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OS BENEFÍCIOS DO MINI-HANDEBOL

Diego Melo de Abreu¹

¹ Docente na Escola de Ciências Médicas e da Saúde no curso superior de Educação Física na


UMESP - Universidade Metodista de São Paulo; Titular nas disciplinas de: Handebol I,
Handebol II, Educação Física Escolar na Educação Infantil e Ensino Fundamental I, Educação
Física Escolar no Ensino Fundamental II e Médio, Educação Física -Bases Teóricas, Educação
Física Escolar - Métodos e Legislação (EAD), Didática da Educação Física (EAD),
Futebol/Futsal I, Futebol/Futsal II. Professor da oficina de Jogos e Brincadeiras da
Universidade. Coordenador do PIBID - Educação Física (Programa Institucional de Bolsa de
Iniciação à Docência) CAPES/MEC. Professor de educação física (Ensino Fundamental I, II e
Médio), Técnico de handebol e Professor de mini-handebol no CIAM - Colégio Integrado
Americano (São Bernardo do Campo/SP). Docente nas disciplinas de Corpo e Movimento e
Projeto Experimental em Grupo (PEG) no curso de Pedagogia na FAINAM - Faculdade de
Interação Americana. Diretor de mini-handebol na Federação Paulista de Handebol. Técnico de
handebol das categorias de base, mini e mirim, da Metodista. Autor do livro "Teoria e Prática do
Mini-Handebol".
e.mail: diego.abreu@metodista.br

RESUMO:
O mini-handebol é uma realidade na Europa, atualmente são mais de 220 mil
crianças praticando a atividade em clubes, escolas, associações etc. No Brasil
ações isoladas dão indícios que muitos profissionais da área específica do
handebol reconhecem a importância e o significado da modalidade para o
crescimento geral do handebol, assim como beneficiar diversos outros
aspectos. Uma das ações necessárias para o crescimento do mini-handebol
brasileiro é a implantação de programas sérios e embasados dentro das
escolas, assim como incluir o mini-handebol como tema constante na grade
curricular da disciplina de Educação Física no Ensino Fundamental I. Este
artigo tem como objetivo elencar sucintamente os principais benefícios
primários que o mini-handebol pode trazer "além" criança, utilizando
metodologia de pesquisa-ação e revisão e análise bibliográfica.

ABSTRACT:
The minihandball is a reality in Europe, currently there are more than 220
thousand children practicing the activity in clubs, schools, associations etc. In
Brazil, isolated actions give indications that many professionals in the specific
area of handball recognize the importance and meaning of the modality for the
general growth of handball, as well as to benefit several other aspects. One of
the actions necessary for the growth of Brazilian minihandball is the
implementation of serious and ground-based programs within schools, as well
as to include minihandball as a constant theme in the curriculum of Physical
Education in Elementary School I. This article aims to list succinctly the main
primary benefits that minihandball can bring "beyond" children, using research-
action methodology and review and bibliographic analysis.

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INTRODUÇÃO:
O mini-handebol é uma atividade de iniciação aos princípios e
fundamentos do handebol, que visa trabalhar principalmente de forma lúdica
todo o processo de ensino dos movimentos, ações e aplicações dos mesmos
aos jogos com ou sem bola para crianças de ambos os sexos de 6 a 10 anos
de idade (Abreu e Bergamaschi, 2016).
Mais do que um jogo, o mini-handebol é uma filosofia que valoriza o jogo
infantil, isto é, inclui prazer, divertimento, aventura e, por outro lado, orienta-se
no sentido da metodologia e da didática da Educação Física e desportiva para
crianças do primeiro ciclo do ensino básico (6 a 10 anos de idade), sendo
adaptável tanto à escola como aos clubes (Garcia, 2001).
Caracterizada por ser uma atividade feita na medida para as crianças, o
mini-handebol, e as atividades práticas e teóricas que o compõe, são repletas
de adaptações que possam contribuir para o melhor andamento e
desenvolvimento do processo pedagógico. Itens como: bola, número de
jogadores, traves, tamanho de quadra etc. são somente alguns itens que foram
adaptados do handebol, com o claro propósito de beneficiar os praticantes e
tornar a atividade ainda mais atrativa e positiva.
Quase em tom de poesia, Prof. Dr. João Batista Freire descreveu
brilhantemente na contra capa de nosso livro “Teoria e Prática do Mini-
Handebol” a essência da atividade: “No mini-handebol, não é a criança que vira
handebol, é o handebol que vira criança, e tem que ser assim, para não ferir o
direito que toda criança tem de brincar”.
Toda a questão de planejamento e idealização de recursos materiais
adequados conflui com a filosofia do mini-handebol proporcionar benefícios e
bons resultados em diversas esferas.
No mini-handebol tudo é pensado e desenvolvido para fazer o bem às
crianças, ao ser humano, à educação e ao esporte. É o modo como o
handebol, ainda na década de 70 na Dinamarca, diante de toda riqueza de
possibilidades iniciou sua contribuição para a formação integral das crianças,
promoção da modalidade e trabalho em conjunto com as famílias.
Os benefícios com a prática e introdução do mini-handebol nos diversos
locais onde isso é possível são inúmeros, porém não fica restrito “somente” ao
que a modalidade pode proporcionar às crianças. Abaixo, em tópicos, elenco

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sucintamente algumas constatações das nossas pesquisas e constatações ao
longo dos mais de quinze anos de trabalho com o mini-handebol em diversos
âmbitos.

Benefícios motores:
Em relação ao desenvolvimento motor da criança praticante de mini-
handebol, diversas publicações convergem em seus textos que o objetivo
principal é o de desenvolver ao máximo as capacidades físicas e habilidades
motoras, respeitando as características e a individualidade dos praticantes de
acordo com a idade e o nível de aprendizagem.
As práticas e os objetivos propostos pelo mini-handebol são legitimados
por diversos autores que discorrem sobre a importância e a possibilidade da
prática dos exercícios, aquisição de habilidades motoras e desenvolvimento
motor (Abreu e Bergamaschi, 2016, pág. 68).
Em uma pesquisa realizada na Croácia os resultados apontam que
”aulas de mini-handebol produzem diversas e grandes mudanças nos
indicadores de habilidades motoras dos alunos que estavam envolvidos apenas
nas aulas de educação física” (Vuleta, 2013).
Nas publicações da European Handball Federation EHF (2004) é
enfatizado que “a fase do mini-handebol é a chamada fase de ouro da infância,
onde o movimento é vital e, acima de tudo, essencial para o desenvolvimento
físico e psicológico”, evidenciando a importância da promoção de estímulos
motores diversificados e com qualidade nesta fase.

Benefícios Cognitivos:
O desenvolvimento cognitivo, tão importante e significativo para a prática
de um jogo repleto de possibilidades, ações rápidas e variadas e
compreensões multifatoriais a todo instante é privilegiada nas publicações
específicas sobre o mini-handebol, que convergem em alguns fatores, tais
como: estímulo das percepções e inteligências, tomada de decisão, velocidade
de reação mediante estímulos diversos, desenvolvimento para ganho de
memória além de concentração e reflexão incentivando o pensamento crítico,

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fazendo com que esses temas sejam o foco do trabalho de desenvolvimento
cognitivo nas atividades.
Logo no início das atividades do mini-handebol, aos 7 anos de idade, os
participantes possuem características cognitivas citadas por Piaget (1983) que
tornam o jogo coletivo mais significativo: descentralização progressiva,
coordenação interiorizada dos esquemas de ação e operações simples ou
concretas. As variações e os temas propostos em aula para cada fase do mini-
handebol devem ser planejadas de forma que os estímulos e situações
proporcionem experiências novas e enriquecedoras aos seus praticantes.
(Abreu e Bergamaschi, 2016, pág. 69 e 70)

Benefícios Socioafetivos:
Já no aspecto socioafetivo, o mini-handebol visa principalmente o
desenvolvimento do respeito, coletividade, solidariedade e cooperação, com
atividades prazerosas promovendo a sociabilização dos alunos. A partir dos 7
até os 10 anos de idade, o educando tem personalidade polivalente,
ajustamento da conduta às circunstâncias, consciência das possibilidades e
conhecimento mais preciso e completo de si (Piaget, 1983) fazendo com que o
trabalho em grupo, assim como jogos e brincadeiras com regras, sejam
assimilados e necessários para sua formação. (Abreu e Bergamaschi, 2016,
pág. 71 e 72).
O trabalho com as famílias também é fundamental, pois “Criar uma boa
relação de trabalho com os pais e quase tão importante como a relação que se
tem com as crianças. Com algum esforço consegue-se que os pais e familiares
sejam os grandes organizadores dos convívios desportivos em muitas
situações. A chave esta no dialogo, na apresentação das propostas de
programa e na auscultação das suas inquietações.” (Garcia, 1999 apud Abreu
e Bergamaschi, 2016 ).

Benefícios para a Educação Física Escolar:


Os diversos temas integrantes das atividades do mini-handebol
facilmente podem compor e contribuir com os planos/objetivos de aulas de
Educação Física, visto que a vasta gama de temas e possibilidades que o mini
proporciona o torna uma proposta muito interessante para ser inserido nas

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aulas do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental I, de forma isolada ou
agregada aos temas propostos pela Base Nacional Comum Curricular que
inclui nos temas para o ensino fundamental I “brincadeiras, jogos e esportes”
(Brasil, 2016, p. 103 e 104 apud Abreu e Bergamaschi, 2016).
A atividade se ajusta às características motoras, socioafetivas e
cognitivas das crianças, assim como possui forte elo com as diversas
atividades consideradas ideais para vivência nesta fase sendo, portanto, não
só possível como benéfica para a estrutura curricular e possibilidades de
aplicações dentro da escola.

Benefícios para o Handebol:


O mini-handebol pode ser o motivo do sucesso e do interesse dos
alunos em praticar o handebol futuramente, visto que ao oferecer múltiplas
vivências e escolhas para a criança desde seu ingresso nesses ambientes,
minimizam as possibilidades de que ela tenha somente o fator cultural
predominante em seu poder de escolha por um esporte. O mini-handebol, além
de fator para se conseguir mais adeptos, é também motivo de um ganho de 5
anos de trabalho em relação ao que observávamos na década de 90, quando o
mini-handebol ainda não era difundido em parte alguma. (Abreu e
Bergamaschi, 2016, pág. 90).
Uma dessas ações bem-sucedidas nas escolas de ensino fundamental
acontece desde 2010 no Leste europeu. A Sérvia arquitetou um plano a médio
e longo prazo para a disseminação do mini-handebol nas escolas em todo seu
território numa parceria entre o projeto “Smart” da EHF, Ministério do Esporte e
Juventude, Ministério da Educação, Faculdade de Educação Física e Desporto,
Comitê Olímpico Sérvio e clubes de handebol locais e, posteriormente, com o
resultado deste trabalho no mini-handebol, mais de 5 mil novos jogadores de
handebol foram inscritos na Federação Sérvia nos anos seguintes à
implantação do projeto. (Abreu e Bergamaschi, 2016, pág. 73).
Além da captação de novos adeptos e admiradores do esporte o mini-
handebol, por meio de seus festivais, ações e eventos, podem aproximar
diversas esferas da educação formal e não formal dos jogos de handebol, tais
como: crianças praticantes de mini-handebol, crianças que ainda não
conhecem a atividade mas ao verem outras crianças brincar e se divertirem

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podem se interessar, famílias, atletas, dirigentes, acadêmicos, técnicos,
professores etc, de forma que essa junção de fatores pode agregar imenso
valor de significados variados e positivos à modalidade.

Considerações finais:
Mediante o exposto em nossos textos, pesquisas, observações e
práticas afirmamos que o mini-handebol é benéfico sob diversos pontos de
vista para crianças, handebol, famílias, escolas, clubes etc.
O planejamento das aulas e conteúdos do mini-handebol não tem como
objetivo a performance dos envolvidos ou atingir o ápice da forma física e
técnica em determinado período de tempo para competir, e sim para que a
criança tenha uma vivência no esporte de forma global, propiciando que todos
os conteúdos possam ser trabalhados e assimilados nos melhores momentos
de aprendizado da criança respeitando seus limites e sua capacidade, porém
ressaltamos: “Não existe contraindicação em ensinar bem e almejar o que é
certo, assim como não há problema algum em unir ludicidade e qualidade!”
(Abreu e Bergamaschi, 2016, pág. 152).

REFERÊNCIAS:

ABREU, Diego Melo de; BERGAMASCHI, Milton Geovani. Teoria e Prática do


Mini-Handebol. Jundiaí, Paco Editorial, 2016.

European Handball Federation; International Handball Federation.


Minihandball. Vienna, 1994.

GARCIA, Carlos. Mini Andebol, 2001. Disponível em


<http://carlosalbertoferraogarcia.blogspot.com/>. Acesso em: 12 jul. 2008.

PIAGET, Jean. A epistemologia genética. São Paulo: Abril Cultural, 1983

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VULETA, Dinko et al. The Effects of Mini-Handball and Physical Education
Classes on Motor Abilities of Children of Early School Age. Croatian
Journal of Education. Vol.15; Ed. 4, 2013.

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