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7.

º ANO

A HERANÇA DO MEDITERRÂNEO ANTIGO

Os Gregos no século V a.C.

Características do território grego

A Grécia, situada na Península Balcânica e banhada por três mares (Mediterrâneo, Jónico e
Egeu), é constituída por mais de quatro centenas de ilhas, possuindo também diversas baías e
golfos ao longo de uma costa muito recortada.

Mais de 80% do território da Hélade é formado por montanhas e as planícies são praticamente
inexistentes, relevo que dificulta a prática da agricultura e acentua o isolamento das populações.
Uma vez que todos os lugares se encontravam próximos da costa e o solo era muito pobre
devido à escassez de água, o mar tornou-se, assim, a principal via de comunicação,
posteriormente de sustento (através do comércio) dos Gregos.

O aparecimento das cidades-estado

As deslocações por terra eram dificultadas pelo relevo, o que provocou o isolamento de algumas
populações. Foi neste contexto que surgiram, no séc. VIII a. C., as cidades-estado ou pólis. Destas
faziam parte a acrópole (parte alta da cidade, fortificada e centro da vida religiosa), a ágora
(praça pública) e a zona rural (campos e zonas de pasto).

Na Grécia existiam várias centenas de pólis, todas possuindo governo e administração próprios
e ocupando territórios muito reduzidos, à excepção de Atenas e Esparta.

O crescimento populacional, associado à escassez de alimentos e aos conflitos entre as


diversas pólis, forçou a emigração dos gregos para novos territórios onde as condições de vida
eram mais fáceis.

Assim, durante o séc. V a. C., os Gregos fundaram diversas colónias nas regiões do Mediterrâneo
e do Mar Negro. Embora independentes, as cidades-estado possuíam valores comuns, tais como
a língua, os costumes, os ritos religiosos e o comércio.

Os recursos económicos de Atenas

No séc. V a. C., Atenas era uma das cidades mais prósperas da Grécia e os seus habitantes
dedicavam-se sobretudo à agricultura, cultivando cereais, vinho, oliveiras, figueiras e
amendoeiras. As montanhas, cobertas de vegetação, eram utilizadas para a criação de gado
(ovelhas, cabras e carneiros), produção de mel e extração de madeira. Do subsolo retiravam a
prata e o mármore.

Paralelamente, para fazer face às exigências do dia-a-dia (por exemplo, guardar alimentos ou
transportá-los), terão surgido as atividades artesanais, como a cerâmica, a construção naval, a
metalurgia (armas e objectos de ferro e bronze) e a joalharia.
Porém, apesar de todos os esforços empreendidos pelos atenienses, aqueles produtos,
sobretudo os agrícolas, eram insuficientes para fazer face às necessidades permanentes da
população e as matérias-primas para as actividades artesanais eram escassas. Atenas não era,
pois, uma cidade auto-suficiente.

A abertura marítima

O mar foi, então, a solução encontrada pelos gregos para os seus problemas de subsistência,
através da pesca mas principalmente do comércio.

Com efeito, Atenas passou a exportar excedentes agrícolas (vinho e azeite) e produtos
artesanais (objectos de cerâmica e bronze, armas e navios), importando em troca produtos de
que mais carecia: cereais, madeira, metais. A maior parte destas trocas desenrolava-se no porto
de Pireu, o principal centro de comércio da Grécia.

À medida que aumentava o volume de negócios, ia-se tornando mais difícil fazer o pagamento
dos produtos através do sistema de troca directa (dar um produto por outro recebido). Em
alternativa, os gregos começaram a cunhar moeda em prata – dracma – e utilizaram-na para
facilitar as transacções comerciais. No séc. V a. C., Atenas era já o centro de um verdadeiro
império marítimo, por isso, dado que as cidades-estado vizinhas não possuíam forças militares
comparáveis às de Atenas e a ameaça de povos invasores ser constante, aquelas passaram a
pagar um tributo a Atenas em troca de protecção. Assim se fundou a chamada Liga de
Delos (aliança de várias cidades, sob a chefia de Atenas, contra inimigos comuns), no seio da
qual vigorava o princípio da igualdade entre todas as cidades.

Na prática, porém, Atenas serviu-se da Liga de Delos para impor a sua hegemonia às outras
cidades-estado. Graças ao prestígio e poder que detinha, Atenas acabou por dominar as cidades
que, como ela, pertenciam à Liga, estabelecendo feitorias e forças militares nesses territórios e
estendendo a sua influência a todo o Mediterrâneo oriental.

A democracia na época de Péricles: a sociedade ateniense

A população de Atenas, no séc. V a. C., dividia-se em três grupos sociais: cidadãos, metecos e
escravos.

 Cidadãos: homens ricos ou pobres, maiores de 18 anos, com serviço militar


cumprido, livres, habitantes de Atenas e filhos de pais atenienses, não ultrapassando 10% da
população da cidade. Eram os únicos que gozavam de direitos políticos, sendo responsáveis pelo
governo da cidade, e que podiam deter propriedades rurais, retirando a maioria dos seus
rendimentos da agricultura. Por outro lado, estavam obrigados a cumprir o serviço militar e a
defender a cidade, bem como ao pagamento de impostos destinados à guerra, aos cultos
religiosos e às festas públicas.
 Mulheres: estavam excluídas da cidadania, ou seja, estavam impedidas de
participar na vida intelectual, artística e política da cidade. Continuavam durante toda a vida na
dependência do pai, do marido ou de qualquer outro familiar no sexo masculino. As mais
ricas cuidavam do lar e educavam os filhos. Raramente saíam de casa e, quando o faziam, era
apenas para visitar amigas, sempre acompanhadas por uma escrava, ou participar em festas
públicas, normalmente religiosas. As mulheres mais pobres tinham maior liberdade, dado que a
condição de trabalhadoras agrícolas ou comerciantes nos mercados lhes proporcionava mais
oportunidades de contacto com o mundo exterior às suas casas.
 Metecos: moradores estrangeiros, na sua maioria provenientes de outras
cidades gregas, embora houvesse também Fenícios e Hebreus. Apesar de serem homens livres,
não podiam possuir terras e casas próprias nem ocupar cargos políticos. Estavam obrigados a
prestar serviço militar e a pagar um imposto de residência. Eram, sobretudo, operários,
mercadores, armadores, banqueiros, artistas e filósofos.
 Escravos: prisioneiros de guerra e estrangeiros, representavam um quarto da
população de Atenas. Não dispunham de qualquer direito político ou de liberdade, família ou
posses. Tal como os instrumentos de trabalho ou o gado, o escravo era propriedade absoluta do
dono, que podia vendê-lo ou comprá-lo de acordo com os seus interesses. Eram utilizados nas
mais variadas tarefas: serviços domésticos, trabalhos agrícolas, actividades artesanais e
exploração de minas.

Assim só uma pequena parte da população de Atenas – os cidadãos – podia participar na vida
pública da cidade. A maioria dos atenienses, constituída pelas mulheres, os metecos e os
escravos, não possuía qualquer direito político. Por outro lado, a produção e prosperidade
económicas de Atenas eram asseguradas exclusivamente por metecos e escravos, graças ao seu
trabalho no comércio, artesanato e agricultura.

Funcionamento do regime democrático

Na época de Péricles todos os cidadãos de Atenas participavam directamente no governo da


cidade (democracia directa), ora integrando as diversas instituições políticas – a Eclésia
(assembleia formada por cidadãos que votam as leis), a Bulé (assembleia formada por 500
cidadãos que preparam as leis a aprovar pela Eclésia) e o Helieu (constituído por 6 000 juízes
que julgam os casos mais comuns) ou o Areópago – ora sendo escolhidos como magistrados
(estrategos e arcontes). Para tal, Péricles instituiu a concessão de subsídios aos cidadãos
designados para exercer cargos públicos, de maneira que ninguém fosse excluído do governo da
cidade por falta de recursos.

As contradições e limitações da democracia ateniense

A democracia apresentou várias limitações e contradições:

 Igualdade de direitos apenas reservada a uma minoria da população, os


cidadãos, os únicos a exercer o direito de voto e a participarem na vida política;
 Mulheres, metecos e escravos não tinham direitos de cidadania;
 Existência de escravatura;

 Falta de liberdade de expressão em relação a algumas ideias dos governantes;


 Condenações ao ostracismo (exílio) e à morte;
 Imperialismo exercido por Atenas sobre as outras cidades que pertenciam à Liga
de Delos, é um princípio incompatível com um regime democrático.
Apesar de todas estas limitações, a democracia ateniense foi um regime totalmente inovador
estando na origem do modelo democrático da civilização ocidental actual.

Religião e cultura: a formação do cidadão grego

O gineceu era o espaço da habitação reservado às mulheres onde as crianças eram educadas
até aos 7 anos. A partir dessa idade, a educação masculina diferenciava-se da feminina. As
raparigas permaneciam em casa, sendo orientadas para a vida doméstica e para a música. Por
sua vez, os rapazes passavam a frequentar a escola. Aos 12 anos, iniciavam actividades como a
ginástica e a luta. Aos 15 anos frequentavam a academia e o Liceu, com o objectivo de se
preparem física e intelectualmente. Com 18 anos, cumpriam o serviço militar, com uma duração
de dois anos. Completavam, assim, a sua formação para se tornarem cidadãos, com o
objectivo de governarem a cidade-estado.

A religião grega

Os gregos prestavam culto a uma grande variedade de deuses, concebidos com aspecto físico,
qualidades e defeitos semelhantes aos seres humanos. Por isso, dizemos que a religião grega
era politeísta e antropomórfica. Os deuses, possuíam, contudo, características que os
diferenciavam dos seres humano: eram invisíveis, imortais e podiam adquirir várias formas
(metamorfose).

Os gregos consultavam os deuses em oráculos, aconselhando-se na tomada de decisões.

A mitologia grega definiu lendas e mitos que relatavam relações amorosas entre deuses e seres
humanos, das quais resultavam seres considerados semi-deuses, os heróis.

A vida quotidiana dos gregos era muito preenchida com diversas formas de culto aos deuses:

 Altares domésticos, em casa;


 Cultos pan-helénicos, em grandes santuários da Grécia, em honra do deus desse
santuário. Nestes cultos participavam pessoas vindas de todo o mundo helénico;

 Cultos públicos ou cívicos, em actividades culturais e desportivas que se


realizavam em cada uma das cidades-estado gregas, em honra do deus protector da cidade.
Cortejos religiosos, teatro, jogos eram as principais actividades deste culto.

O teatro

O teatro teve a sua origem no culto a Dionísio (deus do vinho), durante a realização de festas
em sua honra, na Primavera. Tornou-se numa das mais importantes manifestações cívicas,
culturais e religiosas da Grécia Antiga.

A tragédia e a comédia eram os géneros teatrais gregos. Na tragédia representavam cenas


dramáticas da vida dos deuses e dos heróis e na comédia contavam histórias que ridicularizavam
situações do quotidiano e determinadas personagens. Ésquilo, Sófocles e Eurípedes foram os
principais autores da tragédia e Aristófanes foi o que mais se destacou na comédia grega.
A arte grega

A arte grega foi marcada pela religião e mitologia gregas. Caracterizada pela sua perfeição e
beleza, os gregos consideravam que até as coisas úteis deviam ser belas. Uma arte feita à
medida do homem, uma vez que este é o centro das preocupações e a arte estava ao seu serviço.
Esta arte, conhecida por arte clássica, exerceu até ao nosso tempo uma grande influência, pela
sua expressão de harmonia, beleza e naturalismo.

O mármore foi a principal matéria-prima utilizada na arquitectura e escultura grega, embora o


bronze também fosse bastante utilizado na escultura.

Arquitectura Pintura e Escultura


Construção de templos, teatros e estádios; Escultura: grande rigor de pormenor,
perfeição, naturalidade, serenidade e ideia de
Harmonia, proporção, equilíbrio e ordem; movimento. Estátuas de deuses e heróis eram
os principais temas. O objectivo era
O elemento principal era a coluna era nela que representar a beleza ideal humana.
se sustentava toda a estrutura do templo.
A pintura era usada na cerâmica e nas paredes
As características da coluna definiram três dos túmulos. Destacam-se os temas ligados a
estilos ou ordens arquitectónicas: ordem cenas mitológicas e episódios do quotidiano.
dórica; jónica e coríntia.

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