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Apostila

Universidade Federal do Ceará (UFC)


Curso: Engenharia Ambiental

Recuperação de áreas degradadas


Versão 1

Professor:
Prof. Anderson Borghetti Soares

Fortaleza, 2016.
Sumário
Capítulo 1 - Áreas degradadas .......................................................................................... 3
1.1 Introdução ............................................................................................................... 3
1.2 Técnicas de recuperação do meio físico e tipos de degradação ............................. 6
1.3 Mecanismos da degradação .................................................................................... 7
1.3.1 Erosão .............................................................................................................. 7
1.3.2 Deterioração química....................................................................................... 8
1.3.3 Deterioração física: .......................................................................................... 8
1.4. Contaminantes de solos e corpos hídricos ............................................................. 9
1.4.1 Contaminantes orgânicos ................................................................................. 9
1.4.2 Contaminantes inorgânicos ...................................................................... 13
1.4 Bibliografia ...................................................................................................... 15
Capítulo 2 - Solos degradados por erosão ..................................................................... 17
2.1 Recuperação de solos degradados por erosão........................................................... 17
2.2 Estimativa da perda de solo (Araújo et al., 2013) ................................................ 17
2.3 Recuperação de áreas degradadas pelo processo erosivo ................................ 28
2.4 Técnicas de recuperação dos solos .................................................................. 29
2.4.1 Correção do solo ....................................................................................... 29
2.4.2 Reaterro das erosões ................................................................................. 29
2.4.3 Terraceamento, curvas de nível e rotação de culturas .............................. 30
2.4.4 Recuperação da vegetação ........................................................................ 32
2.4.5 Biotecnologia aplicada ao controle dos processos erosivos ..................... 33
2.4.6 Bioengenharia ........................................................................................... 33
2.4.7 Retentor de sedimentos ou estabilizador de talvegues ............................. 38
2.4 Exemplos de aplicação recuperação da vegetação........................................... 40
2.5 Bibliografia ...................................................................................................... 43
Capítulo 1 - Áreas degradadas

1.1 Introdução

A Degradação ambiental é definida como um conjunto de processos


resultantes de danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou reduzem
algumas de suas propriedades, tais como, a qualidade ou a capacidade
produtiva de recursos ambientais (Decreto Federal 97.632/89). Esta tem sido
associada aos efeitos ambientais negativos ou adversos e que decorrem
principalmente de atividades ou intervenções humanas (raramente se relaciona
com fenômenos ou processos naturais)
A degradação ambiental envolve a redução dos potenciais recursos
renováveis por uma combinação de processos agindo sobre a terra. Tal redução
pode levar ao abandono ou a desertificação (degradação de áreas resultante de
variações climáticas e atividades humanas).
A degradação do solo pode ser definida “Alterações adversas das
características do solo em relação aos seus diversos usos possíveis, tanto
estabelecidos em planejamento quanto os potenciais" (ABNT, 1989). A
degradação do solo é mais séria (como também de corpos hídricos, dependendo
do estágio de contaminação), pois não é facilmente reversível (como, por
exemplo, no caso de alterações na vegetação e na população animal), pois os
processos de formação e regeneração do solo são muito lentos. Como exemplo
de degradação de solo pode-se citar os impactos negativos pelo uso indevido de
práticas agrícolas, que pode ocasionar a perda de habitat natural de espécies
nativas e decréscimo na produção de alimentos. A seguir são apresentadas
algumas definições:

- Restauração: Reprodução das condições exatas do local, tais como eram


antes de serem alteradas pela intervenção. Na prática o estado original do local
(topografia, fauna, flora, solo, etc.) é muito difícil de ser obtido.
- Recuperação: Local alterado é trabalhado para retornar a uma forma e
utilização de acordo com o plano pré-estabelecido para o uso do solo, visando a
obtenção de uma estabilidade do meio ambiente (Decreto Federal 97.632/89).
Significa que uma condição estável será obtida em conformidade com os valores
ambientais, estáticos e sociais da circunvizinhança (condições mínimas de
estabelecer um novo equilíbrio dinâmico, desenvolvendo um novo solo e uma
nova paisagem). Trata-se de devolver ao local o equilíbrio e a estabilidade dos
processos atuantes, com a reparação dos recursos ao ponto que seja suficiente
restabelecer a composição e a frequência das espécies encontradas
originalmente no local.

- Remediação: Ações e tecnologias que visam eliminar, neutralizar ou


transformar contaminantes presentes em sub-superfície (solo e águas
subterrâneas). Refere-se a áreas contaminadas.

- Recuperação de áreas degradadas: conjunto de ações idealizadas e


executadas por especialistas das diferentes áreas do conhecimento humano,
que visam proporcionar o restabelecimento das condições de equilíbrio e
sustentabilidade existentes anteriormente em um sistema natural.

Para elaboração de programas de recuperação de áreas degradadas os


empreendimentos devem ter licença própria do órgão responsável. Portanto, os
profissionais devem conhecer as exigências (normas e dispositivos legais) que
o estado e o município fazem para o licenciamento do empreendimento em
questão.
A metodologia para recuperação de áreas degradadas envolve quatro
etapas (Poleto, 2010):

(a) Diagnóstico ambiental: mapeamento das áreas de risco e identificação


do agente degradantes, mapeamento geológico e topográfico,
mapeamento do uso e ocupação do solo, levantamento dos aspectos
hidrológicos, climáticos, biológicos, etc.;

(b) Plano de recuperação: Define o objetivo a ser alcançado no plano de


recuperação (ex.: vegetar a área degradada, recuperar corpos hídricos,
etc.)
(c) Execução da recuperação: aplicação da técnica de recuperação
definida, isolando a áreas, interrompendo o processo gerador da
degradação, recuperar o solo do ponto de vista químico, físico e
biológico, vegetar a área, etc.

(d) Monitoramento: verificar ao longo do tempo a qualidade pelos seguintes


indicadores: solo, corpos hídricos, fauna e flora.

Segundo a GLSOD, os impactos das atividades humanas classificam-se


em cinco categorias (ISRIC/UNEP, 1991):
(1) Desmatamento: para agricultura ou pastagens, florestas
comerciais de grande escala, construção de estradas, desenvolvimento
urbano, etc. A destruição das florestas é causada, na maioria das vezes,
pela abertura de clareiras para fins agrícolas e envolve corte de árvores,
arbustos, queima da serrapilheira, cultivos de culturas por vários anos, etc.

(2) Superpastoreio: Esta atividade destrói a cobertura do solo,


causando a compactação e acelerando a invasão de espécies arbustivas
indesejáveis. Refere-se à pressão excessiva exercida pelos animais sobre
a cobertura vegetal. Quanto maiores os rebanhos, maior a competição por
pastagens, podendo ultrapassar a produtividade natural da área e destruir
a cobertura vegetal, acelerando a erosão.

(3) Atividades agrícolas: O manejo inadequado da terra inclui o


cultivo de solos frágeis, queimadas (resultam na diminuição dos nutrientes),
transposição de rios para fins de irrigação.

(4) Super-exploração da vegetação (uso doméstico): Uso de


vegetação como combustível, cercas, etc, deixando a vegetação
remanescente sem proteção suficiente contra a erosão. É o uso exagerado
da cobertura vegetal, como por exemplo, para coleta de lenha para
combustível (cerca 3 bilhões comprometem a necessidade de estoques
futuros de consumo de madeira para uso de energia)
(5) Atividades que causem poluição como resíduos
inadequadamente dispostos por atividades de mineração, indústria,
resíduos sólidos urbanos, etc.

Considerando a área total de solos que cobrem o planeta, cerca de 15%


(20 bilhões de hectares - área equivalente ao Canadá e EUA) são classificados
como degradados devido às atividades humanas, sendo: 5% na América do
Norte, 12% na Oceania, 14% na América do Sul, 17% na África, 18% na Ásia,
21% na América Central e 13% na Europa (Programa da Nações Unidas para o
Meio Ambiente - GLASOD - Global Assessment of Soil Degradation). Se forem
desconsideradas as áreas inabitadas do mundo o percentual de solos
degradados sobe de 15 para 24%. Ainda segundo a GLASOD, do total de solo
degradado no Continente Americano, 41% são devido ao desmatamento, 27,9%
devido ao superpastoreio, 26,2% pelas atividades agrícolas e 4,9% devido
exploração da vegetação. Não há dados sobre a porcentagem de degradação
devido às atividades industriais (pela falta de levantamento dos locais
contaminados). Independentemente disto as estimativas apontam que o
desmatamento e atividades agropecuárias são os principais fatores de
degradação dos solos (cerca de 95%). Os impactos ocasionados por atividades
de mineração e das indústrias causam maior sensibilidade na população e tende
a ser atribuído uma responsabilidade maior pela degradação dos solos, pois,
justificadamente, a degradação é altamente impactante e esta deve ser avaliada
não somente por sua extensão mais também pela sua intensidade.

1.2 Técnicas de recuperação do meio físico e tipos de degradação


Segundo Bitar e Braga (1995) as técnicas de recuperação podem ser
subdivididas em:

i) Revegetação e tratamento de solos: Técnica que engloba desde a fixação


localizada de espécies vegetais (herbáceas ou arbóreas), até reflorestamentos
extensivos;
ii) Tecnologias Geotécnicas: execução de obras de engenharia (estruturas de
contenção e retenção), incluindo as obras hidráulicas, que visam a estabilidade
física do ambiente;

iii) Descontaminação (tratamento): Compreendem a execução de métodos de


tratamentos predominantemente químicos (ou biológicos) destinados a eliminar,
neutralizar, imobilizar, confinar ou transformar elementos ou substâncias
contaminantes presentes, atingindo a estabilidade química do ambiente.
Segundo a terminologia de alguns autores, as tecnologias geotécnicas podem
ser enquadrar no conceito de remediação.

1.3 Mecanismos da degradação

O conceito de degradação de terras refere-se à deterioração ou perda total


da capacidade dos solos para uso presente ou futuro (FAO, 1980). Tais perdas
podem estar associadas a mecanismos como a erosão (água e vento) e a
deterioração física ou química. De acordo com a GLSOD (ISRIC/UNEP, 1991) a
degradação pode ocorrer devido aos seguintes mecanismos (Araújo et al.,
2013):

1.3.1 Erosão

Na erosão ocorre a perda da camada superficial de solo, que é acelerada


devido ao desmatamento (para fins agrícolas, para mineração, industriais, etc.),
sendo os agentes mais comuns a ação da água e do vento. O escoamento
superficial carrega a camada superior de solo. No caso da erosão eólica, o
deslocamento do solo devido ao vento, é mais comum em locais com climas
áridos, semi-áridos e em praias e dunas, principalmente as que sofreram ações
antrópicas. As conseqüências da perda da camada superficial de solo são:

(a) Dificuldade de penetração das raízes devido ao aumento da densidade


do solo;
(b) Redução da capacidade do solo de reter água e torná-la disponível para
as plantas;
(c) Lixiviação dos nutrientes, juntamente com as partículas do solo erodido.

As formas mais extremas de erosão dão origem a deformações no terreno


tais como a formação de ravinas e voçorocas e também causar a destruição das
margens de rios e movimentos de massa (deslizamentos, corridas).

1.3.2 Deterioração química

A deterioração química pode ocorrer devido aos seguintes fatores:


(a) Perdas de nutrientes do solo (nitrogênio, fósforo e potássio) ou matéria
orgânica, pela ação das chuvas (acentuada em terras não protegidas) e
pelo plantio de culturas (em solos sem aplicação eficiente de fertilizantes
e adubos)
(b) Salinização do solo que produz um efeito destrutivo sobre o solo e pode
tornar inviável a utilização do mesmo. A salinização ocorre devido ao
manejo inadequado da água utilizada na irrigação (com alta concentração
de sais) ou pela penetração da água do mar ou de águas subterrâneas
salinas ou por atividades humanas que elevem a evaporação da água nos
em solos.
(c) Acidificação causada pela aplicação excessiva de fertilizantes ácidos ou
por drenagem em determinados tipo de solo.
(d) Poluições diversas, resultantes da acumulação de resíduos e efluentes
(lixos, pesticidas, derramamento de óleo) que reduzem o potencial
agrícola do solo ou contaminam corpos hídricos.

1.3.3 Deterioração física:

São três os tipos de deterioração física:


(a) Compactação do solo, resultante do uso de máquinas agrícolas ou
pisoteio do gado, que tornam o preparo da terra mais oneroso e dificultam
a infiltração da água da chuva.
(b) Elevação do lençol freático até a zona de raízes, devido à entrada
excessiva de água (além da capacidade de drenagem) e enchentes,
aumentam a erosão, deslizamentos e assoreamento de leitos de rios.

(c) Subsidência, que é um rebaixamento da superfície da terra, que ocorre


em regiões com rocha calcária.

1.4. Contaminantes de solos e corpos hídricos

As diferentes atividades humanas geram uma grande quantidade de


resíduos (indústria química, mineração, alimentícia, etc.), incluindo solventes,
ácidos, bases, metais, etc. Muitos resíduos são tóxicos ou não inertes e quando
dispostos inadequadamente no meio ambiente liberam contaminantes que
podem ser orgânicos e/ou inorgânicos.

1.4.1. Contaminantes orgânicos

Contaminantes orgânicos podem ter diversas origens, como da indústria


do petróleo, solventes orgânicos (clorados), hidrocarbonetos aromáticos
polinucleares (HPAs), pesticidas, explosivos, bifenilas policloradas (PCBs), etc.
Os contaminantes oriundos de hidrocarbonetos do petróleo que são
responsáveis por elevados volumes de poluentes.
Os compostos orgânicos sempre contêm carbono. Atualmente são
conhecidos cerca de 7 milhões de compostos deste tipo.
Existem três formas de produção de compostos orgânicos (McCarty e
Parkin, 1994 apud Andrade et al., 2007):

i) Na natureza: fibras, óleos vegetais, gorduras e óleos animais,


celulose, açúcares, etc.
ii) Síntese orgânica: Compostos e materiais, como PVC, plásticos,
etc.
iii) Fermentação: Devido à ação de microrganismos: álcoois, acetona,
antibióticos, ácidos, glicerol, etc.
Dependendo da forma com que o átomo de carbono se liga com outros
elementos os compostos orgânicos podem ser divididos em três grandes grupos:

i) Alifáticos: ligados a uma cadeia de átomos normal ou ramificada. Ex.:


aldeídos, cetonas, éteres, etc.

Metano (cadeia simples) 2-metil-pentano (cadeia ramificada)

ii) Aromáticos: Compostos em que o grupo funcional está ligado a


estruturas contendo pelo menos um anel de benzeno. Ex: séries do
benzeno, organoclorados, poliaromáticos (PAHs), bifenilas
policloradas (PCBs), fenóis, ácidos, etc.

Tolueno Xileno

iii) Heterocíclicos: compostos com estrutura cíclica em que um dos


membros é um elemento químico que não o carbono. Exemplos:
átomos de oxigênio, nitrogênio e enxofre na Piridina (C5H5N), que é
usado na indústria química, indústria de tintas e borracha.

Piridina
A seguir será apresentada uma breve descrição dos principais poluentes
orgânicos:

a) Poluentes orgânicos persistente (organoclorados)


Denominados de “POPS”, são compostos tóxicos e quase na sua totalidade
sintéticos, gerados como produtos ou subprodutos da reação industrial do gás
cloro com hidrocarbonetos do petróleo. A periculosidade ambiental reside no fato
de se acumularem em microrganismos, plantas e animais, sendo de difícil
eliminação. Compõe a lista de poluentes desta categoria (Andrade et al., 2007):

(i) DDT (diclorodifeniltricloroetano): pesticida (combate de mosquitos)


facilmente transportado pelo ar e pela chuva.
(ii) Policloretos de bifenilas (PCBs): são líquidos inertes e difícil
combustão e produção relativamente barata, frequentemente
empregados como fluidos refrigerantes de transformadores elétricos e
também utilizados como plastificante, como solvente sem coloração
para reciclagem de papel, como fluido de transferência de calor em
maquinaria, como agente de impermeabilização, etc. São muito
resistente à degradação e pouco solúveis em água. Entretanto, se
ligam a partículas suspensas em meio líquido e posteriormente são
depositados no fundo de rios e lagos.
(iii) Pentaclorofenol (PCP): utilizado como herbicida e inseticida e na
preservação da madeira;
(iv) Tricloroetileno (TCE): é um dos poluentes mais encontrados em solos
e águas, devido a aplicação industrial intensa. É utilizado como
solvente (desengordurantes industrial e material de limpeza) e em
produtos como tintas, cosméticos, desinfetantes e produtos de
limpeza. Degrada-se lentamente em ambiente aquático, onde se torna
muito tóxico, sendo um dos poluentes mais amplamente distribuídos
na água subterrânea. Possui uma densidade maior do que a água
(líquido não aquoso denso), se acumulando no fundo, que dificulta a
remoção do aquífero subterrâneo com técnicas convencionais
(bombeamento), que só remove a fase dissolvida;
(v) Tetracloroetileno (PCE): solvente usado para desengraxar superfícies
metálicas. Ex: adesivos, desengraxantes, removedores de cera, pasta
para calçados, etc.

b) Componentes nitroaromáticos
São encontrados em munições e explosivos e possuem alta toxicidade.
Podem contaminar o meio ambiente durante o processo de estocagem ou
fabricação. Um dos exemplos é o TNT (Trinitrotolueno) e a nitroglicerina (GTN -
trinitrato de glicerol).

c) Hidrocarbonetos derivados do petróleo


São produtos químicos naturais utilizados pelo homem para várias
atividades: Ex: óleo cru, asfalto, piche, gás natural (compostos de alcanos),
compostos aromáticos com o BTEX (benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno) e
Hidrocarbonetos poliaromáticos (HPAs), como o antraceno, pireno, benzopireno,
naftaleno, etc., que apresentam quatro ou mais anéis de benzeno (são mais
difíceis de degradar).
Dos compostos: benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos (BTEX), o
benzeno normalmente é um dos compostos que mais influenciam em avaliações
de análises de risco (CETESB, 2001).
O benzeno (C6H6) é encontrado no petróleo, sendo utilizado principalmente
como intermediário da síntese de produtos químicos tais como, detergentes,
pesticidas, aditivo de combustível, solvente para extração industrial, solvente de
indústria de borracha e na preparação de tintas.

O benzeno faz parte do grupo dos hidrocarbonetos monoaromáticos (um


anel de benzeno), assim como o tolueno, etilbenzeno e os três xilenos (orto, meta
e para), chamados compostos BTEX. O benzeno é classificado por alta
mobilidade na água e solo, enquanto que o tolueno e os compostos o-xileno
estão classificados como moderada mobilidade.
Outro aspecto importante é que a adsorção do composto benzeno na
superfície das partículas aumenta com o aumento dos teores de matéria
orgânica do solo. Devido à ação cancerígena do benzeno, no Brasil considera-
se para as águas subterrâneas, para o padrão de potabilidade (Portaria 518 de
25/05/2004, do Ministério da Saúde) uma concentração máxima de 0,005 mg/l.
A principal via de exposição humana e animal ao benzeno é por inalação e
pelo consumo de água e alimentos contaminados (CETESB, 2001). Em um
derramamento, o benzeno pode ficar adsorvido nas partículas do solo ou ser
transportado para o ar via volatilização e para as águas superficiais por
escoamento superficial, enquanto que no subsolo, poderá atingir a água
subterrânea, pois é moderadamente solúvel em água e também pode vir a
permanecer em fase vapor (Abdanur, 2005).
No caso dos hidrocarbonetos poliaromáticos (HPA), tais como o antraceno,
pireno, etc., são encontrados em áreas ocupadas por indústrias, refinarias de
petróleo e postos de gasolina e produzem efeitos mutagênicos e cancerígenos
(Andrade et al., 2007).

1.4.2 Contaminantes inorgânicos

Dentro os contaminantes inorgânicos estão os metais pesados, que são


metais com densidade superior a 5,0 g/cm³ ou número atômico maior que 20
(Alloway, 1990 apud Andrade et al., 2007). São exemplos de metais pesados:

i) Essenciais para os animais e plantas (em níveis aceitáveis): cálcio (Ca),


cobalto (Co), cromo (Cr), Cobre (Cu), ferro (Fe), manganês (Mn), molibdênio
(Mo) e zinco (Zn), níquel (Ni);
ii) Essenciais para as bactérias fixadoras de nitrogênio (em níveis aceitáveis):
Co;
iii) Sem função fisiológica conhecida (tóxicos em qualquer concentração): cádmio
(Cd), chumbo (Pb) e mercúrio (Hg).
Quando os metais acima citados estão em excesso, podem ser tornar
tóxicos para os seres vivos. As fontes de poluição com metais resultam das
atividades humanas. Algumas vezes envolvem um metal, mas várias vezes um
conjunto destes. Atividades de mineração, refinamento de ouro, atividades
nucleares, produção de baterias, componentes elétricos, inseticidas são
exemplos de atividades que podem produzir produtos com metais. Como
exemplo pode-se citar:

i) Arsênio, cobre e zinco: utilizados como pesticidas na agricultura


ii) Chumbo: na produção de baterias

Diferentes teores de metais pesados são encontrados nos solos sem


qualquer interferência antrópica e as concentrações dependem da rocha de
origem e do grau de intemperismo (origem litogênica). O enriquecimento de
metais também pode ocorrer pela deposição de sedimentos transportados por
águas fluviais ou marítimas ou aporte de cinzas vulcânicas transportadas pelos
ventos.
A interferência humana é responsável pela grande totalidade dos danos
ambientais correlacionados à presença de metais pesados (origem
antropogênica). Os processos de produção ou produto final de indústrias
(química, metalúrgica, eletrotécnica, etc.), desenvolvidos durante o ciclo
produtivo (transporte, uso, descarte, etc), podem poluir direta ou indiretamente o
solo e as águas superficiais e subterrâneas. Além disso, a disposição de rejeitos
industriais, as atividades de extração de minérios, o uso fertilizantes e de
pesticidas, a disposição de lodos de estação de tratamento de esgoto e a
deposição atmosférica, também produzem metais pesados que contaminam o
solo.
A Cetesb (2007) mantém um cadastro de áreas contaminadas no estado
de São Paulo, sendo uma das poucas informações reunidas sobre o assunto no
Brasil. No ano de 2006, por exemplo, de todas as áreas contaminadas
contabilizadas, cerca de 13% foram contaminadas por metais pesados.
Dentre os metais pesados o chumbo e o mercúrio são poluentes bastante
significativos, pois fornecem sérios riscos à saúde humana. O uso indiscriminado
do chumbo em uma variedade de processos industriais e produtos comerciais é
a principal causa de contaminação desse metal no meio ambiente. O chumbo
também é utilizado em mineração e na manufatura de pesticidas e fertilizantes,
como aditivo em combustíveis, faz parte da composição de tintas, de cerâmicas,
de baterias e de equipamentos médicos e elétricos. O chumbo quando
introduzido na matriz do solo é de difícil remoção, pois liga-se às partículas do
solo, por meio de mecanismos de adsorção, troca catiônica e precipitação com
a matéria orgânica sorvida. Este metal pesado possui alto potencial cancerígeno
a se acumula no organismo por inalação ou ingestão.
Com relação ao mercúrio, estima-se que a quantidade deste metal na
atmosfera tenha aumentado de duas a cinco vezes desde a revolução industrial
(Henry, 2000 apud Andrade et al., 2007). O mercúrio pode ser consumido por
organismos aquáticos (peixes, na forma de metilmercúrio) e entrar na cadeia
alimentar (afetando os seres humanos). Ex: intoxicação por efluente
contaminado por mercúrio na Baía de Minamata (Japão), onde o mercúrio era
usado na produção de cloreto de vinila. Estima-se que foram lançados de 200 a
400 toneladas de mercúrio nos efluentes que desaguaram na baía, resultando
na morte de 887 pessoas e sequelas para 2.209 vítimas (Andrade et al., 2007).
Metais pesados não sofrem degradação porque são poluentes
elementares. Uma vez transportados, permanecem no solo, acumulando-se
indefinidamente. Minerais de argila adsorvem metais pesados solúveis, em
razão da capacidade de troca de íons. A periculosidade depende das formas
com que o metal se encontra, tais como: solúveis, trocáveis, adsorvidos, retidos
em material orgânico insolúvel, oclusos em óxido de ferro, alumínio ou manganês
ou precipitados.
A distribuição do metal poluente nestas frações determina o diferente risco
ambiental, pois sua entrada em cadeias biológicas pode acontecer somente de
uma das formas acima citada.

1.4 Bibliografia

ARAUJO, G.H. S., Almeida, J.R., GUERRA, A.J.T. Gestão Ambiental de Áreas
Degradadas. Bertrand Brasil, 10º Edição, 2013, 322p.
ABNT (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS). Degradação do
solo: terminologia, NBR 10.703. 1989.

BITAR, O.Y. & BRAGA, T.O. O meio físico na recuperação de áreas degradadas.
In: BITAR, O.Y. (Coord.). Curso de geologia aplicada ao meio ambiente. São
Paulo: Associação Brasileira de Geologia de Engenharia (ABGE) e Instituto
de Pesquisas Tecnológicas (IPT), 1995. cap. 4.2, p.165-179.

FAO. Natural resourses and the human environment for food and agriculture.
Environment paper. Nº1, Roma, 1980.

ISRIC/UNEP. Word map of the status of human-induced soil degradation.


Oldeman, L.R., Hakkeling, R.T.A. e Sombroek, W.G. (orgs.). In: Global
Assessement of Soil Degradation (GLASOD), 2nd revised edition.
Wageningen/Nairóbi, 1991.

POLETO, C. (2010). Introdução ao Gerenciamento Ambiental. 1º Ed., Cap. 6.


Recuperação de Áreas Degradadas (autor: Vasques, B.A.F). Editora
Interciência, p 183-237.

ABDANUR, A. Remediação de solo e água subterrânea contaminados por


hidrocarbonetos do petróleo: Estudo de caso na Refinaria de Duque de
Caxias, RJ. Dissertação de Mestrado, Pós-Graduação em Ciências do Solo,
Ciências Agrárias, Universidade Federal do Paraná, 2005, 156p.

ANDRADE, J.C.M., TAVARES, S.L.R., MAHLER, C.F. (2007). Fitorremediação.


O uso de plantas na melhoria da qualidade ambiental. São Paulo: oficina de
textos.
Capítulo 2 - Solos degradados por erosão
erosão

2.1 Recuperação de solos degradados po


por erosão

A erosão superficial é a remoção das camadas superficiais do solo pela


ação da água e do vento. A erosão superficial envolve o destacamento
(“detachment”), transporte e deposição das partículas. O destacamento ocorre
quando as forças de arrasto ou de tração exercidas pelo fluxo de água são
superiores às forças de inércia (ou coesão) entre as partículas. Os movimentos
de massa envolvem movimentações de massas de solos ou rochas. A gravidade
é a principal fonte condutora do movimento de massa e o vento e a água são os
principais agentes da erosão.
A erosão pluvial se inicia com o impacto das gotas de chuva que colidem
no solo, podendo remover as partículas de solo (erosão por “splash”). No
princípio água começa a escoar superficialmente em pequenas canaletas
(erosão laminar) que podem evoluir para pequenos canais chamados de ravinas,
onde há a concentração do fluxo de água sobre o solo. As ravinas podem
eventualmente evoluir para canais mais profundos denominados de voçorocas.
Voçorocas são canais de água intermitentes, maiores que as ravinas. Ao
contrário das ravinas as voçorocas não podem ser removidas com o preparo do
solo ou com uso de equipamentos agrícolas.
A estimativa da perda de solo por erosão pode ser feita utilizando a
equação universal de perdas dos solos, que permite avaliar a influência dos
diferentes mecanismos atuantes e as possíveis alternativas para redução das
perdas de solo por erosão.

2.2 Estimativa da perda de solo (Araújo et al., 2013)

No princípio dos anos 60 o Departamento de Agricultura Americano (USDA)


desenvolveu uma equação universal semi-empírica conhecida como equação
universal de perdas de solo (USLE- Universal Soil Loss Equation). A versão final
e definitiva da USLE foi publicada em Wischmeier e Smith (1978).
A USLE leva em consideração os fatores conhecidos que afetam a erosão
pluvial e foi baseada em uma análise estatística da erosão mensurada em
campo, em uma classificação de parcelas de experimentação, sob chuva natural
e simulada. A perda de solo de um dado local é dada pela seguinte relação:

E = R.K .LS.C.P

onde: E= Perda de solo calculada por unidade de área (t/ha);


R = Erosividade da chuva, que expressa a capacidade erosiva da
precipitação média anual da região, em (MJ/ha)x(mm/h);
K = erodibilidade do solo, que representa a capacidade do solo de
sofrer erosão por uma determinada chuva em (t/ha)/ (MJ/ha)x(mm/h)
LS = Comprimento e declividade da encosta (fator topográfico, em %
relativo a uma parcela padrão com 25 metros de comprimento e declividade de
9%);
C = Fator de cobertura do solo, que expressa o uso e manejo do solo
e cultura (C=1 para cobertura inexistente);
P = Fator referente às práticas de controle da erosão (P=1 quando não
é aplicada nenhuma prática conservacionista)

A erosividade, depende dos fatores climáticos, e a erodibilidade só variam


dentro de uma ordem de grandeza, sendo praticamente fixos para um dado local.
Os fatores topográficos e de cobertura podem variar em várias ordens de
grandeza.
A USLE é uma equação empírica que prevê a erosão em áreas
relativamente pequenas. As limitações são: (a) É empírica, (b) Prevê perda de
solo média de solo anual, (c) Não prevê erosão por voçorocas (prevê por fluxo
laminar e ravinamento) e (d) Não prevê a transferência de sedimentos (nem todo
o sedimento perdido acabará em um corpo hídrico, podendo ficar retido em
porções mais baixas da encosta.
Apesar das limitações a USLE é simples e fácil de estimar perdas de solo
e avaliar a eficiência de medidas para a redução destas perdas. A USLE fornece
uma base para dimensionamento de sistemas retentores de sedimentos, e uma
base significativa da variabilidade de cada um dos parâmetros, sua importância
relativa em afetar a erosão, e a extensão de alguns destes fatores pode ser
modificado para limitar as perdas de solo. A consideração de cada fator da USLE
é descrita a seguir.

a) Erosividade (fator R)
A Erosividade é a habilidade da chuva de causar erosão (Hudson, 1961
apud Guerra e Teixeira, 1991). Esta depende das características das gotas de
chuva que variam no espaço e tempo. A determinação da erosividade pode ser
feita de dois modos:
Total de chuva → Estudos mostram uma tendência de aumento da
erosão com aumento da quantidade do total precipitada, porém com uma
fraca correlação. A tabela 1 mostra um estudo feito sobre erosividade no
Brasil (Silva, 2004 apud Pruski, 2009).

Tabela 1 - Equações propostas por diversos autores e apresentadas por Silva (2004) para estimar a erosividade
para cada mês (RX) a partir das precipitações médias mensais (MX) e da Precipitação média anual (P).
Região Equação Autor(es)

M
1 R = 3,76 + 42,77 Oliveira Jr. e Medina (1990)
P

,
M
2 R = 36,894 Morais et al. (1991)
P

3 R = 0,66M + 8,88 Oliveira Jr. (1988)

M
4 R = 42,307 + 69,763 Silva (2001)
P

5 R = 0,13 M ,
Leprun (1981)

,
6 M Val et al. (1986)
R = 12,592
P

,
M Lombardi Neto e Moldenhauer
7 R = 68,73
P (1992)

8 R = 19,55 + 4,2M Rufino et. al. (1993)

Fonte: Pruski (2009)


Figura 1 – Divisão do Brasil em regiões homogêneas, em termos de características de
precipitação, segundo Silva (2004). Fonte: Pruski (2009).

Intensidade, duração e frequência da chuva: A intensidade pode ser


utilizada para estimar a perda de solo (relacionado com a energia da
chuva) e desempenha um papel importante na taxa de infiltração do solo.
A intensidade de chuva influencia no escoamento superficial quando a
capacidade de infiltração é excedida (Horton, 1933). Quanto maior a
intensidade, maior a erosão. A duração da chuva é um complemento e a
combinação com a intensidade da chuva determina a chuva total. A
freqüência da chuva também influi, pois quanto menores forem os
intervalos entre as chuvas, mais elevado será o teor de umidade do solo,
contribuindo para o aumento do escoamento superficial.

Bertoni e Lombardi Neto (2012) definiram o fator chuva (R) como um


índice numérico que determina a capacidade da chuva, esperada em
determinada região, de causar erosão em uma dada área sem proteção.
Segundo estes autores, a erosividade depende das seguintes características das
chuvas são: a energia cinética (EC- função da massa e da velocidade de queda
da gota de chuva) e a intensidade máxima da chuva em 30 minutos, I30. O índice
de erosão é dado pelo produto destas duas características das chuvas, logo:

EI30 = EC x I30
onde,
EI30 = índice de erosão, MJ.mm/ha.h;
EC = energia cinética da chuva, MJ/ha; e
I30 = intensidade máxima da chuva em 30 minutos, mm/h.

O produto EC x I30, que fornece o índice de erosão a ser utilizado na


equação universal, é a melhor relação encontrada para a determinação do
potencial erosivo da chuva (BERTONI & LOMBARDI NETO, 2012), pois
combina o efeito da erosão por salpico, pela turbulência e pela enxurrada no
transporte das partículas de solo desprendidas. A erosividade da chuva anual
pode ser determinada pela soma de todos os valores de EI30 de chuvas
representativas (maiores do que 10 mm ou menores que provoquem transporte
significativo de solo) caídas durante um ano em um dado local. O cálculo do fator
R da equação universal de perdas de solo é dado pela média dos valores anuais
de EI de um período de tempo igual ou superior a 20 anos.
A energia cinética da chuva pode ser calculada pela seguinte equação
proposta por Wischmeier e Smith, modificada por (Foster et al., 1981, apud
PRUSKI, 2009):
EC = 0,119 + 0,0873 log i, onde:
EC = energia cinética da chuva, MJ/ha
i = intensidade da chuva, mm/h.

A intensidade máxima da chuva em 30 minutos, I30, é calculada pelos


diagramas de pluviógrafos, cuja análise é extremamente trabalhosa, o que
muitas vezes inviabiliza o uso deste índice determinação do potencial erosivo da
chuva (BERTONI & LOMBARDI NETO, 2012). Este fato, somado à escassez ou
inexistência de registros pluviográficos para a determinação da energia cinética
da chuva, levou ao desenvolvimento de novas equações que correlacionem o
índice de erosão com fatores climáticos de fácil medida, como apresentado
anteriormente, que são de chuvas totais diárias, mensais e anuais. Os valores
de R podem ser classificados como (erosividade anual):

Erosividade anual Classes de erosividade


(MJ.mm./ha.h)
R ≤ 2453 Erosividade fraca
2452 < R ≤ 4905 Erosividade moderada
4905 < R ≤ 7357 Erosividade moderada a forte
7357 < R ≤ 9810 Erosividade forte
R > 9810 Erosividade muito forte
Fonte: Carvalho (2008, apud SANTOS & MONTENEGRO, 2012)
b) Erodibilidade (fator K)

A falta de capacidade do solo de resistir aos processos erosivos é


conhecida como erodibilidade. Alguns solos, por exemplo, são mais erodíveis do
que outros. As propriedades físicas (estrutura, textura, densidade,
permeabilidade), químicas e biológicas exercem diferentes influências na
erosão. Em geral o aumento do teor de matéria orgânica e da fração argila (são
difíceis de remover quando em agregados) diminui a erodibilidade do solo.
Mesmo que a chuva, a declividade e a cobertura vegetal sejam as mesmas,
alguns solos são mais susceptíveis ao destacamento e transporte do que outros.
A remoção é maior em sedimentos na fração areia média, diminuindo para
frações maiores (Farmer, 1973; Bryan, 1974 apud Guerra e Cunha, 2012).
O teor de matéria orgânica depende da fauna e da flora (raízes,
microorganismos, etc.) presentes no local. As atividades humanas tendem a
modificar o teor de matéria orgânica (agricultura). A matéria orgânica liga as
superfícies externas das argilas e dilata quando esforços são transmitidos pelas
ligações (a ruptura é evitada).
A matéria orgânica presente no solo propicia uma maior estabilidade dos
agregados do solo, comparados à argila. É um dos fatores mais importantes da
hidrologia do topo do solo (“topsoil”), pois dificulta a formação de crostas na
superfície (força aplicada pelas gotas de chuva quebra os agregados,
espalhando pequenas partículas que cobrem a superfície, formando uma crosta
que dificulta a infiltração). A alta estabilidade dos agregados reduz a
erodibilidade dos solos (possibilita uma elevada porosidade, aumenta a taxa de
infiltração e reduz o escoamento superficial) e proporciona uma maior resistência
ao impacto das gotas de chuva (erosão por splash).
O fator de erodibilidade (K) pode ser determinado experimentalmente em
parcelas unitárias (25 metros de comprimento e declividade de 9%, livre de
vegetação e sem práticas conservacionistas, tendo fatores LS, P e C unitários).
Este é expresso em termos de perda de solo por unidade de índice de erosões
de chuva (EI), ou K=E/(EI).
Farinasso et al. (2006) analisaram solos da região do Alto do Parnaíba
(Piauí e Maranhão), determinando para estes os valores do fator K para
diferentes tipos de solo. Os resultados são apresentados na tabela 2, sendo os
solos classificados de acordo com o Sistema Brasileiro de Classificação dos
Solos, disposto em EMBRAPA (1999).

Tabela 2 – Fator K, de erodibilidade, calculado por diversos autores para neossolos


litólicos e argissolos vermelho-amarelos, em t.ha/(MJ/ha).mm/h.

c) Características da encosta (fator LS)

A perda total de solos representa uma combinação da erosão por


ravinamento, causado pelo runoff, e entre as ravinas (interril) que é influenciada
pela declividade. O volume e a velocidade da enxurrada dependem do grau de
declive (aumentam com o aumento do declive), do comprimento da encosta (há
um aumento da erosão com o aumento do comprimento de rampa) e da forma
da encosta, que desempenha um papel importante na erodibilidade dos solos.
Assim, o comprimento do declive, é definido por um fator L e a inclinação com
um fator S. Estes dois fatores podem ser analisados individualmente ou
conjuntamente. Quando analisados conjuntamente passam a ser chamados de
fator LS ou fator topográfico. O tamanho e a quantidade do material em
suspensão arrastado pela água dependem da velocidade com que ela escorre
que é função do comprimento e inclinação.
De acordo com Bertoni e Lombardi Neto (2012) o fator LS representa a
“relação esperada de perdas de solo por unidade de área em um declive
qualquer em relação a perdas de solo correspondentes de uma parcela unitária
de 25 m de comprimento com 9% de declive”. A determinação do fator LS pode
ser feita através da equação desenvolvida por Bertoni (1958, apud BERTONI &
LOMBARDI NETO, 2012):

LS = 0,00984.C 0,63 .D1,18 , onde:

LS = fator topográfico;
C = comprimento da rampa, em metros; e
D= grau do declive, em porcentagem (%);

A equação acima pressupõe declives e comprimentos de rampa uniformes


(não considera se são côncavos ou convexos). Dados escassos indicam que o
uso de um gradiente médio de comprimento de rampa pode subestimar as
perdas de solo em declives convexos e superestimar em declives côncavos
(Bertoni e Lombardi Neto, 2012). No caso de declives côncavos, onde o material
tenderá a se depositar na parte inferior. O comprimento e o grau de declive a
empregar é a parte superior a partir do ponto onde o solo começa a se depositar.
Para declives convexos (a parte inferior da rampa apresenta uma declividade
mais elevada que a parte superior), deve-se utilizar o gradiente (duas rampas)
para representar o declive de todo o comprimento de rampa.

d) Cobertura vegetal, uso e manejo do solo (fator de cobertura C)

A cobertura vegetal pode reduzir a quantidade de água que chega aos


solos durante um evento chuvoso, através da minimização dos impactos das
gotas chuva, principalmente para chuvas de maior intensidade. É a defesa
natural de um terreno contra a erosão. No caso de florestas tropicais, a cobertura
vegetal reduz o volume de água que chega ao solo e alteram a distribuição do
tamanho das gotas (e a energia cinética). Entretanto, podem ocorrer
ravinamentos devido ao escoamento das águas nos troncos (“stemflow”) e
erosão por “splash” devido ao acúmulo de água em folhas largas. Em florestas
tropicais formam-se uma cobertura serapilheira (na superfície do solo), composta
pela matéria vegetal que se deposita no solo, resultando em baixas taxas de
erosão e runoff e aumento do teor de matéria orgânica no solo (melhora a
porosidade e a capacidade de retenção de água). A remoção da vegetação por
agentes antrópicos ou naturais geralmente resulta na aceleração da erosão.
As perdas de solo podem ser estimadas pelos fatores R, K, LS da Equação
Universal de Perdas de Solo. Entretanto, se a área estiver cultivada, as perdas
de solo serão reduzidas devido à proteção que o cultivo oferece. A erosão do
solo pode ser maior ou menor em determinada área dependendo da combinação
de cobertura vegetal, sequência e estágio de crescimento de cultura e práticas
de manejo. Assim sendo, o fator C representa a influência das variações nos
sistemas de cultivo e manuseio e da vegetação existente sobre as perdas de
solo.
Boa parte dos valores de C descritos na literatura foi determinada por
pesquisadores experientes e com grande conhecimento de coberturas agrícolas
e do manejo em determinadas áreas. As florestas e as culturas forrageiras de
gramíneas e leguminosas são os melhores agentes naturais para a proteção do
solo em função da sua cobertura. Sabe-se ainda que áreas com grandes
florestas ou com grande quantidade de resíduos tendem a possuir um C
reduzido, muitas vezes inferior a 0,1 enquanto que solos com pouca cobertura
possuem um fator C elevado, geralmente próximo a 1.
Segundo Araújo et al. (2013) o uso de uma cobertura vegetal pouco
apreciável pode contribuir para um baixo valor de C (0,003), quando sua
cobertura cobrir cerca de 95% da área. Por outro lado, o uso de mulches
(serragem de madeira, casca de arroz, raspa de madeira e capim seco aplicados
na superfície do solo como cobertura morta) e produtos de bioengenharia (telas,
mantas de controle de erosão, mantas reforçadoras, etc.) para a cobertura do
solo, também possuem uma boa eficiência no controle da erosão, uma vez que
estes fornecem uma proteção inicial e favorecem o estabelecimento vegetativo,
melhorando seu desempenho.
Se uma área for cultivada, as perdas de solo serão reduzidas devido a
proteção que a cultura oferece ao solo. Esta redução depende das combinações
de cobertura vegetal, sequência de culturas e práticas de manejo. O fator de uso
e manejo é a relação esperada entre as perdas de solo de um terreno cultivado
em dadas condições e as perdas correspondentes de um terreno mantido
continuamente descoberto e cultivado. A cobertura vegetal afeta a erosão
através de 3 zonas de influência distintas: cobertura vegetal superior, cobertura
vegetal em contato direto com o solo e os resíduos vegetativos. A tabela 3
apresenta valores de C, considerando as três zonas. A primeira e segunda
coluna refere-se à cobertura superior e a terceira e a quarta à cobertura vegetal
inferior (G) e resíduos vegetativos (W).

Tabela 3 – Fator C para diferentes coberturas vegetais de solo

Fonte: USDA Soil Conservation Service, (1978) apud ARAÚJO et al. (2013)
Nota:
G=cobertura na superfície formada por gramíneas ou serapilheira (acúmulo de matéria orgânica
morta em diferentes estágios de decomposição) com pelo menos 5 mm de espessura;
W=cobertura na superfície formada na maior parte por folhas, plantas herbáceas com pouca rede
lateral de raízes na superfície e/ou serapilheira

No caso de obras para controle de erosão superficial (mulches e produtos


de bioengenharia) podem ser atribuídos valores de C como apresentados na
tabela 4.
Tabela 4 – Fator C para diferentes coberturas de solo
Tipo de cobertura Fator C Redução da perda de solo
Nenhuma 1,0 0
Vegetação nativa não perturbada 0,01 99
Semeadura temporária, gramíneas 0,1 90
(90%), sem mulch
Manta de fibra vegetal 0,3 70
Mulch de restos culturais – 3,4t/ha de 0,2 80
fibras
Mulch de restos culturais – 9,4t/ha de 0,05 95
fibras
Fonte: Goldman et al. (1986) apud ARAÚJO et al. (2013)

e) Fator de práticas conservacionistas (fator P)

O fator P se refere às práticas de controle da erosão. Estas práticas podem


ser de natureza estrutural-mecânica, hidráulica ou de nivelamento e reduzem a
erosão ao diminuir a velocidade do escoamento superficial e ao minimizar a
tendência da água de fluir encosta abaixo (ARAÚJO et al., 2013). É a relação
entre a intensidade esperada de tais perdas com determinada prática
conservacionista e quando a cultura está plantada morro abaixo (Bertoni e
Lombardi Neto, 2012). Segundo o Araújo et al. (2013), em obras de engenharia,
o fator P denota o estado da superfície do solo depois de operações de
escavação e terraplenagem. A Tabela 5 aponta os valores de P para diversas
condições de superfície e aplicação de algumas práticas conservacionistas.

Tabela 5 – Valores do fator P para diferentes práticas conservacionistas


Condição da Superfície Fator P
Plantio morro abaixo 1,0
Plantio em contorno 0,5
Alternância campinas + plantio de contorno 0,4
Cordões de vegetação permanente 0,2
Fonte: Bertoni e Lombardi Neto (2012)
2.3 Recuperação de áreas degradadas pelo processo erosivo

Para mitigar os efeitos da erosão deve-se proceder a um controle, cujas


ações podem ser agrupadas em:

- Medidas preventivas: São medidas que visam evitar que um determinado


agente se instale e dê início ao processo erosivo. Ex.: preservação da vegetação,
controle das águas pluviais, etc.
- Medidas corretivas: Engloba um conjunto de ações que são executadas após
a erosão já estar instalada.

Os princípios de controle da erosão superficial são baseados no bom senso


e muitos produtos e medidas foram introduzidos ao longo dos anos, sendo mais
eficientes quando aplicadas conjunto com os princípios a seguir apresentados
(Araújo et al., 2013):
a) Ajustar um plano de desenvolvimento ao local (evitar trabalhos de
movimentação de solos e terraplanagem em solos com tendência a
erosão).
b) Instalar equipamentos de condução hidráulica para “disciplinar” as águas
do escoamento superficial.
c) Diminuir a velocidade do escoamento superficial (ex.: escadas
hidráulicas).
d) Construir bermas e drenos para desviar o escoamento superficial e
encostas íngremes e áreas desprotegidas.
e) Aproveitar a vegetação nativa sempre que possível.
f) No caso de vegetação removida, limpar a área aos poucos, evitando a
exposição do solo.
g) Proteja as áreas limpas com mulches (cobertura morta) e coberturas
vegetais de herbáceas temporárias de crescimento rápido.
h) Construir bacias de sedimentação.
2.4 Técnicas de recuperação dos solos

Os métodos de controle de erosões englobam várias técnicas, como


construções vivas (plantios convencionais, biotecnologia e bioengenharia),
construções mistas (geogrelhas combinadas com semeadura) e construções
inertes (estruturas de concreto). A seguir serão descritas as principais técnicas
de recuperação de solos degradados por processos erosivos.

2.4.1 Correção do solo

O solo é formado pela ação lenta e continuada de agentes erosivos (a água


principalmente) atuando sobre as rochas. A erosão é um processo natural
formador da própria paisagem. Quando a erosão é acelerada pela ação antrópica
pode provocar danos ambientais.
A recuperação do solo deverá ser iniciada pela formação de um solo capaz
de receber e manter a vegetação pioneira a ser implantada. A recuperação pode
ser feita através de preparo do solo com técnicas agronômicas auxiliado por
análises químicas do mesmo.
A correção do solo (ou calagem) significa a elevação do pH para uma
condição favorável ao estabelecimento e a perpetuação da vegetação. Esta
pode ser feita com o uso de calcário agrícola. Adicionalmente deve ser feita a
adubação (fertilização) para elevar o teor dos nutrientes do solo em níveis que
as culturas possam se desenvolver. A adubação pode ser feita com a adição de
adubos químicos (Adubos NKP- Nitrogênio, Fósforo e Potássio), orgânicos
(resíduos sólidos, serapilheira, cama de aviário, lodos de ETE, esterco, etc.) ou
adubos verdes (uso de espécies tolerantes às condições adversas que se
adaptam as condições do local e recuperam a estrutura do solo).

2.4.2 Reaterro das erosões

Antes de se determinar um reaterro deve ser questionado se a solução é


será adequada para estabilizar a erosão. No caso de erosões em locais urbanos,
por exemplo, pode ser necessária a recomposição da topografia para condição
inicial antes ocorrência da degradação
A execução de um reaterro, quando necessário, deve ser a última opção
no processo de recuperação. Antes disto, todas as outras ações preventivas
(disciplinamento da água de montante, drenagens, estruturas de lançamento)
devem ter sido executados, pois, caso contrário, todo o material do aterro corre
risco de ser erodido novamente e pode acarretar em aumentar a quantidade de
sedimentos.
Alguns problemas são comuns na execução dos serviços de reaterro. A
dificuldade de compactação é grande devido à falta de espaço para a
movimentação dos equipamentos. Desta forma o solo tende a não ficar bem
compactado e consequentemente com uma menor resistência. Outro problema
é o tipo de material a se empregar (solo, entulho, mistura, etc.).
O uso de solo para o reaterro é o mais recomendável, mas pode
demandar grandes volumes, gerando um dano ambiental no local de
empréstimo. Além destes fatores as distâncias de transporte também podem
inviabilizar esta alternativa.
O lançamento de entulhos só seria recomendado se utilizado materiais
inertes e previamente selecionados. Deve-se avaliar quais substâncias serão
transportadas pelo fluxo de água, a deformabilidade do futuro aterro, a
permeabilidade e resistência (o que poderá ser construído sobre este aterro).
O lançamento de RSU é desaconselhável devido à contaminação do solo
e lençol freáticos e transporte de poluentes gerados pela decomposição do lixo.

2.4.3 Terraceamento, curvas de nível e rotação de culturas

As velocidades excessivas do escoamento superficial são responsáveis


pelo carreamento do solo. Como pode ser visto anteriormente, sobre os
mecanismos da erosão pluvial, comprimentos de rampa relativamente maiores
favorecem o desenvolvimento de grandes velocidades de escoamento.
Terraceamento é uma técnica que subdivide rampas maiores em várias rampas
menores mediante corte/aterro do terreno, compreendendo um canal (cava ou
valeta) associado a um camalhão ou dique (Figura 2). Estas rampas são
construídas no sentido transversal ao declive e objetivam infiltrar a água no solo
e retê-la na cava ou escoá-la em menor velocidade.
O terraceamento se aplica em terrenos com declividade superior a 3% e
rampa superior a 100 metros. Se o comprimento de rampa for inferior a 100
metros pode-se optar pelo uso de outra técnica (plantio em curvas de nível, etc.).

Figura 2 – Terreno Terraceado (Poleto, 2010)

A execução de curvas de nível é uma técnica bastante usada nas áreas


agrícolas para minimizar a erosão laminar. Consta em suavizar os declives em
áreas urbanas e rurais para obrigar que as águas pluviais façam uma trajetória
menos agressiva.
Bertoni & Lombardi Neto (2012) propuseram a seguinte equação para
dimensionamento do espaçamento vertical entre os terraços:

!" = 0,4518. $. % ,
, onde:

D = declividade do terreno (em %)


K = Constante para cada tipo de solo (solo arenoso=0,835;
argiloso=0,954; terra rocha=1,212).

Há diversos tipos de seções transversais de terraços (Bertoni e Lombardi


Neto, 2012). Um dos tipos mais usado é o terraço de base larga, que constitui
uma das formas mais seguras contra os efeitos da erosão. Embora não haja
dados na literatura nacional sobre a eficiência destes terraços no controle da
erosão, dados de estações experimentais americanas indicaram uma redução
de 87% das perdas de solo e 12% das perdas de água. São indicados em
terrenos com declividade de até 12%, podendo ser construídos em terrenos com
até 20% de declividade. O destino de enxurradas conduzidas no canal do terraço
é um canal vegetado que deve ser construído antes da execução dos terraços.
A seção transversal do terraço deve apresentar inclinações moderadas o
suficiente para não dificultar a passagem de maquinário agrícola, facilidade e
economia de construção. Os terraços devem possuir pouca profundidade e
grande largura. Em geral recomendam-se profundidades de 35 a 40 cm, larguras
de 5 a 12 metros e declividades não superiores a 5:1, sendo preferíveis 8:1
(Bertoni e Lombardi Neto, 2012). Quanto à seção transversal do dreno,
recomendações americanas indicam áreas entre 0,55 e 0,92 m², mas o
dimensionamento pode ser feito utilizando o método racional (com coeficiente de
escoamento superficial entre 0,2 e 0,6), adotando-se um tempo de concentração
de 25 minutos.
Além do terraceamento, outra técnica que pode ser utilizada é a cultura em
faixas, que consiste na disposição de culturas em faixas de largura variável, com
alternância anual do cultivo de plantas (as que oferecem pouca proteção ao solo
e as com crescimento denso), combinado com plantio de contorno, sendo, em
muitos casos, feito em conjunto com a execução de terraços. As faixas e os
contornos devem acompanhar as curvas de nível e orientadas
perpendicularmente às correntes dos ventos dominantes.
Outra técnica que pode ser utilizada são os cordões permanentes de
vegetação, que são fileiras de plantas perenes (duram tempos longos) e de
crescimento denso, dispostas com um certo espaçamento horizontal e sempre
em contorno, formando barreiras vivas para controle de erosão.

2.4.4 Recuperação da vegetação

A reconstituição da vegetação em solo degradados é feita mediante a


adoção de práticas agronômicas destinadas a implantação de nova vegetação
para retornar a forma e função da paisagem anterior. As funções são:
recuperação paisagística da área, controle dos processos erosivos, recuperação
das propriedades do solo (química, física e biológica) e retorno da fauna. As
metodologias utilizadas no plantio das espécies podem ser:

a) Semeadura direta e com técnicas nucleadoras;


b) Plantio convencional e com técnicas nucleadoras;
c) Plantio aleatório e;
d) Corredores ecológicos.

2.4.5 Biotecnologia aplicada ao controle dos processos erosivos

No Brasil grande parte dos problemas de degradação está associada à


erosão em áreas agrícolas e urbanas. Uma vez deflagrado o processo erosivo
este é acelerado por fenômenos associados à precipitação e concentração do
fluxo, gerando ravinas, voçorocas e rupturas de taludes.
Dentro dos estudos realizados para mitigar e recuperar os efeitos da
degradação gerada por um processo erosivo pode-se citar a biotecnologia. Estas
técnicas utilizam microrganismos para melhorar as propriedades do solo,
comportamento e estabilidade. Como exemplos pode-se citar:

- Adição de bactérias calcificantes para melhorar a resistência e rigidez do solo


- Aplicação de nutrientes da microflora nativa (bactérias, fungos e algas) para
melhoria das propriedades físico-mecânicas de um solo tropical.

2.4.6 Bioengenharia

Denominam-se técnicas de bioengenharia as que são aplicadas para


construir estruturas geotécnicas e hidráulicas que exigem um conhecimento
biológico (Araújo et al., 2013). Plantas inteiras ou suas partes são utilizadas
como material de construção para reforçar locais instáveis, em combinação com
materiais de construção tradicionais.
A bioengenharia se refere principalmente ao uso de plantas vivas e/ou
partes de plantas. Estacas vivas e ramos são encravados e arranjados no solo
ou em estruturas feitas de terra. O uso integrado de plantas vivas ou inertes
para reforçar o solo e estabilizar a encosta pode ser feito em conjunto com
componentes estruturais e mecânicos inertes. Os componentes inertes incluem
concreto, madeira, pedra e geotêxteis ou geogrelhas (sintéticos ou naturais).
Nos métodos de bioengenharia as plantas são utilizadas no solo em
padrões e configurações especiais. As plantas podem agir como reforço para o
solo, como barreiras contra o movimento do solo, como concentradores de
umidade, como drenos hidráulicos, etc. A seguir são apresentadas algumas das
técnicas de bioengenharia utilizadas.

i) Estacas vivas
O estaqueamento na superfície da encosta envolve a inserção de estacas
vegetativas e vivas, que são enraizadas no solo. O procedimento é rápido, fácil
e econômico. A Figura 3 mostra um esboço de um sistema de estacas vivas.
Este tipo de técnica pode ser feito para controlar movimentações de encostas.
As estacas vivas podem ser fixadas juntamente com o uso de redes de fibra de
coco. Ao longo do tempo desenvolvem-se uma manta de raízes vivas no solo,
agindo como reforço no solo e extraindo a umidade excessiva. Em geral as
estacas têm diâmetro de 1 a 4 mm e comprimento de 0,60 a 0,90 metros, sendo
que 2/3 a 3/4 do comprimento é enterrado no solo. As estacas são instaladas
com densidades entre de duas a cinco estacas por m².

Figura 3 - Diagrama de instalação de estacas vivas (Lewis, 2000 apud Araújo et al., 2013).

ii) Caniçadas vivas


Neste sistema, os galhos e os ramos de material vegetativo enraizável são
amarrados em fardos e instalados em trincheiras rasas. Os fardos são
amarrados por cordas e ancorados com estacas de madeira ou estacas vivas
(cravadas a cada 60 ou 90 cm), como pode ser observado na Figura 4. Após a
instalação das caniçadas, as trincheiras são preenchidas com terra, que não
enterram completamente os fardos vegetativos. As linhas de caniçadas
instaladas em encostas, formam banquetas que diminuem a velocidade de
escoamento superficial e ancoram os transportados sedimentos. A principal
vantagem é que esta técnica reduz a erosão a curto prazo, sendo adequada a
aplicação em encosta mais íngremes.
Os comprimentos dos fardos vegetativos variam de 1,2 a 9 m, tendo um
diâmetro final de 20 a 30 cm, sendo instaladas a partir da base da encosta. O
espaçamento entre os fardos depende da declividade da encosta (Araújo et al.,
2103).

Figura 4 - diagrama da caniçada viva (Lewis, 2000 apud Araújo et al., 2013).

iii) Caniçadas vivas com drenos


Nesta técnica filas de caniçadas vivas são instaladas em forma de V,
conectando-se a um dreno central. Inicialmente se constrói o sistema central e
após as trincheiras laterais. As seções laterais são compostas por um fardo de
caniçadas individuais e o dreno central composto por três fardos de caniçadas
vivas. A visão geral da desta técnica pode ser vista na Figura 5. Esta técnica
utilizada em encostas muito úmidas, onde há evidências de insurgência de água
sub-superficial da encosta, funcionando como dreno.
Figura 5 - Caniçada viva com drenos (Lewis, 2000 apud Araújo et al., 2013).

iv) Camadas de ramos ou vassouras (“escovas”)


Nesta técnica ramos vivos podados (brushlayering), em forma de feixes,
são aplicados na superfície do solo, sendo intercalados entre camadas de solo,
como pode ser visto na Figura 6. Os feixes são colocados em um modelo
entrelaçado de modo que a extremidade dos feixes se projete além da face do
talude. Os feixes retardam o escoamento superficial e filtram os sedimentos para
fora do escoamento superficial da encosta. Os caules se estendem para dentro
da encosta, formando um reforço que estabilizando a encosta contra
deslizamentos superficiais.
As camadas de ramos funcionam melhor quando realizados em conjunto
com a construção de taludes de aterro convencional, sendo embutidas entre
camadas sucessivas de aterros na margem externa. A camadas com feixes é
coberta com terra e levemente compactada. No caso de taludes de corte,
procede-se a escavação de terraços e a colocação dos feixes. Esta técnica só é
recomendável para taludes de corte com declividades menores que 2:1
(horizontal:vertical).
Figura 6 – Camadas de ramos ou vassoura em aterro de corte (Lewis, 2000 apud
Araújo et al., 2013).

v) Aterro vivo para recuperação de voçorocas


Aterro vivo pode ser aplicado para a recuperação de ravinas e pequenas
voçorocas. A técnica consiste em executar camadas de solo compactadas,
alternadas com feixes de ramos vivos, instalados ao longo da profundidade de
solo recuperada. Os ramos embutidos e as raízes secundárias reforçam o aterro
utilizado. Os reparos por esta técnica ficam restritos a voçorocas com no máximo
0,6 m de profundidade e 4,5m de comprimento. A instalação de aterro vivo
começa no ponto mais baixo da voçoroca e prossegue de forma ascendente. As
estacas de aterros vivos são inseridas entre camadas sucessivas de solo
compactado.
Figura 7 – Aterro vivo (Lewis, 2000 apud Araújo et al., 2013).

2.4.7 Retentor de sedimentos ou estabilizador de talvegues

O uso de geotêxteis no controle de erosões é adequado devido a boa


deformabilidade e baixíssima degradabilidade destes materiais. Muitas
recuperações de áreas degradadas por mecanismos erosivos têm utilizado
combinações de geotêxtil com outros materiais. O geotêxtil desempenha duas
funções: retenção do solo erodido (filtração) e drenagem. Uma das técnicas
utilizadas consiste na instalação de barramentos transversais ao longo de eixo
longitudinal da erosão. Nos barramentos são utilizados elementos de madeira,
tela metálica e geotêxtil. A execução deste sistema é simples e de baixo custo.
Com os assoreamentos de um dos barramentos, os sedimentos que passam
pela barragem assoreada são retidos em outra e assim sucessivamente,
diminuindo a erosão. A Figura 8 mostra a seção transversal deste sistema de
barramento e a Figura 9 uma vista longitudinal.
Figura 8 – Vista Frontal do sistema de barramento (Farias et al., 2006)

Figura 9 – Vista lateral das barreiras de sedimentos (Farias et al., 2006 apud Carvalho et
al., 2006)

Além do barramento minimizar a perda de solo e o aprofundamento das


bordas da erosão (que resulta em instabilidades), pode-se revestir o talvegue
(colchão de reno, concreto e geossintético) para minimizar o transporte de fundo.
Os revestimentos de fundo tendem a conferir uma resistência extra ao talvegue
com a passagem das águas pluviais. Já os barramentos podem gerar sucessivos
volumes de água represados, que diminuirão a velocidade do fluxo e
consequentemente a energia, permitindo a sedimentação da matéria sólida
carregada.

2.4 Exemplos de aplicação recuperação da vegetação

A seguir serão apresentados alguns casos de recuperação de solos


degradados por mecanismos erosivos. O primeiro caso mostra a utilização de de
geotêxtil biodegradável de vibra de tronco de bananeira (Lagesolos, 2012 apud
Guerra e Jorge, 2013) para recuperar um trecho uma encosta degradada. A
figura 10 mostra a encosta degradada a ser recuperada. A Figura 11 a encosta
após a aplicação do geotêxtil e a Figura 12 o resultado final da recuperação, com
a cobertura vegetal reestabelecida.

Figura 10 - Trecho da encosta degradada na Bacia do Rio São Pedro (Lagesolos,


2012)
Figura 11 - Encosta após a colocação do geotêxtil (Lagesolos, 2012)

Figura 12 - Encosta após um mês de recuperação com o plantio da gramínea


(Lagesolos, 2012)

O segundo caso, refere-se à voçoroca do bairro de Sacavém, município de


São Luís, com 75 metros de largura e 35 metros de comprimento, apresentando
encostas íngremes de até 90º (Figura 13). A reabilitação foi feita utilizando a em
três etapas: (a) reconstrução dos taludes (retroescavadeira) para diminuir a
declividade; (b) aplicação de insumos, através do uso de adubo de palmeira e
sementes de capim braquiária; e (c) aplicação de geotêxteis (fibra de buriti), para
oferecer proteção ao solo até a encosta estabilizar com a cobertura vegetal
(Figura 14). A Figura 15 mostra a área um mês após a aplicação da técnica, em
que os taludes se encontram vegetada.
Figura 13 – Vista parcial da voçoroca de Sacavém (Guerra e Jorge, 2013)

Figura 14 – Área de aplicação da técnica de bioengenharia (Guerra e Jorge, 2013)

Figura 15 - Vista da área reabilitada da voçoroca de Sacavém (Guerra e Jorge, 2013)


2.5 Bibliografia

ARAUJO, G.H. S., Almeida, J.R., GUERRA, A.J.T. Gestão Ambiental de Áreas
Degradadas. Bertrand Brasil, 10º Edição, 2013, 322p.
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Ícone, 2012.
BRADY, N. C. Natureza e propriedades dos solos. 7. ed. Rio de Janeiro:
Freitas Bastos, 1989.
CARVALHO, J.C., SALES, M. SOUZA, N.M., MELO, M.T.S. Processos erosivos
no Centro-Oeste Brasileiro. Editora Finatec, 2006, 464p.
EMBRAPA. Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos. Embrapa Solos,
Rio de Janeiro, 1999. 412p.
GUERRA, A. J. T.; JORGE, M. C. O. (Org.), Processo Erosivos e Recuperação
de Áreas Degradadas, Oficina de Textos, 2013,192p.
FARINASSO, M.; CARVALHO JÚNIOR. O. A.; GUIMARÃES, R. F.; GOMES, R.
A. T.; RAMOS. V. M. Avaliação qualitativa do potencial de erosão laminar
em grandes áreas por meio da EUPS – Equação Universal de Perdas de
Solos utilizando novas metodologias em SIG para os cálculos dos seus
fatores na região do Alto Parnaíba – PI-MA. Revista Brasileira de
Geomorfologia, ano 7, nº 2, p. 73-85, 2006.
POLETO, C. (2010). Introdução ao Gerenciamento Ambiental. 1º Ed., Cap. 6.
Recuperação de Áreas Degradadas (autor: Vasques, B.A.F). Editora
Interciência, p 183-237.
PRUSKI, F. F. Conservação de solo e água – Práticas mecânicas para o
controle da erosão hídrica. Viçosa: Ed. UFV, 2009.

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