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Mestres da Gravura

Coleção Fundação b i b l i o t e c a n a c i o n a l
Mestres da Gravura
Coleção Fundação b i b l i o t e c a n a c i o n a l

realização apoio projeto patrocínio

Biblioteca Nacional
Mestres da Gravura
Coleção Fundação b i b l i o t e c a n a c i o n a l

curadoria Fernanda Terra

Centro Cultural Correios, 28 de julho a 18 de setembro de 2011


D P
e volta ao século xv e viajando até 1830, faremos um belo reservar e permitir o acesso aos registros da cultura brasileira é
passeio, por mais de 400 anos, ao lado dos Mestres da missão da Fundação Biblioteca Nacional, detentora de uma das
Gravura, como Dürer, na Alemanha; Rembrandt, na Holanda; mais ricas coleções da América Latina, atualmente composta
Piranesi, na Itália; Callot, na França; Hogarth, na Inglaterra; Goya, na por mais de nove milhões de peças, entre as quais livros, manuscritos,
Espanha... entre outros artistas europeus, internacionalmente famosos. mapas, gravuras e partituras.
Um passado de arte, esculpido em madeira e metal, e eternizado para Hoje, a instituição bicentenária enfrenta os desafios que o futuro
o olhar contemplativo e extasiado de geração a geração. lhe impõe, sem dar as costas para o seu passado. É importante
Se nas épocas vividas por esses artistas as gravuras os recordar que, graças à estratégia da Coroa Portuguesa em enfrentar
popularizaram, hoje, paradoxalmente, são suas extraordinárias os mares para driblar a invasão napoleônica, trazendo na bagagem
pinturas que os distinguem entre os grandes nomes da história da arte sua Real Biblioteca, a Biblioteca Nacional se tornou responsável pela
mundial de todos os tempos. Telas valiosas são mais frequentemente preservação da memória cultural brasileira, bem como por parcela da
expostas, enquanto as exposições de gravuras acontecem com certa memória portuguesa.
raridade, embora grandiosos e riquissímos sejam os seus acervos, A cuidadosa seleção de gravuras do acervo da Biblioteca Nacional
como a coleção de 30 mil obras que a Biblioteca Nacional do Rio de ora apresentada ao público compõe um conjunto precioso, grande
Janeiro abriga. parte oriunda da Real Biblioteca portuguesa. A partir desses
Conjugando o verbo gravar em todos seus tempos e modos, a documentos, será possível apreciar a arte da gravura e conhecer
ação criativa dos Mestres da Gravura pode ser adjetivada com toda diversos artistas, bem como as técnicas por eles empregadas.
a sinonímia expressiva do belo, seja pela temática, a originalidade, a Em suma, a exposição Mestres da Gravura, uma parceria entre a
dramaticidade, a sátira, a polêmica, seja pelo detalhismo, o burlesco, Fundação Biblioteca Nacional e o Centro Cultural dos Correios,
o obsceno, o obscuro... Clássicos, renascentistas, neoclássicos, o fato é constitui-se numa oportunidade ímpar de dar ao público acesso a
que os gravadores desse ciclo marcaram seus méritos em importantes esse valioso acervo.
obras. Marcas de um passado indelével a ser disseminado no presente
e no futuro. Sempre! fundação biblioteca nacional
E os Correios, permanentemente comprometidos com a
propagação da cultura, também se sensibilizam com essa relação
de perenidade e de conhecimento dessa arte. Assim, imprimem a
sua marca como patrocinadores da exposição, abrindo o seu Centro
Cultural para receber esses mestres ilustres e suas obras-primas. Ao
público, fazem um convite especial para que se percorram mais de
quatro séculos da história e evolução da gravura. Um passeio de
absoluto encantamento!
Muito bem-vindos a esse pretérito perfeito, pelo seu indestrutível
vínculo com o futuro e pelo tempo presente que se conjuga aqui e
agora.

centro cultural correios


M
estres da Gravura, homenagem aos 200 anos da A arte da gravura

Sumário
Fundação Biblioteca Nacional (fbn), reúne 170
obras representativas da história da gravura eu- Para o homem da Idade Média, é Deus que semeia a vis creativa.
ropeia. Esse conjunto, cuja origem remonta à D’Ele provém a beleza da criação, testemunho de sua grandeza
Real Biblioteca, trazida por ocasião da transferência da corte e de sua sabedoria infinita, pela qual o Belo se aproxima da
portuguesa para o Rio de Janeiro em 1808, integra o mais Verdade. O tema religioso marca a construção do fazer artístico.
importante acervo de gravuras do país: a Coleção de Gravuras Já ao longo do Quattrocento, o Belo e a natureza se fundem num
Mestres da gravura 7 Avulsas da fbn, constituída por 30 mil itens. Trata-se, pois, de só ideal. Temas documentais e mitológicos surgem no universo
Fernanda Terra rara oportunidade de apreciar parte significativa desse valioso das gravuras, inspirados pelo humanismo crescente que afirma
patrimônio cultural brasileiro. a dignidade do homem e o torna um investigador da nature-
As técnicas de gravura 9 Encontram-se na mostra tanto xilogravuras quanto exem- za, numa revalorização dos ideais clássicos gregos e romanos.
plares de diversas técnicas de gravação em metal surgidas do O homem como centro do universo, autônomo, livre, criativo,
Renascimento (século xv) ao Iluminismo (século xviii). São se faz representar em proporções perfeitas e está inserido num
Coleção Italiana 14 criações de 81 gravadores que traduzem, com sensibilidade e espaço ilusório tridimensional da perspectiva linear.
destreza de gestos, não só a construção do pensamento reli- No século xvi, o pensamento renascentista se difunde pela Eu-
Coleção Alemã 30
gioso e filosófico, como também ideias, ações, descobertas ropa, ao mesmo tempo que a Reforma abala o equilíbrio político
Coleção Holandesa 40 e costumes promovidos pela cultura europeia durante esses e a unidade cultural e artística recém-conquistados no continente.
quatro séculos. As gravuras, sob inspiração protestante, se voltam para a natureza e
Coleção Flamenga 54 As gravuras foram dispostas em núcleos regionais de pro- personagens profanos. A iconoclastia toma o cenário da arte. Com
dução, formados pelas coleções italiana, alemã, holandesa, o declínio da influência católica, elevam-se o pessimismo, a insegu-
Coleção Francesa 60 flamenga, francesa, inglesa, espanhola e portuguesa, e por rança e o alheamento característicos do Maneirismo. A noção de
ordem cronológica de nascimento dos gravadores. Há nesses espaço é alterada e a perspectiva se fragmenta em múltiplos pon-
Coleção Inglesa 68 núcleos gravuras originais e gravuras de reprodução ou interpretação. tos de vista. As proporções da figura humana se distorcem numa
Coleção Espanhola 76 Entre as gravuras originais, destacam-se autores como Piranese, linguagem visual mais dinâmica, que se mostra dramática e sofis-
Dürer, Rembrandt, Callot, Goya e Hogarth, cujas linguagens ticada, refletindo os dilemas de fim do século. No século seguinte,
Coleção Portuguesa 82 poéticas se caracterizam por seu ineditismo, sua inventividade a Contrarreforma abre caminho para o adensamento expressivo
e sua força expressiva. Por sua vez, as gravuras de reprodu- do Barroco, com a sensualidade das formas curvas e espiraladas, a
ção ou interpretação, realizadas por grandes gravadores com monumentalidade cenográfica e a exaltação do movimento.
Referências bibliográficas 86 amplo domínio técnico, apresentam obras-primas da pintura, Ao excesso do Barroco o Neoclassicismo responde, em
Obras expostas 87 da escultura e do desenho, tendo constituído, durante muito meados do século xviii, com uma arte mais serena, equilibrada
tempo, uma das mais importantes formas de difusão da arte e sombria, que retoma o interesse pela Antiguidade clássica,
e de divulgação dos artistas valendo-se das escavações arqueológicas e das bases científicas,
sistemáticas e racionais em que se inspira.

 
A arte de gravar As técnicas de gravura* A ponta-seca é empunhada como um lápis e não exige conhe-
cimentos de oficio tão elaborados quanto os do buril, sendo o
Gravar é dar vida às linhas do tempo. Das tramas delicadas do A xilogravura tom da linha dado pela pressão produzida ao desenhar e pela
desenho sobre uma superfície bordaram-se com linhas incisivas, Na xilogravura, realizam-se entalhes diretos na matriz de ma- quantidade de rebarbas produzidas nesses deslocamentos. As re-
ao longo da história, algumas das mais sutis e notáveis obras de deira com ferramentas como a goiva e o formão, deixando-se barbas seguram tinta, que, somada àquela contida nos sulcos, dá
arte. No Ocidente, a prática da gravura em papel se inicia no a imagem a ser impressa em relevo. Destacada do fundo, a a característica aveludada e o contorno difuso à linha construída
final do século xiv, com as primeiras xilogravuras usadas para imagem recebe a tinta de impressão, que será transferida para por essa ferramenta. Utilizam-se pontas de formatos e materiais
reproduzir imagens de santos e cartas de baralho. Seu desen- uma folha de papel, por meio de pressão feita pela mão dire- diferentes, que geram resultados distintos no corte e na impressão.
volvimento é consequência do conhecimento da técnica de fa- tamente sobre o papel posado na placa entintada de madeira Depois de algumas dezenas de provas, as rebarbas são destruídas
bricação do papel, descoberta pelos chineses em 105 a.c., e que ou com o auxílio de uma espátula ou colher de madeira. ou modificadas, o que cria flutuações na qualidade das imagens e
chega à Península Ibérica em meados do século xii. Apenas no não permite um grande número de impressões.
século xv, no entanto, a prática da gravura em papel se desen- Gravura a buril
volve na Itália e, logo depois, nos demais países europeus, como Também conhecida como talho-doce, a gravura a buril surgiu no Gravura à água-forte
expressão artística e meio de divulgação e democratização do século xv é a mais antiga técnica de gravura em metal que se co- A água-forte, ao contrário do buril e da ponta-seca, é um pro-
conhecimento, substituindo o manuscrito e as iluminuras. nhece. O buril é um instrumento com cabo de madeira e ponta cedimento indireto. Técnica utilizada desde o século xvi, a
As primeiras impressões a partir da matriz de madeira são cha- cortante de aço em formato quadrado, losângico ou redondo. aqua-fortis era como a alquimia chamava os mordentes, produ-
madas de xilogravuras (gravura em relevo). Já o emprego de matri- O gravador pousa o buril sobre o metal, permitindo realizar en- tos químicos que atacavam as áreas da matriz de cobre dese-
zes em metal, antes restrito à ourivesaria, possibilitou o surgimento cavos muito finos e profundos, que deixam marcas a serem pre- nhadas e não isoladas pelos vernizes resistentes a eles, crian-
da gravura em talho-doce (taille-douce ou intaglio), nome empregado enchidas pela tinta de impressão. A qualidade da linha depende do-se assim concavidades. O desenho é feito com pontas de
em referência à gravura a buril. As matrizes são preferencialmente da profundidade e da largura das incisões, e da força empregada metal utilizadas como lápis, de modo que o cobre seja expos-
feitas de chapas de cobre, em que o entalho produzido é entintado, na gravação. A tinta é transferida para o papel com uma prensa. to onde a ponta penetra o verniz. A chapa de cobre é imersa
permitindo maior aprimoramento e refinamento das impressões. Foi, por excelência, a ferramenta dos primeiros gravadores. no ácido e as partes expostas a ele (mordente) que não estão
A arte da gravura em metal é conhecida como calcografia. protegidas pelo verniz, corroídas. A corrosão é determinada
Até o século xviii, eram cinco os principais procedimentos da Gravura à ponta-seca pelo tipo de agente químico escolhido no qual a placa será
gravura em metal: a buril, à ponta-seca e à água-forte, herdados Conhecida desde o século xv e também de corte direto, mas imersa e pelo tempo de exposição do metal a essa situação.
dos ourives e armeiros medievais; à água-tinta e à maneira-negra, albrecht dürer [1471–1528] diferente do buril, que retira metal ao produzir a linha inci- Em seguida, o verniz é removido da chapa, que, limpa, é co-
procedimentos inventados para a construção de matrizes reti- São João engolindo o livro que o anjo lhe apresenta, c. 1498 sa, a ponta-seca somente desloca material, quando pressio- berta de tinta; novamente limpa, deixam-se apenas os sulcos
culadas por processos manuais e mecânicos. Somam-se a esses [da série “O Apocalipse”] cobertos de tinta. Cobre-se a chapa com um papel umedecido
xilogravura, 39 x 27 cm
nada contra a superfície. Essa diferença aparentemente sutil
procedimentos, de meados para o fim do século xviii, as técnicas cria dois tipos de linhas peculiares e claramente discerníveis. e os dois passam por uma prensa; o papel absorve a tinta de-
à maneira de crayon, do verniz mole e do pontilhado. positada nos sulcos, produzindo uma impressão invertida do
desenho sobre a chapa. São muitos os mordentes e sistemas de
Fernanda Terra *
Ver na p. 86 observação acerca da bibliografia utilizada nesta parte. aplicação empregados pelos artistas. Dessa forma, obtêm-se
curadora

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gradações de tons, que vão do mais claro a uma infinidade de
texturas visuais e ao mais profundo escuro. Quase todos os
água-fortistas importantes inventaram processos próprios.

Gravura à maneira-negra
Também chamada de mezzotinta, meia-tinta, essa técnica,
criada no século xvii, consiste na construção de um tra-
mado regular e rigoroso de pontos, por intermédio de um
instrumento próprio, chamado berceau, cujo formato é pare-
cido com o de um pente em meia-lua, com dentes sem es-
paçamento entre si e pontas muito afiadas, que ferem o
metal levantando rebarbas por pressão exercida diretamente
sobre ele. A matriz é preparada, dispensando-se o uso
de ácidos, para que o gravador trabalhe a partir do negro.
A retícula de pontos regulares impressos dá um negro profun-
do e aveludado. Por meio de raspagens e bruniduras adequa-
das, se vão obtendo os tons em meias-luzes, entre o negro da
malha construída e o branco de um polimento total.

Gravura à àgua-tinta
À diferença dos processos lineares, a água-tinta, inventada no
século xviii, permite obter superfícies regulares em meios-
rembrandt hermenszoon van rijn [1606–1669]
tons. Trata-se de um meio indireto que se vale de mordentes,
Autorretrato desenhando junto à janela, 1648 como a água-forte. A matriz é pulverizada com resinas, breu
água-forte, ponta-seca e buril e betume, que aderem à superfície da placa pelo uso de calor.
16,5 x 13,1 cm
O mordente (ácido) ataca os pontos nus da matriz que não
página à direita estão protegidos pela resina. Com diversos métodos de mor- Em outras palavras, quanto menos tinta impressa, mais pon- presente na exposição, é um método que utiliza a água-forte,
giovanni battista piranesi [1720–1778]
suras e diferentes tipos de verniz, conseguem-se valores à ma- tos brancos no papel, e vice-versa, fazendo com que tal rela- o buril curvo ou a ponta-seca. Primeiro, faz-se uma leve gra-
Le Antichità romane, 1750–3, tomo III, prancha XL neira de chapados, que podem traduzir aguadas. Traduz-se ção de quantidade entre pretos e brancos gere os cinzas óticos vação do contorno do desenho em água-forte; em seguida,
água-forte, 40,4 x 60 cm uma escala de tempo em escala de cinzas virtuais: quão mais e a consequente escala tonal. obtêm-se os tons do trabalho, pontilhando-se a chapa com a
raros os pontos corroídos, menor a reserva de tinta, e quão De meados para o fim do século xviii, surgem as técnicas ponta do buril curvo ou com a ponta-seca sobre um segundo
mais profundos, maior a reserva para a tinta na impressão. à maneira de crayon, do verniz mole e do pontilhado. Este, verniz, posteriormente banhado no ácido.

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Coleção Italiana André Mantegna
Pintor e gravador a buril, nasceu na ilha de Cartura, perto de
Vicenza, em 1431. Foi treinado na escola clássica de Francisco
Squarcione em Pádua. Em 1459, passou a viver em Mantua, onde
permaneceu até sua morte em 1506. Foi protegido por Luiz de
Gonzaga, duque de Mantua, que o nomeou cavaleiro, e pelo papa
André Mantegna [1431–1506] Inocêncio viii. Existem sete gravuras de sua autoria confirmada e
Jacopo de Barbari [c.1450–c.1515] outras inacabadas, que não sabemos ao certo se pertenceram ao
Benedetto Montagna [c.1480–1555/1558] artista. Trata-se de obras admiradas pelo gosto e a correção dos
desenhos. “A noção plástica é trazida para a gráfica e por con-
Marco Antonio Raimondi [c.1480–c.1534]
sequência o gosto pela abstração ligada aos grafismos, ritmos e
Agostino de Musi [1490–1540] adensamentos luminosos” (Luis Cláudio Mubarac). Sua maneira
Marco Dente [1493–1527] de gravar característica se dava com sombras executadas por traços
Giovanni Battista Guisi [c.1503–c.1575] paralelos abertos e linhas oblíquas mais claras entre esses traços.
Enea Vico [1520–1570]
Adamo Ghisi [c.1530–c.1585] Jacopo de Barbari, dito Mestre do Caduceu
Mestre do Dado [ativo entre 1532–1550] Diversos nomes são atribuídos a esse artista: Francisco de Babilô-
Lodovico Carracci [1555–1619] nia, Jacob Walch (Italiano) ou Jacob de Veneza, Jacometto, Jacob de
Barberino, Jacob de Barbaris e Jacopo de Barbari. Foi pintor a óleo
Agostino Carracci [1557–1602]
e em miniatura, nigelador, escultor e gravador a buril e em madeira.
Annibale Carracci [1560–1609] Nascido por volta de 1450, trabalhou como pintor em Veneza e
Francesco Brizzi [1574–1623] em diversos lugares, como Nuremberg e os Países Baixos, durante
Guido Reni [1575–1642] a segunda metade do século. Não se sabe ao certo onde nasceu andrea mantegna [1431–1506] marco antonio raimondi [c.1480–c.1534]
(Alemanha, Holanda, França ou Itália), nem a data de sua morte, Jesus Cristo descendo ao limbo, s/d Orfeu e Eurídice, c. 1510
Giovanni Benedetto Castiglione [1609–1664]
que provavelmente se deu em 1515. As gravuras abertas em metal buril, 43 x 33,2 cm buril, 18,3 x 14 cm
Stefano della Bella [1610–1664] por ele revelam mão hábil em manejar o buril e espírito italiano, Em Orfeu e Eurídice, Orfeu está nu, vestindo apenas um manto preso ao
Salvatore Rosa [1615–1673] mas são desiguais. Jamais desenvolveu a regularidade nas incisões ombro. Com a cabeça coroada de louros, toca a lira. Eurídice atrás dele, quase
Giovanni Battista Piranesi [1720–1778] que dá à gravura especial qualidade na execução dos valores tonais. totalmente nua, faz o gesto de cobrir-se, inspirado na Vênus Capitolina. A única
Suas impressões possuem a aparência de desenhos à caneta, transfe- inovação que traz o artista é o pano enrolado ao longo da ninfa. O corpo de Orfeu
Francesco Bartolozzi [1725–1815] é retirado do famoso Apollo de Belvedere, descoberto em Roma no final do
ridos para o cobre. Notam-se nelas diversas influências, de Bellini e século xv. O casal está fora do inferno. A ninfa volta o seu olhar para a entrada da
Giovanni Volpato [1735–1803] André Mantegna à dos alemães. Muitas se aproximam da maneira caverna, com o intuito de testemunhar o que pode acontecer, se Orfeu olhar para ela.

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de Albrecht Dürer, principalmente das primeiras obras deste mes- to quais foram seus primeiros mestres. Sabe-se, no entanto, que, Enea Vico
tre. Sua obra gravada compreende trinta gravuras abertas em metal. quando viveu em Roma, trabalhou sob a direção de Marco An- Desenhista e gravador em metal, nasceu em Parma em 1520 e fa-
A Sagrada Família é uma raríssima gravura a buril, em que se vê a tonio Raimondi. Em seus primeiros trabalhos copiava ao Mestre leceu em Ferrara em 1570. Seu florescimento como gravador se
marca do gravador na parte superior, à esquerda. do Caduceu e a Giulio Campagnola, que foi sua maior influência. deu entre 1541 e 1567. Mudou-se para Roma ainda jovem, tendo
Foi na escola de Raimondi que Musi se associou a Marco Dente como mestre o gravador e comerciante de estampas não muito
de Ravenna, com quem executou em conjunto diversas gravuras. importante Thomaz Barlacchi. As gravuras de Enea Vico ante-
Benedetto Montagna riores a 1550 são gravadas à maneira de diferentes mestres: Julio
Pintor e gravador a buril, nasceu em Vicenza por volta de 1480, fi- Bonasone, Agostinho de Musi, Jacob Caraglio e Marco Anto-
lho do pintor Bartolomeu Montagna. Trabalhou quase toda a sua Marco Dente nio Raimondi. Posteriormente, Vico adquiriu uma maneira de
vida em Veneza, tomando por modelos, na pintura, Bellini e, na Mais conhecido como Marco Dente da Ravenna, nasceu nes- gravar própria e característica. Foi também cultor das ciências,
gravura, Dürer. Suas gravuras são fortes, simples e muito raras. sa cidade em 1493 e morreu provavelmente durante o saque de que estudou com particularidade, e escreveu sobre numismática.
Roma, em 1527. Foi discípulo de Marco Antonio Raimondi e Reina grandes incertezas sobre os fatos de sua vida.
manteve parceria com Agostino Veneziano até 1520. Após essa
Marco Antonio Raimondi data, começou a marcar seus trabalhos com seu nome ou suas
Também conhecido como Marcantonio, foi ourives, desenhista e iniciais. Em certa riqueza de texturas e tons, chegou muito Adamo Ghisi
gravador a buril. Nasceu em 1480 em Bolonha, onde faleceu em próximo à técnica de gravar de seu mestre. Seu sombreado é, Desenhista e gravador a buril, filho de Giovanni Battista, nas-
1539. Aprendeu a desenhar com Franscisco Raibolini (o Francia), com largas superfícies planas de tons, simples e prazeroso. ceu em Mantua em 1530 e faleceu em 1574. Gravou segundo
ourives e pintor, para quem trabalhou obras de nigelo, em cujo vários mestres italianos. Sua maneira de gravar se assemelha à
exercício se familiarizou com o manejo do buril e os princípios de seu pai e à de seu irmão mais velho, Jorge Guisi.
e práticas de gravar a talho-doce. Iniciou a prática da chamada Giovanni Battista Guisi, dito O Mantuano
gravura de interpretação ou reprodução. Foi grande intérpre- Arquiteto, escultor, pintor, gravador a buril e chefe de uma
te de Raphael e admirador da obra de Dürer, tendo copiado família de artistas. Nasceu em 1503 e a data provável de sua Mestre do Dado
em aço a Pequena Paixão, imitando a maneira das xilogravuras do morte é 1575. Foi responsável por uma escola de gravadores Pouco se sabe sobre a vida de Mestre do Dado, pintor e gra-
mestre alemão. Sua reputação foi tão grande que atraiu diver- em Mantua, preservando forte individualidade, num tempo vador a buril. Acredita-se que tenha nascido no princípio do
sos gravadores à sua escola. Teve como discípulos: Agostinho em que praticamente todos os gravadores na Itália estavam século xvi e que tenha trabalhado em Roma de 1532 a 1550.
de Musi, Marcos Desnte, Mestre do Dado, Enea Vico, os Ghisi, sob a influência de Marco Antonio Raimondi. O grande Ignora-se a data de sua morte. Pertenceu à escola de Marco
Bartholomeu Beham e Georg Pencz, entre outros. mestre dessa escola foi Giorgio Ghisi, enquanto os filhos de Antonio Raimondi. Seus trabalhos mostram pouca origina-
Giovanni Battista, Adamo e Diana, foram grandes imitadores lidade na maneira de gravar e forte assimilação do estilo de
de ambos. A característica peculiar de seu estilo de gravar é marco dente [1493–1527] Raimondi. Como desenhista, realizava figuras curtas, com ca-
Agostino de Musi, dito O Veneziano notada na riqueza dos pretos utilizados nas sombras, que são Vênus ferida por um espinho de roseira, s/d beças bem grandes e braços e pernas reforçados. Assinava seus
[segundo Raphael Sanzio]
Desenhista e gravador a buril. Nasceu em Veneza em cerca de parcialmente obtidos pelo livre uso de pontos entre as linhas buril, 26,2 x 16,8 cm trabalhos com as iniciais b.v. ou, mais frequentemente, um
1490 e faleceu em Roma por volta de 1540. Não se sabe ao cer- e, de certa forma, pela mistura de grossas linhas gravadas. dado com a letra b em seu centro.

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Lodovico Carracci Annibale Carracci
Pintor e gravador à água-forte e a buril, nascido em Bolonha em Irmão mais novo de Agostino, foi pintor e gravador à água-
1555. Teve como primeiro mestre Prospero Fontana. Em Bolo- forte e a buril. Nasceu em Bolonha em 1560 e morreu em
nha, fundou com seus primos e discípulos Agostino e Annibale Roma em 1609. Aprendeu pintura com Lodovico Carracci, seu
Carracci a célebre escola de pintura Accademia degli Incamminati. primo, tendo sido considerado o mais hábil pintor italiano
Nessa academia, incentivava-se a revitalização da gravura de li- depois de Raphael, Ticiano e Correggio. Realizou a pintura
nha e desencorajava-se a produção de gravar à água-forte. Ainda da galeria do Palácio Farnese com seu irmão Agostino. Diz-se
que inferiores às de seus primos, as gravuras de Lodovico são que esse trabalho, que consumiu oito anos de sua vida, foi a
bastante estimadas. Faleceu em Bolonha em 1619. causa de sua morte: Annibale teria morrido de desgosto pela
ingratidão do príncipe Farnese, que o recompensou mesqui-
nhamente pela empreitada. Como gravador, sua obra, embora
Agostino Carracci não numerosa, é muito bem desenhada e acabada.
Pintor, gravador à água-forte e a buril, nascido em Bolonha
em 1557. A princípio, exerceu a profissão de ourives. Logo após,
dedicou-se ao desenho, à pintura e à gravura. Teve por mestres Francesco Brizzi
Prospero Fontana (pintura), Bartholomeu Passerotti (dese- Pintor e gravador à água-forte e a buril, nascido em 1575 em
nho) e Domingos Tibaldi, Cornélis Cort e Lodovico Carracci Bolonha, onde morreu em 1623. Foi, inicialmente, sapateiro,
(gravura). Trabalhava suas gravuras com um sistema aberto largando esse ofício para aprender desenho e pintura com
de linhas. Recorreu aos fortes elementos da maneira tardia de Bartolomeu Passarotti e se aperfeiçoar com Luiz Carracci e
Raimondi, acrescentando pouco, mais de maneira constante, o Agostinno Carracci. Colaborou em algumas gravuras do últi-
uso de linhas cruzadas no sombreamento e um método mais mo, tendo dedicado-se também à perspectiva e à arquitetura,
enea vico [1520-1570]
regular de riscas nas frestas das linhas. Os melhores trabalhos que ensinava em curso público.
Os amores de Marte e Vênus, s/d
de Agostino são originais, mas ele também reproduziu pintores [segundo Francesco Mazzuoli, dito o Parmegiano]
como Correggio, Ticiano e Veronese. Como pintor, associou-se buril, 30 x 20,3 cm
a seu primo Lodovico para fundar a Academia degli Incamminati e Guido Reni
colaborou com seu irmão Annibale na pintura da galeria do Pintor e gravador à água-forte. Nasceu em Bolonha em 1575 À esquerda, Vênus nua, sentada em seu leito, amamentando
Cupido no seio direito, passa o braço esquerdo sobre os ombros
palácio Farnese, em Roma. Foi estudioso de diferentes ramos: e morreu na mesma cidade em 1642. Após ter estudado arte de Marte, que está sentado ao seu lado, vestido de armadura.
jocopo de barbari [c.1450- c.1515]
Sagrada Família, s/d de letras e ciências a filosofia, matemática, geografia, astrologia, com Dionisio Calvaert, passou para a escola dos Carracci, Em cima, à esquerda, vê-se um Amor com o corpo coberto de
buril, 15,3 cm x 19 cm historia, poesia, medicina e inclusive música, na qual se diz que tornando-se o seu mais famoso aluno. Na combinação de li- plumagem, crista, cauda e pés de galo, dormindo sentado sobre
foi hábil. Morreu em Parma em 1602. nhas luminosas e pontos, produziu muitas delicadas gravuras uma janela, pela qual entram largos feixes de raios luminosos.
annibale carracci [1560–1609] No canto superior esquerdo, nota-se o monograma do gravador.
à água-forte. Foi imitado não apenas na Itália, mas também
Pietà ou Cristo de Caprarola, 1597
água-forte retocada a buril, 12,3 cm x 16,1 cm
pelos franceses. Seu desenho é puro e correto; as cabeças de

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suas figuras, nobres e graciosas, e as roupagens, tratadas com
muito gosto e mestria. Foi um apaixonado pelo jogo, que lhe
acarretou a perda de posses e amigos, tendo passado os últi-
mos anos de sua vida no esquecimento e na miséria.

Giovanni Benedetto Castiglione


Artista do barroco italiano, Castiglione nasceu em Gênova
em 1609. Era conhecido como Il Grechetto na Itália e como
Le Benédette na França. Sua formação inicial não é clara. Pode
ter estudado com Sinibaldo Scorza, Antoon van Dyck e Peter
Paul Rubens. Pintor e desenhista, pertenceu à escola genovesa,
tendo vivido em Roma de 1634 a 1645. Morreu em Mântua,
como artista da corte, em 1664. Suas gravuras são notáveis
pelo jogo de luz e sombra, que o levou a ganhar o apelido de
segundo Rembrandt. Em 1648, inventou a monotipia, técnica
com a qual se consegue reproduzir um desenho ou mancha
de cor numa prova única. Nos estudos das cabeças orientais,
mostra forte conhecimento da obra de Rembrandt. giovanni battista ghizi [c.1503–c.1575]
Cupido tocando cravo, 1538
buril, 12,2 x 8,9 cm

Stefano della Bella


Desenhista e gravador à água-forte e a buril, nasceu em Flo- Salvatore Rosa
rença em 1610. A princípio, dedicou-se à pintura, tendo como Pintor e gravador à água-forte. Nasceu em Renella, vila perto
mestre Cesar Dandini. Seu mestre em gravura foi Remigio de Nápoles, em 1615 e faleceu em Roma em 1673. Cultivou
giovanni benedetto castiglioni [1609–1664] giovanni benedetto castiglioni [1609–1664]
Cantagallina, cuja oficina teve também como discípulo Jacob a poesia e a música, estudou em Nápoles e foi influenciado
Grandes cabeças com toucadas a oriental, s/d Grandes cabeças com toucadas a oriental, s/d
água-forte, 17,8 x 14,8 cm água-forte, 17,8 x 14,8 cm Callot. Com o tempo, adquiriu uma maneira própria de gra- pelo realismo de Ribera. Incentivado por Giovanni Lanfranco,
var, que se distingue pelo bom gosto, a delicadeza e a ligeireza viajou para Roma em 1635, mas teve de retornar a Nápoles em
de sua ponta. Trabalhou em Roma, em Paris e em Florença, 1639, após um caso de malária. Mudou-se para Florença, onde
onde morreu em 1664. Gravou assuntos históricos, caçadas, foi contratado pela família Médici e fundou a Accademia dei
paisagens, marinhas, animais e ornatos, constando de sua Percossi para escritores e artistas. Rosa retornaria a Roma em
obra mais de 1.400 gravuras. 1649 para trabalhar como pintor histórico.

22 23
Giovanni Battista Piranesi

Nascido em Veneza em 1720, filho de um construtor, Piranesi à água-forte, flutua sem descanso, observando os arranjos
recebeu formação em cenografia e perspectiva com o gravador espaciais na proliferação de perspectivas, nos desdobramen-
Carlo Zucchi. Arquiteto e amante da arqueologia, dedicou-se tos espaciais, no vaivém de escadas, pontes e passagens. Ob-
à gravação dos grandes monumentos da Antiguidade romana, servamos, inquietos, a luz provocar e produzir escuridão, e
realizando um trabalho de grande magnitude e força expres- as paredes absorverem-na sem refleti-la, assim como nota-
siva num estilo livre, cenográfico e impetuoso. Suas gravuras mos os raios de luz que deixam seu percurso natural para
são modeladas pela luz, em perspectiva manipulada, que tras- se curvarem sobre os objetos. Nessas gravuras, a noções de
borda por vezes a quadratura das mesmas. As figuras huma- proximidade e de distância são abolidas, e o tempo e o es-
nas são atemporais, apenas esboços, ao estilo de Callot e de paço se fundem. Passado, presente e futuro parecem não
Della Bella. existir. Piranesi fala de um outro lugar e de um outro tempo,
Piranesi produz suas primeiras vedute de Roma em peque- levando-nos a uma interioridade pouco confortável, em que
no formato para guias de turistas, e em 1743, publica as suas nos deparamos com nossos mais sutis temores, que não sa-
primeiras 12 águas-fortes, Prima parte di architettura e prospettive. bemos nominar.
Inicia uma carreira de cerca de quarenta anos, durante a qual O termo veduta se aplica a pintura, desenho ou gravura
produziu mais de mil pranchas publicadas em 19 obras pela que representa uma cidade, um monumento ou um lugar com
sua própria casa impressora. Seu estilo é inconfundível e sua concepção acentuadamente topográfica. As vedute têm sua ori-
arte aponta para a estética do sublime, deixando transpare- gem nas peregrinações a Roma no século xviii, no tempo de
cer a tensão entre razão e sensibilidade. Faleceu em Roma redescoberta da Antiguidade: Herculano, em 1719, e Pompeia,
em 1778. em 1748. Seus maiores inovadores foram Canaletto, Guardi
A magnífica série Le carcere d’invenzione é um exemplo fas- e Piranesi, que transformou a vista gravada para souvenir de
cinante da inquietação e da genialidade do artista. Nela, turistas intelectuais e aristocratas num sofisticado meio de co-
propõe estruturas espaciais fantásticas num espaço experi- municação erudita de grande carga expressiva. Assim, pratica giovanni battista piranesi [1720–1778] giovanni battista piranesi [1720–1778]
mental labiríntico, no qual não existe um ponto de vista fixo a veduta direta, ou de reconstituição fidedigna, segundo fontes Le carcere d’invenzione, 1750–3, frontispício Le carcere d’invenzione, 1750–3, prancha vii
documentais, e a veduta ideata, em que a ruína serve de matéria água-forte, 72,8 x 53 cm água-forte, 72,8 x 53 cm
e central, nem uma perspectiva linear a ser seguida. Com as
emoções à flor da pele, nosso olhar, ao contemplar essa série para sua vertente apaixonada e trágica.

24 25
giovanni battista piranesi [1720–1778] giovanni battista piranesi [1720–1778]
Le carcere d’invenzione, 1750–3, prancha x Le carcere d’invenzione, 1750–3 prancha xiv
água-forte, 53 x 72,8 cm água-forte, 53 x 72,8 cm

26 27
giovanni battista piranesi [1720–1778]
Le Antichità romane, 1750–3
tomo III, segundo frontispício
água-forte, 39,9 x 59,2 cm

giovanni battista piranesi [1720–1778]


Le Antichità romane, 1750–3, tomo III, prancha LI
água-forte, 39,9 x 60,5 cm

giovanni battista piranesi [1720–1778]


Le Antichità romane, 1750–3
tomo III, prancha XVIII
água-forte, 39,9 x 59,9 cm

28 29
Francesco Bartolozzi
Gravador italiano cujo período mais produtivo foi passado em
Londres. Nascido em Florença, estudou com os artistas floren-
tinos Ignazio Hugford e Domenico Giovanni Ferretti, que o
instruiu em pintura. Após dedicar três anos à pintura, passou a
estudar gravura com Joseph Wagner em Veneza. Suas primeiras
produções foram no estilo de Marco Ricci e Zuccarelli, entre
outros. Seguiu para Londres em 1764, onde viveu quase quarenta
anos, tendo produzido enorme número de gravuras e contribu-
ído com várias delas para The Shakespeare Gallery, de John Boydell.
Também desenhou esboços de sua autoria em crayon vermelho.
Pouco depois de chegar em Londres, foi nomeado “Gravador do
Rei” e eleito um dos membros fundadores da Royal Academy, em
1768. Em 1802, tornou-se presidente fundador da Sociedade de
Gravadores. No mesmo ano, aceitou o cargo de diretor da Acade-
mia Nacional de Lisboa, cidade onde morreu. Seu filho Stefano
Gaetano Bartolozzi, nascido em 1757, também foi gravador.

Giovanni Volpato
Desenhista e gravador, Volpato nasceu em Bassano em 1733 e
faleceu em Roma em 1803. Nos primeiros tempos de sua vida,
dedicou-se à arte de bordar. Em seguida, aprendeu a gravar. Em
Veneza, foi discípulo de Joseph Wagner, gravador e mercador de francesco bartolozzi [1725–1815] francesco bartolozzi [1725–1815]
gravuras, e de Francisco Bartolozzi. Já em Roma, fundou uma es- Harmony, 1795 Youth, 1795
agostino carracci [1557–1602] [segundo John Francis Rigaud] [segundo John Francis Rigaud]
cola de gravura e escreveu, em 1786, o livro Princípios do desenho, que
Ecce Homo, 1587 pontilhado e água-forte, 16,6 x 13,5 cm pontilhado e água-forte, 16,4 x 13,2 cm
[segundo Antonio Correggio] contém 36 pranchas gravadas de antigas estátuas. Essas pranchas
buril, 37,5 x 26,6 cm foram gravadas por ele e por Raphael Morghen, um de seus há-
beis discípulos. Em Roma, gravou segundo os mais importantes
artistas italianos, como Raphael, Michelangelo, Paulo Cagliari,
dito o Veronense, Leonardo da Vinci, Guercino e Tintoretto, entre
outros. Suas gravuras abertas em Roma são numerosas e podem
se dividir em duas espécies: não coloridas e coloridas à aquarela.

30 31
Coleção Alemã Israel van Meckenem
Gravador e ourives, era filho de Israhel van Meckenem, o
Velho, também ourives, que se estabeleceu em Bocholt. Nas-
ceu aproximadamente em 1440 e faleceu em 1503 em Bochott.
Estudou com o Mestre e.s. no sul da Alemanha e produ-
Israel van Meckenem [c.1440/1445–1503] ziu mais de seiscentas chapas, cuja maioria era constituída de
cópias de outros artistas, como Dürer e Martin Schongauer.
Martin Schongauer [c.1450–1491] Seus primeiros trabalhos foram bastante crus, mas na década
Albrecht Dürer [1471–1528] de 1480 desenvolveu um estilo pessoal eficaz e fez obras cada
Lucas Cranach, Sênior [1472–1553] vez maiores e mais bem acabadas.
Hans Sebald Beham [1500–1550]
Martin Treu [ativo em 1540–1543] Martin Schongauer
Georg Pencz [c.1500–1550] Ourives, pintor e gravador a buril, descendente de uma família
Heinrich Aldegrever [c.1501/1502–c.1556/1561] de origem nobre de Augsburgo. Nasceu em Colmar por volta
Virgil Sol [1514–1562] de 1450 e faleceu em 1491, tendo sido o mais importante grava-
dor alemão antes de Albrecht Dürer. Estabeleu em Colmar uma
escola muito importante de gravura, na qual floresceram uma
nova geração de “Pequenos Mestres” e um grande grupo de ar-
tistas de Nuremberg. Produziu grande número de gravuras, que
foram amplamente vendidas não só na Alemanha, mas também
na Itália e mesmo na Inglaterra e na Espanha. Vasari afirmou
que Michelangelo copiou uma de suas gravuras: o Julgamento de
Santo António. Seu estilo demonstra, em vez de influência italia-
na, um estilo gótico muito claro e organizado. Estabeleceu um
sistema de criar volume, por meio de linhas cruzadas em duas
direções, que lhe foi ensinado pelo Mestre das iniciais e.s. e que
seria desenvolvida ao máximo por Dürer. Foi o primeiro grava- israel van meckenem [c.1440/1445–1503] martin schongauer [c.1450–1491]
dor a usar linhas curvas paralelas, provavelmente girando a placa Santa Bárbara, s/d A morte da virgem, s/d
buril, 16,3 x 10,9 cm buril, 25,7 x 17 cm
contra um buril estável. Desenvolveu ainda uma técnica a buril
que produzia linhas mais profundas sobre a placa, permitindo
que fossem feitas mais impressões antes de a placa se desgastar.

33
Albrecht Dürer

Gravador, desenhista e pintor, nasceu em Nuremberg, maior centro uma das maiores criações da arte alemã. Tal obra trouxe ao artista
de produção gráfica da Alemanha, em 21 de maio de 1471. Tercei- de 27 anos de idade riqueza e fama em toda a Europa, tendo sido
ro dos 18 filhos de um ourives, demonstrou desde cedo habilida- publicada em latim e alemão em Nuremberg em 1498.
de para o desenho e o manuseio do buril. Fez experiências com a A publicação se mostrou inovadora, já que até então as gravu-
água-forte e a ponta-seca, tornando-se aprendiz do pintor Michael ras em livros ilustrados eram pequenas e apareciam no meio dos
Wolgemut com apenas 13 anos de idade. Estudou gravura no ateliê textos. Dürer subverteu a ordem de importância das informações,
do importante impressor alemão Anton Koberger. Já na adolescên- tendo o trabalho do artista passado a preponderar sobre o texto,
cia, demonstrou grande interesse pelas gravuras de Martin Schon- impresso no verso das gravuras. As imagens gravadas por Dürer
gauer. Foi um artista erudito, apaixonado pelo Renascimento. Pos- para essa obra, identificadas por seu monograma, baseiam-se em
suía profundo conhecimento da matemática e da literatura clássica antigas representações do Apocalipse presentes nas versões então
greco-romana, tendo demonstrado interesse também pela filosofia correntes nas bíblias impressas da época.
e a arqueologia. Após completar sua formação, iniciou um perío­ Entre as mais completas gravuras realizadas por Dürer a bu-
do de viagens. Visitou Florença, Bolonha e Veneza (1494), onde ril, encontra-se Adão e Eva (1504), obra em que ele, fazendo uso
viveu durante um ano e meio (1505), entrando em contato com a da medida áurea e utilizando a régua e o compasso na constitui-
rica produção de gravuras italianas. Também viajou para os Países ção das figuras segundo o estilo utilizado na Antiguidade clás-
Baixos (1520–1), quando estudou profundamente teorias sobre a sica, traduz seu profundo interesse pelo estudo das proporções
proporção humana, a geometria e as fortificações, e escreveu po- humanas. Adão e Eva foram inspirados nas esculturas de Apolo
esia e sobre teoria da arte. Grande humanista, foi empregado pelo de Belvedere e Vênus, tendo sido entalhados em seus contornos
imperador Maximiliano i. Tinha profundo interesse pela natureza com linhas delicadas, para depois serem detalhadamente pre-
e pelos animais, retratando-os em diversas gravuras. Numa de suas enchidos. A gravura exibe variedade de tons e texturas, além de
viagens, contraiu malária, falecendo em sua cidade natal no dia 6 de sutis gradações de sombra e de luz.
abril de 1528, aos 57 anos. Embora seu foco esteja nas figuras, a autêntica arte para Dürer
Sua obra inclui sessenta telas, mais de cem gravuras em me- está contida na natureza representada com maestria em seus míni-
tal, cerca de 250 xilogravuras e mil desenhos, além de três livros mos detalhes. A inclusão de símbolos adicionais cria interesse visual
impressos. Dois deles foram publicados em vida: Instrução para me- por toda a gravura, a exemplo da serpente, personificação da deso-
dições à régua e ao compasso, de 1525, e Tratado sobre fortificações, de 1527. bediência e da provocação a Deus; do galho na mão de Adão, que
O livro Sobre a proporção do corpo humano saiu logo após sua morte, em representa a árvore da vida; e de vários animais, como o papagaio, a
albrecht dürer [1471–1528]
1528. Entre as mais célebres obras produzidas pelo Dürer, desta- cabra no topo do penhasco, o rato, o gato, o coelho etc., presentes Adão e Eva, 1504
ca-se O apocalipse, série de 15 xilogravuras dramáticas, consideradas nesta belíssima gravura, sugerindo forte carga simbólica. buril, 25 x 19,2 cm

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albrecht dürer [1471–1528]
albrecht dürer [1471–1528] albrecht dürer [1471–1528]
Adoração do Cordeiro divino, c. 1496
Os quatro anjos vingadores, 1496 Combate de São Miguel contra o dragão, 1497
Babilônia, a grande meretriz, c. 1496–7 [da série “O Apocalipse] [da série “O Apocalipse]
O anjo que tem a chave do abismo, c. 1496–7 buril, 39 x 27 cm buril, 39 x 27 cm
Os quatro cavaleiros, c. 1497–8
A mulher revestida de sol, c. 1497
[da série “O Apocalipse]
buril, 39 x 27 cm

36 37
Lucas Cranach, Sênior
Pintor renascentista de retratos de príncipes alemães e dos lí-
deres da Reforma protestante, cuja causa abraçou com entu-
siasmo, tornando-se amigo próximo de Lutero. Pintou também
temas religiosos, em primeiro lugar na tradição católica e, de-
pois, buscando encontrar novas maneiras de transmitir as preo-
cupações religiosas luteranas. Nascido em 1472, serviu por mais
de sessenta anos na qualidade de pintor da corte dos duques de
Saxônia, tendo sido também gravador. Suas pinturas e xilogra-
vuras são numerosas e contrastam com o número reduzido de
gravuras em cobre. A cor, a luz e a sombra não eram especiali-
dades suas. Sempre contornava as formas em negro, em vez de
utilizar o chiaroscuro. Suas xilogravuras eram abertas a partir de
seu desenho por outros artistas. Dedicou-se ainda ao comércio,
possuindo uma loja de livros e papéis, e uma farmácia. Faleceu
em Weimar em 1553, aos 81 anos de idade.

Hans Sebald Beham


Pintor e gravador a buril e em madeira, nasceu em Nuremberg
em 1500 e morreu em 1550. Aprendeu gravura e pintura com
Dürer, tendo integrado a plêiade dos famosos “Pequenos Mes-
tres” da Alemanha. Suas gravuras são espirituosas e abertas com
um buril cheio de expressão e nitidez. No fim da vida, abandonou
a profissão para estabelecer-se como comerciante de bebidas.

albrecht dürer [1471–1528] albrecht dürer [1471–1528] Martin Treu lucas cranach , sênior [1472–1553]
As quatro feiticeiras, 1497 A virgem com o macaco, c. 1498 Gravador a buril, de cuja vida nada se sabe, exceto ter trabalhado Cristo na cruz (A crucificação). s/d
buril, 19,2 x 12,7 cm buril, 17,6 x 11,6 cm [da série “A paixão de Jesus Cristo”)
entre 1540 e 1543. Pertence ao grupo dos “Pequenos Mestres”
xilogravura, 25,9 x 18 cm
da escola Alemã, tendo vivido provavelmente em Nuremberg.
Ao que parece, estudou o estilo de Lucas van Leyden.

38 39
Georg Pencz
Pintor e gravador nascido em Nuremberg por volta de 1500
e falecido em Breslau em 1550. Depois de aprender pintura
e gravura com Albrecht Dürer, seguiu para a Itália, a fim de
estudar a obra de Raphael. Gravou muitas estampas sob a
direção de Raimondi, cuja maneira de trabalhar soube imitar
com suma fidelidade.

Heinrich Aldegrever
Ourives, pintor e gravador nascido em Paderborn por volta
de 1500. Não se sabe ao certo a data de seu falecimento, ocor-
rido entre 1556 e 1561. Estudou pintura e gravura da escola de
Albrecht Dürer. Era outro dos “Pequenos Mestres” do grupo
de artista alemães e se tornou luterano. Como pintor, imi-
tou a maneira do mestre. Nos últimos anos de vida, dedicou-
se inteiramente à gravura. Fez cerca de 290 gravuras, em sua
maioria criações próprias. Aquelas diminutas, de desenho um
tanto gótico, foram gravadas com um buril preciso e delicado.
Realizou também diversas gravuras ornamentais, tendo seu
estilo se aproximado tanto do de Albrecht Dürer, que algumas
vezes era chamado de Albert de Westphalia.

Virgil Solis
Nascido em Nuremberg em 1514, foi desenhista, iluminador,
pintor e gravador a buril e à água-forte. Fez parte do grupo
dos “Pequenos Mestres” da Alemanha. Sua maneira correta heinrich aldegrever [c.1501/1502–c. 1556/1561] heinrich aldegrever [c.1501/1502–c. 1556/1561]
georg pencz [c.1500–1550] O mestre de cerimônias, 1538 Um casal dança, 1538
e delicada se aproxima da maneira de Hans Sebald Beham, e
A soberba, s/d [da série “Os grandes festejadores em bodas”] [da série “Os grandes festejadores em bodas”]
[da série “Os sete pecados mortais”]
tanto suas estampas segundo Raphael, Lucas van Leyden buril, 11,9 x 8,1 cm buril, 11,9 x 8,1 cm
buril, 8,2 x 5,2 cm e Aldegrever quanto suas criações próprias são hoje muito
raras. Faleceu em sua cidade natal em 1562.

40 41
Coleção Holandesa Lucas van Leyden
Nascido em Leiden em 1494, foi pintor sobre vidro, a têm-
pera e a óleo, bem como gravador a buril e à água-forte. Aos
nove anos, já gravava, tendo aprendido a manejar o buril com
um ourives e a gravura à água-forte com um armeiro. Abria
Lucas van Leyden [1494–1533] suas chapas com talho fino e delicado, que, portanto, não
resistiam a muitas tiragens. Esmerado e perfeccionista, Lucas
Cornelis Cort [c.1533/1536–1578] van Leyden inutilizava todas as chapas que apresentassem o
Zacharias Dolendo [1561–c.1600] mínimo defeito ou mancha, razão pela qual suas estampas são
Jan Saenredam [c.1565/1570–1607] raríssimas. Gozava de grande reputação e Giorgio Vasari o
Jan Muller [1570–1625] considerava acima de Albrecht Dürer. Hoje, é universalmente
considerado uma das maiores figuras da história das artes grá-
Jacob Matham [1571–1631] ficas. Suas gravuras nos fornecem importantes registros dos
Willem Jacobsz Delff [1580–1638] hábitos e costumes dos Países Baixos, como se pode atestar
Nicolas Ennes Visscher [ativo em 1580] nas gravuras O dentista e Os músicos. Ainda em vida, suas obras
Hendrik Goltzius [1558–1617] alcançaram preços elevados, tornando-se, com o passar do
tempo, cada vez mais caras. Nas xilogravuras, as chapas de
Rembrandt Harmenszoon van Rijn [1606–1669] madeiras eram desenhadas pelo artista, mas abertas por um
hábil gravador. Morreu em 1533, aos 33 anos, em sua cidade
natal.

Cornelis Cort
Desenhista e gravador a buril, nasceu em Horn, na Holan-
da, por volta de 1533. Já era tido como um grande gravador
quando, em Veneza, conheceu Ticiano, do qual gravou as mais
belas obras. Viveu em Roma, onde abriu uma escola de gra- lucas van leyden [1494–1533] lucas van leyden [1494–1533]
vuras, da qual saiu o célebre Agostino Carracci. Suas gravuras O dentista, 1523 Os músicos, 1524
buril, 12,9 x 8,6 cm buril, 10,6 x 7,5 cm
desenvolvidas em Roma são muito apreciadas pela correção
do desenho, a maneira espirituosa e o bom gosto com que
foram abertas. Faleceu em Roma em 1578.

43
Zacharias Dolendo Jacob Matham
Desenhista e gravador a buril nascido em Leiden, em 1561. Foi Desenhista e gravador a buril, nasceu em Harlem em 1571.
discípulo de Jacob de Gheyn, cuja maneira imitou, burilando Hendrik Goltzius, seu padrasto, ensinou-lhe o desenho e a
suas chapas com firmeza e propriedade de execução. gravura, tornando-o um hábil artista. Passou alguns anos na
Itália, abrindo muitas estampas de grandes pintores italianos.
Manejava o buril com grande desembaraço. Faleceu em sua
Jan Saenredam cidade natal, em 1631.
Natural de Leiden, tornou-se desenhista, pintor e gravador
a buril. Aprendeu pintura com Jacob de Gheyn e a arte de
gravar com Hendrik Goltzius, a quem tomou como modelo Willem Jacobsz Delff
e imitou com tal perfeição, que algumas de suas gravuras Pintor e gravador a buril nascido em 1580 em Delft, onde
podem ser confundidas com as de seu mestre. Gravou com faleceu em 1638. Suas gravuras são desenhadas com correção e
buril firme, fácil e largo. Em suas composições, o desenho é abertas com buril fácil, nítido e expressivo.
mais correto e menos amaneirado do que naquelas que abriu
segundo Goltzius e outros mestres.
Nicolas Ennes Visscher
Desenhista, gravador à água-forte, editor e mercador de es-
Jan Muller tampas, viveu em Amsterdã por volta de 1580. Produziu e
Gravador a buril, nasceu, segundo alguns, em Amsterdã. Pou- executou, de forma magistral, várias águas-fortes de figuras,
co se sabe sobre a sua vida. Foi discípulo de Goltzius. Para animais e vistas, bem como diversos retratos.
Levêque, foi o gravador dotado de maior destreza no manejo
do buril e aquele que empregou o menor número de talhos
lucas van leyden [1494–1533]
para representar objetos. Com imensa habilidade, obriga o Hendrik Goltzius
Retrato de um moço, 1519 mesmo talho a servir-lhe de primeiro e de segundo para com- Pintor, desenhista e gravador a buril, nasceu em Mulbrecht,
buril, 18,4 x 12,2 cm por uma figura inteira. Raramente, faz um terceiro talho, e no Ducado de Juliers, em 1558, falecendo em Harlem em 1617.
todos os seus planos, apesar da economia, são artisticamente Suas gravuras são corretamente desenhadas e gravadas a buril
Lucas van Leyden realizava constantemente experiências para diferenciar superfícies variados no trabalho e no tom. Segundo Sprangers, era um willem jacobsz delff [1580–1638]
ora largo (em que os traços se recortam, formando ângulos),
e materiais. Nesta gravura, as longas linhas paralelas destacam belamente as vestes Retrato de João Maurício, conde de Nassau, s/d
e o chapéu do jovem. A uniformidade do fundo aumenta a riqueza de seus trajes. exímio desenhista, porém amaneirado nas extremidades. Rea- buril, 43,5 x 30,5 cm ora fino (em que o artista trabalha com traços finos e parale-
Embora não haja nenhuma evidência direta, alguns comentaristas acreditam lizou 88 gravuras. los), à maneira de Dürer e de Lucas van Leyden. Levou a téc-
tratar-se de um autorretrato. Seu tema é, evidentemente, uma meditação sobre a nica do buril à perfeição, tendo formado discípulos notáveis,
morte. O jovem homem aponta para o crânio, um lembrete da natureza transitória como Jacob Matham, Jan Muller, Jan Saenredam e Swanevelt,
da vida. Suas vestes elegantes e seu chapéu sublinham também o tema vanitas:
que se inspiraram em sua maneira de gravar.
a alusão à insignificância da vida terrena e à efemeridade da vaidade.

44 45
jan muller [1570–1625]
O repouso no Egito, 1593
buril, 23 x 20,2 cm

nicolas ennes visscher [ativo em c.1580)


Um rapaz tirando passarinhos de um ninho, s/d
buril, 20,1 x 14,4 cm

hendrik goltzius [1558–1617]


A Sagrada Família, 1580
[segundo Bartolomeu Spranger]
buril, 28,2 x 21 cm

46 47
Rembrandt Harmenszoon van Rijn

Nasceu em 15 de julho de 1606 em Leiden. Filho de um mo- seus quadros. Apesar do sucesso financeiro como artista, pro-
leiro, é considerado o maior artista holandês, distinguindo- fessor e comerciante de arte, a propensão de Rembrandt para
se não apenas na pintura, como também no desenho e nas a vida ostentatória forçou-o a declarar falência em 1656. Sua
gravuras em água-forte. Foi como retratista que consolidou vida pessoal continuou a ser marcada pela tristeza. Hendri-
sua fama e enriqueceu. Quando menino, frequentou a Escola ckje morreu em 1663 e seu filho Tito em 1668, com apenas 27
Latina, tendo sido matriculado na Universidade de Leiden anos de idade. Onze meses depois, no dia 4 de outubro de
aos 14 anos de idade. Tornou-se aprendiz do pintor Jacob van 1669, Rembrandt morreu em Amsterdã, deixando uma tela
Swanenburgh, com quem passou três anos. Depois de breve, inacabada e o modesto quarto onde vivia, composto de uma
mas importante aprendizado de seis meses com Pieter Last- cama simples, uma cadeira, um espelho e uma mesa.
man, em Amesterdã, famoso pintor com quem Rembrandt Rembrandt é considerado um dos grandes gênios da pin-
aprendeu a técnica do claro-escuro, abriu, com o colega Jan tura do Barroco e um dos mais importantes gravadores de
Lievens, estúdio em Leiden em 1624 ou 1625. Em 1627, passou todos os tempos. Realizou aproximadamente 290 gravuras,
a aceitar alunos. Mudou-se para Amsterdã em 1631, casando- em que se destacam o domínio técnico da água-forte, a ori-
se três anos depois com Saskia van Uylenburgh, prima de um ginalidade, o experimentalismo e a expressividade que lhe ca-
próspero negociante de arte. racterizam. Nas gravuras, evidencia-se um estilo espontâneo e
Em contraste com sua bem-sucedida carreira pública, a livre, no qual se observa a utilização de traços fluidos em seus
vida familiar de Rembrandt foi marcada pelo infortúnio. Entre motivos, que se assemelham a esboços. O artista é o grande
1635 e 1641, Saskia deu à luz a quatro filhos, mas apenas o mestre do chiaroscuro e criou em muitas de suas gravuras efeitos
último, Titus, sobreviveu. Saskia faleceu em 1642 aos trinta dramáticos de luz e sombra. Em seu experimentalismo, vê-se
anos. Hendrickje Stoffels, contratada como empregada da que modificou e retrabalhou as matrizes com a intenção de
casa, se tornaria esposa do artista e modelo para muitos dos obter a riqueza de efeitos que desejava.

rembrandt hermenszoon van rijn [1606–1669]


O triunfo de Mardoqueu, c. 1641
água-forte e ponta-seca, 17,5 x 21,5 cm

48 49
rembrandt hermenszoon
van rijn [1606–1669]
Homem velho com barba longa
e manga da camisa branca,
1628–1633
água-forte, 7,5 x 6,4 cm

Autorretrato com Saskia, 1636


água-forte, 10,5 x 9 cm

A leitora, 1634
água-forte, 13,1 x 10,9 cm

O camponês e sua família, c.1652


água-forte, 10,8 x 9,2 cm

página à esquerda
A anunciação aos pastores, 1634
água-forte, buril e ponta-seca
26,1 x 22 cm

51
rembrandt hermenszoon van rijn [1606–1669] rembrandt hermenszoon van rijn [1606–1669]
Autorretrato com boina e cachecol, 1633 Três cabeças de mulheres, uma dormindo, 1637
água-forte, 13,7 x 10,7 cm água-forte, 16 x 11 cm

rembrandt hermenszoon
van rijn [1606–1669]
O ministro Jan Cornelis Sylvius, 1633
água-forte, 15,5 x 14,2 cm

52 53
54 55
Coleção Flamenga Jacob Bos
Desenhista e gravador a buril, pouco se conhece sobre a sua
vida. Sabe-se que trabalhou basicamente para Lafréri e outros
editores em Roma, tendo provavelmente aprendido a gravar
com algum aluno de Raimondi.
Jacob Bos [1549–1567]
Ioan Sadeler [1550–1600] Ioan Sadeler (ou Johann, ou Jean, Jans ou Hans)
Raphael Sadeler, o Velho [1560/1561–1628/1632] Nascido em Bruxelas numa célebre família de gravadores,
Cornelius Galle, Sênior [1570/1576–1641/1650] morreu provavelmente em Veneza em 1600. Desenhista e gra-
Egidius Sadeler [1570–1629] vador a buril desde os vinte anos de idade, percorreu muitas
cidades da Europa para aprimorar a sua arte. Sua maneira de
Raphael Sadeler, o Jovem [1584–1632] gravar não foi sempre a mesma, tendo passado a usar um buril
Antoon Van Dyck [1599–1641] mais largo depois de viagem à Itália. Interessava-se por temas
Paulus Pontius [1603–1658] históricos, retratos e paisagens.
Peter de Jode, Junior [1604–1674]

Raphael Sadeler, o Velho ou Sênior


Desenhista e gravador a buril, nasceu por volta de 1560 em
Bruxelas e morreu entre 1628 e 1632. Teve como mestre e co-
laborador seu irmão Ioan Sadeler. Representava muito bem o
corpo humano, cujas extremidades figurava com muito cuida-
do e precisão. Suas boas gravuras são buriladas com nitidez
e sem dureza. Gravou muito segundo pinturas dos mestres
alemães.

Cornelius Galle, Sênior ou Elder


Desenhista, gravador a buril e mercador de estampas, nasceu
jacob bos [1549–1567]
na Antuérpia por volta de 1570, morrendo na mesma cidade A velha com pretensão à mocidade, s/d
em aproximadamente 1641. Após aprender a gravar com seu [segundo Sofonisba Anguissola]
pai, Philippe Galle, aprimorou seus conhecimentos em Roma, água-forte, 33,7 x 42,2 cm

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notando-se mudanças em seu estilo. Até então, havia certa nense e de Ticiano. Em todas as cidades onde esteve, pintou
dureza em seu modo de gravar; depois, o desenho se tornou quadros e retratos. Viveu e trabalhou predominantemente na
correto e o buril passou a ser manejado com liberdade e bom Antuérpia, onde concebeu o projeto de pintar retratos dos
gosto. personagens ilustres de seu tempo. Doze chapas dessa coleção,
dita Cem retratos, foram aberta pelo artista e as demais pelos
mais célebres gravadores flamengos de então. Em 1632, mu-
Egidius Sadeler ou Aegidius, Egidius e Gillis dou-se para a Inglaterra, onde pintou diversos retratos do rei,
Pintor, desenhista e gravador a buril e à ponta-seca. Nasceu da Família Real e de membros da corte. Faleceu em Blackfrias
na Antuérpia em 1570 e morreu em Praga em 1629. Sobrinho em 1641. Nenhum artista o excedeu no gênero do retrato.
de Ioan e Raphael Sadeler, Sênior, que foram seus mestres.
Em geral, seu desenho é correto, tendo gravado segundo com-
posições próprias e de outros mestres, com buril ora fino, à ma- Paulus Pontius
neira de Dürer, ora largo, à maneira de Goltzius e Jan Muller. Desenhista e gravador a buril, nasceu na Antuérpia em 1603.
Seus retratos são muito afamados. Rubens dedicava-lhe particular amizade e comprazia-se em
dirigir-lhe o buril, fazendo-o gravar sob sua inspeção. Assim,
o desenho e a expressão de suas figuras e caracteres é correto,
Raphael Sadeler, o Jovem sua execução do claro-escuro, bela, e seu buril, perfeito. Seus
Nasceu na Antuérpia em 1584. Filho de Raphael Sadeler, retratos são admirados pela expressão que soube empregar
Sênior, foi treinado como gravador por seu pai, tendo traba- nas cabeças. Faleceu em 1658.
lhado com ele em Munique entre 1604 e 1632, quando veio a
falecer.
Peter de Jode, Junior
Nascido na Antuérpia em 1604, aprendeu a gravar com seu
Antoon Van Dyck pai. Em muitas de suas estampas, igualou-se aos melhores gra-
peter de jode , junior [1603–1674] paulus pontius [1603–1658]
Pintor e gravador a buril e à água-forte, nascido na Antuérpia Henricvs Liberti: Groeningensis Cathed. Organista Aubertus Miraeus Bruxellensis...
vadores de seu tempo. As gravuras que realizou para a coleção
em 1599. Aos 11 anos de idade, foi enviado para a escola do [Retrato de Henrique Liberti], 1640–1650 [Retrato de Alberto Miraeus], 1630–1640 dos Cem retratos, de Antoon Van Dyck, são irrepreensíveis. Fa-
pintor Henrique van Balen. Em 1615, entrou para a oficina de [segundo Antoon Van Dyck] [segundo Antoon Van Dyck] leceu em 1674.
buril, 26,5 x 19,7 cm buril, 24,1 X 16,7 cm
Rubens, na qual trabalhou por três anos, ajudando o mestre a
terminar suas obras e realizando cópias de seus quadros. Foi
reconhecido mestre da confraria de S. Lucas. Em 1626, seguiu
para a Itália, onde visitou Veneza, Gênova, Roma, Florença
e Palermo. Estudou as obras de Giorgione, de Paulo Vero-

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raphael sadeler , o velho
[1560/1561–1628/1632]
Honos, 1591
[da série “As quatro idades do homem”]
buril, 22,2 x 25,5 cm

ioan sadeler [1550-1600]


O opulento guloso à mesa e
o mendigo Lázaro, c. 1598 antoon van dyck
[da série “As cenas de cozinha”, segundo [1599–1641]
Jacob da Ponte, dito Bassano, o Velho] Ticiano e sua amante, s/d
buril, 23,3 x 30 cm água-forte e buril, 30 x 22,6 cm

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Coleção Francesa

Nöel Garnier [c.1470/1475–post.1544]


François Perrier [1590–1650]
Jacques Callot [1592–1635]
Claude Mellan [1598–1688]
Egidio Rousselet [1614–1686]
Gérard Audran [1630–1703]
Etienne Picart, dito o Romano [1631–1721]
Gérard Edelinck [1640–1707]
Petrus Drevet [1663–1738]
Charles Dupuis [1685–1742]
Henri Simon Thomassin [1687–1741]

françois perrier [1590–1650]


Minerva: cena de batalha, 1645
[In: Icones et segmenta illustrium e marmore tabularum quae Romae...]
[segundo Sofonisba Anguissola]
água-forte, 25,3 x 38 cm

63
jacques callot [1592–1635]
Les misères et les mal-heures
de la guerre, 1633
Frontispício
O saque [pr. 5]

página à direita,
O alistamento da tropa [pr. 2]
A batalha [pr. 3]
O suplício da Polé [pr. 10]
O suplício da forca [pr. 11]
A fogueira [pr. 13]
O suplício da roda [pr. 14]
água-forte, 10 x 20 cm

64 65
claude mellan [1598–1688]
A Santa Verônica de Jesus Cristo, 1649
buril, 43 x 31,4 cm

A Santa Verônica é muito afamada pela maneira singular com que foi executada gérard audran (1630–1703)
num só talho gigante e circular, que começa na ponta do nariz de Jesus Cristo. Aenée sauvant son pére de lémbrazement de Troye, s/d
[segundo Domingos Zampieri, dito o Domenichino]
buril, 53 x 39 cm

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petrus drevet (1663–1738)
Hyacinthus Rigaud Eques in Regis..., 1701
[segundo Hyacinthe Rigaud]
água-forte, 62,1 x 45,5 cm
gérard edelinck (1640–1707) étienne picard [1631–1721]
Albert Dürer Gur, s/d Santa Cecília cantando os louvores de Deus, s/d
buril, 31,2 x 20 cm [segundo Domingos Zampieri, dito o Domenichino]
água-forte e buril, 46,5 x 29 cm

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Coleção Inglesa William Hogarth

Hogarth desenhista, pintor e gravador a buril e à água-forte, Dedicou-se a retratar os defeitos e vícios do seu tempo: tudo
nasceu em Londres em 1697. Aprendeu o ofício de ourives o que lhe parecia ridículo ou repreensível foi assunto de suas
William Hogarth [1697–1764] e logo entrou para a Academia de St. Martin’s Lane, a fim composições. Realizou 260 gravuras, algumas inteiramente
de estudar desenho ao natural. No início de sua carreira, gravadas por ele e outras trabalhadas em conjunto com ou-
Peter Simon [c.1750–1810]
ganhava o estritamente necessário para viver, abrindo em tros artistas sob sua direção. Faleceu aos 67 anos na vila de
Samuel Middiman [1750–1831] metal brasões e endereços para as chapas das portas dos Chiswick, perto de Londres.
Benjamin Smith [1754–1833] negociantes, e desenhando e gravando cartuchos e rótulos. Mesmo Hogarth não tendo sido um exímio técnico
John Ogborne [1755–1837] Depois, passou a gravar para livreiros, segundo os próprios na arte de gravar, permanece único e especial no que con-
desenhos. Frequentou a oficina de pintura de Jacob Thor- cerne ao grande espírito crítico em suas sátiras de cunho
Robert Thew [1758–1802]
nill, pintor do Rei, a quem criticava pela maneira de pintar. político-social e de crítica aos costumes, como podemos
Charles Gauthier Playter [c.1786–1809] Acabou por casar-se clandestinamente com a filha de seu observar na gravura à água-forte e a buril The Brench: quatro
mestre em 1730. A esse tempo, dedicava-se à pintura de re- figuras caricaturadas e burlescas, a meio-corpo, sentadas,
tratos. Reproduzia na tela os seus modelos com absoluto com as clássicas cabeleiras dos juízes ingleses, vestidas de
rigor, sem omitir, nem corrigir nenhum detalhe do aspecto toga de magistrado e presidindo a sessão do tribunal, à
de seus retratados, o que o fez perder clientela. Em suas pró- qual, como se vê, não prestam a menor atenção. São eles:
prias palavras: “Estou resolvido a compor comédias na tela, Sir John Willes, Lord Chief Justice; Hon. Wn. Noel; Hon.
a pintar não assuntos clássicos, mas retratos burgueses; não Mr. Bathurst; e Sir Edward Clive. Já na gravura a buril
pintarei mais heróis imaginários. Serei útil”. Em nenhum Southwark Fair, Hogarth nos mostra os tipos de entreteni-
outro país, a caricatura teve tanta liberdade, e Hogarth mento que eram oferecidos para “pessoas de todas as dis-
é tipicamente inglês na natureza didática de suas sátiras. tinções e ambos os sexos”.

william hogarth [1697–1764]


The Bench, 1758
água-forte e buril, 30,3 x 20,9 cm

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Peter Simon John Ogborne
Nasceu em Londres por volta de 1750 e faleceu na mesma cidade Nasceu em Chelmsford 1755 e faleceu em Londres 1837, sen-
em 1810. Estudou a técnica de pontilhado com Francesco Bar- do considerado um dos maiores gravadores a pontilhado do
tolozzi. Em 1790, foi considerado um dos maiores gravadores século xviii na Inglaterra. Foi aluno de Bartolozzi e gravou
da Inglaterra. Gravou segundo Gainsborough, Reynolds, Fuseli principalmente segundo desenhos de Richard Westall, Kauff-
e Wheatley, tendo tido grande capacidade de capturar fortes mann Angelica, Smirke Robert e Stothard Thomas. Partici-
valores tonais e contrastes. John Boydell, uma das mais notáveis pou da The Shakespeare Gallery e do The Milton Set. No início do
personalidades do século xviii na Inglaterra, encarregou-o de século xix, voltou-se com sucesso para a gravura à água-forte
produzir gravuras para The Shakespeare Gallery e para a série de de pontos de vista topográficos. Em algumas de suas gravuras,
poemas de John Milton conhecida como The Milton Set. era ajudado por sua esposa Mary Ogborne.

Samuel Middiman Robert Thew


Nasceu em Londres em 1750 e faleceu na mesma cidade em 1831. Nascido em Partington em 1758 e falecido em Stevenage, 1802,
Gravador altamente considerado, estudou técnica de gravura com foi um dos melhores gravadores a pontilhado do final do sé-
William Byrne, finalizando seus estudos com Bartolozzi e William culo xviii. Soldado, serviu ao exército até 1783. Quase com-
Wollett. Gravou segundo Joseph Wright, Gainsborough, Hearne, pletamente autodidata, gravou retratos de muitos estadistas
Berchem e Smirke, entre outros. Foi muito admirado também por importantes, incluindo o rei George iii e a rainha Charlotte.
suas gravuras com temas topográficos, publicadas em Select Views in Também ocupou o importante cargo de gravador do príncipe
Great Britain (1784–1792) e em Picturesque Views and Antiquities of Great de Gales. Gravou 17 imagens para a The Shakespeare Gallery, de
Britain (1807–1811). Suas obras foram expostas com frequência no Boydell, incluindo a famosa cena das bruxas de Macbeth e a
Spring Gardens e na Free Society and the Royal Academy. cena do fantasma de Hamlet.

Benjamin Smith Charles Gauthier Playter


Nascido em 1754, foi um grande gravador do século xviii e do Gravador a buril e pontilhado, nasceu por volta de 1786 na In-
início do século xix. Estudou a técnica do pontilhado, que per- glaterra, falecendo em Lewisham em aproximadamente 1809.
mite a gradação de tons pelo adensamento de pontos, com Fran- Foi contratado para realizar vários projetos segundo artistas
cesco Bartolozzi em Londres. Durante sua carreira, gravou mui- contemporâneos, como Rigaud e Hamilton. Trabalhou em
william hogarth [1697–1764]
Southwark Fair, 1733 tas estampas segundo Hogarth, Beechey e Rommey. John Boydell diversas pranchas para The Shakespeare Gallery, de John Boydell.
buril, 44 x 54,5 cm convidou-o para realizar diversas gravuras para a The Shakespeare
Gallery e para The Milton Set. Faleceu em Londres em 1833.

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benjamin smith [1754–1833] Convidado para conceber a gravura introdutória do conjunto The Shakespeare samuel middiman [1750–1831] Nesta gravura, Middiman é muitas vezes comparado ao grande gravador William
The Infant Shakespeare Attended by Nature and the Passions, 1799 Gallery, Smith realizou esta impressionante alegoria, em que vemos o rosto First Part of King Henry the Fourth, act II, scene II, 1797 Wollett. Na primeira parte de Rei Henrique iv, Middiman emprega a técnica de
[segundo George Romney], The Shakespeare Gallery [J. Boydell] da natureza desvendado acima da cabeça do pequeno Shakespeare. De ambos os [segundo Joseph Farington], The Shakespeare Gallery [J. Boydell] gravar conhecida como “worm line”, introduzida por Wollett, na qual, basicamente,
pontilhado, 50,7 x 64,6 cm lados, há figuras da alegria e da tristeza, ao passo que no agrupamento central se água-forte e buril, 44,1 x 60 cm constroem-se fortes contrastes tonais pelo emprego de uma infinidade de linhas curvas.
veem o ódio, o amor e o ciúme à esquerda, e a raiva, a inveja e o medo à direita. Nota-se o alto nível técnico do artista nas variações dramáticas de luz e escuridão.

74 75
peter simon [c.1750–1810] robert thew [1758–1802] Em O Rei Henrique viii, Thew utilizou a técnica do pontilhado para criar uma
Tempest, act I, scene II, 1797 [segundo Henry Fuseli] King Henry the Eighth, act IV, scene II, 1798 luz brilhante sobre as figuras centrais do cardeal Wolsey e do abade de Leicester. Trata-se,
The Shakespeare Gallery [J. Boydell] [segundo Richard Westall], The Shakespeare Gallery [J. Boydell] com todas as suas finas figuras e gestos, de uma gravura magnificamente realizada.
pontilhado, 50,7 x 63 cm pontilhado, 44,2 x 59,5 cm

76 77
Coleção Espanhola

José de Ribera [1591–1652]


Manoel Salvador Carmona [1734–1820]
Francisco José Goya y Lucientes [1746–1828]
Joaquín Ballester [1740–1808]
Francisco Muntaner [1743–1805]
Joaquim Frabregat [1748–1807]
Fernando Selma [c.1752–1810]

josé de ribera [1591–1652] manoel salvador carmona [1734–1820]


São jerônimo, s/d Sancta Virgo, 1757
água-forte, 31 x 23,2 cm água-forte, 47,1 x 31,3 cm

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francisco josé goya y lucientes [1746–1828]
Disparate feminino [da série “Os provérbios”], 1815 e 1823
água-tinta e água-forte com retoques
de ponta-seca e brunidor, 32,2 x 49,9 cm

80 81
francisco josé goya y lucientes [1746–1828]
Disparate de miedo, Disparate ridículo, Disparate matrimonial e Modo de voar
fernando selma [c.1752–1810]
[da série “Os provérbios”], 1815 e 1823
Herodias, 1774
água-tinta e água-forte com retoques
[segundo Guido Reni]
de ponta-seca e brunidor, 32,2 x 49,9 cm
buril, 30 x 21,6 cm

82 83
Coleção Portuguesa Francisco Vieira de Matos, dito Vieira Lusitano
Nasceu em Lisboa em 1699. Pintor e gravador, foi discípulo de
Lutti e Trevisani em Roma, bem como membro da Academia de
S. Lucas em Roma, cavaleiro professor da Ordem de Santiago da
Espada, pintor histórico da Casa Real Portuguesa e ilustrador de
Francisco Vieira de Matos [1699–1783] múltiplas obras. Depois de ter estudado em Roma e de complexa
história amorosa, acabou por falecer no Convento do Beato An-
Joaquim Manuel da Rocha [1727–1786] tônio, em Lisboa, em 1783. Joaquim Manuel da Rocha e Antonio
Antonio Joaquim Padrão [1731–1771] Joaquim Padrão, entre outros, foram seus discípulos.
Manuel da Silva Godinho [c.1751–c.1809]
Gregório Francisco de Queiroz [1769–1845]
Joaquim Manuel da Rocha
João Caetano Rivara [c.1770–1824] Pintor e gravador à água-forte, nasceu em Lisboa em 1730,
falecendo na mesma cidade em 1786. Foi aluno de Vieira Lu-
sitano, de quem copiou vários desenhos. Entrou para irman-
dade de São Lucas em 1752. Na arte de gravar, seu forte era o
claro-escuro.

Antonio Joaquim Padrão


Pintor e gravador à agua-forte, nascido em Lisboa em 1731.
Fez os esboços que, após seguirem para França, serviram de
base para o grande retrato do marquês de Pombal expulsando
os jesuítas. Abria muito bem à água-forte. Faleceu em Lisboa
em 1771.
francisco vieira de matos [1699–1793] gregório francisco de queiroz [1768–1845]
Alegoria ao escudo português, 1728 Estampa representando N. Senhora, tendo ao colo
água-forte e buril, 28,2 x 19,6 cm o menino Jesus, com três anjos à volta e, ao lado, S. José , 1800
Manuel da Silva Godinho buril, 27,9 x 22,6 cm
Gravador à água-forte, nasceu em Lisboa por volta de 1751.
Foi um prolífero gravador do final do século xviii estimado
por seus temas religiosos. A maioria de suas gravuras possui
bom desenho. Faleceu em aproximadamente 1809.

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Gregório Francisco de Queiroz
Nascido em Lisboa em 1768, foi enviado pelo governo portu-
guês para Londres, onde estudou com Francesco Bartolozzi,
de quem se tornaria ajudante após a reativação da Aula de
Gravura em Lisboa. Sua obra gravada é vasta e diversificada,
e nela se destacam as notáveis gravuras que abriu a partir dos
quadros de Domingos Sequeira. Faleceu em Lisboa em 1845.

João Caetano Rivara


Gravador a buril e a pontilhado. Nasceu por volta de 1770
em Portugal. Mudou-se para Roma em 1788, pensionado pela
Intendência, onde foi aluno de Labruzzi e, depois, de Volpato
na escola de Pedro Vitali. Em Londres, estudou com Barto-
lozzi. Regressou a Lisboa em 1803, tornando-se professor de
gravura do Jardim Botânico. Diz-se que trabalhou no Rio de
Janeiro, na Imprensa Régia. Morreu em 1824.

joão caetano rivara [c.1770–1824] joão caetano rivara [c.1770–1824]


Iohannes Brasiliae Princeps Port. Regens, 1800 Maria I Port. & Alg. Regina Fidelissima, 1800
buril e pontilhado, 23,5 x 16 cm buril e pontilhado, 23,5 x 15,5 cm
joão caetano rivara [c.1770–1824]
A Sereníssima Senhora D. Carlota Joaquina Princesa do Brasil, s/d
[segundo Andre Del Sarto]
buril, 46,2 x 34,5 cm

86 87
Referências bibliográficas Obras expostas
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Rio de Janeiro, 1882–84. des graveurs de toutes les nations… Un répertoire des estampes don’t les noms
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fundação biblioteca nacional & museu de belas artes. Albrecht Viewweg [1854], 1889. 4 tomes en 7 vols.
Dürer, o apogeu do Renascimento alemão. Mostra Rio Gravura. Rio de bibliothèque nationale de paris. Departament de Estampes. Ca-
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benezit, Emmanuel. Dictionnaire critique et documentaire des peintres, sculpteurs, soares, Ernesto. História da gravura artística em Portugal: os artistas e suas
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from the revival of the art under Cimabue, and the alleged discovery of engraving logos Portugueses / Tip. da Casa da Moeda e Papel Selado, 1909.
by Finiguerra, to the present times with the ciphers, monograms, and marks, used by
each engraveur. A new edition, revised, enlarged, and continued to the present time,
Database e catálogos online
comprising above one thousand additional memoires, and large accessions to the lists
of pictures and engravings, also new plates of ciphers and monograms, by George British Library
Stanley; Londres: H. G. Bohn, York Street, Convent Garden, 1865. Bibliothèque Nationale de France
Biblioteca Nacional de Lisboa
centro cultural banco do brasil. Rembrandt e a arte da gravura. Eva Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro
Ornstein-Van Slooten, Marijke Holtrop, Peter Schatborn. Rio de Fundação Calouste Gulbenkian, Biblioteca de Arte
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jeffares, Neil. The Dictionary of Pastellists before 1800. London: Uni-
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92 93
94 95
96 97
presidenta da república
Dilma Rousseff
ministra de estado da cultura
Ana de Hollanda

fundação biblioteca nacional exposição


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Késiah Pinheiro Viana, Luciana Muniz,
Mônica Carneiro Alves, Mônica Velloso, Iluminação Agradecimentos
Sonia Alice Monteiro, Tatiane Paiva Cova Milton Giglio | Atelier da Luz Equipe da Fundação Biblioteca Nacional
Equipe do Centro Cultural Correios
centro de processos técnicos Assistentes de Produção
Antonio Roberto Vilete de Oliveira
Diretora – Liana Gomes Amadeo
Mariana Cardoso Oscar
coordenadoria de preservação Patrick de Oliveira Correa catálogo
Coordenador – Jayme Spinelli
Assistente de Pesquisa Texto
Centro de Conservação e Encadernação – CCE Priscila Serejo Martins Fernanda Terra
Chefe – Gilvânia Lima (courrier)
Equipe – Jandira Flaeschen (courrier) Fotografia Coordenação Geral
Bianca Mandarino, Daniel Caldeira, Photo Síntese Roberto Padilla
Guilherme Pimenta, Heloísa Maria,
Isabella São Martinho, Ísis dos Santos Gonzalez, Vinil sobre Parede Projeto Gráfico
Leandro Veiga, Luiz Marcelo Silva, Profisinal Contra Capa
Rebeca Rodrigues, Rosimeri Rocha da Silva.
Plotagem Fotografia
Laboratório de Restauração – LR B&C Digital Photo Síntese
Chefe – Tatiana Ribeiro Christo
Equipe – Adriana Ferreira da Silva Amaro, Montagem e Molduras Impressão
Thaís Helena de Almeida Slaibi, Metara Gráfica Santa Marta

realização apoio projeto patrocínio

centro cultural correios


Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro
20010-976, Rio de Janeiro – rj
28 de julho a 18 de setembro de 2011
terça-feira a domingo, das 12h às 19h Biblioteca Nacional

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