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Folha - Nesse ponto, o Brasil não é tão diferente assim dos EUA...
Cosmides - Pelos dados preliminares brasileiros parece que as coisas não são tão
diferentes. Então, nós achávamos que, se você tivesse duas coalizões, mas a raça não
ajudasse a predizer a qual delas se aliar, isso deveria diminuir o grau com que as
pessoas notam e recordam a raça das outras. E isso se mostrou verdadeiro. É claro que,
nesse experimento, como em qualquer outro, existem interpretações alternativas – razão
pela qual eu repito meus experimentos muitas, muitas vezes, coisa que os nossos
críticos não parecem notar.
Folha - A sra. mencionou o interesse de pessoas nesse tipo de trabalho, mas ainda
há muita resistência a essas idéias, inclusive do ponto de vista político, não?
Cosmides - Sim, e é por isso que os estudantes são a esperança para o futuro, porque
eles não têm pré-compromissos. As pessoas também estão se tornando mais
sofisticadas, estão percebendo que não se trata de determinismo biológico mas de tentar
entender o design da mente, incluindo seu desenvolvimento e as maneiras como o
ambiente afeta o desenvolvimento mental. Por exemplo, eu sou míope. Neste momento
[Cosmides tira os óculos], eu não consigo ver você. Agora [ela coloca os óculos de
novo], eu consigo ver você. Mudança ambiental – das grandes, aliás. No entanto, há
uma base genética para quem fica míope e quem não fica. Os caçadores-coletores não
ficam míopes. Nós temos um mecanismo que ajusta nossa visão à distância focal média,
mas o problema é que, em sociedades como a nossa, estamos lendo de perto, assistindo
à TV de perto, então a distância focal média encurta. A assim um tipo de variação
genética que nem se expressa entre caçadores-coletores acaba se expressando entre nós.
Folha - A idéia de um forte componente inato na mente humana soa fatalista para
muita gente, mas a sra. diz que discorda. Por quê?
Cosmides - Certamente eu não sou fatalista! Somente entendendo os mecanismos da
mente é que você pode esperar melhorar a condição humana. Isso é especialmente
importante quando se considera que nós temos uma mente cheia de muitos mecanismos
especializados em determinadas funções. Um exemplo: existem mecanismos que
governam a agressão grupal (o pensamento do tipo “nós contra eles”), mas eles não
ficam ativos o tempo todo. Que condições sociais os ativam? Se soubermos isso,
podemos evitar situações que causam xenofobia ou guerra.
FSP, 10/06/2006