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CAPITULO 114 EMOCOES COMPONENTES DAS EMOGOES ‘AvAUIAGAO COGNITIVA E EMOGAK Descoberta das avaliagBes Temas e dimensdes das avallagoes Avaliagbes conscientes e inconscientes ‘Avaliagdes no cérebro EXPER BJETWAS E EMOGOES Os sentimentos modificam a atengao ¢ a aprendizagem Os sentimentos modificam avaliacdes ¢ julgamerttos TENDENGIAS DE PENSAME AghO AS Em ENIOGOES POSITIVAS EXPANDEM NOSSOS PENSAMENTOS EA PESQUISA INOVADORA; BENEFICIOS DAS EMOQUES POSITIVAS EMOQOES POSTTIVAS CONSTROEM NOSSOS RECURSOS PESSOAIS ALTERAGDES CORPORAIS E EMOGOES Intensidade das emogées Diferenciaceio das emogoes EXPRESSAO FACIAL € EMOGAO ‘Comunicagao da emogto por melo das expressdes faciais A hipétese do feedback facial RESPOSTAS AS EMOGOES: REGULAGAO DAS EMOGOES EMOCOES, GENERO E CULTURA Diferengas entre os sexos Diterengas cutturais AGRESSAO ‘Agressao como um estimulo Agress’o como uma resposta aprenidida Expresso agressiva e catarse VENDO OS BOIS LADOS; QUAL E A ESTRUTURA FUNDAMENTAL DAS EMOGOES? 368 « tug 8 psonloga de Alincon& Higa ‘Na deécada de 1970, Ted Bundy iavadiu o apartament de «uma jovem estudante da University of Washington, ac tou-a na cabega deixando-a inconsciente, estuprowa e, eam seguida, matov-a. Ele fez isso mais de 30 vezes em todo 0s Estados Unidos. Sew desejo era possuir uma forma feminina sem vida—em coma ou morta ~e pouco antes de sua execucio, em 1989, ele confessou para os detetives da policia que mantinha algumas das vttimas nesse estado por horas ou dias antes de se ivrar de seus corpos. Fle fotografava suas vitimas eescondia seus cra- nios em seu apartamento em Seattle, Bundy explicou, "Quando voc® traballia duro para fazer algo bem feito, nao quer se esquecer disso". Ted Bundy nao sentia qualquer remorso, culpa ou ver. gonha por violar as normas da decencia humana, Ao contrétio, orgulhava-se de si mesmo, Mais tarde, 9 en- frentar seu proprio julgamento por assassinato € a pro- ‘vavelsentenga de morte, o psiquiatra que o examinava re velou mais emocoes incomuns. Ele descreveu Bundy como alegre ¢ jovial. Declarou que, embora Bundy en- tendesse “intelectualmemte” as acusagdes contra ele, cer- tamente nao agia como um homem que estivesse se de- parando com uma sentenga de morte. Ele estava agindo ‘como uim homem que nao tinha preocupagéo alguma no mundo, Contra os fortes apelos de seus advogados, Bundy até mesmo escolheu servir como advogado em sua propria defesa, Como seu psiedlogo explicau posterlor- mente, “[Bundy] nao era motivado por uma necessidade de autoajuda, Estava motivado pela necessidade de sera estrela do show... Fle foi o produtor de uma peca em que atuou em um grande papel. A defesae seu foturo estavara em segundo plano para ele”. Ted Bundy nfo tinha medo de consequencias futuras, ‘As emogbes, no fim das contas, so tao fundamentais para a experiencia humana e para os encontros socials bem-sucedidos que consideramos aqueles que parecem no ter qualquer emocio como o assassino em série que nao demonstra vergonha ou meco ~ desumanos. Dize- :mos que pessoas assim tém sangue frio. Esse r6tulo € ca- bivet porque, embora compartithemos motivagdes bisi- «as, como a fome € o sexo, com répteis de sangue frio, Parecemos compartilhar emocdes apenas com outros ‘marasferos de sangue quente (Panksepp, 1998). Pessoas como Ted Bundy sio, de lato, consideradas como tendo déficts biologicas e cognitives socials espe- ciicos, Afirma-se que elas tenham transtorno de perso- nalidade antisocial (¢ sio as vezes chamadas de psico- patas ou soclopates), um transtorno caracterizado por deficits nas reacoes emoclonais normais ~ especialmente para a vergonha, a culpa e 0 medo ~ em como deficits 'ha empatia pelas emocdes dos outros (Hare, 1999). Ape- sar disso, pessoas como Ted Bundy nao sio completa- mente desprovidas de emocoes, Pelo contrat, “elas pa- recer sofrer de um tipo de pobreza emacional que limita ‘extensio e a profundidade de seus sentimentos. Apesar de, as vezes, patecem ser fras e sera emogoes, elas ten- dem a demonstrar sentimentos de forma breve ¢ super. ficial. Muitos elinicos comentaram que a8 emiocies dos psicopatas so tao superficiais que nao passam de poucg mais do que “protoemocdes” ~respostas primitivas par necessidades imediatas” (Hare, 1999, p. 52). Neste cap. tulo, exploraremos que parecia faltar para Ted Bundy, © conjunto completo de emogdes humanas significativas AS emogves € motivacdes (discutidas no Capituly 10) estao intimamente relacionadas. As emoc@es podem ativare guiar 0 comportamento do mesmo modo que a motivacdes bnisicas. Elas também podem acompanhar ‘um comportamento motivado: sexo, por exemplo, nao ¢ apenas uma motivacao poderosa, mas também uma fonte potencial de alegriae culpa, Apesar de suas similardades, recisaunos distinguir as motivagdes das emocées. Uma diferenga € que as emogdes so tipicamente acionadas com o que ver de fora, a0 passo que as motivagdes sig ativadas com mais frequenela pelo que ha no interior. Ou seja, a5 emogdes sio normalmente estimuladas por cir. cunstanctas externas, ¢ as reacoes emocionais sto dire- cionadas para essas circunstancias. As motivacdes si fre- ‘quentemente estimuladas por clrcunstancias internas (como win desequilibrio homeostatico) e, naruralment, sito direcionadas para objetos patticulares no ambiente (como alimentos, agua ou um companheiro). Outta dis. tingao entre motivagdes € emogoes é que um motivo € normalmente produzido por ums necessidade espect- fica, mas uma emocao pode ser produzida por una am- pla variedade de estirmulos (pense sobre todas as coisas diferentes que podem deixi-lo com raiva ou feliz) Essasdistincoes nao sio absolutas, Uma fonte externa pode, as vezes, acionar tima motivato, como acontece quando a visio de um alimento aciona a fome. E 0 des- conforto eausado pelo desequilibrio homecstatico muita ome, por exemplo - pode lazer surgir emosoes. Contudo, as emogbes eas motivacoes sto tao diferentes em suas fon- tes, experiénclas subjetivas e efeitos sobre o comporta- mento, que merecem ser tratadas separadamente. COMPONENTES DAS EMOGOES ‘Uma emocao é um episédio complexo cle mulkicompo- rentes que eria uma prontidio para agit. Uma emogao in- tensa tem pelo menos sels componentes (Frijda, 1986; Lazarus, 1991b). Em geral, uma emocao comega com uma avaliaeRe cognitiva, a avaliagao de uma pessoa so- bre o significado pessoal de suas circunstancias atuais (vejaa Figura 11.1). Este processo de avaliagao € cons: erado 0 primeiro componente de uma emocko. As ava- Tiacoes cognitivas, por sua vez, acionam uma cascata de reagoes que representam outres componente conectados de forma independente de uma emogio. O componente que nds reconhecemos de forma mais frequente ¢ 2 e* periéncia subjetiva da emogao ~ 0 estado afetvo au tor do sentimento que a emocdo traz. Um terceiro compo- nente, intimamente relacionado, inchai tendéncias d2 Bae h 5 eierenrerte meer erereeeerenentnencrnr ento e de ago ~ ele nos provoca a pensar e agir dedeterminadas maneciras. Quando algo desperta 0 seu {meresse, por exemplo, voce deseja explort-lo e saber ais sobre aquilo, Quando alguem deixa com raiva, oct pode ser tentado a agir de forma agressiva,seja fi sica out verbalmente. Um quarto componente inclu as reagoes Corporais internas, especialmente aqueles do sis- tema nervoso autonomo, a divisio do sistema nervoso patférico que controla o coracao e outros inisculos lsos (veja 0 Capitulo 2). Quando voce sente medo, por exem- plo, seu coracio pode acelerar e voct pode comecar a trauspirar nas palmas das mAos. Um quinto componente de uma emogéo inclui as expressdes facials, a5 aches musculares que movimentam as cataciertsticas facials de formas particulares. Quando voce fica com nofo, por ‘xemplo, provavelmente france a testa enquanto também ergue seu labio superior e fecha seus olhos parcialmente, como se exclutsse 0 cheiro ea visio daquilo que o atinge (0 componente final inclui respostas a emocae, de- rmonstrando 0 modo como as pessoas lidam ou reagem as suas préprias emogbes ou as situagées que deram origem acs, A Tabela de Revisto dos Conceitos revisa esses Vi ios componentes, Nenhum desses seis componentes isoladamente & uma emocio, Em vez disso, eles se juntam para criar uma emocao em particular. A observacio das emocdes como um sistema complexo ajuda a distinguir as emocoes de estados intimamente relacionados, como 9 humor. AS emocbes sao distintas do humor de diversas maneiras. Em primeiro Ingar, as emocdes tipieamente tem wma ‘causa evidence. Flas tratam de algo ou alguém (Beedle, Terry € Lane, 2005; Oatley e Jenkins, 1996). Voce esta com raiva de sua irma. Voc® fica espantado com o Grand Canyon, O humor, por outro lado, ¢ frequentementeli- ree diftmnde estados afetivos (Russell e Feldman Barrett, 1999). Por razdes deseonhecidas, voce se senteirritadico mum dia ealegre no dia seguinte. Isso dé origem a uma segunda diferenga: as emosoes sto tipicamente breves, orando somente segundos ou minutos, mas o humor dora mais tempo, podem ser horas ¢ até mestno dias Beedie et al., 2005), Uma terceira diferenca € que as ogntiva P Emogbes » 368 Tabela de Revisao dos Conceitos cemogées normalmente implicam em miiltiplos sistemas de componentes descritos anteriormente, mas o humor pode ser evidente somente no nivel das experiencias subjetivas (Rosenberg, 1998; Russell e Feldman Barrett, 1099). Finalmente, as emogdes sio frequentemente con- ceitualizadas como qualificaveis para categorias distintas, ‘como o medo, a raiva, a alegria e o interesse, O humor, fem contraste, é, com frequéncia, conceitualizado como vvaridvel ao longo das dimensbes de nivel de prazer e ex- citacao (Russell e Feldman Barrett, 1999). Contudo, esse ‘ultimo ponto ainda € extremamente debatido. Um exem- plo desse debate € fornecido no boxe “Vendo os dots lados” ‘mais adiante neste cap{tulo, Dd epesincia subjetva ; taconamerto Laces LL @ tendtncias de pensamento foetal pero Lane sige ae DI Am ae Decrees | Figura 11.1 Diagrama eaquamticn do 1) Murtancas corpora interas| D cxpredestacis | Remogao , relacionamentos ene as pessoas eo ambit. (e acordo com Lazans, 1991b; Rosenberg, 1988) ‘370. lnvedugao piclogia de Anson & Higa “Muitos tedricos da emogao possuetn uma perspectiva sistematica sobre a emogio, em que os componentes de ‘uma emogo sto abservadios como tendo efeitos recipro~ os uns sobre os outros. Em outras palavras, cada corn pponente pode influenciar os outros. Enquaitto a Figura 11.1 descreve a forma tipica em que uma emocio se Te ‘ela ~por meio da avaliacdo cognitiva (Reisenzein, 1983) ~, experimentos de laboratsrio demonstraram que into - 1 lavam com raiva apresentaram a tendéncia de atribuir os i acontecimentos bipotéticos aos erros de outras pessoas, i zmas os participantes que estavam tists tenderam a at buts as siusagoes (por exemplo, o congestionamento de trafego fol a razao para perder um voo). Portanto, os par ticipantes com raiva estavam mais predispostos a culpar al sguém pelos acontecimentos negatives, a0 passo que os par- ticipantes tristes preferiram reconhecer que uma situacao de ma sorte podria ter causado os acomtecimentes (Kelt- sworth e Edwards, 1993), Sentir medo, entio, faz 0 mundo parecer mais perigoso. Essa percepcao pode reforcar os sentimentos de medo Além disso, conforme observado anteriormente, nossos sentimentos nos leva a observar seletivamente e apren der fatos ¢ memérias congruentes com 0s sentimentos, 0 que também pode reforgar a emoyao inicial. Uma anise similar aplice-se s emocoes positivas. As emogoes posit- ‘vas ampliam nossos modos habituais de pensar, o que pode tomar mais provavel que enconireros um significado po- sitivo em cireunsiancias subsequentes ¢, eno, vivencie- mos mais emosées favoraveis, Portanto, as consequéncias ‘cognitivas das experiencias subjetivas servem para perpe- tar os estados emocionais, que podem produzir espirals ppara baixo para as emogdies negativas e espirais para cima para as postivas (Fredrickson e Joiner, 2002) TENDENCIAS DE PENSAMENTO E DE AGAO As EMOGOES ‘Uma forma pela qual os sentimentos guiam o comporta mento €0 processamento das informacdes é por meio os impulsos que 0s acompanham. Esses impulsos s80 deno- rminados tendéncias de penscamento e de acao (Fredrickson, 1998) ou, as vezes, apenas tendencias de acao (Frijda, 1986; Lazarus, 1991b). A Tabela 11.3 relaciona wri emo- bese as tendéncias de pensamentos e de acao que ela in- ceutem. Com as emogdes mais negativas, as tendencias de pensamentos e de ago das pessoas se tomnam restritos ¢es- pecificos. No medo, por exemplo, sentimos um impulso es- peetfico para fogir do perigo. Em contraste, com as emo- es mais positivas, as tendéncias de pensamentos e de aco das pessoas se tornam amplas e mais abertas as pos- sibilidades. Na alegria, por exemplo, sentimos © impulso de sermos brincalhdes em geral Veja o boxe Pesquisa ino vyadora para uma discussao sobre os beneficias relaciona- dos as emocdes positivas ) Centamente, as pessoas nao agent invariavelmente sobre os impulsos que acompanhain suas emocdes. Tenha em mente que essas sto tendéncias de pensamento ¢ de ‘acao, nao pensamentos e acdes em si Elas deserevem me ramente as ideias das pessoas sobre os possiveis cursos de acto e se essas ideias se restringem @ um impulso com- portamental especifico, como para as emogoes negativas, ou se ampliam para englobar uma ampla variedade de possibilidades, como no caso das emogdes positivas. Se 0s impulsos se tornam agoes depencie da interagao com- plexa do controle dos impulsos, normas culturais ¢ ou- trop fatores. Mesmo assim, muitos tedrices da emocao afirmam que a retencio de pensamentos e tendéncias de

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