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4 VIDAS

Histórias do cotidiano de Viçosa


Expediente

Reportagens: Ana Cláudia Richardelli, Caroline Mauri, Letícia


Rodrigues e Yane Guadalupe

Ilustrações: Everton Marques

Edição e revisão: Bruna Santos, Marco Aurélio Neves e Letícia


Rodrigues

Diagramação: Everton Marques

Orientação: Ernane Rabelo


Sumário
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Apresentação

4 Vidas é um livro feito a partir da junção de quatro grandes reportagens escritas por
estudantes matriculados na disciplina COM 353 - Jornalismo Literário, ministrada no segundo
semestre de 2014. O livro busca contar quatro histórias diferentes vividas por alguns
personagens anônimos que fazem parte do cotidiano de Viçosa.

Além de estimular a escrita desse gênero do jornalismo, o livro tem como finalidade fazer com
que os alunos saiam de sua “zona de conforto” e conheçam mais a cidade e suas histórias que
nem sempre são vistas e lembradas durante a graduação.

Em um primeiro momento, a aluna Letícia Rodrigues conta a história de Didi, uma empregada
doméstica que trabalha a vida inteira atendendo estudantes em repúblicas. Há 16 anos ela
trabalha na República Vende4 e conta como é sua vida, dia a dia e relacionamento com seus
“meninos” pelos quais ela alimenta um grande carinho.

A segunda reportagem retrata as experiências vividas por Caroline Mauri estudante de


Jornalismo durante o tempo em que atua no Na Área, um programa de cunho laboratorial que
é exibido na TV Viçosa. Além de suas experiências, a repórter também conta as histórias e os
desafios para que o programa fosse estruturado.

Ana Claudia Richardelli conheceu Mauro, um angolano que veio para Viçosa estudar na UFV.
Em sua reportagem ela descobre as dificuldades e percepções encontradas pelo aluno que
veio de um país com a cultura um pouco diferente. A repórter busca retratar o dia-a-dia e
situações vividas pelo africano.

A repórter Yane Guadalupe foi ver de perto como funciona o alojamento feminino da UFV.
Através de relatos de quatro estudantes que moram ou moravam nos famosos prédios da
Universidade, a repórter conta como é o ingresso e convívio das alunas durante essa
experiência que nem sempre é muito agradável.

Convidamos você, caro leitor, a conhecer essas histórias e se encantar com a vida de nossos
personagens.

Boa leitura.
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Didi é que é a mulher de verdade...


Parafraseando Mário Lago, podemos dizer que todo dia ela faz tudo
sempre igual e vai lá cuidar dos seus meninos que podem dizer com toda
certeza que tem uma mãezona em Viçosa.
Por Letícia Rodrigues – 70661

IMAGEM
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Dionísia Lúcia Miranda tem 51 anos, três filhos que nasceram da sua barriga,
mas muitos que deixou nos seus 16 anos de trabalho na República Vende4. Sempre
trabalhou de empregada e foi fazendo parte da vida republicana onde encontrou a
vocação pra ser a mãe Didi.
Depois de muitas gerações, hoje quem recebe os carinhos dela são os cinco
moradores atuais, Renato Menicucci, Lucas Monteiro Alves, Marcos Vinícius
Nepomuceno, Daniel Canossa e Bruno Santiago. Assim como Didi, cada um dos
meninos tem o seu apelido, que ela quase nunca usa, mas pros amigos são Mutante,
Nugget, Mentira, Ximbinha e Tatu, respectivamente.
Sua história em repúblicas não começou na Vende4. Antes de trabalhar por lá,
Didi trabalhou com outros quatro ex-alunos de Viçosa. Como os meninos formariam,
ela pensou que ficaria desempregada, mas, ficou nada! O carinho por Didi não é
exclusividade dos meninos da vende4. Os formandos iriam se despedir de Viçosa, mas
não desejavam deixar a Didi desamparada, querendo que ela arrumasse um emprego
em um lugar que fosse dar certo – e não é que deu? Os meninos então fizeram um
panfleto oferecendo os serviços dela e colaram no barzinho DCE da Universidade.
Assim que os antigos “patrões” formaram, um deles foi com ela até a casa nova
para conhecer os meninos e ajudar Didi a se adaptar à nova república. Na época, os
cinco moradores do seu novo local de trabalho estavam à procura de alguém que
pudesse realizar seus serviços em todos os dias da semana, além de cozinhar. Ela
resolveu topar, mesmo com medo de cozinhar para outras pessoas que não fosse a sua
família.
Entrou e continuou até hoje. Na primeira formação que Didi encontrou da
república, dois dos meninos já estavam no mestrado e os outros três na graduação,
mas também já estavam quase na reta final. A rotação de moradores na república
sempre foi muito grande. Eles formavam e arrumavam novos moradores, mas uma
coisa que não muda é a permanência da Didi por lá. Ela é tão importante para a
república que seu aval é o que mais é levado em conta quando um novo morador
chega. Se ela não aprovar, não continua na casa. Didi já faz tanta parte da república
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que, assim como todos os moradores, tem sua camisa com o nome bordado e,
inclusive, usava ela quando a conheci.
Com Lucas Monteiro e Marcus Vinícius chegaram foi assim. Dos que estão
atualmente na república, eles foram os últimos a se mudarem. Primeiro ela conheceu
só o Nugget e achou que ele daria certo porque parecia ser bastante simpático,
quando os meninos contaram que o outro era mais simpático ainda e que gostava
muito de conversar, ela então pagou pra ver. E foi tudo do jeito que ela imaginou. Eles
deram certo, se dão super bem na república e hoje também são parte da família
Vende4.
Na república, cada um tem sua personalidade. Marquinho é o mais falador,
Lucas é simpático e está sempre com um sorriso no rosto, Daniel é o que gosta da
bagunça e organiza todas as festas, Bruno é o mais calado e Renato, o que tem mais
tempo de república, é o que coloca ordem na casa.
Hoje a república conta com cinco moradores, mas os meninos ainda procuram
mais dois para ocupar a vaga de Dilermano e Guilherme, que formaram no meio do
ano. Mas para Didi, cinco é mais que o suficiente. As contas ficam apertadas e
aumentam para os meninos, mas a bagunça e a preocupação de Didi só diminuem.
O dia-a-dia de Didi é muito simples, os meninos dão liberdade para ela chegar a
hora que quiser. Na maioria das vezes ela chega por volta das nove horas da manhã e
vai embora às cinco da tarde. Para ela, essa é uma das maiores vantagens de trabalhar
lá, pois consegue fazer suas obrigações pessoais e ainda tem tempo de ir cuidar da
casa dos meninos. Ela limpa a casa, cozinha, lava e passa a roupa.
E a comida de Didi faz sucesso na república, mesmo quando o cardápio é o mais
simples, ninguém gosta de almoçar fora de casa. “Ah não, Didi, não dá. Almocei no RU,
mas é só sua comida, senti uma falta que só (sic)” - é o que ela ouve quando eles
comem em outro lugar e abrem mão do temperinho com gostinho de casa da Didi.
A relação com Didi não fica só dentro da república não. Os meninos conhecem
a família dela, já foram em festas na sua casa e tudo mais. O netinho da Didi, Diogo,
tem 8 anos e às vezes precisa ficar com ela, pois a mãe dele trabalha e não pode ficar
sozinho. Esse é o dia que ele mais gosta, pois é o dia de pura diversão. Daniel Canossa,
o Ximbinha é o mais amigo dele, adora quando Diogo faz uma visita e ficam jogando
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videogame o tempo inteiro. Daniel, que é apaixonado por crianças, adora quando
Diogo faz uma visitinha.
Daniel até ensina Diogo a se alimentar direito. Criança nunca gosta de comer
verdura, mas Ximbinha só promete jogar videogame com Diogo se ele comer
direitinho. Com isso, ele também tem pelos meninos um carinho de família e os vê
como tios. Didi conta que Diogo até fala que os meninos também são filhos dela.
“Você vai pra sua outra casa?”, pergunta quando a vê saindo para o trabalho.
Cuidar de uma casa com cinco rapazes na flor da juventude não é fácil. Eles dão
bastante trabalho pra Didi, mas nada que uma boa chamada de atenção não resolva.
Os meninos são muito festeiros e no outro dia sempre sobra pra ela colocar a casa em
ordem. O dia pós festa é o mais agitado para Didi. A casa parece que foi destruída por
um furacão e, às vezes, nem tempo para preparar o almoço ela tem. Depois de muito
trabalho só resta torcer para que a próxima festa demore a chegar.
Didi conta que a convivência na República Vende4 é muito boa. Ela gosta de rir,
conversar e brincar com os meninos, mas sem nunca perder o respeito. Qualquer
saidinha da linha que eles dão, Didi chama no canto e passa o sermão sem dó. Pode
ser difícil para eles ouvirem algumas coisas, mas ela faz isso porque quer ver o bem da
rapaziada.
Ela acredita que o motivo de trabalhar tanto tempo no mesmo lugar é
justamente a boa convivência com os meninos. Apesar de ficar nervosa algumas vezes
e até pensar em sair, pensa que será difícil achar um lugar onde se sinta em casa como
é na república. Outro fator que pesa, por exemplo, é o fato de nunca ter trabalhado
em casa de família. Didi acostumou com a vida republicana e acha que será difícil
conseguir se adaptar, depois de quase vinte anos, em um lugar onde não encontre
essa “confusãozinha” de todos os dias.
Quando o assunto é festa, ela tá dentro. Apesar de ter que limpar a bagunça do
dia seguinte, Didi não abre mão de uma festinha. Os meninos sempre a convidam pra
algum evento e, quando possível, ela vai sem pensar duas vezes. Quando não tem
trabalho no outro dia, pode ter certeza que ela topa. Ela lembra que uma vez ficou até
altas horas da madrugada bebendo com os meninos e perdeu o horário do ônibus,
como não tinha mais jeito para ir embora ficou tocando violão e cantando com os
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meninos até às quatro horas da manhã e, assim, poder voltar pra casa no outro dia
cedo.
Em julho deste ano, dois ex-moradores formaram e não abriram mão da
presença dela nas comemorações. Didi participou do famoso churrasco de formatura e
amou a experiência.
Estar com a família e amigos dos meninos deixou Didi bastante feliz. Ela “tomou
todas” e aproveitou até o último momento. Foi a oportunidade de encontrar várias
pessoas conhecidas e, quem não conhecia a relação deles, ficava encantado com o
carinho dos meninos por ela.
República masculina sempre é muito frequentada por mulheres, mas Didi
garante que se dá bem com quase todas as “namoradas”. Porém, quando alguma
menina deixa os “filhos” da Didi chateados, aí ela não gosta. Os meninos evitam ao
máximo desabafar com ela, mas mãe que é mãe percebe quando a cria não tá bem e
no fim é no ombro dela que eles vêm chorar. E o conselho que ela sempre dá é
“namora, mas aproveita as outras coisas com cuidado, porque tem mulher que só quer
destruir”.
Dar conselhos é forte de Didi. E é nessas horas que os olhos se enchem de água
pra falar que seu objetivo é ver os meninos saindo de Viçosa bem formados e com
emprego arrumado. “Quando eu sei que formou é uma obrigação que eu sei que
cumpri. Nosso Deus, eu fico super feliz, chateada porque vai embora, mas eu me sinto
assim, com meu dever cumprido (sic)”.
Por passar a maior parte do tempo com eles, Dionísia acaba sendo a família que
eles não podem ver todos os dias e se orgulhando deles da mesma maneira. “Formou?
Agora vai bater asa. Agora tá saindo daqui homem. É o que eu digo pros pais: ó, tô
devolvendo, veio parar aqui ainda crianças, já criei, já eduquei, já estudei, já formei,
agora toma, pode levar embora agora (sic)”.
Falando em família, Didi garante que não “dedura” os meninos para os pais,
mas se contar “ih eles tão ferrados”. Mesmo dando vontade de contar às vezes, ela
prefere ficar calada, pois acredita que nem sempre é a melhor solução.
Didi não mede palavras em suas broncas. Se ela vê os meninos fazendo algo
errado, fala que não está gostando e que os meninos estão desviando para o caminho
errado. É o jeito de ela mostrar que se preocupa e que quer ver o bem deles e como
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todo “filho” eles acham que ela está exagerando e que não precisa se preocupar
porque sabem que estão fazendo.
Nesses quase vinte anos trabalhando em república, o que não faltam são
histórias engraçadas e curiosas. Já passou tanta gente, tanta festa, tanta noite de
bebedeira, tantas brincadeiras, mas Didi lembra, com carinho e boas gargalhadas cada
uma delas.
Uma história engraçada, mas um pouco perigosa, aconteceu com uma turma
das antigas que vivia na república. A segunda turma de moradores da Vende4 também
já aprontou poucas e boas. Didi lembra que eles fizeram uma festa que deu até polícia.
O som alto incomodou os vizinhos e essa foi a única maneira de fazê-los parar.
Revoltados com o fim da festa, eles queimaram um sofá, que já estava aos cacos, e
jogaram pela janela. Foi um fogaréu enorme e muito perigoso. Apagar o fogo foi uma
dificuldade, pois precisavam descer as escadas toda hora com baldes de água. Depois
do sufoco tudo virou uma história engraçada.
Já passaram muitos meninos, hoje homens, pelos cuidados de Didi. São tantos
que, às vezes, a memória até falha com os nomes, mas eles não se esquecem dela.
Alguns ligam pra saber como estão as coisas, outros até voltam para fazer uma visita
quando passam por Viçosa. E o reencontro é sempre uma festa. Ver que tudo deu
certo para eles deixa Didi bastante feliz.
O diálogo também é um ponto positivo que Didi vê na relação com os meninos.
Quando alguma coisa está incomodando algum dos lados, eles conversam
abertamente e resolvem tudo da melhor maneira possível para todos eles. Apesar
disso, Didi ouve muito poucas reclamações por parte dos meninos.
Se ela pensa em sair de lá? Às vezes até bate um vontade, mas Didi não
consegue se imaginar mais ficando parada em casa, nem trabalhando em outro lugar.
“Não sei se vou acostumar, se vou achar outra casa, outros rapazes ou moças como
eles né?”. E ela vai continuando. Continua porque gosta, porque já não dá mais pra
ficar distante e porque, literalmente, já vestiu a camisa dessa família “unida e
ouriçada” chamada República Vende4.
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A TV Viçosa está ‘Na Área’

Nesse texto vou tentar passar um pouco da minha experiência: quando foi que tudo
começou e como as coisas funcionam. Cada um, por exemplo, tem uma rotina de
acordo com suas responsabilidades e suas funções nos respectivos programas. As
minhas segundas-feiras, no caso, são sempre uma correria. Tudo começa na quinta,
com a definição de pautas, pessoas para cobrir os eventos e os convidados para entrar
em contato. O Na Área, nosso programa, é produzido por uma pequena equipe
formada apenas por alguns alunos de Jornalismo da UFV - Universidade Federal de
Viçosa, como eu, orientado pelo jornalista Marcel Ângelo da TV Viçosa e apresentado
pelo Próspero Paoli, chefe da Divisão de Esporte e Lazer da UFV.

Nós começamos na rádio em março de 2013, com uma equipe reduzida de estudantes,
apenas às segundas e0 quartas-feiras. Com o tempo, aumentamos o pessoal e
passamos também para as sextas. Foi só em abril de 2014 que, com a volta de Marcel à
Viçosa, nós começamos nosso programa de TV, todas as segundas. Mas a história da
cobertura esportiva da TV Viçosa começa muito antes.

Durante esses 22 anos de existência, diferentes programas esportivos passaram pela


grade da TV, mesmo com as dificuldades e desafios de se cobrir os esportes locais e
amadores. O pioneiro desses programas, na verdade, começou até mesmo antes da
oficialização da emissora. Em 1990, o Esporte Regional, complemento do Jornal
Regional, foi ao ar, apresentado pelo nosso atual integrante do Na Área, Próspero
Paoli, formado em Educação Física pela UFV na turma de 1985, e professor da
instituição. Filiado a AMCE - Associação Mineira de Cronistas Esportivos, e a ABRACE -
Associação Brasileira de Cronistas Esportivos, trabalhou também na Rádio Montanhesa
e Rádio Inconfidência, na TVE - TV Educativa, e foi colaborador dos jornais impressos
Tribuna Livre e Folha da Mata na seção de Esportes.

Próspero conta que houve uma diferença gritante entre esses dois períodos de
cobertura esportiva na TV Viçosa, de 1990 à 1994 e 1997-2002. No primeiro deles,
devido ao pioneirismo e à jovem formação da emissora, o programa inteiro, e todas
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suas determinadas atividades, eram de sua responsabilidade, desde a produção de


pautas, cobertura dos eventos, apuração das informações nas ruas, reportagens e
apresentação. Entretanto, no segundo período, uma equipe profissional se integrava
ao Esporte Regional.

Marcel é formado em Jornalismo pela UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora e

mestre em Teoria Literária e Crítica da Cultura pela UFSJ - Universidade Federal de São

João del-Rei. Trabalhou como repórter no jornal Tribuna de Minas, em Juiz de Fora, na
TV

Alterosa, afiliada mineira do SBT, como assessor de comunicação institucional da


FAMINAS - Faculdade de Minas, novamente como repórter na TV Panorama, afiliada
da Rede Globo, e lecionou no curso de Comunicação Social da Unileste - MG. Foi só em
agosto de 2009 que Marcel passou no concurso público como jornalista, ingressando
na TV Viçosa e, consequentemente, na UFV.

Apesar de não ter se especializado em jornalismo esportivo nem nunca atuado como

setorista de esportes, Marcel sempre produziu matérias nessa área em todos os


veículos que trabalhou, por ser um entusiasta do assunto. De acordo com ele, além da
paixão pelo tema, o incentivo à essa ideia, tanto na Rádio Universitária quanto na TV
Viçosa, tem dois motivos simples e objetivos: atrair a audiência e estimular a
participação de estudantes de Comunicação Social. E foi desse entusiasmo que
originou na ideia do Na Área, quando foi concebido com o retorno de Próspero,
iniciando uma parceria que voltaria a acontecer anos mais tarde, na TV, mas que é
história para mais pra frente.

Deve se destacar que Próspero já havia trabalhado no Departamento de Esporte e


Lazer da Prefeitura Municipal de Viçosa, onde obteve contatos dentro da própria
instituição e com representantes de diversas associações atléticas da cidade, como a
Liga Esportiva Viçosense, que lhe garantia fácil acesso às informações locais.

Do programa factual sobre o esporte local que era, passamos para um programa de
análise e comentários dos eventos esportivos a nível nacional e mundial, que tinham
destaque na mídia tradicional e eram fáceis de acompanhar e obter informações. Para
que desse certo, era preciso um diferencial. E era nos comentários que havia o
destaque.

O programa passou a funcionar com dois participantes do estúdio. O apresentador era


quem comandava a edição: montava o texto com as principais informações e se
responsabilizava pela parte técnica. Já o comentarista era responsável pela análise dos
jogos, as informações extras e as estatísticas.
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Com a formatura de Diego e Felipe, o programa ficou parado no ano de 2012, quando
entrei na UFV. Eu não conhecia o Na Área até o fim desse mesmo ano, quando um
veterano, Felipe Pacheco, com a ideia de reativá-lo, perguntou quem se interessava
por jornalismo esportivo. E lá fomos nós.

Foi ainda no fim de 2012 que gravamos o programa piloto para apresentar aos
responsáveis da Universitária FM. Mas era um período pós-greve, somado às férias e,
até reformular a grade, estreamos ao vivo apenas em março de 2013, com um
programa de 40 minutos às segundas e quartas. O formato permaneceu semelhante
ao que o Diego havia implementado, com a diferença de que, para aumentar a
dinamicidade, seriam dois comentaristas acompanhando o apresentador.

O apresentador redigia um roteiro apenas com as informações que ele precisava para
conduzir o programa. As perguntas, palpites e comentários, a cargo dos comentaristas,
não vinham escritas no roteiro. Isso garantia um tom mais leve a quem escutava. Outra
marca, cada vez mais utilizada, era o humor nos comentários. Era mais atrativo e se
destacava dos outros programas do gênero. Mas, claro, sem nunca perder o apoio na
informação e apuração.

Mesmo assim deu certo. Tínhamos um bom público divulgávamos entre os amigos e o
curso. Criamos as páginas do Na Área no Facebook e no Twitter, onde começamos a
receber alguns comentários com sugestões e elogios. Não demorou, e em alguns
meses tínhamos mais um horário: a sexta-feira também teria espaço para o programa.

Desenvolvemos melhor nossas técnicas. Antes, precisava de uma tarde inteira me


preparando para participar de um programa. Com o tempo, cada um ia pegando o
jeito de encontrar e absorver as informações, passando a agilizar a produção. Mesmo
mantendo o foco no futebol nacional, abrimos espaço para os eventos da cidade e
realizamos diversas entrevistas. Até fizemos quadros e programas especiais, como a
série “Seleções” para a Copa do Mundo, e um programa totalmente feminino no Dia
da Mulher.

Foi no fim de 2013, com o retorno de Marcel ao fim do mestrado, que a ideia de lançar
uma edição paralela do Na Área na TV Viçosa começou a surgir. A emissora estava
planejando uma reformulação em sua grade televisiva: o Jornal Regional, que era
diário, se transformaria na Revista Viçosa, semanal. Com isso, a TV estava procurando
programas potenciais que viessem a preencher esse espaço.

Com a segunda-feira disponível, Marcel sugeriu a ideia de um programa esportivo


semanal, que cobrisse a demanda das informações da cidade e da universidade, sem
deixar de lado a identidade do programa da rádio, que eram as análises do futebol
nacional. E foi assim que a TV comprou nossa ideia e convidou o Próspero a retornar e
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apresentar mais uma vez um programa esportivo na emissora. Para confirmar seu
retorno, Próspero requisitou uma equipe toda do curso de Jornalismo, que foi
preenchida pela própria equipe do Na Área na rádio.

Com a confirmação do programa na TV, era hora de definir o formato que ele adotaria.

Após uma reunião entre os responsáveis pela TV, Próspero e a nossa equipe de
estudantes, optou-se por um programa de dois blocos de quinze minutos. O primeiro
seria dedicado às notícias do esporte local com direito a um entrevistado relacionado a
algum assunto da região.

O segundo bloco ficaria então por conta do futebol nacional, mantendo o padrão e a
identidade com o programa da rádio. O elenco seria composto sempre pelo
apresentador, no caso o Próspero, e dois comentaristas mais o entrevistado no
primeiro bloco, e três comentaristas do segundo.

Foi assim que gravamos nosso programa piloto em março de 2014. E foi assim que
estreamos em abril desse ano. Mas, também como aconteceu na rádio, não passou
nenhum mês completo para que percebêssemos que meia hora era muito pouco.
Alongamos então para uma hora dentro da grande, e com isso a estrutura se
modificou. De dois blocos, passamos para três: o primeiro permanecia como a
cobertura dos eventos de esporte local, a diferença era que, agora, a entrevista havia
se desvencilhado e ficado com o segundo bloco inteiro, exclusivamente. Para fechar, o
terceiro bloco mantinha o padrão do futebol nacional. A grande questão era, e é, a
produção da cobertura esportiva local e suas dificuldades.

Desde o primeiro momento da idealização do programa na TV, estava determinado


que

a cobertura local não poderia ser ignorada. É um fator incomum ao rádio em relação
ao

público. Os ouvintes da rádio, geralmente, são pessoas que estão escutando como
uma

atividade secundária, como os condutores no trânsito, a dona de casa que está


passando roupa,

ou o atendente esperando um possível consumidor. A grande parte dos espectadores


não liga o

rádio porque quer realmente saber o que está sendo falado. É buscando, na verdade,
mais

entretenimento do que informação, com a preferência por uma mescla entre os dois
gêneros.
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Já o público da TV é diferente. Com concorrentes fortes como a Globo, que podem

fazer uma cobertura dos jogos do fim de semana com muito mais recursos, qual o
sentido de

trocar de canal para a TV Viçosa? Aí é que está a grande questão, o principal atrativo é
aquilo

que as mídias tradicionais não podem trazer: as notícias locais. O telespectador quer se
ver na

TV regional. Ou pelo menos ver pessoas e lugares do seu cotidiano, até mesmo os
resultados

do Campeonato Municipal, mesmo que ele nunca tenha ido assistir nenhum jogo.

A presença do Próspero, além da experiência e de sua habilidade no jornalismo

esportivo, foi fundamental para a manutenção de contatos muito importantes para a


apuração

de notícias locais. Logo em nossos primeiros programas, já havíamos estabelecido uma

relação com o Departamento de Esporte e Lazer da Prefeitura Municipal de Viçosa e


com a

LEV - Liga Esportiva Viçosense, responsável por organizar os campeonatos amadores


da

cidade, como a Primeira e a Segunda Divisões, além do Mirim, Infantil e do Ruralzão.

Dentro de algum tempo, também através do Próspero, estabelecemos contato com a

AAAE LUVE - Associação Atlética Acadêmica Liga Universitária Viçosense de Esportes,

responsável pelos times que representam a UFV nas competições locais e nacionais.
Com isso

ganhamos muito em conteúdo que pertencia ao esporte na universidade. Exibíamos,


assim

como da LEV, os resultados das equipes representantes que tivessem jogado no fim de

semana, e tínhamos conhecimento prévio dos eventos organizados por eles dentro da

Universidade.

Seguindo a mesma dinâmica, conseguimos parceria também com a EFICAP - Educação


Física Consultoria, Assessoria e Prestação de Serviços, a empresa júnior do curso na
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UFV. O que foi um grande indicador de estávamos conseguindo atingir o público, é que
o contato inicial com a EFICAP partiu deles mesmos, pedindo para que pudéssemos
noticiar as competições que eles organizam.

Apesar do contato constante com essas organizações, acabamos ficando à mercê da


disponibilidade que eles têm de nos repassar as informações, uma vez que nossos
recursos financeiros, estruturais e humanos sejam bastante limitados, o que pode não
ser suficiente, caso haja uma falha na ponte entre nós e eles.

Nosso objetivo é, com o tempo, possuir uma equipe maior e que conte com
profissionais contratados para auxiliar na cobertura in loco dos eventos de fim de
semana, como um cinegrafista e até um transporte. Para isso, estamos estudando
redigir uma carta de apresentação do programa para que, com ela em mãos,
possamos conseguir patrocínio e recursos financeiros que nos permita essa ampliação.

No decorrer desse tempo, renovamos nossa equipe por diversas vezes, mas sempre
com estudantes. Estamos em um momento em que muitos se desligaram devido ao
TCC e a formatura. Para preencher essas vagas, fizemos uma seleção no curso, mas
conseguimos apenas incluir calouros, o que é muito bom para a experiência
profissional de cada um, mas acaba deixando a média da equipe mais ‘inexperiente’.

Apesar disso, o Na Área é um espaço excelente para se colocar em prática o que


aprendemos nas disciplinas ao longo do curso, principalmente na de Jornalismo
Esportivo. O que atrapalha, às vezes, é que como é um trabalho completamente
involuntário, algumas pessoas entram com uma mentalidade enganada e enxerga o
programa como um hobby, e não pode ser apenas isso. É ótimo poder se divertir e
sentir prazer com aquilo que se trabalha, mas ainda assim tem que ser visto pelas
lentes do profissionalismo. A responsabilidade deve ser a mesma de um emprego
convencional, com pontualidade e compromisso.

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