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ENTRE A OPRESSÃO E O DESEJO: A SEXUALIDADE FEMININA EM ​A VIA CRUCIS DO CORPO​, DE

CLARICE LISPECTOR

Isabela Diniz Tomás1​ ​, Nayara de Oliveira2​


1​
Acadêmica do Curso de Letras, Centro Universitário de Maringá - UNICESUMAR. Bolsista PROBIC-UniCesumar. isa_says@hotmail.com
2​
Orientadora, Mestre, Professora Mediadora do Curso de Letras (EAD) do Centro Universitário de Maringá - UNICESUMAR.
nayara_deoliveira@hotmail.com

RESUMO
Este artigo centra-se na análise da representação da identidade feminina em três contos selecionados da obra A via
crucis do corpo​, de Clarice Lispector, a saber: ​Miss Algrave​, ​A língua do P e ​Ele me bebeu​. Tais contos sintetizam o
espírito provocador e revolucionário da obra quanto à representação das personagens femininas, de modo que as
protagonistas das narrativas levam o leitor à reflexão sobre diversos temas considerados até nossos dias como tabus,
dentre eles, a liberdade sexual feminina, a violência contra a mulher e o apagamento da identidade feminina. Por meio
da análise dos contos, também discutiremos o percurso das mulheres no universo literário, ao reconhecer que o
movimento de ocupação feminina nessa esfera possibilitou que a representação da mulher deixasse de ser observada
apenas pela ótica masculina, como ocorre nas obras que compõem o que denominamos cânone literário ocidental, as
quais, em sua grande maioria, são escritas por homens. Para a análise, lançou-se mão das contribuições de teóricos
como Kate Millet (1970), Pierre Bourdieu (2002), Virginia Woolf (2014), dentre outros estudiosos que se dedicam à
compreensão da história das mulheres, seja pela perspectiva política, cultural ou das artes.

PALAVRAS-CHAVE: ​Clarice Lispector; Sexualidade Feminina; Literatura de Autoria feminina.

1 INTRODUÇÃO

Clarice Lispector é um dos mais importantes nomes em se tratando da literatura de autoria


feminina no Brasil. Desde a publicação de seu primeiro romance, em 1944, intitulado ​Perto do
Coração Selvagem​, a escritora desmantelou as concepções preconceituosas da academia quanto
às competências literárias das mulheres, posto que Lispector alcança o reconhecimento dos críticos
dentro e fora do país, devido a irretocável estética de suas obras, sendo comparada por muitos a
nomes de peso como Virgínia Woolf e James Joyce.
A romancista revolucionou o universo literário com sua escrita intimista, mas também se
destacou pela forma, às vezes sutil, outras vezes com maior explicitude, como abordou temas
considerados que eram (e que ainda são, em certos casos) tabus para a sociedade.
A obra ​A via crucis do corpo​, publicada em 1974, chocou parte da crítica por abordar a
sexualidade feminina de forma tão livre, o que fez com que alguns apontassem os contos da
coletânea como pornográficos. Retratando a vida sexual de mulheres jovens e idosas,
relacionamentos poligâmicos, discutindo virgindade e violência sexual, a obra retira das sombras
tabus sociais e põe em discussão o cerceamento que as mulheres sofrem quanto ao seu direito à
liberdade sexual. Nesse sentido, a presente pesquisa pretende analisar a condição das mulheres em
três dos contos que compõem a obra, sendo estes: ​Miss Algrave​, ​A língua do P e ​Ele me bebeu​, sob
a ótica da crítica feminista, e assim rediscutir elementos como o desejo e a libido feminina frente a
 
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uma sociedade marcada por visões sexistas por meio das experiências das personagens dessas
narrativas.

2 MULHERES E LITERATURA: CONSTRUINDO ESPAÇOS DE RESISTÊNCIA E DE


REPRESENTAÇÃO

O século XXI vem revelando-se um dos períodos históricos mais abertos às discussões que
envolvem as questões de gênero, a falência do patriarcalismo e, consequentemente, os reflexos da
dominação masculina na sociedade ocidental, de modo que o movimento feminista, embora
fragmentado, tem ganhado bastante espaço, haja vista que tal grupo se consolidou enquanto uma
organização política e ideológica ainda no século XX. Assim, ambos os períodos foram momentos
de contestação do poder hegemônico, ao passo em que a comunidade tanto civil como intelectual
mobilizou-se para questionar as relações de poder impostas dentro da lógica vigente no sistema
patriarcal.
Embora as disparidades entre sexos e a construção de uma sociedade com valores culturais
predominantemente centrados na figura do homem branco, heterossexual e rico não sejam um
evento com data e hora precisamente definidos na história da humanidade, alguns teóricos
procuram explicar as origens e as razões que nos levaram à sociedade patriarcal, como fez Pierre
Bourdieu (2002), em sua obra ​A Dominação Masculina​, publicado pela primeira vez em 1998. Nesta,
o autor atribui, sobretudo, às interpretações das diferenças biológicas entre homens e mulheres o
nascimento de uma estruturação simbólica baseada em oposições (seco x úmido, superior x inferior)
de significados que consolidaram gradualmente a organização social pautada na dominação
masculina, visto que este sistema simbólico exaltava as “virtudes” ditas masculinas e, em
contrapartida, subjuga o papel feminino.
Ainda que também não seja possível precisar com certeza o primeiro foco de resistência ou
onde exatamente as primeiras discussões que envolviam essas questões iniciaram-se, Kate Millet
(1970) apresenta um panorama cronológico que tem como primeira fase a chamada revolução
sexual, compreendida entre os anos 1830 a 1930, quando a sexualidade e problemas sociais
relacionados a ela, como a prostituição e a gravidez fora do casamento, bem como os direitos
políticos e civis que faltavam às mulheres começaram a ser discutidos.
O direito talvez tenha sido o principal aliado na longa gestação que deu origem às primeiras
mudanças concretas, já que legitimava o constante controle sobre a mulher pelos homens,
primeiramente sob domínio patriarcal e posteriormente, marital. A autora separa três grandes
campos que sofreram mudanças concretas operadas pelo Woman’s Movement, quais sejam: a
educação, a organização política das mulheres e do emprego.
Em relação à educação, Millet (1970) aponta que a instrução básica das mulheres também
era parte de um interesse masculino, porém não deveria ultrapassar o caráter elementar, sempre
relativa ao homem e ao reconhecimento da subordinação feminina, constituída principalmente pelo
ensino primário e secundário, em que o objetivo era de que as mulheres pudessem transmiti-los às
crianças, já que esta era uma alternativa vantajosa à educação pública. O acesso ao ensino superior
e uma educação mais igualitária foi um dos principais objetivos da luta feminista.
 
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Também, na arte, aqui debruçando-se especificamente na literatura, não haviam grandes
alterações. O difícil acesso à educação, a criação voltada para a constituição de uma família e a falta
de incentivo a qualquer atividade que não fosse moralmente aceita, ou predominante entre homens,
configurava alguns dos fatores que afastavam a mulher da produção literária e acadêmica.
A escritora Virginia Woolf discorreu brilhantemente sobre essa temática em uma série de
palestras ministradas nas universidades de Newham e Girton, durante o ano de 1928, em que sem
abandonar a narrativa consideravelmente literária, explora os fatores que mantém as mulheres
afastadas da produção literária, principalmente no que se refere às suas condições sociais e
econômicas.
A autora, ao ser convidada para falar sobre o tema “Mulheres e Ficção”1, defende a ideia de
que a mulher precisa de independência financeira e um “teto todo seu” para conseguir escrever
ficção, duas aspirações que ainda poderiam ser consideradas quase impossíveis às mulheres da
década de trinta. Além disso, Wolf também expõe a ausência de incentivo à produção literária, bem
como o fato de que os pensamentos sobre a “natureza feminina” eram abundantes, mas todos sob o
ponto de vista masculino.
Para ilustrar essa enorme disparidade que afastou, por centenas de anos, a presença
feminina dos cânones e gênios literários, a escritora faz um exercício imaginativo, onde simula uma
provável trajetória de vida para uma irmã de Shakespeare, tão talentosa quanto o autor inglês,
chamada Judith. Enquanto o irmão frequentou a escola, abandona a família para tentar a sorte em
Londres e tornar-se um ator de sucesso, sua irmã não tem acesso à educação, é criada para lidar
com a sua futura casa e família, e diante de um involuntário casamento arranjado, foge para Londres
em busca de independência.
O desfecho que Wolf acredita esperar Judith, porém, é muito diferente. Desacreditada,
abandonada e considerada incapaz para qualquer ofício, a menina acaba grávida de um empresário
e comete suicídio durante uma noite de inverno. Ainda que a autora não abandone a literariedade
neste discurso, não deixa de ser verossímil a perspectiva que imagina para a fictícia irmã de
Shakespeare. Sob grande pressão social, vinda de todos os lados, seria quase impossível que uma
mulher do século XVI pudesse viver independentemente, através da arte. Contudo, até que ponto
isso mudou?
Apenas no século XIX o público feminino ganha certo espaço no mercado literário, em que
destaca-se a presença de Jane Austen e das irmãs Brontë, porém, o gênero que lhes é permitido
prosperar continua sendo restrito: as prateleiras dedicadas à literatura escrita por mulheres eram
repletas, com pouquíssimas exceções, de romances. Mantinha-se a ideia de inferioridade intelectual
e personalidade sentimental atribuídas às mulheres.
No Brasil, por sua vez, só conseguimos observar uma participação mais significativa da
mulher na literatura, como parte do cânone tradicional, com a iminência dos estudos feministas a
partir da década de 70, com as publicações de Foucault, Derrida e principalmente, Millet, com sua
obra Política Sexual. Mais livres do medo da rejeição e do escândalo, Rachel de Queiroz e Cecília
Meirelles passam a ser reconhecidas nacionalmente, mas é Clarice Lispector que consolida o

1
​WOOLF, Virginia. Um Teto Todo Seu. São Paulo: Tordesilhas, 2014.
 
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espaço feminino na literatura nacional consagrada e abre caminho para um universo completamente
novo de autoras como Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon.

3 CLARICE LISPECTOR E O PIONEIRISMO NA ESCRITA FEMININA

​Nascida no dia 10 de dezembro de 1920, na aldeia de Tchechelnyk, hoje situada na Ucrânia,


Clarice Lispector desembarcou em terras brasileiras com pouco mais de um ano de idade, em uma
fuga de seus pais judeus devido ao antissemitismo. A família Lispector viveu primeiro em Maceió,
onde passaram apenas três anos antes de mudarem-se ao Recife, quando Clarice tinha cinco anos
de idade.
Aos 19 anos ingressa na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e
apenas quatro anos depois, publica seu primeiro livro, o sucesso Perto do Coração Selvagem, ​que
ganharia o prêmio Graça Aranha, de melhor romance do ano, em 1944. No mesmo ano da
publicação de seu romance de estreia, casa-se com o colega de sala e diplomata Maury Gurgel
Valente.
Em 1959, Clarice separa-se do marido e retorna da Suíça para o Brasil, onde passaria o resto
de sua vida e chama novamente para si os holofotes literários com a publicação de ​A paixão
segundo GH​, em 1964, agradando a crítica pelo seu apelo filosófico e impactando seus leitores com
o famoso trecho em que a protagonista, extasiada pela situação de quase-morte da barata que
encontrou em seu guarda-roupa, consome parte do animal em uma narrativa rica em detalhes.
Chocaria novamente em 1974, com a publicação de ​A via crucis do corpo que, ​no entanto,
não foi tão bem recebido pela crítica. Com 13 contos carregados de temáticas envolvendo
sexualidade, contadas de maneira excêntrica e objetivas, além de contos de certa maneira
biográficos que explicitam, juntamente com a publicação do próprio livro, o quanto a escritora já não
se importava com a opinião da crítica naquele momento de sua vida.
Diversos veículos de comunicação como a Revista Veja e o Jornal do Brasil, criticaram a obra
negativamente, Clarice relatou que um crítico chegou a opinar que “o livro era lixo, sujo, indigno de
mim”, sem, contudo, mostrar qualquer sinal de surpresa ou abalo pela reação pública. Não é
absurdo pensar que Clarice, mulher além de seu tempo, fosse capaz de prever tal acontecimento e
inclusive o fato de que a polêmica não teve real impacto em sua reputação no cenário literário
brasileiro e mundial, estava consolidada.
Clarice Lispector ainda publicou, após o ano de 1974, o romance ​Um sopro de vida e a
famosíssima novela ​A hora da estrela​, além de diversos contos e dois livros infantis. Vale lembrar
também seu trabalho como tradutora, totalizando 35 livros de diversos gêneros e escritores, entre
eles a inglesa Agatha Christie. A autora morreu no dia nove de dezembro de 1977, um dia antes de
completar 57 anos, em decorrência de um câncer de ovário e mesmo fortemente sedada,
permaneceu ditando palavras à sua amiga Olga Borelli até o último dia de vida.

 
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4 A (DES)CONSTRUÇÃO DO FEMININO EM ​A VIA CRUCIS DO CORPO

4.1 - A via crucis do corpo: contexto histórico e recepção da obra

A via crucis do corpo ​foi uns dos, senão o mais, polêmico livro de Clarice Lispector, com uma
recepção impiedosamente ácida da crítica da época. A temática completamente diferente e até o
estilo muito mais cru da autora na obra surpreenderam os leitores e a mídia, que reagiu com a maior
desaprovação possível. Não é de se surpreender que uma mulher falando sobre sexualidade
feminina sem pudores, ainda que se tratasse da mística e excêntrica Clarice, fosse chocar a elite
brasileira há mais de dez anos do fim da ditadura militar que imperava no Brasil.
A autora chegou a incluir uma “Explicação” para o livro onde descreve de maneira sutil o
processo de criação da obra e sua própria opinião sobre uma das críticas mais pesadas que
recebeu:

[​..] Disse que eu devia ter liberdade de escrever o que quisesse. Sucumbi. Que podia fazer? senão
ser vítima de mim mesma. Só peço a Deus que ninguém me encomende mais nada. Porque, ao que
parece, sou capaz de revoltadamente obedecer, eu a inliberta.
Uma pessoa leu meus contos e disse que aquilo não era literatura, era lixo. Concordo. Mas há hora
para tudo. Há também hora para o lixo. Este livro é um pouco triste porque eu descobri, como criança
boba, que este é um mundo cão. (2009, p. 07)

De acordo com Clarice, o livro lhe foi encomendado pelo seu editor na Artenova, o poeta
Álvaro Pacheco, que pediu três histórias que tinham realmente acontecido. Mesmo receosa, sentiu
nascer a inspiração ao ouvir os três fatos enquanto a ligação de telefone se prolongava. Nasceram,
no dia seguinte, Miss Algrave, O Corpo e Via Crucis. Sobre os outros contos não há maiores
explicações, mas provavelmente vieram através do impulso da imaginação, razão pela qual a autora
declarou escrever, afinal.
A obra aparece cheia de referências bíblicas explícitas, algo que talvez tenha feito a ira dos
críticos aumentar mais ainda quando se pensa que o conteúdo de suas páginas foi considerado
“pornográfico”. A Via Crucis, do latim, igualmente grafada, significa “Caminho da Cruz, e refere-se ao
famosíssimo trajeto que Jesus Cristo percorreu carregando a cruz em que seria crucificado
posteriormente, que vai do Pretório até o Calvário. O rito cristão que procura relembrar tal
acontecimento bíblico é a Via Sacra, onde os fiéis refazem simbolicamente o caminho percorrido por
Jesus, parando em pontos específicos onde a história é contada pelo padre que conduz a cerimônia.
As epígrafes escolhidas por Clarice para iniciar a obra são quase todas excertos bíblicos, que
fazem alusão ao corpo, carne e ao desejo. Os contos de A Via Crucis, em consonância, são
descaradamente sexuais, como Clarice nunca tinha sido e não voltaria mais a ser, como um grito de
liberdade e indiferença pela própria reputação, não para causar revolução, mas para deixar
registrada sua marca como mulher com personalidade forte e libertária.

4.2 Análise dos Contos

 
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4.2.1 Miss Algrave

Clarice inicia o primeiro conto de A via crucis do corpo ​dizendo que sua personagem (ou seria
a própria autora?), era “sujeita a julgamento” (2009, p. 09), e por isso, não contou sua história para
ninguém. Em seguida, passa a descrever a moça que dá nome ao conto: inglesa, solteira, bonita,
virgem, jovem, extremamente religiosa, pudorada e solitária. A autora vai pincelando aspectos da
personalidade de Miss Algrave através de cenas do cotidiano refletidas pelos pensamentos da
personagem.
A culpa pelas brincadeiras sexuais com o primo, o nojo pelas prostitutas da Picadilly Circus, o
orgulho por ser “intocada”, o absurdo pudor pelo próprio corpo e por todo e qualquer ato com
conotação sexual, a solidão da cobertura em Soho, a repressão completa do prazer e a ideia de
pecado e indecência trazidas à exaustão nos dão um vislumbre da profunda inibição sexual a que se
submete Miss Algrave, a qual está sujeita ao sistema de dominação simbólica problematizado por
Bourdieu (2002), ao passo em a personagem, a princípio, vê com repulsa toda e qualquer ação com
conotação sexual, pois isso não seria apropriado para alguém casta como ela.
Em um dos trechos do livro, a protagonista relata que só toma banho aos sábados e como
para evitar a visão do próprio corpo completamente nu, não tirava a calcinha nem o sutiã. Em outro
ponto, ela também expressa sua desaprovação pelo álcool e pelos beijos e manifestações de
carinho dos casais na rua e na televisão. Também ficamos sabendo que Miss Algrave faz protestos
ao popular jornal londrino ​Time​, em relação a todas as coisas que ela considera imorais.
Ainda, o nome da personagem não deixa de ser sugestivo, considerando que a palavra
“Grave”, inglesa como a protagonista, significa literalmente “Sepultura”, em português, o que pode
ser interpretado de acordo com a ausência de vida que ela transparece no início no conto. O
primeiro nome de Miss Algrave também não é escolhido ao acaso, Ruth, personagem bíblica que
não era israelita mas casou-se com um, Boaz, e que mesmo após a sua morte continua sendo
considerada um membro da Tribo de Judá, em um livro que defende o casamento mistos e a
inclusão dos descendentes dessas uniões. A conexão dessas informações com o conto analisado
está justamente em sua reviravolta, quando Miss Algrave conhece o ser extraterreste Ixtlan.
Nesse sentido, é impossível não perceber as inúmeras referências à Bíblia e aos valores
cristãos personificados por Miss Algrave, completamente reprimida sexualmente pela religião. O seu
pudor pelo próprio corpo remonta ao livro de Gênesis, um dos mais importantes para a Igreja e seus
fiéis, no momento em que, após desobedecerem a Deus e serem expulsos do Paraíso, Adão e Eva
passam a sentir vergonha da própria nudez e ela será, a partir daquele momento, considerada
submissa ao homem, em todo o contexto histórico ocidental através dos séculos.
Uma dessas formas de submissão é o silêncio. Martha Robles (2003), em seu livro ​O Corpo
Feminino em Debate, ​defende que recai um silêncio não apenas sobre a voz das mulheres,
esquecidas na História, mas também sobre seus corpos pois, ainda que o corpo feminino seja
representado através do olhar masculino ​“esse corpo exposto, encenado, continua opaco. Objeto do
olhar e do desejo, fala-se dele. Mas ele se cala. As mulheres não falam, não devem falar dele. O
pudor que encobre seus membros ou lhes cerra os lábios é a própria marca da feminilidade”.

 
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Indica essa perspectiva uma supervalorização da virgindade, tão observada pela moral cristã
que se incorpora a toda a sociedade ocidental, chegando a compor conceitos legislativos inclusive
no Brasil, que até o ano de 2009 trazia na redação de seu Código Penal o conceito de “mulher
honesta” para a tipificação dos crimes sexuais. Segundo Hungria (1980), assim considerada seria
“aquela cuja conduta, sob o ponto de vista da moral sexual, é irrepreensível, senão também aquela
que ainda não rompeu com o mínimo de decência exigida pelos bons costumes” (​HUNGRIA e
LACERDA, 1980, p. 150).
Miss Algrave é o reflexo do silêncio feminino que recai sobre o corpo. Seu orgulho em
permanecer pura, seu pudor absurdo em relação a tudo e todos (até a si mesma) e a culpa pelo
desejo demonstram o enraizamento cultural de valores que inibem a naturalização do corpo feminino
e a sexualidade da mulher. Até mesmo o clímax da história, onde a protagonista encontra o
alienígena Ixtlan denota o quão longe vão essas concepções, já que a personagem apenas
consegue manter relações sexuais com um ser não humano, provavelmente fruto de sua
imaginação, para assim sentir-se “escolhida” por uma criatura superior, além de sua compreensão,
defendendo ainda que “com ele não fora pecado e sim uma delícia” (2009, p. 12).
A partir desse momento na narrativa a personagem apresenta uma versão renovada de si
mesma. Libertada dos arreios que inibiam o prazer, Miss Algrave passa por uma transformação
completa: passa a consumir álcool e carne, deixa de protestar nos jornais e por fim, decide
abandonar o trabalho como datilógrafa e tornar-se prostituta. Os efeitos do encontro com o ser
desconhecido, diferente dos que causaram à figura cristã conhecida, revelam uma personagem que
passa a ser guiada pelo desejo, mas que continua submissa a um representante masculino.
Nessa perspectiva, a libertação de Miss Algrave não deixa de ser mascarada por uma nova
sujeição ao homem, que aparece como um grande mentor da revolução sexual na vida da
personagem e para quem ela acaba direcionando todos os seus pensamentos e ações, como um
deus com valores inversos ao que conhecemos.

4.2.2. Ele me bebeu

O quarto conto de ​A via crucis do corpo ​conta a história de Aurélia Nascimento, moça jovem e
bela que conta com a ajuda do amigo Serjoca para ficar ainda mais bonita através de uma
maquiagem bem-feita. Não apenas a maquiagem, a personagem utiliza diversos artifícios para
sentir-se mais bonita, “usava peruca e cílios postiços. [...] usava lentes de contato. E seios postiços.
Mas os seus mesmo eram lindos, pontudos. Só usava os postiços porque tinha pouco busto”.
(LISPECTOR, 1974, p. 28).
Em certo dia, os amigos encontram um empresário de quarenta anos chamado Affonso
Carvalho, aceitam sua oferta para beber um drinque em um bar da cidade e sentem uma grande
atração pelo homem desconhecido, que de início concede mais atenção à moça, mas não deixa de
ficar impressionado também por Serjoca. No próximo encontro marcado Aurélia pede ajuda ao
amigo, precisa que ele a maquie para ficar lindíssima. No restaurante, percebe que Serjoca fez um
trabalho diferente: apagou seus traços naturais, anulou seu rosto porque está interessado em
Affonso. A partir dessa constatação a protagonista passa a questionar a própria identidade e
individualidade, o reconhecimento de si mesma através do seu reflexo natural, há muito não
 
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verdadeiramente encarado em razão dos acessórios que o alteravam artificialmente para que ela se
sentisse mais atraente.
A ideia do ser feminino como ser sedutor, manipulador e belo remonta aos personagens mais
antigos da história, sejam eles provenientes de mitos ou não, a mulher notável e que têm sua
história contada pelo sexo dominante na narrativa histórica ocidental na maior parte das vezes reúne
essas características consideradas inerentes ao sexo feminino.
A figura que talvez mais transpareça como referência nesse sentido já foi lembrada por esta
pesquisa, e é parte da história de uma das maiores e mais influentes religiões do mundo. Eva, que
de acordo com o livro sagrado cristão seria a primogênita de Deus, é retratada como responsável
pela expulsão permanente do ser humano do Paraíso e de sua queda em desgraça através do
pecado original. Não apenas sua irreflexão ao ser facilmente convencida pelo Diabo a pecar é
considerada, mas também o fato de seduzir o homem a fazer o mesmo que ela, a fazer surgir nele a
pretensão de equiparar-se ao Criador.
Ainda que existam muitas outras figuras que poderiam fazer parte desse rol de personalidade
femininas singulares, as elencadas aqui demonstram a constante relação entre a mulher e a
sensualidade em suas representações ao longo da história da humanidade. A mulher que se
destaca carrega consigo a beleza, a sensualidade e a sedução e deve utilizá-la para conseguir o que
deseja. Nesse sentido, a força física e a estratégia atribuídas ao sexo masculino como pontos fortes
de sua personalidade são substituídas pela manipulação e sedução da mulher, tornando essas
características praticamente inerentes a seu sexo.
Aurélia Nascimento é a personagem de Clarice que incorporou e vive esses valores. Ela tem
a necessidade de sentir-se bonita e sentir que os demais a achem bonita, para que possa
valorizar-se. Como Afrodite, nessa busca pelo poder de sedução, seu principal instrumento
afrodisíaco é a maquiagem, que realça sua beleza natural e esconde suas pequenas imperfeições.
Essa relação de necessidade torna-se tão drástica que Aurélia sente perder sua identidade quando
Serjoca passa a maquiá-la de modo diferente, segundo ela, “apagando seus traços”: ​“Foi ao
espelho. Olhou-se profundamente. Mas ela não era mais nada”.​ ​(2009, p. 30)
A ausência da máscara que utilizava para apresentar-se em público e sua falha ao seduzir
Affonso, principalmente por ter sido derrotada nesse intento por seu amigo do sexo masculino,
causam uma profunda crise de identidade e individualidade em Aurélia, já que ela atribui tais
poderes e características como inerentes a seu sexo, a seu ser. Seu insucesso e a surpresa ao
encontrar seu verdadeiro “eu” fazem com que ela se sinta desclassificada como mulher, um “nada”.
Diante disso, a protagonista procura um meio de encontrar-se novamente:

Então – então de súbito deu uma bruta bofetada no lado esquerdo do rosto. Para se acordar. Ficou
parada olhando-se. E, como se não bastasse, deu mais duas bofetadas na cara. Para encontrar-se. E
realmente aconteceu. No espelho viu enfim um rosto humano, triste, delicado. Ela era Aurélia
Nascimento. Acabara de nascer. Nas-ci-men-to. (2009, p. 30)

As bofetadas no rosto, as mesmas que os médicos dão nos recém-nascidos quando acabam
de deixar a proteção do útero de suas mães, representam o novo nascimento de Aurélia, o início de
uma vida em que a personagem será capaz de reconhecer-se em si mesma, de sentir-se não mais

 
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com obrigações divinas e míticas, mas humanas. ​Ele me bebeu traz uma característica marcante da
literatura intimista e psicológica da autora: a transformações de seus personagens por meio de um
acontecimento chave que os faz refletir sobre suas condições, a epifania de Clarice.

4.2.3 A língua do “p”

Talvez o conto mais polêmico de A Via Crucis do Corpo​, a história de ​A língua do p narra um
episódio da vida de Maria Aparecida, ou Cidinha, como a chamavam em casa, é uma professora de
inglês que fará uma viagem aos Estados Unidos a fim de aperfeiçoar-se no idioma. Ao entrar no
trem que a levaria para o Rio de Janeiro, a moça percebe que dois homens a observam e falam uma
língua estranha. De repente, ela percebe o que eles fazendo: falam a língua do “p”, brincadeira que
as crianças costumam fazer, que consiste em introduzir a consoante P seguida pela vogal
precedente de cada um dos fonemas da frase.
Atemorizada, ela ouve o plano dos homens, que querem estuprá-la e matá-la caso seja
necessário. A moça então tem uma ideia e resolve fingir que é uma prostituta para que eles percam
o interesse nela, sobe a saia, mostra o decote, aplica maquiagem e faz trejeitos sensuais. O plano
funciona além do esperado, na próxima estação, Cidinha é levada à Delegacia, fichada e trancafiada
em uma cela por três dias. Quando finalmente sai de lá, compra um jornal e descobre que lê a
manchete: “Moça currada e assassinada no trem” (2009, p. 46).
A “Curra” é a modalidade do crime sexual de estupro em que dois ou mais agentes
participam, tornando a vítima mais indefesa frente às agressões e abusos cometidos pelos
agressores. Tornou-se crime recorrente no Brasil durante as décadas de 50 e 60, com destaque
para o caso Aída Curi, jovem de 18 anos estuprada e morta por três homens no ano de 1958, na
cidade do Rio de Janeiro. Outros casos notórios são os das meninas Araceli e Ana Lídia, de 7 e 8
anos de idade, que sofreram violência sexual e tortura dos agressores, ambos ocorridos na década
de 1970.
O Código Penal Brasileiro de 1940 previa o crime de sedução, que se baseava em ​“seduzir
mulher virgem, menor de dezoito anos e maior de catorze, e ter com ela conjunção carnal,
aproveitando-se de sua inexperiência ou justificável confiança”. ​Nesse sentido, somente a “mulher
honesta”​, inocente e inexperiente em relação a sexo era protegida pela norma, tendo não apenas de
provar a virgindade anterior ao crime como uma vida “condizente com a de uma moça honesta”. A
perda da virgindade da mulher que gozasse de boa reputação moral e social era protegida pela Lei,
constituindo uma verdadeira questão de honra para a mulher e sua família. No mesmo contexto, dois
incisos do artigo 107 do mesmo Código, extinguiam a punibilidade do autor do crime contra os
costumes pelo casamento com a vítima ou ainda, em caso de casamento da vítima com terceiro.
Tais disposições foram revogadas pelo ordenamento jurídico brasileiro apenas em 2005, com a Lei
11.106/2005, ou seja, há pouco mais de dez anos.
Assim, é possível perceber um grande tabu social em torno do conceito de virgindade e da
sua perda, uma opressão em relação a iniciação sexual feminina, que deve ser ponderada de modo
a não trazer “vergonha” para si mesma ou sua família. Em outras palavras, a exposição da vida
sexual e do desejo feminino, em oposto ao que ocorre com os homens, é indesejada e encarada

 
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como uma maculação na vida da mulher, ainda que a tal iniciação ocorra de forma involuntária e
violenta.
Não é por acaso que a personagem de Cidinha pensa por mais de uma vez no fato de ser
virgem durante a narrativa do conto. Logo que percebe os olhares insistentes dos homens que estão
no vagão, a moça pensa na própria virgindade, para depois perguntar-se porquê o teria feito. Ela
também preocupa-se com seu desconhecimento com o próprio corpo, como quando diz:

Queriam dizer que iam currá-la no túnel... O que fazer? Cidinha não sabia e tremia de medo. Ela mal
se conhecia. Aliás nunca se conhecera por dentro. Quanto a conhecer os outros, aí então é que
piorava. Me socorre, Virgem Maria! me socorre! me socorre! (2009, p. 44).

Em seu desespero, Cidinha recorre à personagem histórica bastante relembrada durante esta
pesquisa. A Virgem Maria é o símbolo máximo da supervalorização da virgindade, escolhida por
Deus para ter seu filho de maneira pura e transcendental, sem o pecado do sexo ou do desejo
sexual e permanece assim até o fim de sua vida, serva fiel e devotada. O que chama a atenção na
história contada pela Bíblia é que a virgindade de Jesus não exerce nenhum peso em sua vida ou
reputação e raramente é lembrada, enquanto a de Maria é um dos pilares da história, eternizada em
seu nome e responsável pela sua distinção entre as outras mulheres.
Assim, não é difícil compreender porque, para a cultura brasileira e ocidental em um
panorama mais amplo, a virgindade é concebida como parte do caráter feminino ideal, ícone de sua
pureza e honestidade e, portanto, tomada como medida de valoração da mulher, que em nosso
próprio país teve e ainda tem seus direitos relativizados com base nessa premissa. Munida desses
valores que reconhece inconscientemente, Cidinha tem a ideia de fingir-se de prostituta, para que os
estupradores percam o interesse nela.
O plano funciona de certa forma e impede que ela seja abusada sexualmente, mas a moça
acaba indo para a cadeia e sofre violência psicológica e moral dos policiais durante o tempo em que
fica presa. Não bastasse a já potente crítica que Clarice faz à cultura machista e patriarcal da época,
um elemento-surpresa é trazido para dentro da narrativa e construção da protagonista, que quase no
fim da história revela:

Afinal deixaram-na partir. Tomou o próximo trem para o Rio. Tinha lavado a cara, não era mais
prostituta. O que a preocupava era o seguinte: quando os dois haviam falado em currá-la, tinha tido
vontade de ser currada. Era uma descarada. Epe sopoupu upumapa puputapa. Era o que descobrira.
Cabisbaixa (2009, p. 45).

Neste derradeiro pensamento, Clarice parece ter a intenção de testar o leitor do seu próprio
machismo inconsciente. Afinal, a moça que até o momento havia suportado diversos tipos de
humilhação para evitar a violência sexual revela que a conversa dos homens sobre ela despertou
sua libido. Com essa “reviravolta” na história, a autora levanta uma polêmica questão que ainda
permanece enraizada em nossa cultura e pensamento coletivo, reflexos de um desenvolvimento
intelectual e legislativo machista de nosso país.
Em uma pesquisa divulgada pelo Instituto de Pesquisa de Economia Aplicada (Ipea), 58,85%
dos entrevistados concordavam totalmente ou parcialmente com a afirmação ​"Se as mulheres
 
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soubessem como se comportar, haveria menos estupros" e 54,9% concordam total ou parcialmente
2
com a máxima de que “Tem mulher que é para casar e tem mulher que é para cama” .
Outra pesquisa no mesmo sentido, realizada pelo Datafolha e encomendada pelo Fórum
Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) e divulgada em 2016, revelou que mais de um terço da
população (33%) consideram que a vítima é culpada pelo estupro. Ainda, 42% dos homens e 32%
das mulheres entrevistadas concordaram com a afirmação de que “mulheres que se dão ao respeito
3
não são estupradas” .
Dessa forma, é possível perceber a atualidade da crítica manifesta no conto de Clarice que,
embora tenha sido escrito e publicado na década de 1970, problematiza questões que ainda são
pauta para o movimento feminista nos dias de hoje, pois não estão nem de longe superadas no
contexto cultural brasileiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa, através da metodologia bibliográfica e da abordagem teórica da crítica


feminista, procurou analisar os contos ​Miss Algrave​, ​Ele me bebeu e ​A língua do “p”​, do livro ​A Via
Crucis do Corpo​, de Clarice Lispector, de forma a problematizar a recepção negativa que recebeu no
momento de sua publicação e relacionar as questões, consideradas tabus até os dias de hoje, com a
realidade histórica brasileira e mundial em consonância com a evolução dos estudos de gênero.
A insurgência das discussões relacionadas à condição das mulheres na sociedade, que
gradualmente foram inseridas na Academia e entre os meios sociais mais influentes, após um
significativo período de gestação dessas ideias, que evoluíram e tomaram real espaço aos poucos,
desde o nascimento dos primeiros focos de resistência durante o século XIX até as recentes
abordagens construídas nos estudos de gênero, como a Teoria Queer, que origina-se durante a
década de 1980, nos Estados Unidos.
Nesse sentido, as referências utilizadas para a realização da pesquisa nortearam-se por
autoras e autores precursores no campo das discussões de gênero e em relação à condição,
sexualidade e representatividade feminina. A própria Clarice Lispector, embora nunca tenha
mostrado-se engajada a tais questões, deixou sua marca como uma das autoras que mais
contribuíram para a representatividade feminina na literatura brasileira, aliando uma narrativa livre
das amarras dos valores tradicionais e personagens complexas e independentes.
A rediscussão de temas que cerceiam a sexualidade feminina mostram-se necessários
quando percebemos que as histórias de Clarice, mesmo após mais de quarenta anos após sua

2
Fonte: Disponível em
<​http://g1.globo.com/brasil/noticia/2014/03/para-585-comportamento-feminino-influencia-estupros-diz-pesquisa.html​> Acesso em
18 jun. 2017.
3
Fonte: Disponível em
<​http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-09/onu-mulheres-brasil-diz-que-pesquisa-sobre-estupro-reflete-estagnacao-da
.>. Acesso em 22 jun. 2017.
 
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publicação, ainda são capazes de chocar a sociedade e fazer-nos refletir sobre a condição da
mulher em um país que ainda está longe de superar as barreiras do patriarcado.

REFERÊNCIAS

BOURDIEU, Pierre. ​A Dominação Masculina​. Bertrand Brasil: Rio de Janeiro, 2008.

HUNGRIA, N.; LACERDA, R. C. D. ​Comentários ao Código Penal​, t. VIII, Rio de Janeiro: Forense,
1947.

LISPECTOR, Clarice. ​A Via Crucis do Corpo​. Rocco: Rio de Janeiro, 2009.

MATOS, Maria Izilda Santos et. al.​ O Corpo Feminino em Debate​. Unesp: São Paulo, 2003.

MILLET, Kate.​ Política Sexual​. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1974.

MOSER, Benjamin. ​Clarice​. Cosac Naify: São Paulo, 2009.

ROBLES, Martha. ​Mulheres, Mitos e Deusas​. Aleph: São Paulo, 2006.

WOOLF, Virginia. ​Um Teto Todo Seu​. São Paulo: Tordesilhas, 2014.

 
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