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Sri Lanka
A vida de Buda cabe
dentro de um triângulo
Club Med Samoëns Protagonista
265 quilómetros de neve Rui Moura Alves,
FUGAS | Público N.º 10.143 | Sábado 27 Janeiro 2018 para esquiar nos Alpes o senhor vinagre
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Semana de lazer
Mais sugestões em lazer.publico.pt
Cartazes de Sonho
Ficou conhecido como o primeiro
grande publicitário português. Fundou
GUIMARÃES a ETP - Empreza Técnica de Publicidade
Pavilhão Multiusos e com ela introduziu moldes e conceitos
Até 13 de Fevereiro. Quinta, das 15h às inovadores, como os outdoors e cartazes
20h; sexta, das 15h às 24h; sábado (e de grande formato. O currículo de Raul
segunda, 12 de Fevereiro), das 10h às de Caldevilla (1877-1951) é marcado por
24h; domingo (e terça de Carnaval), das versatilidade, criatividade, tom humorístico
PAULO RICCA 10h às 20h. e postura progressiva, própria de quem
Entrada livre. Preço especial de 1€ por via no trabalho mais do que a sua função
divertimento à quinta-feira informativa. É para o mostrar que estão
reunidos cem cartazes e posters da sua
autoria, criados para cinema e publicidade,
numa exposição promovida pela Academia
Portuguesa de Cinema, em parceria com
o Museu da Publicidade, a Cinemateca
Portuguesa e a Sociedade Nacional de
Belas Artes. A curadoria é de Theresa
Lobo e Paulo Trancoso. Paralelamente,
a Cinemateca dedica um ciclo de filmes
a Caldevilla, que assinou também como
realizador, produtor, distribuidor e
guionista.
LISBOA
Sociedade Nacional de Belas Artes
Até 12 de Fevereiro. Segunda a sexta,
das 12h às 19h; sábado, das 14h às 20h.
Grátis
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FUGAS N.º 920 Foto de capa: JTB Photo/Getty Images FICHA TÉCNICA Direcção David Dinis Edição Sandra Silva
Costa Edição fotográfica Nelson Garrido Directora de Arte Sónia Matos Designers Daniela Graça, Joana Lima
e José Soares Infografia Cátia Mendonça, Célia Rodrigues, Joaquim Guerreiro, José Alves e Francisco Lopes
Secretariado Lucinda Vasconcelos Fugas Rua Júlio Dinis, n.º270, Bloco A 3.º, 4050-318 Porto.
Tel.: 226151000. E-mail: fugas@publico.pt. fugas.publico.pt
Ásia
Sri Lanka
Quantos
lados tem
um triângulo
cultural? Anuradhapura
SOUSA RIBEIRO
Ásia
Despeço-me de Raslan Mansoor Numa primeira fase, o dente teve as pujas (oblações e orações) são Buda e pelo menos três níveis de
e do lago, da simpatia de um e da como destino a cidade de Anura- privados de ver o dente, escondido pinturas do século XVIII ao século
serenidade do outro, e acerco-me dhapura e, ao longo dos anos, via- num cofre em ouro (há três chaves XX que retratam a perahera.
da agitação que se vive nas proximi- jou ao sabor das ondas da história para o abrir, uma guardada pelo ad- Perahera significa procissão e esa-
dades do templo do Dente de Buda do Sri Lanka, até se fixar em Kandy, ministrador do templo e mais duas la perahera designa o espectáculo
— são fortes as medidas de seguran-
ça, ainda na sequência dos danos
se bem que com um conjunto de pe-
ripécias que atestam uma existência
que são confiadas a monges) com a
forma de uma dagoba — uma estupa Capital do mais magnificente de todo o país,
com lugar marcado, todos os anos,
causados por uma bomba detonada
(utilizando um carro armadilhado)
no mínimo turbulenta: em 1283, foi
conduzido de volta à Índia por um
— que contém outras seis dagobas
com o mesmo formato mas de dife- último reino em Kandy e em honra do dente sa-
grado. Durante dez dias do mês Esa-
pelos Tigres de Libertação do Eelam exército invasor mas não tardou rentes tamanhos (um pouco como la ( Julho/Agosto), a cidade conhece
Tâmil (LTTE) em 1998, perto da en- muito tempo até ser recuperado as bonecas russas). cingalês, Kandy uma actividade frenética, enche-se
trada principal, um atentado que pelo rei Parakramabahu III; supos- Mesmo órfão dessa visão, o vian- de vida e de cor, festejando uma tra-
provocou 16 mortos e está ainda vi-
vo em todos os espíritos. Um ataque
tamente, já no século XVI, dele se
terão apossado os portugueses para
dante sente-se grato quando os seus
passos o conduzem ao longo das di-
é o ponto de dição secular ( já era descrita em
1681 por Robert Knox, capitão do
a um dos mais importantes símbo-
los do budismo que provocou uma
o queimar num ambiente de grande
fervor católico em Goa, uma versão
ferentes divisões que compõem o
templo maioritariamente construí-
partida para mar inglês ao serviço da Companhia
Britânica das Índias Orientais, no
onda de emoção e motivou uma
instantânea chuva de donativos de
da história que é prontamente des-
mentida pelos cingaleses. Segundo
do sob as ordens dos reis de Kandy,
entre 1687 e 1707 e, mais tarde, en-
incursões seu livro An Historical Relation of the
Island Ceylon) que tem o seu mo-
forma a que os estragos causados
pela explosão fossem rapidamente
estes, o que os portugueses rouba-
ram foi uma réplica, enquanto o
tre 1747 e 1782, formando parte do
palácio real. O principal santuário
num mundo mento de apogeu na última noite,
a noite da nikini poya (lua cheia). A
reparados. verdadeiro incisivo permanecia
guardado num lugar seguro — ain-
do dente sagrado, um edifício rec-
tangular de dois andares conhecido
vestido de procissão, à qual também não pas-
sou indiferente Fernão de Queirós,
Atribulações de um dente da hoje correm rumores de que o
dente está escondido algures, pelo
como Vahahitina Maligawa, ocupa
a zona central de um pátio empe-
verde, recheado padre jesuíta e cronista português
autor da obra Conquista Temporal
O dente é a mais importante relíquia
budista e, segundo reza a lenda, foi
que, a fazer fé nesta tese, também
o Sri Dalada Maligawa acolhe uma
drado, sob um tecto dourado que
aprisiona todos os olhares e que foi de encontros e Espiritual do Ceilão, é, nos dias
de hoje, uma combinação de cinco
roubado da pira em chamas durante
o funeral de Buda, no ano 483 a.C.,
cópia.
Verdade ou não, durante a visita,
pago graças aos donativos de japo-
neses. O rebentamento da bomba, improváveis diferentes peraheras. Quatro de-
las têm origem nas quatro devales
antes de ser levado, já no século IV, os devotos e os turistas, a despeito há 20 anos, danificou seriamente (complexos religiosos que veneram
para o Sri Lanka, camuflado entre de serem autorizados a errar pela a parede frontal e deixou à mostra divindades hindus ou cingalesas e
o cabelo de uma princesa. sala que abriga a relíquia durante histórias das anteriores vidas de que também são devotos ou servem
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DEAGOSTINI/GETTY IMAGES
Buda) e a quinta no próprio templo As grutas de Dambula acolhem
Sri Dalada Maligawa, todos contri- todos os anos cerca de 200
buindo para o sucesso de um evento mil visitantes que, a juntar à
marcado pelo ritmo forte dos tam- humidade e ao calor, colocam
bores, dos dançarinos, dos acroba- em risco importante património
tas, do movimento das ancas, das cultural
bandeiras coloridas que são agita-
das durante o desfile que também
é acompanhado por cerca de meia Quando o dia caminha para o seu
centena de elefantes ricamente de- final, anunciando já a última carícia
corados — num tempo não muito do sol, regresso a Kandy, às mar-
distante eram mais de cem mas este gens do lago, onde um cego vende
aparente declínio não impede que lotaria.
a perahera seja ainda hoje uma das Compro uma.
mais fascinantes celebrações de to-
do o continente asiático.
As grutas de Dambula
Ao início da tarde, embrenho-me
pelo jardim botânico (a seis quiló- A subida é íngreme — dou por mim
metros de Kandy), considerado um a pensar que o Sri Lanka está tão
dos mais belos da Ásia e lugar de banhado em lendas como eu em
encontro de casais de namorados suor — mas o esforço logo é recom-
capazes de jurar um amor eterno pensado mal avisto, ao fim de uns
sob palmeiras e bambus gigantes, trinta minutos, toda a planície ao
antes de procurarem lugares me- fundo e a estrutura pintada de um
nos recatados, na suave colina das branco leitoso sob um rochedo de
orquídeas, perdidos entre a enorme dimensões biblícas. São as grutas de
variedade de especiarias ou prote- Dambula, transformadas em mos-
gidos pela sombra acolhedora de teiro pelo rei Valagambahu, que
uma figueira de Java que ocupa na- foi acolhido no local durante o seu
da mais nada menos do que uma exílio (quando os tâmiles hindus do
área de 2400 metros quadrados. norte tomaram a cidade de c
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Ásia
Os cidadãos portugueses
carecem de um passaporte com
uma validade mínima de seis
meses para entrar no país. As
duas línguas oficiais são o sinhala
e o tâmil — a primeira é a língua
nativa do povo cingalês, o que
representa aproximadamente
70% da população (uns 13
milhões, embora também seja
falada por outros grupos étnicos
como segunda língua); quanto
ao tâmil, é utilizado por cerca de
cinco milhões (15% da população
total), subsistindo outros
dialectos entre minorias como
os rodiya, os crioulos malaios
(vulgarmente designados
bahasa melayu), os mouros e os
veddah. No entanto, o turista não
encontrará grande dificuldade
em comunicar em inglês com os
habitantes da ilha que foi colónia
do Império Britânico — a língua
inglesa serve com frequência
como ligação entre quem fala
sinhala e tâmil e, a despeito de
não ser imposta, nem a uns,
nem a outros, a ela recorrem
preferencialmente governantes e
instituições do estado.
A moeda oficial é a rupia — um
euro equivale a mais ou menos
190 rupias cingalesas.
Anuradhapura), no século I a. C., luz mortiça, há dezenas de estátuas da do mundo, com uma altura de onde se situa o palácio-fortaleza,
rodeado de uma serenidade que de budas (algumas do século I), uns 30 metros. mandado erguer, já no século V,
contrasta com a realidade actual. sentados, outros de pé, outros dei- Tão-pouco é o maior do país. pelo rei Kassapa e encimando o ro-
Em tempos também habitado tados e aos pés dos quais os monges chedo do Leão.
pelos monges, o mosteiro é visita- e os fiéis depositam as suas oferen- O rochedo de Sigiriya A sua história merece ser ouvida
do por mais de 200 mil pessoas ao
longo do ano, uma afluência que,
das por vezes sem dirigirem a sua
atenção para o tecto (que chega a Recordo-me tão bem desse trajecto A noite da e contada.
No século V, o rei Dhatusena, de
ajudada pelo calor e pela humidade,
concorre para uma degradação pro-
atingir sete metros de altura e do
qual tombam constantemente go-
sinuoso, das múltiplas curvas que
o autocarro ia descrevendo, qua- nikini poya, Anuradhapura, foi assassinado pelo
seu filho bastardo, Kassapa. O seu
gressiva das pinturas dos séculos tas de água que são utilizadas nos se tantas como as buzinadelas que irmão e pretendente ao trono, Mog-
XVIII e XIX que traçam as grandes rituais sagrados) com pinturas do enchiam a atmosfera silenciosa, da lua cheia, é gallana, fugiu para a Índia carregan-
etapas da vida de Buda — uma situ- século XVIII. por entre as brumas que tardavam do com ele pouco mais do que uma
ação que se agravou quando as au-
toridades religiosas se recusaram,
Visito as outras quatro grutas,
a Devaraja Viharaya, a Maha Alut
a dissipar-se, teimosas, como que
adiando a chegada, bem no coração
um momento promessa de vingança. Com receio
de uma invasão, Kassapa mandou
há já mais de 20 anos, a autorizar
qualquer obra de restauro num pa-
Viharaya, a Pachima Viharaya e a
Devana Alut Viharaya e, já no exte-
da ilha em forma de lágrima.
O autocarro emite um derradeiro
sublime em erguer uma fortaleza no inexpugná-
vel monólito de Sigiriya. De pouco
trimónio cultural já por essa altura
em perigo.
rior, avisto ao longe o rochedo de
Sigiriya, como um barco encalha-
suspiro junto a um largo de terra
batida, cheio de poças de água que
Kandy, capital lhe valeu. Sigiriya foi mesmo invadi-
da e Kassapa tombou durante uma
Entre as cinco salas do mosteiro
de Dambula, a gruta número dois,
do no meio da selva. Mas a minha
atenção tem de se focar nos maca-
reflectem um céu escurecido.
Um elefante passeia turistas pelo
do reino que batalha, momentos antes de as suas
tropas desertarem.
também conhecida por Maharaja
Viharaya, é a de maior dimensão
cos que andam por ali a enganar os
turistas (espreitando para o interior
alcatrão que serpenteia por entre
a vegetação, um casal aproveita a
interessou a Pouco depois da sua morte, o pa-
lácio foi abandonado, transforman-
(mais de 50 metros de comprimen-
to e mais de 20 de largura) e aquela
de sacos e mochilas) com a mesma
desfaçatez com que se anuncia, uma
montanha como pano de fundo
para as fotografias, e adia, prova-
portugueses e do-se num mosteiro budista e num
bastião do reino de Kandy.
cuja decoração mais prende o olhar
dos turistas. No interior, com a sua
vez terminada a descida, já aos pés
da colina, a presença do maior bu-
velmente para o dia seguinte, como
eu, o momento de alcançar o cume holandeses Canso-me só de imaginar a su-
bida quando fito uma vez mais
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SOUSA RIBEIRO
Ásia
Anuradhapura
A árvore de tantas vidas
SOUSA RIBEIRO
a Chovia, naquela manhã, tudo era de bacias de sedimentares muni-
silêncio à minha volta, nem os ma- das de filtros. Esta forma engenhosa
cacos, correndo sobre a relva, per- também encontrava eco quando se
turbavam um cenário que transpi- tratava de evacuar as águas utili-
rava quietude. Um monge caminha zadas, como prova a existência de
na minha direcção, aborda-me, são fossas sépticas.
breves os minutos de conversa que “Nem uma única gota de água
antecedem um convite para beber deve chegar ao mar sem que antes
um sumo, seguido de um chá, na tenha beneficiado o meu povo”, as-
sua residência modesta, tão des- sim falou o grande Parakramabahu
provida de tudo excepto de singu- I, soberano de Polonnaruwa entre
laridade. 1153 e 1186.
- Gostava de conhecer outros pa- É com esta frase ainda a bailar-
íses, outras culturas, de conviver me no cérebro que chego a outro
com outras pessoas. Como não o dos vértices que compõem o triân-
posso fazer, procuro obter conhe- gulo cultural do Sri Lanka.
cimentos através da leitura e de al- Sob a liderança de Parakrama-
guns documentários que vejo na bahu I, a fi sionomia do reino de
televisão. Polonnaruwa foi alterada de forma
Ihalahalmilleve Rathanapala faz radical, crescendo de uma forma
uma pausa para me perguntar se que não previa o destino trágico
aceito outro chá. que haveria de conhecer: rios fo-
- Mas, ao mesmo tempo, não me ram desviados e barragens constru-
sinto triste. Pelo contrário, sinto- ídas, enquanto o número de canais
me grato por viver numa cidade simplesmente triplicava. Não satis-
como Anuradhapura, com uma feito, o rei mandou erguer edifícios
história tão rica e uma atmosfera sumptuosos, projectou admiráveis
tão tranquila. Como não posso co- parques e jardins e ordenou a cons-
nhecer o mundo, como tanto dese- trução de reservatórios, um deles
java, espero que o mundo me venha com 2500 hectares, uma extensão
conhecer. Para mim, é uma honra tão inusitada para a época que era
recebê-lo e agradeço-lhe o facto de conhecido como Parakrama Samu-
perder algum tempo da sua vida a tiga do mundo, vigiada de forma Anuradhapura, dra, o mar de Parakrama.
conversar comigo. ininterrupta durante mais de 2000 como nenhum A Parakramabahu I sucedeu Nis-
Senti-me pequenino, como al- anos, mesmo nos períodos em que outro lugar sanka Mala, que em menos de dez
guém que começa a encolher, a Índia ocupou o país. em todo o anos (entre 1187 e 1196), numa ten-
aceitei mais um chá e por ali fiquei, Em Anuradhapura, sente-se, país, produz tativa de igualar ou mesmo de su-
mais duas horas, não dando, em após o primeiro impacto, que há uma imersão perar os feitos do seu antecessor,
momento algum, o meu tempo co- ainda muito para fazer, um traba- na história conduziu o reino de Polonnaruwa
mo perdido, pronto a receber lições lho minucioso que exige paciência do Sri Lanka. à bancarrota, deixando caminho
de vida e de humildade de Ihalahal- e delicadeza para descobrir muito Esta cidade, livre para a selva e para os mosqui-
milleve Rathanapala. do que acolheu a capital do reino Património tos, portadores de malária, bem co-
Anuradhapura, como nenhum ao longo de 13 séculos e antes de Mundial da mo, dada a sua frágil situação, para
outro lugar em todo o país, pro- ser abandonada à selva nos 800 Humanidade uma eventual invasão indiana.
duz uma imersão na história do anos que se seguiram. Não fossem desde 1982 Património Mundial da UNESCO
Sri Lanka. Esta cidade, Patrimó- as crónicas de um monge chinês, e berço do desde 1982, tal como Anuradha-
nio Mundial da Humanidade desde Fa-Hsien, que passou dois anos em budismo na pura, Polonnaruwa, a despeito do
1982 e berço do budismo na ilha, Anuradhapura no século V, e muito ilha, acolhe esquecimento a que foi votada du-
requer tempo ao viandante, exige menos saberíamos sobre a vida des- a famosa Sri rante anos, tem ainda resquicíos
algum esforço para perscrutar to- ta cidade real nos seus tempos de Maha Bodhi, a de algumas jóias que ainda hoje
das as suas maravilhas arquitectóni- esplendor. Graças a ele, sabemos, árvore sagrada podem ser contempladas. Entre
cas, mas revela-se tão gratificante, por exemplo, que o mosteiro de com mais do elas, o Palácio Real, uma estrutu-
instalando em todas as almas, bu- Abhayagiri, a norte, abrigava cinco que 2500 anos ra imponente com sete andares
distas ou não, o sentimento de que mil monges, enquanto o de Jetavana (a ser verdade, os últimos quatro
valeu a pena, com memórias gratas acolhia outros três mil. Mas, mes- seriam em madeira) no tempo de
de tantos lugares que demoram o mo sem esse conhecimento, uma Parakramabahu I, a sala de audi-
seu tempo a afastar-se da nossa errância por alguns dos lugares de ências e algumas impressionantes
memória. Entre eles, talvez mais Anuradhapura permite-nos ter uma estupas entre tantos outros vestí-
do que qualquer outro, o Sri Maha visão da dimensão da cidade nesse gios de um período de esplendor
Bodhi, a árvore sagrada com mais tempo remoto — um surpreendente que podem prender o viandante
do que 2500 anos ali plantada gra- sistema de fornecimento de água, durante dias.
ças a um enxerto trazido da Índia muito bem elaborado para a épo- Ao fim de alguns, regresso a
pela princesa Sangamitta (irmã de ca, com vários reservatórios, uma Kandy e volto a apreciar a beleza
Mahinda, que introduziu os ensi- complexa rede de canais e de ca- do lago. De repente avisto o cego
namentos budistas no Sri Lanka) nalizações subterrâneas, algumas e lembro-me do bilhete de lotaria
— é considerada a árvore mais an- delas ainda em perfeito estado, e esquecido.
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SOUSA RIBEIRO
Protagonista
FOTOS: ADRIANO MIRANDA
Antigamente, recorda, “os final, deve-se ter um produto
Alexandra Prado Coelho produtores de vinho tinham a sua que, segundo a lei, não pode
adega e ao fundo da adega tinham ultrapassar os dois graus de
a Passamos a Rua do Comércio, um barrilzito com o vinagre, o álcool.
em Sangalhos, Aveiro, para vinho que estava a azedar”. No Por trás de tudo isto, está,
um lado, voltamos a passar na final do ano, “quando passavam da parte de Moura Alves, uma
direcção oposta e só então damos o vinho a limpo, tiravam um, filosofia na forma de olhar o
pela discreta porta da Soanálise, dois ou cinco litros de vinagre vinho e o vinagre e um respeito
o laboratório de análise de vinho para usarem e atestavam o enorme por estes produtos.
do enólogo Rui Moura Alves. resto do barril com os vinhos Há dois anos, depois de
Espreitamos, vemos uma sala da passagem”. Estas práticas conversarmos por telefone para
pequena, com tubos, frascos e foram-se perdendo, em parte outro artigo, enviou-nos um email
outros materiais de laboratório e porque as novas legislações e as com um texto citando “o gesto de
perguntamos à funcionária se é regras da ASAE tornavam muito Cleópatra, a rainha do Egipto, de
ali que podemos encontrar Moura complicado ter o tal barrilzito no dissolver em vinagre preciosas
Alves. fundo da adega com o vinho a pérolas para, de um golo, beber
É ali, sim. Por trás do pequeno azedar. uma fortuna fabulosa” ou a
laboratório esconde-se um Mas Moura Alves continuava a “estulta pretensão de Aníbal, o
mundo difícil de adivinhar pensar no vinagre. “Eu tinha cá
por quem passa na rua. Há um a minha ideia: a cepa dá uva, a
pátio, cães simpáticos, gatos, a uva dá vinho e dá subprodutos,
casa, árvores, uma colecção de bagaceira, aguardente vínica,
garrafas de aguardente vínica abafado, e dá também vinagre.”
( já falamos dela, mais à frente) Tinha a ideia e decidiu passar à
e aquilo que aqui nos trouxe, a prática. Recorda, no entanto, que
vinagreira, onde se faz o melhor foi “muito criticado” por outros
(e um dos poucos) vinagre natural enólogos e produtores de vinho.
de vinho de Portugal, o Vinagre “Diziam que eu, como enólogo,
Moura Alves — vencedor, em 2016 não devia andar a fazer vinagre.”
e 2017, do prémio O Melhor dos A filha, Isabel Alves, que
Melhores no Concurso Nacional trabalha com o pai, dá uma
de Vinagres de Vinho e Outros e, gargalhada: “Mas hoje uma
também em 2017, do Great Taste. garrafa de vinagre vale mais do
Vamos direitos a ela. São várias que muitas garrafas de vinho.”
barricas de carvalho onde o vinho
vai, ao longo dos anos, deixando
Recentemente, um desses amigos
que o tinha criticado, perguntou-
incrível general cartaginês, de
querer abrir fácil passagem às
também já começou a fazer o
seu próprio vinagre seguindo os ?
de ser vinho e transformando- lhe: “Olha lá, como é que tu fazes suas tropas através das rochas ensinamentos de Moura Alves, e
se em vinagre. Rui Moura Alves o vinagre?”. Moura Alves sorriu calcárias dos Alpes, mandando-as ficamos a ouvir as histórias que, Resposta rápida
resume o processo a três factores para dentro e respondeu: “Deixo regar com vinagre”. um dia, hão-de ser um livro, O que devemos saber para
básicos: “Vinho são, muito azedar o vinho.” Desta vez, no final da nossa garante. “Quando o meu livro sair escolher um bom vinagre?
arejamento natural e oscilações Na realidade, é mais complexo visita, Rui Moura Alves dá-nos vou-lhe oferecer um. Ainda não Como a legislação não é nada
de temperatura, elevada no Verão do que isso. “No início fiz outro texto no qual resume está escrito, mas já tenho a capa e exigente, pode-se ter um vinagre
e baixa no Inverno.” experiências com vinhos de algumas das suas ideias a primeira página”, anuncia, não feito apenas com água e ácido
Mas, sobretudo, a arte de fazer várias castas”, conta, “mas principais. Aí conta que uma ligando aos sorrisos da mulher e acético e não é obrigatório
vinagre tem a ver com o tempo. concluí que a casta não tem das mensagens que quis passar da filha. isso vir escrito no rótulo. O
O Vinagre Moura Alves passa influência nenhuma, o que é para a filha Isabel foi esta: “O Antes de nos despedirmos, consumidor só sabe se mandar
dez anos dentro destas barricas importante é a qualidade do vinho é um ser vivo e faz parte da passamos ainda pela sala onde analisar. Por isso, [para distinguir
e a cada ano corresponde a um vinho. Vou juntando os restos alimentação humana. Por isso, o guarda a colecção de garrafas um bom vinagre] só provando o
grau de acidez. “O vinagre é a de vinhos, uma mistura de enólogo deve ter sempre presente de aguardente vínica. “Tenho Moura Alves e comparando.
transformação do álcool em brancos e tintos, e quando tenho a genuinidade de um produto todas as que há em Portugal
ácido acético”, explica o enólogo. quantidade suficiente vai para natural.” Não se preocupa por desde 1972.” Abre um livro e Como é que usa o seu vinagre?
“A maioria dos vinagres que a barrica onde está, no fundo, a lhe terem chamado “teimoso” mostra os registos, escritos à Uma das coisas que ele mais
se fazem hoje são um bocado mãe do vinagre.” ou “fundamentalista” e orgulha- mão. “Tenho 763 garrafas neste realça são as saladas, mas fica
de vinho, água, ácido acético É muito importante esta se de ter “mantido bem vivo um momento e nenhuma é igual muito bem também num arroz
adicionado, filtra-se, cola-se, está mãe do vinagre, a membrana património cultural, vitícola e à outra. É a maior colecção do de cabidela. Há pessoas que até
feito. E é legal.” E quanto tempo gelatinosa e aveludada que se vinícola”. país.” E alguma vez irá beber uma o põem no leitão. Altera sempre
se leva a fazer um vinagre desses? forma inicialmente por cima do Almoçamos leitão oferecido delas? “Não”, garante, convicto. o gosto para melhor.
Sorri, divertido com a pergunta. vinho e que contém as bactérias por um amigo, “o Paulo, do “Isto é intocável”. Tudo bem.
“Meia hora, talvez uma hora.” que vão ajudar no processo. No restaurante Rei dos Leitões”, que Felizmente, o vinagre não é. Para si, vinagre é de vinho?
O resto é outra categoria?
Um vinho tem 10, 11, 12 graus de
vinagre de Portugal
e uma essência para lhe dar
aroma de maçã.
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situado no Dezembro.
Chegamos e já um manto respei-
BÉLGICA
LUX.
NELSON GARRIDO
PARIS
SUÍÇA
FRANÇA
OCEANO Samoëns
ATLÂNTICO
ITÁLIA
Mónaco
ESPANHA
Andorra Mar Mediterrâneo
105 km
Córsega
quatro tridentes e está implantado
no Plateau des Saix, suspenso 850
metros sobre a vila de Samoëns e em
pleno Grand Massif. A estrada acaba é entregue quase em regime de ex-
à sua porta — aliás, a estrada só exis- clusividade às montanhas — vamos
te para chegar a este hotel, isolado vê-las desaparecer engolidas em bru-
no topo de uma montanha. As pis- mas, a brilhar ao sol e a vestirem-se
tas começam à sua porta: 148, para mais de branco. Não vemos as pistas
sermos exactos, nos tais 265 quiló- de esqui, mas escutamos o silêncio
metros que servem cinco estâncias das montanhas.
em sistema de ski in/skin out. Sim, À medida que o dia se vai escoan-
soubéssemos nós esquiar-esquiar... do, mais festivo fica o ambiente no
lobby do hotel, ligado directamente
O silêncio das montanhas com o bar-discoteca-teatro e com
portas envidraçadas a abrirem para
O enorme lobby, tectos altos, grandes um terraço com um pé na neve fres-
paredes envidraçadas para a monta- ca que se vai acumulando ao longo
nha, há-de ficar mais buliçoso. Por da estadia — à noite, um jogo de lu-
agora, não são muitos os que espe- zes torna a escuridão uma espécie
ram o ckeck-in, que vem até nós (é o de aurora boreal. Dentro do resort
conceito easy arrival): os funcioná- a decoração é toda em motivos da
rios de iPad na mão, nós de chá quen- montanha, as florestas, os rios, os
te servido ali mesmo, sentamo-nos animais, a neve, claro, que se insinu-
numa ilha de poltronas orelhudas, am de forma discreta, quase concep-
colocamos a pulseira-chave-porta- tual, num design que pisca o olho ao
moedas, recebemos o ski pass, ou- design nórdico, excepto em alguns
vimos as primeiras instruções. Em momentos — por exemplo, na piscina
breve teremos uma visita-guiada e fi- interior, onde renas azuis se exibem.
caremos a saber tudo o que este Club Em breve já estaremos a subir e des-
Med tem para oferecer. No quarto cer elevadores, a percorrer longos
tentamos perceber-lhe o feitio, mas corredores alcatifados num dédalo
estamos limitados pelo andar baixo que combina 423 quartos (e suítes)
que só nos permite ver uma parte e espaços comuns para todos os gos-
deste imenso complexo que parece tos e idades — afinal, o Club Med é
encaixado na paisagem na sua pedra conhecido por proporcionar férias
e madeira tradicionais: distribui-se para toda a família e, na verdade, não
em degraus no terreno e no topo pro- se poupa a esforços. E descobrire-
porciona vistas de 360 graus sobre mos que tudo termina (ou começa)
a paisagem. Do nosso quarto, a vista com as portas que se abrem c
directamente para a neve: sair de es- fadas, com o flambé de chocolate. os pedidos através de iPads — por ve-
quis nos pés é uma das vantagens (e Um andar abaixo, o Cosy Moun- zes, agem como uma espécie de sous
confortos) indiscutíveis deste resort tain é o restaurante buffet, um espaço chefs, ajudando na preparação.
— quem esquia sabe que não tem pre- enorme dividido em áreas temáticas,
ço (ou melhor, tem — e é alto). digamos assim — do colorido da zona E o après-ski?
Já chegaremos a essa sala, a do es- das famílias à surpresa da zona das
qui, cheia de cacifos (cada um cor- cabinas dos teleféricos feitos cabinas O que seria do esqui sem o après-ski?
responde a um quarto, o número é o de refeições. A comida ocupa, claro, Bem, por nós continuaria a existir,
mesmo, a chave, pulseira, também), o centro: de ilha em ilha (de entra- mas com certeza não teria a mesma
de onde se parte para conquistar a das frias a entradas quentes, das sa- piada. Porque mesmo quem, como
neve — ou então se desce a Samoëns, ladas aos quejos e charcutaria), até nós, apenas anda em pequenas pis-
uma vez que a gôndola se situa aqui ao longo balcão onde peixe e carne tas-colinas, a subir e a descer como
fora. Primeiro, subimos ao último se cozinham diante dos nossos olhos, se num carrossel estivesse — ainda
andar, ao restaurante Skyline, pre- passando pelas pizzas e focaccias, as que com escapadelas bem sucedi-
cedido de uma loja (gourmet, de pro- muitas variedades de pão, para ter- das até umas pistas verdes onde a
dutos da região e não só) e wine bar minar apenas diante das sobremesas. neve fofa, em pó, permite deslizar
com piano — aqui ouviremos o cantor E então o andar onde a sala de es- facilmente (e promete um bom acol-
(e actor) francês Patrick Bruel, em qui é o “outro” lobby, mais importan- choado nas quedas que afinal não te-
versão acústica, ele, a guitarra e uma te, atrevemo-nos, com os seus caci- mos) — sente o peso do exercício nos
dúzia de canções de amor e desamor, fos especiais onde o equipamento vidade no Club Med), com saída re- Este é um Club joelhos e ombros e o cansaço geral a
perante uma audiência quase reve- não só se guarda como seca. Antes, servada para aulas (há aulas a partir Med de quatro que o ar da montanha condena quem
rencial. No Skyline, o restaurante a sala de aluguer de equipamento e dos três anos de idade, mediante um tridentes e está o desafia. Enquanto o restaurante-
gourmet cujo menu ficou a cargo do este aluguer é a única coisa que não pagamento extra; as aulas incluídas implantado no pub instalado num chalet exterior
chef Edouard Loubet — duas estrelas está incluída no regime all-inclusive. no preço começam nos quatro anos) Plateau des Saix, a caminho da gôndola e teleféri-
Michelin e conhecimento profundo O privilégio de ter equipamento no- ou para o jardim de neve. Estamos na suspenso 850 cos não abre — apostamos que está
da cozinha da região, ou não fosse de vo à disposição é raro, mas aí estão órbita do Club Med versão jovem, ou metros sobre a pronto para a abertura ao público,
Val Thorens — temos o nosso primei- esquis, botas, batons e pranchas de melhor, versão bebé, mini, criança e vila de Samoëns no dia seguinte à nossa partida —,
ro jantar, “cozinha regional com um snowboard da marca Rossignol re- adolescente — os “clubes”, cada qual e em pleno Grand o café e o chá das várias máquinas
twist”. Começamos com sopa de er- luzentes, ansiosos por se fazerem à com o seu espaço adaptado à faixa Massif instaladas no resort confortam-nos.
vas aromáticas com tartine de queijo pistas. Nos pés (e mãos) de princi- etária. Aqui, em Samoëns Morillon, o O Club Med aqui não é o estere-
dos Alpes e caracóis, segue-se peito piantes ou profissionais com ou sem Club Med apresenta um novo espaço ótipo de praias exóticas de areias
de pato com mirtilos ou filete de ba- a companhia de professores da École para as famílias, o restaurante Bread brancas e palmeiras a que é nor-
calhau, e terminamos em labaredas, du Ski Français. As crianças têm a & Co, onde os filhos são os anfitriões, malmente associado, como lembra-
controladas e intensamente fotogra- sua própria sala de esqui (uma no- convidando os adultos e construindo rá o CEO Henri Giscard d’Estaing, na
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Crianças
+
SEBASTIÃO ALMEIDA
Anagrama – Oficina
dos sonhos
Descrito como um laboratório
de arte e cultura, este espaço
pretende dinamizar a zona dos
Olivais onde se insere, através
de actividades para todas as
idades como mindfulness para
crianças, um atelier de carimbos
e apresentações de livros
infantis.
Av. de Berlim, 35 C Lisboa
Tel.: 211 966 088
Girafa Catita
Com uma vertente de parque
de diversões que encantará
qualquer criança, a Girafa Catita,
em Vila Nova de Gaia, encontra-
se repleta de actividades como
o arborismo, a escalada, o
air bungee e a cama elástica.
As especialidades do espaço
são eventos infantis, festas de
aniversário e festas escolares,
tudo com o intuito de “reavivar a
alegria da infância”.
Rua das Lages, 695, Vila Nova
de Gaia
Tel.: 965 403 150/967 893 874
www.girafacatita.pt
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Duas Portas
Respirar
arquitectura
com o Porto
em todas as
direcções
A porta mais estreita esconde
bilhetes simpáticos, fatias de
bolo caseiro, um terraço de betão
e o bom gosto de uma “família
Pritzker” — o vizinho do lado é o
restaurante vegetariano daTerra.
Luís Octávio Costa (texto)
e Joana Gonçalves ( fotos)
a “Caro Luís Octávio, bem-vindo ao guest house. Sempre gostamos muito
Duas Portas. É com um enorme gos- de viajar e de explorar, mas daí até
to que o recebemos em nossa casa. sabermos como gerir um hotel vai
Desejamos-lhe uma óptima estadia.” uma grande distância.”
O bilhete, escrito à mão, letra redon- O Duas Portas, a porta mais estrei-
da, foi deixado no quarto. Acompa- ta das duas, é “uma casa pequenina”,
nham-no flores de chocolate Arcádia “oito quartos”, quatro em cada um
e um clipe triangular dourado preso dos pisos: quatro com vista para um
a um esguio cartão verde com dois terraço de betão e para um jardim
pequenos rectângulos minimais recuado (nora de ferro “plantada” no
que simbolizam as duas portas — a centro) que apanha três lotes, quatro
estreita e a mais larga — deste pro- com janelas viradas para a foz do rio
jecto familiar que nasce da vontade Douro e para a linha do eléctrico, que
de receber em casa. passa mesmo à porta, número 516 da
Luísa Souto Moura faz as honras. Rua das Sobreiras.
“É uma coisa mesmo entre famí- “A Arquitectura tem um peso mui-
lia”, diz. O pai, o arquitecto Eduar- to grande.” Entre estas paredes, a
do Souto de Moura, comprou uma frase soa quase a pleonasmo. O que
casa antiga em Lordelo do Ouro — está aqui é a recuperação de uma ca-
Cantareira, antiga zona portuária do sa de finais do século XVIII que tenta
Porto, bairro de pescadores, a escas- manter o carácter original, muito
sos passos do estaleiro — e a mãe, presente nos materiais (as madeiras
Luísa Penha, foi a arquitecta do es- e o mosaico hidráulico, as molduras
paço, que está a ser explorado pela de portas antigas que apenas mu-
irmã (Francisca Penha, enfermeira), daram de local), nas aberturas para
juntamente com Luísa, também ar- a rua (o caixilho é exactamente o
quitecta de 34 anos, filha mais velha que existia no passado) e até no pi-
do Pritzker. “O meu pai achou que so que foi acrescentado ao edifício
seria um bom investimento. E, de re- (em alvenaria de pedra, cantaria). O
pente, nós aprendemos tudo, todo projecto, uma intervenção moderna
o funcionamento corrente de uma com betão armado, elevador e tudo,
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Tripeiro
Na modernidade
também cabe
a cozinha de
matriz tripeira
que destaca as madeiras nuas,
Crítica bancos múltiplos com almofadas
coloridas encostados às paredes,
luz indirecta e uma área
José Augusto Moreira descontraída de acolhimento
à entrada. Outro elemento
Quase a chegar aos 70, o decorativo que chama a atenção
Tripeiro viu entrar pela é a utilização dos antigos tabiques
porta dentro o ambiente da construção a enquadrar os
pontos de luz nas paredes.
moderno e descontraído Na carta, além das tripas, claro,
que visa atrair novas há o polvo (assado no forno ou
gerações e atitudes em filetes panados), filetes de
pescada, nispo de vitela, pernil
a Casar tradição e modernidade assado ou os panadinhos de
é uma tendência que cruza todas vitela com arroz de tomate que
as dimensões da actualidade, um fazem jus à cozinha de sempre
movimento que não deixa de lado do restaurante. Destaca-se
a restauração. Exemplo disso é também a variedade de entradas
a recuperação do Tripeiro, um ou pequenas doses capazes de
restaurante que ao aproximar-se proporcionar um tipo de refeição
da idade madura (abriu em 1952) mais ligeira e descontraída,
já padecia notoriamente dos que parece ser também um dos
males do tempo. propósitos da remodelação. E
A recuperação do Tripeiro foi um piscar de olho ao turista e à
feita por gente com experiência juventude.
noutros espaços, como Cantina São à volta de vinte as
32, Casa de Pasto da Palmeira, “Entradas”, onde se destacam
Puro 4050 ou o mais recente sopa e peixe, papas de sarrabu-
Mundo, todos em zonas que o lho, amêijoas do Algarve à Bulhão
turismo tem revolucionado e cujos Pato, ervilhas com presunto, es-
conceitos adoptam uma particular cabeche de bacalhau, tripinhas
coreografia, de espírito retro na enfarinhadas ou polvo com mo-
decoração e cozinha multicultural. lho verde. Há também três que
Neste caso há uma evolução: são, digamos assim, colectivas,
queriam antes matar saudades da e juntam três a cinco diferentes
comida caseira e voltar às origens produtos.
da gastronomia da cidade, mas Provaram-se as
dando a volta ao estilo para que “minipataniscas” (4,50€), os
pudesse atrair gente nova a um “peixinhos da horta” (5€) e
restaurante marcado pelo tempo. os “croquetes de alheira com
A par da cozinha de queijo serra” (5€). Muito boas
matriz tripeira salvaram-se as quatro pataniscas, fofas e
as paredes e o Tripeiro tem escorridas, com bacalhau e
agora um ar moderno, rústico cebola a fazerem-se notar na
e descontraído. Talvez até boca, e saborosas; correctos e
demasiado descontraído para óbvios os dois croquetes em bola
garantir o propósito de manter a crocante com queijo no centro; bacalhau especial e cataplana de proporção generosa, tal como o sabor. Muito provavelmente
velha clientela, que não é difícil menos convincentes os peixinhos de mariscos, os dois últimos em os elegantes losangos de milho porque eram igualmente escassas
imaginar a torcer o nariz às mesas de feijão-verde com um polme doses para duas pessoas (34 e frito à moda da Madeira que o as lascas do dito!
nuas, sem mantel ou guardanapos farináceo que acompanhavam 29€, respectivamente). Convocou- acompanharam. Brilhou à mesa Atingem igualmente a dezena
em tecido e com os talheres com cebola caramelizada. se o “bife de atum com milho e ficou, de longe, como a estrela as ofertas de “Carnes”, da alheira
amontoados num tabuleiro. Nos “Peixes” as propostas frito” (16€) e também o “bacalhau da refeição. Quanto ao bacalhau, de caça à posta à Tripeiro, do bife
A tendência de vanguarda chegam à dezena, incluindo filete lascado com grelos e broa” (15€). cumpriu sem desmerecer. Com os à portuguesa ao nispo de vitela
é acentuada pela elegante de robalo, arroz de camarão, Primoroso o naco de atum, grelos em migas e a broa crocante e pernil assado. Convocou-se o
decoração de estilo rústico açorda de gambas, lombo de alto e no ponto óptimo de calor, como cobertura, escasseava “rosbife” (14€), com carne de
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Espumantaria do Petisco
Espumantes,
chamaram-lhe Champanharia, mas espumante da Quinta das Bágeiras. e especializado em peixe.
rapidamente perceberam que o Agora, conta Nuno, preparam-se
nome ligava-se a uma ideia de luxo para avançar para um projecto ainda
que não tinha nada a ver com o que
pretendiam. i mais ambicioso: tomar conta do Clu-
be Ferroviário, perto de Santa Apoló-
petiscos
Com a Espumantaria do Cais con- nia, em Lisboa, onde, com o arquitec-
solidada e a pôr os lisboetas a beber to Ricardo Seguro Pereira, iniciaram
espumantes nacionais sem comple- Espumantaria obras de reabilitação há sete meses.
xos (uma das estratégias foi criar uma do Petisco “Não podíamos perder a opor-
série de sangrias e cocktails), pensa- Calçada do Marquês tunidade. O terraço tem uma vista
e em breve...
ram em explorar a ligação do espu- de Tancos, 1, Lisboa sobre o rio ultraprivilegiada e uma
mante à comida. E, há dois anos, Tel.: 965 515 200 parte industrial que sempre nos fas-
abriram a Espumantaria do Petisco Email:info@petisco@ cinou, com a linha do comboio aos
neste espaço de esquina, uma antiga espumantaria.pt nossos pés, os contentores ao fundo.
o Ferroviário
carvoaria que, como era habitual na Horário: de Novembro a Março, Queremos pegar nesse ambiente in-
Lisboa do século XIX, tinha ao lado todos os dias das 11h às 23h; de dustrial e criar com o Vítor Hugo um
uma casa de pasto. Abril a Outubro, todos os dias restaurante à imagem dele, com uma
Quiseram, explica Nuno, respeitar das 10h à 1h. experiência diferenciadora.”
esse espírito e por isso, trabalhando Preço médio: 25€ Na parte de baixo, vai haver “uma
FOTOS: FRANCISCO NOGUEIRA
programação forte” que privilegiará
“pessoas que estejam a começar, em
diferentes áreas artísticas, um artista
plástico que quer expor, um miúdo
que tem um trio de jazz bom”, ha-
vendo também espaço para “algu-
mas das referências nessas áreas”.
O restaurante será uma cúpula de
vidro no terraço — “a ideia é que as
pessoas se sintam num barco” — e
em redor haverá também activida-
des culturais, “um ciclo de cinema
italiano, um concerto”.
E quais são os planos de Vítor Hu-
go para a cozinha? Vai haver dois me-
nus de degustação e um equilíbrio
entre pratos “mais consensuais”
e outros em que promete arriscar
um pouco mais. “Vou ter alguma
liberdade para ir testando coisas,
usando os produtos da estação, os
Muitos dos cogumelos, as trufas, as sardinhas,
pratos que Vítor já sei que vou querer mexer nelas,
Hugo serve algumas formas de confeccionar di-
foram buscar ferentes. Mas de resto, coisas sim-
inspiração aos ples, de fácil compreensão, comida
petiscos que a de bistrot, confortável.” É só ficar
avó cozinhava atento: o Ferroviário vai reabrir por-
para ele tas já em Abril/Maio.
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Vamos brindar
cinco anos
de sucesso?
O maior evento de vinhos portugueses
no Brasil. Em Junho, os Vinhos de Portugal
vão aterrar com força no Rio e em São Paulo.
Inscrições abertas para os produtores até
31 de Janeiro. Não perca!
Inscrições para
os produtores
até 31 de Janeiro
REALIZAÇÃO
PARCERIA APOIO
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Vinhos
Os vinhos aqui apresentados são, na sua maioria, novidades que chegaram recentemente
ao mercado. A Fugas recebeu amostras dos produtores e provou-as de acordo com os
seus critérios editoriais. As amostras podem ser enviadas para a seguinte morada:
Fugas - Vinhos em Prova, Rua Júlio Dinis, n.º 270, Bloco A, 3.º 4050-318 Porto
55 a 70 71 a 85 86 a 94 95 a 100
92 Toda a 90 87
Carro do Ano
Os crossovers
e os SUV da
concórdia
FOTOS: DR
i
Para a semana,
continuamos na
mesma categoria
a concurso
com os SUV
de tamanho
médio: Audi Q5
2.0 TDI S Tronic
quattro (190 cv);
Mazda CX-5 2.2
SKYACTIV-D
2WD MT (150 cv);
Peugeot 5008 1.6
BlueHDi (120 cv);
Škoda Kodiaq 2.0
TDI DSG (150 cv);
Volvo XC60 D4
(190 cv)
sobressai a opção por materiais agra- tivo de conseguir um compromisso tintos. Para começar, o primeiro é
dáveis ao toque, sendo de referir o entre parâmetros que por vezes são segmento B (4138mm de compri-
facto de ter conseguido boa posição antagónicos, como dinamismo e con- mento) e o segundo C (4234mm).
de condução. Com equipamento TX, forto ou acessibilidade e qualidade. Depois, têm por base diferentes
o Stonic oferece-se muito completo, Mas, acima de tudo, em “mar” tão plataformas, com o T-Roc a recor-
inclusive em tecnologias de seguran- apinhado, quer assumir-se como rer à MQB, a mesma base do Golf.
ça: prevenção de colisão frontal com objecto de desejo, não desprezan- No entanto, chega mais barato que
reconhecimento de peões, detecção do as características que lhe valem o familiar compacto, feito consegui-
do ângulo morto com alerta de peri- um bom dinamismo, mesmo em do sobretudo na poupança com os
go de colisão à retaguarda e aviso de estradas sinuosas, onde se vale do materiais que, ainda assim, man-
saída da faixa de rodagem. facto de o diferencial autoblocante têm premissas de boa qualidade e
XDS ser montado de série. Entre o montagem cuidada. Até porque, no
Opel Crossland X equipamento FR, duas afinações campo tecnológico, o T-Roc esbanja
de suspensão (normal e desportiva) equipamento: entre os opcionais,
1.2 Turbo (130 cv)
com quatro modos de condução — painel de instrumentação digital,
Tem entre a sua identidade o facto Normal, Sport, Eco e Individual —, com o Active Info Display de últi-
de ter sido o primeiro produto a ser travões de disco montados atrás, jan- ma geração, múltiplos sistemas de
lançado após a aliança entre a Opel pretende estar cada vez mais co- os bancos certificados pela agência tes de 18’’, grelha específica e bancos assistência à condução, serviços
e o Grupo PSA e assumiu desde logo nectado, dispondo de OnStar com de especialistas em ergonomia AGR. desportivos. No conforto, destaque Security & Service, com chama-
o papel de, em Portugal, conquistar hotspot Wi-Fi, e ter o seu dia-a-dia A motorização a concurso, 1.2 Turbo para a inclusão de sistema de entrada da de emergência e possibilidade
uma fatia que foi recusada ao Mokka facilitado. Para tal, o equipamento, de 130 cv e binário máximo de 230 e arranque sem chave, câmara trasei- de usar diversos serviços online
X (sucesso de vendas no resto da Eu- Innovation, inclui Head Up Display, Nm às 1750 rpm, é a mais potente da ra, ecrã tátil de 8”, carregador sem através do Guide & Inform. Já sob
ropa) pelo facto de este ser classe 2 câmara traseira, estacionamento au- gama e revela-se despachada. fios e sistema de som Beats. o capot, a Volkswagen submeteu a
nas portagens. O Crossland X é um tomático avançado, alerta de colisão versão de entrada: motor de 1.0 li-
crossover de fio a pavio, ainda que dianteira com travagem automática Seat Arona Volkswagen T-Roc tro a gasolina, com três cilindros,
a sua imagem seja facilmente con- de emergência e detecção de peões, a debitar 115 cv e com um binário
1.0 TSI (115 cv) 1.0 TSI (115 cv)
fundida com a de um SUV, dadas as alerta de fadiga do condutor, manu- máximo de 200 Nm entre as 2000
proporções musculadas. Mas o seu tenção de faixa, reconhecimento de Assente na mesma plataforma MQB Sendo do mesmo grupo, há quem e as 3000 rpm. Acelera dos 0 aos
habitat natural é a cidade, piscan- sinais de trânsito e alerta de ângulo A0 estreada pelo Ibiza, o pequeno baralhe o Arona com o T-Roc. Mas 100 km/h em 10,1 segundos e atinge
do ainda o olho a um público que cego. No habitáculo, destaque para Arona apresentou-se com o objec- são dois carros completamente dis- os 187 km/h.
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Espaço Paz
+
FOTOS: JOANA GONÇALVES
—
O nome do espaço, árido e
desmotivador para quem
ainda não tiver referências
sobre o seu requinte e
carácter intimista
das fadas
pare que aquele edifício tem umas branca suspensos do ar ou baloiços várias personalidades, mas adopta
linhas engraçadas, mas dificilmen- seguros por corda entrançada com alguns princípios que são transver-
te se perceberá que o seu interior flores de tecido. sais às suas várias facetas: pretende
acolhe um salão de chá. O nome do Os detalhes cuidados abundam e inspirar tranquilidade porque “há
num copinho de chocolate. O açúcar. Se dizem que ganha em garrafa de meio litro custa à volta doces. Os melhores licores
chocolate só serve para disfarçar beber-se duma só vez, em shot, de 20 euros. de ginja estrangeiros, como a
os defeitos da ginjinha. Se uma é porque desaconselham que se Cada vez que compro uma dinamarquesa Cherry Heering e
ginjinha for boa, é um crime não saboreie. garrafinha tenho medo que tenha a francesa Cherry Marnier, são
bebê-la num cálice próprio. É No entanto, vale a pena provar mudado — mas nunca muda. A deliciosos mas são o resultado de
como um bom vinho do Porto, estas ginjinhas sem nada, à ginjinha M.S.R é feita a partir manipulações inteligentes, como
Madeira ou Moscatel. O chocolate temperatura ambiente, para se de uma variedade de ginjas de a adição de canelas e outras ervas,
até acompanha bem mas come-se perceber que sabem muito pouco Alcobaça que é única no mundo. A para além de estágios de três anos
Miguel Esteves Cardoso à parte. a ginja e muito mais a açúcar, ginja tem duas folhas no pé e tem em madeiras velhas.
Até o chocolate é de pouca canela e outros condimentos duas características: uma acidez A meu ver, só a ginjinha M.S.R.
a Portugal é o país das ginjinhas. qualidade. É bom que Óbidos baratos. elevadíssima e, ao mesmo tempo, tem a delicadeza e a frescura
Há uma vasta variedade de se promova e não vem mal A melhor ginjinha portuguesa um teor de açúcar muito alto. bastantes para reflectir a delícia
ginjinhas e é divertido classificá- nenhum ao mundo de apresentar é também o melhor licor de Isto faz com que precise de da própria ginja. É a ginjinha para
las. Há as ginjinhas caseiras, as a ginjinha com chocolate como ginja do mundo inteiro, por menos açúcar na elaboração do quem gosta de ginja.
ginjinhas industriais, as ginjinhas a velha tradição que nunca foi. ser, precisamente, o mais puro, licor. O resultado é um licor muito Ora, há muita gente que não
lisboetas, as ginjinhas de Óbidos e Mas é preciso defender a ginjinha feito apenas de cinco elementos leve, límpido e deliciosamente gosta de comer ginjas, achando-as
as ginjinhas de Alcobaça. propriamente dita dos resultados (ginjas de Alcobaça, álcool, acidulado. Bebe-se devagar, amargas, agressivas e, no fundo,
As caseiras são feitas com de um marketing ambicioso e água e estágio em madeira) sem deixando a língua acordar deficientes em doçura. Essas
aguardente, ginjas, açúcar eficaz. quaisquer outras adições: é a com a limpeza do fruto onde pessoas, mais fãs das cerejas mais
e canela. As industriais Quando a ginjinha é ginjinha de Alcobaça M.S.R. Já a adstringência faz parte da docinhas, acharão mais graça às
reconhecem-se por terem uma apresentada cheia de gimmicks, o foi muito mais cara do que é hoje personalidade. ginjinhas de Óbidos.
cor linda e um preço baixo. A cor melhor a fazer é fugir. Se pedem mas a qualidade não só se tem Ao pé da ginjinha M.S.R. Há ginjinhas para todos os
é linda porque é corante artificial para servir muito fresca é mau mantido como tem melhorado de mesmo as boas ginjinhas de gostos mas é sempre preciso
e o preço é baixo porque não sinal: é para não se notar os ano para ano, graças ao zelo e à Óbidos parecem xaroposas, lembrar que a grande maioria não
contém ginjas — só açúcares, maus sabores, como o excesso de sabedoria dos produtores. Uma pesadas e excessivamente presta para nada.
ácidos e aromas artificiais. OXANA IANIN
As ginjinhas industriais
não prestam para nada e são
prejudiciais porque dão má fama
à ginjinha portuguesa. Dói-me
ver turistas estrangeiros a fazer
caretas quando provam essas
pseudoginjinhas porque sei que
nunca mais provarão outra.
Concluem logo que não gostam de
ginjinha e ficam assim impedidos
de conhecer as boas ginjinhaas
que produzimos.
As ginjinhas de Lisboa, em boa
hora inventadas por galegos, são
deliciosas e divertidas. Não se
podem comparar com as ginjinhas
finas, mas têm um sabor rústico
e imediato, ideal para beber em
shot. As melhores, quanto a mim,
são a Sem Rival e a Espinheira.
Embora saibam melhor ali no
Rossio, as versões engarrafadas
(sobretudo com elas, em garrafas
de litro) são agradáveis a um
preço justo. Prefiro-as mil vezes às
ginjinhas industriais.
Com as ginjinhas de Óbidos
é preciso muito cuidado. Só há
duas ou três marcas de confiança
(a Rainha Santa é uma delas) mas
há muita aldrabice. Mesmo nas
marcas boas há inconsistências de
engarrafamentos.
É preciso desconfiar quando nos
convidam a beber uma ginjinha
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