Você está na página 1de 188
DESFI OOVd' Gordon Matta-Clark MUSEU DE ARTE MODERNA mam DE SAO PAULO. MALI ‘GORDON MATTA-CLARK: ESFAZER O ESPAGO {oi orgnizada polo Musoo de Arte de Lima ~ MALL Bosigio Ccuradova: Gabriela Rangel / Tatiana Cuevas Goordenago geral: Martha Zegarra~ MALL ‘SEDES. Museo Hlacional de Bellas Artes, Santiago: novembro 2009 janeiro 2010 Museu de Arte Mederna, $80 Paulo: feverero~ abril 2010, Pago impor Rio de Janoirc: malo —julho 2010, Nuseo de Are de Lima ~ MALE: agosto outubro 2010, @ £ Pago Imperial/Min@ IPHAN caTétoco Eeoras: Gabriota Rangel Tatiana Cuevas ‘Texts: Gabriela Rangel / Gwendolyn Owens / Jane Crawford / Justo Pastor Mla /UsetteLagnado / alana Cuoras. ‘Traduedo espanhoVinglés: Kristina Cordero Preparacdoerevisio(espanhoVingls|: Andrea Toes / Kristin Keenan / Leonidas Gevallos Mesones “Tradugdo ao portugui:Clauti MarcondeseErco Melo inglés) / José Carlos Herdnde: Prieto (espanel) Proparagoerevisio(portuguts): rico Moo / Regina Stockton ‘Coorderarde: Martha Zegara ~MALI/ Maendia Costa~ MAN Design Studia, Lima Impress: Panerom (© Da ego: Museo de Arte de Lima MAL / Paseo Calin 125 / Lima J ‘Teltono 0051-1-4236882/ wurmuseodeare ory. ‘Museu de are Mogema de So Pauio/ Parque do Ihrapuera Porto 3/ 310 0055-11-5085-1300 / wure.mamora. © Doo estos: os autores {© Doe toss de Gordon Natta-Cark: Espéio de Gordon Matta-Ctar, Nova York, e Canadian Centr for Arcttectre, Montel (s texts do artist slecionados para ese catlogo, exceto quand iniesdo, ‘fo propriedade do Espo de Gordon Matta-Clark so custidla do Canadian Gente for Architecture, Montreal (© Das fotogafas: Canadian Canto for Arctitecture, Montreal / Cosmos ‘Andrew Sarchiapone/Eecirone rs Intermix (EA, Nova York / General Foundation, Viena / Espo de Gordon Mtta-Carke David ZoAmer, "Noa York J Esptio de Juan Downey, Nova York. / Luis Camnizer/ Miguel ic Bronco / Museo Nacional de Bells Aries, Santiago / rojto Helo Otcca/ Richard Landry /The Americas Society, Nove Yor, FOLFEITO 0 DEPOsITO LEGAL [MUSEU DE ARTE MODERMA DE SAO PAULO. [GORDON MATTA-CLARK: DESFAZER 0 ESPAGO: DESHACER EL ESPACIO. (GABRIELA RANGEL, ET AL. (TEXTOS); MAGNOLIA COSTA (COORD. EDITORIAL}; ‘STUDIOA (DESIGN GRAFICO); J.C, HERNANDEZ PRIETO, KRISTINA CORDERO, ‘CLAUDIO MARCONDES (TRADUGAO), ‘SAO PAULO: MUSEU DE ARTE MODERNA DE SAO PAULO, 2010 236 PIL ‘TexTos em PorTusus E mats. 7 EXPOSIGAO REALIZADA NO MUSEU DE ARTE MODERNA DE SRO PAULO, DE 11 DE FEVEREIRO 04 DE ABRIL DE 2010. |SON: 978-05-06871-42-9 1 MUSEU DE ARTE MODERNA DE SAO PAULO.2. ARTE CONTENPORANEA ‘SECULO XX LTITULO I MATTA-CLARK, GORDON, 1943-1878, COU: 77.73) x1 TEXTOS SUMARIO ss OBRAS NA EXPOSIGAO 133 TEXTOS DE GORDON MATTA-CLARK 189 APENDICE Museo de Arte de Lima — MALI com grande prazer que apresentamos esta exposigdo, a primeira mostra monografica do Gordon Matta-Clark na América do Sul. Trata-se de uma iniciativa ambiciosa, cuja formulagéo possul foco numa perspectiva regional. A curadoria de Tatiana Cuevas e Gabriela Rangol procurou justamonte vottar-se a aspectos da obra do artista que tém especial pertinéncia para nossa regio. Gordon Matta-Clark é uma figura pioneira das praticas artisticas de nosso tempo. Gonhecer sua obra e compreender suas contribuledes @ arte contemporanea é uma tarefa da qual nao se pode desviar, para a qual esta exposicao espera contribuir. Estamos convencidos de que este esforgo também implica reverter as assimetrias que ainda existem numa histéria da arte que, sendo também nossa, nos é frequentemente inacessivel. Esse objetivo apenas pode ser alcangado com a unido de vontades institucionais, como a ‘que acontece nesta oportunidade, gragas ao trabalho compartithado com o Museo Nacional de Bellas Artes do Chile, o Museu de Arte Moderna de Sao Paulo ¢ o Paco Imperial do Rio de Janeiro, no Brasil. Apenas por meio dessas redes de trabalho é possivel desenvolver modelos regionais de curadoria e fortalecer o intercdmbio ¢ o didlogo entre instituigdes. Gostariamos de agradecer a Jane Crawford, viiva do artista, por seu generoso empenho neste projeto, Sem sua experiéncia e resoluto apoio, a concepeao desta exposicio no teria sido possivel. Nosso reconhecimento também se dirige ao Canadian Centre for Architecture (Montreal), & Electronic Arts Intermix e a David Zwimer Gallery (Nova York), por seu valioso apoio; del mismo mado a la Terra Foundation for American Art por fazer possivel a presentacdio da mostra no Museo de Arte de Lima - MALI e Pago Imperial de Rio de Janeiro. A generasa cooperagao de Marilys Downey, Gwendolyn Owens « Caroline Goodden alimentou o processo de pesquisa. Do mesmo modo, agradecemos aos colecionadores particulares que enriqueceram a selegao de obras da exposicéo. Nao podemos deixar de mencianar 0 extraordinério trabalho realizado pela coordenadora dle exposigdes do MALI, Martha Zegarra, e pelas equipes dos museus com os quai cotaboramos. Esperamos que esta exposigao permita a apreciagao da complexidade da obra de Matta-Clark. que, partindo da dramética situago do espaco urbano de Nova York, conseguiu articular o discurso das neovanguardas europeias com a arte experimental norte-americana da década de 1970. Sua abordagem da crise que marcou as metrépoles do planeta encontra eco em sua mitica viagem pela América do Sul. A resposta que Matta-Clark formulou para esse problema se mantém atual, permanecendo como um fértl e emblematico ponto de inflexo para criadores contempordneos em diversos campos. Natalia Mailut Juan Carlos Verme Diretora Presidente Museu de Arte Moderna de Sao Paulo ‘0 Museu de Arte Moderna de Sao Paulo (MAM) reafirma seu compromisso de manter viva ‘a meméria de artistas representativos de varios tempos. 0 MAM jé realizou mostras individuals de Marcel Duchamp, Alfredo Volpi, Nuno Ramos, Anselm Kiefer e Cildo Melreles, entre muitos outros artistes brasileitos e estrangeiros. Com a exposigéo Gordon Matta-Clark: Desfazer 0 espaco, 0 MAM homenagela o artista norte-americano (1943-78) que, numa breve carreira de intensas contribuigées, muito enriqueceu a arte contempordnea mundial, agindo diretamente sobre as construgdes e o espago urban. Juntamente com o Museo de Arte de Lima ~ MALI, no Peru, ¢ 0 Pago Imperial, no Rio de Janeiro, o MAM orgulha-se de promover esta exposicao antoldgica, esperando que a arte de Gordon Matta-Glark inspire solucdes criativas para problemas que afetam a vida de mithdes de pessoas em todas as grandes cidades do mundo. ‘Mita Vitleta Presidente Pago Imperial A obra de Gordon Matta-Clark é uma das mais significativas contribuigdes a arte contempordnea internacional. Além de seu valor intrinseco, o seu trabalho antecipa e inspira ‘o movimento desconstrutivista em arquitetura. A exposigao ~exemplar na seriedade da sua pesquisa ¢ aprofundamento das questdes levantadas- abre a possibilidade de um olhar mais complexo e detide sobre a obra desse grande artista, havendo se tornado possivel gragas ao esforgo conjunto do Musoo de Arte de Lima — MALI, do Museu de Arte Moderna de Séo Paulo e do Pago imperial. Agradecemos a todos que viabilizaram essa mostra e, em especial, ao apoio da Terra Foundation que materializou a sua apresentagao no Rio. Temos certeza que esta exposicao ampliard o quadro de referéncias de novos modos de percepgao € uso dos espacos urbanos. Lauro Cavalcanti Diretor a 12 ACKNOWLEDGEMENTS Beverly Adams Carrie Haslett Igika Avramova Angelina Jaffe Carmen Beuchat Julia Joern Luis Camnitzer Leandro Katz ‘Angela Choon Tina Kukielski Rebecca Cleman Lisette Lagnado Dario Corbeira Richard Landry ‘Stophanie Daniel Doris Leutgeb Brenda Danilowitz Macarena Mérua Jaime Davidovich Ales Ortuzar izabeth De Mase Gwendolyn Owens Louise Désy ‘Angélica Pérez Marilys Downey Nathalie Roy Justine Durrett Gosmos Andrew Sarchiapone Sabine Folie Pablo Vargas Lugo Carol Godden Isabela Villanueva John Hanhardt Lori Zippay e especialmente a Jane Crawford ‘Agradecemos 20 Museo Nacional de Bellas Aries pr receber ‘exposi¢aono Chile, bem como 20 ‘centro Barre & rrr ‘Abogacos, principal patrocinador ‘6a mostra em Saigo, Noss espacial reconecimento ‘Terr Foundation for American ‘ep sua goorsacontibuico posi, THE Bonde se a CITIES Borhien Paers Sovetnanasoeuma cine ~ THE BOUNDRIES OF A CITIES BURAIED PARTS UMA SIMPLES MANIPULAGAO DE IDEIAS METAFORICAS VAGAMENTE RELACIONADAS COM UMA CATEGORIA ESPECIFICA NESTE CASO ARQUITETURA Sinece epee AMPRATIAOS oF Loosee MET REHTIC 1DEDS acre S 4 speurec carhaay. THS cose Aeanreavee A SIMPLE MHNBEB MANIPULATION OF LOOSELY METAPHORIC IDEAS L66SE¥ RELATED TO A SPECIFIC CATEGORY IN THIS CASE ARCHITECTURE A MOBILIDADE SOCIAL E 0 MAIOR FATOR ESPACIAL. A MANEIRA COM QUE MANOBRAMOS DENTRO DO SISTEMA DETERMINA O TAMANHO E 0 TIPO DE ESPAGO NO QUAL TRABALHAMOS E VIVEMOS OU SEJA, ESTRITAMENTE FALANDO A MOBILIDADE SOCIAL Sea UsBleretq 1s THE SRST SPACIL FACTORY, ee nmecuten 7 nae 1) THE Se scehy Creer ee ORE Fae 50 srecreg SErRink, Seen MOBKrz, SOCIAL MOBILITY IS THE ONE GREATEST SPACIAL FACTORS. HOW ONE MANOEUVERS IN THE SYSTEM DETERMINS WHAT SIZE AND KIND OF SPACE WE WORK & LIVE IN. SO STRICTLY SEAKING SOCIAL MOBILITY Dea iT Watt MORE Cone POX Tet) THE Lukas OF Mure sare woavoocow 1408" FEAL ING WITH NOTHING MORE meee“. COMPLEX THAN THE LIMITS OF HUMAN SPACE oo STEP IN AS tia, STEPING IN AS MANY DIRECTIONS AT ONCE A PRAMAPU Dre en rece AC Feine A susTéueti ZED COnsisTHAT APPRIACH TO A WworRLD oF TaTAL * penn" CHAE A PRIMARY ARCHITECTURAL FAILING A SYSTEMATIZED CONSISTANT APPROACH TO A WORLD OF TOTAL “WONDERFUL” CHAOS A PESPOMSE TS Cosme Cc PKiad COmPLEMOD Reva Renouar COMPLETION = Row SS ComPeeno® ns Exry vers UMA RESPOSTA A RESPONSE TO COSMETIC DESIGN AO DESIGN COSMETICO COMPLETUDE POR MEIO DA REMOGAO COMPLETION THROUGH REMOVAL Wi 0 LAO COLLAPSE COMPLETION THROUGH 69EAPSE COMPLETION IN EMPTYNESS ARCHITECTURE AS 4 FoRE GieeUND Naree oR THE Cry p Bree PrP ARQUITETURA COMO PROSCEN ARCHITECTURE AS A FOREGROUND [A] NATUREZA OU A CIDADE coMo BASTIDORES NATURE OR THE CITY A BACK DROP 3 59 69 DESFAZER 0 ESPAGO TEXTOS Tatiana Cuevas DESFAZER 0 LABIRINTO Gabriela Rangel GORDON MATTA-CLARK. UMA COMUNIDADE UTOPICA: 0 SOHO NA DECADA DE 1970 Jane Crawford ROBERTO MATTA E GORDON MATTA-CLARK, A RUPTURA DE UMA FILIAGAO Justo Pastor Mellado GORDON MATTA CLARK E HELIO OITICICA: MICRO-HISTORIA DE MITOLOGIAS CONTEMPORANEAS Lisette Lagnado 21 DESFAZER 0 ESPAGO Tatiana Cuevas Numa de suas primelras obras em video, Gordon Matta-Clark assume-se como um elxo, a partir do qual explora a cidade através da lente da cdmera. A imagem se desloca seguindo ‘© contomo de edificlos, pontes e outros elementos da paisagem urbana vistos da janela do ‘su apartamento em Chatham Square, sul de Manhattan, para, eventualmente, deter-se na ‘observacdo voyeurista dos habitantes de edificios vizinhos, ocupados com suas diversas atividades noturnas. intitulada Chinatown Voyeur, esta obra de 1971 defini, jé naquela época, o campo de agao dentro do qual Matia-Clark desenvolveria sua curta, mas prolifica atividade como artista. Durante uma varredura de pouco mais de sessenta minutos, 0 video apresenta a cidade como um continuum a ser examinado (ou “desfeito”, em concordancia com 0 termo “undone” frequentemente utilizado pelo artista), revelanio nao sé os diversos estratos que a compdem, mas também as condigées sociais que geram € so, ao mesmo tempo, propiciadas por uma cidade como a Nova York dos anos 1970. Esta cidade, que desde o final do século XIX era 0 centro financeiro e industrial da costa leste dos Estados Unidos, transformou-se, como resultado da honanga econémica do pés-guerra, numa megalépole que estendia sua influéncta muito além da ilha de Manhattan, ‘Amigragao europeia ~ acelerada pelos conflitos e persegui¢des durante a Segunda Guerra ‘Mundial ~e o retorno dos veteranos de guerra abriram espago para um acelerado desenvolvimento econémico quo, por sua vez, impulsionou a construcao de moradias que ppouco a pouce foram expandindo os limites urbanos e formando subuirbios distantes dos velhos centros. Nova York emergiu da guerra convertida numa das principais cidades do Sti de Chinatown Voyour [voyeur de Chinatoun, 1971 Catesia Becton A: tei EAD, Nov ok 24 ‘Stl de SuasratUnabrround Dates) [subsato lines suberrieos), 1976, (oresia Electronic rs itermax (EA, Nova ore cada financeiro de Wall Street liderando a ascensdo dos Estados Unidos como poténcia econémica dominante. As operacdes da sede principal das Nagdes Unidas anda sua influéneia politica global) e uma agitada modernizagao de diversas zonas ja cidade culminaram com a construgdo das torres gémeas do World Trade Center em 1971, promovida por David Rockefeller, para estimular o desenvolvimento do extremo sul de Manhattan. No cendrio artistico, a ascensao do expressionismo abstrato, movimento a partir cdo qual o cenrio nova-iorquina desbancou Paris do topo do mundo da arte, foi uma amostra blematica da energia criadora de uma comunidade artistica multicultural, fomentada elo mecenato de um importante setor da classe alta. ido, com o mi tanto, a partir da década de 1960, a cidade sofreu uma série de desastres econdmicos atingiram a pice na década seguinte, ocasionando a faléncia das finangas publicas e um dramati taxa de criminalidade, Enquanto os crescentes conflites politicos e soci fundamentos da ordem e a prosperidade da década anterior, as, indistrias que omprogavam a classe trabalhadora residente em Manhattan foram pouco a pouco desaparecendo ou mudando-se para outras localidades, deixando vagos setores inteiros da cidade, ¢ seus habitantes, desempregados. Assim, por volta do final da década de 1970, Nova York tinha-se transformado, no imagindrio popular, numa cidade violenta, decadente e sem futuro, Fol nesse contexto que Gorton Matta-Clark comecou a interessar-se pela rede de interagdes entre pessoas, trajetos, sinals, pontos de reunldo, edificacées, abjetos ¢ rejeltos gerados numa cidade. Ainda que Matta-Clark seja conhecido principalmente petas obras que realizou partir de edificios abandonados, seu interesse ndo estava na arquitetura(disciplina na qual se formou e da qual era profundamente critico), mas sim nas necessidades que a arquitetura ¢ ourbanismo pretendem satisfazer. Nesse sentido, num texto de 1975, escreveu: alho com edificagdes abandonadas comegou com a minha preocupago cmt wialecriae toons om a vida da cidade, da qual um importante efeito colateral é a metabolizacao sem ul, e197 Arquivo prédios antigos. Aqui, tal como em muitos centros urbanos, a disponibilidade Espéto do Gordon Matta-iar, sob Coot do Caneean Cene or dlificios negligenciados ¢ desocupados foi um crucial lembrete textural da tea eed pao atual faldcia da renovacao por meio da modernizacdo. A onipresenca do vazio, de Arquivo Gio, CCA") Reprodrio moradias abandonadss e de demoliges iminentes me proporcionou a iberdade des rae. orton experimentar com as miiltiplas altemativas para a vida das pessoas em uma caixa Wrings. Barcelona: Ecos também com as atitudes corriqueiras em relacdo & necessidade de cercamento. Polit, 208, pp. 4-182 As “miltipls alternativas” as quais se refere Matta-Cark vieram ao seu enconto, tanto partir de seus percursos por todo tipo de espacos urbanos, come pelas redes sociais com 5 quis tev oportunidade de interagir; da elite do mundo artistico da época, com a qual eve contato desde a sua infanca, até os grupos que ocupavam ilegalmente os edificios 2 ara uma aaa sores into bandonados do SoHo nova-lorquino. Segundo as premissas da Internacional Situacionista ‘0 stwadniso on aspect o de Guy Debord? (que procurava rebater a légica capitalista que converte as cidades em James Aitlee, “The Matta-Giark territérios dominados por interesses comerciais e corporativos, e seus habitantes em mers _ Situation”. In: James Attlee 0 Luisa : Leouwe Gordon Mats lark consuidores ds futos esse desenvolvimento), Matta-Clark abordou a cidade apartr de ‘=m. Gorn Mat Dark, seus espagos menos visivei, pouco acolhedores e longe de ser monumentais:o que ele _azan ess 208 bp. spares), 1971 ‘orton Mitta-Oark ebahands om ‘oroia Eapite do Gordan Matia-Clrk _Watpaporprede do pape), «Davi Zier, Nora York 112 Greene Set, 1972 grata: Cosmos Andaw Sarchigpone Contes Espto de Gordon Mata-Clark David Zines, Nova York ‘mesmo definiu como 0 “non-u-mental"* Suas obras pretendiam elaborar um corte transversal ta cidade, abrangendo desde seus arranha-céus, complexos residenciais @ edificios industriais até os seus alicerces, sistemas de abastecimento e esgoto. No video Substrait (Underground Daities) (1976), por exemplo, Matta-Clark leva a abordagem situacionista 2o terreno labirintico da rede de esgotos da cidade de Nova York. Convertido numa versao subterrénea do fléneur baudelariano (que um ano depois repetiria em sua pega Sous-Sols de Pars), Matta-Clark revela as camadas da urbe comecando om sua superficie, indicando as diferentes referéncias, onde inicia suas descidas, para percorrer as passagens criadas por tubulaces e abobadas do século XIX que jazem sob uma cidade ‘moderna, alimentando as necessidades de seus habitantes e canalizando seus refugos. Numa carta envviada ao deo da Catedral St. John the Divine, para verificar a existéncia de ccatacumbas sob a igreja e solicitar permisséo para fazer parte da filmagem que daria forma a0 seu documentério sobre a urbe subterrdnea, Matta-Clark explica que o seu trabalho, “além de ‘cortar edificios’, na reatidade é focado em toda uma série de preocupagées sociais que foram evoluindo, mais recentemente para um tratamento direto da condigéo e da paisagem urbanas”. Esse interesse se reflete na integragéo, ao seu trabalho, de sinais urbanos que revelam as problematicas sociais de uma cidade onde convivem a modernizagao 0 abandono. Em Wallspaper (1972), muros expostos e descascades so compilados fotograficamente e impressos em offset, para formar jornais colocados como papel de parede sobre umn dos muros do espaco alternativo de exibigéo, localizado no nimero 112 dda Greene Street.° A peca transformava a decadéncia da cidade numa proposta irénica Seus périplos urbantos em busca de imagens e locagées para fazer suas pegas levaram- no além dos limites do novo mapa da arte nova-iorquina, que estava comecando a emergit no SoHo — sendo Matta-Clark um ator fundamental do surgimento desse novo cenério -, explorando os bairros do Brooklyn, Queens, Harlem eo Bronx, assim como os cais ¢ as estruturas industriais que jaziam abandonados ao longo dos rios East e Hudson. Ainda que nem sempre de maneira bem-sucedida, escreveu propostas de projetos e solicitacaes de to para autoridadles municipais, corporagées e empresérios, como para pessoas 3 “Busco etoagdes tiicas gue ‘apresentam certas tips de ieentdade hstricaecultural. Maso tipo de identidade que me ntressa precisa ter uma forma reconhesve 'Uma de mintas preocupacces aqui ‘com oNonaumenta ou sel, {com} uma expresso do corquero ‘ue possa se contrapor srantiosidads © pom das struturasarquittinicase de seus cllents, enpentados apenas em sa oloricar Ine "Gordon Mata-Clark’s Bulging Diaseations Interview by Donal Wal, publicada eigna monte na ‘Arts Magazine, maio de 875, 14-19, Reprod em Woure, 2006, p-53-69.A ita € dsp. 61 “4 Gordon Matte-Clrk, Carta ‘endoregada a Jim Morton, dodo da Gatedral de St Jon the Divine, Nove York, 20 de abi de 1875, Arquivo ue, cca, 5112 Groene Street lira por “etre Lew, em parcria com Gordon Matta-Cark, comeca a funciona em 1870 como espago alternative para trabalho ea exiioSe da aba do ‘itis artista. Vor 08 ensaoe de ‘ane Crawford o Gabriela Range! este catalog. 25 ‘do mundo da arte, que poderiam facilitar a realizagao de suas obras. Enfrentanclo frequentemente a indiferenga ou proibigSes das autoridades, chegou a realizar algumas de suas performances, inclusive ilegalmente, mostrando ndo s6 0 estado de deterioragao da cidade, mas também a ineficiénoia de suas autoridades, “Como estes edi i fora da sociedade e nao [se inseriam] dentro dos objetivos de protecdo da propriedade”, comentou numa entrevista, “estavam ai para quem quisesse. Os des selvagens, 0S pryneon (ed), 2006, pp 21-26. ‘que, por sorte ndo deixamos rastros nem interferéncias.* Actogso € cap. 22. Divirjo do julgamento de Luis Camnitzer em relagdo ao efeito de Quebrantahuesos e, fraternalmente, ndo compartilho da sua afirmagéo a respeito da auséncia de rastros, Camnitzer e Porter deixaram interferéncias por omissao, jé que o fato de que 0 reconhecimento recente de Gordon Matta-Glark (mais especificamente, em 1991) © a referéncia & exposi¢ao de Camnitzer e Porter no ano 2000 (para depois, ser realizada, em 2007, uma exposicéo do préprio Camnitzer, resgatando Masaore de Puerto Monttna Galeria Metropolitana de Santiago) demonstram que as interferéncias @ os rastros adquirem uma presenga que opora com uma atualidade irrecusdvel. A pressao objotiva de situagdes externas produz efeitos nao s6 impensaveis, mas também (¢ inclusive) néo desejados pelos agentes locais. ‘Quanto ao trabalho de Gordon, a mengao de Antiinez foi motivada por uma carta da curadora espanhola Nuria Enguita, dirigida a ele quando era diretor do Museo Nacional de Bellas ‘Artes, no momento de organizar a exposicao da qual Corinne Diserens fol curadora em 1993 ‘no Instituto Valenciano de Arte Moderno (IVAM). Se nao tivesse existido essa solicitagao, nao teria existido o comentario do diretor Antiinez em uma reunigo do comité assessor do MNBA, pronunciado num tom de queixa e do relativo desagrado por tor que responder a perguntas ‘que, no final das contas, removiam, sem aviso prévio, sua propria meméria artistica e filial, Nemesio Antimez tinha sido novamente nomeado diretor, em 1990, marcando simbolicamente ‘uma continuidade com sua gestio de 1971, isto é, vinte anos antes. ‘0 Museo Nacional de Bellas Artes tinha levado uma vida mediocre até os anos 1960, quando ‘Antiinez resolveu dinamizar sua atividade, convertendo-o, por suas agées, em um centro cultural. Além disso, decidiu abrir uma nova sala subterranea, para aumentar a capacidade cexpositiva, Essa sala devia levar o nome do artista chileno mals famoso do mundo, que tinha ‘decidido apoiar abertamente 0 governo popular de Salvador Allende, rompenda com as determinagdes filiais de sua classe sootal de reteréncia, Allende tinha acabado de assumir a presidéncia do Chile, em 4 de novembbro de 1970. Em ‘uma entrevista para o jornal La Prensa, dacta em 8 de novembro daquele ano, quando the perguntaram se sua viagem tinha relagao com a posse presidencial, Matta respondeu: “Tem ‘muito a ver, jé que Allende quer dizer ‘mais além’ e eu vim ver 'mais além’, entendendo-se que o ‘mais além’ quer dizer a gléria”. Nesse context, Roberto Matta chegou ao Museo Nacional de Bellas Artes e comegou a trabaihar com os gesselras que estavam restaurando as molduras, fazendo-os fabricar uma ‘mistura de torra, gasso e palha moida, para aplicar sobre bastidores com aniagem. 0 jornal La Tercera de la Hora, de 7 de novembro, publicou uma fotografia na qual Matta aparece pintando sobre o tecido estendido no cho, enquanto, nos créditos da foto, \6-se: “Nada mais, ‘que com terra da patria pode-se preparar uma tela para expressar o talento criador”, E facil imaginar 0 efeito que a visita de Matta teve nos meias da direita chilena, que investiram ndo ‘poUCoS esforgos em atacd-1o duramente por “trait” sua origem. Para a oligarquia chilena, Roberto Matta aparece como o grande traidor. Mais ainda: em uma nova viagem, em ‘novembro de 1971, pintou um grande mural em um bairro popular de Santiago, em conjunto com a Brigada Ramona Parra.* ‘Minha hipétese ¢ que Gorton chegou a Santiago entre essas duas viagens te Roberto Matta 0 fez como um solitério desconhecido, emoldurado pelos efeitos imagindrios da presenga piiblica do seu pai. No transcurso de um mesmo ano, Nemesio Antiinez conseguiu que Gordon ingressasse no espago cerimoniaso definido pelo pai, mas pela porta traseira da uta politica, Gordon apareceu no mesmo lugar para instalar um modelo de performance critica, que punta diretamente em crise o ilustracionismo do pai. + Nd Te ehama-ce asim abrigoda do Partido Comunista do Chile que se ‘dios a pintar mais em areas ‘bless. nome fomenagela uma lant desse partido, assasinada fem 1946 durante um protest, Fonte -hitp/e. kde! Brigada Ramona Para> [sesso ezembro de 2008), ; Roberto Mata (A deta, Nemesi tin: (ts) { assistentes no sagudo do Museo Nacional de Bele Ats, Stag, Cie, 1971 Coresia do Muse Nacioal de Betas Aes, Santiago, Cie No momento de organizar a exposieao de Gordon Matta-Clark no IVAM, Corinne Diserens. solicitou @o Museo Nacional de Bellas Artes dados sobre a instalaco que Gordon fez no mesmo local que tinha ocupado o pai para realizar suas telas. A Gnica coisa que existia era 0 relato oral do seu diretor e o de um empregado, que tinha ajudado Gordon e Jeffrey Lew na produgao de suas obras. 0 trabalho de Gordon sé existe como relato oral. Entretanto, anos depois, por informacées que me foram proporcionadas por Diserens numa viagem que fez ao Chile em 2002, para participar de uma conversa sobre curadoria e critica, tomei 63 Conhecimento de que Jane Crawford, vidva do artista tinha encontrado alguns negativos ~ numa data posterior & exposigdo no IVAM ~ nos quais péde identificar umas imagens que provavelmente correspondiam & obra, Corinne Diserens viajou a Santiago e visitou 0 Museo Nacional de Bellas Artes em minha companhia. Assim, pudemos comparar e reconhecer tomadas fotogréficas do lugar, da escada, de setores do subterréneo, mas nada da montagem. Contudo, aquela altura, o relato oral converteu-se na montagem e tem feito com que a presenca espectral dessa obra adquira um cardter premonitério de outras que obtiveram a atengdo da critica, em anos Posteriores a 1971. ‘Segundo o relato oral trabathado no MINBA, Gordon realizou uma instalagdo no subsolo, ligando feixes de luzes entre os toaletes do pessoal e a monumental cipula, Como estavam sendo realizados trabalhos de reforma, partes das lougas sanitarias do térreo estavam quebradas e furadas, de modo que a cipula podia sor vista do andar do subsolo. Gordon ‘ria utilizado uns espelhos para refletir para a ciipula um feixe de luz, numa tentativa de ligar 0 que havia na area dos servigos higiénicos, onde so depositados os residuos do microcosm corporal, com a grande “lixeira” celestial, onde ocorre o movimento do macrocosmo. Esta pega revela-se como um dispositivo de distingao da mecanica social, verificada literalmento na planta do edificio. Enquanto Roberto Matta jogava terra sobre a superficie do Museo Nacional de Bellas Artes, atravessada por uma tela que simulava um muro de casa de camponés pobre, Gordon Matta-Clark tirava terra do mesmo lugar em que as maquinas tinham escavado a esplanadia onde seria construida a sala que fevaria o nome do pai. Nao posso deixar de pensar nas escavagdes, nas colagens de fotos nos filmes que Gordon realizou nos subterrdneos de Paris em 1977. Enquanto durou a exposi¢ao Descending Steps for Batan [Degraus descendentes para Batan] na galoria Yvon Lambert, Gordon escavava, a cada dia, um novo degrau no chéo. Fo uma homenagem a Batan, seu mao gémeo, que morrera aos 33 anos. Interven de efiey Lew no Museo Nacional e Boll Artes, Senago, Chie, 1971 Espo de Gordon Watts-Diavke David ‘2oamer Gallery Nova Yrk Entretanto, nao cairel no erro de promover o deliio da precursividade, $6 menciono Corinne Diserens, em suas declaracOes ao jomal £7 Mercurio, de 13 de julho de 2002, quando assinata ‘que Gordon “se interessava por pesquisar zonas que nunca vemos, que nao entram em nossa vida. Que esto sob nds. Ea nogdo de levar a luz as visceras da cidade”. E adiciona: “Despedagou o mictério e construiu um sistoma de lentes até 0 teto, que refletia as imagens calestes dos pdssaros e as nuvens sobre uma tela ou espetho, justamente no mictério do poréo", conforme conta Jeffrey Lew no catdlogo da exposigio no IVAM? 3 Jotre Low, carta endoregada 0 NAM, outubro do 1992, "ional de ‘to Paulo and Untied Cutting 1871", Nao deixa de ser curioso que em Santiago, em 1871, Gordon realizasse uma obra que Pe continha estas duas dimensdes: escavagao e conectividade luminosa entre diversos attr Vlei nto estratos. Este éo momento em que deixa em crise, politica e formalmente, a capacidade _Wenelano de rte Nader, 1982, de ilustragdo pictorica de Roberto Matta. Para Diserens, “pousar a uz nos mictérios nn significava uma homenagem a Duchamp, que era como seu pai espiritual. 4 que no encontrou @ Roberto..." Entretanto, o pai estava, de maneira espectral, no nome da 4 Paul Dona. Codon Mat Cir sala subterranea om consrudo. fl nesse ambient que Gordon fe suas nstalagbes Speen terns et no NBA. Sopa Matta trabalhava sobre aniagem proparada, como se cobrisse um tapeto; existe um dito popular que menciona o gesto da ciasse politica dominante de “esoonder olixo debaixo do tapete”. Gordon Matta-Clark realizou uma escavagdo para deixar em evidéncia o lixo que a classe paterna escondeu por geracdes. Fez isso no muscu, que vem a ser um aparetho de cencobrimento simbélico da autoridade politica da classe dominante. Roberto Matta e Gordon Matta-Clark, com uma diferenca de meses, estiveram no mesmo lugar, trabalhando diretamente, tomando 0 museu como cendirio polémico, Para Matta, converte-se na extensio de sua prépria oficina, literalmente, numa extenséo espacial de sua casa, Jé Matta-Clark vem para perturbar a casa do pai, em sous préprios alicerces. Nestas obras de 1971, confeccionadas com uma carga material ~ harro e palha ~ que néo vottara ‘usar nunca mais ao longo de sua vida, Roberto Matta expe magistralmente seu conceito paternalista da histiria, numa conjuntura social que favorece a circulacao de um discurso ccomplacente, quando dectara que “0 barro, o gesso, a palha séo materiais que se parecem com as casas em que vive 0 povo. E 0 objetivo seria que, pouco a pouco, as méos ‘comegassem a se soltar dizer que é nesses muros de pau a pique rebocados com cal onde 5 peysta nora 14 de decembro clas sentem a dor que a sociedade e suas leis hes impuseram”.S own No contexto do debate critico de 1971, sua atitude é a de um “oligarca-antioligarca” que se cconstréi na medida da recuperagdo da figura de um bon sauvage de novo tipo, expressao de uma autenticidade politica origindria que s6 sua pintura saberia colocar em evidéncia. Roberto Matta refere-se com desavergonhada ingenuidade a sua pintura como a expresséio delegada dos desejos ocultes do povo explorado. A pintura antecipa o que deve ser dito @ assinala o lugar da dor exercida pela lei dos capitalistas na superficie do corpo social Roberto Matta e Gordon estabelecem os termos de um debate que se instala no espago da moradia e que se expressa como desejo de ordenamento e de reparagao de um caos complexa construca coletiva no SoHo durante os 0, Jane Crawford assinala ° o tema da contr: ntender a preocupacao com os sem-tet certeiro a0 descrever trabalho: 3s tendo os sem-teto como pi sso de uma falla institucional ou, er eproguzid ness catiog ealiz : io de comunidad Gordo socia descartaveis, para ma com materi ipio de esperanga. As fissuras, os cortes ¢ os onsequéncia de uma ntinuidad ul orf ‘sous trabalhos de anos posteriores nao sao consciéncia elnografica que ope socials fundamentals, s vazios e rupturas ni dos vin 65 Bots Aes Iverenton 1571 Cortes Espto do Gordon Weta Clark ‘David Zier, How York Gordon visitou o Chile no meio de um confiito peta moradia, ainda que o movimento popular estivesse dando um descanso, tendo em vista que seus dirigentes tinhar de nao confronta¢ao com o gaverno popular. Camnitzer tinha vi © encontrou-se com a expressao dramitica do momento mais critico das lutas urbanas. A situacao tinha mudado drasticamente em dois anos. 0 triunfo de Allende esvaziou parcialmente 0 movimento dos sem-teto. Essas pessoas, autodenominadas “habitantes sem casa”, formavam parte de um movimento para reivindicar uma politica de moradia como plataforma prévia de conquista do poder politico. Em 1970, no seio de tal movimento, {foi grado o significative lema “Hoje, a casa; amanha, 0 pod Jane Crawford emprega a palavra confraternidade para referit-se ao trabalho de sustentagdo de vinculos sociais basicos entre artistas, fazendo repercutir, como condigo afetiva basica, uma situagao na qual a pratica artstica manifesta-se como uma politica de ‘moradia, que envolve o combate contra a falta de protecdo maior da cidadania. Nessa Conjuntura, a ditadura brasileira foi um grande dispositivo de produgao da falta de protecdo politica. E assim que deve se entender a deciséo de Gordon de promover uma das operagies de boicote @ Bienat de S40 Paulo de 1971: como um ato de produgao de soctabilidade, Como um pediclo destinado a assinalar 0 vazio de cidadania que a repressdo brasileira anunciava como garantia de ordem. A questo da moradia continua a ser 0 substrato do sua luta solidéria; assim como o restaurante Food era um projeto de arte, 0 boicote @ ‘a deotaragao-manifesto procuravam enfatizar a interagao institucional da arte, sendo, no meu entender, um gesto que antecipava a critica institucional. Por esta raza, sustento que a declaragao é, em si mesma, um projeto de arte, nao avant-la-lettre, mas sim au-dessus-de-la-lettre, em seu espago proprio de literalidade, Seu gesto consiste na publicagdo de uma carta que nao cessa de nos interpelar de forma intermindvel. Em seu texto, Jane Crawford insiste sobre um fato que hoje em dia resulta inquietante, (quando se refere a posigéo de Gordon como um artista que pertencia a uma geracao que se opunha 20 establishment, “representado pelo governo, pelas leis do pais e por seus pais”, A visita de Gorton ao Chile parecia, indiretamente, situé-to fora do establishment dda arte locale fora da posicao do governo dos Estados Unidos, que jé tinha iniciado os “trabalhos” destinados a derrubar 0 governo de Allende. Ndo sabemos qual fol 0 tipo de sonho que Gordon conseguiu montar a respeito do que 0 Chile representa como espago de ‘ransformagées sociais, e que o levou a conceber a ideia de produzit, naquele pais, uma ‘Contrabienal. Sua posi¢go nao é a de um delegado da palavra de outros, mas sim a de um articulador de espagos de convivéncia autoral. O condtio local nao estava preparado para ‘sso. Camnitzer poderia ter razdo: as omissées e as obstrucbes locals sao elaboradas ‘operagées de controle discursivo, Existe um terreno quo é comum, tanto para Roberto Matta como para Gordon Matta-Ciark: 0s estudos de arquitetura. 0 procedimento de Matta ia pelo caminho de um deslocamento expressivo em que a configuragéo corporal é determinada por uma natureza voraz. Abandona a arquitetura para ilustrar a “arquitetura interior” do corpo. Esse é 0 sentido que formula e projeta em “Mathématique sensible”, no niimero onze da revista Minotaure, de maio de 1938. Em troca, Gordon Matta-Clark contrai a nogéo de deslocamento e a -MICLA Ctiogo da Contrabieral, 1971 (ortesia Luis Camntzar Te Americas Society, Nova Yor das substitui pela de condensagao analitica, procurando re condicées de edificabilidade. i a propria consistén Matta formou-se no seio da rompimento simblico de u sustentar a edificagéo de um pais, compensando esta morfoldgico de proveniéncia teldrica. ambionte des/oligarquizado, que the per condigao do habitar na histéria contempordnea. Sua politica da arte, pondo em crise as préprias condigées de designagao da arte, Se n: Conjuntura a qual me refiro Roberto Matta faz o papel di Internacional, Gordon Matta-Clark — em uma perspec uma atitude abertamente situacionista. na oligarquia que nao cons falha através de um psicologismo Gordon Matta-Clark formou-se libertario ao estudo da prépri olitizagao ja 6 outra historia. Fez io do movimer 0 comuni Gordon Matta-Clark néo viajou ao Chile para encontrar-se com sou pai, como sustentava Nemesio Antiinez. Jd estavam radi itlago do Chile represen ire como somente um cendrio no qual assinala un co decisive com a casa da uma extensao da demoligéo politica da casa do pai. Interveio no Museo Nacional de Bellas Artes em seus alicerces, para fazer o inconsciente do edificio falar, como sintoma formal falha institucional que a estirpe do pai conduz como emblema em desfalecimenta. GORDON MATTA CLARK E HELIO OITICICA: MICRO-HISTORIA DE MITOLOGIAS CONTEMPORANEAS Lisette Lagnado eu interesse pela obra de Gordon Matta-Clark surgiu dentro de um contexto muito particular. Enquanto coordenava a sistematizagdo do arquivo do artista Hélio Oiticica, encontrei uma lista manuscrita, datada de 9 de setembro de 1978, encabegada por um lembrete quase anédino: "1 - Enviar um cartao para Jane Crawford (sobre a morte de Gordon Matta): 20 E, 20th Street. New York, NY 10010”. Essa informacao, que ainda carece de pesquisa mais precisa a respeito de uma troca pontual entre os dois artistas, foi suficiente para me dar a “licenga” de sustentar, em diversos féruns, que a ativida criadora de Oiticica no periodo vivido em Nova York necessitava urgentemente de uma Por que o simples fato de mencionar a morte de Matta-Clark converto-se numa vali alusdo dentro do arquivo de um artista brasileira? Em primeiro lugar, até pou praticamente nulas a Possibilidades de empreender uma pesquisa reduziam-se a informagées isoladas e som 1s melos para uma apuracao adequada. Além disso, ura vez que todo gesto de vanguarda desafia as categorias reguladoras da historia da arte, o que esperar de sua institucionaliza¢0? Séo fatores extemos e internos, os que terdo que ser considerados ara entender o controvertido legado de um artista como Helio Oiticica: ao descaso ida meméria de um pais, som: a decorar parodes. Perdura a convicgao — indestrutivel mito de que o reconhecimento passa pela chancela dos objetos que conseguem entrar no circulto. A contradigao da vanguarda esta posta na mesa: reivindicar 0 tempo futuro, sabendo que sé Ihe convém tempo atrés, em varios paises da América Latina, eram iniciativas de organizar e preservar 0 pasado, Portanto, as -se uma recusa programética em delxar objetos destinados 69 Open House [casa abet, Greene Steet, Nowa Yr, 1972 Casi Epi de Gordon Matts- Crk Dave Zire, Nove ark + Durante a formulagdo de min tase de doutorado, o artigo "Loe ‘ato de Greone Stet, e Corinne Diserons permitiv-ne estabelecer tum lo entre a protusdo de i e enoagées de Ot erodovivido om Babyloestse He "as fuas do bata Soto: eontranon ‘de um asta qu tera slo de cons fem 1963, depois da Experéncia Whiteehspel er Lanes, Ver Mar ‘acanova (od), Gordon i institut Valencian de Act Moderno i), 1992, pp 9-13 Ver tembn diane Pedeos ane: Cabnge, 2008, pp. 232-2 Feproduzido também nese cata em ing re a ndo cristaliza contudo, de dest do instante fugidio; instaurar e fa jar a p anéncia, A informagao de que Oiticica, jé nos anos 1970, teria conhecimento das agdes ordon Matta-Clark, permite que se olhem mais atentamente fragmentos de pr nclusos que foram objeto de troca, ou entao marginalizados na historia oficial da arte, permite abrir perspectivas estimulantes para imaginar o contato do criador de Tropicétia com 0 amb onde Matta-Ciark protagonizou varia uma obra internacionalmente reconhecida, Matta-Clark foi, para o Brasil, a figura que se manifestava contra o regime militar e que organizou um boicote a Bienal de So Paulo: “Tendo er ue todas as instituigdes o todos os individuos esto parece uma bobagem gratuita pensar que se possa organizar uma e» ‘independente’ 14, em setembro. Em lugar de apoiar a causa do livre intercambio de informagies piblicas, os trabalhos expostos em Sao Paulo, vergonhosamente, darao importancia a esse govemo totalitério e aos seus aliados”. (19 de maio de 1971.) Entre os artistas signatarios (Carl Andre, Robert Morris, Walter de Maria, Michael Heizer, Hans Haacke, Mel Bochner, Dan Graham, Richard Serra, Kelth Sonnier, Vito Acconci, Christo, Terry Fox e Les Levine), aparece Lee Jaffe, que havia realizado com Oiticica uma exposi¢io em Belo Horizonte, Do Corpo a Terra:t Pode-se dizer que Gordon Matta-Clark herda o espirito moderno que anima a aurora do século XX: ao emblematizar a cidade, logo desloca a eiéncia da construgdo para promover outras formas de vida em comunidade. Acreditar que “a cidade é toda ela a casa do hom: é uma das tantas profecias malogradas. A frase pertence ao engenheiro e artista Flavio de Carvalho que, ja nos anos 1930, projetava um futuro em que as maquinas diminuiriam 0 tempo de permanéncia das pessoas em seus lares, om favor de uma convivéncia mais coletiva em espacos piiblicos: 0 delirio de um “revolucionério romantico”.® No que se refere ao tema do urbanismo, jé se escreveu muito com a intencao de alimentar o nexo que coloca Matta-Clark, formado na Faculdade de Arquitetura de Cornell (no estado de Nova York), entre duas figuras de peso: 0 pai, Roberta Matta, graduado como arquiteto no Chile; e Le Corbusier, em cujo escritério Matta pai toria aprendido, entre 1937 e 1938, como abandonar uma carreira comprometida com o racionalismo. Paredes, teto e chao, longe de forecer garantias de estabilidade, serviam, para Matta-Clark, come dispositivos para uma manente redefinicao do espaco. Redefinicao estrutural, uma vez que fundagdes do edificio. xia com as * Open Hause, Greene Sel, Nova York, 972 Cotesia Esp de Gorton Mata Cia ‘Davi Zier, ova rk 2 Topic abiino sem toto, ‘onetuid a partir dodo Ponetrvei (PN2~ Pr mito te dra s pases, ado pel primeira o Nova Objetvidade (usu do Avie Madera fe Janeiro, abl de 1967), 1 ‘uma “manifesta ambient” an mesmo tempo, um concelo gue pari, sogundo iticia, de uma Wontade de intr e caracterzar lum esta da arte basic de vanguarda, cntrontand-0 com os ‘andes movimentas da arte mundial Pop. Em Nova Obetivida Brasileira. Wo, de regio: O12 tmnt orb aplceternas/enciclopesialhofindex ‘cim7tuseacven-=documentoséed vorbete=482380d=1508ti0=2> {acosso agosto do 200) 3 ¢hony cone Stost 4 bo corpo tera Parave Manipal ‘de Bolo Horizante, evento paalla ‘mostra Objetoe part ‘no Pico das Artes, 1870, sndo curadorFrerio Mora, [performance dle Ole, execu or Lee date, na al odovia BR, consist numa inka nea na patzagom (Tike do 960 impertncia das drogas na ‘contaoulr St. Fé jomem do sic XX", So Palo, 1928, Segundo Le Cr ta waita a Sto Pawo em ‘rans unciave o esprit de un “revolcionsti romantico" pen Haus, Greene Stet, Nova York, 92 Cotesia spo de Gordon Mattia David Zoe, Nove ork N hasead (quando existem) e wineravois as tom: de espectadore ‘que recenter pela velocid ing ou po © 0 piibica ounir 0 inter 73 7” ‘bio ontcca am Badytonests (PationintnsT Nova York, 1972 Foografia: Miguel lo Branco Caresia Projo ai Oca alimentos, Antes de abrir 0 restaurante Food cont alguns amigos, Matta-Clark ja havia feito varios trabalhos com substéncias organicas. Ele mesmo deixa pistas para elaborar uma correspondéncia entre suas operacGes artisticas e as etapas de preparacdo contidas no to de cozinhar: ftir, raspar, untar,fitar, assar,misturar... ¢ servir. Assim como 0 bicho morio garante a sobrevivéncia da espécie humana, as ruinas da civilizacéo industrial, para um jovem que se encontrava na Paris las manifestagdes estudantis de 1968, poderiam ter sua vida banida; isso implica a expansao da cultura para além dos recintos bburgueses protegidos. ‘Tomar posse das ruas violentas e dos bairros pobres da periferia fazia parte desse médulo ‘Dumpster, assim como 0 acontecimento postico-urbano Caju-Kleemania (1979) sinalizou ‘um momento novo na trajetéria de Citicica. No entanto, ndo se pode esquecer que os ambientes propostos pelo artista brasileiro, no inicio dos anos 1960, convidavam a um ‘mergulho na cor. ssa impregnagao do corpo inteiro dentro de uma ordem estetica indica uma sensivel diferenga, se fassem implementados as ideais de reabilitagdo de éreas Para ilustrar a tese, vejamos como descreve 0 Magic Square n° 7 ¢ Penetrave! permite o desdabramento da cor nela mesma, um caminhar por divisées de tela de arame do mesmo azul, mas também ‘dois tempos de azul, causados por uma concentracao interna mais escura de luz ¢ a reflexéo da cor sobre o 10 at Ctra, Programa Ho dca eretoma sua invencdo de 1960, o Penetrdvel, anunciando ter encontrado 0 “ovo de oie, tase 2 te Colomba”." Resta descobrir a relagao entre a deambulaeao urbana subjacente em Devolver Stemi e179 Ra de ano. a terra a terra ¢ 0 destino piblico dos Magic Squares — do mesmo ano -, sabendo que soeioonaleeoradghehee! ambos distanctam-se do naturalismo da paisagem e dos earth worksnorte-americanos. _indexcin[acsso agosto de 205) No caso da maioria dos trabalhos de Matta-Clark ~ e Dumpster néo é uma excecdo - havia uma clara vontade de atuar onde a paisagem urbana tinha dado sinais de degradiagao social, Uma declaragao de principios dessa ordem tem a facilidade de se converter, na boca dos politicos, om campanta vinculada & promocao de equipamentos culturais, isto 6, um conjunto de instalagées aptas a prover um acesso democratico a cultura. O tema da exclusdo ainda ndo era expresso na formulacao hoje corriqueira com 0 fendmano de periferizagao das metrépoles, mas é fato que artistas como Gortlon e Hélio jé haviam Ccaptado os sinais emitidos das margens esgarcadas do bem-estar econémico, de onde ressoa um batugue sem condescendéncia contra o sistema. Nao quiseram uma reforma, ‘mas uma revolugao. Eles seriam as propositores, e as préprias camadas subterréneas ee a polis requalificariam os espagos degradados. No léxico da arte, sair em busca de pranchas de madeira ou portas jogadas em areas de demoli¢ao chama-se objet trouvé, - Oproblema é que, em arquitetura e urbanismo, reutilizar 0 descartado, gerar uma ocupagao romover uma tomada de terrtério, atende pelo nome de favela. ‘Matta-Clark foi um dos poucos artistas que souberam equilibrar essa dificil fronteira. Para ns, Burapster, Babylonests e inimeros outros vislumbres desaparecidos ecoam como __Tumores de uma época que fulminou seus protagonistas, Deixaram registros instantaneos, ‘omados no calor da hora, enquanto ao historiador cabe construir uma defesa para uma Vida ausonto." Mas, agora, que estes artistas néo esto mais entre nés para nos lembrar que a arte ndo é apenas uma mercadoria que circula em feiras, o que sera da revolugao? 11 Alanna Hess expia:"Tinhamos ‘que achar um ito de ogalizar 0 ‘neo trabalho, Eo lero, no ‘através da prefetra, mes no ‘departamenta de cinema da cidade. Falamos que ramos produores do Space Picario’ NOT AS MUCH AN ARCHITECTURE AS SPACISM? OR SPACE JPIGATION MANGE MOE Meer Beiomys AWE we Enrinley THE Pres oO Bens LAY Seaver 1 GEKeeeYs Pues BETRR co-HeBTED Lnene Tey Face THAN THEE COT TO cower MANGE MANAGEMENT BUILDINGS ARE FOR EATING THE RAW OLD BEAMS LAY SERVED IN GENEROUS PILES BETTER CO-HABITED WHERE THEY FALL THAN TAKEN OUT TO LUNCH CotBonER (1S ACUMSSIET ashesEe Fath i THE PASI 1S BEs7ATED TD A MACEHME AESTHETIC « PERHAPS THE Tarte WE Puce OUP PAT WEEDS PS ExAMWATION CORBOSIER IS A CLASSIST WHOSE FAITH IN THE PAST IS RESTATED IN A MACHINE AESTHETIC. PERHAPS THE FAITH WE PLACE IN OUR PAST NEEDS RE EXAMINATION PARA DEUSES A Platcé 12 Gops mo Pos Go pom dE. A PLACE FOR GODS AND DOGS GOD DOG IT OLD GOD GOD Pil Metieos oF OlCupATi om CA same TERM FER Tangs Ponsa iJ2- SPHE FO oT MBS wrens ) By suPeg iM Pontiod BY RUECPEHE eT ad Cons mest ord By DiGESTIOw METHODS OF OCCUPATION (A TERM FOR TRANSFORMING SPACE TO SUIT ONES NEEDS) BY SUPER IMPOSITION BY ENVELOPEMENT BY CONSUMPSION BY DIGESTION ROOM CHANGE WITH SPEED TONE AvhecenTecTUuRE Leanne 1 SEVERAL if EN rréns Miku THE DISCUSSIONS THE Spied fe HE coon. — KEEP NG Tr PL ON Gor OPEN PRocesS LOT Fuaseniay jure (EER Goer AnD StRBTIM ouFe § ovee- ANARCHITECTURE WORKING IN SEVERAL DIMENTIONS MAKING THE DISCUSSIONS THE SHOW AND THE WORK. —— KEEPING IT AN ON GOING OPEN PROCESS NOT FINISHING JUST KEEPING GOING AND STARTING OVER & OVER Pesrsime A NON Sacee— Fiction) oF Hosni CPescemmre ) PROPOSING A NON SCIENCE — FICTION OF HOUSING (PROBLEMATIC) 135 140 142 146 47 148 156 158 173 176 178 piilccentbin ARTE DA ESCRITA TEXTOS DE Telegrama ao Vassar College G 0 RD 0 N para 0 catalogo da exposigao MATTA-CLARK Twenty Six by Twenty Six Contribuigao de Gordon Matta-Clark para 0 catalogo da Contrabienal Rascunho de texto para o catalogo da Contrabienal Uma proposta de Matta Cartas de Gordon Matta-Clark ao grupo Anarchitecture Declaragéo sobre Day's End Excertos do rascunho de uma entrevista com Donald Wall para Arts Magazine 133 Texto para inscri¢ao na John Simon Memorial Guggenheim Foundation Um centro de recursos e um programa ambiental para os jovens de Loisaida Texto para inscri¢do na John Simon Memorial Guggenheim Foundation Uma proposta de Gordon Matta-Clark Gordon Matta-Clark descreve seu trabalho: Office Baroque MATTA-CLARK E A ARTE DA ESCRITA Gwendolyn Owens Notas sobre anerqultetura, lah rt, junto de 1974 -mranan pee etoacofe maerpatn Feet | fanteny ToRTORE oUnRCHE TECTURE. RU MUSTER LULER AUAKTC CECTORE AuRtTic TORTURE ECR TASTER MOMITIS CECTURE PRUARTIC VECTOR A WARCOTRADER | ARVORCHIOTEXTORE. RIVART KITTORTURE AH ASSTRAC FACTOR | AUT CEGESCATOR RURRCIRY THOMDER A Fitlibosten. | MURRCRNY CECTURE LETTUCE TEXTURE APOLLER Bhusiinne | AVART COUECTOR AI ART DEPECTOR AW KOSTRAC BISHMAW AWW AR THe TORTURE /WUASS REFLECTOR AW ARTIC TRACTOR RUAIRKEY TACKLE MUAIRKEY TACTIC MUMIR KEY TICKCE. Em fotos, Gordon Matta-Clark sempre parece meio atrapalhado, um tipo encantadar, mas desalinhado e desordenado, que parece estar sempre enfiado em algum tipo de travessura. Ea verdad é que, de fato, estava enfiado em todo tipo de palhagadas: ciava obras usando lxo, fazondo cortes om um edificio aonde nunca deveria tor entrado ou entretendo seus amigos, servindo-Ihes um grande banquete com as combinacoes mais insditas de alimentos. ‘Mas as aparéncias podem enganar. O que a camera nunca conseguiu captar era o rigor por trés das palhagadas: 0 desejo de obter algo importante e captar a atencao dos outros. Conceber e montar um projeto nao era suficionte; Matta-Clark queria que seu piblico ~ fossem seus amigos, a imprensa, funcionarios piiblicos, gente do mundo da arte ou, iplesmente, alguém passando diante de uma obra sua ~ pudesse entender suas ideias. Por isso, as palavras ¢ a linguagem eram elementos fundamentals do seu trabalho; no ram secundarios. Matta-Clark era to criativo com a linguagem como era com um lapis, luma c&mera ou com a motosserra com a qual “cortava” edificios. A selegao apresentada aqui incuitrés textos de 1971: um para uma exposigao no Vassar College, outro para 0 catélogo da Contrabienale uma carta para “St. Lee Junior”. Foram incluidas também duas cartas enviadas de Amsterda em dezembro de 1973 para a sua equipe do Anarchitecture [Anarquitetura] de Nova York; um texto explicativo do seu projeto Day's End, para as, autoridades de Nova York, de 1975; extratos de um rascunho de uma entrevista com Donald Wall para Arts Magazine em 1975; a solicitacZo bem-sucedida & Guggenheim Foundation em . 1876; e uma transcrigdo de sua deciaragao sobre Office Baroque, do filme sobre seu ‘trabalho, de 1977. Matta-Ciark passava o tempo escrevendo ~ cartas, apontamentos, dectaragées - antes, durante ¢ depois de completar um projeto.Trabathava-o bastante, escrevendo rascunhos @ Jogo revisando-os. Os textos finais eram, em geral, curtos ¢ precisos. Tirava ideias e frases 136 Art cand elec) 1972-1976 Cartesia Esp de Gordon Natis-Cik, Nova rk Candin Conta for ‘Architecture, Montes de um texto ou outro; sempre havia um fio condutor entre suas ideias sobre a sociedade, ‘a pobreza, a arquitetura e seu trabalho. Gada projeto, cada texto, parecia nascer de conceites eriginados em seus trabalhos anteriores. Rapidamente, percebe-se que era notoriamente Inconsistente em termos de ortografia ~ muito comum em grandes escritores, pensadores e arquitetos —, mas, a0 ler os seus textos atentamente, pode-se distinguir os erros de verdade daqueles que eram produto de suas alteragies deliberadas da linguagem. Falando inglés, francés e alguma coisa de espanol, fascinava-lhe brincar com a ortografia, com palavras que pareciam ou soavam iquais, ou palavras que tirava de outra idioma. Matta-Clark também brincava com o som da linguagem através da repeticao, da assondncla do ritmo. 0 texto que escreveu para o catélogo da exposicio Twonty Six by Twonty Six no Vassar College sobre ele e sua obra A Pod in a Tree [Um casulo numa drvore] fol entregue ‘ia telegrama para que, em termos gréficos, tivesse pontos @ paragrafos elogantes, com a palavra siop assinalando o final de cada frase. Tamivém ri do fato de que o Vassar nao 0 doixou viver em seu casulo e, a propésito disso, escreveu a metéfora, “Vacation in a Tre Nipped in the Bud [Férias numa érvore. Arrancadas como um roto}. Como estudante de arquitetura na Cornell University, Matta-Clark matriculou-se num amplo leque de cursos fora da grade curricular de sua faculdade, Estudou também literatura na Franca, trancando matricula na universidade, para se dar um ano sabitico. Sua cOpla de Paradise Lost [0 paraiso perdido de John Milton, contém numerosas notas, indicando quo 0 leu de vordado, a0 contrério de muitos outros estudantes, que preferem usar as guias de estudo ou outros 1métodios pratices para evitar ter que ler um poema no meio de um lvro. Quando Matta-Clark escreveu seu A Matta Proposal {Uma propasta Matta] em agosto de 1971, sugerindo a seu amigo “St, Lee Junior" sacrificar-se como prato de resisténcia para o jantar de uns amigos, parecia terse inspirada nas idetas de Milton sobre 0 consumo e a sabor,’ enquanto 1 lane game. rste A Leary lembrava-se das famosas palavras de Jonathan Swi, de 1729: “A Modest Proposat: For __Hston: New Have: Yle University Preventing the Children of Poor People in Ireland from Being a Burden to Their Parents or "00% 2008:P»-22-28. ‘Country, and for Making Them Beneficial to the Pubic” [Uma proposta modesta: Para evitar {que 0s filhos de pobres na Irlanda sejam um peso para seus pais ou seu pais, e para que tates comvertam-se em ago itl para.o pave, sugrindo, com mordacidade, que a tamailas 2 o4és atc camtatn, pobres vendessem seus filhos como comida para os ricos. Segue explorando a ideia do Notebook MET £22 pp 11-13, canibalisma em outro texto, sugerindo que o subir norte-americano formou-se em publica om lr our, Garden ‘oposigdo a outras sociedades mais naturais e tribais (ou canibais)? As refordncias em seus — yrnnec ameamne tansence escritas podiam ser sutis, obscuras ou ambiciosas, mas eram sempre fascinantes. Gostava de criar suas proprias frases de efeito. “Wear Houses. Wear Your House Well”, [algo como “Use/vista as casas. Use e abuse da sua”, escreveu numa de suas muitas fichas. “A forest is a completely woven underground” [Uma floresta é um cipoal, profundo e total], dizia outra ficha. Brincava com as palavras de conhecidas frases - “Form follows function” [A forma seque a funcao] - parodiando o trabalho do arquiteto norte-americano LLovis Sullivan (1856-1924), conhecido por ter criado o arranha-céu modemno, e “Form {allows function” [A forma prepara a funcdo]” -, numa carta ao grupo Anarchitecture, enviada de Amsterdi em dezembra de 1973. USERE. HOUSES GL tare How ‘Mas, 0 que quis dizer? O problema residencial era uma preocupacao; pensou em moradias portiteis, moradias provisérias, moradias em cestas e em globos. Gostava de contemplar © equilibrio do homem com a natureza; 0 movimento ecologista estava nascendo em 1970 eele j estava preocunado pelo desequilibrio deste mundo, assunto que considerava tum problema iminente. E em relagao a “Form fallows function”? “Fallow” é um verbo que significa “arar ou sottar (a terra); preparacao para a semeadura”.’ Portanto, a forma prepara a funcdo, o que, em termos de arquitetura, faz sentido; que a forma dé lugar & fungao de um edificio significa que a funcao de um edificio que é, por exemplo, muito grande, serd diferente da de um edificio pequeno; a forma de uma catedral pode servir como lugar de encontro e a forma de uma palhoea pequena nao tera a mesma funedo, Ou, sera que quis dizer que a forma faz com que a fungao deixe de funcionar? Também brincava com os sons. Para seu grupo Anarchitecture, escreveu: (OESPAGO NECESSARIO PARA ABRIGAR INIMIGOS ‘OESPAGO NECESSARIO PARA ABRIGAR AMANTES (ESPACO NECESSARIO PARA DESVIAR-SE DE UMA BALA (ESPACO NECESSARIO PARA RETIRAR UMA BALA (ESPACO NECESSARIO PARA TIRAR SEU CHAPEU ‘OESPAGO NECESSARIO PARA REMOVER SUA CASA (ESPAGO NECESSARIO PARA REMOVER SUA CASA Matta-Clark soube como prender a atengo da imprensa as suas francas deciaracées de opinido, Esteve entre 61 artistas, a maioria latino-americanos, que contribuiram com escritos para o catélogo da Contrabienal 1971, criada para difundir e promover a oposi¢ao €Bienal de Séo Paulo, incentivada que foi pelo governo ditatorial da época no Brasil. Seu texto em inglés, aqui incluido, foi traduzido para o espanhol, para 0 catélogo produzido em Nova York. De alguma forma, Matta-Clark conseguiu que a imprensa se fixasse em sua carta; Gordon foi o artista citado em um artigo do The New York Times sobre essa polémica.' Por necessidade, trabalhou também para aperfeicoar a arte do texto persuasivo. Muitas de ‘suas cartas foram dirigidas a instituigées que outorgavam bolsas de estudo, curadores de ‘useus e, no caso do Day's End, representantes legais, Apds terminar uma obra no terminal do cais, Matta-Clark saiu do pais para evitar ser processado® e escreveu um texto, solicitado ‘por seu advogado, no qual comecou a desenvolver as ideias que dominariam seu trabalho Nos anos seguintes. Disse: “Minha perspectiva sobre a arte dentro de um contexto social é que é essencialmente tum ato de generosidade humana, uma tentativa pessoal de enfrentar o mundo real através da interpretacdo expressiva."® Econclui: Dadas as condigées atuais ¢ circunstancias especificas de um lugar como 0 Pier 52, 6 pposso ver algo positivo na conversao da estrutura em uma obra de arte, um escultural 8 cond English Dictionary Onine, ‘http /éetonaryoed.com/egi! ‘ntry/s008 9¢07query type=tordeg vueryword=falowafst=12mex to shone=108sorttype=alphaéresutt Dlace=5esenrch.id=kbO3-vEtvnm- 2637Rhilte=B0081940>(acesso em 22 de agosto de 2000), 137 4 Grace Glueck. "U.S, Decides Hot Take Partin Séo Paulo Bional This Year" The New York Times, 31 de 8 Para uma bistira Luis Camnitze, “The {atinamericano and MIGLA ost Lis Falcon Gabriel Range, [A Principality of is Oa: 40 Years of ewa rts atthe Americas Society. Nowa Yore Americas Society, 005, pp. 216-228, 5 Gordon Mata-Clrk, carta a Jera ‘rdover, 19 de setembro de 1575 ‘The Gordon Matta-Clark Archive, . Cenatian Centro for Areitoctur, Montel 6 Gordon Mats-Cark. “ty ‘Understanding of At. Datloscsto, 138 Demers Fou OF TIME Hump PUES BERD HEMoRy THE ECEPHINT BORIC Goad {festival de luz ¢ agua, um parque fechado, cuidadosamente assegurado e somente aberto ao puiblico para o lazer, em vez da decadéncia e do desperdicio. Minha andlise final 6 que um ato como este néo 6 somente defensdvel; representa também uma ‘contribuigao vallosa para o povo da cidade de Nova York.” rt ‘Nao devemos esquecer que expressou algumas de suas methores Ideias através de ontrovistas. Em 1975, 0 historiador de arquitotura Donald Wall gravou uma sesso com ‘Matta-Glark para um artigo que apareceria na revista Arts, em malo de 1976. Matta-Glark estava na crista de sua recém-adquirida fama como o autor de Splitting © Conical intersect, obras que receberam considerdvel atencdo da imprensa, Entretanto, durante a entrevista, ‘Matta-Clark falou mais sobre a ideia da arte em um context social. Termingu a entrevista indo a forma como queria utilizar a arte para um bem social: é tanta coisa em nossa sociedad que implica uma negagao deliberada: proibido entrar, probido passar, protbido participar ete. Ainda estariamos vivendo todos em ‘torres e castolos, se nao tivéssomos derrubado algumas das barteiras, inibigdes @ restrigées socials e econdmicas. Minha obra é um reflexo direto disso, Uma das coisas que mais me influenciaram em termos de novas atitudes foi uma experiencia em Milao, Quando estava procurando uma fabrica para ser “cortada”, ‘topei com um imenso complexo industrial, abandonado havia muito, que estava sendo ‘exuberantemente ocupado por um enorme grupo de jovens comunistas radicals, les haviam instituido um sistema de rodizio, segundo o qual ocupavam partes do edificio por periodas de mais de um més. Tinham como objetiva resistir a intervengao de incorporadores imobildrios “laissez-faire” no sentido de fazer render a propriedade. {A proposta dos jovens era que a area fosse transformada em um centro de servicos ‘comunitarios, algo que fazia muita falta ali.0 contato com esse confronto me ddespertou, pela primeira vez, para a necessidade de conduzir o meu trabalho, no em isolamento artistico, mas em intercémbio ativo com 0 interesse das pessoas pelos locais em que vivem, Meu objetivo é trazer essa experiéncia de Miléo para os Estados Unidos, sobretudo para as éreas abandonadas em Nova York, como o South Bronx, onde a cidade esta apenas aguardando que as condigées sociais e fisicas se deteriorem a tal ponto para que a prefeitura local renove a érea toda e faca ali uma zona industrial, que sempre fol o seu objetivo, Um projeto especifico poderia dar certo com um grupo de jovens da vizinhanga, envolvendo-os na transformagao em espago social dessa quantidade excessiva de edificios abandonados, Dessa maneira, 5 jovens poderiam ao mesmo tempo obter informagies praticas sobre o modo ‘como s40 construidos os prédios e, o que é mais crucial, uma experiéncia em primeira mao da possibilidade muito efetiva de transformar o espaco deles. Assim, eu adaptaria ‘0 meu trabatho a um outro nivel da situagao dada. Nao mais me preocuparia com 8 Gordon Mata-Glark apucd Donal o tratamento meramente pessoal ou metaférico do local, mas afinal reagiria a vontade Pjactone™ Are saosoroTd nae explicita de seus ocupantes.* de 1976), pp. 74-79. Matta-Clark nao quis que a ideia de envolver a juventude urbana na construcgdo de suas Préprias comunidades fosse apenas um sonho. Apresentou uma proposta a John Simon we A foresr 18 4 Commeerery wiven) UNpee GEouND Art card (cates artistico), «1972-1978 Corsi Esp de Gordon Mata Car, Nova Yrk Canadian Cente fo ‘chitecture, Note ' Guggenheim Memorial Foundation para criar “um centro de recursos o programas para a juventude de Loisaida”,* um projeto desenhado para obler justamente isso no Lower East Sido, um bairro a sudeste de Manhattan. Este projeto consegulu combinar seus conceltos estéticos sobre a arquitetura com suas ideias sociais sobre como resolver os problemas urbanos da pobreza e melhorar as Ccondigdes das moradias socials. Matta-Ciark opunha-se muito abertamente aos arquitetos que, segundo ele, projetavam moradias populares nao para o povo, mas sim para exibir suas prOpriasideias; em dezembro de 1976, a tinha delxado muito claro esse ponto de vista, Convidado a participar da Tho Idea as Model, uma prestigiosa exposicéo de grandes arquitetos contempordneos, Matta-Ciark, em vez de instalar uma pega que tinha em mente, decidiu arrebentar as janelas da galoria do Institute for Architecture and Urban Resources, ‘em Manhattan, ¢ instalou fotografias das novas moradias populares do Bronx, que ja estavam em estado de decrepitude, com muitas janetas quebradas.° Enquanto enfrentava a decadéncia urbana e a pobreza em seu projeto Loisalda, Matta-Clark ‘continuou encontrando oportunidades para “cortar” edificios. Uma de suas declaragées mais importantes em relacao & arte foi pronunciada em uma entrevista para o filme sobre Office Baroque, 0 projeto que realizou em um edificio na Antuérpia, na Bélgica. Falando dianto dda cdmera sobre esse projeto, Matta-Clark explica como aqueles cortes no edificio eram invisiveis para a gente que olhava a edificagao de fora. Mais ainda, essa era precisamente ‘ua intengo, que aquele projeto nao fosse entendido se olhado de um s6 andar ou de um s6 ‘Angulo: era muito complexo para isso. Disse aos cineastas: essa incapacidade de perceber a obra de uma vez sé faz com que seja preciso ciroular continuamente de um espaco a outro e tentar junté-la tanto num processo de ‘meméria como numa exploragao do espaco. Nesse sentido, considero isto muito mais bem resolvido do que quase tudo o que fiz antes, pois grande parte das obras ‘que realizei no passado eram literalmente captadas em um tinico goipe de vista, algo ‘que, estou convencido, nao vai ser muito apreciado pelas pessoas que gostam de obras autoexplicativas ou narrativas. Mas isto aqui me parece bem mais interessante do que essas obras que a gente capta de um golpe sé e mais ou menos revelam de imediato do que se trata. Neste caso, a obra tem de ser reconstruida a partir de uma série de perspectivas e, de certo modo, o conceito final é mais o resultado de um desenho do que de qualquer leitura puramente superficial.” Em certo sentido, este projeto poderia ser uma metéfora do que Matta-Clark tentou conseguir com sua carreira: construir uma vida que nao fosse lida de uma sé maneira ou vista de um 86 angulo, Possivelmente & por esta razéio que Matta-Clark continua a fascinar tanto os artistas, aquitetos,criticos e historiadores da arte. Nao é possivel resumir tudo 0 que ele foi, olhando-0 a partir de uma s6 perspective: era artista, arquiteto, ativista social, era um. renegado ¢ um intelectual, tudo ao mesmo tempo. Podemos admirar sua consciéncia st maravilhar-nos perante o seu intelecto, elogiar seu humor e discutir sobre o que se a ‘que fosse o que mais the importava. Mas, no fim das contas, ninguém pode ter uma Completa deste individuo a partir de um s6 ponto de vista. * Nd T: Loaaia 6 um tere ervado da promincia de “Lower ast Side” entre a comunidad hispnca de Nova York, conforme Informado pela Wiki, tetra de 08 de dazembro de 2000 , 8 Mary Jane Jacob. Gordon ‘Matt lark Chicago: Musoum of Contemporary Art, 185.98. 139 Baroque, Diregsc: (eRogorStylaerts 187-2005, 4, ‘ima 16 mm colorido © sonaro em video, Telegram to Vassar College for the catalogue of the exhibition Twenty Six by Twenty Six 1971 =GORDON MATTA 44 NEW YORK =YRM150-5"8"— TYPE OT NY PEDLIC #700296 CHIN SCAR RESUNE- THEATER GALLERY EVENTS RECORDED & UNRECORDED = AGU, FOOD ARTs PMTO-FRY, MUSEUM THE GUBAGE COLLEGE» GARDEN S- PLANS TO PLANT PARKS SOME FLOATING: OTHERS ON WHEELS THE REST AS SOON AS POSSIBLE STOP TREE DANCE ON WAY DAY AT VASSAR ORIGINALLY TO BE A SURVIVAL EXERCISE WANTED A PAYED VACATION IN A TREEe NIPPED IN THE BUD = A DANCEeee THE CLIMBING BODY KEEPS GOING UP ITS 140 MOVEMENTS CONQUER LIVING SPACE STOP WAITING-WRAPPED= *SUSPENDED= PGH IN CANVAS BAGS CLIMBERS RELAXING IN THE 1 WIND STOP AND THE SEASONS GO ON DANCE AT THE END OF IT STRING WILL HOIST ALOFT A GROWTH MODUAL FILLED WITH MIGRATING WEEDS ANOTHER EXPLOSIVE SPRING BEST= TELEPHON, TEL GORDON: Bs ee +h DRL QSS Aor ss 3( 935AE ST) Telerama de Gordon Matta Car 20 Vassar Colege sabre Tre Dance, roe 1871 Cotesia spo de Gordon Matta-Cask, Nora Yorke Canaan Conte foc suchiteture, oneal Telegrama ao Vassar College para o catdlogo da exposicao Twenty Six by Twenty Six 1971 = GORDON MATTA 44 NOVA YORK — BRANCO — SEXO MASCULINO - 68 KG - 1,78 M ~ SANGUE 0+ NY PEDLIC #700298 CICATRIZ NO QUEIXO CURRICULUM - EVENTOS TEATRAIS GALERIA GRAVADOS E NAO GRAVADOS ~ AGJ, ARTE COMESTIVEL, PMTO ~ FRY, MUSEU 0 LXO COLLEGE, JARDINS - PLANOS PARA PLANTAR PARQUES ALGUNS FLUTUANTES, OUTROS SOBRE RODAS 0 RESTO ASSIM QUE POSSIVEL PT DANGA DA ARVORE EM PRIMEIRO DE MAIO EM VASSAR ORIGINALMENTE UM EXERCICIO DE SOBREVIVENCIA QUERIA FERIAS REMUNERADAS NUMA ARVORE. ARRANGADAS COMO UM BROTO - UMA DANCA... 0 CORPO QUE SOBE CONTINUA A SUBIR SEUS MOVIMENTOS CONQUISTAM ESPACO HABITAVEL PT ESPERANDO — ENVOLVIDO ~ SUS- m1 PENSO — PGH EM BOLSAS DE LONA ALPINISTAS RELAXANDO NA BRISA PT E AS ESTAGOES CONTINUAM DANGANDO NO FIM DE TUDO FIO ICARA OS BROTOS CHEIOS DE ERVAS DANINHAS ARRANCADAS, OUTRA PRIMAVERA EXPLOSIVA SAUDACOES = GORDON: =(935AE ST) 142 Contribuigéo de Gordon Matta-Clark para o catalogo da Contrabienal 1971 Gordon Matta El entueiaomo internacional por 1e Bienal de San Pablo, duran- te su perfodo de importancia, fué inepiredo privadamonte den- tro del espfritu general de éxperimentecién social que areé una era de liderazgo denocrético en el Brasil.. En 1954, conjuntamente con la celebracién del 4to. centenario, le primér Biénel dié a América del Sur y al mundo, sus prime~ ras mestras retrospectivas de artistes como Mondrian, Klee, Munch, Picasso, Marini y Moore. Durante una década, 14 Bienal. establecié al brasil como un céntro de vida cultural libre en América del Sur, teniendo influencia sobre artistas locales y proveyendo de intercambios de informacién cruciales. Guando le Junta Militer de 1964 comenzé a llevar ¢ ia Biensl y @ un nfmero creciente de libertades sociales por el camino de la represién dictatorial, los artistas brasilefios respondieron trabajando ms directamente con contextos ambienteles.. En 1968 el general Montans retiré algunos de estos trabajos de un gru~ po de onvfos brasilefios a la Bienal de Paris , comenzando una campatia de censura total que ahora ouenta oon’una multitua de victimas en prisién, BL fitimo ineiaente fué el arresto de treinta jévenes arquitectos en febrero iltimo, quienes se ha- pian atrevido @ plantear una solucién social bara los proble~ mas urbanos del Brasil, Bs de conocimiento pitblico que la 1i- vertad de expresién ys no existe en el Brasil, dando con ello una sentenoia de muerte 8 la Biensl y @ la libre comunicaciéa en ese pads. Dado que todas les instituciones y todos los individuos estén bejo 1a dictadure, perece una tonterfa gratuita el pensar que ge pueda organizar uns.exposicién " independiente ", allf,en Soptioubre. En lugar do epoyar 1s causa del libre intercembio de inform— cién piblica, los trebajos oxpuestos en San Pablo vergonzosas mente prestaran importancia a ese gobierno totalitario y a sus aliados. De aquellos que fueron invitados por Jorge Glusberg a partici— par en 1s Bien-1 de San Pablo, 1a mayor parte ya ha expresado su intencién Ge rotirar sy obra manteniendo el boycott de 1970. Esto es una expresién de apoyo para aquellos que a— rriesgan 0 han gacrificado su vida pare la liberacién de Bra~ sil, como también de esperanza para une alternative Libre de desérrollo en Chile o en otro lugar,creando un foro estraté— gico en el cual los artistas mevamente puedan mostrar su o- bra en un libre intercambio con los pueblos de América del Sur. Habiendo estado en contacto con artistas preooupados del Brasil, me di cuenta de la importancia de tomar una posicién en contre de la situseién allt. También toné le iniolativa de enviar partes de esta carta pa~ re ser publicadas en 12 columna polftica de Art Forua. Hasta el momento Carl Andre, Robert Morris, Walter De Marta, ichael Keizer, Hans Haacke, Mel Bochner, ban Graham, Richard Serra, Keith Somnier, Vito Acconci, Lee Jaffe, Christo, Terry Fox y'Les Levine han’ expresado su intencién de no enviar su obre a San Pablo. No hay nada en esta carta para implicar o comprometer a nadie que sienta que tiene que contimear con su envfo, pero exhorto & todos 8 unirse on Sata aooién y enviar propucstas y respuestas a mi, a los medios de informecién o 2 cualquier lado donde puedan ser es— cuchados. Bn virtud de le forma dudoss en que Glusberg nenipulé este ssunto ba perjudicado serianents el atractivo de 1a mostra por 61 pro~ puesta en Buenos Aires. Se ha sugerido que en lugar de retirar o- bra de enbas actividades, se estimule a un grupo a exponer en Ar— gontina al mismo tiexpo que se hace un manifiesto colectivo firme Contra la situacién en el Brasil, ‘WL sensacién es que Glusberg tiene 1a intencién plena de mandar les obres que reciba para San Pablo, y que probebleaente no sea mas fdeil , hacer deolaraciones pollticas on Argentina quo on el Brasil. Ta idea de orgunizar un intercambio con Chile, 5 peser de ser couplicado, etd en los rpimeros inicios de desarrollo, y expre~ seria en ef mismo, una preocupacién por 1a condicién en América del Sur. Siel transporte y gastos modestos pudieran ser aporta~ dos por Chile, resultard un gesto positivo importante de apoyo. Por favor, pénganse en contacto connigo de alguna manera sobre estas y cuzlesquiera otras idess que Ud. tengs.. Saludos Gorion Matta Maya 19,1971 143 Consbuigio de Gordon Mata lark para ocatlgo da Cotabiena MICLA ovment pala ndepandinia Ctra Latno-americang), 1971 Corsi spo de Gordon Mati The Americas Society, Mova York 144 Gordon Matta-Clark’s contribution for the Contrabienal catalogue 1971 ‘The international enthusiasm for the Séo Paulo Bienal, during its Period of importance, was secretly inspired by the prevalent spi ‘of social experimentation during a period of democratic. leadership in Brazil it 1n 1954, in conjunction with the city’s fourth centennial, a major exhibition gave not only South America, but the world, the first rotrospective views of such masters as Mondrian, Klee, Munch, Picasso and Moore. For a decade, the Bienal established Brazil a the center for free cultural lite in South America, influencing local artists and promoting the exchange of crucial information. ‘When the military dictatorship of 1964 began to control the Bienal and 2 growing list of social freedoms, Brazilian artists responded by dealing more specifically with environmental ‘works. In 1968, General Montana removed some of these ‘works from the Brazilian entry to the Paris Biennial, advancing ‘campaign of total censorship which now claims a host of imprisoned victims. The latest incident was the arrest last February of thirty young architects who had dared to propose ‘a popular solution to the more urban dilemmas of Brazil. It is public knowledge that freedom of expression no longer exists {in Brazil, thus giving a death sentence to the Bienal and free ‘exchange in that county. ‘Since all institutions and individuals are under the dictatorship, Its idle nonsense to propose that an “independent” exhibition bo staged there in Soptomber. Rather than supporting the cause of free exchange of public information, all works showing in So Paulo will shamefully lend their importance to that totalitarian government and its allies. Of those who were asked by Jorge Glusberg to participate in the Sao Paulo Bienal, a major part has already expressed their intention to withdraw their work in keeping with the 1970 boycott. This is an expression of support for those who tisk or have sacrificed their freedom for Brazilian liberation, as well as a hope that some free alternative may velop in Chile or elsewhere, creating a strategic forum at which each artist may show his work in an open exchange with the people of South America. Contact with artists ‘concerned about Brazil convinced me ofthe importance of taking a position against the situation there. Contribuigao de Gordon Matta-Clark para 0 catalogo da Contrabienal 1971 O entusiasmo internacional pela Bienal de Sao Paulo, durante 0 periodo em que a mostra adquiriu importancia, foi particularmente inspirado pelo espirito goral de experimentagio social que marcou 0 periodo de demacracia no Brasil Em 1954, paralolamente & comemoragiio do lV Centendrio [da cidade de Sé0 Paulo], a primeira Bienal na verdade realizada em 1951] deu & América do Sul e 20 mundo as primeiras mostras retrospectivas de artistas como Mondrian, Klee, Munch, Picasso, Marini e Moore. Durante uma década, a Bienal consolidou o Brasil como um centro de vida cultural livre na América do Sul, exercendo influéncia sobre artistas locals e possibilitando intorcdmbios de informagao cruciais Quando a Junta Militar de 1964 comegou a conduzir a Bienal eum niimero crescente de liberdades saciais pelo caminho da repressao ditatoral, os artistas brasileiros responderam com ‘rabalhos diretamente relacionados & situacao social. Em 1968, 0 general Montana expurgou alguns desses trabalhos da representagao brasileira na Bienal de Paris, iniciando uma ‘campanha de censura total que jé resultou numa multidao de vitimas oncarceradas. 0 tiltimo incidente foi a prio, om fevereiroitimo, de trinta ovens arquitetos que haviam se atrovido a propor uma solu¢éo social para os problemas urbanes do Brasil. de conhiecimento piblico que a liberdade de oxprossao jé no existo no Brasil, o que corresponde a uma sentenca de morte para a Bienal e a livre comunicaggo naquele pais Uma vez que todas as instituigdes e individuos esto submetidos 4 ditadura, pensar em organizar uma exposicéo “independento” no més de setembro soa como uma completa tolice £m lugar de apoiar a causa do livre intercdmbio de informagoes Diiblicas, 0s trabalhos expostos em Sao Paulo, vergonhosamente, {dardo importancia a esse governo totalitrio e aos seus alfados. Entre 0s artistas convicados por Jorge Glusberg a participar da Bienal de Sto Paulo, muitos j4 expressaram a intengéo de retrar sttas obras, mantendo 0 boicote de 1970. Essa 6 uma ‘manifestagio de apoio aqueles que arriscam ou sacrificaram suas vidas pela libertaco do Brasil, bem como de esperanca por uma altornativa livre de trabatho no Chile ow mesmo om outro lugar, visando a erlar um foro estratégico no qual as artistas ‘Rovamente possam expor suas obras num livre intercmbio com | also took the initiative of sending parts of this letter for publication in the politcal column of Art Forum, So far, Carl Andre, Robert Morris, Walter De Maria, Michael Heizer, Hans Haacke, Mel Bochner, Dan Graham, Richard Serra Keith Sonnier, Vito Acconci, Lee Jaffe, Christo, Perry Fox and Les Levine have said they do not plan to send thelr work to San Pablo. There is nothing in this letter to implicate or compromise anyone ‘who feels they must continue sending their work, but l urge everyone to join this effort and to send proposals and responses ‘othe information media or any other place where they can be heard. ‘The questionable way in which Glusberg manipulated this issue has soriousty threatened the appeal of his proposed exhibit in ‘Buenos Aires. Ithas been suggested that rather than withdrawal ‘works from both venues, a group should be encouraged to show in Argentina atthe same time to take a firm, collective stand against the situation in Brazil. Iy feting is that Gusberg fully plans to send the works he receives for San Pablo, and that wil probably not be any ‘asior to make political declarations in Argentina than in Brazil. ‘The idea of organizing an exchange with Chile, although complicated isin the first stages of development and would express concer for the situation in South America, If Chile could cover transportation and other modest costs, i would be an important gesture of support. Please contact me in some way with respect to these and any other ideas you may have. ‘Regards, Gordon Matta May 19,1971 Indo estabelecido contato co 0s povos da América do Sul arlistas brasileirs angustiados, comprecndi a importancia de ‘marcar uma posigo contra a situago naquele pais. Também tomel a iniciativa de enviar trechos desta carla para que sejam publicados na seeao politica da Art Forum. Até o momento, Carl Andre, Robert Morris, Walter De Maria, ‘Michael Heizer, Hans Haacke, Mel Bochner, Dan Graham, Richard Serra, Keith Sonnier, Vito Acconci, Lee Jaffe, Christo, Terry Fax e Les Levine ja expressaram a intongao de néo enviar obras a So Paulo ‘Nao hi nada nesta carla que comprometa aqueles que desejam dar continuidade ao envio de suas obras, mas convido todos tunirem nesta ago, enviando-me respostas e propostas, bem ‘como aos meios de comunicagao ou a qualquer insténcia em que possam ser ouvidas. 145 fg tralou sta em Em decorréncla da maneira duvidosa com que Gi deste assunto, o interesse da exposicio por ele Buenos Aires foi seriamento projudicado. Sugoriu-se que, em de retirar trabalhos de ambas as exposicdes, um grupo losse ‘estimulado a expor na Argentina, 20 mesmo tempo om que seria apresentado um dura manifesto coletivo contra a situacao Brasi Minha sonsagao é que Glusberg tenciona enviar a Sao Paulo as, obras recebides, e que provavelmente é mais facil fazer declaragdes politicas no Brasil que na Argentina ‘Adela de organizar um intercémbio com o Chile, apes omplicada, ja esté sendo desenvolvida, e por si sé expres: 2 preocupagdo com a situagdo na América do Sul. Se o transporte algumas poquenas despesas pudessem sor financiados pelo Chile, isso resuttaria num importante ¢ positive gesto de apoio, Por favor, entrem de alguma maneira em contato comi sobre estas e qualsquer outras idelas que thes ocorram. Saudagoes, Gordon Matta 19 de maio de 1971 146 Draft of a text for the Contrabienal catalogue* 1971 ‘The Sao Paulo Biennial grew to international importance in the carly fifties during a period of progressive democratic leadership. {In 1954 in conjunction with the city's fourth centennial a major ‘exhibition gave not only South America but the world the first retrospective views of such masters as Mondrian, Alex Calder, Picasso, Marini and others, establishing Brazil as the center of free cultural exchange and communication in South America. For a decade the Biennial continued to establish Brazil as the center for free cultural life in South America. When the coup a’état ‘of 1964 brought the Biennial and a growing list of social freedoms under direct government control, Brazilian artists responded by dealing more specifically with socially relevant environmental ‘works. In 1968 General Montana removed some of these works ‘rom the Brazilian entry tothe Paris Biennial, advancing a ‘campaign of total censorship which now claims a host of imprisoned victims. The latest incident has been the arrestin February of thirty young Brazilian architects who dared a popular solution to their urban dilemmas; the repressive dictatorship in Brazil having total control of media and information, ‘Since al institutions and individuals are under constant dictatorship in Brazil itis idle nonsense to propose that a ‘concurrent “independent” exhibition can be staged there this ‘September. Rather than supporting the cause of free exchange and public information all works showing in San Paulo will shamefully lend thelr importance to that totalitarian government and its alles. Of those who wero asked by Jorge Glusberg to participate in the Sao Paulo Biennial, a major part has already expressed their intention to withdraw their work in keeping with the 1970 boycott. This is an expression of support for those who risk or hhave sacrificed their freedom for Brazilian liberation as well asa hope that some positive, free alternative may develop in Chile or elsewhere, creating a strategic forum at which each artist may show their work in open exchange with the people ‘of South America, "This transcript coresponds o Gordon Mata-Clark’'s notes for his ‘contribution othe Gontrabenal catalogue, which were fealy translated ino ‘Spanish for its distribution. Both versions, therefore vary from each other. ‘From a red and grey notebook of 182 pages. Etat of Gordon Mats-Clark ‘on deposit atthe Canadian Centre for Architecture, Montreal. Rascunho de texto para o catalogo da Contrabienal* 1971 ‘A Bienal de Sao Paulo adquiriu importancia internacional no inicio do anos 1950, durante um periodo de lideranca democratica progressista, Em 1954, por ocasiao do IV Centendrio da cidade, tuma grande exposigao deu a América do Sul e 20 mundo as primeiras mostras retrospectivas de mestres como Mondrian, Alex Calder, Picasso, Marini e outros, fazendo do Brasil o contro do livre intercmbio cultural e das comunicagdes na América do ‘Sul Durante uma década, a Bienal continuou a centralizar no Brasil ‘a vida cultural livre da América do Sul. Quando o golpe de Estado de 1964 submeteu a Bienal e uma crascente lista de lherdades sociais a0 controle direto do governo, os artistas brasileiros responderam com trabathos diretamente relacionados &situacéo social. Em 1968, 0 gonoral Montana expurgou alguns dossos trabaihos da representacdo brasileira na Bienal de Paris, iniciando uma campanha de consura total quo jé rosultou numa ‘multiddo de vitimas encarceradas. 0 tiltimo incidente foi a pris ‘om foveroiro, do trinta jovens arquitetos brasileiras que se alreveram a propor uma solucdo social a seus dilemas urbanos; a itadura repressiva no Brasil tem o controle total da midia e da informacao. a, Uma vez que todas 2s instituigGes e individuos estéo submetidos €ditadura, pensar em organizar uma exposigao paralela “independento” no més de setembro soa como uma completa tolice. Ao invés de apoiar a causa do livre intercambio da informagao, 0s trabalhos expostos em Sao Paulo acabaréo por Conterir legitimidade ao governo totaitario e seus allados. Entre os artistas convidados por Jorge Glusberg a participar da Bienal de So Paulo, muitos jé expressaram a intongSo de rotirar suas obras, mantendo o boicote de 1970, Essa é uma ‘manifestagio de apoio aquolos que arriseam ou sacrificaram ‘suas vidas pela libertacdo do Brasil, bem como de esperanca por ‘uma alternatva livre © positiva de trabatho no Chile ou mesmo em ‘outro lugar, visando a eriar um foro estratégico no qual os artistas possam expor suas obras num livre intercdmbio com os povos da ‘América do Sul * Esta ranserigo corosponde is notas de Gordon Matta-Cark para sua ‘contigo paraocatilogo da Contabienat, vrementetraduzidas a0 ‘espanhol para publieacio,Ambas as verses, portant, passuom variades. De um cadero vermethoe verde de 182 pina, Esplio eGordon Mata-Ctark sob custla do Canadian Contre for Architecture, Monten, ‘A Matta’s Proposal 1971 ‘August 1, 1971 Dear St. Lee Junior: A MATTA'S PROPOSAL ‘Assit inking in the peacetul ight and shadow of midnight olls enjoying the city’s summer drone, great ideas come to my Inftuenzaed mind. Halt dreaming, half sweating, stil planning the restaurant which is a the moment my major project. This so ‘much absorbs and demands my energls that I suspect it may ‘bo partly the cause of my strange illness. But one thing is clear: ‘acrisis-lke situation exists that | mean to resolve, {keep wondering why Iam doing this—just what is the purpose ‘of devoting so much energy to a highiy demanding activity. ‘Meannot be for business or money alone, There are deeper ‘needs and pleasures at stake, Something more gutsy like areal ‘hang-up wit food. | have worked with food and its operations inthe past but never in such an obvious or direct way. So my ‘motives stl elude me unless itis perhaps some primordial urge ‘as basic as hunger though far more exciting and dangerously forbidden. For reasons ofthis inner search we are brought together again. {1am writing because feel you are the chosen one: the perfect subject for a culinary communion as the modem world has long forgotten. have in part decided that my mission in opening this restaurant i to restore the art of eating with love instead of fear. This very Christin ideal precludes the horror of eating loved ones ‘orn turn boing consumed out of love. | hope by now my meaning, and ts historic as well as beatific importance is clear. tis inevitable, Now isthe time for an age of renewed cannibalism ‘which completes stil another phase of social development and resolves the malaise du sigcle. We will each achieve fulfillment by giving ourselves to the tastes and delights of a banquet. Lee—just imagine what a fabulous treat you would make. Itseems to be the perfect achievement for the artist lover or saint to gve all of himself and be well chewed before swallowing. ‘You would not only be well remembered but superbly catered and there are great possibilities of either canonization oF Ceification, Remember, there is no rush, | understand this is an Important decision. You wil be the leader of an incredible eatable art movement—plus! think of what a great film it will make, Lov Uma proposta de Matta 1971 1° de agosto de 1971 Caro St. Lee Junior: UMA PROPOSTA DE ATTA Enquanto estou aqui sentado, Ierso na luz e na sombra tranquilas de uma vigiia noite adentro, desfrutando do zumbido estival na cldade, grandes ideias afforam em minha mente

Você também pode gostar