Você está na página 1de 4

INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Doris, Luma e Rosa: um trio


de robôs sem medo do perigo
Desenvolvidos nos Vilma Homero

laboratórios da Coppe/
S
ão nomes femininos. E elas são poderosas,
sempre prontas a enfrentar as mais adversas
UFRJ, eles desempenham condições, a encarar situações e lugares a que
nenhum homem foi capaz de chegar. Doris, Luma e
tarefas específicas, Rosa são máquinas, mais precisamente robôs, proje-
muitas vezes em tados para tarefas específicas, que poderiam colocar
em risco a vida de trabalhadores. No final de agosto,
condições adversas, que Doris conquistou o prêmio Inovação Tecnológica
2017, da Agência Nacional de Petróleo (ANP), na ca-
poderiam colocar em tegoria Inovação Tecnológica desenvolvida no Brasil
por instituição credenciada pela ANP em colaboração
risco a vida humana com empresa petrolífera. Representando a equipe, o

Rodrigo (à esq.) e Ramon


exibem o robô Luma, na
baía do Almirantado, na
Antártida: equipamento
foi adaptado para as
condições adversas do
continente gelado

22 | Rio Pesquisa - nº 40 - Ano IX


INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Fotos: Divulgação Coppe/UFRJ


professor Ramon Romankevicius
Costa, da Coppe/UFRJ, recebeu a
premiação em nome do Grupo de
Simulação e Controle em Auto-
mação e Robótica, em cerimônia
realizada no Palácio do Itamaraty,
no Rio de Janeiro.
O Grupo de Simulação e Controle
em Automação e Robótica, cuja
sigla é GSCAR, reúne três labora-
tórios do Programa de Engenharia
Elétrica da Coppe e os professores
Ramon Romankevicius Costa, Liu
Hsu (Cientista do Nosso Esta-
do da FAPERJ), Alessandro Jacoud
(Jovem Cientista do Nosso Esta-
O robô Luma durante testes realizados no Tanque Oceânico da Coppe: ele é capaz de
do da FAPERJ), Eduardo Nunes e transitar por locais subaquáticos, longos e estreitos, como túneis condutores de água
Fernando Lizarralde. Dos labora-
tórios da Coppe, saíram os robôs,
desenvolvidos para necessidades embutido – com robôs comandados energia elétrica de que precisa para
específicas. “Por sua flexibilidade a distância por um operador, que operar. É comandada da superfície,
em atender diferentes necessidades, lhes envia instruções por cabo ou através de um computador ligado a
é um projeto de grande importân- por sonar. Os híbridos podem se um cabo de transmissão de dados.
cia. Com a experiência que adqui- desligar do comando, agir autono- Graças a seus sensores e câmeras
rimos na concepção e execução do mamente em algumas situações e de vídeo, os operadores vêem em
Luma, o primeiro robô construído em seguida voltar ao comando”, tempo real na tela do computador
pela equipe do nosso laboratório, explica Alessandro Jacoud. tudo que é filmado no fundo do mar.
passamos a desenvolver outros Desenvolvido originalmente para “A curiosidade é que, em meio a
modelos, com diferentes funções inspecionar o túnel de adução que seus sofisticados equipamentos, o
e adaptados para atividades distin- conduz as águas da barragem para Luma tinha flutuadores de garrafa
tas. Esse processo nos possibilitou as turbinas de hidrelétricas, o Luma pet”, diverte-se Jacoud.
aprimorar os protótipos a cada novo foi o primeiro robô do grupo. “O O pedido para uma máquina que
modelo. Conseguimos instrumen- nome, que começou como uma atuasse sob as condições de frio
talizar todo um sistema puramente brincadeira com a modelo Luma de intenso da Antártica foi o ponto de
mecânico, transformando-o em Oliveira, foi transformado na sigla partida para sua total readaptação.
computacional, e acrescentamos em inglês para Light underwater “Como o pessoal da Biologia da
funcionalidades, com elementos mobile asset, ou Luma. Equipa- universidade queria analisar a fauna
como comunicação, sonar, entre do com uma estrutura mecânica, e a flora daquela região e investigar
outras. Nossos robôs atuam, por abrigada no interior de um vaso uma possível conexão com as águas
exemplo, em locais inalcançáveis apropriado para suportar a grande do sul brasileiro, fizemos vários
para os seres humanos, podendo pressão sob altas profundidades, aprimoramentos para que o Luma
substituí-los em atividades de risco”, ele traz equipamentos eletrônicos pudesse estender sua operação aos
explica o professor Ramon Costa. acondicionados dentro de um tubo, mares gelados da Antártica. Foi
Atualmente, os modelos híbridos propulsores, flutuadores e um cabo preciso adaptar os dispositivos
são o mais novo conceito em robó- umbilical que o liga à estação de eletrônicos para que suportassem
tica. “Eles são um misto de robôs comando na superfície. baixíssimas temperaturas, fazer
autônomos – que levam sua própria Para alimentar todo esse desempe- o mesmo com a parte mecânica e
energia e são pré-programados, se- nho, Luma foi dotada de um con- desenvolver ainda mais certas fun-
guindo instruções de um software junto de baterias, que a suprem da cionalidades”, conta o pesquisador.

Rio Pesquisa - nº 40 - Ano IX | 23


INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

Fotos: Divulgação Coppe/UFRJ

Acima, a partir da esq., o robô Doris, produzido para monitorar plataformas de petróleo, a fim de evitar acidentes e perdas de produção;...

A capacidade de atuar submerso em munido com novos equipamentos, ótica, seus flutuadores são próprios
até 100 metros foi estendida para para cada uma dessas viagens”, para altas profundidades, sua ele-
400 metros, profundidade em que conta. “O resultado foi que desen- trônica está bem mais sofisticada.
mergulharia nos mares antárticos. volvemos um know how fantástico. “O que antes eram microcontrola-
Com isso, o umbilical que liga o Acompanhando o projeto desde o dores, agora foi substituído por um
robô à estação de comando tam- início, desde sua criação, passando computador embarcado, capaz de
bém foi alongado para a mesma por sua adaptação, nós da equipe processar imagens de alta definição
metragem. nos tornamos capazes de transferir e com grande capacidade de arma-
tecnologia de um modelo a outro, zenamento de dados e imagens”,
“A adaptação do robô para o am-
aperfeiçoando-os sempre”, conta entusiasma-se Jacoud. Por sinal,
biente da Antártica exigiu muitas
Jacoud, que à época era bolsis- uma das versões intermediárias do
modificações no sistema original,
ta de Doutorado Nota Dez, da Luma está em exibição no Museu
que foi projetado para operar em
FAPERJ, e atualmente é Jovem do Amanhã, numa exposição que
represas. Para a missão, que aconte-
Cientista do Nosso Estado, tendo mostra as invenções nacionais.
ceu entre novembro a dezembro de
sido contemplado em outro progra-
2007, o robô foi todo desmontado Já o premiado Doris, aquele de que
ma de fomento da Fundação.
para o transporte e remontado na falamos no início desse texto, é um
estação, o que exigiu vários ajustes. O fato é que o Luma já realizou robô móvel, desenvolvido pelos
Houve problemas com a eletrônica, vários outros mergulhos na região, pesquisadores da Coppe em parce-
que ainda não tinha sido completa- colhendo informações sobre a ria com a Petrobras e a Statoil, para
mente testada antes do embarque, e fauna e a flora locais para que o monitoramento de plataformas de
os recursos disponíveis para o pro- os pesquisadores do Instituto petróleo e ambientes similares, que
jeto eram escassos”, lembra o pro- de Biologia da UFRJ pudessem exijam monitoramento e inspeções
fessor Ramon. Ele relata que houve fazer um censo da vida marinha frequentes para evitar acidentes
imprevistos em todas as missões, na Baía do Almirantado. “Nesse e perdas de produção. “Doris foi
mas o que marcou aquela primeira sentido, conseguimos dar uma boa criada inicialmente como um trem,
foi a perda de um flutuador durante contribuição, pois foram realizadas para trabalhar em refinarias e insta-
um teste preliminar. “Conseguimos muitas horas de vídeo”, lembra lações complexas, com muita gente
colocar um novo flutuador no lugar Ramon. circulando. Como ele percorre a
e tomamos providências para não Nesses dez anos, o robô foi também plataforma sobre um trilho, é capaz
repetir o erro. O fato é que Luma re- passando por mudanças signifi- de passar por entre encanamentos
tornou à Estação Antártica Coman- cativas: agora pode submergir a e válvulas, sempre evitando que
dante Ferraz em 2009 e em 2010, profundidades de mil metros, seu colida com equipamentos ou com
tendo sido bastante aprimorado, cabo umbilical passou a ser de fibra pessoas. À medida que passa por

24 | Rio Pesquisa - nº 40 - Ano IX


INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

a operação de inserção e a retirada


de stoplogs, os painéis que fecham
a comporta de uma turbina que
precisa de manutenção. Como a
operação é perigosa para seres
humanos, devido ao fluxo de água
gerado pelas turbinas vizinhas em
funcionamento, entra em cena o
robô, que mergulha para verificar
se os gigantescos painéis de até 12
toneladas estão descendo ou subin-
do corretamente.
Segundo Jacoud, todo o conheci-
...detalhe do sensor do robô Rosa, na usina de Jirau; e o Doris em operação na plataforma mento adquirido com o Luma foi
aproveitado no desenvolvimento
do Doris, que, por sua vez, também
toda a plataforma, vai fazendo me- realizar suas operações tanto de trouxe inovações que foram acres-
dições de temperatura e de pressão, forma autônoma quanto de modo centadas a modelos subsequentes
nos pontos em que há necessidade teleoperado. É uma forma de os e ao próprio Luma. “A interação
de inspeções, colhendo informações operadores detectarem imediata- entre os projetos permite que tudo
e fazendo comparações entre as mente qualquer anormalidade”, ex- continue se realimentando, promo-
imagens que traz gravadas e as que plica Jacoud. Doris é o resultado de vendo o aprimoramento de todos
filma ao passar. Com isso, pode-se um investimento de R$ 7,3 milhões eles”, conclui.
detectar possíveis problemas, dispa- no projeto, concluído em 2015. Pesquisadores: Liu Hsu e Alessandro
rando sinais de alarme, que alertam Jacoud
O terceiro robô, Rosa, foi feito
o operador”, explica Jacoud. Instituição: Universidade Federal do
para trabalhar em grandes usinas
Rio de Janeiro (UFRJ)
Para executar essas tarefas, Doris hidrelétricas, como a de Jirau, no
Fomento: programas Cientista
conta com uma câmera de vídeo rio Madeira na região Norte do do Nosso Estado (CNE) e Jovem
e diversos sensores, que a tornam País. Ele substitui mergulhadores Cientista do Nosso Estado (JCNE)
capaz de detectar objetos abando- em uma tarefa arriscada: monitorar
nados, fogo, gás, fumaça e mau
funcionamento de equipamentos, Foto: Divulgação/Coppe
entre outras funções. Dotado de um
braço robótico, conta com sensores
de vibração, de temperatura e de
fumaça para auxiliar no trabalho
de sensoriamento, inspecionando
as máquinas que fazem parte do
processo. Seus microfones direcio-
nais podem captar quaisquer ruídos
diferentes de funcionamento e fazer
disparar os alarmes. Sua câmera de
vídeo, sensores e microfones são
conectados ao centro de comando
da plataforma. “Assim, ele pode

O engenheiro eletrônico Liu Hsu: Cientista


do Nosso Estado da FAPERJ, ele é um dos
pesquisadores envolvidos no projeto

Rio Pesquisa - nº 40 - Ano IX | 25

Você também pode gostar