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Incorporações Imobiliárias
Condomínios em Geral e
Incorporações Imobiliárias
Condomínios em Geral
e Incorporações Imobiliárias
Edição revisada
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
________________________________________________________________________________
H867c
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-3172-6
12-7136.
CDU: 347.238.2
Assembleia condominial | 67
Introdução | 67
Assembleia do condomínio | 68
Assembleia geral ordinária | 68
Assembleia geral extraordinária | 69
Convocação da assembleia | 70
Conteúdo das discussões e local de realização | 71
Quorum e deliberações | 71
Representação dos condôminos por procuração | 72
Votação: regras e procedimentos | 73
Atas | 74
Participação do locatário nas assembleias | 75
Conclusão | 75
Despesas do condomínio | 81
Introdução | 81
Responsabilidade pelas despesas | 82
Espécies de despesas | 83
Despesas com obras necessárias, úteis e voluptuárias | 85
Locatário e despesas do condomínio | 87
Espécies de receitas | 89
Conclusão | 90
Referências | 205
Nesse sentido, a disciplina delineia, em sua primeira metade, a legislação aplicável aos condomínios. A primeira
aula, portanto, é dedicada ao regime jurídico dos condomínios em geral. Já as aulas restantes dedicam-se à espécie
de condomínio, que se afigura como objeto central do estudo: o chamado “condomínio edilício”.
Nesse âmbito, tratar-se-á dos temas centrais referentes a essa seara. Primeiramente, será examinada a natureza da
convenção condominial, seus contornos, limites e características. Em seguida, será dedicada análise à relação de
direitos e deveres dos condôminos, com ênfase em questões práticas, comuns no ambiente condominial.
A aula seguinte tratará do tema relativo à administração, verificando-se os poderes e deveres dos síndicos e de adminis-
tradores. Após, a questão das despesas condominiais e, em seguida, a Assembleia Geral, serão objeto de exame.
As relações condominiais e seus desdobramentos em virtude dos contratos celebrados relativos às unidades do condomí-
nio edilício, a saber, compromissos de compra e venda e contratos de locação, também serão objeto de estudo.
Com tais exames, finaliza-se a disciplina dos condomínios, partindo-se, em seguida, para o estudo das incorpora-
ções imobiliárias. Neste, após o estudo das incorporações em geral, será dedicada atenção à questão das obriga-
ções e direitos do incorporador e do adquirente.
As aulas seguintes terão como tema as diversas formas de incorporação, abarcando-se a construção em geral e
suas espécies, a construção por empreitada e a construção por administração. Por fim dedica-se especial exame às
infrações previstas em lei, relativas aos incorporadores.
Com base no roteiro ora traçado, espera-se contribuir para que o aluno possa, desde já, orientar seus estudos, visan-
do extrair o máximo das lições do presente curso.
Introdução
Quando mencionamos a existência de condomínios, pensamos, de um modo geral, em edifícios,
residenciais ou comerciais, ou ainda nos condomínios residenciais de casas que ultimamente são bas-
tante frequentes em nossas cidades, sobretudo em virtude da violência crescente.
Entretanto, é importante mencionar que, do ponto de vista jurídico, a noção de condomínio vai
muito além dessa tradicional visão decorrente do crescimento do mercado imobiliário. A noção de con-
domínio, assim como a ideia da qual se origina a comunhão, possui suas raízes na Roma Antiga, com seu
conjunto de leis altamente organizado e estruturado.
Dessa forma, para se compreender toda a regulamentação jurídica do chamado condomínio
“edilício”, ou seja, aquele condomínio presente nos edifícios das grandes cidades, composto por partes
comuns a todos os condôminos e por partes exclusivas de propriedade de cada um deles, é bastante
importante apresentar, primeiramente, as noções jurídicas de comunhão e de condomínio.
Esse é, portanto, o tema desta aula. Note que aqui não se procurará fazer menção às regras espe-
cíficas do condomínio edilício, visto que o objetivo, neste momento, é apresentar as noções gerais do
condomínio como um todo, quando ele existe sobre um bem específico: uma casa, um automóvel, um
rebanho de gado etc.
* Mestre em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Pós-graduado em Gestão de Direito Empre-
sarial pela Faculdade de Administração e Economia do Paraná (FAE). Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Advogado.
Coautor do livro Direito Tributário Internacional Aplicado, volume II, editado pela Quartier Latin e autor de artigos publicados em revistas es-
pecializadas.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
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10 | Condomínios em geral no Direito brasileiro
Comunhão
A ideia de condomínio liga-se, de um modo geral, com o compartilhamento de poderes de pro-
priedade sobre um bem. Nesse sentido, o conceito de condomínio está contido na noção de comunhão,
a qual é mais ampla. Analisemos, primeiramente, esta última.
Por comunhão, entende-se uma série de manifestações ocorridas no mundo social em que, por
alguma razão, determinado bem ou patrimônio possui mais de um proprietário. Essa ideia é totalmente
excepcional. De um modo geral, o Direito trabalha com a ideia de que cada bem deve possuir apenas
um proprietário e que cada indivíduo é senhor de um único patrimônio, assim entendido o conjunto de
todos os bens que ele possui.
Dessa forma, a ideia de copropriedade custou a ser aceita nas legislações ao longo dos tempos.
Até hoje em dia, é vista apenas como uma situação que deve ser tratada como exceção, sendo a regra
geral a propriedade exclusiva de um indivíduo sobre um bem ou patrimônio.
Essa dificuldade de o Direito trabalhar com a ideia de comunhão decorre, em grande medida, de
que apenas havendo um único proprietário é que este pode desfrutar plenamente de todos as facul-
dades que a propriedade lhe confere. Basicamente, entende-se que o proprietário possui sobre a sua
propriedade as seguintes faculdades:
::: usar da coisa de que é proprietário, isto é, utilizá-la como lhe convier, sem interferência de
terceiros;
::: fruir da coisa, ou seja, auferir os frutos (resultados) que dela resultarem (por exemplo, aluguéis
de um imóvel, reprodução de um rebanho etc.);
::: dispor da coisa, ou seja, transferi-la a qualquer terceiro, seja através de venda, doação, ou qual-
quer outra forma.
Assim, sendo proprietário de um bem, o sujeito poderia exercer todas essas faculdades, sem que
pudesse existir qualquer oposição por parte de terceiros. Entretanto, essa noção de propriedade plena,
na qual o proprietário pode fazer com o bem tudo o que lhe convier, sem atentar para quaisquer ou-
tros interesses, está largamente ultrapassada. Atualmente, fala-se, nos mais diversos casos, da chamada
“função social da propriedade”, através da qual a propriedade deve atender não apenas os interesses de
seu dono, mas igualmente à coletividade.
Nesse sentido, por exemplo, o latifundiário não pode deixar toda sua terra inativa sem que, sobre
ela, exista qualquer uso produtivo. Do mesmo modo, o proprietário de um imóvel antigo no centro da
cidade possui uma série de obrigações, não podendo simplesmente permitir que seja deteriorado, acar-
retando poluição visual, nem pode modificar a fachada do prédio histórico que tenha sido tombado.
Assim, na mesma linha do desenvolvimento da função social da propriedade, entende-se atual-
mente que essas faculdades de usar, fruir e dispor do bem não sejam exercidas de forma única, absoluta.
Ao contrário, admite-se que elas possam ser compartilhadas, relativizadas.
Desse modo, passa a ser também mais comum a ideia de comunhão, ou seja, de compartilhamen-
to da propriedade, já que o fato de existir mais de uma pessoa proprietária do mesmo bem não afasta
o exercício das faculdades acima citadas, mas apenas exige uma delimitação dos direitos e deveres de
cada coproprietário.
Assim, a comunhão manifesta-se nas mais diversas áreas do Direito. Um tipo bastante importante
de comunhão é o casamento. Quando duas pessoas casam pelo regime da comunhão total ou parcial
de bens, estão elas aceitando compartilhar a propriedade de seus bens ou, pelo menos, daqueles bens
que vierem a adquirir após o casamento. Da mesma forma, quando nem sequer ocorre o casamento,
mas as pessoas convivem juntamente por um determinado período de tempo. É a chamada união está-
vel, que também cria uma forma de comunhão.
Da mesma forma, ocorre a sucessão hereditária, ou seja, o patrimônio de uma pessoa falecida, en-
quanto não for efetuada a partilha dos bens entre os herdeiros. Quando esta for realizada, cada um dos
herdeiros passa a ser proprietário (único) de uma determinada parcela de bens, que será transferida ao
seu patrimônio pessoal. Antes disso, porém, o chamado “espólio”, isto é, o conjunto de bens do falecido,
pertencerá a todos os herdeiros de forma comum. Trata-se, também, de uma comunhão.
Condomínio
O condomínio, por sua vez, é uma forma de comunhão onde o que existe é um compartilhamen-
to sobre um bem específico. Duas ou mais pessoas são proprietárias, simultânea e concorrentemente,
de um mesmo objeto, seja ele um automóvel, um imóvel etc.
O condomínio pode ser basicamente de duas espécies:
::: voluntário, ou convencional;
::: forçado ou legal.
Condomínio forçado
O condomínio legal ou forçado é aquele que tem sua origem na lei. Diversos são os casos que se
podem citar nesse sentido. Decorrem, via de regra, do inevitável estado de indivisão de certos bens.
O condomínio sobre as construções existentes na linha divisória dos terrenos (paredes, cercas, mu-
ros, valas) é um desses exemplos. Sobre esses objetos, em específico, os vizinhos exercem seus direitos de
propriedade em condomínio. Assim, se um dos vizinhos resolver levantar parede, vala, cerca, muro ou si-
milar na linha divisória do terreno, a lei permite que ele o faça mesmo que sem consultar o outro vizinho.
Posteriormente, poderá cobrar proporcionalmente as despesas referentes a essa obra. Assim, desde que
o outro vizinho concorra com tais despesas, terá nascido aí um condomínio forçado, decorrente da lei.
Por outro lado, o vizinho que não efetuou a referida obra tem direito a pagar o preço proporcional,
de forma a se tornar condômino da parede, sem que aquele que a construiu possa se opor. Caso neces-
sário, deverá ser efetuada perícia em processo judicial, para que se apure o valor que deverá ser pago.
Enquanto não ocorrer a perícia, nenhuma modificação poderá ocorrer na parede, muro, vala ou cerca.
Outras vezes, existe o condomínio sobre pastagens, que não são propriedades individuais de
nenhum fazendeiro, mas pertencentes, conjuntamente, a diversos proprietários, que ali deixam pastar
seu gado. É o chamado compáscuo.
Condomínio voluntário
Por outro lado, o condomínio voluntário é aquele que decorre da vontade das partes, que por
alguma razão acordam em se tornarem coproprietárias de algo. Contudo, por vezes a vontade que se
manifesta não é a das partes que se tornarão coproprietárias, mas de um terceiro: é o caso quando, por
testamento, o testador transfere aos herdeiros um determinado bem e define, em testamento, que es-
tes deverão compartilhar a propriedade por um determinado período.
Sendo o condomínio voluntário aquele que realmente interessa neste curso, é a ele que se faz
referência nos itens a seguir.
Teoria individualista
Para explicar essa questão, a teoria individualista procura dividir o objeto em partes ideais, atri-
buindo a cada sujeito a propriedade sobre uma parcela ideal, que nada mais é senão uma parte abstrata
do bem considerado. Embora todos os condôminos exerçam direitos sobre o todo, eles são, a rigor,
proprietários de uma parte ideal, ou seja, uma quota-parte do objeto.
Desse modo, desapareceria a exclusividade do direito de propriedade e, em seu lugar, surgiria a
ideia de copropriedade, formada pela soma dos quinhões pertencentes a cada um dos condôminos.
Segundo essa mesma teoria, sendo esse estado de compartilhamento uma situação excepcional em
relação à regra da propriedade exclusiva, ele também tende a ser provisório, desaparecendo após um
período de tempo. Note-se, entretanto, que com relação aos condomínios edilícios, essa noção de tem-
porariedade deixa de ter importância.
Teoria coletivista
Por outro lado, a concepção coletivista não vislumbra no condomínio essa divisão em partes
ideais, mas antes vê na comunhão um único direito, cujo sujeito é a coletividade constituída pelos inte-
ressados. Ou seja, a propriedade é efetivamente coletiva. O bem não pertence a várias pessoas, cada um
com sua parte ideal, mas sim a todos em conjunto, como se fossem uma só pessoa.
Conforme leciona Orlando Gomes (2000, p. 213):
A teoria coletiva vê na comunhão um só direito, tendo como sujeito a coletividade constituída pelos interessados. Não
há titulares individuais. A coisa é realmente comum. Numa palavra, a propriedade é coletiva. O bem não pertence a
várias pessoas, cada qual tendo a sua parte, mas a todos os comunheiros em conjunto, ainda que não seja orgânico o
estado de indivisão. Não há, enfim, justaposição de partes individuais.
Dessa forma, respeitados os limites temporais previstos no ato que instituiu o condomínio, pode-
rá ocorrer a divisão prevista nesse artigo, sendo cada condômino responsável pela parcela das despesas
decorrentes da divisão de forma proporcional a seu respectivo quinhão, ou seja, de acordo com sua
parte ideal.
A divisão poderá ser requerida por qualquer dos condôminos, mediante ação judicial em que se
prove:
::: já haver ocorrido o lapso temporal resultante do acordo inicial;
::: ser o bem divisível por sua natureza.
Mas a divisão poderá também ocorrer de forma amigável entre as partes, sem a necessidade de inter-
venção judicial. Caso se trate de imóveis, será necessária uma escritura pública feita em cartório.
Entretanto, mesmo antes do decurso do período de existência do condomínio que tenha sido
pactuado, a divisão poderá ser determinada pelo juiz. Isso ocorrerá quando, por requerimento de um
dos condôminos, o juiz entenda existirem razões graves, que justifiquem esse procedimento.
Se tratar de pequena propriedade rural, o Estatuto da Terra determina que o imóvel não poderá ser
dividido, caso, após sua divisão, suas áreas independentes tornem-se inferiores a um módulo de proprie-
dade rural. O módulo rural é estabelecido em cada região do país, conforme o tamanho de propriedade
que naquela região se entenda como área mínima necessária para sustento de uma família.
Já se o bem for, por sua própria natureza, indivisível, a solução será necessariamente a venda do
bem como um todo, repartindo os condôminos o valor da venda, de forma proporcional aos seus qui-
nhões. Outra solução poderá ser a venda das partes ideais de cada condômino para um deles, o qual se
tornará proprietário exclusivo sobre todo o bem.
O artigo 1.322 do Código Civil determina o procedimento aplicável nesse caso:
Art. 1.322. Quando a coisa for indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só, indenizando os outros, será
vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em condições iguais de oferta, o condômino ao estranho, e
entre os condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias mais valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior.
Assim, caso não haja acordo para que um dos condôminos passe a ser o proprietário único, inde-
nizando os demais, o bem será colocado à venda, devendo adquirir aquele que fizer a melhor oferta. Em
caso de ofertas iguais, a lei prevê três critérios de desempate: o condômino tem preferência sobre os ter-
ceiros; já entre os condôminos, tem preferência aquele que tiver as benfeitorias mais valiosas. Benfeitorias
são entendidas como qualquer tipo de obra ou acréscimo que aumente o valor de um determinado bem
(uma construção qualquer que tenha sido introduzida no imóvel por um dos condôminos, por exemplo).
Caso não existam benfeitorias no bem, ou sejam elas de igual valor, o último critério de desempate é o
tamanho do quinhão, tendo preferência aquele condômino que possuir a maior parte ideal.
Administração do condomínio
Caso o bem mantenha-se indiviso por um período de tempo mais extenso, existe por vezes a
necessidade de se designar um dos condôminos, ou um terceiro, como administrador, de modo a ga-
rantir a finalidade coletiva do bem. Assim, o artigo 1.324 do Código Civil já estabelece que aquele que
normalmente administrar o bem é tido, para todos os efeitos, como o seu administrador:
Art. 1.324. O condômino que administrar sem oposição dos outros presume-se representante comum.
Assim, para todos os efeitos, esse administrador, ainda que não expressamente nomeado, terá
poderes para cobrar dos demais condôminos as contribuições necessárias para a manutenção do bem
ou para a sua divisão. Como acentua Silvio Venosa (2007, p. 310):
Essa regra é importante no tocante a terceiros que tratem com esse administrador. Essa administração poderá ser ex-
pressa ou tácita, como deflui da lei. Há medidas urgentes que exigem pronta providência do condomínio. A obtenção
de autorização dos demais condôminos poderia pôr a perder o direito de todos. Mas também a administração ordiná-
ria pode se dar de forma tácita, com um dos condôminos assumindo de fato a administração, com o conhecimento e
ausência de oposição dos demais. Ocorre com muita frequência que os condôminos em sua maioria desinteressam-se
pela coisa e apenas um deles assume a tarefa de administrá-la, para que não pereça. É evidente que esse administra-
dor poderá cobrar de cada condômino as despesas proporcionais que a administração exigiu. Doutro modo ocorreria
injusto enriquecimento.
Essas são decisões que cabem apenas aos condôminos, que decidirão de acordo com a maioria.
O que conta, para a apuração de tal maioria, não é o número de condôminos, mas sim o tamanho de
cada quinhão de que sejam proprietários. Assim, por exemplo, se Francisco e José são proprietários de
quinhões que representam proporcionalmente 30% e 25%, respectivamente, do valor total do bem, te-
rão eles, juntos, a possibilidade de formar a maioria, decidindo as questões sobre o condomínio. Mesmo
que existam outros cinco condôminos, os quais juntos possuem os outros 45% do bem, estes estarão
sujeitos à vontade dos dois primeiros, desde que Francisco e José deliberem em conjunto.
Isto é o que determina o artigo 1.325 do Código Civil:
Art. 1.325. A maioria será calculada pelo valor dos quinhões.
§1.º As deliberações serão obrigatórias, sendo tomadas por maioria absoluta.
§2.º Não sendo possível alcançar maioria absoluta, decidirá o juiz, a requerimento de qualquer condômino, ouvidos os
outros.
§3.º Havendo dúvida quanto ao valor do quinhão, será este avaliado judicialmente.
Conclusão
O objetivo desta aula foi apresentar as características gerais das normas brasileiras sobre os con-
domínios. Assim, buscou-se conceituar a figura do condomínio a partir do seu gênero, que é a noção de
comunhão. Analisaram as diferentes espécies de condomínio, verificando as distinções entre o condomí-
nio forçado ou legal e o condomínio voluntário ou convencional. Este último foi analisado mais a fundo,
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Condomínios em geral no Direito brasileiro | 17
verificando-se as regras mais importantes que o Código Civil prevê sobre sua formação, sobre os direitos
dos condôminos, sua administração, locação, divisão e extinção. Da mesma forma, procurou-se analisar as
diversas concepções teóricas existentes sobre o condomínio, bem como seus desdobramentos práticos.
É importante não confundir a figura geral dos condomínios, tal como analisada nesta aula, com a
figura específica do “condomínio edilício”. O condomínio edilício é aquele decorrente das incorporações
imobiliárias e da formação de prédios e condomínios de casas nas grandes cidades. Embora tenha como
base comum o conjunto de normas que regulam os condomínios em geral, o condomínio edilício pos-
sui uma série de normas específicas, as quais regulam as suas características particulares: conjunção de
áreas comuns (em condomínio) e áreas próprias de cada um dos condôminos.
Desse modo, a figura do condomínio em geral aplica-se apenas indiretamente aos condomínios
edilícios, mas visa regular diversas outras situações da vida social, em que existe o compartilhamento de
um bem por duas ou mais pessoas.
Texto complementar
Promulgado em 2002, o novo Código Civil (Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002) entrou em vigên-
cia a partir de 11 de janeiro de 2003. O texto a seguir já está atualizado de acordo com a Lei 10.931 de
2004, que trouxe algumas mudanças ao novo Código Civil.
O novo Código Civil é bastante extenso. A parte que trata do condomínio está nos capítulos VI e VII.
§2.º Se não há condômino que faça os pagamentos, a coisa comum será dividida.
Art. 1.317. Quando a dívida houver sido contraída por todos os condôminos, sem se discriminar a
parte de cada um na obrigação, nem se estipular solidariedade, entende-se que cada qual se obri-
gou proporcionalmente ao seu quinhão na coisa comum.
Art. 1.318. As dívidas contraídas por um dos condôminos em proveito da comunhão, e durante ela,
obrigam o contratante; mas terá este ação regressiva contra os demais.
Art. 1.319. Cada condômino responde aos outros pelos frutos que percebeu da coisa e pelo dano
que lhe causou.
Art. 1.320. A todo tempo será lícito ao condômino exigir a divisão da coisa comum, respondendo o
quinhão de cada um pela sua parte nas despesas da divisão.
§1.º Podem os condôminos acordar que fique indivisa a coisa comum por prazo não maior de cinco
anos, suscetível de prorrogação ulterior.
§2.º Não poderá exceder de cinco anos a indivisão estabelecida pelo doador ou pelo testador.
§3.º A requerimento de qualquer interessado e se graves razões o aconselharem, pode o juiz deter-
minar a divisão da coisa comum antes do prazo.
Art. 1.321. Aplicam-se à divisão do condomínio, no que couber, as regras de partilha de herança
(arts. 2.013 a 2.022).
Art. 1.322. Quando a coisa for indivisível, e os consortes não quiserem adjudicá-la a um só, indeni-
zando os outros, será vendida e repartido o apurado, preferindo-se, na venda, em condições iguais
de oferta, o condômino ao estranho, e entre os condôminos aquele que tiver na coisa benfeitorias
mais valiosas, e, não as havendo, o de quinhão maior.
Parágrafo único. Se nenhum dos condôminos tem benfeitorias na coisa comum e participam todos
do condomínio em partes iguais, realizar-se-á licitação entre estranhos e, antes de adjudicada a coisa
àquele que ofereceu maior lanço, proceder-se-á à licitação entre os condôminos, a fim de que a coisa
seja adjudicada a quem afinal oferecer melhor lanço, preferindo, em condições iguais, o condômino
ao estranho.
Subseção II – Da Administração do Condomínio
Art. 1.323. Deliberando a maioria sobre a administração da coisa comum, escolherá o administrador,
que poderá ser estranho ao condomínio; resolvendo alugá-la, preferir-se-á, em condições iguais, o
condômino ao que não o é.
Art. 1.324. O condômino que administrar sem oposição dos outros presume-se representante co-
mum.
Art. 1.325. A maioria será calculada pelo valor dos quinhões.
§1.º As deliberações serão obrigatórias, sendo tomadas por maioria absoluta.
§2.º Não sendo possível alcançar maioria absoluta, decidirá o juiz, a requerimento de qualquer con-
dômino, ouvidos os outros.
§3.º Havendo dúvida quanto ao valor do quinhão, será este avaliado judicialmente.
Art. 1.326. Os frutos da coisa comum, não havendo em contrário estipulação ou disposição de últi-
ma vontade, serão partilhados na proporção dos quinhões.
Seção II – Do Condomínio Necessário
Art. 1.327. O condomínio por meação de paredes, cercas, muros e valas regula-se pelo disposto
neste Código (arts. 1.297 e 1.298; 1.304 a 1.307).
Art. 1.328. O proprietário que tiver direito a estremar um imóvel com paredes, cercas, muros, va-
las ou valados, tê-lo-á igualmente a adquirir meação na parede, muro, valado ou cerca do vizinho,
embolsando-lhe metade do que atualmente valer a obra e o terreno por ela ocupado (art. 1.297).
Art. 1.329. Não convindo os dois no preço da obra, será este arbitrado por peritos, a expensas de
ambos os confinantes.
Art. 1.330. Qualquer que seja o valor da meação, enquanto aquele que pretender a divisão não o
pagar ou depositar, nenhum uso poderá fazer na parede, muro, vala, cerca ou qualquer outra obra
divisória.
Atividades
1. Apresente, com suas palavras, a diferença entre a concepção individualista e a concepção coleti-
vista do condomínio.
2. Relacione as colunas:
Gabarito
1. A teoria individualista procura explicar o condomínio como uma justaposição de partes ideais,
em que cada proprietário é dono de uma delas e possui sobre ela direitos exclusivos. Já a teoria
coletivista vê a coletividade de proprietários como um ente único, que seria o proprietário exclu-
sivo da totalidade do bem.
2. B–C–A
Nesta aula, procuraremos apresentar não apenas essa evolução legislativa, como também preci-
sar o conceito de condomínio edilício e suas características fundamentais. Do mesmo modo, procurare-
mos tratar de um dos aspectos essenciais dessa forma de condomínio: a sua convenção.
o condomínio pode ser constituído de outras formas que não através da incorporação. Entretanto, há
uma razão histórica para que, na época, se resolvesse tratar de ambos os temas de modo conjunto: na
época, eram muitos os empreendimentos imobiliários não concluídos, trazendo enormes prejuízos aos
compradores das unidades, os quais não contavam com uma lei adequada para protegê-los dos abusos
dos incorporadores. A proteção integral desses compradores justificou, portanto, a edição de uma lei
consolidada, unindo as duas matérias.
Desde a publicação do novo Código Civil, em 2002, a parte relativa aos condomínios passa a ser
regulada quase que inteiramente por essa nova legislação, ficando apenas a parte relativa às incorpo-
rações ainda tratada pela Lei 4.591. Essa última disciplina, no entanto, também demanda modificações,
tendo em vista não estar atualizada em relação às modernas formas de incorporação e construção.
O Código Civil de 2002 dedica todo um capítulo à questão da propriedade por apartamentos,
logo após a regulação dos condomínios em geral. Nesse sentido, pretende caracterizar essa modalida-
de como uma subespécie de condomínio, sujeita, no entanto, a regras especiais. Apenas quando essas
regras especiais não forem aplicáveis a determinado caso é que será possível buscar sua solução nas
regras gerais do condomínio.
Nomenclatura
Desde seu surgimento, existe muita discussão quanto ao nome adequado para esse fenômeno
imobiliário. O novo Código Civil adotou uma denominação que, até então, não costumava ser das mais
utilizadas. Chamou a figura de “condomínio edilício”. Embora os autores do código a defendam, há se-
veras críticas quanto a essa denominação, pois o termo “edilício”, supostamente derivado do latim, não
guardaria nenhuma relação direta com o objeto de que se trata. Na realidade, o termo “edilício”, segun-
do os dicionários, significa “relativo a edil”, ou “próprio de edil”, e não possui relação com o ato de edifi-
cação, conforme sustentado pelos autores do Código Civil (LOPES, 2006, p. 50).
Antes do advento do novo código, costumava-se denominar essa forma de propriedade por no-
mes distintos: “propriedade horizontal”, “propriedade por planos horizontais”, “condomínio relativo”,
“condomínio por andares”, “condomínio por edifícios”, “condomínio sui generis” ou “condomínio espe-
cial”. Todas essas denominações, no entanto, pecam em algum sentido, por não caracterizarem, de for-
ma abrangente, as diversas manifestações do fenômeno.
Os termos “relativo”, “sui generis” ou “especial” nada dizem de concreto sobre o fenômeno, que, ali-
ás, tornou-se antes a regra do que a exceção na maior parte do mundo. O termo “propriedade horizon-
tal”, embora frequentemente utilizado, é muitas vezes criticado por se alegar que se trata, na realidade,
de uma propriedade vertical (o edifício). Essa crítica é totalmente infundada, pois o termo é na realidade
uma abreviação da expressão “propriedade por planos horizontais”, que visa denotar a existência de
pisos distintos, cada qual objeto de propriedade de um ou mais indivíduos.
Entretanto, mesmo a expressão “propriedade por pisos horizontais” não é totalmente adequada,
na medida em que oculta outras formas de construção que permitem a utilização dessa modalidade de
uso da propriedade. É o caso, por exemplo, dos conjuntos comerciais em um único piso, ou então, dos
chamados condomínios fechados. Sobre estes, a questão de saber se estão ou não inclusos nas regras
relativas ao condomínio edilício será analisada no item seguinte.
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24 | Condomínio edilício: definição, características e sua convenção
Na ausência de uma melhor denominação, e tendo em vista que a lei vigente utiliza-se desse
nome, adotaremos preferencialmente a expressão “condomínio edilício”. Também usaremos, eventual-
mente, os demais nomes acima referidos sabendo referirem-se, todos, ao mesmo fenômeno, qual seja:
a estruturação de imóveis, unindo áreas de propriedade exclusiva e áreas de propriedade comum.
Delimitação do conceito
Analisada a questão da nomenclatura, importa agora precisar com mais detalhes o conceito. Em
outras palavras, cumpre analisar o que exatamente abrange essa figura da propriedade horizontal.
Segundo João Batista Lopes (2006, p. 62):
O condomínio edilício significa a reunião de habitações, salas ou lojas, formando uma unidade estrutural (edifício)
sujeita a um único regulamento jurídico, para atendimento de necessidades e fins comuns. São consideradas comuns
as coisas destinadas ao serviço do edifício: o solo, as escadas, as paredes mestras, os pátios, os elevadores, a portaria,
a fachada etc.
Já as áreas de uso exclusivo são formadas pelas diversas unidades autônomas que o formam. O
Código Civil assim descreve a conjugação dessas duas realidades:
Art. 1.331. Pode haver, em edificações, partes que são propriedade exclusiva, e partes que são propriedade comum dos
condôminos.
§1.º As partes suscetíveis de utilização independente, tais como apartamentos, escritórios, salas, lojas, sobrelojas ou
abrigos para veículos, com as respectivas frações ideais no solo e nas outras partes comuns, sujeitam-se a propriedade
exclusiva, podendo ser alienadas e gravadas livremente por seus proprietários.
§2.º O solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade, a calefação
e refrigeração centrais, e as demais partes comuns, inclusive o acesso ao logradouro público, são utilizados em comum
pelos condôminos, não podendo ser alienados separadamente, ou divididos.
§3.º A cada unidade imobiliária caberá, como parte inseparável, uma fração ideal no solo e nas outras partes comuns,
que será identificada em forma decimal ou ordinária no instrumento de instituição do condomínio. (nova redação dada
pela Lei 10.931/2004).
§4.º Nenhuma unidade imobiliária pode ser privada do acesso ao logradouro público.
§5.º O terraço de cobertura é parte comum, salvo disposição contrária da escritura de constituição do condomínio.
Como se percebe, o artigo 1.331 traça os preceitos básicos relativos à estruturação do condomí-
nio edilício. Define o direito individual às unidades autônomas, juntamente com uma fração ideal do
solo e das partes comuns. Não é permitida a venda em separado dessas áreas comuns, isto é, uma parte
ideal dela liga-se, de forma indissociável, a cada um dos apartamentos.
Além disso, um requisito fundamental de cada unidade autônoma é a saída para a rua ou outro
ambiente público. Isso significa que não deve haver passagem por unidade de outro proprietário para
se ter acesso à rua. Se isso acontecesse, já não estaríamos mais tratando de condomínio edilício, mas de
outra forma de uso da propriedade.
Cada unidade possui uma fração ideal das partes comuns a ela vinculada, a qual é proporcional
ao seu valor. Assim, uma unidade maior (um apartamento duplex em cobertura, por exemplo) possui
uma parte ideal proporcionalmente maior que as demais.
As garagens, por outro lado, não são partes comuns, mas sim objeto de propriedade exclusiva de
seu dono, vinculadas à respectiva unidade autônoma.
Os terraços de cobertura, como previsto no parágrafo quinto, fazem parte das áreas comuns, a
não ser que, na escritura de constituição do condomínio, tenha-se optado em vinculá-la a uma das uni-
dades. Nesse caso (e isso é bastante comum em edifícios residenciais), o terraço geralmente integra os
apartamentos do último andar.
A partir dessas definições da lei, é comum questionar se os chamados condomínios fechados, ou
seja, os conjuntos residenciais constituídos por casas, enquadrar-se-iam no conceito de condomínio
edilício previsto pela lei.
Com relação a esses, deve-se tomar algum cuidado. Existem condomínios dessa espécie que real-
mente se enquadram na forma de divisão prevista no Código Civil, relativa ao condomínio edilício. Esse
é o caso quando o que existe de fato é uma copropriedade sobre imóvel, objeto de um único registro
no Cartório de Registro de Imóveis.
Nesse caso, haverá registro no referido cartório de uma única inscrição, em relação à qual tenha
se formado um condomínio, com unidades distintas, conferindo-se aos proprietários direitos sobre as
áreas exclusivas e sobre partes ideais das áreas comuns. É o que, muitas vezes, denomina-se “condomí-
nio deitado”.
Por outro lado, existe algo que, apesar da semelhança, não se confunde com essa modalidade de
condomínio edilício. É o caso do loteamento fechado, que é uma forma de parcelamento do solo urbano,
regida pela Lei 6.766/79. Essa lei disciplina a formação de loteamentos em conformidade com princípios ur-
banísticos, visando ao crescimento e desenvolvimento adequado das cidades. Tais loteamentos, ainda que
fechados, não preveem muitas vezes áreas comuns, mas apenas criam lotes privados, juntamente com vias
públicas. Embora o loteamento fechado não esteja previsto expressamente na lei, entende-se que é possí-
vel instituí-lo mediante a aprovação da prefeitura municipal, a qual, através de um ato de concessão ou per-
missão, outorga o uso das vias de circulação e de praças para o uso restrito dos moradores do loteamento.
Assim, são duas formas distintas de constituição dos chamados “condomínios fechados”, trazen-
do consequências diversas, embora, do ponto de vista prático, muitas vezes pareçam semelhantes. É
importante notar, entretanto, que apenas a primeira dessas formas implica, efetivamente, formação de
um condomínio edilício.
Convenção de condomínio
Como se pode concluir do que foi analisado até o momento, o condomínio edilício implica um
exercício de convivência entre vizinhos muito mais intenso do que aquele que existe pela justaposição
de casas isoladas. Não bastasse a circunstância de que apenas paredes ou pisos dividem as unidades
que cabem a cada um dos condôminos, existe uma série de situações relativas ao uso das áreas comuns
que necessitam ser cuidadosamente reguladas, de modo a se evitar os conflitos ou, ao menos, prever as
formas mais eficientes para a sua solução.
Essa é a razão pela qual, desde a antiga Lei 4.591/64, relativa à propriedade horizontal, já se exigia,
no momento da constituição do condomínio, a existência de uma convenção, que regulasse adequada-
mente todos os direitos e deveres dos condôminos, bem como disciplinasse todas as normas relativas
ao uso das áreas comuns, inclusive com relação aos terceiros que as utilizam eventualmente.
Nesse sentido, a convenção não é apenas um contrato entre os condôminos. Ela não cria efeitos
apenas entre os coproprietários, mas em relação a terceiros também. A convenção, portanto, é norma
interna, aplicável ao espaço condominial. Possui um caráter institucional, definindo os deveres que de-
verão ser seguidos e os direitos que deverão ser respeitados por todos ali presentes.
documento já elaborado conforme os interesses do próprio incorporador. Mais do que isso, no momento
da constituição do condomínio, é provável que o incorporador ainda mantenha algumas unidades, que não
foram vendidas, podendo, deste modo, aprovar de forma isolada a minuta que ele mesmo elaborou.
Essa convenção, imposta de forma unilateral pelo incorporador, vinculará a todos os proprietários
e também terceiros, e somente poderá ser alterada por dois terços do total das frações ideais (e ainda
assim, não com relação a todos os pontos, como veremos a seguir). Nota-se, dessa forma, que a lei não
prevê uma solução adequada para esse caso. Na hipótese de constituição do condomínio por incor-
poração, deveria a lei prever alguma forma de rediscussão posterior da convenção, quando todas as
unidades já tivessem sido transferidas a outrem pelo incorporador.
Quanto à alteração da convenção, como já referido anteriormente, o artigo 1.351 da lei também
prevê o quorum mínimo de dois terços das frações ideais. Essa regra é prevista na lei, mas nada impede
que, na própria convenção, insira-se um quorum mais elevado, em relação às alterações dessa mesma
convenção. O que a lei proíbe é que se preveja um quorum menor, mas nada impede que o quorum
previsto venha a ser mais elevado, inclusive prevendo a unanimidade das partes ideais, em relação a
alguns temas.
A propósito, a própria lei já exige a unanimidade para a alteração da convenção em relação a
dois pontos específicos: a alteração da destinação do edifício ou a alteração da destinação da unidade
imobiliária. Essas alterações, evidentemente, envolvem questões relativas a direitos dos proprietários e,
portanto, não poderão ser alteradas senão quando todos os condôminos estejam de acordo.
Por essa mesma razão, entende-se que outros temas que envolvam o direito adquirido dos con-
dôminos não podem ser alterados sem a concordância deles. Assim, por exemplo, a alteração da dimen-
são das frações ideais ou a alteração das paredes externas ou da fachada do edifício.
A questão da alteração da destinação do edifício ou das unidades exige uma atenção especial.
Por um lado, é evidente que, quando se opta por transformar um condomínio residencial em um condo-
mínio comercial, é necessária a unanimidade dos condôminos. Mas, essa mesma unanimidade também
é exigida quando se opta por transformar um condomínio residencial em alguma destinação mais espe-
cífica: um condomínio estritamente para idosos, por exemplo, não sendo admitida a venda de unidades
para famílias com crianças.
Do mesmo modo, com relação à alteração da destinação das unidades, é sempre necessária a
avaliação segundo um critério de razoabilidade. Caso não haja solução amigável, a decisão caberá ao
juiz. Assim, não poderá a convenção simplesmente impedir a aquisição de determinada unidade por
um casal com muitos filhos. Por outro lado, ela poderá impedir a utilização de um mesmo espaço por
várias famílias, que querem criar subdivisões na unidade que não existiam originalmente. Nesse senti-
do, a avaliação sobre o conteúdo da convenção e sobre as alterações que nela se pretende fazer, estarão
sempre sujeitas a uma análise judicial, caso algum dos condôminos leve essa questão a juízo.
Conteúdo da convenção
O artigo 1.334 do Código Civil assim dispõe:
Art. 1.334. Além das cláusulas referidas no art. 1.332 e das que os interessados houverem por bem estipular, a conven-
ção determinará:
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28 | Condomínio edilício: definição, características e sua convenção
I - a quota proporcional e o modo de pagamento das contribuições dos condôminos para atender às despesas ordiná-
rias e extraordinárias do condomínio;
II - sua forma de administração;
III - a competência das assembleias, forma de sua convocação e quorum exigido para as deliberações;
IV - as sanções a que estão sujeitos os condôminos, ou possuidores;
V - o regimento interno.
§1.º A convenção poderá ser feita por escritura pública ou por instrumento particular.
§2.º São equiparados aos proprietários, para os fins deste artigo, salvo disposição em contrário, os promitentes compra-
dores e os cessionários de direitos relativos às unidades autônomas.
Assim, estes temas, além daqueles relacionados no artigo 1.332 (discriminação e individualização
das unidades de propriedade exclusiva; a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade; e o
fim a que as unidades se destinam), devem constar da convenção, segundo o que determina a lei. Nada
impede, no entanto, que diversos outros assuntos sejam tratados na convenção.
Por essa razão, o inciso V do artigo 1.334 prevê, entre os temas a serem tratados, a elaboração
do regimento interno. Neste, devem constar todas as regras específicas quanto ao uso das partes ex-
clusivas e comuns do condomínio. É comum, inclusive, que o regimento interno seja definido em um
documento específico, apartado da convenção. Dessa forma, a convenção trataria dos temas essenciais,
relativos à definição das partes ideais e das unidades condominiais, e o regimento trataria das regras
específicas quanto ao uso e funcionamento do condomínio edilício. É neste documento que constarão,
por exemplo, os horários de funcionamento da portaria e as atribuições do zelador.
Assim, o regimento interno tem a função de completar a convenção. Ocorrendo conflito entre as
disposições do regimento e as da convenção, prevalecerá a convenção. O regimento interno, se cons-
tante de documento apartado, também deverá ser instituído e alterado pelo mesmo quorum previsto
para a convenção.
Conclusão
O condomínio edilício representa uma grande inovação, desenvolvida ao longo dos últimos sécu-
los, relativa ao aproveitamento do espaço urbano, com base na modernização das técnicas de constru-
ção. Nesse sentido, a instauração do condomínio depende de um equacionamento bastante elaborado
quanto aos direitos e deveres dos condôminos.
Por essa razão, a lei estabelece as regras básicas relativas à propriedade horizontal. Ao mesmo
tempo, atribui à convenção do condomínio a possibilidade de disciplinar, de modo mais amplo e espe-
cífico, as questões relativas a cada condomínio.
É importante notar que as regras da convenção submetem-se às regras da lei. Desse modo, não
pode haver conflito entre umas e outras. Caso exista, prevalecerão as disposições da lei.
Entretanto, a convenção pode sim ampliar algumas garantias que são estabelecidas na lei. Pode,
por exemplo, elevar os quoruns relativos a algumas matérias. Não pode, por outro lado, reduzi-los, pois,
dessa forma, estaria tornando a situação dos condôminos mais insegura.
A convenção está, portanto, sujeita às restrições da lei, em todos os sentidos.
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Condomínio edilício: definição, características e sua convenção | 29
Texto complementar
Segue, como texto complementar, um modelo de regimento interno de um condomínio, elabo-
rado pelo Dr. Rudnei Maciel (2007), e extraído do site <www.folhadosindico.com.br>, na internet. Vale
a pena conferir outros modelos disponíveis nesse endereço. Além disso, com alguma procura, encon-
tram-se também modelos atualizados de convenções na internet.
I - contribuir para as despesas do condomínio, na proporção de suas frações ideais nos termos da
convenção.
II - Cumprir e fazer com que sejam cumpridas, respeitar e fazer com que sejam respeitadas por seus
locatários, sub-rogados, empregados e usuários a qualquer título, da respectiva unidade autônoma,
as determinações da convenção, do presente regulamento interno, das assembleias gerais e da lei
civil aplicável à matéria.
III - Zelar pela ordem, segurança, solidez, asseio e conservação da edificação, bem como reparar os
danos e/ou prejuízos que venham a causar às áreas comuns e/ou às unidades autônomas.
IV - Permitir o ingresso do síndico ou de pessoa por este indicada em sua unidade, sempre que
houver necessidade de realizar trabalhos e verificar as instalações elétricas, hidrossanitárias ou de
gás que estejam em mau funcionamento ou necessitando de reparos e que interessem a causa
comum.
V - Manter atualizados seus dados cadastrais e dos demais moradores da unidade perante a admi-
nistração.
VI - Observar o horário de silêncio: das 22h às 07h.
Art. 3.º É vedado aos condôminos ou a terceiros que, de qualquer forma, ocupem as unidades au-
tônomas:
I - prejudicar o direito dos demais moradores.
II - Dar às suas partes destinação diversa do conjunto da edificação e utilizá-las de maneira prejudi-
cial ao sossego, salubridade, segurança e bons costumes.
III - Usar, ceder ou alugar o apartamento para fins não residenciais.
IV - Alterar a forma e a cor da fachada, portas, janelas e demais esquadrias externas.
V - Colocar vasos e outros objetos nos parapeitos das janelas, bem como instalar varais externos.
VI - Colocar, na parte externa ou interna do edifício, placas, letreiros, anúncios, aparelhos luminosos
ou qualquer outra inscrição ou publicidade, salvo enfeites natalinos.
VII - Colocar aparelho de ar condicionado fora do padrão estabelecido em assembleia.
VIII - Permitir o escoamento de água proveniente de ar condicionado, de roupas, tapetes ou asseme-
lhados que prejudique as demais unidades ou áreas comuns.
IX - Atirar pontas de cigarro, água e qualquer outro objeto pelas janelas, ou ainda nos corredores,
escadas, saguão, bem como limpar ou estender tapetes, capachos, almofadas, colchões, cobertores
etc., nas áreas comuns e janelas.
X - Lançar pelo vaso sanitário, pelas pias ou demais tubulações, materiais ou dejetos que possam
obstruir os encanamentos e esgotos do condomínio.
XI - Depositar lixo fora dos locais destinados para depósito, sem acondicionamento adequado, não
selecionados em lixo seco ou orgânico e em desacordo com os horários estabelecidos: segunda à
sexta-feira das 18h às 19h e no sábado das 11h às 12h.
XII - Usar as dependências de uso comum como depósito, mesmo que momentaneamente, para
guarda de objetos particulares ou materiais de qualquer natureza.
Art. 17. As reclamações e sugestões devem ser registradas em livro próprio ou submetidas à apre-
ciação da Assembleia Geral.
Art. 18. Será observado, em tudo quanto for omisso no presente regulamento, a Convenção, a Lei
4.591/64, Lei 10.406/02, com as modificações posteriormente introduzidas aplicáveis à matéria.
Art. 19. Cada condômino receberá uma via deste regulamento, não podendo alegar a sua ignorân-
cia.
Art. 20. Em caso de venda ou locação, o condômino deverá comunicar ao síndico o nome e demais
dados do novo morador, adquirente ou locatário fazendo constar, obrigatoriamente, nos respecti-
vos instrumentos, cláusulas que obrigue o fiel cumprimento das disposições contidas na Conven-
ção e no presente regulamento interno. Em caso de omissão, o vendedor ou locador ficará solidaria-
mente responsável, com o novo adquirente, locatário ou morador por quaisquer danos.
Parágrafo único. Em caso de locação, o locador permanecerá como único responsável perante a
administração do edifício pelo pagamento de sua cota parte e multas.
Art. 21. Fica eleito o Foro da Comarca de Porto Alegre, Capital do Estado do Rio Grande do Sul, com
renúncia de quaisquer outros, por mais especiais que sejam, para qualquer ação ou procedimento
decorrente da aplicação dos dispositivos deste regulamento.
CIDADE , DIA de MÊS de ANO.
Atividades
1. Assinale as alternativas como verdadeiras (V) ou falsas (F):
(( O Brasil dispõe de uma legislação referente a condomínio de propriedade horizontal desde
1964.
(( Propriedade horizontal e condomínio edilício são duas formas distintas de condomínio,
cada uma com sua regulação específica.
(( O condomínio deitado, quando resultante de desdobramento em unidades distintas, de-
vidamente registradas no Cartório de Registro de Imóveis, é uma forma de condomínio
edilício.
(( A Lei 4.591/64 regula, até os dias atuais, a disciplina dos condomínios e incorporações imo-
biliárias.
(( Embora já existissem formas de condomínio desde os romanos e sumérios, a propriedade ho-
rizontal, da forma como a conhecemos atualmente, apenas se formou a partir do século XVIII.
3. Quais são as matérias previstas na convenção que não podem ser alteradas senão mediante una-
nimidade?
Gabarito
1. F– F–V–F–V
3. O Código Civil menciona expressamente duas dessas matérias: a alteração da destinação do con-
domínio e a alteração da destinação da unidade imobiliária. Além dessas, relacionam-se também
todos os casos em que ocorrer a modificação de direito adquirido dos condôminos, tais como a
alteração das partes ideais ou das unidades exclusivas, por exemplo.
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Direitos e deveres
dos condôminos
Introdução
A convivência de pessoas de origens e costumes distintos em um condomínio, seja este residen-
cial, seja comercial, exige um equilíbrio bastante delicado. Esse equilíbrio somente é estabelecido pelas
regras legais e convencionais que regulam as relações condominiais. O exame dessas regras permite
elencar uma série de direitos e deveres dos condôminos, variáveis conforme o caso, mas que regulam,
de um modo geral, o uso adequado da propriedade decorrente do condomínio. Uma vez que o condo-
mínio é a conjunção de espaços particulares com espaços de propriedade comum, é de grande impor-
tância que cada condômino esteja ciente de seus direitos e de seus deveres para, desse modo, não ferir
os direitos dos demais condôminos.
Na realidade, cada titular de uma unidade autônoma possui sobre ela os mesmos direitos básicos
inerentes a qualquer outra forma de propriedade. Por outro lado, tendo em vista a situação específica
do condomínio, o titular possui também deveres, que surgem exatamente para permitir o exercício dos
direitos por parte de todos, com base nas normas de convivência. Em outras palavras, o condomínio, tal
como uma escola, uma empresa ou a sociedade como um todo, é um agrupamento humano em que a
definição dos direitos e deveres visa justamente permitir a convivência da melhor forma possível, equa-
cionando os interesses pessoais de cada um.
Conforme ensina João Batista Lopes (2006, p. 76):
Os atos dos condôminos são regulados pelo princípio da igualdade de uso ou reciprocidade de direitos e deveres. Em
rigor técnico, não há falar de restrições ou limitações ao direito de propriedade, mas, sim, de regulamentação de seu
exercício [...].
Sendo assim, pode-se dizer que, para além do pagamento devido por cada condômino, este é tam-
bém responsável por uma série de outras obrigações, as quais não significam limitação ao seu direito de
propriedade, mas sim regulamentação adequada de seu uso, tendo em vista os interesses dos demais.
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38 | Direitos e deveres dos condôminos
Desse modo, para que se possa compreender as responsabilidades de cada coproprietário, é fun-
damental conhecer as normas que regem os condomínios e as relações entre condôminos. Essas normas
possuem duas naturezas diversas: por um lado, decorrem da lei, ou seja, resultam da legislação imposta
pelo Estado; por outro, decorrem do que os condôminos aprovaram, no momento da constituição do
condomínio. São as normas que constam da convenção do condomínio e de seu regimento interno.
Tendo em vista que essas normas convencionais variam caso a caso, a definição do rol exato de direitos
e deveres dos condôminos apenas será feita a partir da análise específica, relativa a cada condomínio.
Quanto às regras legais, estas encontram-se previstas principalmente pelo novo Código Civil, vi-
gente desde janeiro de 2003. Por outro lado, a Lei 4.591 de 16 de dezembro de 1964, embora derrogada
em muitos de seus dispositivos, permanece válida em alguns pontos, em relação aos quais o Código
Civil não trouxe inovações. Esse rol de normas é, como comentado acima, completado pelas regras pre-
vistas na convenção do condomínio e no regulamento interno.
Assim, no que se refere à temática específica dos direitos e deveres dos condôminos, objeto desta
aula, a análise específica do tema inicia-se pelo que está disposto nos artigos 1.335 e 1.336 do Código Civil:
Art. 1.335. São direitos do condômino:
I - usar, fruir e livremente dispor das suas unidades;
II - usar das partes comuns, conforme a sua destinação, e contanto que não exclua a utilização dos demais compossui-
dores;
III - votar nas deliberações da assembleia e delas participar, estando quite.
Art. 1.336. São deveres do condômino:
I - contribuir para as despesas do condomínio na proporção das suas frações ideais, salvo disposição em contrário na
convenção;
II - não realizar obras que comprometam a segurança da edificação;
III - não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e esquadrias externas;
IV - dar às suas partes a mesma destinação que tem a edificação, e não as utilizar de maneira prejudicial ao sossego,
salubridade e segurança dos possuidores, ou aos bons costumes.
Percebe-se, portanto, que a lei procura tornar bastante clara a circunstância de que o direito de
propriedade é único, seja ele exercido sobre as partes exclusivas, seja exercido sobre as partes comuns.
O proprietário não pode nem vender esses bens em separado, nem gravá-los com hipoteca, conforme
consta do parágrafo primeiro. Caso ele opte por hipotecar seu imóvel, a garantia recairá sobre a totalida-
de de seu direito, isto é, sua propriedade exclusiva e a fração ideal do solo e das áreas comuns. Cumpre
esclarecer que o novo Código Civil também detalha, no parágrafo segundo do artigo 1.331, algumas
das partes comuns de um condomínio edilício, que não podem ser divididas, separadas ou alienadas:
§2.º O solo, a estrutura do prédio, o telhado, a rede geral de distribuição de água, esgoto, gás e eletricidade, a calefação
e refrigeração centrais, e as demais partes comuns, inclusive o acesso ao logradouro público, são utilizados em comum
pelos condôminos, não podendo ser alienados separadamente, ou divididos.
Por outro lado, o próprio artigo 1.339, em seu parágrafo segundo, prevê uma exceção à regra de
que as frações ideais sobre as partes comuns são inseparáveis das unidades autônomas. Através desse
dispositivo, permite-se que o proprietário venda a outro condômino uma parte acessória de sua unidade.
Também permite essa mesma venda a um terceiro, mas nesse caso apenas sob duas condições: de que
essa possibilidade conste do ato constitutivo do condomínio (a convenção) e de que não haja oposição
da assembleia. Assim, mesmo constando da convenção do condomínio, é possível que a assembleia, por
maioria de votos, acabe não permitindo essa venda a terceiros. A assembleia deverá, de qualquer forma,
manifestar-se, já que qualquer condômino possui preferência na aquisição em relação a um terceiro.
Por parte acessória deve-se entender uma propriedade exclusiva, mas que possua uma matrícula
específica no Registro de Imóveis, bem como indicação fiscal individualizada. Em alguns casos, as ga-
ragens podem revestir-se dessas características, o que permitiria a sua venda em separado. Entretanto,
na maioria das hipóteses, não será possível sua venda dessa forma, visto que, geralmente, elas acabam
integrando a matrícula e o lançamento fiscal da própria unidade autônoma.
Em tais casos, apenas a locação da vaga na garagem seria permitida. Trataremos desse ponto e de
outros relativos às questões das garagens no item seguinte, dada a sua relevância.
Vaga da garagem
A respeito das garagens, é necessário considerar que são diversas as possibilidades existentes
sobre o uso desse espaço. Em alguns casos, cada condômino tem propriedade exclusiva sobre uma ou
mais garagens. Em outros trata-se apenas de área comum. Nessas hipóteses, ocorre muitas vezes que
o número de garagens é inferior ao número de apartamentos. Ou então, que algumas garagens são lo-
calizadas em pontos bem mais favorecidos, do ponto de vista da utilização, que outras. Assim, é preciso
considerar alguns aspectos específicos.
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40 | Direitos e deveres dos condôminos
partes pelos demais condôminos. A segunda restrição é a de que não é permitido constituir obstáculos
ou embaraço ao bom uso da propriedade por todos. Um exemplo disso é que o condômino não pode
colocar entulhos na sua vaga ou na de outro, dificultando ou impedindo a utilização da garagem por
outras pessoas.
Nos dois casos citados acima, deverá prevalecer o poder disciplinador do condomínio, de modo
que as atitudes e vontades individuais sejam submetidas à vontade de todos. O uso das áreas comuns por
cada condômino, portanto, deve ocorrer sem que isso cause problemas ao uso por parte dos demais.
Além disso, o condômino deve atentar sempre para o direito dos demais moradores e vizinhos.
Por essa razão, é dever do condômino conservar e manter as áreas comuns e, em caso de danos causa-
dos por ele a essas áreas, deve repará-los.
Desse modo, as áreas comuns devem ser conservadas e mantidas sob essa natureza. Mesmo que
algumas áreas de uso comum não possuam uma destinação específica, o condômino não poderá tomá-
-las como sua propriedade individual. Assim, não é permitido o chamado usucapião, ou seja, a aquisi-
ção da propriedade decorrente da não utilização do bem, por parte dos condôminos, sobre as áreas
comuns. Afinal, como já analisado, estas não poderão ser divididas, nem vendidas separadamente das
unidades exclusivas a que se referem.
Em contrapartida, o Código Civil, em seu artigo 1.340, possibilita a um ou mais condôminos a uti-
lização com exclusividade de partes comuns do condomínio, caso em que as despesas decorrentes do
uso dessas áreas são de responsabilidade exclusiva de quem as usufrui. Assim, por exemplo, as despesas
relativas ao uso dos elevadores podem apenas caber aos condôminos que deles se utilizam. Os aparta-
mentos situados no térreo não seriam obrigados a compartilhar dessas despesas. No entanto, mesmo
nesse caso, essa possibilidade de uso exclusivo pode ser negada pela convenção do condomínio, caso
em que as despesas e o uso seriam obrigatoriamente compartilhados por todos.
Como se vê, em cada hipótese, serão preponderantemente a convenção e o regimento interno do
condomínio que disciplinarão a forma de utilização de cada uma das áreas comuns.
Além disso, a parte final desse dispositivo dá a entender que o Código Civil permite também que
a assembleia delibere por medidas mais drásticas quanto a esse condômino, inclusive impedindo-o
de continuar habitando aquele espaço. Melhor seria, evidentemente, se o Código Civil tivesse deixado
essas outras possibilidades mais claras. De todo o modo, não há dúvidas que, relativamente à legislação
anterior, trata-se de um grande avanço.
Ainda sobre esse tema específico, Lorena del Carmen Contreras e Maria Inês R. Landini Dolci (2003,
p. 23) lecionam o seguinte: “A lei não define o que é comportamento antissocial dos condôminos ou
possuidores. Portanto, recomenda-se que a Convenção estabeleça expressamente o que o condomínio
considera comportamento antissocial. Essa medida diminui a incidência de dúvidas e abusos”.
Cabe salientar ainda, quanto a essa questão, o uso do termo “bons costumes”, efetuado pelo Có-
digo Civil no final do inciso IV do artigo 1.336, relativamente à forma como cada condômino deverá
utilizar sua unidade específica. Isso significa que a lei procura garantir a todos que sua tranquilidade não
será afetada por ações tomadas por vizinhos, que sejam de alguma forma atentatórias à moralidade e
aos costumes tidos como razoáveis em uma sociedade.
Por outro lado, o condomínio não tem o direito de impedir que ocupantes de um apartamento
ou conjunto, sejam estes proprietários ou não, recebam visitas de pessoas de caráter duvidoso. A menos
que seja comprovado que essas pessoas podem efetivamente perturbar o sossego ou as regras vigen-
tes, não é permitido ao condomínio realizar um controle prévio quanto ao ingresso desses indivíduos.
Cada condômino ou ocupante tem o direito de receber quem quer que seja, desde que não haja ofensa
ao sossego e à moralidade. Havendo suspeitas, poderão ser coletadas informações e elementos neces-
sários para instruir procedimento judicial específico, o qual, no entanto, apenas será efetivado após a
referida ocorrência.
Existem, ainda, outros fatores considerados como violação das regras de boa vizinhança. Um de-
les, muito comum em condomínios nas grandes cidades, é o barulho. Em alguns estados como São
Paulo e Minas Gerais, existem decretos que regulam horários e valores de ruídos máximos permitidos,
contados em decibéis. No Rio de Janeiro, há a Lei 126, de 10 de maio de 1977, a Lei do Silêncio. Por essa
lei, não é permitido qualquer ruído que ultrapasse os 85 decibéis em ambiente exterior ao recinto em
que tem origem.
Havendo problemas de barulho nos condomínios, deve-se contatar o síndico para que o problema
seja solucionado da maneira mais amena possível, começando com uma circular que não seja nominal
ao condômino que produz barulho após o horário permitido, e culminando com medidas judiciais para
cobrança de multas. Geralmente, a própria convenção traz os horários em que deve ocorrer o silêncio.
Outro dever do condômino expresso em diversos enunciados legais é justamente a questão rela-
tiva à utilização adequada da unidade, que deverá ocorrer em conformidade com a destinação prevista
na convenção do condomínio. Essa obrigação também encontra-se prevista no inciso IV do artigo 1.336
do Código Civil. Dessa maneira, é inerente ao direito de propriedade sobre uma unidade autônoma que
esta seja utilizada de acordo com a destinação adequada.
Assim, não são permitidas, por exemplo, atividades comerciais em condomínios exclusivamente
residenciais. Essa vedação não implica, por exemplo, que um condômino opte por fazer de sua resi-
dência seu espaço de trabalho. Entretanto, a utilização como ambiente de trabalho deverá cercar-se de
cuidados, de modo a não atrapalhar a vizinhança: não poderão existir placas indicativas do negócio em
frente ao seu apartamento; da mesma forma, o número de pessoas que o visitem não deverá ser exces-
sivo, de forma a atrapalhar a utilização residencial e a segurança dos demais condôminos.
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Direitos e deveres dos condôminos | 43
Votação em assembleia
Ao condômino é permitido participar das assembleias, podendo também candidatar-se aos car-
gos previstos na convenção, desde que não tenha dívida com o condomínio. Assim, todo condômino,
proprietário ou possuidor de uma ou mais unidades em um edifício, ao participar da assembleia, tem
direito ao voto, seja pessoalmente ou através de um procurador. No caso de procuração, tendo em vista
o disposto no parágrafo 2.° do artigo 654 do Código Civil, pode haver necessidade de reconhecimento
de firma, caso isso conste da convenção, ou seja assim definido pela maioria dos condôminos.
Em se tratando das votações em assembleia que envolvam despesas ordinárias do condomínio,
de acordo com o parágrafo 4.º do artigo 24 da Lei 4.591/64, o locatário poderá votar, caso o condômino-
-locador não compareça.
Uma questão que tem sido muito discutida é a situação de um condômino que permanece
inadimplente por um período extenso, mas acaba fazendo acordo para pagamento parcelado da dívi-
da e passa a pagar as cotas mensais em dia. Terá ele direito a voto em assembleia? O entendimento é
que, uma vez tendo sido realizado o acordo e considerando que o condômino está em dia com o que
foi acordado, ele tem, sim, direito ao voto. Afinal, cabe ao condomínio, através de seu síndico, aceitar
ou não a realização do acordo. Se aceito o acordo, existirão novos prazos de pagamento. São estes que
determinam se o condômino está ou não em dia com suas obrigações.
Contribuição condominial
Segundo alguns, o conceito de condomínio edilício está relacionado com a própria contribuição
para as despesas comuns em edifícios de apartamentos. Embora evidentemente exagerada, essa posi-
ção denota a importância das contribuições condominiais na vida de um condomínio. Ou seja, no mo-
mento em que o condômino adquire sua propriedade autônoma em um condomínio edilício, já deve
ter claro que deverá arcar com algumas despesas em comum para o bom funcionamento e manutenção
da propriedade. Esse é, portanto, um dever essencial de qualquer condômino.
Por outro lado, é direito de qualquer condômino que todas as despesas e receitas sejam demons-
tradas por meio de um balancete contábil. Esse balancete é normalmente submetido à apreciação de
um conselho consultivo e, posteriormente, deve ficar à disposição, em local de fácil acesso, para análise
por parte de todos os condôminos.
A contribuição condominial corresponde à parcela de pagamento de condomínio proporcional a
cada unidade do edifício. Salvo previsão em contrário, a cota de cada condomínio corresponde à fração
ideal do terreno relativa à cada unidade. Assim, apartamentos maiores possuirão também obrigações
de despesa maior em relação às demais unidades.
Existem basicamente dois tipos de despesas relativas ao condomínio: as ordinárias e as extraordi-
nárias. As despesas ordinárias são os gastos com limpeza, manutenção e conservação do condomínio.
Tais despesas devem ser pagas por quem habita na unidade, independentemente de ser o proprietário
ou inquilino.
Já as despesas extraordinárias, são aquelas que dizem respeito a obras de conservação da estru-
tura do edifício, pinturas em fachadas, conservação de esquadrias externas, equipamentos de segu-
rança, paisagismo nas partes de uso comum e ainda para a constituição de fundo de reserva. Serão de
responsabilidade do proprietário, já que agregam valor ao seu patrimônio.
Com relação ao não pagamento da contribuição pelo condômino, seja quanto a despesas ordi-
nárias, seja quanto às extraordinárias, o parágrafo primeiro do artigo 1.336 do Código Civil dispõe o
seguinte:
§1° O condômino que não pagar a sua contribuição ficará sujeito aos juros moratórios convencionados ou, não sendo
previstos, os de 1% (um por cento ao mês) e multa de até 2% (dois por cento) sobre o débito.
Trataremos desse aspecto relativo ao não pagamento das contribuições no item seguinte.
Cobrança de dívidas
A questão referente à cobrança de valores atrasados pelo condômino exige um cuidado bastante
especial. Por um lado, conforme mencionado no parágrafo primeiro do artigo 1.336 do Código Civil, o
condomínio está habilitado a cobrar do condômino impontual juros de mora de 1% ao mês, além de
multa de até 2%. Esse limite costuma ser criticado, por ser excessivamente baixo. De fato, a previsão de
multa reduzida estimula a inadimplência e acaba dificultando a administração do condomínio. Melhor
seria se o Código Civil tivesse estabelecido, também para esse caso, o limite de 10% (dez por cento),
previsto para diversas outras circunstâncias.
Tendo em vista essa possibilidade reduzida de imposição de encargos financeiros, muitos admi-
nistradores apelam para formas alternativas de pressionar os condôminos ao pagamento. Por exemplo:
através de recursos que envolvem ironias em público, ameaças ou outras formas atentatórias à digni-
dade dos condôminos. Quanto a essa questão, convém referir-se ao artigo 42 do Código de Defesa do
Consumidor, que especifica:
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a ridículo, nem será submetido a qual-
quer tipo de constrangimento ou ameaça.
Entretanto, o Código de Defesa do Consumidor não se aplica a casos de condomínios, já que a co-
brança, nesse caso, não tem natureza de relação de consumo. Ainda assim, entende-se, por analogia, que
a vedação às formas constrangedoras, ameaçadoras ou que exponham ao ridículo, deverá persistir. Lore-
na del Carmen Contreras e Maria Inês R. Landini Dolci (2003, p. 23) posicionam-se no seguinte sentido:
Embora o CDC não se aplique às relações entre condôminos e condomínios, à luz do princípio constitucional de prote-
ção à dignidade da pessoa é absolutamente razoável que o condomínio se abstenha da prática de afixar, em elevado-
res, áreas comuns ou de circulação, o nome de eventuais condôminos inadimplentes. Isto não quer dizer, entretanto,
que as prestações de contas devam omitir a existência de unidades inadimplentes.
Outro aspecto muito relevante da disciplina trazida pelo Código Civil diz respeito aos prazos de
prescrição relativos à cobrança. Esse prazo passa a ser de 10 anos, contados a partir do vencimento da
cobrança. A dívida que passar desse período não mais poderá ser cobrada do condômino. Pelo antigo
Código Civil, o prazo de prescrição era de 20 anos. Com relação àqueles prazos que já corriam anterior-
mente à vigência do novo Código Civil, prevalecerá o prazo de 20 anos caso já tenham transcorrido mais
de 10 anos sem que a cobrança tenha sido iniciada. Do contrário, passará a valer a previsão do novo
Código, de 10 anos.
Multas
As regras internas do condomínio permitem a aplicação de multas aos condôminos, como forma
de se desestimular as atitudes contrárias às regras condominiais. É dever do síndico efetuar o procedi-
mento de cobrança da multa, que reverterá para o condomínio. O valor é fixado pela convenção, regu-
lamento interno ou, na sua falta, será definido pela assembleia geral, através do voto de, pelo menos,
dois terços dos condôminos restantes.
Desse modo, a convenção condominial estipulará o valor da multa a ser cobrada em casos de
não cumprimento das determinações expressas no artigo 1.336, II a IV, do Código Civil, bem como com
relação às demais obrigações previstas em lei e na convenção. Essa multa, por não cumprimento das
obrigações, não poderá ser superior a cinco vezes o valor da contribuição condominial mensal.
Como já visto, o reiterado comportamento antissocial também é passível de multa quando gerar
incompatibilidade de convivência com os demais moradores. Essa multa corresponderá ao décuplo do
valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais, conforme artigo 1.337, parágrafo único.
Entende-se que a multa deve ser aplicada somente uma vez por ocorrência. Caso não haja paga-
mento, serão calculados juros moratórios de um por cento a cada mês em que perdurar a dívida, além
de multa moratória de até dois por cento.
Se o condômino desejar recorrer à assembleia contra a decisão do condomínio, relativa à aplica-
ção da multa, deve entregar uma carta aos demais condôminos solicitando que conste da convocação
da assembleia seguinte a apreciação de seu recurso, e entregá-la, ainda, ao síndico, que deverá dar
recibo e submeter o recurso à assembleia.
Alteração da fachada
O inciso III do artigo 1.336 do Código Civil procura vedar as alterações nas fachadas e nas partes e
esquadrias externas. Dessa forma, qualquer alteração do aspecto exterior do prédio não pode ser efetua-
da pela simples vontade individual. É dever de cada condômino conservar as condições arquitetônicas
originais (formas, cores e esquadrias), sob pena de ser obrigado a desfazer a obra pela via judicial.
Contudo, o interesse coletivo é o limite da proibição. Em construções antigas, alguns dos mate-
riais aplicados na construção original acabam por tornar-se ultrapassados, o que força os condôminos
a efetuarem reformas ou melhoramentos (por exemplo, substituição das pastilhas de revestimento ex-
terno dos edifícios). Tais reformas devem, em princípio, ser aprovadas pela assembleia. Entretanto, caso
haja urgência na reforma em virtude de problemas de segurança, qualquer condômino poderá, ante a
passividade do síndico, optar por realizar tais modificações e posteriormente cobrar as despesas dos de-
mais condôminos. Em tais casos, no entanto, a fachada externa deverá conservar o aspecto de unidade
que caracteriza o imóvel.
Com relação a equipamentos que dão mais comodidade aos condôminos, como o ar condiciona-
do, tem-se considerado que sua instalação é permitida, desde que não afete a estética externa do con-
junto. Assim, desde que as normas de instalação necessárias sejam seguidas para garantia da segurança
dos condôminos, sua instalação é possível.
Dessa maneira, a fachada é considerada um bem comum dos proprietários, não podendo ser ino-
vada por qualquer dos condôminos, sem que seja de consentimento coletivo. Em edifícios comerciais,
se for necessária a colocação de luminosos, placas ou indicativos, esses implementos devem preservar
a estética, segundo as regras previamente aprovadas em assembleia geral. Assim, sua utilização deve
dar-se nos limites do que for permitido pela convenção, embora esta deva considerar a sua necessidade
para a visibilidade do negócio, essencial para o desempenho da atividade profissional pretendida.
Já no que se refere aos terraços, surgem algumas questões quando o último piso é propriedade
exclusiva de um dos condôminos, nos termos da escritura de constituição do condomínio. O proprie-
tário não poderá levantar ali qualquer obra que implique a existência de um novo piso no edifício.
Entretanto, poderá eventualmente realizar pequenas modificações, desde que conservem a harmonia
do prédio.
O mesmo vale para as sacadas ou varandas de todos os apartamentos. De acordo com José Batis-
ta Lopes, a alteração da fachada para fins de fechamento ou envidraçamento do terraço pode ser aceita,
desde que não prejudique o conjunto (2006, p. 209-210):
A disposição do inciso III, do artigo 1.336, não deve, porém, ser interpretada literalmente, mas segundo seu fim que é
o de preservar a harmonia arquitetônica e estética do edifício. Em razão disso, o simples envidraçamento do terraço,
ou a instalação de toldos para proteção contra o sol ou o vento não se incluem na proibição legal. [...] a proibição de
alteração de fachada não pode traduzir ato de mero fetichismo legal, mas atender ao caráter finalístico da norma.
Portanto, pequenos melhoramentos que não acarretem a perda da harmonia deverão ser permi-
tidos. O que não se pode é simplesmente modificar a aparência geral do prédio em função de reformas
promovidas em um andar ou unidade específicos.
O mesmo pode também ser dito das portas externas de cada unidade autônoma. Não é lícito a
qualquer condômino, sobretudo em imóveis residenciais, modificar a porta de entrada de seu aparta-
mento de forma a deixá-la em desarmonia com a decoração geral do ambiente externo. Evidentemente,
tais questões se sujeitam ao que a convenção dispor sobre isso. De um modo geral, no entanto, deverão
prevalecer as regras de harmonia em todos os ambientes exteriores.
Conclusão
Ao longo desta aula, procurou-se demonstrar que o Código Civil procura discriminar os direitos
e os deveres dos condôminos segundo princípios gerais de conduta. Por outro lado, a lei atribui à con-
venção e ao regimento interno a incumbência de definir de modo mais detalhado as obrigações e as
garantias de todos os habitantes ou frequentadores do condomínio.
Ao seguir essas normas de forma adequada, o condômino ou inquilino desfrutará de seus direi-
tos, ao mesmo tempo em que permitirá também o uso adequado do bem pelos demais. Nesse sentido,
é importante destacar dois fatores essenciais visando à garantia dos direitos e deveres dos indivíduos
que optam por conviver em condomínio.
O primeiro deles refere-se à prevalência da vontade coletiva sobre a individual. Dessa maneira,
cabe principalmente ao síndico conduzir adequadamente os interesses dos condôminos, submetendo
assuntos para votação em assembleia e discutindo os temas relevantes com os condôminos, conceden-
do a todos liberdade para expor seus pontos de vista e protegendo as garantias mínimas individuais,
aqui analisadas.
O segundo aspecto refere-se à conduta pessoal de cada condômino. A vida em sociedade exige a
tomada de consciência com relação à fronteira do exercício dos direitos de cada um, a partir de onde se
iniciam os direitos do próximo. Assim, a adoção de bom senso e a incorporação de padrões razoáveis de
boa vizinhança será, na maioria das vezes, o melhor caminho para a resolução de conflitos, sem necessida-
de de recurso ao Poder Judiciário. Apenas após o esgotamento das tentativas de solução amigável ou de
mediação interna é que o judiciário deverá ser a saída. Evidentemente, essa solução acarreta custos adicio-
nais, seja pelos encargos que deverão ser pagos, seja pela demora quanto a uma prestação adequada.
Texto complementar
Condômino antissocial. Que bicho é esse?
A multa de até dez vezes o valor do condomínio pode inibir o condômino antissocial.
Mas, tome cuidado: nem todo comportamento inadequado é antissocial
Qualquer sociedade possui regras que devem ser respeitadas para a boa convivência de seus
integrantes. Em hospitais, por exemplo, é necessário manter silêncio. Na maioria das escolas, exige-
-se o uso de uniforme pelos alunos. Também os condomínios possuem suas normas – que morado-
res, funcionários e visitantes devem cumprir. Porém, infelizmente, são raros os prédios que não têm
histórias envolvendo condôminos que vivem desrespeitando as regras. Normalmente, são pessoas
que adoram confusão e que se acham no direito de fazer o que bem entendem – e nem se lembram
que a vida em condomínio pressupõe respeitar os direitos dos outros.
Para esse tipo de morador, o novo Código Civil brasileiro (em vigor desde janeiro) reservou
uma novidade. A lei o denomina condômino antissocial. O parágrafo único do artigo 1.337 diz que
“o condômino ou possuidor que, por seu reiterado comportamento antissocial, gerar incompatibili-
dade de convivência com os demais condôminos ou possuidores, poderá ser constrangido a pagar
multa correspondente ao décuplo do valor atribuído à contribuição para as despesas condominiais,
até ulterior deliberação da assembleia”.
Ou seja, o condômino que, repetidas vezes, tiver um comportamento que cause incompatibi-
lidade de convivência com o restante do condomínio, poderá ser multado em até dez vezes o valor
da taxa condominial. Essa decisão deve ser tomada em assembleia, com a presença de três quartos
dos condôminos restantes. “A nova legislação, ao contrário do Código de 1916, que vigorou até
agora, permite a formação de um sistema jurídico aberto. O antissocial, dentro do capítulo condo-
mínios, nada mais é do que uma cláusula aberta”, informa o advogado e consultor jurídico condo-
minial, Cristiano de Souza Oliveira, ressaltando que a decisão não cabe apenas ao síndico, mas sim
à assembleia. “A definição de antissocial depende do momento, do condomínio e da ação realizada
por essa pessoa. A multa somente será aplicada em quem, reiteradamente, tiver um comportamen-
to antissocial”, completa.
O novo Código Civil inovou, ao incluir o termo antissocial na legislação. Porém, esperava-se
ainda mais. “O mercado condominial esperava a possibilidade de exclusão do condômino antisso-
cial, como já acontece em alguns países. O condomínio pode excluir esse morador, mesmo que ele
seja proprietário de uma unidade. Ele continua proprietário, porém não tem mais o direito de usá-
-la”, explica Cássio Thut, vice-presidente de Condomínios e Relações Trabalhistas do Secovi-SP. Por
enquanto, temos apenas a multa maior – o que não é pouco. “Muita gente vai pensar duas vezes
antes de ter uma conduta imprópria dentro do condomínio”, espera Thut.
Doença ou má educação
E já que a multa está aí e pode ser aplicada, resta saber como serão definidos os comportamen-
tos antissociais. Fazer barulho em horários inadequados, utilizar a sua unidade para fins diversos
ao do condomínio, usar as áreas comuns inadequadamente são alguns exemplos típicos de atos
suscetíveis à multa. Para a psicóloga Rosalba Filipini, tudo o que sair dos padrões que determinado
prédio estabelece como o que deve ser respeitado, poderá ser taxado de antissocial. “A definição de
antissocial pode ser aplicada a todas as pessoas comuns, normais, que têm comportamentos cons-
cientes e que perturbam a ordem”, define a psicóloga. Na opinião da profissional, é essencial distin-
guir comportamentos agressivos e coercitivos de casos isolados. “Um doente mental, por exemplo,
dependendo do grau e do tipo de doença, não é controlável. Ele pode gritar no meio da noite ou ter
uma convulsão no elevador. Isso não quer dizer que ele seja antissocial. Apenas tem um compor-
tamento fora dos padrões normais”. Fatos como esse podem ser tolerados pelos moradores. “Você
não suporta o barulho dos aviões, se mora próximo a um aeroporto?”, compara a psicóloga.
Na prática, há casos que tornam-se insuportáveis para os moradores. Um condomínio tem vivi-
do, há anos, uma triste história, envolvendo uma moradora portadora de esquizofrenia. Abandona-
da pela família, ela ameaça constantemente os condôminos, colocando em risco a integridade das
pessoas, a ponto de crianças terem medo de andarem sozinhas de elevador ou pelas áreas comuns
do prédio. A doente chegou a colocar fogo em sua própria área de serviço. A família se exime de
responsabilidades e o condomínio tenta as vias judiciais para que a moradora seja internada. O
advogado Cristiano de Souza Oliveira orienta que a melhor maneira para solucionar esse tipo de
situação é acionando o Ministério Público. “O síndico deve juntar provas do ocorrido, como boletins
de ocorrência e as assinaturas dos moradores envolvidos, e encaminhar ao Ministério Público, que
é o legítimo órgão para acionar a família da pessoa doente. Não se pode taxar uma pessoa clinica-
mente problemática de antissocial”, diz. O Ministério Público do Estado de São Paulo funciona na
rua Riachuelo, 115, tel 11 3119-9000, seu site é o <www.mp.sp.gov.br>.
Já o condômino que não tem nada de doente e que teime em tomar atitudes que incomodem
o condomínio deverá ser tratado com rigor pelo síndico. Há condomínios obrigados a conviver com
famílias, cujos integrantes têm uma postura antissocial. Como o caso da criança que vivia de patins,
skate e bicicleta pelas áreas comuns do prédio – atividade proibida pelo regulamento e permitida
apenas para a área do playground. O pai foi alertado pela síndica de que a criança estava agindo
contra o regulamento. O morador teve uma atitude autoritária, dizendo que a síndica poderia mul-
tá-lo quantas vezes quisesse. Resultado: ele não pagava as multas e o filho continuava infringindo as
normas. Durante anos, a família persistiu nesse tipo de comportamento. Até que o apartamento foi
vendido e o pai acabou pagando todas as multas em atraso para poder realizar o negócio.
Lidar com moradores que agem ao seu bel-prazer nem sempre é fácil. Muitas vezes, são pes-
soas que intimidam os síndicos até com ameaças. Antes que você tenha que enfrentar alguma situ-
ação desse tipo, previna-se. Divulgue as normas do condomínio e procure resolver os problemas,
primeiro com uma boa conversa – e, se não houver acordo, a multa será o melhor remédio.
Atividades
1. Quais são as restrições para a venda da propriedade autônoma? Dê exemplos.
Gabarito
1. A princípio, o proprietário não necessita do consentimento dos demais condôminos para vender
sua unidade autônoma e fração ideal sobre áreas comuns. A restrição para a venda é a de que a
unidade exclusiva não poderá ser vendida em separado da parte comum, nem a parte comum
poderá ser objeto de negociação sem a propriedade exclusiva. Por exemplo, não se pode vender
o apartamento e continuar usufruindo do salão de festas.
2. V–F–F–V–V
3. O Código Civil, em seu artigo 1.331, §5.º , permite que, quando estipulado na escritura de cons-
tituição do condomínio, seja o terraço de cobertura do edifício vinculado a uma das unidades
autônomas, tornando-se, portanto, propriedade exclusiva.
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Administração
de condomínio
Introdução
Segundo a concepção adotada pelo direito brasileiro, os condomínios não possuem personalidade
jurídica própria, isto é, não são sujeitos de direitos e obrigações. Os condomínios em geral e os condomí-
nios edilícios estão inclusos no rol dos chamados entes não personificados. Nesse grupo, encontram-se,
além dos condomínios, a chamada herança jacente e a massa falida. Trata-se de conjuntos patrimoniais
que, embora não possuam personalidade jurídica, são também titulares de direitos e de obrigações.
Para gerir essas entidades, o direito exige que sejam devidamente administradas e representa-
das. Desse modo, é de grande importância que exista nos condomínios uma organização que permita
a representação deles, bem como o controle e a execução das diversas obrigações e procedimentos
necessários ao bom funcionamento dos mesmos.
Desse modo, o Código Civil brasileiro prevê, entre as regras relativas ao condomínio, a forma de
sua administração. A figura central relativa à administração da propriedade horizontal é a do síndico,
que será eleito em assembleia geral de condôminos. Como se verá, o síndico poderá ser assessorado
por subsíndicos, por um conselho fiscal, ou por outros órgãos previstos na convenção.
O Código Civil trata da questão relativa à administração do condomínio edilício em seção própria
(artigos 1.347 ao 1.356), na qual regula as questões mais importantes relativas ao tema, como veremos
adiante.
O síndico
A figura central da administração do condomínio edilício é o síndico. É ele que, escolhido pela as-
sembleia, realiza a gestão do condomínio, defendendo os interesses e negócios comuns e administrando
a diversidade de relações que decorrem das necessidades do condomínio. O síndico pode ser um con-
dômino, mas também pode ser qualquer outra pessoa eleita para esse fim, seja física ou jurídica, e não
necessariamente moradora do prédio. É o que se encontra prescrito no artigo 1.347, do Código Civil:
Art. 1.347. A assembleia escolherá um síndico, que poderá não ser condômino, para administrar o condomínio, por
prazo não superior a dois anos, o qual poderá renovar-se.
Desse modo, o síndico é eleito nos moldes especificados na convenção condominial. É ali que
deverão constar as regras relativas à sua eleição, prazo de mandato, atribuições específicas, estrutura de
gestão, entre outros. A lei procura apenas definir os padrões gerais. Entre estes, estipula o prazo máximo
de mandato de um síndico, o qual será de dois anos. Nada impede, por outro lado, que o síndico seja
reeleito sucessivas vezes, desde que, é claro, a convenção não vede essa possibilidade.
A natureza dos poderes do síndico é bastante peculiar. Ele não representa os interesses particu-
lares dos condôminos, mas apenas os interesses da comunhão, ou seja, da coletividade. Desse modo,
o síndico não é empregado do condomínio nem tampouco possui direitos mais amplos que os demais
condôminos. Ele é tão somente um representante do condomínio, e assume funções relativas à admi-
nistração e gestão dos bens que o integram.
Nessa condição, o síndico é gestor de propriedade alheia. Por administrar bens de terceiros, ele
deve prestar contas aos condôminos, pelo menos anualmente, em assembleia. Pode, para tanto, ser
assessorado por um contador, desde que também autorizado em assembleia. A prestação de contas
deve permitir o esclarecimento de todas as dúvidas que possam surgir quanto ao uso dos recursos do
condomínio, devendo ser o mais simples e compreensível possível. Portanto, manter os condôminos
sempre bem informados sobre a arrecadação de taxas e despesas efetuadas em cada mês não apenas é
importante, como também representa uma medida de proteção do próprio síndico. É essencial que não
pairem dúvidas sobre sua administração, de modo que, quanto mais esclarecedoras forem as demons-
trações, mais garantido o síndico estará quanto à ausência de responsabilizações posteriores.
A convenção não pode obrigar nenhum condômino a exercer o cargo de síndico contra a sua
vontade. Entretanto, algumas convenções condominiais exigem o revezamento da função entre os con-
dôminos. Mesmo assim, nenhum condômino é obrigado a aceitar tal responsabilidade.
A remuneração do síndico será devida apenas caso esteja estabelecida na convenção. Caso con-
trário, não será devida, pois a atuação do síndico não caracteriza relação de emprego. Quanto a essa
questão, é importante esclarecer que relação de emprego apenas poderá existir caso o condomínio
eleja um terceiro (não condômino), pessoa física, para o exercício dessa função. Nesse caso, se houver
habitualidade e subordinação, pode vir a existir relação de emprego, sujeita às regras da Consolidação
das Leis Trabalhistas (CLT).
Em vez de se prever um pagamento expresso pela função exercida pelo síndico, algumas con-
venções condominiais garantem a ele a isenção da taxa condominial durante o período de mandato. Já
outras convenções, geralmente em casos de condomínios maiores ou conjuntos comerciais, preveem
expressamente um pagamento pela atividade desenvolvida. Porém, muitas vezes não se autoriza qual-
quer tipo de remuneração.
Por outro lado, algumas convenções preveem apenas genericamente a remuneração do síndico
e atribuem à assembleia a função de fixar os valores devidos. De um modo geral, a possibilidade de
remuneração das atividades do síndico tende a reforçar a possibilidade de exigir dele o cumprimento
de suas obrigações. Assim, quando a receita do condomínio o permite, essa previsão é recomendável.
É importante ter claro, contudo, que a ausência de remuneração não afasta as responsabilidades do
síndico perante os condôminos e terceiros.
Subsíndico
Embora o Código Civil não faça qualquer referência expressa, é possível que a convenção do con-
domínio preveja também a existência de um subsíndico. Este geralmente tem como função substituir
o síndico nas suas atribuições. Pode constar da convenção também a sua responsabilidade por funções
ou tarefas específicas, ou, então, a de auxiliar o síndico em todas as suas atribuições.
Na ausência de previsão do Código Civil, o parágrafo sexto do artigo 22 da Lei 4.591/64 aplica-se
ao tema:
§6.º A Convenção poderá prever a eleição de subsíndicos, definindo-lhes atribuições e fixando-lhes o mandato, que
não poderá exceder de 2 anos, permitida a reeleição.
Competências do síndico
As principais atribuições do síndico estão previstas no Código Civil, em seu artigo 1.348. Esse ar-
tigo enumera as diversas funções do síndico:
Art. 1.348. Compete ao síndico:
I - convocar a assembleia dos condôminos;
II - representar, ativa e passivamente, o condomínio, praticando, em juízo ou fora dele, os atos necessários à defesa dos
interesses comuns;
III - dar imediato conhecimento à assembleia da existência de procedimento judicial ou administrativo, de interesse do
condomínio;
IV - cumprir e fazer cumprir a convenção, o regimento interno e as determinações da assembleia;
V - diligenciar a conservação e a guarda das partes comuns e zelar pela prestação dos serviços que interessem aos
possuidores;
VI - elaborar o orçamento da receita e da despesa relativa a cada ano;
VII - cobrar dos condôminos as suas contribuições, bem como impor e cobrar as multas devidas;
VIII - prestar contas à assembleia, anualmente e quando exigidas;
IX - realizar o seguro da edificação.
§1.º Poderá a assembleia investir outra pessoa, em lugar do síndico, em poderes de representação.
§2.º O síndico pode transferir a outrem, total ou parcialmente, os poderes de representação ou as funções administra-
tivas, mediante aprovação da assembleia, salvo disposição em contrário da convenção.
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56 | Administração de condomínio
cobranças e aplicação de multas. Também é dever do síndico estabelecer e cobrar multas re-
lativas ao descumprimento de deveres pelos condôminos ou por reiterado comportamento
antissocial, em conformidade com o previsto na lei e na convenção.
::: Prestar contas à assembleia, anualmente e quando exigido – como já informado, é da essência
da atuação do síndico a prestação de contas, por meio de balanços e balancetes, à assembleia,
uma vez ao ano ou sempre que lhe for solicitado. Visando a sua credibilidade, é interessante que
essas demonstrações sejam preparadas por um profissional contabilista devidamente habilitado,
com registro do Conselho Regional de Contabilidade (CRC).
::: Realizar o seguro da edificação – o seguro relativo à estrutura de edificação do imóvel, cobrin-
do danos decorrentes de incêndio ou destruição total ou parcial, é obrigatório e está incluso
nas atribuições do síndico. Por outro lado, a eventual contratação de seguros adicionais, relati-
vos à responsabilidade civil e danos contra terceiros, dependerá de deliberação da assembleia,
na medida em que implicam custos. De todo o modo, na condição de representante legal do
condomínio, é interessante para o síndico contratar tais apólices, visando assim garantir a sua
tranquilidade e a dos condôminos quanto ao pagamento de indenizações às vítimas de aci-
dentes ocorridos no condomínio e seus arredores.
É importante notar que toda essa relação do artigo 1.348 é geralmente tomada como taxativa,
isto é, ela esgota a relação das competências do síndico. Assim, pode-se dizer que, tirante essas atribui-
ções e aquelas implícitas, decorrentes delas, o síndico não possui outros poderes. As demais atribuições
caberão à assembleia, que, como órgão supremo do condomínio, possui os poderes de deliberação e
fiscalização sobre as ações do síndico.
A análise dos parágrafos primeiro e segundo do artigo 1.348, citados acima, será realizada no item
seguinte.
Destituição
O síndico pode ser destituído de sua função, caso pratique atos irregulares, deixe de prestar con-
tas ou não administre convenientemente o condomínio.
Anteriormente, a Lei 4.591/64 determinava que a convenção de condomínio deveria prever a
forma de destituição do síndico, mas, se a convenção não dispusesse sobre o assunto, exigia-se o voto
de dois terços dos condôminos presentes à assembleia.
Pelo Código Civil, a destituição ocorrerá quando, pelo voto da maioria absoluta, ou seja, metade
mais um dos condôminos, decidir-se pela destituição do cargo de síndico. Conforme consta do artigo
1.349 do novo Código, a destituição deverá necessariamente ser motivada por irregularidades, ausência
de prestação de contas ou administração inconveniente por parte do síndico. Em outras palavras, não
basta a simples intenção da maioria dos condôminos em afastar o síndico de seu cargo. Este possui um
mandato garantido pela convenção e referendado pela assembleia. Apenas ao término do mandato é
que a assembleia poderá substituir o síndico de forma imotivada.
Durante a vigência do mandato, apenas a prática de atos gravosos ao condomínio é que justifi-
cam a sua destituição. Conforme consta da lei, a assembleia, através de um ou alguns dos condôminos,
deverá demonstrar:
::: A prática de irregularidades – a lei optou por esse termo vago justamente para ali inserir toda
espécie de atos não compatíveis com as suas atribuições. Assim, incluem-se nesse conceito a
prática de não contabilização de receitas ou despesas, o desvio de recursos, a não observância às
normas condominiais previstas na convenção, entre outros. Os atos que justificam a destituição
deverão ser graves. Não basta meros atos casuais de inobservância das regras estabelecidas.
::: A não prestação de contas – nesse caso, ao contrário do anterior, trata-se de um fato objetivo.
Se, mesmo após instado a fazê-lo, o síndico deixa de prestar contas sobre sua gestão, pode a
assembleia optar pela sua destituição.
::: A administração inconveniente do condomínio – nessa hipótese, é preciso demonstrar que
o síndico não administra adequadamente. Assim, não basta a exposição de uma ou algumas
ocorrências. É necessário que o síndico reiteradamente aja de modo inconveniente ou que seus
atos não estejam à altura de suas responsabilidades. Cabe observar que a reprovação das con-
tas prestadas pelo síndico pode caracterizar a administração inconveniente, para esses efeitos.
Em todos esses casos, é assegurado ao síndico o direito à ampla defesa em assembleia. Caso esse
direito não lhe seja concedido, ou caso sua destituição não ocorra de forma motivada por uma das cau-
sas apresentadas acima, ele pode recorrer da decisão da assembleia ao Poder Judiciário, o qual deverá
analisar o cumprimento dos requisitos e dos procedimentos legais adequados.
Autogestão do condomínio
Nesse caso, são os condôminos que realizam a administração do condomínio, tanto na parte de
manutenção e conservação, quanto na parte financeira. O síndico eleito é um dos coproprietários que
se incumbirá de todas as atribuições referentes à gestão. Conforme se pronunciam Lorena del Carmen
Contreras e Maria Inês R. Landini Dolci (2003, p. 34):
A autogestão precisa ser bem avaliada, pois depende de um trabalho voluntário que exige apoio técnico setorial (con-
tábil, jurídico, arquivamento dos documentos legais etc.) que os próprios condôminos devem suprir. A divisão de tra-
balho precisa ser bem feita e controlada, para que não acabe centralizando numa única pessoa, o que pode levar a
autogestão ao insucesso.
Assim, o síndico deve, preferencialmente, procurar atribuir funções aos demais condôminos, de
modo que não fique sobrecarregado. A divisão de trabalho deve ser feita de acordo com a disponibi-
lidade de tempo e as especialidades de cada um. É importante que o arquivamento dos documentos
seja realizado de forma a que não se perca o histórico do condomínio, muito importante para uma série
de questões.
Como se vê, esses dois dispositivos preveem tanto a autogestão com terceirização quanto a possi-
bilidade de contratação de pessoa natural ou jurídica especializada, que assuma integralmente todas as
funções de administração. Mas esses dispositivos permitem também que o síndico transfira a outros con-
dôminos algumas das funções administrativas. Nesse caso, ele continuará sendo responsável pelos atos
praticados por quem estiver desenvolvendo a função, a menos que a convenção disponha o contrário.
Desse modo, é comum a contratação de uma empresa especializada, que se incumba de toda a
gestão condominial. Trata-se de uma pessoa jurídica que presta serviços de administração. Geralmen-
te é indicada pelo síndico e aprovada pelos condôminos em assembleia. É possível ainda, nos termos
do que previa o parágrafo 4.º do artigo 22 da Lei 4.591, que essa empresa ou seu representante sejam
eleitos como síndicos do condomínio. Nesse caso, a duração do contrato não poderá ser superior a dois
anos, devendo ser renovado a cada novo período de mandato.
A administradora, através do contrato firmado com o condomínio, está obrigada a acatar as deli-
berações tomadas e a prestar contas aos condôminos, de preferência mensalmente, sendo responsável
pelas questões burocráticas, operacionais, financeiras, jurídicas, administrativas, entre outras.
Caso a figura do síndico continue a existir em paralelo, será ele o responsável por fazer um elo
direto entre o condomínio e a administradora.
Cabe à empresa de administração contratada a responsabilidade pela seleção e contratação de
funcionários para o condomínio, devendo elaborar as devidas folhas de pagamento, atualizar as car-
teiras de trabalho e fazer o recolhimento de contribuições para o INSS, FGTS, PIS e para os sindicatos.
O pagamento de todas as despesas do condomínio também poderá ser efetuado pela empresa admi-
nistradora, a qual também realizará as cobranças das contribuições condominiais. Outra função é a de
elaborar os editais de convocação para as assembleias gerais ordinárias e extraordinárias, devendo ser
aprovados pelo síndico, se este não for a própria administradora.
Escolha da administradora
A administradora que irá gerenciar o condomínio poderá ser escolhida pelo síndico, que pode
possuir, segundo a convenção, liberdade para tanto. Porém, é mais comum que esse tema seja delibera-
do em assembleia. É importante que seja feita uma escolha cuidadosa. Para tanto, o mais recomendável
é analisar o perfil e o histórico de algumas empresas que prestam tais serviços.
Para se evitar complicações futuras, é imprescindível verificar a solidez da empresa, sua idonei-
dade e capacidade profissional. Deve-se examinar os custos, analisando se a taxa de administração
também incide sobre receitas/despesas extraordinárias, tendo em vista que alguns serviços são cober-
tos pela taxa e outros, como fotocópias e presença em assembleias condominiais, são cobrados à par-
te. Outra questão é saber qual será a taxa de remuneração das antecipações de caixa, ou seja, caso a
administradora cubra despesas do condomínio quando a receita não for suficiente, deve-se analisar
qual será a taxa de juros cobrada.
É recomendável exigir da administradora uma apólice de responsabilidade civil, eximindo o con-
domínio de responsabilidade caso algum funcionário terceirizado cause danos em serviço.
O contrato também deve ser lido, analisado e assinado tomando-se alguns cuidados. As formas
de rescisão do contrato e os custos relativos a essa opção devem ser devidamente negociados. As cláu-
sulas que deem exclusividade à administradora para a prestação de serviços devem ser evitadas, tais
como a obrigação de utilização exclusiva de seus serviços jurídicos.
É importante ter em mente que valores mais altos cobrados pelas administradoras não signifi-
cam, necessariamente, uma melhor qualidade de seus serviços. É necessário uma pesquisa ampla para
encontrar a empresa mais adequada para cada condomínio.
Conclusão
Como se vê, a administração do condomínio implica a definição de papéis e a atribuição de pode-
res a uma ou mais pessoas, sejam naturais ou jurídicas. As tarefas administrativas não são simples, mas
é necessário que alguém as exerça.
A pessoa eleita para a função de síndico deve ter sempre em conta que sua atuação se vincula
às decisões da assembleia, que é soberana. O síndico é muitas vezes um mero executor das decisões
tomadas pela maioria dos demais condôminos. Entretanto, é comum que, diante da passividade dos
demais, o síndico acabe excedendo suas atribuições legais e convencionais, deixando de prestar contas,
de convocar assembleias e de chamar novas eleições.
Dessa maneira, é necessário também que os demais condôminos exerçam seu papel de fiscaliza-
dores da gestão do edifício. A participação de todos, seja na execução, seja na fiscalização ou ainda de
outra forma, é essencial na melhoria da vida em condomínio.
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Administração de condomínio | 63
Texto complementar
“O síndico não é um delegado, não é um general. O síndico é uma pessoa, dentre os condômi-
nos, que decide, durante algum tempo, tomar a frente dos problemas e tentar resolvê-los da melhor
forma”, disse o diretor da ABAP, Cezar Thomé Júnior.
Armando tem um aliado importante nessa missão. “Olha, isso aqui, se levar para Globo, dá para
fazer novela”, brinca o síndico.
A história de um dos casais do condomínio está no livro de reclamações. Anos de economia e
a alegria da casa nova se foi com a primeira queixa de um vizinho. “A dona de casa insiste em fazer
faxina todo dia”, contou um morador.
Logo vieram outras. Até a hora do almoço incomoda. “Para amassar o alho, tem que fazer baru-
lho. Pode ser 22h, pode ser 21h. Esse barulho sempre vai existir”, contou a moradora.
Dessa vez, nem o alto astral de Armando ajudou. O bate-boca entre vizinhos foi parar na Justi-
ça. Mas que condomínio não tem conflitos?
Maria do Carmo ameniza o estresse com bom gosto na portaria. Caprichos da síndica apaixonada
por móveis antigos. Mas a mão dela logo aparece. É proibido sentar no sofá por mais de 15 minutos.
“É um conjunto fino, antigo, do século XVI. Então, não pode ficar muito tempo. Chega, a pessoa
anunciada aguarda um pouco e senta. Mas não pode fazer aqui de sala de estar”, disse a síndica.
Síndico é assim: você é quem escolhe. [...].
Atividades
1. Comente sobre a figura do subsíndico e suas funções.
2. Relacione as colunas colocando cada figura da administração condominial com sua respectiva
função:
3. É devida a remuneração ao síndico? Comente sobre a relação de emprego do síndico com o con-
domínio.
Gabarito
1. A figura do subsíndico está prevista na antiga Lei de Condomínios 4.591/64, no parágrafo sexto
do artigo 22. O Código Civil nada diz sobre sua existência, sendo, portanto, facultativa, poden-
do ser prevista em convenção. Ao subsíndico cabe a função principal de substituir o síndico nas
suas ausências, podendo assumir responsabilidades específicas ou somente auxiliar o síndico
nas suas funções. Seu mandato será o mesmo do estipulado ao síndico, qual seja, dois anos, sen-
do possível a reeleição.
2. D–B–E–A–C
Assembleia do condomínio
O Código Civil, em seu artigo 1.350, prevê a regra básica com relação à assembleia, qual seja, a
obrigatoriedade de haver, anualmente, uma reunião desse órgão, como descrito a seguir:
Art. 1.350. Convocará o síndico, anualmente, reunião da assembleia dos condôminos, na forma prevista na convenção,
a fim de aprovar o orçamento das despesas, as contribuições dos condôminos e a prestação de contas, e eventualmen-
te eleger-lhe o substituto e alterar o regimento interno.
Como se percebe, é na reunião da assembleia que os condôminos tomam as decisões mais im-
portantes a respeito do condomínio. As discussões e deliberações feitas em assembleia devem respeitar
as regras previstas na convenção do condomínio. Assim, é na convenção que está previsto todo o pro-
cedimento que regula o funcionamento da reunião.
Mas, por outro lado, é também a própria assembleia que possui competência para alteração da
convenção. Assim, se a intenção dos condôminos for aprovar uma regra diversa do que diz o texto
da convenção, isso implicará necessariamente na alteração da própria convenção. Portanto, para esse
caso, será necessário um quorum especial de alteração da convenção, o qual deverá ser de pelo menos
dois terços dos condôminos, podendo ser maior, caso assim conste da própria convenção.
Mas, além do aspecto referente à alteração da convenção, todas as demais decisões relevantes
do condomínio deverão ser tomadas em assembleia. Desse modo, se o condomínio necessita realizar
determinada obra, por exemplo, será a assembleia geral que deverá aprovar ou não. Os condôminos
serão obrigados a custear tal obra somente mediante a aprovação da assembleia.
Portanto, desde que não contrariem as leis em vigor, essas decisões tomadas em assembleia tor-
nam-se regras do condomínio, obrigando os moradores e visitantes e só podendo ser anuladas judicial-
mente ou por deliberação em outra assembleia.
Costuma-se, portanto, dizer que a assembleia é o poder legislativo do condomínio. É ela o órgão
supremo, responsável pela eleição do síndico e pela sua destituição. O síndico, por outro lado, é o po-
der executivo. Sua missão é executar as decisões assembleares. O síndico não toma decisões por conta,
salvo aquelas que digam respeito ao quotidiano do imóvel, ou seja, questões meramente administrati-
vas. Já os temas mais relevantes, que dizem respeito aos direitos, às normas de convivência, à destina-
ção dos recursos do condomínio deverão ser devidamente discutidos e votados em assembleia.
Nesse sentido, conforme o tema e as regras aplicáveis, existem dois tipos de assembleias no con-
domínio, como veremos a seguir.
É nessa oportunidade, portanto, preferencialmente que se decidirá se obras deverão ser reali-
zadas, se algum melhoramento é necessário ou conveniente, ou se há necessidade de contratação de
mais funcionários. Em função disso, também dever-se-á nessa oportunidade decidir qual será o valor
das contribuições mensais, a serem definidas através de rateio entre os moradores, geralmente em con-
formidade com a parte ideal de cada um.
Além disso, é na assembleia geral ordinária que o síndico deverá apresentar suas contas, isto
é, apresentar um relatório consolidado das receitas auferidas e das despesas ocorridas. É importante
considerar que, mensalmente, o síndico já deve haver disponibilizado balancetes contábeis indicando a
utilização dos recursos do condomínio. Ao final do exercício, contudo, é necessário que o administrador
preste contas de forma completa sobre o manuseio dos valores recebidos.
Além disso, é conveniente também que o administrador apresente um relatório, escrito ou oral,
sobre todas as ações relevantes conduzidas por ele ao longo do ano, e que esclareça todas as dúvidas
dos condôminos sobre o tema. Em seguida, o conselho fiscal, se existente, deverá proferir seu parecer,
recomendando ou não a aprovação das contas prestadas. Os membros da assembleia, com base nesse
parecer, mas não necessariamente vinculados a ele, votarão pela aprovação ou reprovação. Caso as
contas venham a ser reprovadas, por serem insuficientes ou por haver indícios de não comprovação ou
mau uso dos recursos, será possível cobrar do síndico o ressarcimento pelos danos que, em função de
sua negligência, tenham sido causados ao condomínio.
Além desses temas, é na assembleia ordinária que deverá ocorrer a eleição dos cargos previstos
pela convenção. Assim, o síndico, o subsíndico, os membros do conselho fiscal e quaisquer outros ocu-
pantes de cargos previstos na convenção deverão ser eleitos na assembleia geral ordinária do ano em
que encerram o mandato, o qual não pode ser superior a dois anos.
Além dessas matérias, próprias da assembleia geral ordinária, é possível nessa mesma reunião
discutir-se quaisquer outros temas relativos ao condomínio, desde que inscritas na ordem do dia e,
portanto, constantes da convocação dos condôminos. Assim, também é possível nessa ocasião, por
exemplo, deliberar-se pela alteração da convenção ou do regimento interno do condomínio, ou aprovar
quaisquer outras questões relevantes.
A assembleia ordinária deve ser realizada pelo menos uma vez por ano, podendo a convenção do
condomínio prever a realização de outras assembleias gerais ordinárias com periodicidade menor.
Assim, sua realização se dará toda vez que houver alguma necessidade urgente ou quando os
interesses do condomínio assim o exigirem. Como consta do referido dispositivo legal, a assembleia
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70 | Assembleia condominial
extraordinária poderá ser convocada pelo síndico, ou, caso este não o faça, por pelo menos um quarto
dos condôminos.
É importante considerar que não há nenhuma distinção quanto a procedimentos entre a assem-
bleia ordinária e a extraordinária. Via de regra, ambas seguirão as mesmas normas quanto à convocação,
formas de discussão, votação e elaboração de atas. Diferenciam-se, portanto, apenas pela obrigatorie-
dade e periodicidade da primeira, em relação à eventualidade da segunda.
Convocação da assembleia
A convocação da assembleia geral ordinária será, obrigatoriamente, realizada pelo síndico, anu-
almente, como previsto no artigo 1.350 do Código Civil, através das formas elencadas a seguir. Caso o
síndico não convoque a assembleia, prevê o parágrafo primeiro do artigo 1.350 que os condôminos
poderão realizar a convocação, desde que o respectivo documento seja subscrito por no mínimo um
quarto deles.
Se houver omissão do síndico e dos condôminos, que não conseguem obter a assinatura do
quorum mínimo para convocação, qualquer condômino poderá denunciar esse fato ao Judiciário, que
se encarregará de efetuar a convocação, conforme parágrafo segundo do mesmo artigo 1.350.
Deve-se dar especial atenção para que todos os condôminos sejam convocados. Assim, segundo
o artigo 1.354 do Código Civil, deverá haver a convocação regular e em tempo hábil de todos os condô-
minos para que não haja a nulidade da assembleia.
Art. 1.354. A assembleia não poderá deliberar se todos os condôminos não forem convocados para a reunião.
Assim, basta que um condômino demonstre que não foi devidamente convocado na forma
prevista pela convenção para que todas as decisões eventualmente tomadas pela assembleia sejam
consideradas nulas. Se não houver a convocação regular de algum condômino, a assembleia até poderá
ser realizada, mas o condômino que não foi convocado poderá invalidar, através de recurso judicial, as
decisões tomadas.
O prazo hábil para convocação deverá estar previsto na convenção condominial. Esta deverá
prever um prazo razoável, sob pena de inviabilizar a participação dos condôminos na assembleia.
Formas de convocação
Um aspecto importante com relação à convocação é o que se refere à sua forma. É preciso confe-
rir-se especial atenção para esse tema, pois, como mencionado acima, apenas a convocação de todos os
condôminos garante as deliberações tomadas em assembleia contra a alegação de vícios de nulidade.
A convocação deverá ser feita de maneira escrita, por meio de edital, que deverá conter, no mí-
nimo, a data, o local e a hora em que a assembleia será realizada, devendo ser afixado em local visível,
por onde é certo que haja trânsito de todos os condôminos, como elevadores ou escadas. A convocação
também deverá ser feita através do envio de correspondência protocolada a cada condômino. Nas duas
formas, o edital convocatório deverá conter, além das informações indicadas, a pauta dos assuntos a
serem discutidos na assembleia.
Quorum e deliberações
O quorum é o número legal mínimo de pessoas necessário para que determinado ato jurídico
tenha validade. Os quoruns podem ser de dois tipos:
::: quorum de instalação – é aquele necessário para que uma assembleia passe a ter validade
jurídica. A reunião que não contar com um número mínimo de participantes pode eventual-
mente ser declarada inválida;
::: quorum de deliberação – é aquele exigido para aprovação das matérias deliberadas em as-
sembleia.
O Código Civil, no capítulo relativo aos condomínios edilícios, não prevê quoruns de instalação, mas
apenas quoruns de deliberação. Assim, não é necessário um número mínimo de participantes na assem-
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72 | Assembleia condominial
bleia. Entretanto, é preciso que exista aquele número considerado necessário para as aprovações, já que
o Código Civil exige, em alguns casos, a unanimidade dos condôminos para aprovação de alguns temas.
Eis alguns dos principais quoruns previstos na lei:
::: assembleias gerais ordinárias – normalmente maioria simples dos presentes com direito a
voto, salvo estipulação diversa em convenção;
::: aprovação da convenção – votos dos proprietários que representem, no mínimo, dois terços
das frações ideais que compõem o condomínio;
::: alteração da convenção – votos de condôminos que representem no mínimo dois terços do
total das frações ideais, salvo a estipulação diversa em convenção.
Todos esses quoruns devem ser extraídos da lei. A convenção poderá estabelecer quoruns mais
elevados que os previstos na lei. Não poderá, entretanto, reduzir os quoruns, já que essa previsão afas-
taria garantias previstas pela lei aos condôminos.
Para presidir a assembleia deverá ser eleito um presidente e um secretário. Por uma questão de
separação de atribuições, geralmente a convenção determina que o presidente da assembleia não seja
o síndico. Isso porque a assembleia é competente para cobrar as responsabilidades do síndico, analisar
suas ações e julgar suas contas. Não é conveniente, nesse sentido, que o síndico esteja conduzindo a
sessão, o que, em tese, poderia prejudicar aquelas atribuições da assembleia.
No que se refere ainda ao quorum, não é permitido que a assembleia permaneça aberta indefi-
nidamente, visando à obtenção de quorum, na intenção de se deliberar sobre determinado assunto. A
assembleia poderá permanecer aberta para outras finalidades, como é o caso, por exemplo, quando as
discussões se estendem demais em determinado dia, justificando sua continuidade no dia seguinte.
Mas não é permitido mantê-la aberta para a obtenção de quorum, já que isso caracterizaria manipula-
ção da intenção dos condôminos.
condômino receba um número elevado de procurações. Afinal, nessa hipótese, a discussão dos temas
da reunião, com a manifestação de diferentes opiniões, certamente ficaria restringida. O Código Civil,
no entanto, não estabelece nenhuma limitação ao número de pessoas que um procurador poderá re-
presentar. Entretanto, em 2002 foi apresentado o Projeto de Lei 6.960/2002, que procurava justamente
limitar o recebimento de outorgas por um mesmo procurador, de forma que este não pudesse repre-
sentar mais de três condôminos. De todo o modo, é possível, e também salutar, que a convenção preve-
ja expressamente esse limite, o qual a lei não oferece.
Com relação à outorga de procuração ao síndico, os membros do conselho fiscal e aos empre-
gados do condomínio, para que votem em nome dos condôminos ausentes, não existe uma proibição
legal nesse sentido. Entretanto, é medida aconselhável proibir, através da convenção, a outorga de po-
deres a tais pessoas, visto que potencialmente as decisões da assembleia podem afetá-las, não sendo
adequado que representem os interesses dos demais.
Atas
As discussões e deliberações efetuadas em assembleia devem ser registradas em ata de reunião.
Esse registro é importante para garantir o cumprimento das decisões tomadas, bem como para permitir
um acompanhamento das discussões travadas pelo condomínio ao longo dos anos.
A ata deve refletir com precisão o que foi deliberado, sem nenhum acréscimo ou negligência. To-
dos os itens discutidos devem ser especificados, bem como o que foi decidido sobre cada um. Algumas
atas procuram reproduzir minuciosamente toda a discussão travada durante a reunião. Isso, no entanto,
não é necessário, e tende apenas a tornar o documento extenso e confuso.
É preferível que o documento seja conciso, indicando apenas os pontos essenciais. O registro dos
assuntos tratados e das decisões tomadas sobre eles, além dos protestos dos condôminos contrários
à decisão tomada, são suficientes. Assim, não é necessário alongar-se na discussão travada sobre cada
assunto, nem registrar todos os comentários realizados.
Não deve haver rasuras na ata. Em casos de erro, estes devem ser corrigidos usando-se a expres-
são “em tempo”.
A ata deverá ser registrada no livro de atas do condomínio, devidamente assinada pelo síndico,
presidente, secretário e presentes. Adicionalmente, ela pode ser registrada em cartório de títulos e do-
cumentos, o que lhe confere publicidade e facilita a sua utilização como prova em juízo. Existem ainda
outras vantagens decorrentes do registro da ata, tal como a proteção contra o extravio de livros de atas
em condomínios, devido ao grande número de eleições e outras deliberações. Dessa forma, o registro
passaria também a ser uma medida preventiva adicional.
Esse procedimento é, sobretudo, recomendável no caso das decisões sobre os temas mais re-
levantes do condomínio, tais como a eleição do síndico, a decisão sobre despesas extraordinárias de
grande vulto ou a alteração da convenção.
Após a assembleia, uma cópia da ata deve ser enviada para cada condômino, inclusive aos ausen-
tes na reunião. É importante que os condôminos recebam as informações sobre as decisões, principal-
mente no que se refere ao rateio das despesas do condomínio. Afinal, todos, inclusive aqueles que não
participaram ou aqueles que se opuseram, deverão seguir o que foi deliberado.
A ata também deverá ser mantida em arquivo por pelo menos cinco anos, em poder do síndico,
juntamente com a documentação restante do condomínio. Da mesma forma, como qualquer docu-
mentação, a ata deve estar disponível a qualquer condômino, sempre que este a solicitar ao síndico.
Após o recebimento, o condômino poderá impugnar a ata da assembleia, diretamente ao síndi-
co ou por meio de ação judicial, desde que o seu teor não seja fiel ao que foi discutido ou que algum
ato praticado por ocasião da convocação até a lavratura da ata tenha ocorrido de maneira irregular,
acarretando vícios que resultam na decretação de nulidade de seu conteúdo. Nessa hipótese, deve o
condômino prejudicado demonstrar o vício e pedir judicialmente a anulação da reunião, o que forçará,
caso deferido o pedido, a realização de nova convocação e nova reunião.
Conclusão
A reunião da assembleia em um condomínio é talvez o momento mais importante da comunhão
formada pelos coproprietários. É ali que todos os condôminos poderão exercer seu direito de contribuir
para a decisão da comunidade.
Na Grécia Antiga, berço da democracia, as decisões não eram tomadas por representantes do
povo, eleitos por este, mas decorriam da participação da totalidade dos cidadãos. Todos aqueles que,
então, eram considerados membros da polis, tinham o direito, e até mesmo o dever, de participar das
decisões sociais.
Essa mesma ideia, se não prevalece nos Estados nacionais, por ser atualmente inexequível, ainda
se mantém em instâncias menores, como é o caso do condomínio. Neste, prevalece a ideia de democra-
cia participativa, distinta da democracia representativa, vigente no âmbito estatal.
É importante que os condôminos tenham em mente a importância de participar desse momento
central do condomínio. Do contrário, estarão fatalmente vinculados a decisões de que não participa-
ram, arcando com suas consequências e seus custos.
Textos complementares
A seguir dois modelos, um de carta de convocação para assembleia pelo síndico e um de ata de
assembleia geral de um condomínio. Esses modelos configuram apenas situações específicas de con-
vocação e de decisão em assembleia. É possível elaborar tanto a convocação, quanto a ata de diversas
outras maneiras, e estruturá-las de formas distintas. De todo o modo, servem como bons exemplos, tan-
to dos acertos, quanto dos erros, comuns na elaboração de tais documentos. Extraídos do site <www.
jurisway.com.br>.
___________________________ ___________________________
Flávio da Silva José Santos
___________________________ ___________________________
Pedro Soares Maria Cordeiro
___________________________ ___________________________
João Oliveira Nilson Silveira
Atividades
1. Com base nos conceitos examinados durante a aula, aponte algum aspecto da ata encaminhada
como texto complementar que não está de acordo com as melhores práticas de condução de
assembleia e redação de ata.
2. Comente a regra básica trazida pelo Código Civil, em seu artigo 1.350, com relação à assembleia
condominial.
3. Existe um prazo hábil, especificado em lei, para que o síndico promova a convocação da assem-
bleia? Comente.
Gabarito
1. Podem ser citados, entre outros possíveis, a condução da reunião pelo próprio síndico; ou ainda,
a decisão de todas as questões por unanimidade, o que tende a denotar a ausência de efetiva
discussão e conhecimento pelos participantes.
2. De acordo com o artigo 1.350 do Código Civil, o síndico é obrigado a convocar anualmente a
reunião da assembleia condominial ordinária, com o intuito de, entre outros assuntos, aprovar o
orçamento das despesas, as contribuições dos condôminos, devendo ainda realizar a prestação
de contas e, se for o caso, eleger novo síndico e alterar o regimento interno. Sendo assim, o arti-
go 1.350 prevê as matérias que deverão ser discutidas especificamente na assembleia ordinária.
Outras matérias podem ser inclusas na ordem do dia da assembleia, desde que previstas na or-
dem do dia.
3. Não existe prazo preestabelecido em lei para que o síndico proceda à convocação da assembleia
condominial. O prazo hábil para convocação deve estar previsto na convenção, a qual deverá pre-
ver um prazo razoável para que os condomínios possam se programar, sob pena de inviabilizar a
participação dos condôminos na assembleia.
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Despesas do condomínio
Introdução
A comunhão formada através da conjugação de unidades exclusivas e partes comuns é essen-
cialmente de cunho patrimonial. Ali, não se conjugam desejos, esperanças, pensamentos ou ideologias.
A união dos condôminos não resulta de nenhuma afetividade especial, mas tão somente do fato de
compartilharem um mesmo patrimônio.
Como todo bem patrimonial, o imóvel objeto do condomínio edilício requer investimentos finan-
ceiros, visando a sua conservação ou seu aprimoramento. Para tanto, é necessário que todos os condô-
minos contribuam com aportes para que tais objetivos possam ser alcançados.
Apesar dessa obviedade, é possível afirmar que o tema das despesas condominiais é um dos que
mais gera polêmica na convivência condominial, fato que, por si só, também demonstra sua importân-
cia na vida em condomínios. Por esse motivo, tal matéria foi tratada, em linhas gerais, no Código Civil
de 2002, a iniciar pelo artigo 1.336, inciso I, que obriga o condômino a contribuir para as despesas do
condomínio na proporção das suas frações ideais. A lei permite, por outro lado, que a convenção con-
dominial preveja outra forma de rateio para as despesas do condomínio.
Com relação à forma de arrecadação dos valores necessários, esta é determinada por meio da
assembleia, tendo em vista os custos apurados ou previstos para o exercício seguinte. Para tanto, todo
ano as despesas e receitas devem ser demonstradas por meio de um balanço contábil, apresentado
pelo síndico, analisado pelo conselho fiscal, se existente, e aprovado em assembleia. É a análise das con-
tas do ano anterior, e da situação financeira do condomínio, que contribuirá para a definição do valor
das despesas no ano seguinte, permitindo a fixação da quota condominial de cada um.
É esse dever do condômino que abordaremos nesta aula, de forma mais precisa.
Assim como a questão dos elevadores, outro questionamento que muitas vezes é motivo de dúvidas
dos condôminos é quanto aos vazamentos de água. De quem é a obrigação de pagar por tais gastos?
Nesses casos, é preciso analisar com cuidado a origem do vazamento. Impõe-se, por isso, recorrer
a um profissional capacitado, o qual poderá analisar o local em que o vazamento ocorre. A partir dessa
conclusão, duas alternativas são possíveis: a primeira é se o vazamento ocorre na rede horizontal, ser-
vindo somente a uma unidade, ou a um grupo de unidades de um mesmo piso. Nesse caso, geralmente
o proprietário, ou os proprietários dessas unidades, deverão arcar com os custos.
Por outro lado, se o problema é na rede vertical, ou seja, aquela que serve a todos os andares, é
dever do condomínio como um todo pagar a despesa com o conserto e efetuar o rateio na contribuição
mensal de cada condômino. Aqui também, eventual previsão expressa dispondo de outra forma, cons-
tante da convenção, afasta esse entendimento geral.
É importante considerar, de todo o modo, que todos os valores cobrados dos condôminos sem-
pre deverão corresponder a uma contraprestação, ou seja, a contribuição será devida em razão de um
serviço ou benfeitoria, já ocorrido ou a ocorrer futuramente, no patrimônio comum do condômino.
Verificada a regra geral quanto aos pagamentos pelas despesas, é importante diferenciar as espé-
cies de dispêndios, o que será efetuado no item seguinte.
Espécies de despesas
Despesas ordinárias
As despesas ordinárias são também denominadas despesas de custeio. São aquelas relativas à
manutenção do condomínio. Assim, estão relacionadas aos gastos de rotina para permitir a continuida-
de dos benefícios e serviços comuns do mesmo. São despesas administrativas, visando manter o bom
estado das coisas comuns, com condições mínimas de segurança e moradia.
Alguns exemplos de despesas ordinárias são os salários dos funcionários, os gastos com água, luz,
limpeza, conservação e manutenção das áreas comuns, dos elevadores e pequenos reparos necessários
no condomínio.
Outro item que constitui despesa ordinária são os seguros do condomínio, seja o obrigatório
da edificação, previsto nos artigos 1.346 e 1.348, IX, do Código Civil, sejam os demais seguros eventu-
almente contratados. O seguro obrigatório deverá abranger toda a edificação, tanto as áreas comuns
como as partes autônomas, e visa garantir eventual sinistro que cause incêndio ou destruição do todo
ou parte da edificação.
Outros seguros eventualmente realizados pelo condomínio também integram as despesas ordi-
nárias. Assim será o caso do seguro de responsabilidade civil pelos atos praticados por funcionários ou
pelos acidentes ocorridos internamente ao condomínio.
De acordo com o artigo 1.350 do Código Civil, essas despesas devem ser aprovadas anualmente
na assembleia geral ordinária, a qual deverá votar o orçamento do exercício seguinte, prevendo uma
relação de todas as despesas de custeio necessárias. A partir daí, define-se o valor das contribuições de
cada condômino, em relação à sua fração ideal ou por outro critério.
Entretanto, apesar de o orçamento buscar prever o montante de dispêndios com as despesas
ordinárias, uma série de fatores pode acarretar a necessidade de ajustes ao longo do ano: elevação de
preços de produtos ou serviços, elevação de salários, inadimplência de alguns dos condôminos, entre
outras situações. Assim, caso existam alterações nessa previsão orçamentária, com aumento das des-
pesas, gerando consequente necessidade de aumento da taxa condominial ou ainda, ajustes quanto
às destinações de cada verba, tais assuntos deverão ser submetidos à assembleia extraordinária, a qual
deverá ser devidamente convocada, prevendo, em sua pauta, o debate sobre modificações no orça-
mento anual.
Despesas extraordinárias
As despesas extraordinárias não se referem a gastos correntes ou cotidianos do condomínio. Tais
dispêndios relacionam-se geralmente com inovações ou benfeitorias a serem realizadas no condomí-
nio. Mas também dizem respeito a qualquer tipo de despesa não relacionada ao custeio da estrutura
de manutenção do condomínio. Assim, os gastos relativos às indenizações de funcionários ou outras
indenizações decorrentes de acidentes pelos quais o condomínio como um todo venha a ser responsa-
bilizado integram o conjunto de despesas extraordinárias.
O Código Civil, no seu artigo 96, define as espécies de benfeitorias. A partir destas, uma série
de consequências podem ser extraídas, as quais serão analisadas no item seguinte. De todo o modo,
pode-se concluir que as despesas extraordinárias que digam respeito a inovações ou melhoramentos
no imóvel estão todas inclusas nas espécies de benfeitorias previstas pela lei: benfeitorias necessárias,
úteis ou voluptuárias.
Assim, tais despesas extraordinárias são aquelas referentes a obras que interessam a estrutura
integral da edificação ou a aparência interna e externa das áreas comuns, bem como as necessárias para
repor as condições de habitabilidade do edifício.
Para diferenciar adequadamente as despesas extraordinárias das ordinárias, tome-se o exemplo
de um hall de entrada de um edifício. Todas aquelas obras que visem modificar sua forma, ampliando-o,
modernizando-o ou tornando-o mais bonito, são classificados como despesas extraordinárias. Por ou-
tro lado, quando ocorre apenas a troca de uma luminária ou a pintura da sua parede, a despesa será
apenas ordinária.
A seguir, um quadro com a distinção e exemplos de despesas ordinárias e extraordinárias:
Caso um condômino realize essas obras ou reparos necessários, ele deverá ser reembolsado pelo
condomínio das despesas que efetuar. Assim, ele deverá juntar todos os comprovantes dos dispên-
dios que teve e, na assembleia geral seguinte, demonstrar a necessidade daquelas obras. Verificando
a assembleia que elas eram realmente necessárias e não significavam gastos excessivos, o condomínio
deverá ressarcir o condômino que enfrentou tais despesas.
Por outro lado, caso a despesa extraordinária decorrente da obra a ser realizada implique em des-
pesas excessivas, o Código Civil prevê duas hipóteses: se esta obra for urgente ou se não for urgente.
Se a obra ou reparo necessário demandar uma solução imediata (por exemplo, um vazamento
da piscina na cobertura, que implica em goteiras em algumas unidades), o síndico, ou o condômino
que entender necessária a reforma poderá determinar a realização da obra, mas deverá convocar ime-
diatamente uma assembleia. Esta deverá tomar ciência da situação e definir as eventuais contribuições
emergenciais dos condôminos ou a utilização do fundo de reserva para financiar a obra.
Aqui, é preciso lembrar que o síndico possui poderes para convocar a assembleia a qualquer
tempo. Já o condômino, que porventura tenha detectado o problema e determinado a realização da
obra, não tem competência para, por si só, convocar a assembleia. Ele precisará solicitar a convocação
ao síndico, ou então coletar assinaturas de pelo menos um quarto dos condôminos, de forma a chamar,
por sua conta, a assembleia.
Caso ele, por omissão do síndico ou dos demais condôminos, não tenha êxito em convocar a
assembleia, ele estará garantido quanto ao ressarcimento, desde que comprove que a obra era real-
mente urgente e necessária e que ele envidou todos os esforços para que a assembleia fosse convoca-
da, apenas não logrando êxito em virtude da omissão do síndico ou dos demais condôminos.
Por sua vez, se as obras ou reparos necessários, que importarem em despesas excessivas, não
forem urgentes, estas somente poderão ser efetuadas após a autorização da assembleia, especialmente
convocada para esse fim. Caso o síndico ou um condômino ordenem a obra e depois se verifique que
esta, embora necessária, não era urgente, a assembleia poderá não referendar essa despesa e, por con-
sequência, atribuir a totalidade ou parte dos custos exclusivamente a quem solicitou a benfeitoria.
Nota-se, portanto, que o Código Civil prevê minuciosamente as regras para a realização das ben-
feitorias necessárias, baseando-se nos critérios de urgência e custo. Mas além das obras necessárias,
existem também as obras úteis e as voluptuárias.
São benfeitorias úteis aquelas que aumentam, melhoram ou facilitam o uso do condomínio. Por
exemplo, ampliação da área de entrada e saída de veículos ou a instalação de luz de presença nas gara-
gens. Para a realização das obras úteis, deverá haver sempre prévia autorização da assembleia geral, por
maioria simples, conforme inciso II, do artigo 1.341 do Código Civil.
No que diz respeito às obras voluptuárias, de acordo com o inciso I do mesmo artigo, estas exi-
girão maioria qualificada de dois terços dos condôminos para serem efetuadas. Por obras voluptuárias
entendem-se aquelas que, por mais que tornem o condomínio mais agradável, não aumentam a sua
utilidade habitual, sendo de mero deleite ou recreio, ou seja, para embelezar as áreas comuns ou torná-
-las mais adequadas ao gosto dos coproprietários.
Como exemplo dessas benfeitorias podemos citar a troca de fechaduras nos banheiros, desde
que esta não ocorra pela inutilização das fechaduras antigas. Caso a troca resulte do fato de a fechadu-
ra estar quebrada, trata-se, evidentemente, de uma benfeitoria necessária. Mas quando a substituição
ocorre apenas visando aprimorar a beleza dos banheiros comuns, a benfeitoria é voluptuária.
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Despesas do condomínio | 87
Como se vê, o fato de uma obra ser útil ao condomínio implica um quorum de aprovação mais
reduzido. O fato de ela ser meramente voluptuária, por outro lado, exige um quorum mais elevado, já
que as despesas com tais benfeitorias não agregarão nenhuma utilidade às áreas comuns, mas apenas
proporcionarão maior conforto e beleza.
Importante é ressaltar que as obras úteis e voluptuárias muitas vezes se confundem, não havendo
sempre concordância se uma benfeitoria é de uma ou de outra modalidade. Caso a assembleia não che-
gue a um consenso, deverá ocorrer uma votação prévia para definição do tipo de benfeitoria em que a
obra se enquadra. Definido esse ponto preliminar, poderá ser votada a realização da obra, segundo o
quorum previsto em lei ou na convenção para aquele tipo de benfeitoria.
Dependendo da categoria do prédio, também é certo que haverá diferenças no enquadramento.
Por exemplo, taças de cristal para o salão de festas podem ser consideradas úteis em um condomínio de
luxo, mas certamente serão consideradas apenas voluptuárias em um condomínio popular.
Caso um condômino realize obras úteis ou voluptuárias sem prévia aprovação da assembleia, ele
não terá direito à restituição, mesmo que estas sejam de interesse comum. Entretanto, poderá a assem-
bleia, por sua própria liberalidade, optar por ressarci-lo.
Por outro lado, a lei define, no artigo 22, quais seriam as despesas extraordinárias do condomínio:
Parágrafo único. Por despesas extraordinárias de condomínio se entendem aquelas que não se refiram aos gastos roti-
neiros de manutenção do edifício, especialmente:
a) obras de reformas ou acréscimos que interessem à estrutura integral do imóvel;
b) pintura das fachadas, empenas, poços de aeração e iluminação, bem como das esquadrias externas;
c) obras destinadas a repor as condições de habitabilidade do edifício;
d) indenizações trabalhistas e previdenciárias pela dispensa de empregados, ocorridas em data anterior ao início da locação;
e) instalação de equipamento de segurança e de incêndio, de telefonia, de intercomunicação, de esporte e de lazer;
f ) despesas de decoração e paisagismo nas partes de uso comum;
Além disso, a lei determina ao inquilino o pagamento de alguns outros custos, além das despesas
ordinárias, como também consta do artigo 23:
Art. 23. O locatário é obrigado a:
VIII - pagar as despesas de telefone e de consumo de força, luz e gás, água e esgoto;
Assim, é obrigação do locatário, por determinação legal, pagar as despesas de uso do imóvel,
como água, luz e telefone. Por outro lado, a obrigação pelo pagamento do IPTU e outras taxas e impostos
só poderão ser cobradas do locatário se o contrato firmado entre ambos assim determinar. Do contrário,
tais despesas cabem ao locador. É o que consta previsto no artigo 22, também da Lei de Locações:
Art. 22. O locador é obrigado a:
VIII – pagar os impostos e taxas, e ainda o prêmio de seguro complementar contra fogo, que incidam ou venham a
incidir sobre o imóvel, salvo disposição expressa em contrário no contrato;
IX – exibir ao locatário, quando solicitado, os comprovantes relativos às parcelas que estejam sendo exigidas;
X – pagar as despesas extraordinárias de condomínio.
Como se vê, a lei de locações procura atribuir ao proprietário aqueles dispêndios que se relacio-
nam às necessidades de conservação em longo prazo de sua propriedade. Já ao locatário, confere a
responsabilidade por despesas relacionadas diretamente com o custeio da estrutura que ele, naquele
momento, está a usufruir. Por isso, a lei também cuida que o inquilino não seja responsável por gastos
decorrentes de despesas anteriores ao início da locação. É o que se nota ao se analisar as alíneas “h” e “ï”
do parágrafo primeiro do artigo 23, expostas acima.
É importante salientar ainda que, pela lei do inquilinato, o locatário tem direito a voto nas deci-
sões da assembleia que envolvam despesas ordinárias do condomínio, quando o condômino-locador
não estiver presente ou representado.
Espécies de receitas
Até o momento, no decorrer desta aula, verificamos a situação das despesas do condomínio e a
responsabilidade por elas, entre os condôminos e entre o locador e o locatário. Cabe agora verificar de
que forma são organizadas as receitas decorrentes das contribuições condominiais, recolhidas justa-
mente com o intuito de fazer frente às despesas condominiais.
Rateio extra
Ocorre quando anteriormente tiver sido feito o pagamento por previsão, mas as despesas tiverem
excedido o valor originalmente previsto. Assim, o rateio extra diz respeito a um pagamento adicional
para cobrir uma receita insuficiente ou um gasto imprevisto em um determinado período. Serve tanto
para cobrir despesas ordinárias quanto extraordinárias, mas é necessário verificar a origem do rateio
extra no demonstrativo para, então, dirigir a cobrança ao inquilino ou ao proprietário.
Fundo de reserva
O fundo de reserva geralmente consta da contribuição condominial regular, visando assim for-
mar um montante que deverá servir para a hipótese de um dispêndio futuro, urgente ou imprevisto.
Caso, excepcionalmente, venha a ser utilizado para cobrir despesas ordinárias, o inquilino deverá repor
o valor. Sua forma de arrecadação é regulada pela convenção, que definirá um percentual ou um valor
fixo que mensalmente deverá ser recolhido para esse fundo.
Conclusão
A questão das despesas condominiais é certamente uma das maiores fontes de conflitos no con-
domínio. Diversas são as origens das discussões que podem ocorrer entre condôminos ou entre estes
e o síndico.
É comum que um condômino alegue não possuir qualquer relação com determinada despesa,
seja por não se haver concorrido para o fato que a exigiu, seja por não se estar de acordo com a decisão
da maioria que a implicará. É comum também que aos condôminos pareça elevado o valor de suas quo-
tas condominiais, o que, não raro, levanta dúvidas sobre a atuação do síndico no que se refere à gestão
dos recursos financeiros.
A observância das regras previstas na lei e na convenção, pelo síndico e pelos condôminos, quan-
to à forma de deliberação e realização das despesas, certamente tende a diminuir a ocorrência dos
conflitos. Do mesmo modo, uma prestação de contas clara e minuciosa auxilia na segurança de que os
recursos estão sendo gastos de forma adequada. Por essa mesma razão, a existência de um conselho fis-
cal, que analise todas as contas, também é bastante recomendável, visando controlar o uso dos recursos
e evitar contestações por parte dos condôminos.
Todas essas medidas contribuem para que os problemas do condomínio possam ser mantidos no
âmbito interno e não extravasem para discussões judiciais. É sempre oportuno lembrar a dificuldade de
se conviver com pessoas que estão processando umas às outras. A manutenção de padrões de civilida-
de, motivadas pelo controle e transparência das despesas, certamente auxilia para que isso não ocorra.
Texto complementar
As finanças de um condomínio
Como se determina as receitas e despesas do seu prédio
O condomínio é mantido pela quotização das despesas entre os condôminos e não conta com
uma renda mensal ou anual, para efeitos fiscais, não sendo considerado uma pessoa jurídica, inclu-
sive dispensado da declaração de Imposto de Renda. No entanto, pode inscrever-se no Cadastro
Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ).
As quotas condominiais são determinadas pelo orçamento anual, aprovado na assembleia ge-
ral ordinária no início de cada exercício fiscal. Nesse orçamento são fixadas as despesas ordinárias
previstas e também, em alguns casos, o valor de um fundo de reserva para despesas imprevistas,
normalmente no valor entre 5% a 10% da quota mensal.
As despesas ordinárias podem ultrapassar a previsão orçamentária, por imprevistos ou por au-
mentos dos valores nas contas do custeio. Quando isso acontece, deve-se realizar uma assembleia
extraordinária para reajustar o orçamento estipulado ou, também em assembleia, estabelecer uma
quota extra para fazer frente a essa despesa excedente. Pode ser usado também o fundo de reserva,
se estiver estipulada essa finalidade quando da sua criação. Em caso contrário, a assembleia pode
determinar seu uso, desde que seja reposto posteriormente por cotas específicas.
As despesas extraordinárias são aprovadas em assembleia caso a caso. Não é correto um valor
mensal sem destinação especificada, inclusive quando é estipulado uma cota para obras.
A parte financeira de um condomínio deve ser bem clara, disposta em lançamentos contábeis
explicados e arrumados por tipos de despesa e de receita, em balancetes mensais. É necessário
conhecimento técnico para tal, ficando, normalmente, a cargo de uma administradora ou um pro-
fissional contratado.
O síndico, o subsíndico, os conselheiros e os condôminos precisam entender os balancetes e,
no caso de eventuais erros de lançamento ou incorreções no uso dos recursos, saber identificá-los
e resolvê-los.
Na contabilidade de um condomínio existem certos termos cuja compreensão se torna es-
sencial para que se possa fazer o controle adequado. Alguns deles são: contas ordinárias, contas
extraordinárias, fundo de reserva, despesas (ordinárias, extraordinárias ou de fundo de reserva),
quota de contribuição, multa por atraso de pagamento, previsão orçamentária, balancete mensal e
arquivamento dos documentos.
Atividades
1. Assinale as alternativas como verdadeiras (V) ou falsas (F):
(( Independentemente da categoria que o edifício possui, a necessidade de investimentos
com conservação e aprimoramento é imprescindível.
(( A lei prevê a obrigação do condômino em contribuir para as despesas do condomínio na
proporção de sua fração ideal, salvo previsão em contrário da convenção.
(( A forma de arrecadação dos valores devidos para a conservação e manutenção é estipula-
da pelo Código Civil de 2002.
(( É obrigação do síndico demonstrar, anualmente, as despesas e receitas do condomínio, por
meio de balanço contábil.
(( A definição do valor das despesas e fixação da quota condominial para cada ano no condo-
mínio é estipulada em lei.
Gabarito
1. V–V–F–V–F
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Relações condominiais,
contratos e novas
modalidades imobiliárias
Introdução
A estrutura legal do condomínio edilício é uma realidade bastante sedimentada, tanto no Brasil
como em outros países. Essa estrutura contribui consideravelmente para o desenvolvimento urbano,
estimulando novas formas de uso dos espaços.
Recentemente, seguindo esse mesmo desenvolvimento, tem surgido uma série de novas mani-
festações e modalidades de aproveitamentos do espaço, as quais, em alguns casos, aproveitam-se dos
subsídios da disciplina legal sobre os condomínios para o seu desenvolvimento. É o caso, entre outros,
dos shoppings, dos condomínios em time-sharing, da disciplina prevista para alguns cemitérios e clubes
de campo. Analisaremos todas essas novas formas de uso da propriedade, ainda que de maneira breve,
ao longo desta aula.
Mas a disciplina jurídica do condomínio também implica alguns desdobramentos nas questões
relativas aos contratos tradicionais de compra e venda e locação. Para que seja possível entender ade-
quadamente como estes se relacionam com o condomínio edilício, realizaremos uma breve incursão
teórica na seara da teoria do direito civil, relativa à separação entre direitos reais e direitos pessoais, bem
como, também, analisaremos a importante função de redução dos custos de transação que o condo-
mínio impõe.
Assim, embora o objeto desta aula seja de cunho mais teórico, procuraremos dar-lhe, na medida
do possível, uma feição prática que facilite a compreensão.
priedade, o Direito procura justamente propiciar uma forma automática de se definir, e de fazer todos
respeitarem, o direito exclusivo a uma pessoa de usar determinado espaço territorial.
Em sua devida proporção, o conceito de condomínio edilício faz o mesmo, mas dentro do âmbito
do condomínio, ou seja, perante um número limitado de pessoas – aquelas que são coproprietárias do
imóvel como um todo. Assim, o condomínio edilício permite um desenvolvimento muito grande do uso
da propriedade.
Esse desenvolvimento leva a uma série de outras formas que analisaremos mais adiante nesta
mesma aula, e que são consequências do desenvolvimento das noções jurídicas de propriedade e de
condomínio, de forma a dar garantias para as pessoas, relativamente ao uso dos bens que possuem.
Antes disso, porém, é necessário analisarmos a distinção que o Direito realiza quanto aos direitos
pessoais e aos direitos reais para, dessa maneira, compreendermos o exato significado das possibilida-
des que são propiciadas a partir da figura do condomínio edilício.
Entretanto, esses dois compartimentos de direitos não são estanques entre si. Isso, entre outras
razões, porque os direitos reais podem ser transferidos de uma pessoa a outra, e, nesses casos, a sua
transferência pode ocorrer mediante um contrato. Assim, o chamado contrato de compra e venda nada
mais é que uma obrigação, ou seja, um direito pessoal fixado entre dois indivíduos, através da qual um
deles paga o valor ajustado e o outro transfere o direito real de propriedade que possui. Dessa maneira,
o comprador passará a titularizar o direito de propriedade, oponível a todos, no lugar do vendedor.
Essa distinção entre direitos reais e pessoais, que aqui apenas podemos mostrar de forma superfi-
cial, sem nos aprofundarmos no seu conteúdo, permite entender a importância da figura da proprieda-
de e, consequentemente, do condomínio edilício, enquanto um desdobramento da propriedade.
Caso essa figura não existisse, apenas seria possível regular o uso privado de determinadas áreas
do condomínio através do uso de direitos pessoais, ou seja, basicamente através de contratos. É isso
que ocorre, aliás, com relação a uma série de questões na vida condominial: o caso de cessão a outros
condôminos das garagens, a definição dos direitos e deveres na convenção, entre outros.
Entretanto, constituindo a unidade autônoma um direito de propriedade único a ser exercido
pelo proprietário, este pode utilizá-la de forma muito mais adequada. Pode vendê-la, locá-la, doá-la, en-
fim, pode realizar uma série de atos que apenas ocorreriam de forma muito mais complexa e difícil caso
se tratasse apenas de uma relação de direito pessoal. Por exemplo, para vender sua unidade autônoma
a um terceiro, isso ocorreria de forma muito mais complicada, porque seria necessária a autorização de
todos os demais coproprietários, os quais, afinal, seriam proprietários do todo, sem maiores distinções.
Com base nessas questões, analisemos agora os dois contratos principais de transferência de
propriedade ou de posse que regem a vida das pessoas em um condomínio edilício.
Contrato de locação
O contrato de locação, por sua vez, não significa a transferência do direito de propriedade, mas
apenas a cessão de uma das faculdades da propriedade, qual seja, o seu uso. Durante o tempo em que
viger o aluguel, o locatário tem direito a utilizar o bem que locou, devendo, entretanto, conservá-lo, já
que a propriedade permanece sendo de outra pessoa.
Tendo em vista que a locação, diferentemente da compra e venda, não significa qualquer trans-
ferência de um direito real, mas apenas a transmissão de um direito pessoal, não há necessidade de
qualquer registro no Cartório de Registro de Imóveis. Entretanto, caso as partes assim convencionem, o
contrato de locação poderá eventualmente vir a ser averbado à margem da matrícula em um Registro
de Imóveis.
O locatário tem direitos bem definidos na lei relativa ao condomínio. Em relação às despesas, ele
será responsável pelas despesas ordinárias, ou seja, aquelas despesas gerais de custeio do condomínio.
Com relação ao pagamento de impostos, taxas e seguros, essas somente deverão ser pagas por ele, caso
assim conste no contrato de locação.
Já no que se refere à possibilidade de o locatário votar em assembleia, esta ocorrerá apenas quan-
to às despesas ordinárias, justamente tendo em vista que ele é o responsável por elas. Mas isso apenas
deverá ocorrer caso o proprietário da unidade autônoma não se faça presente na reunião. No que se re-
fere a quaisquer outros temas a serem discutidos na assembleia, tais como eleição do síndico, alteração
da convenção ou do regimento interno, prestação de contas ou realização de despesas extraordinárias,
o locatário não possuirá qualquer direito de voto, embora se entenda que ele poderá participar e, even-
tualmente, exercer seu direito de voz.
Multipropriedade – time-sharing
O sistema de uso temporário da propriedade, o time-sharing, permite um uso bastante eficaz de
um determinado bem por uma pluralidade de pessoas. Por meio dele, o indivíduo adquire a proprie-
dade de uma unidade, em conjunto com outros proprietários, passando a ser dono do imóvel por uma
fração de tempo, na qual ele poderá usar e gozar do imóvel de forma exclusiva. Essa modalidade, geral-
mente, está vinculada a unidades imobiliárias a serem utilizadas para férias e lazer.
De acordo com Ana Vládia Araújo Lima (2007, s. p.):
A maior aspiração humana é dispor de um local estável onde possa residir permanentemente. Tão logo satisfeita essa
aspiração, surge outra, a de ter uma segunda moradia onde a família possa desfrutar seus momentos de folga, seja na
serra, montanha ou praia. A solução encontrada para quem não pode dispor dessa segunda morada foi o compartilha-
mento da propriedade, que chega para acelerar a conquista da função social do imóvel, com o intuito de proporcionar
a satisfação de vários proprietários de uma mesma base material, em variados turnos de tempo.
Pelo time-sharing, todos os multiproprietários são considerados condôminos de uma mesma uni-
dade autônoma, fixando-se em instrumento específico os períodos temporais em que cada condômino
terá direito a usar do bem.
Não existe regra específica que regule o time-sharing, e mesmo o Código Civil de 2002 não trouxe
qualquer inovação com relação a esse assunto. Desse modo, o regulamento proveniente dessa mo-
dalidade de uso da propriedade se dará através da adaptação das regras de condomínio tradicional e
edilício vigentes no direito brasileiro.
Para a realização do registro da propriedade, o que geralmente ocorre é que a matrícula seja
realizada em nome de uma pessoa centralizadora de contratos, que costuma ser uma empresa espe-
cializada, a qual irá vender as quotas-partes e, assim, organizar a utilização periódica dos diversos pro-
prietários. A relação dos multiproprietários será diretamente com esse organizador. Entretanto, pode-se
ainda fazer constar da escritura do imóvel a aquisição deste por vários titulares, os quais, então, definem
entre si os períodos que cabem a cada qual durante o ano.
Nesse sentido, Ana Vládia Araújo Lima afirma (2007, s. p.):
Um condomínio que girará sobre o sistema de multipropriedade deverá observar os requisitos legais de constituição
de qualquer condomínio, e acrescer uma cláusula no instrumento de constituição, referente à finalidade ou destinação
das unidades autônomas, que seriam para o uso de todos os multiproprietários, cada um ao seu tempo.
É importante salientar que, em diversos outros países, existem legislações específicas sobre a
multipropriedade. Em tais casos, geralmente, a lei prevê que cada proprietário terá um título específico,
ou seja, será dono exclusivo de uma unidade autônoma em um período específico de tempo. Assim,
os proprietários terão uma matrícula específica de sua propriedade, separada por unidade temporal
das demais matrículas. Eles serão donos exclusivos de uma unidade em determinado período do ano e
condôminos em relação às partes comuns do edifício.
No Brasil, considerando a inexistência dessa previsão legal, os adquirentes são coproprietários
da unidade autônoma, dividindo através de convenção o período de tempo em que cada um poderá
utilizar o imóvel.
Assim, segundo Gustavo Teppedino (1993, p. 45), não existe a constituição de unidades autôno-
mas, devendo-se invocar as normas típicas do condomínio ordinário. A relação de tempo fica exposta
em regulamento. Todos os multiproprietários de uma mesma unidade compartilham a propriedade
sobre ela. Com relação ao prédio como um todo, existe um condomínio edilício, com o aproveitamento
de todas as partes comuns por todos os multiproprietários de cada uma das unidades.
Condomínio deitado
Com a expansão urbana, os loteamentos fechados passaram a ser figuras comuns, como bem
especifica Silvio de Salvo Venosa (2007, p. 356): “bairros urbanizados, em periferia de grandes centros,
para fins residenciais, ou em regiões mais afastadas para finalidades de lazer.”
A denominação de condomínio fechado ocorre porque as ruas, praças e áreas de lazer pertencem
ao domínio privado, sendo autorreguláveis por convenções e assembleias do condomínio. Nesse caso,
aplicam-se a essas áreas comuns, bem como aos terrenos privados de cada proprietário, as regras do
condomínio edilício, sem que com isso haja prejuízo das regras gerais de vizinhança.
O artigo 8.° da Lei 4.591/64 admite expressamente essa modalidade de condomínio, a qual sem-
pre ocorrerá quando o terreno total for propriedade comum dos condôminos.
Entretanto, existem algumas situações que se distinguem dos chamados condomínios fechados
ou deitados. Isso ocorre quando, apesar de fechadas, as ruas e praças são vias públicas, as quais, por
concessão ou permissão da prefeitura, foram cercadas para melhor uso pelos moradores. Nesse caso,
não existem áreas comuns dos condôminos, mas sim áreas públicas, as quais se sujeitam à lei de par-
celamento do solo urbano (Lei 6.766/79). Segundo Silvio de Salvo Venosa (2007, p. 356), pode haver
também um regime híbrido, não totalmente formulado pela lei, em que existem áreas públicas, áreas
privadas comuns e áreas particulares, tudo formando uma unidade. Evidentemente, as regras do con-
domínio edilício aplicam-se apenas às áreas privadas, exclusivas e comuns, e não às áreas públicas.
gens, entre outros). Nesse caso, o contrato normativo do shopping funcionará como convenção con-
dominial. Porém, com maior frequência, o administrador ou empreendedor mantém a propriedade de
todo o imóvel, dando as lojas em locação ou a outro título aos lojistas.
Uma outra nova forma de compartilhamento da propriedade são os clubes de campo. Carlos Ma-
luf e Márcio Marques (2005, p. 146) ensinam que neles, quando se alienam imóveis residenciais em seu
interior, também se estabelece um condomínio, a exemplo dos loteamentos fechados. A ideia ao se or-
ganizar um clube desse teor é que cada membro seja proprietário de um lote e possua em condomínio
áreas comuns, desfrutando de serviços complementares. Forma-se, então, um complexo condominial
em que as noções da fração ideal de terreno, dos direitos de vizinhança, dos regulamentos internos e
convenções aplicam-se inteiramente.
Um último fenômeno moderno a ser citado é a existência de cemitérios privados. Para Venosa
(2007, p. 361), os contratos concessivos do uso de sepulcros poderão possuir natureza real, isto é, con-
figurar autêntico direito de propriedade, apenas se assim for considerado pela lei. Não é o que ocorre,
ainda, no Brasil, onde a relação entre o administrador e titular do terreno do cemitério e o adquirente
de espaço para sepultura é apenas de locação ou comodato. Mesmo assim, aplicam-se, quando preciso,
alguns conceitos de direito condominial a essa relação.
Conclusão
O desenvolvimento das formas e das figuras jurídicas é em grande parte responsável pela trans-
formação social, através do surgimento de novos modos de relacionamentos interpessoais e novas for-
mas de uso do espaço. Como se pôde verificar ao longo desta aula, o desenvolvimento dos usos da
propriedade chega a tal ponto de se introduzir o elemento temporal em uma questão eminentemente
espacial, que é a definição quanto ao direito de propriedade de um imóvel. É o que ocorre no chamado
time-sharing.
Assim, na mesma medida em que a tecnologia modifica todas as relações sociais, provocando al-
terações em períodos cada vez menores, também o direito precisa correr atrás dessa evolução, e captar,
a cada momento, os novos fenômenos sociais.
Quando surgiram os primeiros prédios, permitidos pelo desenvolvimento das técnicas de cons-
trução, o direito se viu na necessidade de, em algum momento, propiciar as garantias necessárias rela-
tivas aos direito de propriedade, ou a outros direitos, como os decorrentes da locação, sobre cada uma
daquelas unidades autônomas.
Atualmente, existem uma série de novos fenômenos que também já demandam desenvolvimen-
tos jurídicos, de forma a permitir maior garantia para as pessoas que deles se utilizam.
Por essa razão, o uso adequado de todos os instrumentos jurídicos, mesmo por parte daqueles
que não possuam formação em direito, é essencial: somente dessa forma é possível dimensionar-se,
adequadamente, as decorrências de todas as opções que podem ser feitas por um comprador, por um
inquilino, pelo incorporador, pelo síndico, entre tantos outros papéis que todas as pessoas exercem no
seu dia a dia.
Texto complementar
Este texto visa ilustrar, de forma mais ampla, os contornos dos chamados loteamentos fechados
e suas distinções e semelhanças em relação à figura legal do condomínio edilício. Sugerimos também
que o aluno busque as fontes legais, citadas a seguir, de modo a compreender a temática de maneira
mais aprofundada.
Loteamentos fechados
(MARINI, 2007)
[...]
Outras obrigações ainda surgem pela própria circunstância de ser um loteamento fechado, tais
como a manutenção de portaria, serviços de vigilância e segurança, rede telefônica de comunicação
interna etc.
Esses serviços comuns aos proprietários dos lotes custam dinheiro e necessitam ser adminis-
trados e, consequentemente, regulamentados.
É nesse ponto – no regulamento da vida comunitária do uso das vias e espaços livres – que o
loteamento fechado se assemelha ao condomínio, ensejando a expressão adotada nas leis munici-
pais “administração das áreas comuns sob regime de condomínio”.
O regulamento do uso dessas vias e espaços livres assemelha-se, portanto, e muitíssimo, à
convenção de condomínio prevista no artigo 9.º da Lei 4.591, de 16/12/1964.
O regulamento da vida comunitária do loteamento fechado é, assim, fundamental para a exis-
tência desse tipo de loteamennto.
Principal diferença entre o condomínio especial previsto na Lei 4.591/64 e o loteamento fechado
O diferencial entre os dois tipos de empreendimentos é que o primeiro se caracteriza pela
necessidade de vinculação da venda da propriedade à construção, ainda que futura. Não se pode
afirmar a existência de condomínio especial desprovido de construção. Há ainda de se levar em con-
sideração que, no condomínio especial, a construção, diferentemente do disposto no Código Civil
Brasileiro, é o objeto principal da venda, sendo a fração ideal do terreno, objeto acessório.
No segundo, a venda da propriedade tem por objeto única e exclusivamente o terreno, não
havendo qualquer vinculação de construção a propriedade adquirida.
O terreno é objeto central da venda, sendo qualquer construção nele realizada mero acessório.
[...]
Atividades
1. Marque a soma das alternativas corretas:
(01) As novas modalidades de aproveitamento de espaço têm legislação própria, possuindo,
inclusive, seção própria no Código Civil de 2002.
(02) O chamado time-sharing é uma nova modalidade de uso da propriedade.
(04) O condomínio tradicional se difere do condomínio edilício por ser juridicamente denomi-
nado como condomínio pro diviso, tendo em vista sua possibilidade de divisão.
(08) Os direitos pessoais resultam, entre outras fontes, de acordos realizados entre pessoas.
(16) Uma das funções do contrato de compra e venda é a cessão temporária da faculdade de
uso da propriedade.
( ) Soma
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Relações condominiais, contratos e modalidades imobiliárias | 105
Gabarito
1. 10
2. O contrato de compra e venda possui a função de transferir o direito real de propriedade de uma
pessoa a outra. No caso do condomínio edilício, ele transfere não apenas a propriedade sobre a
unidade, como também sobre as frações ideais do solo e das partes comuns. Para que ocorra
a transferência, imprescindível se faz o registro do imóvel em competente Cartório de Registro de
Imóveis. O registro só ocorrerá mediante escritura pública de compra e venda.
Entretanto, somente o elemento vontade não será suficiente para a constituição do condomínio.
Há necessidade, também, de uma edificação e de um registro no assento apropriado.
O Código Civil, em seu artigo 1.332, tratou de estabelecer como será constituído o condomínio
edilício:
Art. 1.332. Institui-se o condomínio edilício por ato entre vivos ou testamento, registrado no Cartório de Registro de
Imóveis, devendo constar daquele ato, além do disposto em lei especial:
I - a discriminação e individualização das unidades de propriedade exclusiva, estremadas uma das outras e das partes
comuns;
II - a determinação da fração ideal atribuída a cada unidade, relativamente ao terreno e partes comuns;
III - o fim a que as unidades se destinam.
Pelo que indica esse dispositivo, não há somente uma causa geradora isolada para a instituição
do condomínio. Esta tanto pode ocorrer por ato entre vivos quanto por testamento. Seja qual for sua
forma de constituição, a lei deixa claro que a propriedade horizontal deverá ser obrigatoriamente regis-
trada no Cartório de Registro de Imóveis, constando ali a individualização e discriminação das unidades
autônomas, a fração ideal de cada unidade e das partes comuns, bem como a finalidade das unidades.
Uma vez devidamente instituído, diversos são os objetivos a que o condomínio edilício se pro-
põe, significando ele sempre a reunião de habitações, salas ou lojas, formando uma unidade estrutural
(edifício) sujeita a um único regulamento jurídico, para atendimento de necessidades e fins comuns,
segundo a lição de João Batista Lopes (2006, p. 62).
Por esse motivo é que o caráter da propriedade horizontal é de indivisibilidade e perpetuidade.
Apenas mantendo-se indivisível (no que se refere às partes comuns) e não possuindo um termo, ou seja,
uma data de encerramento, é que ele poderá satisfazer tais finalidades.
Apesar disso, em alguns casos, poderá ocorrer a extinção do condomínio edilício. Afinal, a ca-
racterística de perpetuidade não se refere à impossibilidade de ele perecer, mas sim ao fato de que a
propriedade horizontal não possuirá prazo definido para se encerrar. Nesse caso, o Código Civil de 2002,
em seção própria, tratou de algumas possibilidades que acarretarão a extinção da propriedade horizon-
tal e o tratamento dispensado a cada uma delas.
Assim, nos próximos itens serão analisadas com detalhes as questões da instituição e da consti-
tuição do condomínio edilício, bem como de sua extinção.
Outras formas podem também existir: um imóvel pode já ser objeto de condomínio tradicional
entre vários proprietários, os quais, em determinado momento, optam pela delimitação de unidades
autônomas e partes comuns, formando, dessa maneira, um condomínio edilício.
Ainda, o prédio pode ser objeto de construção direta pelos futuros proprietários, que então já
providenciarão também a divisão, ou então pode ser objeto de construção pelo Poder Público, o qual,
em seguida, efetiva a transferência das unidades autônomas e frações ideais aos novos proprietários. É
o que ocorre no caso das construções de moradias para pessoas de baixa renda.
Trataremos, a seguir, de forma mais pormenorizada, das duas possibilidades mais comuns de
constituição: a incorporação e a destinação do proprietário do edifício.
Incorporação
Pode-se dizer que a incorporação é a modalidade mais frequente de instituição do condomínio
edilício. É através desse procedimento que a maioria dos prédios urbanos é construída.
Segundo explicações de Carlos Alberto Dabus Maluf e Márcio Antero Motta Ramos Marques
(2005, p. 22):
[...] a incorporação imobiliária é considerada pela lei uma atividade, mas, tecnicamente, é o negócio jurídico de cons-
tituição da propriedade horizontal. Embora, às vezes, o compromisso seja assumido, em relação a alguns, quando o
prédio já está em construção, normalmente os apartamentos ou conjuntos são vendidos na planta.
De nossa parte, entendemos que ambas as posições estão corretas. Assim, a incorporação é a
atividade exercida por uma pessoa, física ou jurídica, denominado incorporador, que pode ou não ser
empresário, com o objetivo de promover e realizar a construção da edificação ou do conjunto de edi-
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110 | Constituição e extinção do condomínio
ficações compostas de unidades autônomas, visando a sua alienação, ou seja, transferência de titula-
ridade, total ou parcial. Por outro lado, a incorporação é também o negócio jurídico através do qual o
incorporador realiza todos os procedimentos necessários para que seja ali formado um condomínio
edilício, mediante separação de propriedades e manutenção de áreas comuns.
Assim, é através da incorporação que alguém constrói um edifício com diversas unidades autôno-
mas e as vende, antecipadamente ou após a conclusão da obra. Gera-se, dessa forma, o capital necessá-
rio para esse ou para futuros empreendimentos.
De acordo com Caio Mário da Silva Pereira (1991, p. 110), a incorporação possui algumas varian-
tes. A primeira é aquela em que o incorporador faz a compra do terreno e a construção do edifício em
seu próprio nome, repartindo-o em apartamentos e vendendo as unidades aos condôminos poste-
riormente. A segunda é aquela em que a compra do terreno será realizada pelos próprios condôminos
que se tornam, em comum, donos do solo. O incorporador é contratado e faz o papel de coordenador
do projeto, agindo como elemento de ligação entre os condôminos entre si e estes e o construtor. Já a
terceira variante consiste no fato de o incorporador realizar a promessa de compra do terreno, lançando
assim a constituição do condomínio mediante subscrição pública ou particular e promovendo a escritu-
ra de alienação do terreno diretamente dos proprietários aos condôminos. O incorporador, assim, dirige
a construção da edificação como procurador destes, de forma que o subscritor estará construindo sua
própria unidade autônoma, bem como as partes comuns do edifício, através do incorporador, o qual
age como mandatário.
Em todos esses casos, o que ocorre, na verdade, é a celebração de um contrato para que o incor-
porador constitua o condomínio, do ponto de vista jurídico e do ponto de vista físico, mediante a con-
tratação de construtora ou execução direta. Assim, a incorporação é a operação jurídica promovida por
indivíduo devidamente capacitado e habilitado para promover a construção do que será, no futuro, o
condomínio edilício, devendo entregar a unidade autônoma a que se obrigou, mediante possibilidade
de pagamento antecipado de outro contratante.
Testamento
O testamento é outra forma de instituição do condomínio. Por meio dele, a propriedade horizon-
tal será instituída pela pessoa que falece e deixa indicada a divisão da herança. Assim, pode constar do
testamento de determinada pessoa um prédio, a ser transferido aos herdeiros, com a condição de que
seja dividido em unidades autônomas, sendo concedido a cada co-herdeiro uma fração ideal desse
edifício, de forma a constituir-se, assim, um condomínio edilício.
Tendo em vista esta instituição do condomínio pela via testamentária, Mário Pazutti Mezzari (1996,
p. 50) afirma: “É lícito dispor, em testamento, sobre a instituição de regime de propriedade horizontal.
Esta hipótese tem como pressuposto que a vontade manifestada se faça acompanhar da especificação
do condomínio.”
Mas, a rigor, existem ainda outras formas pelas quais pode-se instituir a propriedade horizontal
através de bens deixados em herança. Carlos Alberto Dabus Maluf e Márcio Antero Motta Ramos Mar-
ques (2005, p. 24) explicam: “O condomínio pode ser instituído por vários herdeiros, após a homologa-
ção da partilha, se o bem, objeto da herança, for um edifício.”
Pelos ensinamentos de Caio Mário da Silva Pereira (1991, p. 109), com a homologação da partilha,
nada impede que os vários herdeiros que recebem o edifício no espólio, e por sua vontade, constituam
o condomínio sob regime de propriedade horizontal, em vez de realizarem-no em moldes tradicionais
de condomínio por quotas ideais, sobre a totalidade do bem herdado.
Em tais casos, porém, não se trataria efetivamente de um ato de última vontade do proprietário
anterior, mas sim de um ato entre vivos, realizado pelos herdeiros que, dessa forma, decidem dar nova
destinação ao imóvel.
Assim, para que o condomínio edilício apresente sua configuração específica de divisão das uni-
dades autônomas, deve-se realizar a matrícula das unidades imobiliárias autônomas, para que gerem
os efeitos de individualização e discriminação das unidades concluídas, o que somente será possível
mediante o ato de averbação da construção, o que se dará após a concessão do habite-se pela munici-
palidade, como deflui do artigo 44, da Lei 4.591/64:
Art. 44. Após a concessão do “habite-se” pela autoridade administrativa, o incorporador deverá requerer a averbação
da construção das edificações, para efeito de individualização e discriminação das unidades, respondendo perante os
adquirentes pelas perdas e danos que resultem da demora no cumprimento dessa obrigação.
Assim, após a conclusão da construção, com a respectiva averbação no devido Cartório de Re-
gistros de Imóveis, não poderá a fração autônoma sofrer qualquer espécie de modificação, senão pelo
consentimento do proprietário de cada unidade.
Nos casos em que a obra é realizada por etapas, somente poderão integrar o condomínio edilício
as unidades imobiliárias já concluídas e com o habite-se devidamente emitido. Na construção por eta-
pas, de acordo com a norma do artigo 44 da Lei 4.591/64, o condomínio será instalado apenas quanto às
unidades produzidas na primeira etapa. As demais unidades imobiliárias projetadas somente serão in-
corporadas ao condomínio depois de concluídas e devidamente individualizadas e discriminadas, com
a respectiva averbação da construção e obtenção do habite-se.
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112 | Constituição e extinção do condomínio
Portanto, não há maiores dúvidas quanto ao fato de que o elemento subjetivo, representado pela
vontade dos indivíduos de constituir um condomínio edilício, deve vir sempre seguido do elemento
objetivo, que é a existência de uma edificação. Vale ressaltar que, para o mesmo autor (1991, p. 112), não
há necessidade de que a edificação seja urbana. Embora seja a situação mais comum, nada impede a in-
corporação de edifícios que não estejam concentrados nos centros urbanos. Um exemplo disso são as
incorporações realizadas nas praias, o que é muito comum em todo o litoral brasileiro.
Entretanto, como mencionado acima, entendemos haver outro requisito imprescindível para a
constituição do condomínio. Independentemente da modalidade pela qual será realizada a constitui-
ção do edifício (ou seja, por ato entre vivos ou por testamento), faz-se obrigatória a sua inscrição no Car-
tório de Registro de Imóveis. Com relação a esse aspecto, será a Lei 6.015/73, a chamada Lei de Registros
Públicos, a qual irá reger a inscrição do condomínio perante o cartório.
Extinção do condomínio
O condomínio edilício costuma ser constituído por prazo indeterminado, sem prazo para extin-
ção, salvo decisão da unanimidade dos condôminos, tendo em vista o seu caráter de perpetuidade.
Mas o condomínio está sujeito a fatalidades que podem ocorrer independentemente da vontade
dos condôminos e proprietários.
De acordo com os ensinamentos de Caio Mário da Silva Pereira (1991, p. 211):
Ligada a existência jurídica da propriedade coletiva sobre o solo e partes comuns do prédio à subsistência da proprie-
dade particular e individual sobre os apartamentos, constitui um condomínio indivisível. [...] Não obstante esta indivisi-
bilidade essencial, o condomínio pode cessar, por vários motivos ou por diferentes causas jurídicas, com a extinção do
regime de propriedade horizontal.
Por essa razão, o Código Civil tratou de elencar, em seu artigo 1.357, algumas hipóteses de extin-
ção, que são:
Nota-se, portanto, que nesses casos de ruína, o quorum foi reduzido, de dois terços das frações
ideais para metade mais um destas. Essa redução facilita a deliberação, tendo em vista que, diante da
situação precária do imóvel, é preciso uma decisão urgente, que poderá ser pela venda ou pela recons-
trução, mas, em qualquer caso, por maioria de votos.
Desapropriação
Outra forma de extinção do condomínio é pela desapropriação do imóvel, como prevê o arti-
go 1.358. A desapropriação é o procedimento administrativo ou judicial através do qual a autoridade
pública toma para si a propriedade de um particular, mediante avaliação e pagamento de uma justa
indenização. A desapropriação de imóveis urbanos, geralmente, ocorre em função da necessidade de
reestruturação de ruas, bairros, ou em caso de obras que inviabilizem a existência dos imóveis naqueles
locais.
De acordo com o estabelecido na Constituição Federal, a desapropriação deve se basear na ocor-
rência de necessidade ou utilidade pública, ou no interesse social no bem a ser desapropriado, além do
pagamento de indenização correspondente.
Havendo a desapropriação, o valor da indenização recebida será repartido entre os condôminos,
também proporcionalmente ao valor de cada unidade autônoma. A desapropriação é dever do Estado
e somente ele possui o poder de restringir o direito de propriedade. Tendo em vista essa restrição, não
pode apenas o síndico ser citado em nome dos demais condôminos no processo de desapropriação. Ao
contrário, a citação ou intimação deverá ser dirigida a cada condômino, na condição de proprietário de
determinada unidade autônoma.
Conclusão
O condomínio edilício configura uma situação da vida cotidiana que, como outras, possui seu
nascimento e seu perecimento bem definidos. Assim, cabe à legislação definir também com precisão as
consequências e os direitos de cada pessoa nesses momentos de criação e extinção.
A constituição do condomínio possui relevância especial por relacionar o tema relativo ao condo-
mínio com a discussão quanto à incorporação. Essas duas matérias, cada uma objeto de questões bas-
tante específicas, possuem seu ponto de interseção justamente através da constituição do condomínio
edilício. É importante ter sempre em mente, entretanto, que a incorporação é apenas uma das formas de
constituição, entre outras possíveis. De todo o modo, considerando, sobretudo, os vultosos investimen-
tos que se exigem para a construção de prédios e edificações capazes de suportar a existência de condo-
mínios edilícios, a incorporação ganha preeminência sobre todas as demais formas de criação.
Por outro lado, é imperioso também conhecer com exatidão as consequências resultantes de
cada uma das formas de extinção do condomínio, bem como os custos que devem ser atribuídos a cada
um dos condôminos em tais casos.
Assim, a análise da constituição e da extinção dos condomínios representa o estudo quanto à
temporalidade dessa forma de propriedade, o que não pode ser desconsiderado ao se examinar essas
figuras.
Texto complementar
Iniciando o condomínio
O condomínio começa a ser moldado já durante a construção. Conheça os passos principais de todo o
processo de instalação do condomínio
Atividades
1. O que significa dizer que o condomínio será constituído por atos entre vivos?
Gabarito
1. A denominação ato entre vivos significa a prática de atos jurídicos decorrentes de manifestações
de vontade entre pessoas vivas. Existem várias espécies de atos entre vivos que ensejam a consti-
tuição do condomínio, tais como a doação, a destinação do proprietário do imóvel, a constituição
de sociedade e a incorporação.
2. F–V–V–F–F
3. As possibilidades de extinção do condomínio são aquelas previstas no Código Civil, em seus ar-
tigos 1.357 e 1.358, quais sejam: destruição total ou parcial do imóvel, situação de ameaça de
ruína e desapropriação. Além dessas, relacionam-se ainda a confusão e o acordo entre todos os
condôminos.
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O incorporador
e a incorporação imobiliária
Introdução
O objetivo desta aula é analisar a figura jurídica do incorporador. O incorporador é o personagem
central das incorporações imobiliárias. É através da incorporação que a maioria dos condomínios edilí-
cios é constituída.
Devido ao grande crescimento e proliferação de edifícios nas grandes cidades, desenvolveu-se,
muito antes da Lei 4.591/64, que dispõe sobre o condomínio em edificações e as incorporações imo-
biliárias, a atuação do incorporador, tão comum nos negócios de condomínios coletivos. Essa figura
corresponde àquele que, como negócio habitual ou eventual, constrói edifícios e forma condomínios,
visando auferir lucros sobre a venda de unidades autônomas. A partir da vigência da lei de condomínios
e incorporações imobiliárias, pode-se definir a incorporação como sendo uma atividade exercida com a
finalidade de promover e realizar determinada construção, com a alienação total ou parcial de edifica-
ções ou conjunto de edificações que possuem unidades autônomas.
Para Pontes de Miranda (1956, p. 207), a incorporação corresponde ao período pré-comunial, em
que se praticam os atos necessários ao estabelecimento da comunhão pro diviso, nos edifícios de apar-
tamentos. Para o autor, a incorporação é caracterizada pela finalidade do negócio jurídico e não pela
composição subjetiva dele. Em outras palavras, o que interessa para definir uma atividade como incor-
poração é antes o seu objeto – a obrigação de construir e entregar unidades autônomas em um edifício
– do que os participantes do contrato, os quais podem ser diversos personagens.
Assim, o incorporador poderá ser, por exemplo, o dono do terreno em que será constituída a edi-
ficação; um titular de direito de opção; um mandatário; um simples especulador; ou ainda, o comprador
do terreno. Além disso, o incorporador pode angariar o capital por conta própria, mediante pagamen-
tos antecipados dos compradores ou então por meio de empréstimos com agentes financeiros. Todas
essas possibilidades serão devidamente analisadas adiante.
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120 | O incorporador e a incorporação imobiliária
Contudo, até o advento da Lei 4.591/64, a figura do incorporador, embora existente, não havia sido
devidamente regulamentada. Mesmo assim, o incorporador já se configurava como ator imprescindível
no que se refere ao exercício da atividade que consiste em promover a formação de um condomínio
edilício. Após o surgimento daquele diploma legal, a definição mais adequada das funções e deveres
do incorporador propiciou maior proteção aos adquirentes das unidades autônomas. São justamente
esses os motivos da preocupação dos autores da Lei de Incorporações, como veremos adiante.
A figura do incorporador
De acordo com os ensinamentos de Pontes de Miranda (1956, p. 209), o incorporador pode ser:
::: o dono do terreno em que se vai edificar, caso em que de sua propriedade procederão todos os
títulos de propriedade dos apartamentos (partes divisas) e das partes indivisas, inclusive o seu
próprio, se adquirir apartamento;
::: condômino do terreno em que se vai edificar, sendo ele eventualmente um dos futuros pro-
prietários de unidades autônomas, ou simplesmente um dos proprietários anteriores, que em
seguida vende sua fração ideal do imóvel;
::: titular de direito de opção ou outro investido de poderes por parte do dono ou donos do terreno
a ser edificado, atuando como intermediário entre estes e os adquirentes dos apartamentos;
::: simples especulador, que procure auferir recursos investindo na operação de incorporar imó-
veis e sendo remunerado com parte da venda das futuras propriedades.
Segundo Caio Mário da Silva Pereira (1991, p. 233), o incorporador pode ter ainda outras carac-
terísticas: pode ser um corretor, que efetua a aproximação do dono do terreno com os compradores;
pode ser ainda um mandatário, operando em nome do proprietário junto aos compradores; um gestor
de negócios, gerindo todos os contratados e defendendo os interesses de seus clientes; um industrial de
construção civil, realizando a construção e venda de unidades. Além disso, pode ser eventualmente um
banqueiro-financiador, investindo e coordenando projetos que lhe trarão retornos financeiros.
De acordo ainda com os ensinamentos de Caio Mário da Silva Pereira (1991, p. 231): “[...] O in-
corporador existiu antes de o direito cogitar dele. E viveu a bem dizer na rua e no alto dos edifícios em
construção, antes de sentar-se no gabinete dos juristas ou no salão dos julgadores.”
Já Rodrigo Azevedo Toscana de Brito (2002, p.179) afirma: “[...] Ocorre que essa atividade, por ser
nova, não encontrava qualquer tipo de regulamentação, e o resultado dessa falta de balizamento da
atividade foi a observância de vários abusos por parte de empreendedores inescrupulosos [...]”.
O incorporador é, na verdade, um pouco de tudo, mas é necessário destacar que sua atividade
cessa com a constituição da propriedade horizontal, mesmo que o incorporador tenha reservado para si
um ou mais apartamentos no edifício. Nesse caso, ele passará a ser mero condômino, sem atribuições es-
pecíficas, já que seu papel se esgotou no momento em que o condomínio foi devidamente constituído.
A Lei 4.591/64, em seus artigos 29 e 30, tentou estabelecer uma definição para o incorporador,
dispondo que este somente poderá ser:
::: a pessoa física ou jurídica que, embora não efetue a construção, compromisse ou efetive a
venda das unidades autônomas, em edificações a serem construídas;
::: os proprietários ou titulares de direitos aquisitivos que contratem a construção de edifícios
que se destinem à constituição de condomínio.
Dessa forma, o incorporador poderá tanto ser uma pessoa física, que se dedique à tarefa de coor-
denar a construção de prédios e a entrega de unidades autônomas, como uma pessoa jurídica, que rea-
lize a mesma atividade. Evidentemente, tendo em conta o vulto desses empreendimentos, geralmente
a atividade será exercida por pessoa jurídica, a qual conte com a devida estrutura para tanto.
É possível que o incorporador realize diretamente a construção, mas pode ser que ele encarre-
gue-se simplesmente da cessão ou venda das unidades autônomas, contratando um terceiro para a
construção do prédio.
Além disso, é possível que a figura do incorporador esteja confundida na própria figura dos pro-
prietários ou compradores, que resolvem levar adiante a construção do prédio, desde que estes tam-
bém optem por vender algumas das unidades, e não simplesmente mantê-las para si.
Enfim, verifica-se que o papel exato não está previamente definido ou delimitado pela lei. Rele-
vante, para a sua caracterização, será o objeto do que realiza, qual seja, a venda de unidades em prédio
construído.
Atuação do incorporador
Como vimos, para que a incorporação imobiliária seja realizada, imprescindível se faz a atuação
de uma pessoa, física ou jurídica, promovendo a organização da atividade de construção, coordenando
e canalizando diversos fatores para a conclusão dessa finalidade.
Essa pessoa, responsável, entre outras coisas, pela organização da atividade de toda construção
imobiliária, é o incorporador. Várias são suas funções, atribuições e formas de atuação.
Rodrigo Azevedo Toscana de Brito (2002, p. 173) destaca:
O incorporador deve promover a construção da edificação com o intuito de vendê-la e auferir, com isso, lucro; e, se as-
sim o pretende, necessário se faz dividir a edificação em unidades autônomas que, como visto, estão necessariamente
vinculadas às partes comuns da edificação.
Assim, a atividade do incorporador, de acordo com a Lei 4.591/64, caracteriza-se pela intenção de,
no decorrer da obra, ou até mesmo antes, na fase de lançamento do empreendimento, alienar frações
ideais do terreno vinculadas a unidades a serem construídas.
Dessa forma, está entre os pressupostos para a caracterização do incorporador o seu intuito de
auferir lucro, captando recursos dos promissários ou cessionários compradores mediante venda ou pro-
messa de alienação. A partir de então, o incorporador irá operar com recursos de terceiros, e irá aplicá-
-los na construção de unidades imobiliárias que serão entregues no futuro.
Também a esse respeito, Rodrigo Azevedo Toscana de Brito (2002, p. 176) ensina:
[...] o incorporador, isoladamente, como núcleo de sua atividade, vale dizer, como seu objetivo principal, compromete-
-se com os candidatos a proprietários das unidades autônomas a promover a construção e a transferir a propriedade
de cada uma delas a seus respectivos adquirentes no momento próprio. É o que se chama de negócio jurídico incorpo-
rativo ou contrato de incorporação imobiliária [...]
Responsabilidades do incorporador
Diversas são as responsabilidades do incorporador no seu relacionamento com todos aqueles
que participam da incorporação imobiliária.
A responsabilidade do incorporador pela entrega das obras concluídas, em prazo, preço e con-
dições determinadas surge com a celebração do respectivo contrato e só termina com o cumprimento
integral dele: de um lado, a entrega do imóvel acabado; de outro, o pagamento integral do preço.
Desse modo, existe a responsabilidade do incorporador em concluir a edificação. Em não ha-
vendo a conclusão nos prazos e condições ajustadas, o incorporador responderá civilmente perante o
comprador, devendo indenizar os adquirentes ou compromissários dos prejuízos que estes tiverem.
Entre outras responsabilidades do incorporador, podem-se ainda destacar as seguintes obrigações:
::: discriminar, em contrato, o preço da quota de terreno e/ou da construção quando a contrata-
ção compreender quota de terreno e construção;
::: informar aos adquirentes, no mínimo de seis em seis meses, o estado da obra;
::: indenizar os adquirentes pelo atraso das obras;
::: manter o projeto aprovado, salvo autorização dos interessados ou exigência legal;
::: manter as condições de pagamento, salvo se tiver sido ajustada a faculdade de reajustamento;
::: requerer a concessão do habite-se, após o que deverá requerer a averbação da construção, no
Cartório de Registro de Imóveis, para efeito de individualização e discriminação das unidades;
::: mencionar, em todos os documentos de alienação, eventuais ônus reais ou fiscais que gravem
o imóvel ou a existência de ações contra os alienantes que possam comprometer o negócio e
informar se o imóvel encontra-se ocupado e quais as condições de desocupação.
lei específica, o chamado Código de Defesa do Consumidor, instituído pela Lei 8.078, de 11 de setembro
de 1990.
O Código de Defesa do Consumidor institui regras de proteção aplicáveis nos casos em que se
verificar inferioridade negocial do consumidor em relação ao fornecedor, gerando potencial prejuízo ao
consumidor. Nesse sentido, nas chamadas relações de consumo, isto é, quando uma pessoa adquire um
bem ou serviço para ser o seu destinatário final, entende-se, de antemão, ser o consumidor a parte mais
vulnerável, merecendo, portanto, proteção específica.
Note-se, no entanto, que a chamada relação de consumo somente se efetiva quando a aquisição
do bem ou do serviço ocorre pelo destinatário final desse produto. Em outras palavras, o bem que é
comprado por uma empresa para integrar o seu processo produtivo, ou então o serviço que é contrata-
do visando auxiliar no processo de produção ou desenvolvimento de outro serviço, não se enquadram
nas normas de proteção ao consumidor. Por outro lado, no caso de uma pessoa jurídica adquirir um
produto ou serviço que não se integre no seu processo produtivo mas que, ao contrário, caracterize
uma aquisição como destinatário final, essa empresa também será tida, para todos os efeitos, como
consumidora desses bens ou serviços.
Assim, o Código de Defesa do Consumidor aplica-se também às relações de incorporações imo-
biliárias, na medida em que o adquirente compra a unidade como seu destinatário final. Nesses casos, a
lei prevê uma proteção especial a ele, já que, relativamente ao incorporador, o adquirente é visto como
a parte mais fraca a ser protegida. A rigor, a própria Lei 4.591/64 já buscava proteger os adquirentes das
unidades autônomas perante os incorporadores, que muitas vezes prometiam a venda e não a cum-
priam, acarretando prejuízo aos compradores. Nesse sentido, as disposições do Código de Defesa do
Consumidor apenas vêm agregar ainda maiores proteções aos adquirentes.
Dessa maneira, a proteção aos compradores de unidades imobiliárias se refere, principalmente,
à coibição das chamadas práticas abusivas, desde a fase pré-contratual, durante toda a fase contratual
e, finalmente, na fase pós-contratual. Tanto o incorporador quanto eventualmente seu promotor de
vendas ou outro representante responderão por danos causados ao consumidor. Assim, inclui-se nessa
proteção uma série de atos, tais como as restrições quanto aos abusos causados com propagandas en-
ganosas ou abusivas, como consta do artigo 37 do Código de Defesa do Consumidor:
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§1.° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente
falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natu-
reza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e
serviços.
§2.° É abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o
medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores am-
bientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou
segurança.
§3.° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essen-
cial do produto ou serviço.
Dessa forma, verifica-se que, já de início, a Lei do Consumidor procura proteger o adquirente das
unidades autônomas contra informações falsas, exageradas, omissas ou que atentem contra valores
essenciais da sociedade. O incorporador, portanto, sujeita-se a essas regras e responderá caso venha a
se utilizar desses recursos.
Além dessa previsão, o Código de Defesa do Consumidor reservou seção própria para assegurar
que, no contrato de incorporação imobiliária, não sejam inclusas cláusulas abusivas. O artigo 51 esta-
belece diversas dessas práticas abusivas, as quais são consideradas nulas, isto é, sem qualquer validade
jurídica. Humberto Theodoro Junior (2007) traz exemplos de cláusulas contratuais que configuram abu-
sividade, como aquelas de reajuste de preço unilateral, aleatório, ou segundo índices de livre escolha
do fornecedor, bem como aquelas que não determinam o prazo de entrega da obra ou permitem sua
prorrogação por razões inaceitáveis.
Além dessas práticas abusivas, o Código de Defesa do Consumidor estabelece uma proteção es-
pecial, que se aplica diretamente aos contratos de incorporação imobiliária:
Art. 53. Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas
alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total
das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear a resolução do contrato e a
retomada do produto alienado.
Dessa maneira, o incorporador não poderá, diante do atraso no pagamento das parcelas, declarar
desfeito o contrato e reter as parcelas já pagas para si. Caso ele opte por rescindir o contrato por atraso
no pagamento, deverá devolver as parcelas pagas, descontando apenas o valor da multa e dos juros de
mora previstos no contrato.
Como se vê, o Código de Defesa do Consumidor aplica-se, de um modo geral, à maioria dos con-
tratos de incorporação imobiliária, quando a compra se refere ao uso ou fruição direta por parte do
adquirente. Nesse sentido, atualmente é preciso coordenar essas disposições com as regras previstas
na lei específica, a Lei de Condomínios e Incorporações Imobiliárias, Lei 4.591/64. Apenas conjugando
as regras desses dois diplomas legais é que se terão claros quais devem ser os procedimentos adotados
pelo incorporador em cada caso.
Nesse sentido, Humberto Theodoro Junior (2007) afirma:
O verdadeiro problema, todavia, não está propriamente na aplicação do CDC ao contrato de incorporação e construção
de imóvel em regime de condomínio horizontal, mas, sim, nos limites em que tal aplicação haverá de ser efetuada.
Se existe uma lei especial que institui mecanismos próprios para regular os efeitos do inadimplemento do promissário
comprador e se o CDC não cuidou de estatuir para o caso, disciplina diferente, o que merece prevalecer, sem dúvida, é
a Lei Específica das Incorporações (Lei 4.591/64).
Logo, é necessário em cada caso analisar se a regra do CDC é aplicável ou se, ao contrário, havia
disposição específica sobre o tema na Lei 4.591/64. Sendo essa uma lei específica para as incorporações,
via de regra ela prevalecerá. Mas em diversos casos será possível conjugar, ou seja, harmonizar, as dis-
posições previstas nesses dois diplomas legais, propiciando, dessa forma, uma proteção adicional aos
adquirentes das unidades condominiais.
dos a um empreendimento imobiliário, sem misturá-los com os demais recursos da empresa, de modo
a evitar os desvios para outros fins.
Logo, pode-se dizer que por regime de afetação entende-se que o terrenos objetos da incorpo-
ração, inclusive os bens e direitos a eles vinculados, ficarão separados do patrimônio do incorporador.
Assim, o patrimônio de afetação não se comunica com os demais bens, direitos e obrigações do pa-
trimônio geral do incorporador ou de outros patrimônios de afetação por ele constituídos, e somente
responde por dívidas e obrigações vinculadas àquela incorporação específica.
Dessa maneira, em caso de falência do incorporador ou de destituição do mesmo por paralisação
injustificada da obra, a Comissão de Representantes assumirá a administração da incorporação, convo-
cando assembleia geral para decisão sobre a continuidade do empreendimento ou a liquidação do pa-
trimônio de afetação. Logo, se os compradores decidirem por retomar a obra, a falência do incorporador
não atingirá o empreendimento.
A grande motivação para a constituição de patrimônios de afetação nas incorporações imobili-
árias se deu com a falência da construtora Encol, em 1999. A falência da empresa deixou centenas de
empreendimentos imobiliários inacabados, o que fez com que surgissem estudos com o objetivo de
proteger os empreendimentos imobiliários e, principalmente, os consumidores que buscam a aquisição
da casa própria e que negociam o imóvel na planta.
O artigo 43 da Lei 4.591/64, mesmo antes da reforma de 2004, já estabelecia, em caso de falência
do incorporador, proteção aos chamados credores privilegiados, que são aqueles que já efetuaram pa-
gamentos ao incorporador. Dessa maneira, a lei prevê que os bens pessoais do incorporador responde-
rão subsidiariamente pela dívida contraída:
Art. 43. Quando o incorporador contratar a entrega da unidade a prazo e preços certos, determinados ou determiná-
veis, mesmo quando pessoa física, ser-lhe-ão impostas as seguintes normas:
[...]
III - em caso de falência do incorporador, pessoa física ou jurídica, e não ser possível à maioria prosseguir na construção
das edificações, os subscritores ou candidatos à aquisição de unidades serão credores privilegiados pelas quantias que
houverem pago ao incorporador, respondendo subsidiariamente os bens pessoais deste; [...]
De todo o modo, a lei prevê ainda que, independentemente da falência, o incorporador poderá ser
destituído se, passados 30 dias, a obra estiver paralisada, sem justificativa. Essa providência poderá ser toma-
da pela maioria absoluta dos adquirentes, ou seja, metade mais um, e o incorporador deverá ser devidamen-
te notificado judicialmente.
Enfim, como se percebe, a Lei 4.591/64, sobretudo após a reforma de 2004, procurou tornar bas-
tante claras uma série de obrigações do incorporador, de forma a melhor proteger os interesses dos
compradores, que geralmente se encontram em uma posição desfavorecida em relação àquele.
Conclusão
O incorporador é figura das mais importantes na realidade atual. É através dele que se torna pos-
sível organizar empreendimentos que demandam um custo considerável. A construção de edifícios e
outros tipos de condomínios edilícios somente se tornou frequente e corriqueira porque se desenvol-
veram empresários especializados na execução dessas atividades.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
126 | O incorporador e a incorporação imobiliária
Tendo em conta esses aspectos, é essencial conhecer toda a regulação jurídica que incide sobre
o incorporador. Da mesma forma, é preciso ter conhecimento sobre as formas pelas quais a legislação
procura coibir seus abusos e, desse modo, proteger os compradores das unidades condominiais, ou
seja, os clientes do incorporador.
Nesta aula, procuramos apenas traçar um perfil bastante genérico da atividade de incorporação e
da figura do incorporador. Cada um dos pontos comentados demanda uma análise mais aprofundada
e abrangente. Entretanto, para que isso ocorra, é preciso antes de tudo analisar de que forma o Direito
trata os incorporadores nos dias atuais. Assim, buscou-se verificar em linhas gerais a conceituação dos
incorporadores e da incorporação, a sua atuação e responsabilidades, a incidência das normas de pro-
teção ao consumidor sobre os contratos de incorporação e, ainda, as consequências em caso de falência
do incorporador, incluindo as recentes inovações trazidas pela Lei 10.931/2004.
A partir desse delineamento básico, é possível então, com base nas leis aplicáveis, analisar mais
pormenorizadamente cada um dos pontos que envolvem a atuação do incorporador.
Texto complementar
O texto a seguir assinala a importância de que todos os procedimentos de registro sejam devida-
mente seguidos tanto pelo incorporador como pelos adquirentes. Embora sua linguagem seja bastante
técnica, sua leitura certamente auxilia na compreensão de alguns dos temas tratados nesta aula.
2 – Ocorrendo a “quitação”, nos termos da lei, a mesma poderá ser “averbada” ao registro, pois
trata-se de um fato que altera a realidade do direito. As “averbações” dos “cartórios de registros
imobiliários” são efetivadas para publicidade, segurança e eficácia dos atos jurídicos.
Registrado o “compromisso de compra e venda”, o promitente vendedor só fica com um cré-
dito contra o comprador. Ocorrido o pagamento não lhe resta mais nada de senhor da coisa. Fica
somente a “saudade” de ter sido titular do domínio [...]. O resto são obrigações e não direitos do
incorporador-construtor-vendedor.
3 – A propriedade é transferida do vendedor para o adquirente com a “averbação registral” da
quitação. O registro do “compromisso” e a “averbação” não podem ser negados pelo registrador, a
quem resta somente fazer exigências por escrito. Essas serão decididas pelo juízo competente em
processo administrativo.
No caso de uma empresa construtora ter decretada a sua falência não é de se arrecadar bens
de terceiros. O síndico somente arrecadará os bens do falido. Os apartamentos adquiridos em cons-
trução, para casa própria, têm com o registro, além da titularidade do adquirente, a condição de
“bem de família”. Não podem ser arrolados como bens de massa de uma incorporadora-construto-
ra, quando em nome de terceiros.
4 – Registrado o “compromisso de compra e venda” torna-se impossível a venda ou oneração
por parte do vendedor. Criou-se o direito real, que afeta a coisa diretamente, seguindo-a onde quer
que se encontre. É o “direito de sequela” contra terceiros.
É necessário o vínculo jurídico direto do compromissário com a coisa imóvel, para garantia da
aquisição e tanto tem a característica de exclusividade. É impossível 2 (dois) direitos do mesmo con-
teúdo sobre a coisa registrada e a interferência de terceiros, pois trata-se de um vínculo erga omnes.
Registrado um “compromisso de compra e venda”, não tem como o promitente vendedor intercalar
outros direitos reais como venda, hipoteca ou uso. É a garantia do comprador da casa própria, em
especial.
5 – O direito do compromissário, quando registrado, é igual ao do proprietário. Promovida a
quitação, aí então eles são totalmente idênticos. Se o registro do compromissário é posterior ao do
proprietário, pelo “princípio registral da continuidade” ocorreu a transferência. Verdade, não se sa-
tisfez o pagamento do imposto de transmissão, nem se coletou as negativas das fazendas públicas.
Mas tanto são questões tributárias e não de direito imobiliário. Os imóveis ficarão vinculados aos
débitos reais, v.g.: imposto de transmissão e territoriais. Não haverá perda para a fazenda pública e
nem para o credor hipotecário. Perda poderá ocorrer é para fornecedores e trabalhadores da incor-
poradora-venderora. Trata-se de uma vexata questio.
6 – A doutrina e a jurisprudência moderna têm consagrado que o “compromisso de compra e
venda” equivale à venda. O inspirador direito francês tem-no estampado no artigo 1.589 do “code
civil”. O costume brasileiro também é neste sentido. O costume faz-se lei no direito brasileiro. É lei
pela lei e é lei pelo costume.
A empresa devedora pode promover “novações dos seus créditos”, quitando, proporcional-
mente, os adquirentes, para que se livrem dos riscos da arrecadação de seus bens num desate in-
feliz. Seria injustiça não fazê-lo, pois pagaram e o quanto pagaram deve ser equivalente ao crédito
pela construção inacabada.
Atividades
1. De acordo com a Lei 4.591/64, a chamada Lei de Condomínios e Incorporações Imobiliárias, como
pode ser definida a figura do incorporador?
Gabarito
1. De acordo com os artigos 29 e 30 da Lei 4.591/64, o incorporador pode ser definido como a pes-
soa física ou jurídica que, mesmo não efetuando a construção, compromisse ou efetive a venda
das unidades autônomas, em edificações a serem construídas. O incorporador pode ser, ainda,
um ou mais proprietários ou titulares de direitos aquisitivos que contratem a construção de edifí-
cios que se destinem à constituição de condomínio.
2. 13
3. A atuação do incorporador se caracteriza pela atividade central de, no decorrer da obra, ou até
mesmo antes, na fase de lançamento do empreendimento, alienar frações ideais do terreno vin-
culadas a unidades a serem construídas.
Em meio a esse cenário, surgiu uma série de incorporadores irresponsáveis que, agindo de má fé,
“armavam as incorporações”, isto é, atuavam no sentido de lançar o projeto, realizar as operações iniciais
de divulgação e venda, ao mesmo tempo em que contratavam a construção não em seu próprio nome,
mas no dos adquirentes. Concluídos os negócios, tais incorporadores desapareciam, já tendo recebido
pela sua intermediação, deixando os compradores desguarnecidos perante o construtor. Em decorrên-
cia das pressões inflacionárias da época, era frequente que a relação com o construtor acabasse em
litígio, acarretando, geralmente, prejuízos para os compradores de unidades.
Os incorporadores honestos, por outro lado, além da desconfiança que, por consequência, pairou
sobre eles, sujeitavam-se muitas vezes a perdas inflacionárias sem que tivessem meios de reajustar os
valores inicialmente pactuados.
Diante desse quadro, a Lei 4.591/64 tratou, primeiramente, de restringir o rol daqueles que po-
dem exercer essa função. Dessa maneira, segundo o artigo 31 do referido diploma legal, o incorporador
poderá ser, apenas, o proprietário do terreno, o construtor ou um corretor de imóveis.
Em outras palavras, embora o incorporador possa ter origens diversas – podendo ser, por exem-
plo, um banqueiro, um financiador, um mandatário ou um gestor de negócios – é necessário que, para
levar a cabo a incorporação, ele se invista em um desses papéis claramente definidos pela lei. Cumpre
analisá-los em detalhes.
Proprietário do terreno
À figura do proprietário do terreno, equiparam-se também o promitente comprador, o cessio-
nário e o promitente cessionário do imóvel. Em outras palavras, a lei cuida que aquele que realizar a
incorporação possua direitos sobre o terreno, de modo a evitar que se trate simplesmente de um inter-
mediário, que possa deixar os adquirentes desprotegidos.
Dessa forma, caso o incorporador não seja ainda o proprietário do imóvel (e também não seja
construtor ou corretor de imóveis, hipóteses estas tratadas nos itens seguintes), deverá ele negociar
promessa de compra ou cessão do imóvel, de forma que ele possa apresentar o referido documento ao
Cartório de Registro de Imóveis, visando registrar a incorporação.
Assim, conforme determina a lei, os documentos que conferem ao incorporador algum direito
de aquisição ou recebimento futuro do imóvel (promessa de compra, cessão ou promessa de cessão)
devem conter, pelo menos, as seguintes cláusulas:
::: irrevogabilidade e irretratabilidade – o documento deve ser definitivo, não sujeito a arre-
pendimentos nem a condições, salvo aquelas autorizadas pela lei, como o prazo de carência
legal, por exemplo;
::: imissão na posse do imóvel – através dessa cláusula, o promitente comprador ou cessio-
nário, mesmo não sendo o proprietário, possuirá poder sobre o bem, podendo dessa forma
tomar todas as providências para que a incorporação se inicie;
::: inexistência de cláusulas impeditivas de alienação em frações ideais – no contrato de pro-
messa ou cessão, não deve constar qualquer cláusula que vede ou restrinja a possibilidade
de o incorporador vender frações ideais do imóvel. Essa providência é igualmente essencial
para que o incorporador possa buscar interessados na aquisição das futuras unidades a serem
construídas;
::: consentimento para demolição e construção – a promessa ou cessão também deve prever
expressamente a concordância do promitente-vendedor ou cedente, quanto à eventual de-
molição do imóvel ou benfeitorias que ali se encontram, associada ao início das construções
necessárias.
Desde que presentes todas essas condições, o instrumento de cessão, promessa de cessão ou pro-
messa de compra deverá ser levado a registro no Cartório de Registro de Imóveis, de forma que se constitua
o direito real do incorporador ao bem, na forma convencionada. Apenas com todas essas garantias é que
será possível ao incorporador ter a garantia de que poderá ali executar a incorporação. Do mesmo modo,
através desse instrumento será também possível aos consumidores assegurarem-se de que o incorporador
que lhes vendeu a fração ideal de fato possui direitos sobre o bem em que se realiza a incorporação.
Dessa forma, constata-se que a Lei das Incorporações criou um sistema cercado de garantias, de
modo a vincular o incorporador ao empreendimento, e ao mesmo tempo garantir-lhe a devida legitimi-
dade para iniciar todas as ações necessárias para que seu negócio possa ser devidamente exercido.
deve ser um agente devidamente capacitado e habilitado para executar tais empreendimentos, confor-
me prevê a legislação em vigor referente ao tema.
O mesmo aplica-se ao corretor de imóveis, na medida em que essa também é uma profissão regu-
lada e prevista em lei: a Lei 6.530/78. Dessa forma, existindo um órgão de controle sobre tais atividades,
entende-se que, nesses casos, é dispensável a prova do título de propriedade para que esse atue como
incorporador.
Entretanto, nesses casos o incorporador deve receber do titular do terreno uma procuração por
instrumento público, a qual contenha expressa referência à Lei 4.591/64 e preveja poderes para celebrar
todos os atos relativos à incorporação, incluindo a venda das frações ideais do terreno. Dessa maneira,
a lei garante que, mesmo não sendo proprietário nem possuindo poderes para aquisição do imóvel, o
incorporador terá totais condições de prosseguir com os atos relativos à incorporação, sem causar pre-
juízo aos adquirentes.
Responsabilidade do incorporador
Adicionalmente, a lei determina que a incorporação deverá ter necessariamente um ou mais in-
corporadores, sendo proibida a realização de incorporação sem que exista ao menos um incorporador
expressamente definido e que haja indicação clara de seu nome na obra. Evidentemente, nada impede
que o condomínio edilício seja instaurado de outra forma, hipótese em que não haverá incorporador.
Do mesmo modo, caso se inicie as vendas de unidades apenas após a finalização da construção e cons-
tituição do condomínio edilício, tais restrições igualmente não se aplicam.
Mas, se a constituição ocorrer mediante incorporação, ou seja, mediante organização do negócio
visando à venda de unidades autônomas, deverá necessariamente ser indicado o incorporador, de for-
ma que fique bastante claro, para todos, quem está por trás de toda aquela coordenação de esforços ou,
em última análise, quem é o responsável direto pela construção e entrega da obra concluída.
Na hipótese de existir mais de um incorporador, todos eles serão solidariamente responsáveis
pelas obrigações a serem executadas, isto é, os compradores poderão cobrar de qualquer deles o cum-
primento de suas obrigações.
Com todas essas medidas, a Lei 4.591/65 procurou garantir amplamente o comprador das unida-
des autônomas contra condutas inadequadas do incorporador.
Analisadas tais especificações preliminares no que se refere ao exercício da função de incorpora-
dor, cumpre agora analisar, com maior atenção, a questão referente às fases anteriores à celebração dos
contratos com os futuros proprietários de frações ideais.
Registro da incorporação
O primeiro passo da incorporação propriamente dita é o seu registro em Cartório de Registro de
Imóveis. Como afirma Rodrigo Azevedo Toscano de Brito (2002, p. 241):
Esse dever é correspondente a um direito básico do adquirente consumidor da futura unidade autônoma. Com efeito,
como demonstrado em ocasiões passadas, o legislador, em 1964, procurou criar uma série de mecanismos que viessem
a proteger o consumidor daqueles incorporadores aventureiros, os quais não tinham condições mínimas de começar
uma incorporação mas assim o faziam.
Por essa razão, a lei determina expressamente todos os documentos que deverão ser apresen-
tados pelo incorporador, de modo que este demonstre possuir plenas condições para a realização da-
quele empreendimento. Assim, somente após o registro de toda a documentação necessária, prevista
principalmente no artigo 32 da Lei 4.591/64, é que o incorporador poderá iniciar as vendas das frações
ideais relativas ao imóvel ou promessa de venda das unidades autônomas.
Essas obrigações, portanto, são inerentes à figura do incorporador, que por certo não poderá
afastá-las através de contrato. É nula qualquer cláusula que retire do incorporador a obrigação de rea-
lizar o referido registro, ou então de realizar a apresentação dos documentos durante a construção. É
absolutamente necessário que toda a documentação seja apresentada anteriormente ao início da ven-
da, tendo em vista que somente através do registro o adquirente estará suficientemente seguro sobre a
legitimidade de o incorporador realizar toda a construção.
Cabe ainda salientar que a não observância dessa prática pelo incorporador constitui contraven-
ção penal, passível de pena de multa, de 5 a 20 salários mínimos. Apesar disso, continuam ocorrendo
casos de venda sem que a incorporação tenha sido devidamente registrada em cartório. Por essa razão,
é importante salientar a possibilidade, que tem se disseminado em alguns estados, de que o próprio
registrador de imóveis oficie o representante do Ministério Público, para que este tome as providências
cabíveis no que se refere à aplicação da pena referida acima.
Além disso, os tribunais têm admitido a possibilidade de que, diante da verificação desse des-
cumprimento, os adquirentes possam rescindir os contratos que firmaram com o incorporador, deven-
Prazo de carência
A Lei das Incorporações prevê ainda a possibilidade de o incorporador, no momento do registro
da incorporação, declarar um período de carência, de forma que, satisfeitas as condições previstas nessa
declaração a ser apresentada ao Registro de Imóveis, poderá ele unilateralmente rescindir os contratos
realizados com os adquirentes, mediante devolução de todos os valores eventualmente pagos por es-
tes, desistindo assim do empreendimento.
É importante destacar que, embora essa norma vise garantir o incorporador, ela também atua em
benefício dos adquirentes. É o que leciona Rodrigo Azevedo Toscano de Brito (2002, p. 249):
De fato, é melhor que o incorporador desista conscientemente do empreendimento, informando ao consumidor essa
possibilidade, nos moldes previstos na legislação pertinente, do que se aventure, fazendo com que o negócio saia de-
masiadamente oneroso para o adquirente.
Dessa maneira, visando evitar negócios arriscados, por conta de não se verificar, após o registro,
o interesse de número suficiente de compradores, ou então, por perceber o incorporador que não pos-
sui condições financeiras adequadas para, naquele momento, conduzir aquele empreendimento, a lei
permite que se estipule um prazo de carência, o qual não poderá ultrapassar o prazo da validade do
registro ou da sua revalidação.
A declaração quanto ao prazo de carência deve ser levada também ao cartório no momento do
registro; deverá fixar exatamente as condições que autorizam o incorporador a desistir do empreendi-
mento, tais como o fato de não se alcançar um número mínimo de compradores, ou então, determina-
das alterações em indicadores financeiros que interfiram nos preços praticados.
Todos os contratos, inclusive os contratos preliminares, a serem celebrados com os compradores
deverão prever expressamente esse prazo de carência. Como se trata de cláusula que traz limitação de
direito para o consumidor, é necessário que ela conste com destaque no contrato e de forma que per-
mita sua imediata e fácil compreensão por parte do adquirente, como determina o artigo 54, parágrafo
4.º, do Código de Defesa do Consumidor.
Caso o incorporador venha a fazer uso da possibilidade de rescindir unilateralmente o contrato,
ele deverá informar o Registro de Imóveis e cada um dos adquirentes, por escrito. Nesse caso, o incorpo-
rador terá 30 dias para restituir aos adquirentes todas as importâncias pagas por estes. Caso não o faça,
eles poderão cobrá-lo judicialmente, com os devidos reajustes, além de juros de mora.
Por outro lado, caso ele não tenha exercido essa opção, o incorporador terá o prazo máximo de
60 dias, a partir do prazo final de carência, para celebrar os contratos definitivos relativos à fração ideal
do terreno, além do contrato de construção e da convenção de condomínio.
Assim, as informações que constarem de toda e qualquer publicidade feita pelo incorporador
podem ser exigidas pelos consumidores, ainda que não constem do contrato. Por exemplo, se em um
determinado anúncio há uma foto de uma sacada ampla e a descrição do apartamento menciona essa
mesma sacada, indicando seu tamanho, não pode o incorporador posteriormente alegar que aquela sa-
cada apenas estava prevista para alguns dos apartamentos. Caso assim conste do projeto, deveria o in-
corporador ter feito essa ressalva de forma expressa e clara no anúncio. Dessa maneira, se o consumidor
reclamar, o incorporador acabará sendo obrigado a modificar o projeto, se possível, ou do contrário, e o
que é mais provável, ressarcir o consumidor que adquiriu a unidade movido por determinado anúncio.
Importante também é a regra prevista pelo artigo 36 do mesmo código, que menciona que a pu-
blicidade deverá ser veiculada de forma que o consumidor, imediatamente, a identifique como tal. Isso
significa que a publicidade subliminar ou indireta é proibida pela lei.
Além disso, o parágrafo único do mesmo artigo 36 dispõe que prevalece o conteúdo da mensa-
gem publicitária sobre a sua forma. Assim, o fornecedor deve manter todos os dados técnicos e projetos
que comprovem aquilo que ele está a oferecer nos seus anúncios.
Adicionalmente, é proibida qualquer forma de publicidade enganosa ou abusiva, como consta
dos artigos 37 e 38 da mesma lei.
Além dessas previsões, a própria Lei 4.591/64 já dispunha sobre os conteúdos de anúncios em al-
guns dispositivos. Em especial, vale mencionar o artigo 65 e seus parágrafos, que estipulam o seguinte:
Art. 65. É crime contra a economia popular promover incorporação, fazendo, em proposta, contratos, prospectos ou
comunicação ao público ou aos interessados, afirmação falsa sobre a construção do condomínio, alienação das frações
ideais do terreno ou sobre a construção das edificações.
PENA - reclusão de um a quatro anos e multa de cinco a cinquenta vezes o maior salário-mínimo legal vigente no país.
§1.º Incorrem na mesma pena:
I - o incorporador, o corretor e o construtor, individuais bem como os diretores ou gerentes de empresa coletiva incor-
poradora, corretora ou construtora que, em proposta, contrato, publicidade, prospecto, relatório, parecer, balanço ou
comunicação ao público ou aos condôminos, candidatos ou subscritores de unidades, fizerem afirmação falsa sobre a
constituição do condomínio, alienação das frações ideais ou sobre a construção das edificações.
Como se percebe, embora sem a mesma abrangência do Código do Consumidor, a Lei das In-
corporações já protegia os adquirentes das informações falsas realizadas pelo incorporador, inclusive
mediante a aplicação de pena de prisão ao responsável pela empresa incorporadora.
Conclusão
A incorporação é, sem dúvida, um procedimento complexo. Nesse sentido, envolve diversas fa-
ses, as quais se sucedem em ordem cronológica. Muito antes de se celebrar os contratos de venda ou
promessa de venda com os adquirentes do imóvel, o incorporador já precisa realizar uma série de atos
de forma a conduzir a incorporação de acordo com os diversos preceitos legais aplicáveis.
Assim, tendo em vista que qualquer descuido quanto aos procedimentos de registro e publici-
dade da incorporação poderão acarretar a anulação do negócio por parte do adquirente que se sinta
prejudicado, é certo que o incorporador apenas estará suficientemente seguro caso atue estritamente
em consonância com todos os ditames legais previstos nas diversas leis que incidem sobre o tema.
Por outro lado, não há dúvidas de que, apesar da extensa disciplina legal, são ainda frequentes os ca-
sos de abusos praticados por incorporadores, os quais permanecem impunes, sobretudo em função da inér-
cia dos consumidores, que muitas vezes não exigem seus direitos e não denunciam as práticas irregulares.
Nesse sentido, a melhora nas relações consumidores-incorporadores apenas se dará na medida
em que, de todos os lados, tome-se consciência sobre a amplitude e importância das garantias previs-
tas em lei, o que sem dúvida envolve um processo contínuo de aprimoramento e melhora.
Texto complementar
deverá indicá-las ao incorporador. Há quem julgue que esse prazo foi dilatado para 30 dias, pela
regra geral contida no artigo 188 da Lei de Registros Públicos. No Rio Grande do Sul, todos os títulos
têm 15 dias para serem examinados e deduzidas as exigências, se houver (item 10.2.1 da Consoli-
dação Normativa)”.
Frise-se que o registrador tem o prazo de 15 dias, a contar do ingresso do requerimento no
Registro de Imóveis, para apresentar, por escrito e se necessário fundamentada, a impugnação com
todas as suas exigências para efetivar o arquivamento ou registro da incorporação, tanto em maté-
ria de informações como de documentação.
Nesse caso, após satisfeitas tais exigências por parte do incorporador, o registrador tem o pra-
zo de 15 dias para fornecer a certidão do registro da incorporação, base legal é o artigo 32, §6.º da
Lei 4.591/64, estando, nessa ocasião, efetivado o registro da incorporação imobiliária, podendo,
agora, alienar legalmente as futuras unidades autônomas.
Ressalta-se que após o incorporador cumprir todas as exigências legais para ter registrada a
incorporação imobiliária, abre-se a possibilidade dos futuros adquirentes das unidades, ou simples-
mente interessados, em conhecer todos os dados relativos ao empreendimento e às unidades, além
de ter um panorama da situação técnica, fiscal, financeira, jurídica etc. da empresa, através da docu-
mentação obrigatória anexada.
Após a averbação do término da construção, através do documento de habite-se e outros exi-
gidos por lei, o incorporador apresentará o requerimento de individuação que igualmente sofrerá
análise pelo Registro de Imóveis e estando correto fará o desmembramento da matrícula “mãe”,
originando as novas matrículas, em tantas quanto forem o número de unidades autônomas discri-
minadas, nas quais estará registrada a individuação e a convenção do condomínio.
Atividades
1. Descreva quais são as cláusulas que devem constar nos contratos de promessa de compra, cessão ou
promessa de cessão do imóvel a ser incorporado, visando à viabilidade do registro da incorporação.
2. Em que momento poderá o incorporador iniciar as vendas ou promessa de venda das unidades
autônomas do condomínio edilício? Qual o dispositivo legal?
Gabarito
1. Os documentos que conferem ao incorporador algum direito de aquisição do imóvel devem con-
ter, pelo menos, as cláusulas de irrevogabilidade e irretratabilidade; cláusula de imissão na posse
do imóvel, dando ao comprador poderes sobre o bem, mesmo que este não seja o proprietário;
inexistência de cláusulas impeditivas de alienação em frações ideais, de forma que não conste
qualquer cláusula que vede ou restrinja a possibilidade de o incorporador vender frações ideais
do imóvel; e consentimento para demolição e construção, através da qual a promessa ou cessão
também deve prever expressamente a concordância do promitente-vendedor ou cedente, quan-
to à eventual demolição do imóvel ou benfeitorias que ali se encontram, associada ao início das
construções necessárias.
2. A partir do registro de toda documentação necessária, com a expedição de certidão pelo Cartório
de Registro de Imóveis, é que o incorporador poderá iniciar a venda ou promessa de venda das
unidades autônomas. O artigo 32 da Lei 4.591/64 determina expressamente os documentos que
deverão ser apresentados pelo incorporador, de modo que este demonstre que possui plenas
condições para a realização de determinado empreendimento.
3. F–F–V–V–F
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Obrigações e direitos
do incorporador
Introdução
Nas incorporações imobiliárias, é preciso considerar que a atuação do incorporador é inteiramente
regulamentada, incidindo sobre ela uma série de leis. Em especial, aplica-se a ela todas as disposições
específicas relativas à incorporação, previstas na Lei 4.591/64. Dessa maneira, existe pouco espaço, nas
relações contratuais do incorporador, seja com o alienante do imóvel, seja com o construtor, mas princi-
palmente com os adquirentes, para se estabelecer livremente as cláusulas que regularão tais contratos.
Tendo em vista que a legislação aplicável ao incorporador já predetermina uma série de obriga-
ções, os incorporadores não possuem deveres apenas a partir do momento em que assinam os contra-
tos. Ao contrário, os deveres do incorporador, segundo a lei, já nascem antes mesmo da incorporação
existir e perduram durante toda a atividade incorporativa.
De acordo com os ensinamentos de Caio Mário da Silva Pereira (1991, p. 261):
Ao incorporador impõe a lei uma série de deveres e de responsabilidades, em todas as fases da incorporação. Suas
obrigações nascem antes desta, precedendo-a, portanto. Vivem com ela e acompanham o incorporador enquanto se
desenvolve a obra. E sobrevivem à conclusão desta, não bastando, como título liberatório, a quitação fornecida pelos
adquirentes contra a entrega do edifício.
Na presente aula, serão analisados os deveres e direitos do incorporador, tanto do ponto de vista
legal quanto sob o aspecto contratual. Será enfatizada, ainda, a questão da fiscalização da atividade do
incorporador e os deveres relativos ao chamado patrimônio de afetação, entre outros assuntos relativos
a tais temas.
Apresentada a documentação [...] será examinada pelo oficial e, considerada regular, será feito o arquivamento sob
certo número de ordem, que se vinculará ao empreendimento, passando ao incorporador, como a quem quer que o
solicite, certidão deste fato, e ainda, cópia fotostática, heliográfica, thermo-fax, xerox, ou outra equivalente.
Não estando os papéis em ordem, o oficial fará por escrito as exigências que entender necessárias e, em caso de diver-
gência, levantará dúvida, perante o juiz competente, e na forma prescrita na lei processual.
O registro da incorporação será válido pelo prazo de 180 dias. Após esse prazo, se a incorporação
não tiver sido concretizada, o incorporador só poderá negociar as unidades autônomas após a atuali-
zação da documentação, revalidando o registro por igual prazo, como decorre do artigo 33 da Lei das
Incorporações.
O incorporador possui ainda outras obrigações especificadas na Lei 4.591/64, como consta a seguir:
::: consignar em todos os documentos preliminares de ajuste com os adquirentes o prazo de
carência, dentro do qual lhe é lícito desistir do empreendimento (art. 34, §3.º);
::: em caso de desistência da incorporação pelo incorporador, deverá ele comunicar o fato ao
Registro de Imóveis e aos adquirentes, imediatamente (art. 34 §4.°);
::: confirmar as vendas nos 60 dias seguintes ao termo final do prazo de carência ou da confirmação
do ajuste preliminar; em outras palavras, o incorporador deverá promover, dentro desse prazo, a
celebração dos contratos relativos à parte ideal do terreno (compromisso de compra e venda ou
similar), além do contrato de construção e da convenção de condomínio (art. 35 e §§);
::: concluir os contratos de ajuste visando a incorporação e o contrato de construção, indicando,
em tais instrumentos, conforme o caso, o número do registro de incorporação; o nome do res-
ponsável pelo custeio da construção; a existência de ônus real ou fiscal e a eventual ocupação
do imóvel, indicando a que título, bem como as condições de sua desocupação; o modo de pa-
gamento do preço da construção, o custo da fração ideal do terreno e, ainda, se o alienante do
terreno está sujeito, ou não, a qualquer prestação ou encargo (arts. 35, §6.º, 37, 38, 39 e 40);
::: discriminar, no contrato de preço global, as parcelas relativas ao preço da quota do terreno e
o da construção (art. 41);
::: se contratou a entrega da unidade a prazo e preço certos, deverá dar andamento regular às
obras, sendo obrigado a informar os adquirentes, por escrito, no mínimo de seis em seis me-
ses, do estado da obra; responder civilmente pela execução da incorporação, indenizando os
adquirentes dos danos que sofrerem por não ter concluído a edificação ou por ter retardado
injustamente a conclusão da obra, cabendo-lhe, porém, ação regressiva contra o construtor, se
este for o culpado; responder subsidiariamente com seus bens, se vier a falir; não alterar o pro-
jeto, exceto se houver permissão unânime dos interessados ou exigência legal; não modificar
as condições de pagamento, nem reajustar o preço das unidades (art. 43, I a V);
::: não paralisar as obras por mais de 30 dias, sem justa causa; nessa hipótese, o juiz poderá notifi-
cá-lo para que, no prazo de 30 dias, as reinicie ou torne a dar-lhes o andamento normal (artigo
43, VI); do contrário, poderá o incorporador ser destituído pela vontade da maioria absoluta
da assembleia de credores.
::: providenciar a averbação da construção, após a obtenção do habite-se, e, em seguida, provi-
denciar a instituição e especificação do condomínio (art. 44 e §§).
Portanto, a Lei 4.591, de 16 de dezembro de 1964 prevê de imediato uma série de obrigações e
deveres cabíveis ao incorporador, buscando proteger os compradores das futuras unidades autônomas
contra excessos que possam ser praticados ao longo de toda a atividade incorporativa. Dessa maneira, a
lei busca regulamentar sua atividade e obter dele um padrão mínimo de atuação perante os adquirentes.
Direitos do incorporador
Ao lado de suas obrigações, o incorporador possui também direitos. Tais direitos são pressupos-
tos para o exercício de sua atividade, de forma a assegurar que a incorporação como um todo possa ser
adequadamente conduzida. Alguns direitos do incorporador significam, consequentemente, obriga-
ções do adquirente. Por exemplo, o incorporador tem o direito de exigir dos compradores o pagamento
das prestações previamente acordadas para o bom desenvolvimento da incorporação.
A lei garante, ainda, ao incorporador, o direito de poder fixar o prazo de carência e exercer o direito de
retenção na entrega do imóvel, em caso de atraso no pagamento das parcelas devidas pelo adquirente.
É quanto ao direito de retenção, que pode ser exercido pelo incorporador, que se refere o artigo
52 da Lei 4.591/64:
Art. 52. Cada contratante da construção só será imitido na posse de sua unidade se estiver em dia com as obrigações
assumidas, inclusive as relativas à construção, exercendo o construtor e o condomínio até então, o direito de retenção
sobre a respectiva unidade; no caso do art. 43, esse direito será exercido pelo incorporador.
Desse modo, o incorporador tem o direito de exigir dos adquirentes a rigorosa pontualidade no
pagamento das prestações para, com isso, dar seguimento à edificação do condomínio, honrando com
os prazos já previamente estipulados para entrega do mesmo.
Além dessas possibilidades, no caso de inadimplemento por parte dos adquirentes, o incorpora-
dor está autorizado, pela lei, a também tomar as seguintes medidas:
::: ajuizar, judicialmente, ação ordinária de cobrança, exigindo as prestações em atraso;
::: logo após o término do prazo de carência, se houver, exigir a assinatura do contrato, sob pena
de rescisão do ajuste, com a incidência das penalidades previstas em contrato.
A constituição do patrimônio de afetação pode ser feita a qualquer tempo, necessitando, para
tanto a averbação na matrícula do imóvel no Cartório de Registro de Imóveis, por meio de termo fir-
mado pelo incorporador, ou pelos titulares do terreno, na hipótese de haver algum outro titular com
direito real de aquisição sobre o imóvel. A instituição do patrimônio de afetação é uma opção facultada
ao incorporador, no momento do registro da incorporação imobiliária ou posteriormente.
Dessa maneira, é essencial destacar que a instituição do patrimônio de afetação tem caráter op-
cional. Entretanto, ela é irretratável, ou seja, uma vez feita a opção por esse regime, deverá o incorpora-
dor sujeitar-se às suas regras. É importante ressaltar que esse regime permite uma proteção muito mais
ampla dos adquirentes, na medida em que lhes confere controle e acesso direto sobre os recursos apor-
tados na construção de seu edifício. Principalmente em caso de falência do incorporador, será possível
garantir, de forma muito mais eficaz, a situação dos adquirentes quanto à eventual perda dos recursos
que aportaram.
O regime de afetação durará enquanto viger a incorporação, extinguindo-se em caso da conclu-
são da construção, mediante a sua averbação; em caso de rescisão da incorporação, por alguma razão
prevista na lei; ou então em caso de falência do incorporador.
Conclusão
Como se pode facilmente perceber através de todos os pontos ressaltados ao longo desta aula,
são diversas as obrigações atribuídas pela lei ao incorporador. Tais obrigações decorrem da opção legis-
lativa em se criar uma disciplina amplamente protetora e garantidora dos direitos daqueles que apor-
tam seu próprio capital na realização desses empreendimentos: os compradores das unidades autôno-
mas e das frações ideais dos condomínios edilícios.
Dessa maneira, buscou-se aqui relacionar, de forma resumida, os principais deveres legais e con-
tratuais aos quais se submete o incorporador. Evidentemente, o rol de deveres a que ele se sujeita é
ainda bem mais amplo, e envolve, além das obrigações perante os adquirentes, outras que o incorpo-
rador deverá assumir perante as autoridades públicas, perante o alienante do terreno e, ainda, perante
o construtor.
A atividade incorporativa, nesse sentido, deverá necessariamente contar com uma estrutura ade-
quada a satisfazer todas essas exigências. Cada vez menos, portanto, o incorporador poderá ser sim-
plesmente uma pessoa física ou uma empresa com poucos funcionários. Para realizar as atividades de
incorporação, atendendo a todas essas exigências, serão necessárias, geralmente, estruturas empresa-
riais bem mais sofisticadas, que contem com departamento jurídico, financeiro, de recursos humanos,
técnico, entre outros, que possibilitem ao incorporador cumprir com todas as suas responsabilidades e
gerir todas as finanças decorrentes dos empreendimentos, sobretudo após as modificações ocorridas
mediante a criação legal da figura do regime de afetação.
Assim, não restam dúvidas que, cada vez mais, a incorporação torna-se uma atividade restrita a
profissionais com a devida estrutura e capacidade, reduzindo dessa forma as possibilidades de atuação
das empresas aventureiras ou sem condições técnicas adequadas.
Texto complementar
imóvel que lhe diminuam o valor e eventuais custos para recolocar o imóvel nas mesmas condições
físicas em que foi entregue ao comprador, haja vista sua natural depreciação.
Cabe ressaltar que, ainda nessa etapa, o comprador tem a possibilidade de alienar seus direitos
sobre a unidade e quitar seu débito junto ao vendedor, cumprindo assim sua obrigação contratual.
Todavia, se a situação de mercado não for favorável naquele momento, e a jurisprudência não cami-
nhar no sentido de considerar os aspectos aqui levantados, obviamente, será melhor negócio para
o comprador inadimplente não efetuar a venda e aguardar que o vendedor lhe devolva os valores
pagos, estando ele, comprador, nesse caso, em situação bastante confortável, mesmo tendo dado
causa à rescisão do contrato por não ter cumprido suas obrigações.
Portanto, a determinação da forma e do quantum a ser eventualmente devolvido a compra-
dores inadimplentes não pode ser tratada de forma simplista, mas, ao contrário, considerando em
cada caso os diversos aspectos que envolvem cada operação.
Atividades
1. Relacione as colunas:
Gabarito
1. D–E–A–C–B
No caso das incorporações, entretanto, é necessário tomar-se algum cuidado. Temos que
considerar que a obrigação do incorporador envolve, basicamente, dois aspectos: primeiramente, diz
respeito a um dever de construir o edifício ou outra obra na qual será inserida a unidade autônoma. Em
segundo lugar, o mesmo contrato prevê a obrigação de transferir ao adquirente a propriedade sobre
uma fração ideal do imóvel. Dessa forma, pela soma dessas duas prestações a serem exercidas pelo
incorporador, é que este se obriga através do contrato de incorporação com os adquirentes.
É preciso considerar que, segundo a Lei 4.591/64, o contrato deve discriminar o valor a ser pago
pela construção e o valor a ser pago pela aquisição da fração ideal do imóvel. É possível, portanto, que o
adquirente deixe de pagar uma parcela relativa à construção ou então uma parcela relativa ao contrato.
Nesse caso, evidentemente que não se poderia alegar que o incorporador poderá deixar de cum-
prir sua obrigação quanto à construção, mas que mesmo assim conferirá ao proprietário a propriedade
do imóvel. Essa circunstância acarretaria problemas bastante consideráveis à constituição posterior do
condomínio edilício, já que uma determinada pessoa não teria direito a um apartamento no prédio
construído, mas, mesmo assim, seria coproprietário através de fração ideal no terreno do edifício.
Da mesma forma, a hipótese contrária também não deveria ser admitida, tendo em vista que
ninguém poderá ser condômino do prédio sem possuir também fração ideal do terreno. Assim, embora
por uma questão de melhor informação ao consumidor, o contrato de incorporação opte por distinguir
os valores correspondentes à compra do imóvel e aqueles correspondentes à incorporação, não há dú-
vidas de que as obrigações do incorporador devem ser tratadas de forma unitária.
Assim, o contrato de incorporação será um só e, no caso de falta de pagamento pelo adquirente,
fica o incorporador autorizado a deixar de realizar as suas obrigações, no sentido de entrega da unidade
autônoma com a fração ideal correspondente ao terreno e às partes comuns. Dessa forma, caso haja
parcelas de pagamentos que, segundo o contrato, deveriam ser pagas anteriormente à entrega do
imóvel, essa entrega apenas deverá ocorrer quando tais parcelas tenham sido devidamente quitadas.
É importante considerar também que o incorporador possui, provavelmente, deveres e prazos
de entrega pactuados com outros adquirentes. Dessa forma, não seria possível a ele deixar de realizar a
construção, sob a alegação da exceção de contrato não cumprido em relação a um adquirente. Caso ele
assim viesse a proceder, deixaria de cumprir suas obrigações para com os demais adquirentes, pelo que
estes poderiam também opor contra ele as exceções pelo contrato não cumprido, deixando, portanto,
de pagar suas prestações em dia em função da paralisação da obra.
Essas considerações, que por si só decorreriam do raciocínio lógico decorrente da indissociabilidade
das atividades de construção e transferência da propriedade, foi tratada sob um prisma inadequado na Lei
4.591/64. É que lá, estranhamente, inseriram-se dois dispositivos que parecem tratar essa possibilidade
como opção a ser exercida pelo incorporador através do contrato de incorporação. É o que consta dos
parágrafos 1.º e 2.º do artigo 41 da Lei 4.591/64:
§1.º Poder-se-á estipular que, na hipótese de o adquirente atrasar o pagamento de parcela relativa a construção, os
efeitos da mora recairão não apenas sobre a aquisição da parte construída, mas, também, sobre a fração ideal de terre-
no, ainda que esta tenha sido totalmente paga.
§2.º Poder-se-á também estipular que, na hipótese de o adquirente atrasar o pagamento da parcela relativa à fração
ideal de terreno, os efeitos da mora recairão não apenas sobre a aquisição da fração ideal, mas, também, sobre a parte
construída, ainda que totalmente paga.
Como se nota, esses dispositivos estabelecem este pressuposto, de que as obrigações de constru-
ção e venda são indissociáveis, como uma alternativa a ser eventualmente utilizada pelo incorporador.
Entretanto, cabe ressaltar que, em nosso entendimento, essa possibilidade sequer poderia ser utilizada
de forma separada, já que, como vimos, prevalece essa indissociabilidade.
De todo o modo, independentemente dessa redação, de certa forma confusa, é certo que a lei
permite ao incorporador deixar de entregar sua prestação, qual seja, a unidade concluída, enquanto o
adquirente não venha a efetuar o devido pagamento.
Entretanto, cumpre indagar o tratamento que a lei confere no caso em que, mesmo após ser noti-
ficado para a realização dos pagamentos em atraso, o comprador não efetua o pagamento das parcelas
devidas. Evidentemente não pode o incorporador ficar à mercê desse inadimplemento. É preciso que o
incorporador possa dar outra destinação à unidade autônoma que construiu ou mandou construir.
Esse aspecto será verificado no próximo item.
Cláusula resolutiva
Qualquer contrato bilateral, ou seja, firmado entre duas pessoas, pressupõe a possibilidade de
resolução, isto é, de rescisão em caso de inadimplemento pela outra parte com relação às suas obri-
gações. Essa possibilidade é implícita a qualquer contrato, tendo em vista que ninguém é obrigado a
seguir vinculado, e por consequência, com prestações perante outra parte que não cumpriu adequada-
mente suas obrigações.
Nesse sentido, o Código Civil prevê que todo contrato possui uma cláusula resolutiva. Essa cláusu-
la resolutiva pode estar expressamente prevista no contrato, mas é possível também que ela não conste
no instrumento. Nessa hipótese, existe a chamada cláusula resolutiva tácita.
Tanto uma quanto outra – ou seja, a cláusula resolutiva expressa ou a tácita – acarretam o mesmo
efeito: possibilitam à parte vitimada pelo descumprimento das obrigações da outra parte rescindir a
relação contratual de forma unilateral.
Entretanto, elas possuem formas distintas de operar. A cláusula resolutiva expressa, segundo
consta do artigo 474 do Código Civil, opera de pleno direito. Isto significa que, se constar do contrato
cláusula expressa permitindo a resolução, basta que a parte prejudicada notifique a outra parte,
apontando o descumprimento, concedendo-lhe prazo para sanar a irregularidade. Diante da inércia
da outra parte nesse sentido, poderá então declarar desfeito o vínculo contratual. Caso a outra parte
entenda que não descumpriu o contrato, caberá a ela discutir judicialmente essa questão.
É importante, no que se refere à existência de cláusula resolutiva expressa no contrato de incor-
poração, atentar para a previsão do artigo 54, parágrafo 2.º, do Código do Consumidor:
§2° Nos contratos de adesão admite-se cláusula resolutória, desde que a alternativa, cabendo a escolha ao consumidor
[...].
atualização monetária previstas no contrato, para dessa forma manter seus direitos sobre a aquisição
da unidade condominial. Não pode simplesmente ficar a cargo do incorporador, de imediato, realizar a
rescisão do contrato sem conceder prazo ao consumidor.
Já no caso da cláusula resolutiva tácita, o procedimento para rescisão do contrato é mais comple-
xo. Nesse caso, a parte prejudicada deverá primeiramente levar a questão a juízo para lá demonstrar o
descumprimento da outra parte e, assim, obter judicialmente uma interpelação para que a outra parte
efetue o pagamento. Caso isso não ocorra no prazo designado, o juiz então emitirá uma declaração de
que o vínculo contratual está desfeito.
Nota-se, portanto, que a distinção entre cláusula resolutiva expressa e tácita encontra-se, basi-
camente, na atribuição do ônus de quem deve requerer seus direitos em juízo. No primeiro caso, esse
ônus caberá à parte que descumpriu o contrato, segundo a alegação da outra. Já no segundo, esse ônus
ficará a cargo da parte que deseja desfazer o vínculo contratual.
Nesse sentido, no caso do contrato de incorporação, é comum que o incorporador preveja, de
imediato, uma cláusula resolutiva expressa no contrato. Afinal, dessa forma, diante do não pagamento
das parcelas pelo adquirente, por um período determinado em contrato, poderá ele notificar o com-
prador, concedendo-lhe um prazo final para acertar os pagamentos em atraso e, diante da omissão do
adquirente, declarar estar desfeito o vínculo contratual.
A cláusula resolutiva expressa dos contratos de incorporação segue a regra geral prevista no ar-
tigo 63 da Lei de Incorporações, a qual fixa que, em caso de atraso de três parcelas do preço a ser pago
ao incorporador, este poderá notificar o adquirente para que realize os pagamentos, ou seja, efetue a
purgação da mora, no prazo de 15 dias. Caso esse prazo não seja cumprido pelo comprador, o incorpo-
rador ou o construtor poderão declarar rescindidos o contrato.
Caso o comprador entenda que não há base para desfazer o contrato, seja porque ele pagou to-
das as parcelas em dia, seja porque alguma outra condição contratual era necessária para a resolução,
será necessário então que ele venha a discutir tais questões em juízo, salvo se for possível convencer o
incorporador de que, de fato, todas as parcelas foram devidamente pagas.
No caso de haver cláusula resolutiva expressa, deverá o incorporador, após declarar resolvido o
contrato, devolver todas as parcelas anteriormente antecipadas pelo adquirente. É vedado a ele, segun-
do prevê o artigo 53 do Código de Defesa do Consumidor, reter a totalidade dos valores já pagos pelo
adquirente, como multa ou indenização diante dos danos sofridos pelo descumprimento do contrato.
O que o incorporador poderá reter são os valores relativos aos juros e multa de mora, pelo atra-
so no pagamento das parcelas estipuladas. Além disso, poderá também descontar o valor referente à
multa compensatória ou referente ao sinal do negócio. Analisaremos no item seguinte como o Código
de Defesa do Consumidor trata essas questões. Por hora, é importante deixar claro que é vedado ao
incorporador reter a totalidade das parcelas.
Uma vez desfeito o contrato com base na cláusula resolutiva, aplica-se o disposto no artigo 42 da
Lei 4.591/64, isto é, o incorporador deverá sub-rogar-se nos direitos e obrigações contratualmente atri-
buídos ao inadimplente, com relação à construção. Isso significa que o incorporador será responsável
por garantir que a construção seja concluída, e se tornará o proprietário da unidade autônoma, até o
momento em que encontrar novo interessado. Tão logo isso ocorra, durante a construção ou após, ele
transferirá os direitos de propriedade, que obteve pela rescisão do contrato com o inadimplente, para
o novo proprietário.
Ainda referente a esse tema, é importante considerar que, para o incorporador, pode ser preferível
cobrar os valores devidos do adquirente do que declarar desfeito o contrato. Esse é geralmente o caso
quando o adquirente já pagou uma parcela significativa da incorporação e já se encontra, inclusive, na
posse da unidade autônoma. Nesse caso, não é conveniente ao incorporador rescindir o contrato, pois
ele teria que reembolsar o comprador quanto a valores significativos, e ainda seria obrigado a obter a
reintegração de posse relativa ao imóvel.
Assim, o artigo 475 do Código Civil admite uma outra possibilidade ao incorporador:
Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumpri-
mento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
Segundo o que consta desse dispositivo, o incorporador tem, ao lado da possibilidade de resolução,
já comentada, a opção de exigir o cumprimento do comprador, ou seja, de executar os valores devidos por
este. Nesses casos, o incorporador pode ingressar com medida judicial para cobrar não somente os valo-
res não pagos, devidamente atualizados conforme os índices oficiais, como também cobrar do adquirente
os prejuízos resultantes do atraso, isto é, as perdas e danos, desde que devidamente comprovados.
Também cabe destacar que, além da possibilidade de o incorporador rescindir o contrato com base
na cláusula resolutiva, deve ficar resguardada ao consumidor esta opção de rescindir o contrato, na hipó-
tese de ele entender não possuir mais condições de seguir pagando os valores devidos. Em tal caso, ele
receberá de volta os valores pagos, com o desconto referente à cláusula penal, que trataremos no item
seguinte.
apenas serão devidos caso haja necessidade de cobrança judicial dos valores não pagos, caso em que,
ao final do processo, o juiz fixará o valor cabível, geralmente entre 10% e 20% do valor da cobrança. Já
quanto às taxas, é comum que conste no contrato que fica a critério do incorporador a fixação de seus
valores. Esse tipo de previsão é nulo e sua cobrança não deve ser aceita.
Além dos encargos moratórios, podem ser previstos outras sanções de cunho penal, para o caso
em que, por inadimplemento do adquirente, seja rescindido o contrato de incorporação. Duas são as
ferramentas que costumam ser utilizadas nesse sentido: a cláusula penal e o arras ou sinal.
A cláusula penal permite cobrar do adquirente (ou reter, caso este já tenha antecipado parcelas)
um valor correspondente ao total do contrato, de forma que o incorporador possa se ressarcir dos pre-
juízos que teve ou terá por conta da extinção do contrato. Dessa maneira, a cláusula penal funciona
como uma prefixação dos danos, em um determinado percentual, permitindo que o incorporador se
ressarça dos prejuízos enfrentados. De forma a se compatibilizar com a regra do artigo 53 do Código do
Consumidor, que proíbe a retenção total das parcelas já pagas pelo consumidor, bem como a do artigo
51, IV, que considera nula as cláusulas abusivas ou exageradamente desvantajosas ao consumidor, o
valor dessa cláusula penal deverá sempre ser razoável.
Rodrigo Azevedo Toscano de Brito menciona um critério que lhe parece, nesse sentido, adequado
(2002, p. 294):
A propósito, [...], do que se tem decidido sobre o percentual que deve ser devolvido ao adquirente, verifica-se que, em
média, determina-se que o incorporador retenha apenas 10% do valor pago pelo adquirente. Entretanto, longe está
de se estabelecer uma regra geral para esses casos, uma vez que cada situação deve ser analisada separadamente, de
forma que é possível, como se viu, a retenção de percentuais maiores pelos incorporadores, porém tendo sempre em
vista a equidade, a boa-fé e a função social do contrato.
Dessa maneira, o montante de 10% pode ser considerado um valor de referência, o qual, confor-
me o caso poderá ser superior, mas sem atingir montantes exagerados, que signifiquem perda patrimo-
nial elevada ao adquirente e enriquecimento sem causa para o incorporador.
Outra forma que pode ser prevista para penalização pela rescisão do contrato é a do arras, ou
sinal de negócio. Geralmente, é comum nos contratos de incorporação imobiliária, que no momento do
ajuste preliminar, o incorporador solicite uma antecipação de valores como sinal do negócio, de forma
a se assegurar do efetivo interesse do adquirente por aquela unidade autônoma.
Esse sinal poderá ser retido pelo incorporador, caso então o adquirente desista da formalização
do negócio. Evidentemente, para que possa ocorrer essa retenção, também é necessário que o valor do
arras seja proporcional ao valor do negócio. Caso esse montante de sinal seja vultoso em relação ao
negócio como um todo (por exemplo, 30% ou 40% do negócio), será também considerada abusiva a
sua retenção total pelo incorporador. Dessa forma, o sinal do negócio a ser retido deve também estar
nos mesmos patamares da cláusula penal, referida anteriormente.
As partes podem, eventualmente, pactuar expressamente no contrato preliminar um direito de
arrependimento. Nesse caso, o adquirente poderá desistir do negócio, caso em que o sinal valerá como
a indenização cabível pela não conclusão do negócio. Porém, o incorporador não poderá cobrar do
desistente qualquer outro valor, já que constava expresso que havia o direito de arrependimento, me-
diante indenização pelo sinal do negócio, à outra parte.
É importante salientar que o arras e a cláusula penal aplicam-se a momentos distintos do contra-
to. O primeiro pode ser utilizado como indenização ainda no momento das tratativas preliminares. Já
o segundo é normalmente aplicado quando o negócio já se encontra perfeitamente constituído, mas
uma parte ou outra resolve rescindir o contrato. Dessa maneira, essas formas de compensação pelos
prejuízos causados não incidirão concomitantemente sobre um mesmo negócio, aplicando-se, confor-
me o caso, uma ou outra delas.
Segundo essa forma de construção, são os próprios adquirentes que administram todo o custeio
relativo à incorporação do imóvel. O incorporador sequer chega a receber esses valores, mas apenas
comissões sobre a administração do negócio. Os valores pagos pelos adquirentes irão para uma conta
constituída pelo condomínio dos compradores, o qual é responsável pela realização dos pagamentos.
Dessa maneira, é possível que haja atraso na conclusão das obras pela construtora pelo simples
fato de que os condôminos não vêm contribuindo regularmente para essa conta. Nesses casos, os con-
dôminos não têm como exigir o cumprimento das obrigações do incorporador ou construtor, haja vista
que somente eles são responsáveis por ditar o ritmo das obras. Claro que, se a demora resultar de atos
do incorporador ou do construtor, poderão sim os adquirentes cobrar deles os prejuízos causados.
Outra questão que cabe ainda se referir diz respeito à obrigação geral de cumprimento das cláu-
sulas contratuais pelo comprador. Assim, é possível que o contrato de incorporação estipule, além da
obrigação principal de pagamento, algumas outras obrigações que seriam cabíveis ao adquirente. En-
tre outras, é possível que seja atribuído ao adquirente o pagamento de taxas ou impostos devidos em
função da incorporação.
Em tais casos, o adquirente será obrigado a seguir todas essas obrigações previstas no contrato,
salvo na hipótese de que tais obrigações sejam consideradas abusivas ou manifestamente exageradas,
como prevê o Código do Consumidor. Tendo em vista que o contrato celebrado entre o incorporador
e o adquirente configura um contrato de adesão, isto é, um contrato no qual há pouca margem para
negociação por parte do adquirente, todas as suas cláusulas serão interpretadas no sentido de proteger
o consumidor contra atos que sejam abusivos por parte do incorporador.
Conclusão
Embora a relação entre incorporador e adquirente seja, do ponto de vista legal, altamente prote-
tiva ao adquirente, tanto pelas normas da Lei de Incorporações, quanto pelas do Código de Defesa do
Consumidor, não há dúvidas de que, como contrato bilateral, ela deve também oferecer instrumentos
adequados ao incorporador, para que este possa se proteger.
Essa proteção decorre da própria necessidade de se resguardar o empresário honesto, aquele que
conjuga uma série de esforços e recursos, dedica seu tempo, gera empregos, paga tributos e corre riscos,
para assim auferir sua renda oferecendo produtos e serviços que dão maior comodidade e conforto às
pessoas. Esse empresário, que atua de forma correta e sem abusos, merece e precisa contar com formas
de se resguardar perante pessoas que não calculam adequadamente suas possibilidades financeiras, ou
então agem manifestamente de forma a prejudicar os demais, não pagando suas obrigações nas datas
pactuadas e, dessa forma, prejudicando terceiros.
Dessa maneira, a lei procura ser clara quanto às formas pelas quais o incorporador poderá se prote-
ger dessas pessoas, seja cobrando os encargos devidos em caso de atraso, seja possibilitando a rescisão do
contrato. Cabe igualmente aos tribunais assegurarem esses direitos do incorporador, sem atuar no sentido
de proteger, indevidamente, os inadimplentes.
Texto complementar
Os juros de mora no direito do consumidor
(NUNES, 2007)
Com a entrada em vigor do novo Código Civil (CC) em 12/01/2003, surgiu um problema de
interpretação inexistente na vigência do Código Civil de 1916, em relação aos juros de mora. O que
era incontroverso, infelizmente, tornou-se polêmico por conta da redação do artigo 406 do novo
diploma legal.
[...]
Os problemas de interpretação das novas regras do CC iniciam-se na redação do artigo 406.
Segundo esta, os juros de mora são aqueles mesmos vigentes para o caso de cobrança dos juros de
mora devidos à Fazenda Nacional. Anote-se bem: o artigo 406 do NCC refere taxa de juros de mora
devidos à Fazenda Nacional e não correção monetária do valor devido.
Ora, o que são e para que servem os juros? Os juros ou remuneram o capital, por exemplo em
função de um empréstimo de dinheiro (mútuo), ou fazem o devedor remunerá-lo em decorrência
do atraso no pagamento. Juros de mora são aqueles que remuneram o atraso; os que são cobra-
dos do inadimplente.
Os juros não se confundem com correção monetária, que tem como função buscar corrigir o
valor da moeda, corroída pela inflação, no intuito de manter seu poder aquisitivo inalterado. No
Sistema Tributário Nacional, a norma que manda pagar juros de mora por inadimplência relativa a
tributos é a do artigo 161 e parágrafo 1.º, do Código Tributário Nacional.
Essa norma tem plena vigência com aplicação a todo e qualquer tributo. Desse modo, fazendo
um raciocínio lógico, tem-se que o art. 406, do CC, remete diretamente ao artigo 161 e parágrafo
1.º, do CTN, que regula os juros de mora. Por isso que eles são de 1% ao mês. Concluo, pois, que os
juros de mora em qualquer relação jurídica (o que inclui as de consumo) não podem ser superiores
a 1% a.m.
Anote-se, por fim, uma peculiaridade. Há centenas, senão milhares de ações judiciais em an-
damento, que se iniciaram na vigência do CC de 1916 e continuam ainda na vigência do novo CC, o
que impõe uma decisão sobre a incidência ou não do novo diploma legal. Penso que a aplicação é
simples: 0,5% ao mês calculado até 11/01/2003 e, a partir de 12/01/2003, 1% ao mês.
Claro que, para os casos em que por expressa previsão contratual os juros de mora haviam sido
estipulados em 1% ao mês, não há qualquer alteração. O Tribunal de Justiça de São Paulo já vem
aplicando juros de mora na vigência do novo CC pela taxa de 1% ao mês, assim como tem manda-
do calcular os juros de mora nos moldes acima, para os casos iniciados antes de sua vigência e que
ainda estão em curso.
Atividades
1. Qual a diferença entre a cláusula resolutiva expressa e a cláusula resolutiva tácita em um contrato
bilateral? Que efeitos elas geram?
Gabarito
1. A diferença entre a cláusula resolutiva expressa e a tácita está na atribuição do ônus de quem
deve requerer seus direitos em juízo. Na cláusula resolutiva expressa, esse ônus caberá à parte
que descumpriu o contrato, segundo a alegação da outra. Já na cláusula resolutiva tácita, esse
ônus ficará a cargo da parte que deseja desfazer o vínculo contratual. As duas cláusulas acarretam
o mesmo efeito, qual seja: possibilitar à parte vitimada pelo descumprimento das obrigações da
outra parte rescindir a relação contratual de forma unilateral.
2. O princípio do exceptio non adimpleti contractus significa a “exceção do contrato não cumprido”. É
uma regra jurídica básica que permite a qualquer participante de um contrato bilateral deixar de
concluir suas obrigações enquanto as da outra parte não sejam cumpridas da mesma forma.
3. V–F–V–F–F
Passemos a analisar, de forma mais aprofundada, a primeira das prestações aqui mencionadas: o
aspecto relativo à venda da fração ideal do imóvel.
mente pelo incorporador; ou através de um contrato direto entre adquirentes e construtor. Em qualquer
desses casos, são duas as formas pelas quais pode ocorrer a construção. Ambas possuem sua disciplina
expressamente regulada pela Lei 4.591/64: a construção por empreitada e a construção por administra-
ção. No item seguinte, procuraremos analisar as regras aplicáveis a cada um desses casos. Antes, porém,
cumpre verificar as regras gerais que a Lei de Incorporações prevê para qualquer tipo de construção,
independentemente de sua modalidade.
Assim, exige-se que, do contrato de construção, façam parte o projeto e o memorial descritivo
das edificações. Essa providência possui o condão de vincular o contrato com as características da cons-
trução, especificadas em tais documentos. A lei também determina que no contrato conste exatamente
o prazo de entrega das obras, bem como as condições para a eventual prorrogação desse prazo, caso
isso seja necessário.
Além disso, a lei cria dois organismos da maior importância, de modo a proteger adequadamente
os interesses dos adquirentes, antes da constituição do condomínio edilício. O primeiro deles é a assem-
bleia dos contratantes, regida pelo artigo 49 da Lei 4.591/64, e que funciona, em termos gerais, da mesma
forma que as assembleias condominiais.
As assembleias dos adquirentes podem ser convocadas por 1/3 de seus participantes, ou então
pelo incorporador ou pelo construtor, devendo em qualquer caso haver menção expressa dos assuntos
a serem tratados. Considerando que os adquirentes ainda não compartilham o mesmo espaço condo-
minial, a lei se preocupa em garantir que os participantes sejam convocados através de carta registrada
ou protocolo, com antecedência mínima de cinco dias para a primeira convocação e mais três dias, ou
seja, oito a partir da convocação, para a segunda convocação.
A instalação da assembleia se dá com, no mínimo, metade dos contratantes em primeira convo-
cação e com qualquer número em segunda convocação. Entretanto, caso o construtor ou o incorpora-
dor tenha realizado a convocação, é imprescindível que ele também compareça à assembleia. Caso te-
nham sido os próprios adquirentes que realizaram a convocação, é necessário que metade deles esteja
presente. Em outras palavras, da relação de 1/3 que assinou a convocação, é preciso que a metade, ou
seja, 1/6, se faça presente na referida reunião.
É importante salientar, por fim, que as deliberações na assembleia serão tomadas pelos votos da
maioria das frações ideais do terreno. Dessa forma, a maioria será contada não segundo o número de
votantes, mas na proporcionalidade das frações ideais que cada qual possuir.
O segundo organismo expressamente previsto para a proteção dos adquirentes é o da comis-
são de representantes. Esse órgão possui uma função da maior importância durante a construção, na
medida em que representa os interesses de todos os adquirentes. Como veremos mais adiante nesta
aula, a comissão de representantes possui maiores atribuições na construção por administração do que
naquela por empreitada. Entretanto, de uma ou outra forma, esse órgão deve zelar pelos interesses da
totalidade dos contratantes, perante o incorporador ou perante o construtor, conforme o caso.
A comissão de representantes será designada no próprio contrato de construção, ou então poderá
ser eleita pela assembleia geral, e será formada por pelo menos três membros, escolhidos entre os adqui-
rentes. É importante notarmos que, podendo a comissão ser designada no contrato, sua nomeação se
dará pelo próprio construtor. Esse aspecto, entretanto, pode gerar uma condução da formação da comis-
são pelo construtor, que acaba indicando pessoas de sua confiança, embora adquirentes, para formá-la.
Esse é, portanto, um aspecto que demanda algum cuidado no que se refere à comissão de repre-
sentantes. Abre-se aí um amplo espaço para que o construtor atue de má-fé, nomeando representantes
que lhe são submissos e que não defendam efetivamente os interesses dos compradores.
Evidentemente, essa situação não pode ser aceita, possuindo a assembleia de adquirentes am-
plos poderes para substituir os seus representantes, caso se verifique que estes não estão cumprindo
adequadamente suas funções. Diversas são as possibilidades, também, de se requerer judicialmente a
substituição dos representantes, caso não seja possível convocar-se a assembleia para tanto. Nesse sen-
tido, as normas de proteção ao consumidor, sobretudo no que se refere à proteção contra as cláusulas
consideradas abusivas ou iníquas, como previsto no artigo 51, IV, do Código do Consumidor, garantem
a possibilidade de qualquer adquirente pleitear a substituição dos representantes que não desempe-
nhem adequadamente suas funções.
A lei também estabelece, quanto à comissão de representantes, que o contrato poderá discrimi-
nar as atribuições da comissão e regular questões como a duração dos mandatos dos membros, des-
tituição e forma de preenchimento de vagas. É possível também prever, no próprio contrato de cons-
trução que, na hipótese de cessão de direitos de um determinado contrato a um terceiro, que passará
a ser o adquirente no lugar do comprador anterior, este terceiro assumirá as funções do antecessor na
comissão, salvo em caso de não aceitá-las. Em tal hipótese, deverá a assembleia eleger um substituto.
Além dessas questões relativas à representação dos interesses dos adquirentes, algumas outras
questões relativas à construção em geral, independentemente da modalidade, devem ser ressaltadas.
Primeiramente, o contrato deve prever minuciosamente de quem serão as responsabilidades com as des-
pesas com ligações de serviços públicos, tais como luz, água, entre outras. Da mesma forma, o contrato
deverá prever a quem cabem os custos relativos à instituição e regulamentação do condomínio, isto é, os
custos referentes aos registros e demais atos necessários para o devido funcionamento do condomínio.
Adicionalmente, a lei garante ao construtor a manutenção da posse do imóvel enquanto o adqui-
rente não efetuar o pagamento total das parcelas devidas, como consta do artigo 52 da Lei 4.591/64:
Art. 52. Cada contratante da construção só será imitido na posse de sua unidade se estiver em dia com as obrigações
assumidas, inclusive as relativas à construção exercendo o construtor e o condomínio até então, o direito de retenção
sobre a respectiva unidade; no caso do art. 43, este direito será exercido pelo incorporador.
São essas, portanto, as previsões gerais referentes à construção do edifício. Cabe, em seguida,
analisar cada uma das modalidades específicas de construção e verificar de que forma podem ser apli-
cadas suas regras.
Modalidades de construção
contratação do incorporador ou do construtor, o qual então se encarregará de toda a obra, sendo ele
o responsável pela administração dos recursos, respeito aos prazos e entrega do imóvel, devidamente
levantado segundo as especificações constantes do projeto.
Na forma de construção por empreitada, portanto, o incorporador ou o construtor assumem pe-
rante os adquirentes a responsabilidade de levantar o prédio, como constante do projeto da incorpora-
ção. Para tanto, possuirá o construtor ampla autonomia para a realização dos trabalhos.
A empreitada poderá ser de duas formas: por preço fixo ou por preço reajustável. Na primeira
hipótese, o incorporador não possui qualquer direito a exigir acréscimos no preço. Este será definido
originalmente no contrato de construção, independentemente das variações que o custo efetivo das
obras venha a sofrer.
Já na segunda hipótese, de preço reajustável, o construtor deverá fixar as épocas e as condições
pelas quais os valores poderão ser reajustados, em função dos índices adotados para tanto. Caso a
opção seja pela empreitada a preço reajustável, é necessário que haja cláusula clara a respeito no con-
trato. Do contrário, presume-se que a construção foi contratada a preço fixo.
Dessa forma, pela construção por empreitada, seja a preço fixo ou reajustável, o construtor rece-
berá o valor total referente à construção e, com base nele, deverá custear toda a obra. Em outras pala-
vras, a remuneração do incorporador corresponderá à margem, resultante da diferença entre o preço
contratado e as despesas que venha a enfrentar. Caso não calcule adequadamente as despesas, é pos-
sível que venha a enfrentar prejuízos em decorrência da construção.
Nessa modalidade de construção, a comissão de representantes deve fiscalizar o andamento da
obra e a obediência ao projeto e às especificações indicadas originalmente pelo incorporador. Caso o
contrato seja por preço reajustável, a comissão de representantes deverá também fiscalizar os cálculos
de reajustamento, que deverão ser elaborados pelo incorporador ou construtor. Dessa maneira, os re-
presentantes possuem uma grande responsabilidade, perante os demais compradores, no que se refere
ao controle dos preços do contrato e ao cumprimento das obrigações do incorporador.
É importante notar ainda que em toda a publicidade ou propaganda escrita, veiculada pelo incor-
porador, deverá ser expressamente discriminado o preço da fração ideal do terreno e aquele relativo à
construção, sendo que, com relação a este, também devem constar os critérios de reajuste permitidos.
Tais informações devem, também, constar de todos os documentos relativos à incorporação, tais como
cartas, propostas, catálogos, escrituras ou contratos.
gindo as necessidades e despesas a ela referentes. Em função disso, o construtor não possuirá a mesma
autonomia, mas, ao contrário, vincula-se às determinações dos adquirentes, que deverão tomar uma
série de decisões ao longo da construção, sobretudo como forma de administrar os custos que eles
mesmos deverão suportar.
Diante dessa administração pelos adquirentes, é evidente que a comissão de representantes pos-
sui, nesse caso, maior relevância. Nos termos do artigo 61 da Lei 4.591/64, ela terá poderes para, em
nome de todos os adquirentes, examinar os balancetes do construtor, relativos aos recebimentos e des-
pesas do condomínio dos contratantes, aprovando-os ou impugnando-os; fiscalizar questões relativas
às compras de materiais ou serviços relativos à obra; contratar, em nome do condomínio, com qual-
quer condômino, as modificações que este solicite em sua unidade, que devam ser administradas pelo
construtor; fiscalizar a arrecadação das contribuições para a construção e exercer as demais obrigações
inerentes a sua função representativa dos contratantes e fiscalizadora da construção.
Além disso, é necessário que a comunhão dos adquirentes faça a administração dos recursos, inclusi-
ve mediante abertura de conta bancária do condomínio e movimentação de todos os recursos envolvidos.
Serão os próprios adquirentes que conduzirão todos os pagamentos, na forma que constar no contrato, e
caso o construtor receba recursos para realizar despesas em nome do condomínio, deverá prestar contas
a este.
Como forma de evitar a confusão entre as despesas decorrentes das diversas construções levadas
a cabo conjuntamente pelo construtor, é da maior relevância, e a lei expressamente assim determina,
que as notas, faturas, recibos e duplicatas apresentadas pelo incorporador constem em nome do con-
domínio dos adquirentes. Dessa forma, estes poderão controlar, com maior rigor, as contas apresenta-
das pelo construtor.
Do contrato de construção por administração também deverá constar o valor relativo ao orça-
mento do custo da obra, na época da celebração do contrato. Dessa maneira, a lei prevê que, pelo me-
nos a cada seis meses, a comissão de representantes, em conjunto com o construtor, efetue revisões
nas estimativas de custos. Assim, as partes poderão eventualmente decidir por reajustes, caso eles se
mostrem necessários no âmbito do contrato.
Esses reajustes, entretanto, devem ser previamente previstos no contrato. Assim, os contratos de
construção deverão, necessariamente, prever as possibilidades de alterações em relação ao orçamento
inicial da obra, indicando se poderá haver variações no valor total, no número de parcelas, no valor des-
tas ou nas datas de pagamento das prestações. É importante, além disso, atentar para a regra constante
do parágrafo único do artigo 60 da Lei de Incorporações:
Art. 60, Parágrafo único. Em caso de majoração de prestações, o novo esquema deverá ser comunicado aos contratan-
tes, com antecedência mínima de 45 dias da data em que deverão ser efetuados os depósitos das primeiras prestações
alteradas.
Assim, os adquirentes possuem uma garantia, visando sua programação quanto a eventuais rea-
justes, de 45 dias.
Para o caso da construção por administração, aplicam-se também as regras quanto à publicidade ou
propaganda escrita. Em tais casos, deve haver a discriminação entre o valor da fração ideal do terreno e o
orçamento atualizado do custo da construção, tendo em vista que nesse caso não há um preço definido
anteriormente. De todo o modo, também para essa modalidade aplicam-se as regras do contrato de em-
preitada, devendo essa discriminação estender-se também aos demais documentos da incorporação.
Não é possível afirmar de antemão qual seria o regime mais favorável aos adquirentes. A constru-
ção por empreitada tem sido predominante, sobretudo pela maior praticidade que existe em relação ao
adquirente, em função da desnecessidade de administrar recursos e controlar os gastos do construtor.
Entretanto, justamente por esse aspecto, a construção por administração pode apontar vantagens, pois
permite uma maior transparência nas despesas, inibindo o construtor ou incorporador de lançar, sobre
o valor da empreitada, uma margem excessiva.
Conclusão
Quando se fala em construção, no âmbito do estudo das incorporações, verifica-se que o centro
de imputação das responsabilidades é alterado, do incorporador para o construtor. Entretanto, é muito
importante considerar que ambos podem ser, e o são em muitos casos, a mesma pessoa. Além disso,
sobretudo na forma de construção por empreitada, é comum que o incorporador contrate o construtor.
Dessa forma, perante os adquirentes, apenas o incorporador será o responsável, e o construtor será um
mero subcontratado do incorporador. Caso sejam causados danos aos adquirentes, o incorporador de-
verá ressarci-los e depois, se verificada a responsabilidade do construtor, exercer o chamado direito de
regresso, isto é, cobrar do construtor os danos que teve em virtude de sua responsabilização.
É evidente que a construção do prédio ou edifício onde será instalado o condomínio edilício en-
volve uma série de responsabilidades. A Lei 4.591/64, apesar de sua antiguidade, trata com bastante
cuidado as responsabilidades do construtor, em cada uma das modalidades previstas.
Desse modo, cumpre conhecê-las de forma ampla, para que se possa analisar, em todos os casos
de incorporações, se as responsabilidades do construtor e do incorporador, bem como também aque-
las dos adquirentes quanto aos pagamentos e quanto à fiscalização das obras, vêm sendo conduzidas
adequadamente. Apenas desse modo será possível propiciar maior segurança e eficácia a todos esses
empreendimentos imobiliários.
Texto complementar
Construção por empreitada: o que é
Entendendo esse regime de construção
A construção por empreitada ou a preço fechado é aquela que, comumente, vemos nos gran-
des anúncios dos classificados, ou naqueles folhetinhos que recebemos nos sinais de trânsito. O
que eles oferecem são apartamentos prontos ou em construção, padronizados, cujo projeto foi feito
sem levar em conta a opinião de quem vai comprar. O valor que você irá pagar por ele é prefixado,
e só pode ser corrigido, no caso das prestações, por algum índice preestabelecido em contrato. Se
as obras estourarem o orçamento, ou tiverem algum problema e a sua parte já estiver cumprida,
você não deve pagar mais nada além do que já foi acertado. Atenção com a garantia e a solidez da
construtora para evitar problemas na entrega.
Mas isso não quer dizer que a obra por empreitada seja necessariamente aquela em cuja defini-
ção o cliente não participa. “Construção por empreitada” é tão somente um regime de contratação
de uma empresa para a realização de um serviço, que no caso dos folhetinhos dos sinais de trânsito
já está sendo realizado.
Você pode também contratar uma construtora em regime de empreitada para realizar qual-
quer serviço para você, e pagar por isso da mesma forma como pagaria por um desses apartamen-
tos em prédios em construção. Porque obra por empreitada é aquela que define claramente uma
etapa, um determinado serviço, ou mesmo uma obra completa, mediante um pagamento predefi-
nido, cujo valor pode ou não ser corrigido, e poderá ser por preço unitário ou preço global. Ou seja,
poderá ser uma empreitada parcial ou global.
Por exemplo: você pode contratar o revestimento em azulejos de uma piscina por um determi-
nado valor, ou pode contratar o mesmo serviço por metro quadrado de azulejo. A sua parede ficará
igualmente revestida de azulejos nos dois casos, mas com o preço unitário definido você poderá
fazer acertos nos valores, em função das quantidades a acrescentar.
Normalmente, a empreitada representa um custo maior que o outro regime de contratação, que
é o de administração. Este, embora tenha o custo mais baixo, transfere os riscos para quem contrata.
Porém, existem obras em que um sistema pode ser mais vantajoso que o outro, e diversos fatores
poderão interferir na escolha.
Atividades
1. Marque a soma das alternativas corretas:
(01) A construção é parte acessória na incorporação, sendo o lançamento a parte principal e
mais onerosa.
(02) É lícito alguns adquirentes recorrerem a instituições financeiras para auxiliar no pagamento
da construção.
(04) A atividade da incorporação pressupõe a transmissão da propriedade da fração ideal do
imóvel sobre o qual vai se discriminar a unidade autônoma.
(08) A incorporação pode envolver não só a construção de um edifício, como também de qual-
quer outra estrutura dividida em unidades autônomas, térrea ou assobradada.
(16) A tarefa de construir é sempre responsabilidade do incorporador.
( ) Soma
2. Qual a diferença entre a construção por empreitada por preço fixo e por preço reajustável?
3. Quais são os organismos criados pela Lei das Incorporações para proteger os interesses dos ad-
quirentes antes da constituição do condomínio edilício?
Gabarito
1. 14
2. Na construção por empreitada por preço fixo, o incorporador não possui qualquer direito a exigir
acréscimos no preço, que será aquele que foi previamente definido no contrato de construção,
independentemente das variações que o custo efetivo das obras venha a sofrer. Diferentemente,
no preço reajustável, o construtor fixará as épocas e as condições pelas quais os valores poderão
ser reajustados, em função dos índices adotados para tanto, devendo constar cláusula própria em
contrato, se a opção for pelo preço reajustável, senão presume-se que a construção foi contratada
a preço fixo.
3. O primeiro organismo que a lei cria para proteger o adquirente antes da constituição do condomí-
nio edilício é a assembleia dos contratantes que funciona da mesma maneira que as assembleias
condominiais, podendo ser convocada por um terço de seus participantes, pelo incorporador ou
pelo construtor. O outro organismo criado pela lei é a comissão de representantes, que possui fun-
ção de extrema importância durante a construção, representando os interesses dos adquirentes.
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Infrações e penalidades
Introdução
A Lei de Condomínios e Incorporações, ao ser criada, preocupou-se em especial com a situação
dos adquirentes das unidades autônomas, que se encontravam em desamparo ante alguns incorpora-
dores. Mas, por outro lado, preocupou-se também com estes, na medida em que, muitas vezes, eram
vítimas de compradores impontuais ou inadimplentes, prejudicando assim o negócio como um todo.
Foi com o intuito de melhorar as relações entre tais sujeitos nas operações imobiliárias, punindo
incorporadores e adquirentes que atuassem de forma desonesta ou imprudente, ou incorporadores que
se utilizassem de meios ilícitos para se aproveitar da posição mais frágil em que o adquirente se encon-
trava, que surgiu a Lei 4.591 em 1964. Essa lei vetou a inserção de determinadas cláusulas prejudiciais ao
adquirente no contrato e também estabeleceu uma relação de infrações cometidas durante a atividade
incorporativa. Assim, na sua parte final, a lei cuidou de prever algumas penalidades cabíveis em casos es-
pecíficos, como meio de inibir a desordem e punir a irresponsabilidade nas incorporações imobiliárias.
Com relação à necessidade e à função das sanções, ou seja, das penalidades, Caio Mário da Silva
Pereira (1991, p. 323-324) ensina:
[...] a sanção é necessária, seja como técnica de intimidação, seja como arma de que se utiliza o prejudicado, para cha-
mar o contraventor à ordem. Tem, pois, dupla função, preventiva e punitiva. Vale como meio de defesa, em qualquer
caso. Ora traduz ameaça ao infrator potencial, alertando-o para o fato de que pode ser castigado se vier a ofender a
disposição da lei, ora significa o estabelecimento de um sistema repressivo por via do qual os rigores da norma são
levados àquele que se afastar do comportamento normal.
Tendo em vista que os contratos de incorporação imobiliária caracterizam-se pela sua bilaterali-
dade, é importante frisar que a lei impõe sanções para ambas as partes do contrato, não sendo somente
dever do incorporador ou construtor observar tais regras, mas também do adquirente.
A presente aula tem como objetivo principal analisar o Capítulo IV do Título II da Lei 4.591/64, que
diz respeito às infrações previstas para os casos em que o incorporador ou o adquirente atuem de forma
contrária ao que a lei preceitua, bem como as penalidades aplicáveis a cada caso.
Assim, caso o comprador deixe de pagar três prestações referentes ao contrato de construção,
e caso, mesmo após ser notificado, não realize tais pagamentos no prazo de dez dias, ele perderá seus
direitos não só sobre a parte construída, mas inclusive sobre a propriedade ou sobre os direitos para
aquisição futura da propriedade.
É importante assinalar que essa possibilidade refere-se, apenas, ao caso de o comprador deixar
de pagar parcelas referentes aos valores contratados pela construção. No que se refere à falta de paga-
mento estipulado no contrato de promessa de compra e venda da unidade autônoma a ser construída
por conta e risco do incorporador, a regra do artigo 63 não se aplica. Assim, e de acordo com João Nasci-
mento Franco e Nisske Gondo (1991, p. 193), somente se configura como infração a falta de pagamento
no “preço da construção”. No caso de compra e venda de imóvel, essa regra não se aplicaria. Segundo
tais autores:
Nesse tipo de contrato [de compra e venda de coisa futura a ser construída pelo incorporador], a falta de pagamento e
demais infrações cometidas pelo comprador são puníveis de conformidade com as cláusulas ajustadas entre as partes,
ou, se forem omissas, segundo as disposições de direito comum, relativas às rescisões dos contratos bilaterais em geral
e, particularmente, dos compromissos de venda e compra de imóveis não loteados.
do imóvel e da construção serão adquiridos pela comunhão formada por esses adquirentes, pelo valor
que o terceiro havia oferecido.
Dessa maneira, em condições de igualdade de oferta com terceiros, o condomínio pode optar por
ele mesmo realizar a aquisição desses direitos. Caso, após esse leilão, haja sobras decorrentes do resul-
tado da venda, elas deverão ser devolvidas ao antigo adquirente. Este, portanto, deverá apenas arcar
com as despesas normais decorrentes dos prejuízos que causou pela sua mora, tais como honorários
advocatícios, anúncios, 5% de comissão e 10% de multa compensatória, mas não deve perder a totalida-
de dos valores que já tenha aportado à construção, caso tenha sido possível ao condomínio obter esses
valores de um terceiro, através da venda da fração ideal do imóvel.
Até aqui, nesse item, deu-se ênfase para a pena mais severa que o adquirente pode sofrer pelo
não pagamento das prestações, qual seja, a perda de seus direitos à unidade autônoma. Mas essa não
é a única sanção que pode ser estabelecida. Também não se entende ser razoável que o comprador
comece, de imediato, a sofrer os seus rigores.
Assim, não precisa o construtor esperar pelas três prestações não pagas para então buscar impor
a penalidade mais severa ao adquirente. Uma possibilidade é a estipulação em contrato de outras san-
ções, antes de se aplicar a pena máxima imposta pela lei. Assim, poderão ser estipuladas em contrato
multas e juros de mora, caso ocorra o atraso no pagamento, independentemente da previsão de cláu-
sula resolutiva no contrato, na forma prevista pelo artigo 63.
No entendimento de João Nascimento Franco e Nisske Gondo (1991, p. 202), em razão da relevân-
cia das funções fiscalizadoras que desempenham, cumpre aos membros da comissão de representantes
serem exemplares no cumprimento das prestações e, principalmente, no que diz respeito à quitação
das parcelas devidas.
Assim, tendo em vista a dupla função confiada ao membro da comissão, qual seja, de fiscalização
e representação dos futuros condôminos, este deve seguir rigorosamente as condições do contrato, no
que se refere ao cumprimento das prestações pecuniárias que se obriga perante o condomínio.
É evidente que, além da perda do mandato, o representante que deixar de pagar mais de três
prestações poderá também ter seu contrato rescindido, como todos os demais adquirentes.
É importante considerar que as condutas definidas como crimes possuem sanções mais severas,
via de regra, do que os ilícitos civis. Os crimes representam ofensa não apenas a uma outra pessoa, mas
à coletividade, a toda a sociedade. Assim, a lei geralmente prevê penas de prisão (reclusão), multas ou
prestação de serviços à comunidade em caso de condenação criminal. Por outro lado, as sanções civis
referem-se, geralmente, apenas à necessidade de reparar os prejuízos causados, ou seja, de pagar pelos
danos que foram cometidos.
Seguindo os ensinamentos de Caio Mário da Silva Pereira (1991, p. 334-335), existem dois aspec-
tos diferentes no que diz respeito às penas que o incorporador pode vir a sofrer, tendo em vista seu
comportamento. O primeiro aspecto diz respeito à condição de parte em um contrato bilateral; já o
segundo aspecto engloba a função social da atividade que o incorporador desempenha.
Assim, como parte no contrato, o incorporador deve seguir rigorosamente o que foi estipulado,
sendo obrigado a executar o que foi ajustado, com fidelidade aos projetos e planos, tendo em vista que
foi a partir deles que o adquirente firmou proposta e celebrou o contrato.
Deve, ainda, respeitar com rigor os esquemas financeiros previamente estabelecidos, uma vez
que foi a partir deles que o comprador aceitou os encargos de pagar as prestações. Além disso, deve
o incorporador se ater à irreajustabilidade do preço, salvo se a revisão foi expressamente acordada em
contrato. Assim, como parte em um contrato bilateral, tanto o incorporador quanto o construtor estão
sujeitos ao que foi estipulado e sofrerão as penalidades contratuais no caso de não observância das
obrigações.
Já quanto ao segundo aspecto, que envolve o comportamento social do incorporador, ele se obri-
ga ao cumprimento de seus deveres, tendo em vista o fato de mobilizar capital alheio, atuando no plano
da economia popular. Considerando toda a publicidade e propaganda que realiza, sua atividade extra-
pola o âmbito meramente contratual. Assim, ele oferece seus serviços ao público em geral e, na frustra-
ção dos resultados, o impacto e o prejuízo alcançam não só a uma pessoa, mas a toda comunidade.
É seguindo esse pensamento que a Lei 4.591/64 prevê a imposição de penas contra o construtor
e o incorporador, com a finalidade de reprimir atitudes que infrinjam as normas de extensão social.
Dessa maneira, o artigo 65 considera crime contra a economia popular a promoção, ou seja, a pu-
blicidade da incorporação em que se faça afirmação falsa sobre a construção do condomínio, alienação
das frações ideais do terreno ou sobre a construção das edificações. Tais afirmações podem constar em
propostas, contratos ou prospectos ou ainda em comunicações ao público ou aos interessados.
Em tais casos, o legislador prevê a pena de um a quatro anos e, também, multa de cinco a cinquenta
vezes o maior salário mínimo legal em vigência no país. Segundo a Lei 4.591/64, a conduta criminosa
está no fato de se transmitir informações de maneira incorreta a respeito da incorporação que está
sendo anunciada ou que está em andamento, independente de o incorporador ter ou não a intenção
de prejudicar os adquirentes. Desse modo, tendo em vista que a incorporação engloba uma enorme
concentração de recursos, a lei obriga que sejam totalmente claras as informações prestadas.
Como Caio Mário da Silva Pereira bem expõe (1991, p. 336), o incorporador poderá cometer a
falta de duas maneiras possíveis: por ação, ao deturpar os fatos, deformando os elementos e alterando
os dados, levando ao conhecimento do público uma situação que não corresponde à realidade; ou
ainda por omissão, ao sonegar informações, omitindo esclarecimentos que deveria prestar, levando os
adquirentes a imaginar uma situação inexistente em razão da falta de elucidação. Portanto, o infrator
pagará não somente com a pena de reclusão, como também mediante uma sanção pecuniária, isto é,
multa, baseada no salário mínimo.
O parágrafo 1.º do artigo 65 traz, em seus incisos I e II, a discriminação das pessoas que incorrerão
na mesma pena. Desse modo, o incorporador, o corretor, o construtor, assim como os diretores ou ge-
rentes de empresa coletiva incorporadora que fizerem afirmação falsa sobre a constituição do condomí-
nio, sobre a alienação das frações ideais ou sobre a construção das edificações, serão punidos mediante
a imposição da mesma pena.
Também se aplica essa pena no caso de o incorporador, o corretor e o construtor individuais, bem
como os diretores ou gerentes de empresa coletiva, incorporadora, corretora ou construtora usarem
bens ou haveres destinados à incorporação contratada por administração, sem a prévia autorização dos
interessados, ainda que a título de empréstimo, em proveito próprio ou de terceiros.
Além desse crime previsto no artigo 65, a Lei de Incorporações prevê ainda algumas contravenções
penais, no artigo 66. As contravenções penais são consideradas condutas menos graves que os crimes.
Por essa razão, em tais casos não há imposição de pena de prisão (reclusão), mas tão somente a multa, de
5 a 20 salários mínimos. Assim, são as seguintes as condutas consideradas contravenções penais:
::: negociar o incorporador frações ideais de terreno, sem previamente satisfazer às exigências
constantes da lei;
::: omitir o incorporador, em qualquer documento preliminar de ajuste, as indicações de ônus
reais ou fiscais ou a eventual ocupação do imóvel;
::: deixar o incorporador, no prazo legal após o período de carência ou assinatura do documento
de ajuste preliminar, e sem justa causa, de promover a celebração do contrato relativo à fração
ideal de terreno, do contrato de construção ou da convenção do condomínio;
::: omitir o incorporador, no contrato, o montante do orçamento atualizado da obra, no caso da
construção por empreitada;
::: paralisar o incorporador a obra, por mais de 30 dias, ou retardar-lhe excessivamente o anda-
mento, sem justa causa.
Nas incorporações em que o incorporador não participa dos contratos relativos à construção
ou outros contratos, poderão responder pelas faltas cometidas também o construtor, o corretor,
o proprietário ou titular de direitos aquisitivos do terreno, desde que estes figurem no contrato. Em
todos esses casos, essas pessoas podem exercer o chamado direito de regresso, isto é, podem cobrar a
responsabilidade do incorporador, caso as faltas a que eles sejam condenados decorram de condutas
realizadas pelo próprio incorporador.
Sobre essa regra, prevista no mencionado parágrafo único do artigo 66, Caio Mário da Silva Pereira
(1991, p. 340) faz a seguinte crítica:
A redação do preceito, que vem expresso no parágrafo único, do artigo 66, é infeliz, pela extensão e pelas remissões ora
a um, ora a outro dos responsáveis. Bastaria, para sentenciar com singeleza, que estendesse às pessoas mencionadas
o rigor punitivo, uma vez provado que a qualquer delas se deva a contravenção, sem importar se é ou não parte no
contrato.
Conclusão
Após toda essa análise das infrações previstas pela lei, quanto às condutas realizadas por incorpo-
radores, adquirentes e veículos de comunicação, fica fácil perceber a preocupação quanto à criação de
um ambiente mais transparente e respeitoso em relação às garantias de cada parte.
Esse é o objetivo central da Lei 4.591/64, a qual, embora proteja principalmente o adquirente, não
deixa de trazer garantias bastante claras ao incorporador, considerando que sua atividade interessa a
uma pluralidade de pessoas.
Dessa forma, o capítulo relativo às infrações, no âmbito da referida lei, vem apenas complementar
toda uma disciplina concebida com vistas a estabelecer relações adequadas e positivas para as partes.
De todo o modo, mais do que as previsões legais ou contratuais, é principalmente a conduta de cada
participante nessa atividade que determinará a qualidade de seus resultados e a satisfação de todos.
Texto complementar
Considerações sobre inadimplência de contratos
firmados com base na Lei Federal 4.591/64
(SILVEIRA, 2007)
A Lei Federal 4.591, de 16 de dezembro de 1964, dispõe sobre o condomínio em edificações e
as incorporações imobiliárias, a qual revogou o Decreto 5.481, de 25 de junho de 1928. Decorridos
42 anos de sua vigência, foi tempo suficiente para submetê-la ao crivo da experiência.
E, no balanço de seus benefícios e de suas falhas, o saldo lhe é favorável.
Ela não foi perfeita. Nenhuma obra jamais o será. Padece dos defeitos, das deficiências, das im-
perfeições advindas da contingência humana, pois os fatos transcendem mais rápido do que as leis,
estas, ficam para trás em função dos fatos que ocorrem no dia a dia do mundo jurídico.
A referida lei federal, ainda que promulgada nos idos de 1964, até hoje, oferece o conceito de
condomínio como: “as edificações ou conjuntos de edificações, de um ou mais pavimentos, construí-
dos sobre a forma de unidades isoladas entre si, destinadas a fins residenciais ou não residenciais.”
Toda lei é dotada de sanção, embora a intensidade desta varie, o que suscitou mesmo distribuí-
-las em perfeitas, menos que perfeitas e imperfeitas.
Em termos de incorporação e construção de edifícios, antes da Lei 4.591/64 imperavam a de-
sordem e a irresponsabilidade. A atual lei que rege as incorporações imobiliárias construiu a figu-
ra do incorporador e definiu os seus deveres. Mas sentiu-se a falta de sanções expressas, sempre
nos parecendo que a omissão era uma falha imperdoável do legislador. Interessado e experiente,
o incorporador inseria no contrato cláusulas defensivas de seus interesses e criava uma técnica de
autoproteção, de que extraía os meios necessários a se resguardar contra o inadimplemento das
obrigações do adquirente. Sendo, porém, convencionais as penas e instituídas pelo incorporador,
não tratava este de catalogar punições para si próprio. E, de conseguinte, ficava o adquirente à mer-
cê da outra parte, correndo a sorte de sua honorabilidade.
A Lei do Condomínio e Incorporações atribuiu a maior importância ao fato, e não olvidou que
a sanção é necessária, seja como técnica de intimidação, seja como arma de que se utiliza o prejudi-
cado, para chamar o contraventor à ordem.
Tem, pois, a dupla função, preventiva e punitiva. Vale como meio de defesa, em qualquer caso.
Ora traduz ameaça ao infrator potencial, alertando-o para o fato de que pode ser castigado se vier
a ofender a disposição da lei, ora significa o estabelecimento de um sistema repressivo por via do
qual os rigores da norma são levados àquele que se afastar do comportamento normal. Não esque-
cendo, entretanto, da bilateralidade do contrato, cogitou de prever sanções igualmente bilaterais,
dessa maneira alertando ambos os contratantes, em relação à obrigatoriedade das avenças e dever
de observá-las.
Atividades
1. Qual a consequência estipulada pela lei quanto à falta de pagamento das prestações das parcelas
relativas à construção na incorporação imobiliária acarreta?
2. Relacione as colunas:
c) Publicação de anúncios (( Aquele que incorrer nessa falta está sujeito ao pa-
em desacordo com a lei. gamento de multa correspondente ao dobro do
preço pago pelo anunciante.
d) Proteção criminal (( Para esse caso, poderá ser realizada a venda dos
aos adquirentes. direitos sobre o imóvel, visando a liquidação do
débito.
3. Explique qual o sentido da pena prevista aos órgãos de informação e publicidade, prevista na Lei
4.591/64?
Gabarito
1. A falta de pagamento das prestações por um ou mais adquirentes de unidades autônomas na in-
corporação imobiliária pode causar atrasos na construção e, consequentemente, na entrega das
unidades aos compradores. Por essa razão, a Lei 4.591/64 estipula, em seu artigo 63, sanções para
os casos de não pagamento das obrigações assumidas pelo adquirente; assim, se este deixar de
pagar três prestações, poderá ser notificado para realização do pagamento no prazo de dez dias.
Caso não venha a satisfazer o débito, poderá perder os direitos tanto sobre a parte construída
como sobre a propriedade da fração ideal.
2. B–D–C–A
3. O objetivo buscado pela lei, ao prever uma multa correspondente ao dobro do valor pago pelo
anunciante, é assegurar que tais órgãos também fiscalizem as informações mínimas exigidas na
publicidade de incorporações, quais sejam: a) número do registro da incorporação (art. 32, §3.º);
b) discriminação do preço da fração ideal do terreno e da construção (art. 56); e c) referência à
atualização do custo originalmente orçado (art. 62).
Este material é parte integrante do acervo do IESDE BRASIL S.A.,
mais informações www.iesde.com.br
Condomínios, incorporações
e sistemas legislativos
Introdução
Para que se possa alcançar um panorama completo quanto à regulação jurídica dos condomínios
edilícios e das incorporações, é preciso, além de estudar com minúcias as leis aplicáveis diretamente ao
tema, também verificar com bastante cuidado todos os demais diplomas legais que contêm dispositi-
vos que incidem sobre tais matérias. Em outras palavras, é da maior importância, além de se realizar um
exame microscópico sobre cada uma das regras que atingem esses temas, também ter acesso a uma
verificação geral sobre toda uma série de leis que, indiretamente, dispõem sobre questões relativas ao
condomínio e às incorporações.
O objetivo desta aula é, portanto, propiciar essa análise genérica. Procuraremos nos referir, ao
longo da aula, a boa parte das leis e dispositivos legais que regulam a situação dos condomínios e das
incorporações, como forma de permitir a compreensão mais ampla sobre o tema.
Nesse sentido, verificaremos, primeiramente, em rápida passagem, as regras diretamente aplicá-
veis aos condomínios e incorporações imobiliárias. Posteriormente, abordaremos uma série de legisla-
ções específicas, direta ou indiretamente relacionadas com os temas dos condomínios e das incorpora-
ções. Com essa abordagem panorâmica, espera-se facilitar a compreensão do tema como um todo.
ou de outros direitos reais, já existe desde o direito romano e foi sendo transmitida ao longo da evolu-
ção jurídica, até a época moderna.
Durante os séculos XIX e XX, surgiu a época das grandes codificações. Em diversos países, enten-
deu-se possível regular toda a disciplina jurídica em alguns grandes códigos, que tratariam de todas as
matérias. Assim, os códigos civis reuniam uma infinidade de matérias diversas, desde questões relativas
ao direito de família e sucessões até regulações concernentes aos contratos e aos direitos reais, isto é,
à propriedade, ao usufruto, às servidões, entre outros. Nesse âmbito, encontravam-se também disposi-
ções relativas aos condomínios.
Assim, no Brasil, o nosso primeiro Código Civil, promulgado em 1916, continha um capítulo relati-
vo aos condomínios em geral, regulando todas as questões a ele referentes, nos artigos 623 a 646. Entre-
tanto, tendo em vista o enorme número de matérias abordadas, o Código de 1916 foi ficando bastante
desatualizado ao longo das décadas. Diversas foram as tentativas de atualizar sua disciplina.
No início dos anos 1970, surgiu o projeto de um novo Código Civil. Após mais de 20 anos de tra-
mitação no Congresso Nacional, ele foi finalmente aprovado no ano de 2001, tendo sido publicado em
2002 e entrando em vigor no início de 2003. Quanto aos condomínios em geral, previu uma disciplina
semelhante em termos gerais àquela prevista pelo Código anterior. Atualizou alguns aspectos relativos
ao tema, modificando ou simplificando algumas questões, mas de um modo geral, manteve a mesma
estrutura relativa ao tema.
A grande novidade, porém, adveio da introdução, nesse Código, da disciplina relativa ao condo-
mínio edilício. Com isso, inseriu-se na própria regulação do Código Civil, que trata das questões gerais
relativas ao Direito Civil, um tema que anteriormente apenas vinha sendo tratado através de legislações
esparsas.
Isso havia ocorrido ainda pouco tempo após a introdução do Código de 1916. Com o gradual cresci-
mento das cidades e a tendência de construção de imóveis com destinações para mais de uma família, ve-
rificou-se a necessidade de regular adequadamente essa questão. O Código Civil antigo, ao prever regras
gerais quanto aos condomínios, não dava conta dessa utilização mais específica de uso da propriedade,
em que se harmonizavam áreas comuns e áreas privadas. Suas regras, embora se aplicassem ao caso, não
especificavam com o rigor necessário essa diferenciação. Surgiu então, em 1928, o Decreto 5.481, que pela
primeira vez em nosso país tratou, ainda que de maneira tímida, da disciplina da propriedade horizontal.
Ao longo das décadas seguintes, essa regulação foi se mostrando insuficiente quanto ao tema
dos condomínios por pisos horizontais. Ao longo dos anos 1950 e início dos anos 1960, percebeu-se que
a disseminação dessa forma de compartilhamento da propriedade exigia uma disciplina mais completa
e moderna.
Surgiu, então, a Lei 4.591/64, que tratava não só dos condomínios edilícios, como também das
incorporações, objeto de análise no item seguinte. Quanto aos condomínios, essa disciplina continua
teoricamente em vigor mas, com o advento da regulação do Código Civil de 2002 sobre os condomínios
edilícios, ela se tornou, em sua maior parte, inaplicável. Entretanto, alguns poucos dispositivos dessa lei,
que não confrontam diretamente com o Código Civil, permanecem válidos. É o caso, por exemplo, do
artigo 8.º, que trata de outras formas de propriedade horizontal além do edifício, ou então dos artigos
13 e seguintes, que se referem a temas como o do seguro de incêndio a ser contratado.
De resto, prevalece quanto aos condomínios edilícios a disciplina jurídica prevista no novo Códi-
go Civil, derrogando-se as disposições sobre o tema que constavam da Lei 4.591/64. No entanto, como
se verá a seguir, essa lei permanece plenamente válida no que se refere às incorporações imobiliárias.
Assim, pouco a pouco, a normativa relacionada a esse tema ganhou mais e mais apoio e foi sendo
aceita pelos diversos atores envolvidos. Dessa maneira, atualmente, ela vige e aplica-se amplamente às incor-
porações imobiliárias, embora ainda se verifiquem casos de desrespeito aos procedimentos nela previstos.
Por outro lado, nota-se que, cada vez mais, a legislação introduzida em 1964 vai ficando ultra-
passada, demandando atualizações. O Código Civil de 2002 deixou de prever uma disciplina específica
para o contrato de incorporação e mesmo para a atividade incorporativa em geral. Dessa forma, muito
se discute sobre a eventual conveniência de se introduzir uma legislação completamente nova sobre o
tema, em substituição à existente.
Enquanto não se realiza uma discussão ampla sobre o tema, uma questão em especial chamou a
atenção ao longo dos anos 1990. Diz respeito à situação precária que os adquirentes se encontram em
relação à gestão dos recursos de sua obra pelo incorporador. Esse problema diz respeito, sobretudo, ao
caso de construções por empreitada, mas também envolve as chamadas construções a preço de custo,
ou construções por administração.
Tais problemas ficaram mais evidentes com a ampla cobertura jornalística do caso Encol, empresa
cuja falência acarretou prejuízos consideráveis a uma série de pessoas, que investiram seus recursos na
Lei de Locações
A Lei 8.245/91 trouxe uma disciplina ampla e abrangente para as situações relativas às locações
de imóveis. Nesse sentido, ela substitui a antiga Lei do Inquilinato (Decreto 24.150/34), além de uma
série de outras leis relativas ao tema que, anteriormente, haviam disposto sobre a matéria.
A Lei de Locações trata de questões gerais referentes às relações entre os locadores, os proprie-
tários, e os locatários. Aborda, nesse sentido, temas genéricos referentes à locação, à sublocação, aos
aluguéis, aos direitos e deveres de cada uma das partes, ao direito de preferência quanto à aquisição
do imóvel, às regras quanto às benfeitorias, às garantias a serem ofertadas pelos locatário e, ainda, às
infrações e penalidades cabíveis em diversos casos.
Além disso, a Lei de Locações divide a locação em diversas modalidades: locação residencial, loca-
ção não residencial e locação para temporada, prevendo regras específicas para cada um desses casos.
Por fim, prevê uma série de procedimentos judiciais específicos, relativos à relação de locação, visando
assim conferir mais eficácia aos direitos dos locatários e dos locadores.
A Lei de Locações relaciona-se, principalmente, com a questão do condomínio edilício quando
regula os direitos do locatário em relação às votações em assembleia, no que se refere às despesas
ordinárias, bem como seus deveres com relação a essas mesmas despesas ordinárias. Além disso, a lei
prevê que o contrato de locação poderá atribuir aos locatários alguns encargos específicos, tais como os
impostos e taxas incidentes sobre o imóvel ou os prêmios relativos ao seguro da edificação.
de construção, atas de assembleias que por qualquer razão devam ser encaminhados a registro. Além
disso, incluem-se em suas disposições todas as matérias relativas especificamente às matrículas dos
imóveis e registros e averbações que devam ser realizados de forma vinculada à matrícula.
A referida lei, portanto, trata dos processos referentes aos registros de cada um desses atos, pe-
rante os cartórios de registros de imóveis ou então perante os cartórios de títulos e documentos. Embo-
ra muitas de suas disposições apliquem-se, na realidade, mais aos serventuários das referidas repartições,
muitas delas interessam também à disciplina dos atos relativos aos condomínios e incorporações.
Assim, no que se refere aos registros de imóveis, a lei expressamente prevê:
Art. 167 - No Registro de Imóveis, além da matrícula, serão feitos:
I - o registro:
[...] 17) das incorporações, instituições e convenções de condomínio
Em diversos outros artigos, em seguida a esse, a lei trata de questões que se aplicam, também, às
incorporações imobiliárias.
Ali se encontram disciplinadas as regras gerais relativas à criação dos loteamentos urbanos, para venda
de unidades a compradores diversos.
Além desse diploma, o Decreto-Lei 271/67 refere-se às disciplinas aplicáveis aos loteamentos ur-
banos e as responsabilidades do loteador. Por fim, a Lei 6.766/79 trata da questão relativa ao parcela-
mento do solo urbano.
Esses temas possuem relação com os condomínios quando se trata de criar os chamados con-
domínios fechados, os quais muitas vezes envolvem loteamentos e a manutenção de vias públicas. A
disciplina sobre estes será resultante desses diplomas legais mencionados.
No que se refere às incorporações imobiliárias, tais diplomas poderão eventualmente possuir apli-
cação quando se trata de criar loteamentos para a construção de estruturas a serem compartilhadas por
diversos proprietários, sob a forma de propriedade horizontal. Em tais casos, um ou vários incorporadores
poderão atuar no sentido de vender, nos lotes, frações ideais de terreno que posteriormente serão vincu-
lados às unidades autônomas do edifício.
De toda a forma, como se percebe, não existe uma relação direta entre essa disciplina e a dos
condomínios e incorporações, mas apenas tênue ou indireta.
Direitos de vizinhança
Disciplina correlata também ao tema do condomínio e, em certa medida, às incorporações imo-
biliárias, diz respeito à dos direitos de vizinhança. Essas normas encontram-se definidas no Código Civil
de 2002 assim como, antes, encontravam-se também no Código Civil de 1916.
A Lei Civil prevê diversas questões relativas às regras de condutas entre vizinhos. No âmbito dos
condomínios edilícios, esse tema ganha relevância especial. Entretanto, boa parte das regras relativas
aos direitos de vizinhança é suplantada por previsões específicas previstas na convenção condominial,
que também tratará do tema.
Conclusão
Ao longo desta aula, referimo-nos a uma série de legislações relacionadas com os temas principais
de nosso estudo, os condomínios edilícios e as incorporações imobiliárias. Verifica-se que são diversas
as leis aplicáveis a essas questões. Muitas outras não foram sequer aqui referidas, tais como todas as leis,
decretos e instruções que regulamentam questões fiscais relativas a essas matérias. Da mesma forma,
incidem sobre o tema uma série de normas e regulamentos locais que disciplinam o uso do solo urbano
e limitam a construção e o uso dos espaços de acordo com o plano diretor da cidade. Além disso, existem
regras específicas relativas à desapropriação de imóveis, aplicáveis no caso de necessidade de utilização
do espaço pelas autoridades públicas.
Não bastassem tais leis, existem diversas outras, tais como aquelas que envolvem as relações traba-
lhistas entre o condomínio e seus funcionários, ou entre o construtor ou incorporador e seus empregados.
Além disso, incidem sobre a vida condominial e sobre as incorporações diversas regras de direito
privado relacionadas à regulação de contratos. Nesse caso, temos que considerar que serão inúmeros
os contratos acessórios a serem realizados. Empresas de limpeza ou administradoras de condomínios
estabelecerão contratos de prestação de serviços com o condomínio. Já as construtoras estabelecerão
uma série de subcontratos com empresas especializadas em questões específicas da construção, que
eventualmente possam desenvolver alguns serviços de forma mais adequada do que os funcionários
da construtora. A instalação de jardins, as obras de paisagismo são bons exemplos disso.
A propósito, relacionam-se ainda com as incorporações toda a série de normas que orientam a
atuação específica de determinados profissionais, tais como as regras relativas às profissões de engenheiro
e arquiteto, bem como as normas específicas emitidas pelos órgãos reguladores dessas profissões, os
Creas.
As empresas que atuam nessas áreas, sejam incorporadoras, construtoras ou administradoras de
condomínio sujeitam-se, além disso, a regras relativas à sua constituição e sua manutenção, às relações
entre seus sócios e às possibilidades de distribuição de resultados a estes, sem que, por outro lado, as
empresas fiquem descapitalizadas.
Enfim, existe, certamente, uma incontável relação de leis, decretos, instruções e portarias que se
aplicam a essas atividades. Certamente, ninguém consegue reunir, por sua conta, conhecimentos sobre
todas elas. A utilização e manuseio de todos esses dispositivos demanda a participação de profissionais
diversos, com suas habilitações e conhecimentos específicos.
Por outro lado, existe um profissional cuja formação específica é justamente ordenar e sistema-
tizar todo esse arsenal. Tampouco ele conhece exatamente todas as normas aplicáveis a cada uma das
matérias aqui relatadas. Entretanto, sua função é justamente consolidar toda essa informação, através
de regras de hierarquização das normas e técnicas para a solução de incompatibilidades ou contradi-
ções nas regras legais. Ele possui a habilitação necessária para interpretar as regras legais e extrair delas
o sentido mais adequado para determinada situação. Esse profissional é o advogado.
No âmbito dos condomínios e das incorporações, ele estará presente desde o momento em que
o incorporador precisa negociar a compra do terreno com o proprietário anterior, durante o registro e
lançamento da incorporação, durante a celebração dos contratos com os adquirentes e ao longo de
toda a construção. Instituído o condomínio, ele será chamado eventualmente para assessorar o con-
domínio em suas assembleias, nas atividades do síndico, na contratação dos serviços do condomínio.
Eventualmente, ele defenderá interesses específicos de algum condômino contra outro ou contra atos
do condomínio que de algum modo lhe restrinjam seus direitos.
Enfim, de um modo ou de outro, o advogado é um profissional imprescindível em toda essa estru-
tura jurídica que a lei cria para proteger toda a série de personagens envolvidos nesses temas: constru-
tores, incorporadores, síndicos, condôminos, adquirentes, consumidores, empregados, proprietários,
entre outros tantos.
Texto complementar
Incorporação imobiliária e o Código de Defesa do Consumidor
A massificação da sociedade colocou em crise o modelo contratual elaborado da época do libe-
ralismo econômico, concomitantemente à Revolução Francesa e o Código Civil de Napoleão. Insta re-
lembrar que esse modelo foi elaborado com base ainda no formalismo do direito romano-germânico,
pressupondo acima de tudo uma igualdade jurídica (não social nem econômica) entre as partes con-
tratantes, além do reinado absoluto da autonomia da vontade, refutando qualquer ingerência externa
por parte do Estado.
O chamado contrato por adesão, nesse desiderato, nada mais é do que a consequência lógica
dessa massificação social, e reflete o modo de produção e distribuição de bens e serviços em larga
escala e de forma impessoal e abstrata, inclusive no setor imobiliário.
No contrato por adesão, não há tratativas nem são as cláusulas livremente negociadas entre
as partes. Ao contrário, o fornecedor, chamado de predisponente, elabora de antemão o contrato
e o submete ao consumidor, denominado aderente, que, como o próprio nome já esclarece, tem
apenas a faculdade de aceitar ou não aos seus termos. Justamente por seu caráter, que implica séria
limitação da autonomia da vontade de uma das partes, o aderente a um contrato desse tipo mere-
ce tutela especial do legislador, que busca, com isso, evitar a perpretação de abusos por parte do
fornecedor de bens ou serviços.
Temos que os contratos por adesão são instrumentos absolutamente imprescindíveis ao ca-
pitalismo moderno: seria impossível que um grande banco negociasse cliente a cliente as condi-
ções gerais da outorga de crédito, ou mesmo que o fizesse uma grande incorporadora imobiliária,
ao comercializar determinado empreendimento com centenas de unidades. Tal situação, além dos
custos e morosidade, importaria em diminuição da previsibilidade de quaisquer empreendimentos,
aspecto conferido pela adoção de contratos padronizados para todos os consumidores de determi-
nado bem ou serviço.
A partir da edição da Lei 8.078/90, popularmente conhecida como Código de Defesa do Con-
sumidor, criou-se um microssistema de proteção ao hipossuficiente que consolidou as bases de
um novo sistema contratual, que, abandonando a ficção da igualdade entre as partes contratantes,
E a definição de fornecedor nos é trazida pelo artigo 3.º do Código de Defesa do Consumidor,
litteris:
Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, im-
portação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
O conceito abrange, portanto, todos aqueles que ofertem bens ou serviços no mercado de
consumo, incluindo-se aí, sem maiores dificuldades, o incorporador imobiliário. Resta agora saber
se o adquirente de unidade condominial autônoma pode ser equiparado a consumidor.
A Lei 4.591/64, quando de sua edição, buscava justamente proteger o adquirente de incorpora-
dores inescrupulosos que amealhavam somas consideráveis no mercado, sem as mínimas condições
de levar adiante o empreendimento anunciado. Tal era a situação, que a incorporação imobiliária co-
meçou a experimentar descrédito perante a sociedade, o que ameaçava o regular desenvolvimento
desse importante filão, principalmente nos grandes centros urbanos.
Assim, desde o início, o adquirente de unidade condominial para uso próprio foi qualificado,
pela legislação específica, de hipossuficiente a necessitar de proteção contra abusos do poder eco-
nômico. Ora, esse precisamente o espírito da lei consumerista, quando, em seu artigo 4.º, assim
define a política nacional das relações de consumo:
Art. 4º. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consu-
midores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da
sua qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das relações de consumos, atendidos os seguintes
princípios:
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.
Infere-se, a partir daí, que vício do produto é o defeito que compromete a prestabilidade e/ou
servibilidade do bem imóvel ofertado, estabelecendo uma relação de desconformidade entre a pres-
tação (construção e entrega da unidade) e contraprestação (pagamento do preço estipulado). Assim,
por exemplo, problemas com a qualidade da pintura, revestimentos e funcionamento das instalações
hidráulicas (os exemplos são de Rodrigo Azevedo Toscano de Brito), que diminuem o valor patrimo-
nial do bem. O defeito pode ser também de quantidade, se o imóvel apresenta dimensão mais de 5%
inferior ao anunciado.
Diferentemente, fato do produto é o defeito de qualidade ou quantidade que, além de com-
prometer a prestabilidade e a servibilidade do produto, coloca em risco, de alguma forma, a segu-
Conclusão
A Lei 4.591/64, definindo os direitos e deveres recíprocos tanto do incorporador quanto do
adquirente da unidade condominial autônoma, estabeleceu um sistema de proteção às partes en-
volvidas, em especial deste último, evidentemente a parte mais fraca da relação.
O Código de Defesa do Consumidor, como microssistema jurídico cujo alcance se estende a
todo o direito contratual, teve reflexos também nos negócios de incorporação imobiliária. Sendo os
contratos, de regra, por adesão (posicionando o adquirente como hipossuficiente), configurando-se
a figura do incorporador como fornecedor de bens e serviços, e a do adquirente como consumidor,
tratando-se o bem imóvel de bem de consumo, perfeitamente possível a responsabilização da em-
presa incorporadora por acidente de consumo ou vício do produto.
Atividades
1. Qual foi o objetivo do legislador ao criar a Lei 4.591, em 1964?
2. Qual a inovação trazida pelo Código Civil de 2002, no que concerne à matéria dos condomínios e
incorporações imobiliárias?
Gabarito
1. O objetivo do legislador com a criação da Lei 4.591/64 foi o de regulamentar, de modo mais
abrangente, a situação dos condomínios edilícios, bem como de regular uma atividade específica
que, até então, não contava com nenhum tipo de normatização: a incorporação. A partir da lei, a
atividade dos incorporadores e construtores passou a ser organizada, bem como a vida dos con-
domínios passou a se submeter a um marco legal bem definido.
2. O Código Civil de 1916 trazia um capítulo relativo aos condomínios em geral, que começou a ficar
desatualizado com o passar dos anos. Nos anos 1970 surgiu o projeto de lei para um novo Código
que tramitou por mais de 20 anos no Congresso Nacional, sendo aprovado no ano de 2001, pu-
blicado em 2002, entrando em vigor no início de 2003. Com relação aos condomínios em geral,
alguns aspectos foram atualizados, outros modificados, mas a estrutura permaneceu, basicamen-
te, a mesma. A grande inovação foi com relação à introdução da matéria relativa aos condomínios
edilícios, que anteriormente somente vinha sendo tratada por meio de legislações esparsas.
3. F–F–V–V–F
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Condomínios em Geral e
Incorporações Imobiliárias