juntamente com Luísa, também ar- a rua (o caixilho é exactamente o
quitecta de 34 anos, filha mais velha que existia no passado) e até no pi-
do Pritzker. “O meu pai achou que so que foi acrescentado ao edifício
seria um bom investimento. E, de re- (em alvenaria de pedra, cantaria). O
pente, nós aprendemos tudo, todo projecto, uma intervenção moderna
o funcionamento corrente de uma com betão armado, elevador e tudo,
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 21

tiga venda, uma loja que vendia de


tudo (mercearia, drogaria...) e que
hoje aloja o restaurante vegetariano
daTerra Foz do Douro, vizinho com
quem o Duas Portas partilha um ter-
A decoração “vai buscar essa referência muito foi recentemente mencionada numa raço interior e cujo lema continua
mistura portuguesa, mas assume e aceita as edição da revista Casabella com capa a ser “Viver bem é viver da terra”.
mobiliário necessidades e condicionantes do do Porto que reforça “os materiais e A ementa semanal está online e os
nórdico, peças tempo actual (térmicas, acústicas os sistemas de construção tradicio- preços variam entre os 7,50€ (buffet
vintage da e de durabilidade dos materiais)”, nais” numa obra sua na Rua Bela, almoço, das 12h às 15h30) e os 9,90€
Olaio e alguns aponta Luísa. É uma “mistura har- bem como a atenção à “tradição” no (buffet jantar, das 19h às 22h30).
elementos moniosa” sem ser “pitoresca”. “Não projecto Duas Portas. As duas portas ficam na antiga
de autor entramos e achamos que estamos no Para uma família ligada à arqui- zona portuária da cidade, um “sítio
que se ligam século passado. Existe uma simbio- tectura, até à enfermagem e a tudo periférico e privilegiado pela relação
com outros se. Os dois tempos convivem de for- menos à restauração, “está tudo em com o rio e o mar, um eixo de liga-
especialmente ma natural. É nessa natureza, difícil aberto”. Essa é outra parte boa desta ção da Foz com o centro da cidade”,
desenhados de se conseguir, que está o encanto.” aventura. “Não temos formação nem explica Luísa, com sugestões em to-
para o projecto A decoração segue a mesma linha, preconceitos. Mas temos sensibilida- das as direcções. Para a esquerda,
misturando mobiliário nórdico, pe- de e bom senso. Fazemos como gos- de eléctrico, está o rio, a Ribeira, o
ças vintage da Olaio e alguns elemen- taríamos que fosse connosco.” Pala- edifício da Alfândega, o miradouro
tos de autor (mobiliário de Álvaro Si- vra de Luísa, que nas entrelinhas do de Santa Catarina, o arco da Ponte da
za Vieira) que se ligam com outros
especialmente desenhados para o
seu discurso mais técnico tem uma
palavra — “humildade” — e uma linha
i Arrábida (“suba”) e a pizza Tartufo
na Casa D’Oro. Para a direita, um pas-
projecto. “Há uma particular aten- orientadora que serve de manual de seio de bicicleta (o Duas Portas tem
ção aos pormenores, desde as cores instruções para uma guest house em Duas Portas três) até ao Parque da Cidade ou uma
e texturas aos materiais, criando har- início de vida. “Saber ouvir e apren- Rua das Sobreiras, 516 caminhada até aos molhes do Douro,
monia e simplicidade no conjunto”, der, filtrar e ir ao encontro das ne- Tel.: 914 786 518 um jogo de minigolfe no Clube do
lê-se no site do Duas Portas. cessidades.” “É muito gratificante ter Email: info@duasportas.com Passeio Alegre e, ao fim do dia, um
um retorno tão rápido, muito mais http://www.duasportas.com copo de vinho e guacamole no Tra-
Sensibilidade e bom senso imediato do que noutras áreas. Eu Preços: entre 100 e 150 vessa. Para a frente fica o Flor do Gás,
venho de uma área de retorno muito euros/noite a única travessia de barco para Vila
A qualidade da arquitectura “é mui- demorado, altamente esgotante, que Nova de Gaia (mais precisamente pa-
to forte”. “Acho que se sente isso”, é a construção e a arquitectura. Aqui, ra a Afurada), e uma refeição de pei-
assume Luísa Souto Moura, apontan- as pessoas entram, dorme e no dia xe fresco na Taberna de São Pedro.
do para o “trabalho muito peculiar, seguinte dão a sua opinião.” Para trás um passeio até Serralves.
muito laboratorial”, com assinatura A porta do Duas Portas é a estrei- A Fugas esteve alojada a convite do
de Luísa Penha, arquitecta cuja obra ta. A porta mais larga era uma an- Duas Portas
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22 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Tripeiro

Na modernidade
também cabe
a cozinha de
matriz tripeira
que destaca as madeiras nuas,
Crítica bancos múltiplos com almofadas
coloridas encostados às paredes,
luz indirecta e uma área
José Augusto Moreira descontraída de acolhimento
à entrada. Outro elemento
Quase a chegar aos 70, o decorativo que chama a atenção
Tripeiro viu entrar pela é a utilização dos antigos tabiques
porta dentro o ambiente da construção a enquadrar os
pontos de luz nas paredes.
moderno e descontraído Na carta, além das tripas, claro,
que visa atrair novas há o polvo (assado no forno ou
gerações e atitudes em filetes panados), filetes de
pescada, nispo de vitela, pernil
a Casar tradição e modernidade assado ou os panadinhos de
é uma tendência que cruza todas vitela com arroz de tomate que
as dimensões da actualidade, um fazem jus à cozinha de sempre
movimento que não deixa de lado do restaurante. Destaca-se
a restauração. Exemplo disso é também a variedade de entradas
a recuperação do Tripeiro, um ou pequenas doses capazes de
restaurante que ao aproximar-se proporcionar um tipo de refeição
da idade madura (abriu em 1952) mais ligeira e descontraída,
já padecia notoriamente dos que parece ser também um dos
males do tempo. propósitos da remodelação. E
A recuperação do Tripeiro foi um piscar de olho ao turista e à
feita por gente com experiência juventude.
noutros espaços, como Cantina São à volta de vinte as
32, Casa de Pasto da Palmeira, “Entradas”, onde se destacam
Puro 4050 ou o mais recente sopa e peixe, papas de sarrabu-
Mundo, todos em zonas que o lho, amêijoas do Algarve à Bulhão
turismo tem revolucionado e cujos Pato, ervilhas com presunto, es-
conceitos adoptam uma particular cabeche de bacalhau, tripinhas
coreografia, de espírito retro na enfarinhadas ou polvo com mo-
decoração e cozinha multicultural. lho verde. Há também três que
Neste caso há uma evolução: são, digamos assim, colectivas,
queriam antes matar saudades da e juntam três a cinco diferentes
comida caseira e voltar às origens produtos.
da gastronomia da cidade, mas Provaram-se as
dando a volta ao estilo para que “minipataniscas” (4,50€), os
pudesse atrair gente nova a um “peixinhos da horta” (5€) e
restaurante marcado pelo tempo. os “croquetes de alheira com
A par da cozinha de queijo serra” (5€). Muito boas
matriz tripeira salvaram-se as quatro pataniscas, fofas e
as paredes e o Tripeiro tem escorridas, com bacalhau e
agora um ar moderno, rústico cebola a fazerem-se notar na
e descontraído. Talvez até boca, e saborosas; correctos e
demasiado descontraído para óbvios os dois croquetes em bola
garantir o propósito de manter a crocante com queijo no centro; bacalhau especial e cataplana de proporção generosa, tal como o sabor. Muito provavelmente
velha clientela, que não é difícil menos convincentes os peixinhos de mariscos, os dois últimos em os elegantes losangos de milho porque eram igualmente escassas
imaginar a torcer o nariz às mesas de feijão-verde com um polme doses para duas pessoas (34 e frito à moda da Madeira que o as lascas do dito!
nuas, sem mantel ou guardanapos farináceo que acompanhavam 29€, respectivamente). Convocou- acompanharam. Brilhou à mesa Atingem igualmente a dezena
em tecido e com os talheres com cebola caramelizada. se o “bife de atum com milho e ficou, de longe, como a estrela as ofertas de “Carnes”, da alheira
amontoados num tabuleiro. Nos “Peixes” as propostas frito” (16€) e também o “bacalhau da refeição. Quanto ao bacalhau, de caça à posta à Tripeiro, do bife
A tendência de vanguarda chegam à dezena, incluindo filete lascado com grelos e broa” (15€). cumpriu sem desmerecer. Com os à portuguesa ao nispo de vitela
é acentuada pela elegante de robalo, arroz de camarão, Primoroso o naco de atum, grelos em migas e a broa crocante e pernil assado. Convocou-se o
decoração de estilo rústico açorda de gambas, lombo de alto e no ponto óptimo de calor, como cobertura, escasseava “rosbife” (14€), com carne de
Os direitos de propriedade intelectual de todos os conteúdos do Público – Comunicação Social S.A. são pertença do Público.
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 23

FOTOS: NELSON GARRIDO


A recuperação
do Tripeiro
foi feita por
empresários
outras mesas
com experiência
noutros espaços
de restauração
Avenida SushiCafé:
da cidade
enguia, fondue e
lendas japonesas
a A caixa de madeira escura lacada, vai comer é que, usando a colher de
de tampa decorada com delicados madeira que é trazida com o prato,
desenhos, chega à mesa e, com um vá empurrando para o caldo a pasta
gesto rápido, o chef abre-a para des- de miso que vem na borda da terri-
vendar o interior: unaju, a enguia na, juntando mais ou menos quanti-
de água doce (chamada unagi, em dade, conforme a preferência.
japonês), com soja e mirin, sobre E, finalmente, a estrela deste con-
arroz gohan e acompanhada por junto de novas propostas, o sukiyaki
pickles de pepino, (18 €) é um dos (40€ para duas pessoas), prato famo-
novos pratos da carta do Avenida so da gastronomia japonesa, inicial-
SushiCafé, em Lisboa, trabalhados mente preparado à mesa pelo chef,
pelo chef Daniel Rente. A ideia foi, mas depois finalizado pelos clientes,
aos almoços, aumentar a oferta do que colocam no caldo as finas fatias
restaurante, mostrando que a co- de carne, deixando-as cozinhar ao
zinha japonesa tem muito mais pa- gosto de cada um.
ra oferecer do que sushi, sashimi e Este prato vem acompanhado de
tempura. A experiência de Daniel uma história que é uma espécie de
Rente em Osaka, onde trabalhou, e versão japonesa da sopa da pedra.
um longo trabalho de preparação no Diz-se, então, que o sukiyaki terá
Avenida SushiCafé permitem agora nascido da esperteza de um lenha-
apresentar cinco novos pratos. dor que, num dia de Inverno, sem
Para além do unaju, pode-se pro- nada para comer, foi batendo a vá-
var o ebi kakiage (12€), a que o chef rias portas e pedindo ingredientes.
chama “patanisca japonesa” e que Juntou tudo o que lhe deram na sua
consiste em legumes cortados em enxada e cozinhou sobre o fogo.
juliana, camarão e alga, tudo em No Avenida SushiCafé, uma tige-
tempura, apresentado com o aspec- la de ferro fundido é trazida para a
to de um novelo e acompanhado por mesa, onde fica a cozinhar os vários
arroz. E eis que chega à mesa mais ingredientes do sukiyaki, legumes,
qualidade e trabalho culinário o “queijo serra” (6,50€) e o uma caixa lacada, que se abre para carne, massa, cogumelos, poden-
competente, com molho de
sabor intenso de especiaria (noz
i “queijo dos Açores” (5,50€) que
foram servidos se portaram à
um outro prato muito popular no Ja-
pão, o katsudon (13€), porco panado
do, quem o desejar, passá-los por
um ovo cru que vem também para
moscada?) que se sobrepunha altura das exigências da tradição. sobre arroz, com cebolada e ovo. a mesa e por molho goma tare, de
no palato. Batata palha e Tripeiro Mesmo com o representante Para o fim ficam os dois pratos sésamo.
esparregado acompanhantes a Rua Passos Manuel, 195 ilhéu prejudicado pela baixa mais espectaculares. Primeiro, o Os cinco novos pratos estão dispo-
deixar a sensação de produtos 4000-032 Porto temperatura que lhe “prendia” dote nabe (16€), um saboroso caldo níveis apenas ao almoço, de segunda-
pré-cozinhados. O “tomba lobos” Tel.: 222 005 886 textura e sabor. com legumes, mexilhões, cogume- feira a sábado, das 12h30 às 15h30.
(1,50€) é uma competente açorda Cozinha tradicional Numa carta de vinhos que los, tofu. O que é pedido a quem o A.P.C.
de tomate com gordura e carnes Ambiente moderno e percorre o panorama nacional DR
de porco ao estilo alentejano, a descontraído mas com fornecedor exclusivo, o
que acresce ainda uma saborosa Aberto todos os dias (excepto Dão acabou por constituir refúgio
bochecha de porco estufada. domingo ao jantar) seguro e de grande satisfação
Em honra à casa, e já por pura Estacionamento: parques com dois vinhos da Quinta
gulodice, solicitou-se também públicos nas redondezas dos Carvalhais. Por um lado, a
uma pequena dose de “tripas Metro: Bolhão ou Av. Aliados frescura e harmonia do Colheita
à moda do Porto com arroz” — Branco 2016; por outro, a garra e
servem-se todos os dias (10,50€) potencial gastronómico do belo
—, que acabou por não ser bor. Coisa só ao alcance da nossa Alfrocheiro 2015.
reflectida na conta final. Simpatia variedade carolino, o que, como Com serviço diligente e
do serviço, presume-se! ficou evidente, não era o caso. empenhado, o Tripeiro pode até
Bem elaboradas e com todos os Nas sobremesas, a tradição nem precisar de fazer das tripas
ingredientes da receita, mas que está garantida com o pudim coração para equilibrar a herança
com um pouco mais de intensi- abade de Priscos, leite-creme do passado com as exigências
dade de sabor estariam perfei- queimado, mousse de chocolate do presente. E como o equilíbrio
tas. Problema que podia até ser ou os gelados Neveiros (que são é uma arte que se alimenta
atenuado se o arroz branco de também uma tradição da cidade). da competência, parecem
acompanhamento fosse capaz de Também a “tarte de requeijão estar reunidos os principais
absorver o molho e concentrar sa- com doce de abóbora” (4,50€), ingredientes.
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24 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Espumantaria do Petisco

O grupo que tem as a “Arroz e peixe frito”, “açordas que


nunca mais acabavam” — ainda hoje
com a arquitecta Laura Palma, manti-
veram as duas salas, com as mesas de
Ainda há-de vir o tártaro de novilho
e um excelente arroz de garoupa com
Espumantarias e o Peixola Vítor Hugo se lembra dos pratos que
a avó cozinhava para ele na tasca de
tampos de mármore de Estremoz, as
paredes de tijolo burro, as janelas que
camarão, que são servidos com o Da
Casa, o espumante que decidiram ter
ganhou a concessão do Clube bairro onde trabalhava à tarde de-
pois de ter passado a manhã a vender
acompanham a fachada. E juntaram
duas divertidas imagens de Lisboa
como quem tem o vinho da casa e
que é feito pela Quinta do Ferro, em
Ferroviário e promete uma as flores que ia buscar de madrugada
ao Mercado da Ribeira. “Aquilo que
feitas por João Serrano, um dos ilus-
tradores que tinham desafiado para
Baião, região dos Vinhos Verdes, com
a casta Avesso (à venda só nos espa-
programação que vai revelar faço aqui tem muito a ver com essas
memórias de infância”, diz, sentado
trabalhar no espaço do Cais do Sodré
fazendo desenhos para os clientes.
ços do grupo). E, no final, “mous-
se de chocolate com cheirinho”.
novos talentos e um restaurante a uma das mesas da Espumantaria
do Petisco, no número 1 da Calçada
É aqui que entram em cena os pe-
tiscos de Vítor Hugo (que antes este-
Aqui é onde Vítor Hugo faz os seus
petiscos (e se lhe der na cabeça pode
“à imagem” do chef Vítor Hugo. Marquês de Tancos, em Lisboa, a ca-
minho do Castelo de São Jorge.
ve no 100 Maneiras) e as memórias
do que a avó cozinhava. Aliás, des-
ter, por exemplo, mioleira, como já
teve, ou, como tem agora na carta,
Alexandra Prado Coelho À partida, espumante e petiscos
não são duas coisas que associemos
de que a nossa conversa começou
que já chegaram à mesa um prato de
um arroz de lingueirão que nasceu
das memórias de um Verão com dois
imediatamente, mas a ideia de Nu- queijos (que inclui um requeijão feito meses de férias no Algarve, amigos,
no Correia Pereira e dos seus sócios pelo produtor por sugestão de Vítor um barco, e um restaurante onde co-
foi sempre a de tornar o espumante Hugo) e um escabeche de codorniz, miam quase sempre este prato).
uma coisa descontraída. Foi isso que acompanhados por um espumante O grupo continuou a crescer e,
fizeram inicialmente com a Espu- de Pinot Noir da Quinta do Convento. quase ao mesmo tempo que a Espu-
mantaria do Cais, que abriu no Cais Neste momento estamos a lamber mantaria do Petisco, nasceu, na Rua
do Sodré em 2013, inspirada por um os dedos por causa dos peixinhos do Alecrim, o Peixola (sempre com
lugar de que gostavam muito em Bar- na horta, que trazem, além dos pró- Vítor Hugo) — um espaço organizado
celona, onde iam para beber cava, prios, petingas fritas e que — quem em volta de um balcão, com todo o
o espumante catalão. Inicialmente diria? —, se fazem acompanhar pelo tipo de interacção que isso permite,

Espumantes,
chamaram-lhe Champanharia, mas espumante da Quinta das Bágeiras. e especializado em peixe.
rapidamente perceberam que o Agora, conta Nuno, preparam-se
nome ligava-se a uma ideia de luxo para avançar para um projecto ainda
que não tinha nada a ver com o que
pretendiam. i mais ambicioso: tomar conta do Clu-
be Ferroviário, perto de Santa Apoló-

petiscos
Com a Espumantaria do Cais con- nia, em Lisboa, onde, com o arquitec-
solidada e a pôr os lisboetas a beber to Ricardo Seguro Pereira, iniciaram
espumantes nacionais sem comple- Espumantaria obras de reabilitação há sete meses.
xos (uma das estratégias foi criar uma do Petisco “Não podíamos perder a opor-
série de sangrias e cocktails), pensa- Calçada do Marquês tunidade. O terraço tem uma vista

e em breve...
ram em explorar a ligação do espu- de Tancos, 1, Lisboa sobre o rio ultraprivilegiada e uma
mante à comida. E, há dois anos, Tel.: 965 515 200 parte industrial que sempre nos fas-
abriram a Espumantaria do Petisco Email:info@petisco@ cinou, com a linha do comboio aos
neste espaço de esquina, uma antiga espumantaria.pt nossos pés, os contentores ao fundo.

o Ferroviário
carvoaria que, como era habitual na Horário: de Novembro a Março, Queremos pegar nesse ambiente in-
Lisboa do século XIX, tinha ao lado todos os dias das 11h às 23h; de dustrial e criar com o Vítor Hugo um
uma casa de pasto. Abril a Outubro, todos os dias restaurante à imagem dele, com uma
Quiseram, explica Nuno, respeitar das 10h à 1h. experiência diferenciadora.”
esse espírito e por isso, trabalhando Preço médio: 25€ Na parte de baixo, vai haver “uma
FOTOS: FRANCISCO NOGUEIRA
programação forte” que privilegiará
“pessoas que estejam a começar, em
diferentes áreas artísticas, um artista
plástico que quer expor, um miúdo
que tem um trio de jazz bom”, ha-
vendo também espaço para “algu-
mas das referências nessas áreas”.
O restaurante será uma cúpula de
vidro no terraço — “a ideia é que as
pessoas se sintam num barco” — e
em redor haverá também activida-
des culturais, “um ciclo de cinema
italiano, um concerto”.
E quais são os planos de Vítor Hu-
go para a cozinha? Vai haver dois me-
nus de degustação e um equilíbrio
entre pratos “mais consensuais”
e outros em que promete arriscar
um pouco mais. “Vou ter alguma
liberdade para ir testando coisas,
usando os produtos da estação, os
Muitos dos cogumelos, as trufas, as sardinhas,
pratos que Vítor já sei que vou querer mexer nelas,
Hugo serve algumas formas de confeccionar di-
foram buscar ferentes. Mas de resto, coisas sim-
inspiração aos ples, de fácil compreensão, comida
petiscos que a de bistrot, confortável.” É só ficar
avó cozinhava atento: o Ferroviário vai reabrir por-
para ele tas já em Abril/Maio.
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26 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Vinhos

O vinho bom Sete Romanée-


-Conti roubadas
tem que ser velho. Tretas! da garrafeira
do patrão
LARA JACINTO/NFACTOS
guardou garrafas desse vinho ou a Pode não passar de coincidência,
Elogio do vinho do 1988, por exemplo, acertou. Os mas é com banqueiros que habitual-
vinhos continuam inteiros e vibran- mente se cruzam as histórias com os
tes e estão ao nível dos melhores vinhos de preços exorbitantes. A últi-
do mundo. ma apareceu estes dias, com a prisão
Neste caso, correu bem ( e de um mordomo que terá desviado
depende sempre da garrafa), ao ex-patrão à volta de um milhão
mas podia correr mal. Por vezes, de euros em garrafas de vinho, en-
perdemos grandes vinhos e tre as quais sete do mítico Romanée-
grandes momentos porque Conti. O patrão era o co-presidente
Pedro Garcias esperamos de mais por eles. do banco Goldman Sachs, em cujo
A quem não aconteceu já ter apartamento, em Nova Iorque, a
a Há uns 20 anos, quando vivia em guardado uma garrafa com tanto garrafeira acolhia à volta de um mi-
Bragança e dava umas escapadas empenho, a pensar no tal dia lhar de garrafas das mais cobiçadas.
a Zamora para comprar vinhos especial, e chegado esse momento Talvez porque habituados a lidar
espanhóis, entrei pela primeira constatar que o vinho já tinha com milhões, os banqueiros parecem
vez em contacto com um tinto morrido? Teríamos feito melhor se dados a estas coisas dos vinhos milio-
da Rioja que hoje pertence a tivésssemos bebido cedo de mais. nários. Todos se lembram do célebre
à Sogrape: Bodegas LAN. As Vamos então começar a jantar de Londres, no restaurante Pe-
garrafas inspiravam confiança, pelo nome e ano de colheita, tempo certo é ao fim de um ou dois desbastar as nossas garrafeiras e a trus, onde a conta de vinhos rondou
em particular o contra-rótulo. valer fortunas em leilões, ou anos, quando os sabores primários beber apenas vinhos novos? Não os 50 mil euros. Eram apenas cinco,
Foi a primeira vez que vi um alguns vinhos fortificados tipo predominam. Ninguém as pode precisamos de ser tão radicais. mas, pelos vistos, com muito bom
contra-rótulo com um gráfico que Porto e Madeira que conseguem criticar por isso. Nem toda a gente Do mesmo modo que sofremos gosto. Beberam do mais caro e até
estimava a vida útil do vinho e sobreviver a várias gerações, faz tem de gostar de vinhos mais dissabores com muitos vinhos pagaram do próprio bolso, mas mes-
a sua plenitude. Numa curva de pouco sentido guardar vinhos evoluídos. De resto, a maioria dos velhos, também nos acontece mo assim os cinco executivos do Bar-
evolução de 15 anos, o produtor “eternamente”, como se fossem vinhos velhos tem pouco interesse. abrirmos garrafas esquecidas clays Bank acabaram despedidos.
situava o auge do vinho nos 10 relíquias arqueológicas. Claro A idade não garante nada. E, que estão extraordinárias. Pode, No caso de David Solomon, co-
anos, por exemplo. que também podemos ter mais mesmo que garantisse, seria pura por isso, valer a pena esperar um presidente do Goldman Sachs, a gu-
Para mim, era uma informação a perder do que a ganhar se arrogância dizer que quem não tempo razoável por alguns vinhos la esteve do lado do empregado, que
preciosa. Fui comprando algumas bebermos um vinho cedo de mais. gosta de vinhos velhos não percebe (agora mais do que nunca, pois os estava encarregado de cuidar da sua
garrafas, mas, que me lembre, Um grande tinto de Bordéus, nada de vinhos. vinhos nacionais estão a chegar valiosa garrafeira particular. O rou-
nunca esperei pelo seu auge. Não por exemplo: se o bebermos Na semana passada bebi um cada vez mais cedo ao mercado. bo foi detectado já em Novembro de
tinha paciência. Fiz mal? Não sei. muito novo, podemos até gostar, extraordinário tinto Gonçalves A necessidade de liquidez pode 2016, mas só agora tornado público,
Em novos, os tintos da Rioja são mas dificilmente ficaremos Faria Tonel 5 de 1988. Foi feito justificar esta pressa por parte de com a prisão do antigo mordomo, na
um pouco duros de taninos, mas emocionados e diremos que vale por uma lenda da Bairrada, um muitos produtores, mas há outros terça-feira da semana passada, quan-
há 20 anos um leigo como eu o que custa. Os bons vinhos, produtor amante da caça e de uma que, pelo seu poder económico do se preparava para sair dos EUA.
queria era beber vinhos extraídos mesmo aqueles que parecem boa borga com os amigos. Os seus e pelo prestígio que os vinhos Foi o próprio banco a divulgar que
e poderosos, com longos estágios nascer perfeitos, precisam de vinhos são dos mais longevos da já alcançaram, não têm grande a investigação da polícia se iniciou
em barrica. Estávamos em plena tempo para se elevarem a um Bairrada. Ou melhor: são dos que desculpa. Faz algum sentido que depois de ter sido detectada a falta
era Parker. Se tivesse guardado outro nível sensorial, mais preciso duram mais tempo em boa forma. vinhos como o duriense Chryseia, das sete garrafas da casa Romanée-
as garrafas, podia ter desfrutado e refinado. Com o vagar dos anos, Mas Gonçalves Faria, o próprio, por exemplo, comecem a ser Conti. A informação detalhava que
mais do vinho. Mas também podia o vigor frutado da juventude vai- gostava era de vinhos novos, com vendidos logo ao fim do segundo tinham custado 133.650 dólares, mas
ter tido um desgosto, porque os se desvanecendo e dando lugar a três ou quatro anos, no máximo. ano?). Um tempo razoável, nunca sem especificar, no entanto, quais
vinhos nem sempre evoluem como aromas e sabores mais delicados Em novos, os vinhos da casta uma vida inteira. os vinhos ou colheitas. Pelos vis-
nós esperamos. e complexos de evolução. A Baga costumam ser algo ríspidos. Vinte anos depois de ter tos, além de gerir a garrafeira do
O produtor pode estimar o plenitude chegará algures entre Pelos vistos, Gonçalves Faria não descoberto os vinhos das apartamento de Central Park, o
momento óptimo de um vinho, a irrequietude da nascença e a usava só Baga. Quem lidou mais de Bodegas Lan com gráficos no mordomo estava encarregado de
mas desde que a garrafa sai da agonia da velhice. Adivinhá-la, perto com ele garante que também contra-rótulo estimando a sua manter apetrechada de vinhos a
adega é uma bebida, digamos, antes que o vinho se torne numa incorporava outras castas regio- vida útil, estou um pouco mais cave da casa de praia do banquei-
à deriva. O seu percurso passa “imponente ruína”, para citar nais mais macias e alguma Touriga paciente. E gosto mais de ro, em Long Island.
a depender da forma como o Machado de Assis (Memórias Franca do Douro. Gonçalves Faria vinhos velhos do que gostava. A acusação agora formulada
guardamos (para envelhecerem Póstumas de Brás Cubas), é o era amigo de Luís Roseira, da Mas o tempo certo do vinho pelas autoridades indica que
bem, os vinhos precisam grande desafio que se coloca ao Quinta do Infantado, e num ou continuo a defini-lo pela nessas viagens terá estabele-
basicamente de um lugar limpo, enófilo. noutro ano trocariam vinhos entre ocasião. O tal dia especial cido contacto com um comer-
escuro e fresco) e também Definir o tempo certo do eles. Mesmo que isso tenha aconte- pode ser já amanhã, ciante de vinhos da Carolina
da mesma aleatoriedade que vinho requer alguma sabedoria e cido, seria ofensivo insinuar que o se as circunstâncias do Norte, que passou a abas-
acompanha qualquer ser vivo. À paciência, mas depende sempre segredo dos seus vinhos estava na e a companhia o tecer com alguns dos vinhos
partida, só existe uma certeza: do vinho. Em geral, os tintos do Touriga Franca do Douro. Os seus justificarem. Que adianta mais raros e de elevado va-
mesmo o melhor vinho, vai morrer Douro ou do Alentejo são mais tintos, onde imperava a Baga, eram ir guardando vinhos a lor. A polícia concluiu que
um dia. O único destino garantido agradáveis em novos do que os do mais bairradino que se possa esmo se não sabemos os roubos aconteciam já
de um vinho ou é o vinagre ou é, tintos da Bairrada, por exemplo. imaginar. Vinhos de recorte clássi- se vamos estar cá para desde 2014, tendo avaliado
no fim da linha, a água, quando Estes precisam de mais tempo co, com garra tânica e grande aci- os beber? Ficam para em mais de 1,2 milhões de
toda a matéria se precipitar. para mostrarem o que valem. E dez. Os melhores, como o famoso os filhos, os netos, os dólares o valor das garrafas
Sabendo isso, e tirando depende também do gosto de Tonel 5 de 1990, são hoje hoje ver- genros, as noras... Sim, desviadas da valiosa cave do
aquelas raridades que podem, cada um. Há pessoas para quem o dadeiros ícones da Bairrada. Quem sim. Chamem-me egoísta. banqueiro. J.A.M.
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 27

Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os
seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas - Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, Bloco A, 3.º 4050-318 Porto

55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100

92 Toda a 90 87

Pietro Dal Cero Amarone


riqueza de Alvarinho Deu La Deu
Terraços 2016
Manhufe Grande
Escolha 2016
della Valpolicella 2011
Cà dei Frati
um clássico Adega Cooperativa de Monção
Graduação: 13% vol
dos Santos, Vila Meã, Amarante
Graduação: 12% vol
Castas: Corvina, Corvinone,
Rondinella e Croatina italiano Região: Vinhos Verdes, Monção
e Melgaço
Região: Vinhos Verdes
Preço: 4,99€
Graduação: 16% vol Preço: 28,90€
Região: Vêneto, Itália
Preço: 80€ em Portugal, o vinho a A região do Veneto, que tem Ve- Um belíssimo Alvarinho, Um novo produtor de Vinhos
é vendido pela Fine Taste (www. rona como capital, é a grande “fábri- uma boa expressão da zona Verdes com uma estreia
finetaste.pt). ca” de vinho de Itália. É lá que são indiscutivelmente mais promissora. Um branco da sub-
feitos alguns dos mais conhecidos recomendada para a produção -região de Amarante denso, com
e vendidos vinhos italianos, como de vinhos com esta casta. Aroma um belo aroma, uma harmonia
os espumantes Prosecco ou os tin- fino, voluptuoso e envolvente, bem conseguida e um final
tos Valpolicella e Amarone. Estes com um belo equilíbrio entre longo, fresco e mineral. Criação
dois últimos partilham a mesma a fruta, o corpo e uma acidez do enólogo António Sousa, este
área geográfica e as mesmas castas mineral, final seco e longo. Verde conserva os melhores
tintas. Mas enquanto o primeiro é Intenso sem ser excessivo, pergaminhos da região. Versátil,
um vinho leve, com pouco álcool, delicado sem deixar de mostrar bom para acompanhar carnes
o segundo é um vinho poderoso e garra e profundidade. A casta brancas, peixes ou mariscos,
concentrado, podendo atingir os trabalhada de forma a revelar mas também para se beber em
17% de álcool. uma vocação mais seca e momentos conviviais. Daqueles
As tendências actuais privilegiam directa, em detrimento de vinhos que não cansam. Preço
vinhos com menos álcool, mas os versões onde a exuberância da muito recomendável. M.C.
Proposta Amarone são um daqueles vinhos fruta se sobrepõe. Gastronómico
da semana que resistem a todas as modas. Por e com bom potencial de guarda.
alguma razão são um dos grandes Muito bom. M.C.
clássicos de Itália. Os melhores po-
dem custar 500 euros ou mais e,
mesmo assim, vendem-se mais de
quatro milhões de garrafas por ano.
O que explica o seu alto preço e fa-
ma é a forma como o vinho é feito. 89 93
As uvas são colhidas e deixadas a
desidratar em esteiras durante qua-
tro a cinco meses, método conhe- Quinta do Cardo Síria Permitido Branco
cido por “apassimento”. Durante 2016 de Centenária 2016
este tempo, vão perdendo água e Companhia das Quintas Márcio Lívio Lopes
concentrando açúcares, acidez e Figueira de Castelo Rodrigo Matosinhos
outros compostos. Só depois é que Castas: Síria Castas: Várias
as uvas são fermentadas. Os Amaro- Região: Beira Interior Graduação: 13% vol
ne clássicos estagiam em seguida 25 Graduação: 13% vol Região: Douro
meses em tonéis. Preço: 8,45€ Preço: 25€
Nascem mais ou menos como co-
lheitas tardias, mas são vinhos secos. A qualidade das anteriores Como o nome indica, este
No entanto, quando os cheiramos e colheitas repete-se neste 2016. branco tem origem numa vinha
bebemos são notórias algumas notas É um branco de altitude, com centenária, situada a cerca
licoradas. Isso é evidente neste Ama- boa textura e amplitude. Está de 800 metros de altitude, na
rone da casa Cà dei Frati. O primeiro muito bem afinado. Não é sub-região do Douro Superior.
impacto ao nariz assusta. Mas de- exuberante de aroma, mas na Fermentou de forma espontânea
pois o vinho parece transformar-se. boca é delicioso, associando em barricas usadas de 700
Sugere ser mais leve do que é, sem um bom corpo a uma excelente litros, estagiando depois sobre
deixar de exibir toda a sua riqueza. acidez. P.G. as finas durante 10 meses.
A fruta vermelha bem madura e al- O vinho está magnífico,
gum fruto seco, associados a notas mostrando já uma complexidade
especiadas e balsâmicas, funcionam assinalável, apesar da sua
como ímanes com a comida, crian- juventude. A riqueza das vinhas
do uma harmonia notável e surpre- velhas expressa-se aqui de
endente. Não é vinho para se beber forma notável, combinando
uma garrafa de rajada. É mais para aromas frutados com notas de
se ir apreciando em pequenos goles, natureza mais mineral e uma
calmamente, para termos tempo de frescura exaltante. P.G.
repensar todos os nossos preconcei-
tos. Pedro Garcias
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28 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Carro do Ano

Os crossovers
e os SUV da
concórdia

São 11 os candidatos a Crossover/


SUV do Ano, numa clara
manifestação de concórdia pelas
apetências actuais do mercado.
Entre mini e compactos, há seis.
Carla B. Ribeiro
a Se há classe concorrida para o Es- Citroën C3 Aircross mente disponível logo a partir das
silor Carro do Ano/Troféu Volante 1500 rpm e constante até às 4000,
1.2 PureTech EAT6 (110 cv)
de Cristal é a dos Crossovers/SUV. tornando a condução extremamente
Nesta categoria cabem 11 propos- Entre as imagens nestas páginas, viva desde o arranque. No equipa-
tas que atravessam três segmen- é provavelmente o que se destaca mento, destaque para a inclusão de
tos: dos mini SUV (Citroën C3 Air- mais pela diferença — para o bem e série de assistente de manutenção de
cross, Hyundai Kauai, Kia Stonic, para o mal... O C3 Aircross, que par- faixa de rodagem, alerta de fadiga do
Opel Crossland X e Seat Arona), tilha plataforma com Peugeot 2008 condutor, sensores traseiros e câma-
dos compactos (Volkswagen T-Roc) e Opel Crossland X, mostra-se por ra de apoio ao estacionamento.
e dos de tamanho médio — sobre os fora cheio de detalhes que remetem
quais falaremos na próxima semana. para a robustez de que um SUV care- Kia Stonic
Curiosidade: há ainda um 12.º SUV ce: protecções avantajadas, rodas de
1.0 T-GDi (120 cv)
a concurso, mas na classe dos Eco- grandes dimensões, alargados guar-
lógicos (Kia Niro PHEV). da-lamas. Já por dentro destaca-se Em termos de motor, estamos
Mas basta um olhar atento ao mer- um bom aproveitamento de espaço, conversados. Afinal, trata-se exac-
cado para não estranhar esta corri- com os bancos traseiros deslizantes tamente do mesmo bloco que ser-
da por um nicho que até há pouco e reclináveis, a luminosidade e um ve o Kauai a concurso da parceira
tempo era marginal: é folhear uma elevado nível de conforto, com pon- Hyundai Kauai de um crossover (proeminentes saias Hyundai. Apenas uma ressalva que
qualquer revista da especialidade e tos positivos para os bancos tipo so- laterais e cavas das rodas bem vin- serve para ambos: se se quiser tirar
1.0 TGDi (120 cv)
verificar a quantidade de modelos fá. No seu coração bate um gasolina cadas), ao mesmo tempo que joga partido do seu lado mais traquina,
novos de características “suvianas”. 1.2 PureTech de 110 cv que, acoplado Se o C3 Aircross se destaca pelas su- com traços de coupé, na forma co- a média de consumo anunciada não
O culpado é o Nissan Qasqhai, que a uma caixa automática de seis re- as linhas, a proposta da sul-coreana mo deixa “cair” o tejadilho para a será possível de cumprir. Por fora,
se mantém na liderança, mesmo de- lações, admite uma boa dose de di- Hyundai também se pretende desta- traseira. Por dentro, bons materiais o Stonic reúne linhas desportivas a
pois de dez anos no mercado. Ainda vertimento. O nível de equipamento car mas por outros motivos: como a a exibirem montagem cuidada, com detalhes que imprimem robustez,
assim, vão despontando novidades a concurso, Shine, é recheado, com possibilidade de ser encomendado alguns toques de irreverência, como ainda que, ao contrário do Kauai,
de encher olho, falando-nos com su- arranque mãos livres, climatização com tracção integral. Não é, porém, no caso dos elementos decorativos não admita quatro rodas motrizes.
avidade à carteira: entre os mini e os automática, câmara de visão trasei- o caso do veículo a concurso — afinal de cores vivas, mas sem abusos. A E, não sendo design de despertar
compactos apresentados a concur- ra, Bluetooth, entrada USB, ecrã tátil de contas, os 4x2 nestes pequenos motorização turbo a gasolina de 1.0 paixões, também não há nada que
so, os preços andam entre os 19.500 de 7” com função Mirror Screen e SUV ganham na procura. Em termos litro e três cilindros debita 120 cv, desagrade. Ao ponto de nos irmos
e os 23.600 euros. seis altifalantes. de design, assume as características com um binário de 172 Nm, total- deixando enamorar. Nos interiores,
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 29

FOTOS: DR

i
Para a semana,
continuamos na
mesma categoria
a concurso
com os SUV
de tamanho
médio: Audi Q5
2.0 TDI S Tronic
quattro (190 cv);
Mazda CX-5 2.2
SKYACTIV-D
2WD MT (150 cv);
Peugeot 5008 1.6
BlueHDi (120 cv);
Škoda Kodiaq 2.0
TDI DSG (150 cv);
Volvo XC60 D4
(190 cv)

sobressai a opção por materiais agra- tivo de conseguir um compromisso tintos. Para começar, o primeiro é
dáveis ao toque, sendo de referir o entre parâmetros que por vezes são segmento B (4138mm de compri-
facto de ter conseguido boa posição antagónicos, como dinamismo e con- mento) e o segundo C (4234mm).
de condução. Com equipamento TX, forto ou acessibilidade e qualidade. Depois, têm por base diferentes
o Stonic oferece-se muito completo, Mas, acima de tudo, em “mar” tão plataformas, com o T-Roc a recor-
inclusive em tecnologias de seguran- apinhado, quer assumir-se como rer à MQB, a mesma base do Golf.
ça: prevenção de colisão frontal com objecto de desejo, não desprezan- No entanto, chega mais barato que
reconhecimento de peões, detecção do as características que lhe valem o familiar compacto, feito consegui-
do ângulo morto com alerta de peri- um bom dinamismo, mesmo em do sobretudo na poupança com os
go de colisão à retaguarda e aviso de estradas sinuosas, onde se vale do materiais que, ainda assim, man-
saída da faixa de rodagem. facto de o diferencial autoblocante têm premissas de boa qualidade e
XDS ser montado de série. Entre o montagem cuidada. Até porque, no
Opel Crossland X equipamento FR, duas afinações campo tecnológico, o T-Roc esbanja
de suspensão (normal e desportiva) equipamento: entre os opcionais,
1.2 Turbo (130 cv)
com quatro modos de condução — painel de instrumentação digital,
Tem entre a sua identidade o facto Normal, Sport, Eco e Individual —, com o Active Info Display de últi-
de ter sido o primeiro produto a ser travões de disco montados atrás, jan- ma geração, múltiplos sistemas de
lançado após a aliança entre a Opel pretende estar cada vez mais co- os bancos certificados pela agência tes de 18’’, grelha específica e bancos assistência à condução, serviços
e o Grupo PSA e assumiu desde logo nectado, dispondo de OnStar com de especialistas em ergonomia AGR. desportivos. No conforto, destaque Security & Service, com chama-
o papel de, em Portugal, conquistar hotspot Wi-Fi, e ter o seu dia-a-dia A motorização a concurso, 1.2 Turbo para a inclusão de sistema de entrada da de emergência e possibilidade
uma fatia que foi recusada ao Mokka facilitado. Para tal, o equipamento, de 130 cv e binário máximo de 230 e arranque sem chave, câmara trasei- de usar diversos serviços online
X (sucesso de vendas no resto da Eu- Innovation, inclui Head Up Display, Nm às 1750 rpm, é a mais potente da ra, ecrã tátil de 8”, carregador sem através do Guide & Inform. Já sob
ropa) pelo facto de este ser classe 2 câmara traseira, estacionamento au- gama e revela-se despachada. fios e sistema de som Beats. o capot, a Volkswagen submeteu a
nas portagens. O Crossland X é um tomático avançado, alerta de colisão versão de entrada: motor de 1.0 li-
crossover de fio a pavio, ainda que dianteira com travagem automática Seat Arona Volkswagen T-Roc tro a gasolina, com três cilindros,
a sua imagem seja facilmente con- de emergência e detecção de peões, a debitar 115 cv e com um binário
1.0 TSI (115 cv) 1.0 TSI (115 cv)
fundida com a de um SUV, dadas as alerta de fadiga do condutor, manu- máximo de 200 Nm entre as 2000
proporções musculadas. Mas o seu tenção de faixa, reconhecimento de Assente na mesma plataforma MQB Sendo do mesmo grupo, há quem e as 3000 rpm. Acelera dos 0 aos
habitat natural é a cidade, piscan- sinais de trânsito e alerta de ângulo A0 estreada pelo Ibiza, o pequeno baralhe o Arona com o T-Roc. Mas 100 km/h em 10,1 segundos e atinge
do ainda o olho a um público que cego. No habitáculo, destaque para Arona apresentou-se com o objec- são dois carros completamente dis- os 187 km/h.
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30 | FUGAS | Sábado, 27 de Janeiro de 2018

Espaço Paz

+
FOTOS: JOANA GONÇALVES

O requinte da decoração, que


soube transformar um open
space potencialmente frio
numa casa com vários espaços
diferentes, todos com identidade
muito própria e convidativa


O nome do espaço, árido e
desmotivador para quem
ainda não tiver referências
sobre o seu requinte e
carácter intimista

em que Ana geria a sua escola de


dança se tornou demasiado peque-
no para as exigências do ensino es-
pecializado e a academia se mudou
para o centro artístico-industrial Oli-
va Creative Factory. Reconhecen-
do ao edifício anterior uma arqui-
tectura especial e um simbolismo
próprio, a bailarina quis mantê-lo
na sua posse e começou por trans-
formar-lhe o piso inferior numa clí-
nica de bem-estar, onde hoje estão
disponíveis serviços como aconse-
lhamento parental, terapia da fala,
acupunctura, massagem ayurvédica
ou reiki. “Mas como somos ambos
artistas — e ambos sonhadores —
estivemos muito tempo a adaptar
tudo”, conta Ana. “Foi assim que
decidimos usar o piso de entrada
como salão de chá, decorando tudo
com base num conceito de psico-
logia assente na ideia de que cada
de estar distintas, que dispensaram pessoa encerra em si muitas pessoas

O carisma Alexandra Couto


a Ao passear pela rua, talvez se re-
o simplismo de paredes e as subs-
tituíram por adereços como estan-
tes de livros, biombos de madeira
diferentes, consoante o momento e
o contexto.”
O Espaço Paz ajusta-se assim a

das fadas
pare que aquele edifício tem umas branca suspensos do ar ou baloiços várias personalidades, mas adopta
linhas engraçadas, mas dificilmen- seguros por corda entrançada com alguns princípios que são transver-
te se perceberá que o seu interior flores de tecido. sais às suas várias facetas: pretende
acolhe um salão de chá. O nome do Os detalhes cuidados abundam e inspirar tranquilidade porque “há

à hora do chá estabelecimento também não ajuda:


chama-se Espaço Paz e, embora a
referência a tranquilidade se venha
a revelar ajustada, à primeira audi-
fazem a diferença: mesas restauradas
com rendas antigas prensadas sob o
tampo de vidro, sofás de couro cas-
tanho em torno de uma salamandra,
que viver um dia de cada vez, uma
hora de cada vez”; aposta em ali-
mentação “saudável, mas com sa-
bor”, pelo que a carta da casa inclui
ção remete apenas para algo como tabuleiros de xadrez e jogos como o propostas vegetarianas, bolos sem
uma loja de artigos zen sem grandes Monopólio, uma cadeira de baloiço glúten e infusões biológicas; incen-
pretensões de singularidade. Mas rodeada por brinquedos, um piano e tiva hábitos de vida positivos, pelo
ignore-se a insipidez da designação várias guitarras que podem dedilhar- que tem à venda mercearia e cosmé-
i oficial, esqueça-se a fachada tornada
inconspícua pela ausência de espla-
se, janelas generosas com reposteiros
espessos e rendados, uma oliveira
tica biológicas; e incentiva o enri-
quecimento pessoal com iniciativas
nadas ou grandes néons, avance-se ilusoriamente seca em que despon- pontuais como tertúlias poéticas,
Espaço Paz com segurança através da porta mo- tam algumas folhas verdes e muitas palestras de astrologia e workshops
Rua D. Afonso Henriques, desta e, poucos passos depois, tudo de papel branco com mensagens mo- de cozinha vegetariana.
São João da Madeira estará explicado. tivacionais. Os autores da fantasia? “Restaurámos e adaptámos quase
Tel.: 915 257 979 Como acontecia à Alice após ro- O músico canadiano Andrew Hum- todos os móveis porque não quería-
Horário: Segunda-feira das 12h às dar a chave numa fechadura, tam- phrey e a bailarina portuguesa Ana mos aqui nada que fosse estéril, sem
19h30, terça a sábado das 8h30 às bém aqui há a surpresa de um mun- Luísa Mendonça, que se conheceram história, sem emoção, e o resto tam-
19h30 e domingo das 10h às 19h. do paralelo: todo o piso superior do em Londres há muitos anos, que por bém é sempre pensado para propor-
Preços: café a 0,65€, torrada em pão edifício é um amplo espaço de pé di- amor se instalaram em São João da cionar um momento feliz a quem
de noz a 1,60€, bolo sem glúten a 2€, reito imponente e, sobre o soalho de Madeira e que por paixão se lança- nos visitar”, diz Andrew. “A ideia é
batidos a 2,80€, cerveja artesanal madeira que ainda há poucos anos ram agora neste projecto paralelo às viver aqui um fairy tale”, completa
a 4€ e prato do dia a 5€. Aceita acolhia aulas de ballet com 50 baila- suas carreiras principais. Ana. “Fazer sentir que estamos mes-
reservas para jantares privados. rinas, distribuem-se hoje seis áreas Tudo começou quando o espaço mo num conto de fadas.”
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Sábado, 27 de Janeiro de 2018 | FUGAS | 31

O gato das botas

Como achar a ilha da boa ginjinha


no mar imenso de ginjinhas más

num copinho de chocolate. O açúcar. Se dizem que ganha em garrafa de meio litro custa à volta doces. Os melhores licores
chocolate só serve para disfarçar beber-se duma só vez, em shot, de 20 euros. de ginja estrangeiros, como a
os defeitos da ginjinha. Se uma é porque desaconselham que se Cada vez que compro uma dinamarquesa Cherry Heering e
ginjinha for boa, é um crime não saboreie. garrafinha tenho medo que tenha a francesa Cherry Marnier, são
bebê-la num cálice próprio. É No entanto, vale a pena provar mudado — mas nunca muda. A deliciosos mas são o resultado de
como um bom vinho do Porto, estas ginjinhas sem nada, à ginjinha M.S.R é feita a partir manipulações inteligentes, como
Madeira ou Moscatel. O chocolate temperatura ambiente, para se de uma variedade de ginjas de a adição de canelas e outras ervas,
até acompanha bem mas come-se perceber que sabem muito pouco Alcobaça que é única no mundo. A para além de estágios de três anos
Miguel Esteves Cardoso à parte. a ginja e muito mais a açúcar, ginja tem duas folhas no pé e tem em madeiras velhas.
Até o chocolate é de pouca canela e outros condimentos duas características: uma acidez A meu ver, só a ginjinha M.S.R.
a Portugal é o país das ginjinhas. qualidade. É bom que Óbidos baratos. elevadíssima e, ao mesmo tempo, tem a delicadeza e a frescura
Há uma vasta variedade de se promova e não vem mal A melhor ginjinha portuguesa um teor de açúcar muito alto. bastantes para reflectir a delícia
ginjinhas e é divertido classificá- nenhum ao mundo de apresentar é também o melhor licor de Isto faz com que precise de da própria ginja. É a ginjinha para
las. Há as ginjinhas caseiras, as a ginjinha com chocolate como ginja do mundo inteiro, por menos açúcar na elaboração do quem gosta de ginja.
ginjinhas industriais, as ginjinhas a velha tradição que nunca foi. ser, precisamente, o mais puro, licor. O resultado é um licor muito Ora, há muita gente que não
lisboetas, as ginjinhas de Óbidos e Mas é preciso defender a ginjinha feito apenas de cinco elementos leve, límpido e deliciosamente gosta de comer ginjas, achando-as
as ginjinhas de Alcobaça. propriamente dita dos resultados (ginjas de Alcobaça, álcool, acidulado. Bebe-se devagar, amargas, agressivas e, no fundo,
As caseiras são feitas com de um marketing ambicioso e água e estágio em madeira) sem deixando a língua acordar deficientes em doçura. Essas
aguardente, ginjas, açúcar eficaz. quaisquer outras adições: é a com a limpeza do fruto onde pessoas, mais fãs das cerejas mais
e canela. As industriais Quando a ginjinha é ginjinha de Alcobaça M.S.R. Já a adstringência faz parte da docinhas, acharão mais graça às
reconhecem-se por terem uma apresentada cheia de gimmicks, o foi muito mais cara do que é hoje personalidade. ginjinhas de Óbidos.
cor linda e um preço baixo. A cor melhor a fazer é fugir. Se pedem mas a qualidade não só se tem Ao pé da ginjinha M.S.R. Há ginjinhas para todos os
é linda porque é corante artificial para servir muito fresca é mau mantido como tem melhorado de mesmo as boas ginjinhas de gostos mas é sempre preciso
e o preço é baixo porque não sinal: é para não se notar os ano para ano, graças ao zelo e à Óbidos parecem xaroposas, lembrar que a grande maioria não
contém ginjas — só açúcares, maus sabores, como o excesso de sabedoria dos produtores. Uma pesadas e excessivamente presta para nada.
ácidos e aromas artificiais. OXANA IANIN
As ginjinhas industriais
não prestam para nada e são
prejudiciais porque dão má fama
à ginjinha portuguesa. Dói-me
ver turistas estrangeiros a fazer
caretas quando provam essas
pseudoginjinhas porque sei que
nunca mais provarão outra.
Concluem logo que não gostam de
ginjinha e ficam assim impedidos
de conhecer as boas ginjinhaas
que produzimos.
As ginjinhas de Lisboa, em boa
hora inventadas por galegos, são
deliciosas e divertidas. Não se
podem comparar com as ginjinhas
finas, mas têm um sabor rústico
e imediato, ideal para beber em
shot. As melhores, quanto a mim,
são a Sem Rival e a Espinheira.
Embora saibam melhor ali no
Rossio, as versões engarrafadas
(sobretudo com elas, em garrafas
de litro) são agradáveis a um
preço justo. Prefiro-as mil vezes às
ginjinhas industriais.
Com as ginjinhas de Óbidos
é preciso muito cuidado. Só há
duas ou três marcas de confiança
(a Rainha Santa é uma delas) mas
há muita aldrabice. Mesmo nas
marcas boas há inconsistências de
engarrafamentos.
É preciso desconfiar quando nos
convidam a beber uma ginjinha
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