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A influência da punição doméstica

na agressividade de crianças no
ambiente escolar

Any Esther
Críscia Luana Oliveira Marfil-16/0166756
Eduardo Bernardes Melo da Silva - 13/0154237
Marcela Neves de Oliveira - 13/0154768

Psicologia Evolucionista
2017
Introdução

Devido ao processo evolutivo da anatomia humana decorrente do bipedismo, os bebês


humanos passaram a nascer de forma prematura (Bussab & Otta, 1992). Consequentemente,
essa fragilidade ao nascer demandou uma maior presença de cuidados parentais por um maior
período de tempo. Desta forma, essa presença de cuidados e de um maior apego ao filhote se
tornou uma característica essencial para a sobrevivência, de forma que, não só a mãe, mas
também o pai passasse a ter um papel fundamental no desenvolvimento do filhote (Eibl-
Eibesfeldt, 1989).
Esta necessidade de um apego por parte dos pais aumentou, em muito, as relações
familiares na espécie humana, fazendo com que o ambiente familiar se tornasse o principal
influenciador na criação do filho. Tudo isso exigiu um maior investimento por parte dos pais,
tornando a criação de seus filhos uma prioridade, o que gerou uma maior preocupação com a
educação recebida por eles.
Neste processo de educar os filhos, muitos pais utilizam, ainda hoje, a punição como
principal método disciplinante, sendo esta uma atitude ainda muito questionada quanto à sua
eficácia e suas possíveis influências à criança. A punição física tem sido amplamente
estudada, e revisões na literatura concluem que ela está relacionada a um aumento de
comportamentos agressivos em crianças (Becker, 1964; Patterson, 1982; Radke- Yarrow,
Campbell, & Burton, 1968; Steinmetz, 1979).
Vários estudos mostraram que crianças que vivem em um ambiente aversivo podem
se tornar bullies. Existem alguns fatores familiares que aumentam as chances das crianças
cometerem atos de bullying: a carência de envolvimento e afeição; a tolerância de atitudes
agressivas sem impor limites; e o autoritarismo na criação, onde a punição física e explosões
emocionais violentas são os métodos de controle habituais (Pearce, 1998).
O bullying nem sempre é visível, pois muitos casos ocorrem sem os pais e professores
perceberem. As vítimas se sentem incapazes de reportar pelo medo de serem retalhadas.
Algumas formas de bullying podem ser tão sutis que são consideradas provocações. No
entanto, se a provocação envolve intimidação e resulta em angústia, ela se enquadra
claramente na definição de bullying (Pearce,1998).
O bullying pode ser manifestado de maneiras diferentes, de forma direta ou indireta.
O direto consiste em agressão física, palavras prejudiciais ou gestos desagradáveis. Os
meninos se envolvem em bullying direto cerca de quatro vezes mais frequentemente do que
as meninas. O bullying indireto envolve ignorar, isolar ou negar desejos, e é usado com mais
frequência por meninas (Pearce,1998).
O agressor possui características típicas como: agredir qualquer pessoa independente da
posição da autoridade; carência de controle sobre seus impulsos; acreditar que a violência é
uma qualidade; possuir o desejo de dominar; ser insensível aos sentimentos alheios; e possuir
boa autoestima (Pearce, 1998).
Segundo Pearce (1998), os praticantes de bullying fazem um pequeno grupo em torno
deles e depois selecionam uma única vítima que está isolada de qualquer relação protetora.
Os seguidores do agressor se envolvem em parte para se proteger, e para ter o status de
pertencer ao grupo. Algumas dessas crianças podem ser consideradas como "agressores
passivos" que se sentem bastante culpados por participarem. Aproximadamente 20% dos
bullies também são vítimas tanto quanto são agressores. Uma combinação de baixa auto-
estima e agressão provocativa é um indicativo de uma criança perturbada e sua motivação
para o bullying provavelmente deve-se a uma psicopatologia anormal.
A princípio, este comportamento agressivo, assim como outros mecanismos
psicológicos, é resultante das pressões seletivas às quais os seres humanos foram submetidos
ao longo do tempo (Buss, 1995). De acordo com Buss e Shackelford (1997), essas pressões
podem ter sido sobre a obtenção e acúmulo de recursos, disputa por parceiros sexuais,
aumento de status entre um grupo social ou mesmo a autodefesa.
Porém, segundo Maldonado e Williams (2003), a agressividade nos humanos também
pode ser influenciável pelo ambiente, sendo um comportamento que pode ser ensinado como
forma de ascensão social ou como saída para situações de risco em alguns ambientes
familiares e não em outros.
Com base nessas observações, este trabalho tem como objetivo estudar a influência da
convivência com pais punitivos na prática de bullying por crianças na terceira infância, de
forma a compreender em que níveis tal comportamento pode ser influenciado pelo ambiente
familiar.
Supõe-se que, no ambiente familiar daquelas crianças que praticam bullying, o uso
da punição pelos pais seja mais frequente do que nos ambientes de crianças que não o
praticam, de forma que o comportamento punitivo dos pais estimule a criança a ter um
comportamento mais agressivo e cometer o bullying.

Método
Participantes
Os participantes do estudo serão alunos do Ensino Fundamental, de idades variando
de 9 a 12 anos, e seus respectivos professores.

Procedimento
Para a realização do estudo aqui planejado, pediremos a autorização de um Conselho
de Ética, cumprindo assim as exigências da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de
Saúde. Além disso, também será requisitada autorização em escrito dos pais, bem como o
assentimento da própria criança para o prosseguimento do experimento.
O procedimento se dará em três etapas. Na primeira delas, os professores da escola
passarão por entrevistas avaliando o comportamento agressivo das crianças da escola em
relação às outras crianças. Serão levantados dados acerca dos alunos que realizam ações
agressivas, bem como as ações correspondentes, sejam físicas (tais como beliscar, empurrar,
dar tapas) ou verbais (tais como xingar, ofender, excluir do grupo).
Na segunda etapa, a criança responderá um questionário relacionado à agressividade e
seu comportamento para com os colegas dentro da escola, dividido em três componentes:
raiva, violência verbal e violência física. As crianças selecionadas incluirão os alunos
indicados pelos professores como sendo os mais agressivos, além de uma quantidade igual de
alunos restantes.
Na última etapa, a criança responderá questionários acerca da vida doméstica e dos
tipos de punição aplicados pelos pais quando ela se comporta de uma forma considerada
inadequada. Dentre os tipos de punição podem se enquadrar castigos, ofensas verbais ou
mesmo a sanção física. Os alunos questionados serão os mesmos da fase anterior.

Instrumentos
Os métodos a serem utilizados são:
1) Perguntas abertas aos professores, com objetivo de identificar os principais
perpetradores do bullying e as ações que eles geralmente tomam.
2) Uma adaptação do questionário de Buss-Perry (1992) direcionada aos alunos, com as
seguintes questões a serem respondidas em uma escala de 1 (discordo totalmente) a 5
(concordo totalmente):
a) Discordo frequentemente das outras pessoas;
b) Quando alguém discorda de mim, não consigo deixar de discutir;
c) Quando alguém me irrita, eu digo exatamente o que penso dessa pessoa;
d) Sinto que vou explodir a qualquer momento;
e) Meus amigos dizem que tenho cabeça quente;
f) Tenho problemas para controlar minha irritação;
g) Às vezes não consigo controlar o desejo de bater em alguém;
h) Se alguém me bate, eu bato de volta;
i) Eu brigo mais que o resto dos meus colegas.
3) Um questionário direcionado à criança, inspirado no Conflict Tactics Scales – Parent-
Child (CTSPC) (traduzido por Reichenheim & Moraes, 2003), para avaliar os níveis
de violência aos os quais ela estaria sendo submetida em casa. Cada um dos itens
deverá ser respondido em uma escala de 1 (nunca) a 4 (frequentemente).
Quando seus pais se zangam com você:
a) Você já foi ofendido com palavras como estúpido(a), burro(a), preguiçoso(a)
ou outra coisa parecida?
b) Você leva beliscões?
c) Você leva palmadas com a mão aberta em partes do corpo além do rosto?
d) Você leva palmadas com a mão aberta no rosto?
e) Você leva socos?
f) Você apanha com alguma coisa como um cinto, chinelo, escova de cabelo,
vara ou outro objeto duro?
g) Você já foi chutado?
h) Você já foi sacudido pelos ombros?
i) Você já foi jogado no chão?
j) Você já foi ameaçado com arma ou faca?
k) Você já foi ameaçado de ser expulso de casa?

Ambiente
O estudo será conduzido em três escolas públicas do Distrito Federal, contendo alunos
do 3º ao 6º ano do Ensino Fundamental.

Análise de dados
Os dados obtidos serão relacionados de forma a verificar se há correspondência entre
a prática do bullying na escola e um maior nível de punição inferida sobre a criança dentro do
ambiente familiar.
Referências bibliográficas

Becker, W. C. (1964). Consequences of different models of parental discipline. In M. L.


Hoffman & L. W. Hoffman (Eds.), Review of child development research (Vol. 1, pp. 169–
208). New York: Sage.

Buss, A. H., & Perry, M. P. (1992). The Aggression Questionnaire. Journal of Personality
and Social Psychology, 63, 452-459.

Buss, D. M. (1995). Evolutionary psychology: A new paradigm for psychological science.


Psychological Inquiry, 6. 1-49.

Buss, D. M., & Shackelford, T. K. (1997). Human aggression in evolutionary psychological


perspective. Clinical psychology review, 17(6), 605-619.

Bussab, V. S. R. & Otta, E. (1992). Desenvolvimento humano: a perspectiva da etologia.


Documento CRP08, 2(3), 128-136.

Eibl-Eibesfeldt, I. (1989). Human Ethology. New York: Aldine de Gruyter.

Maldonado, D. P. A., & Williams, L. C. A. (2005). O comportamento agressivo de crianças


do sexo masculino na escola e sua relação com a violência doméstica. Psicologia em estudo,
10(3), 353-362.

Patterson, G. R. (1982). Coercive family process. Eugene, OR: Castalia.

Pearce, J. B. & Thompson, A. C. (1998). Practical approaches to reduce the impact of


bullying. Arch Dis Child; 79:528-31.

Radke-Yarrow, M. R., Campbell, J. D., & Burton, R. V. (1968). Child rearing: An inquiry
into research and methods. San Francisco: Jossey-Bass.
Reichenheim, M. E. & Moraes, C. L. (2003). Adaptação transcultural do instrumento Parent-
Child Conflict Tactics Scales (CTSPC) utilizado para identificar a violência contra a criança.
Cadernos de Saúde Pública, 19(6), 1701-1712.

Reiss (Eds.), Contemporary theories about the family: Vol. 1. Research based theories (pp.
405–438). New York: Free Press.

Steinmetz, S. K. (1979). Disciplinary techniques and their relationship to aggressiveness,


dependency, and conscience. In W. R. Burr, R. Hill, F. I. Nye, & I. L.

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