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A guerra dos imigrantes: 0 espirito alemao e 0 estranho Mucker no sul do Brasil Joao Guilherme Bieh! Em meméria de Arminda Kirschner ¢ Amanda Biehl Introdugao: nem escravos, nem livres Jdezenas de colonos identificados como Mucker! (muito rligiosos 00 falsos beatos no dialeto local, Hunriick) foram exterminados por forgas da Guarda Nacional, do Exército e da Policia da Provincia de Sti Pedro do Rio Grande do Sul.* Estes colonos ¢ centenas de outros tam bém se reuniam, desde 1868, na colonia do Padre Eterno, junto & monta- nha do Ferrabrés, ao redor dos sonhos de Jacobina Maurer, alm de serem ‘membros de igre locais. Quando em transe, Jacobina dizia coisas a par- tir das quais seu matido, Joo Jorge, preparava pharmakons para um ‘nimero cada vez maior de familiares, vizinhos, cutiosos, doentes ¢ pes- soas em estado terminal. Esta intervengo militar foi articulada pela elite de ascendéncia alemi, encabegada pelo filésofo © magon Karl von Koseritz, diretor do Deutsche Zeitung em Porta Alegre, ¢ endossada polos missiondris jesufta ¢ luteranos. No dia 1 de agosto de 1874, o Deutsche Zeitung publicou: “Este bando deve ser eagado como cachorros e morto no fogo e na espada, para ue nio reste nenhum rastro dele. Nenhuma compaixdo com estes eani- bis. Esta é a opinito de toda a populaglo. Cortar a eaboga de todos cles, sem exceglo...Num perfodo de tempo tio curto tudo mudou... pela vor D= inverno de 1874, nas “coldnias alems” de Sto Leopoldo, s 148 ca tade de alguns poucos fandticos assassinos, que queriam reformar 0 mundo de hoje de acordo com suas cantemplagées, ainda que todo 0 bando mal soubesse ler e eserever seu nome... Se a pena de morte niio existe, ndo existe algum parigrafo sobre deportagio? Fora com todos para a Patagonia ou para a Terra do Fogo, ou qualquer ilha no grande oceano, para que possam, entio, repensar seus crimes e estudar de novo sua Béblia... se vio conseguir no futuro reformar toda a humanidade com envenenamento, morte, fogo e comunismo.™ Depois de morta, Jacobina teve sua boca literalmente cortada.s Imigrantes alemes comogaram a chegar a regio de Sto Leopoldo com junho de 1824 atrafdos ¢ enganados por um supasto boom econdmi- co no Sul, A maioria destes imigrantes cram agricultores sem terra, lumpen Proletariat, pequenos artesios, aventursiros, presos extraditados.” interesse principal da politica colonizadora do Império “no era tanto aliciar colonos, mas sim soldados, destinados a integrarem 0 Cosps d'Etrangers formado no Rio de Janeiro, em 1823, com a finalidade de garanti, militarmente, a Independéneia” naquela rea de fronteiras con- testadas. Em nivel regional, os pequenos proprietérios eram oficialmente vistos como parte de um processo de povoamento e desenvolvimento agri cola bascado em “trabalho livre”, o que, de fato, funcionava como estraté- gia para “contrabalangar o poder dos grandes senhotes rurui A hist6ria conta que os primeiros imigrantes foram alimentados ‘com frutas ¢ verduras cultivadas pelos escravos da Feitoria do Linho Canhamo. O plano de colonizagio ordenara que todos os eseravos trabar Thando na antiga fazenda imperial deveriam retornar & corte no Rio de Janeiro (6 que foi somente cumprido de forma parcial).* Os recém-chega- dos tiveram encontros ocasionais com grupos de indivs kaingang que haviam se rebelado contra seu chele ¢, sem terra, migravam pela costa regio de Si Leopoldo coletando alimentos." questiondvel se os imigrantes vieram ao Novo Mundo para deixar um velho nome para trés ou se vieram reivindicar uma outra iden tidade." O fato & que na chegada e nas déeadas subseqientes, milhares de imigrantes tiveram diffcultada a possibilidade de natwralizagio brasileira (cm 1864, somente 27 imigrantes haviam se tomado cidadiios brasifeiros = 17 eram soldados). Nem escravos, nem livres, a maioria dos imigrantes cera reconhecida, por assim dizer, como protestante." Os colonos foram deixados por conta prépria, negociando a sobrevivéncia didria © a morte sem as prometidas provisbes governamentais, Ao longo dos anos, foram sistematicamente enganados pelos seus supostos representantes. germa- 19a nistas, como escreveu Joio Jorge Klein, (cunhado de Jacobina), em 1872, em carta aberta a0 Deutsche Zeitung (nio-publicada): “Tem pois 0 pobre 8 pagar os impostos atrasados dos ricos.” Entre disputas de ofigarquias regionais, retGricas mondrquicas, guerras demarcando limites comerciais, enriquecimentos de poucos vendeiros, corrupgées administrativas, obsticulos burocréticos para transferéncia © venda de propriedades, opor tunismos de autoridades locais, os colonos desta regio viabilizaram suas rSprias infra-estruturas ¢ intercdmbios sociais ¢ subjetivos."* TnscrigBes em lépides do século passado: “Abandonado, descansa agora das tribulagdes e inquictagdes da Vida, aqui nesta casa temporaria do cemitétio.” “Na minha Iépide podereis ler que vos fui leal. Este foi o meu dever; no me esquegam.” “Leais ¢ laboriosas foram suas mos, caladas na passagem para ‘uma patria melhor.” “Este que lutou com a amarga morte, encontrou-a nas dguas.” “Aqui nifo temos um lugar permanente; nés procuramos um futuro lugar.” “Dos bragos da sua mulher, do circulo das criangas, arranca-se a cervel palavra da morte, Nada nos substitui esta auséncia,” “No céu nfo hi mais softimento, nenhuma morte e perecimento; Ia Deus seca nossos desejos num reencontro eterno." Entre 0 Velho e o Novo Mundo: revolta no Germania Grande parte dos primeiros imigrantes que povoaram as colOnias de Sto Leopoldo embarcou em Hamburgo, em junho de 1824, no navio Germinia, comandado pelo capitio Hans Voss, A regulamentagdo destas vidas estrangeiras no Brasil, suas arbitrariedades, violéncias, paralegal dades © devidas obediéncias, j& comegara a se demarcar de forma exem- par em alto-mar: a 5 de julho de 1824, entre 0 Velho e 0 Novo Mundo, Cito homens acusados de rebelio foram executados. Aliciados pelo major Jorge AntOnio Schiffer, estavam a bordo do veleiro hamburgués 277 soldados, a serem incorporados no Corpo de Estrangeiros; além de 124 colonos a serem enviados para a colénia de Si0 Leopoldo. Schitfer era o Agent d’Affaires Politiques do Imperador Dom. Pedro I ¢ amigo pessoal da Imperatriz Leopoldina, de origem austrf Entre esses imigrantes encontravam-se trés figuras que, mais tarde, tive- ram destacada atuagio na formulago (conflitiva) do modus vivendi ¢ s 150 ca ‘operandi do germanismo local: o médico e magon Jofo Daniel Hillebrand, futuro diretor da coldnia de Sao Leopoldo; Joiio Jorge Ehlers, o primero pastor luterano ordenado; Libstio ¢ Magdalena Ment com seus quatro fi- Ios adultos — André viria a ser o pai de Jacobina. ‘Nao abtendo sucesso no seu trabalho de recrutamento na Austria (a contratagio de soldados era considerada prétiea ilegal na Europa pés-na- polednica), Schiffer soguiu para Bavéria, Hessen, Hanover ¢ Hamburgo, onde conseguitt 0 apoio de grio~luques e condes, évidos por deporlar ‘marginais, vagabundos © eriminosos — priticas de higiene social na emer- gente Alemanha, Os governantes exigium provas legais de que os emi- Brantes no retomariam para reivindicar seus direitos de protegio social {da antiga patria, Schietler forjou certificados de recepgio, isto 6, do mentos que garantiam a naturalizagio brasileira dos imigrantes. O major também ofereceu garantias positivas quanto liberdade constitucional de culto no Brasil No final de 1824, 0 naturalista Theodor Bésche acompanhou uma das viagens transatlanticas organizadas por Schifter (encontravam-se a bordo 90 ex-prisioncitos de Mecklenburg, futuros soldados da Legit Estrangeira): “O nosso navio tomou varias eentenas de pessoas, Tremi a0 avistar aquela gentalha rota, de que muitos malograram encobri a nude «© euja atitude trazia 6 cunho da rudeza e da bestialidade.” Estas viagons geralmente duravam por volta de 100 dias. Comandante Mansfeld relatou as reais condigdes a bordo: “Durante este tempo, 0 viajante fica enjaula- do, sob uum sol abrasador, num cubiculo... sem a possibilidade de mexer- se ou estirar-se nem sequer ao comprido."* De volta 2 uavessia do Germania: no dia 2 de julho de 1824, vito recrutas rebelaram-se, “Os soldados queixavam-se da comida, do trata mento demasiado severo e queriam ser livres como 0s colonos que, tendo cles mesmo pago suas passagens, eram mais bem tratados." A revolt foi abortada c os transgressores foram chicoteados, amarrados e aprisionado ‘A vorstio dos dirigentes do navio & de que os revoltosos queriam liquidé- los ¢ conduit 0 navio para um porto espanhol. Na noite de 4 para 5 de Julho, 0s prisionciros tentaram livrar-se das cordas, mas foram pegos ¢ Jevados a um tribunal improvisado, Segundo © historiador Carlos Hunsche: “Agora ndo houve mais perdi... Os mesmos vito rebeldes, que, dois dias antes, tinham sido surrades, foram agora condenados & morte por fuzilamento.”" ¢ num violento embate diplomstico entre os gover Dois dos exccutados cram recrutas de nacionalidade prus: Este Fato desdobrou m1Slet nos da Prissia ¢ de Hamburgo. O cénsul prussiano no Rio de Janciro, Wilhelm Theremin, imediatsmente questionou a legalidade do julgamen- to ea irregularidade protocolar, chegando a afiemar que “os assim chama- dos amotinadores eram inacentes que foram forgados as suas confissoes Por maltratos, injustficadamente cruéis e que se teria procedido & forma- lidade da sentenga 86 depois de realizada a execugso.”* Chamado a depor ‘em Berlim, junho de 1825, 0 capitdo Hans Voss declarou que somente Poderia referir-se s suas declaracées anteriores, ou seja, 20 protocolo que ele manteve, “foi feito a bordo no momento das ocorréncias.” Nesta mesma época, 0 capitéo teve de renunciar a0 seu cargo, ¢ o governo de Berlim decidiu parar com as investigagSes. Mas, segundo Hunsche, “o caso do Germénia infelizmente contribu para que, anos mais tarde, Fosse ecretado o Heydt sche Reskript, decreto que em 1859 proibiu a todos os siditos da Prissia emigrar para © Brasil.” E de relevancia particular para esta arqueologia Mucker a posigiio assumida pelo de. Hillebrand, pastor Ehlers ¢ a familia Montz na formu- Jago, execugto e registro das sentengas de morte na passagom para 0 Novo Mundo, O nome de Libério Mentz e de sua familia nfo é sequer Citado nos relatérios do evento. Ehlers, que abrira o primeira livro ecle- sidstico da comunidade evangélica de Sio Leopoldo no dia I de junho de 1824 com a inscrigho de um batismo”, (quando o Germfinia ainda estava ancorado nas cercanias de Hamburgo), ndo registrou nada acerca da morte dos rebeldes.* Por outro lado, dr. Hillebrand partcipou do tribunal (com- Posto ainda pelos trés dirigentes do navio e o chefe da familia mais hhumerosa a bordo). O protocolo desta comissfo afirma que: “Tendo sido encerrados os interrogatérios, nos quais os rebeldes confessaram os seus crimes, e depois de ouvida a opinido de todos os outros recrutas e tendo- se ainda tomado em consideragfo... 0 regulamento, recebido do major ‘Schiffer, todos aqui presentes, a comissio ¢ os soldados, votamos pela ‘morte dos rebeldes, opinando que, se continuassem com vida, no haveria seguiranga para o pessoal do navio... Em nome da Lei."* Imediatamente ap6s este evento, o major Schiffer produziuy um novo conjunto de regulamentos a serem obedecidos pelos subseqllentes imigrantes a caminho do Brasil: “Artigo |: A diregio do navio esté exclu- sivamente a cargo e zo cuidado do capitio... ninguém poder contradizer- the nem sequer uma s6 palavra nesta fungdo. Artigo 2: No navio existe ‘uma comissio encarregada de cuidar da ordem, do asscio, da alimentagio, 'bem como do justo e do injusto... Artigo 5: Devido aos que trabalham ¢ para manter a trangtilidade © a satide, sero mantidos, dia ¢ noi, 5 182 ca guardas... Artigo 9: Quem se opor As ordens da eomissio serd punido de acordo com o gra da insubordinago; quem, porém, provocar wm com plot ou um motim (que Deus nos guarde!), sera castigado com a pena maxima, de acotdo com o regulamento mavfimo. Antigo 10: Ninguém poderdatuar de prépria vontade, com exceg%o do capitdo, quanto a con- dugio do navio. Sé na base da ordem, o mundo poder ser governado © cada um poder conseguir 0 seu objetivo, por mais diferente que seja Antigo 11: Amai-vos uns aos outros, como se f6sseis membros de uma s6 familia! Assim no haverd discdrdia, cada um se sentiré feliz. obterd ¢ ‘manterd a confianga do soberano (First) ¢ dos seus superiores ~ meta mais ‘segura para o priprio berm, terrenal e eterno." Os passageiros do Germania foram recebidos por Dom Pedro Ic pela Imperatriz Leopoldina. Diversas histGrias do germanismo local coin- cidem na narrativa de que Libério Ment. recebeu atengio especial da Imperatriz. H.Schiillerrelata este epis6dio no livro Die Erste Kaiserin von Brasilien (em tal historiografia a imperatriz. & considerada a “mie dos alemiies no Brasil”): “O Senhor realmente € corajoso — em idade to avangada trocar uma pétria por outra. Homens to bravos certamente de grande valia para nds.” “O grande Herr Goethe em Weimar me disse 0 mesmo ~ cle foi extremamente gentil comigo, um simples carpinteiro, dando-me todas as informagdes que cu requeri..". Libdrio ento entregou imperatriz um envelope sobre o qual estava escrito “Para a rosa sil- vestre”, Tratava-se de uma carta do proprio Goethe, amigo pessoal da imperatriz, enviada através do imigrante. Em retribuigo a este favor, @ imperatriz ordenou que 0 Lote Niimero 1 da nova colOnia (Capela da Piedade, mais tarde Hamburgo Velho) fosse dado a famflia Mentz, Ela ‘mencionou que interviria junto ao dr. Hillebrand para que tudo fosse do- cumentado e legalizado o mais répido possivel. Libério ainda mencionow que longa opressio religiosa havia levado a familia a optar pela imigrago, sendo que a imperatriz enfatizou que no Brasil ele tinha garantida a liber- dade de culto.* “Boa sorte”, disse cla, “mantenha a coragem e ajude ou 0s a administrarem scus destinos da mesma maneira que o senhor tem feito.” A carta de Goethe jamais foi encontrada. fo 153 ca Kultur, transes e sujeitos esclarecidos Na década de 1850, uma nova onda migratéria touxe ao Sul mer- cendtios (die Brummer, ex-combatentes do Deutsche Reich), intelectuais € negociantes sem um proeminente background social na Alemanha. Ap6s desertarem da Legido Estrangeira, muitos destes mercenirios fixaram residéncia nas coldnias de Sdo Leopoldo, trabalhando, por exem- plo, como professores, jomalistas ¢ comerciantes, Os Brummer tornaram- se 0s catalisadores de una emergente burguesia “alema” na egido, Por volta de 1860, a regio de Sto Leopoldo prosperava, fomecendo preatos agricolas para os mercados da capital Porto Alegre ja atraindo interesses e investimentos da Inglatertra (construgio da estrada de ferro ligando Sao Leopoldo as colénias) ¢, principalmente, da Alemanha (comércio). Brummer Karl von Koseritz encabegava as tentaivas desta burguesia (hiesiges Deutschtum ~ germanismo local) de consolider politicamente seu crescente bemestar econdmico. Esta consolidagiio aconteceria em alianga © em confront com as organizagdes missionitias protestantc © Jesutta, ¢ sob a égide comum de uma expansio patrstica alema no con- texto de um estado brasileiro p6s-colonial. Como escreve Koseritz, 0 tempo de fundar coldnias agricolas através de ancxagdes terrtoriais per- tencia ao passado: “(aqui) é possivel uma conguista pacffica através do trabalho, e sem qualquer dependéncia politica da patria de origem... 0 sul do Brasil 6 0 terreno mais favordvel para este tipo de conquista, pois aqui ‘podemos permanecer fornecedores ¢ compradores da pata; iso & 0 que Alemanha de fato necessita..N6s vivemos num mundo de compensayses: se a Alemanha tem o poder, o Brasil tem as riquezas naturais."* germanismo local instrumentalizou o conccito de Kultur no sul do Brasil na sua tentativa de administrar a vida nas coldnias (politica, moral ¢ economicamente) e ascender ao poder leyislativo na Provincia Segundo Norbert Elias, 0 fundamento da Kultur alem existe “naquitlo que €chamado exatamente por esta raziio como das rein Geistige (0 puramen te espiritual), em livros, educagio, religido, arte, filosolia, no enriqu ‘mento interior, na formagto intefectual (Bildung) do individu, principal ‘mente através de livros, na personalidade.” Com a ascensto da burguesia alema como classe dominante, entre os séculos XVIII e XIX na Alema ‘ha, Kultur mudou de significado e fungo ~ de “umn arsenal de conecitos ‘agressivos direcionados contra a classe alta da corte” para tomnar-se uma questo de vida intima ¢ de identidade nacional. Neste sentido, a identi- dade alema esté historicamente vinculada constiwigio de fronteiras 2 154 politicas, teritoriais © espirituais. No sul, Kultur desempenhow um papel vital para a assergio da segregagao “espiritual” de grupos de descendentes alemacs de outros brasileiros, ¢ para a assergdo de obrigagies no que diz, respeito a disciplinadas condutas individuais, familiares ¢ comunitirias. aspecto puramente espiritual (das rein Geistige) da Kultur © suas catego- ras familiares era transmitido através de administradores, negociantes, intelectuais magons € missionatrios. O que legitimava esta intelligentzia administrativa estava imbricado na economi ¢ politica das colénias ¢ ia além das mesmas — a legitimagiio encontrava-se na expansiio da sua aulo- imagem como hhiesiges Deurschtum, Esta moderna ruptura germanista local era dependente da produglo ¢ extermfnio de um mundo colono pri- mitivo, muito religioso, um mundo de obscurantismo; ¢ do estabelecimen- to de uma rede de locais produtivos (associagGes patriéticas ¢ Gemeinde, ‘comunidades por exemplo), em que verdades e préticas “esclarecidas” vi- iam a ser formuladas, inspecionadas, e retroativamente vividas em me- mérias kudturais. Imperativos morais de espiritos expansionistas ¢ religiSes nace listas de uma patria d’além-mar foram transplantados como uma hist6ria natural alemi em evolugo no Sul: memorializagio de passados ti educagio virtuosa, vida ilibida, trabalho arduo da inffincia & velhice, se- gregagio quanto a afiliagto religiosa, obedigncia incondicional aos cléri- 208 estrangeiros, as auloridades econdmicas ¢ legais da burguessia alemia, A “Sociedade Berlincnse para os Alemies Protestantes no Brasil", por exemplo, definia sua ajuda as comunidades no Sul do Brasil como um. “dever patridtico” de sujeitos esclarecidos: “Assim como um dever cristo nos impulsiona, da mesma maneira um dever nacional. Ent, do que se trata? E basicamente também um empreendimento patriético quando nés Procuramos que uma parte dos imigrantes que vio, cada ano, para a América ¢ sio, assim, perdidos pela Alemanha, guarde nossa pdtria. Quito importante o é ter d’além-mar uma tribo alema, que pensa © negoeia em alemao, que simpatiza conosco em termos de coméreio e de politica, ¢ representa nossos interesses em todas as questies. Isso j& é reconhecido, desde hé muito pela sensatez ¢ precisa agora se tomar Gbvio para todos os cesclarecidos (aufgeklirt).*" Nas coldnias do Sul vemos o novo mundo do espirito alemio em ago, servidées imagindtias formalizadas ~ como Johann Gottlieb Fichte vislumbrou para os fihrers de tal pitria no prineipio daquele século XIX: “A alvorada do novo mundo jase rompeu; ela j4 doura o topo das mon- tanhas e anuncia o dia vindouro, Bu deseo... agarrar os raios deste ama fo 155 ca

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