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Lê atentamente os excertos da obra O Cavaleiro da Dinamarca, de Sophia de Mello Breyner.

Depois responde, de forma clara e completa, às questões que te são colocadas.

Há muitos anos, há dezenas e centenas de anos, havia em certo lugar da Dinamarca, no


extremo Norte do país, perto do mar, uma grande floresta de pinheiros, tílias, abetos e carvalhos.
Nessa floresta morava com a sua família um Cavaleiro. Viviam numa casa construída numa
clareira rodeada de bétulas. E em frente da porta de casa havia um grande pinheiro que era a
árvore mais alta da floresta. A maior festa do ano, a maior alegria, era no inverno, no centro do
inverno, na noite comprida e fria do Natal. Então havia sempre grande azáfama em casa do
Cavaleiro. Juntava-se a família e vinham amigos e parentes, criados da casa e servos da floresta.
A noite de Natal era igual todos os anos. Sempre a mesma festa, sempre a mesma ceia, sempre
as mesmas coroas de azevinho penduradas nas portas, sempre as mesmas histórias. Mas as
coisas tantas vezes repetidas e as histórias tantas vezes ouvidas pareciam cada ano mais belas e
mais misteriosas. Até que certo Natal aconteceu naquela casa uma coisa que ninguém esperava.
Pois terminada a ceia o Cavaleiro voltou-se para a sua família, para os seus amigos e para os
seus criados e disse: - Temos sempre festejado e celebrado juntos a noite de Natal. E esta
festa tem sido para nós cheia de paz e alegria. Mas de hoje a um ano não estarei aqui. -
Porquê? – perguntaram os outros todos com grande espanto. - Vou partir – respondeu ele. –
Vou em peregrinação à Terra Santa e quero passar o próximo Natal na gruta onde Cristo nasceu
e onde rezaram os pastores, os Reis Magos e os Anjos. Também eu quero rezar ali. Partirei na
próxima primavera. De hoje a um ano estarei em Belém e, de hoje a dois anos estaremos, se
Deus quiser, reunidos de novo. A mulher do Cavaleiro ficou aflita e inquieta com a notícia. Mas
não tentou convencer o marido a ficar, pois ninguém deve impedir um peregrino de partir.
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Caminhava ao acaso, levado por pura esperança, pois nada via e nada ouvia. As ramagens
roçavam-lhe a cara e caminhava sem norte e sem oriente. O cavalo enterrava-se na neve e
avançava muito devagar. Até que de repente parou. O homem tocou-o com as esporas mas ele
continuou imóvel e hirto.
- Vou morrer esta noite – pensou o Cavaleiro.
Então lembrou-se da grande noite azul de Jerusalém toda bordada de constelações. E lembrou-
se de Baltazar, Gaspar e Melchior que tinham lido no céu o seu caminho. O céu aqui era escuro,
velado, pesado de silêncio. Nele não se ouvia nenhuma voz nem se via nenhum sinal. Mas foi
em frente desse céu fechado e mudo que o Cavaleiro rezou. Rezou a oração dos Anjos, o
grande grito de alegria, de confiança e de aliança que numa noite antiquíssima tinha atravessado
o céu transparente da Judeia. As palavras ergueram-se uma por uma no puro silêncio da neve:
- Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.
Então, na massa escura dos arvoredos começou ao longe a crescer uma pequena claridade.
- Deus seja bendito! – murmurou o Cavaleiro. – Deve ser uma fogueira. Deve ser algum
lenhador perdido como eu que acendeu uma fogueira. A minha reza foi ouvida. Junto dum lume
e ao lado de outro homem poderei esperar pelo nascer do dia.
O cavalo relinchou. Também ele tinha visto a luz. E reunindo as suas forças o homem e o
animal recomeçaram a avançar. A luz continuava a crescer e à medida que crescia, subindo do
chão para o céu, ia tomando a forma dum cone.
Era um grande triângulo radioso cujo cimo subia mais alto do que todas as árvores.
Agora toda a floresta se iluminava. Os gelos brilhavam, a neve mostrava a sua brancura, o ar
estava cheio de reflexos multicolores, grandes raios de luz passavam entre os troncos e as
ramagens.
- Que maravilhosa fogueira – pensou o Cavaleiro.
– Nunca vi fogueira tão bela! Mas quando chegou em frente da claridade viu que não era
uma fogueira, pois era ali a clareira de bétulas onde ficava a sua casa.
(texto com supressões)

Os excertos que acabaste de ler correspondem a dois momentos completamente diferentes.


1. Descreve, por palavras tuas, o Natal em casa da personagem principal.

2. Qual foi a decisão tomada por essa personagem naquele Natal? O que a motivou?
3. Como reagiu a mulher do Cavaleiro a essa decisão? Justifica.
4. Durante a sua viagem, o Cavaleiro visitou vários lugares e ouviu muitas histórias.
4.1 Refere o nome de uma dessas histórias, identificando também a localidade onde a ouviu.
4.1.1 Indica o processo narrativo utilizado para inserir essa narrativa secundária na ação
principal.
5. A segunda parte do texto refere-se a um momento de grande dificuldade que o Cavaleiro teve
que enfrentar.
5.1 Retira do texto dois exemplos que comprovem a afirmação anterior.
6. Indica duas características psicológicas do Cavaleiro que deduzas do seu comportamento ou
atitudes.
7. Como conseguiu o Cavaleiro encontrar o caminho para casa?
8. Classifica o narrador desta história quanto à presença. Justifica a tua resposta e retira um
exemplo do texto.
9. Identifica os recursos expressivos presentes nas frases:
9.1 “Juntava-se a família e vinham amigos e parentes, criados da casa e servos da floresta.“;
9.2 “O céu aqui era escuro, velado, pesado de silêncio.“.

O segundo momento do texto apresentado corresponde ao desenlace da obra em estudo.


Transforma-o a partir do primeiro parágrafo (“Caminhava ao acaso, (…) sem norte e sem
oriente.”), redigindo um final diferente. Deves incluir um excerto descritivo e outro de diálogo.
O texto deverá ter entre 140 e 180 palavras. Não te esqueças de obedecer à estrutura deste tipo
de texto e de utilizares uma linguagem correta. Planifica, com cuidado, o teu texto, fazendo
primeiro um rascunho. Depois, relê o que escreveste e verifica o que podes melhorar ou corrigir.
Só no fim, deverás passá-lo a limpo para a folha de teste. Não te esqueças que o aspeto gráfico
do teu trabalho é muito importante, por isso cumpre todas as regras que já te foram ensinadas na
aula de Português.

Grupo I (texto A) Grupo II (texto B) Grupo II Gru

1.1 1.2 1.3 1.4 1.5 2 1. 2. 3. 4 4.1 4.1.1 1.1. 1.2. 1.3. 2.1 2.2 3. 4. ----

3 3 3 3 3 2 6 4 4 4 2 10 4 2 2 3 3 4 2 3
1. O Natal em casa da personagem principal era sempre igual todos os anos: juntava-se
a família e os amigos, ceava-se e contavam-se histórias. Era uma quadra festiva que se
vivia com muita alegria e entusiasmo. 2. Naquele Natal, o Cavaleiro anunciou que iria
em peregrinação à Terra Santa, pois queria rezar na gruta onde tinha nascido Jesus, e
que só regressaria dois anos depois. O que motivou essa decisão foi o facto da
personagem em questão ser muito religiosa. 3. A mulher do Cavaleiro ficou muito
preocupada, uma vez que, naquele tempo, as viagens eram longas e perigosas. Contudo,
não contrariou a sua decisão, pois não se deve impedir um peregrino de partir. 4.1 O
Cavaleiro ouviu a história de Vanina em Veneza. 4.1.1 O processo narrativo é o encaixe.
5. O Cavaleiro, no regresso a casa, teve que enfrentar várias dificuldades, como o
comprovam os seguintes exemplos: “Caminhava ao acaso... pois nada via e nada
ouvia.“ e “O cavalo enterrava-se na neve e avançava muito devagar. Até que de repente
parou.“. 6. Duas características psicológicas que posso deduzir, a partir do
comportamento ou atitudes do Cavaleiro, são que ele era aventureiro (“–Vou
partir...Vou em peregrinação à Terra Santa...“) e corajoso (“E reunindo as suas forças o
homem e o animal recomeçaram a avançar.“).
7. O Cavaleiro conseguiu encontrar o caminho de regresso, porque seguiu uma luz que
pensava ser de uma fogueira, mas afinal era proveniente da iluminação do pinheiro que
ficava mesmo em frente da sua casa. 8. Quanto à presença, o narrador desta história é
ausente, já que se limita a contá-la, não participando nela enquanto personagem. O
exemplo do texto que justifica a minha resposta é: “Nessa floresta morava com a
sua família um Cavaleiro.“. 9.1 O recurso expressivo presente na frase transcrita é a
enumeração. 9.2 O recurso expressivo presente na frase transcrita é a adjetivação.
GRUPO III – GRAMÁTICA
1. Ao acaso – locução adverbial de predicado com valor modal Se – pronome pessoal
Constelações – nome comum coletivo contável Continuou – verbo copulativo Nenhuma –
quantificador universal Pelo – preposição contraída por com o determinante artigo definido o.
Cujo – determinante relativo 2. 2.1 A forma verbal transcrita encontra-se no pretérito mais-que-
perfeito do modo indicativo. 2.1.1 a) visse
b) vira
3. 3.1 Ele vai contá-la.

3.2 O Cavaleiro empurrá-lo-á.


3.3 Eles convenceram-no a ficar.
3.4 O Cavaleiro não a esqueceu.
3.5 Ele fê-lo sem saber bem onde estava. 3.6 O Cavaleiro abraçou-a e deu-lhes um beijo. 4. 4.1
Sujeito simples: a sua família; Predicado: ofereceu-lhe várias prendas naquele Natal;
Complemento direto: várias prendas; Complemento indireto: lhe; Modificador do grupo verbal
(com valor de tempo): naquele Natal. 4.2 Sujeito simples: tudo; Predicado: correu bem
Complemento oblíquo: bem Modificador de frase: felizmente.

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