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Direito do Consumidor

Apontamentos gerais
O Código de Defesa do Consumidor deveria ter passado por uma atualização
recentemente. Vale a pena prestar atenção! Os temas seriam: comércio eletrônico,
superendividamento, fortalecimento dos PROCONs, consumo sustentável, publicidade infantil e
passagens aéreas.

Artigo 1° - O Direito do Consumidor como matéria de ordem pública e


interesse social

Art. 1° O presente código estabelece normas de proteção e defesa do


consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5°,
inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas
Disposições Transitórias.

O art. 1° do Código de Defesa do Consumidor deixa claro seu caráter de interesse


social, razão pela qual seus ditames não podem ser derrogados pela vontade das partes. Ao
contrário, a liberdade contratual deve respeitar os limites impostos pela própria natureza de ordem
pública da norma.

É por esta mesma razão, também, que o juiz pode, de ofício, apreciar quaisquer
matérias correlatas à defesa do consumidor. Isto só não acontece quando se trata de contrato
bancário, entendimento baseado numa alegada ofensa ao princípio tantum devolutum quantum
apelattum1, e já tornado súmula pelo Superior Tribunal de Justiça2.

A defesa do Consumidor encontra respaldo também na Constituição Federal, o que


reforça ainda mais seu caráter de norma de ordem pública. No art. 5°, XXXII3, a que o próprio art. 1°
do CDC faz referência, o constituinte dá a defesa do consumidor o status de garantia fundamental.
O entendimento dos tribunais superiores não é diferente; em julgado de 2001, o STJ aplica o princípio

1
A parte dispõe do direito de apelar daquilo que quiser, no limite do que perdeu, e o Tribunal só pode
conhecer daquilo que a parte recorreu.
2
Súmula 381 - Nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da abusividade das
cláusulas.
3
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[...] XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
da dignidade humana em uma relação de consumo4. Além disso, é também a Carta Magna que coloca
a defesa do consumidor no rol de princípios da atividade econômica, de forma que o CDC sirva como
instrumento de compatibilização da defesa do consumidor com a livre iniciativa5. Assim mesmo que
o Código de Defesa do Consumidor era uma ordem que o constituinte deixou na ADCT, quando, no
art. 48, aduziu, in verbis: “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da
Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.”

O Direito do Consumidor está inserido na 3ª geração dos direitos fundamentais.

Os direitos fundamentais podem ser divididos em 3 gerações: a primeira


trata dos direitos ditos individuais, que seriam os direitos civis e políticos;
a segunda faz referência aos direitos sociais, econômicos e culturais,
ditos fundamentais; e a terceira diz respeito aos direitos difusos, coletivos
e transindividuais, como o direito ao desenvolvimento, à paz e à
autodeterminação dos povos. Uma boa forma de lembrar é usar o velho
mote da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.

O CDC é um microssistema jurídico, na medida que possui normas que regulam


todos os aspectos relativos à defesa do consumidor, de modo coordenado entre si. É possível dizer,
como entendem algumas bancas de concurso, que o CDC é um microssistema que está dentro do
macrossistema do Código Civil.

Por força do princípio da não retroatividade da lei, os dispositivos do CDC não


atingem os contratos celebrados antes de sua vigência. A exceção fica por conta dos contratos
cativos de longa duração; aqueles que, sendo de execução diferida e prazo indeterminado, tiverem
prestações a serem pagas na vigência do CDC. É o caso dos contratos de previdência privada e os de
plano de saúde, porquanto o prazo de sua vigência se renova a cada pagamento efetuado.

Art. 2° do CDC – Conceito de consumidor e suas correntes teóricas


Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza
produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de


pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de
consumo.

4
HC 12.547 – STJ.
5
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por
fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios:

[...] V - defesa do consumidor;


Os elementos da relação de consumo são o consumidor e o fornecedor – elementos
subjetivos, ambos obrigatórios para a formação da relação de consumo -, e o produto ou serviço –
pelo menos um deve estar presente; é o elemento objetivo. O consumidor, por sua vez, pode ser
pessoa física ou jurídica, bem como pode ser a coletividade, mesmo quando esta for indeterminável,
e que adquire produtos como destinatário final.

Mas o que significa ser destinatário final?

Existem duas correntes doutrinárias que se propõem a definir quem seria o


destinatário final na relação de consumo. A teoria maximalista, ou objetiva, propõe que seria
destinatário final o destinatário fático, tendo pouca importância a destinação econômica que dará
ao bem ou serviço, podendo haver, inclusive, a intenção de lucro. Já a teoria finalista ou subjetiva
traz o entendimento de que o consumidor é aquele que retira o produto do mercado e dá fim à
cadeia de produção, porquanto o utiliza para finalidades pessoais e não profissionais.

Logo, tem-se que a teoria finalista traz o conceito econômico de consumidor, de


modo subjetivo, considerando-o como destinatário fático e econômico; a teoria maximalista, por sua
vez, nos mostra um conceito jurídico de consumidor, de maneira objetiva, tratando-o por
destinatário fático tão somente.

O posicionamento do ordenamento pátrio é em favor da teoria finalista. Entretanto,


os tribunais superiores admitem um abrandamento da teoria quando se tem no caso concreto uma
vulnerabilidade, que pode ser técnica, jurídica ou econômica. A este abrandamento se dá o nome de
teoria finalista mitigada, atenuada ou aprofundada.

A vulnerabilidade de que se fala na teoria finalista mitigada pode ser técnica


(quando o comprador não possui conhecimentos específicos sobre o bem), jurídica ou científica (falta
de conhecimentos pertinentes à própria relação de compra, como conhecimentos contábeis,
financeiros etc.), e econômica ou fática (vulnerabilidade real diante do fornecedor, seja por ser
grande comerciante, monopólio etc.). Claudia Lima Marques fala, também, na vulnerabilidade
informacional, que seria o desconhecimento de informações acerca do produto ou serviço a ser
adquirido.

Importante destacar que o STJ entende como vulnerável de fato o consumidor-


mutuário face o Sistema Financeiro de Habitação.

Em suma, a teoria finalista mitigada dá a possibilidade do consumidor intermediário


ter sua relação comercial regida pelo CDC, se comprovada sua vulnerabilidade. A vulnerabilidade do
consumidor pessoa física é presumida, enquanto a da pessoa jurídica deve ser provada no caso
concreto – inclusive pessoas jurídicas de direito público, que também podem ser vulneráveis.

O consumidor, por sua vez, pode ser classificado em dois tipos:

 Consumidor strictu sensu ou standard – é a pessoa física ou jurídica que


adquire ou utiliza bem ou serviço como destinatário final. É a definição
presente no caput do art. 2°.
 Consumidor equiparado – estão definidos no parágrafo único do art. 2°, no art.
17 e no art. 29. É a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis; são os
bystanders, como se chamam as vítimas de danos ocasionados pelo
fornecimento de serviço ou produto defeituoso; também as pessoas
determináveis ou não, que sejam expostas a práticas comerciais ou contratuais
abusivas.

Por fim, é importante saber que o consumidor é tanto quem adquire como quem
utiliza o bem. Não o é, no entanto, a pessoa que compra para revenda, por força da teoria finalista.

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