“Deleitando-se na Trindade: Uma Introdução à Fé Cristã” de Michael Reeves.
Tradução: Josaías Cardoso Junior. 1a Edição, Brasília, DF: Editora Monergismo, 2014. Pp 135. AUTOR Michael Reeves é Ph. D. pelo King’s College e autor de vários livros. É presidente e professor de teologia na Faculdade de Teologia União em Oxford, Inglaterra. Serve como diretor do website de teologia on-line www.uniontheology.org e é também consultor da UCCF (Associação das Universidades e Faculdades Cristãs). DESENVOLVIMENTO Na introdução de seu livro, Reeves afirma que seu objetivo é promover “crescimento no prazer em Deus” (p.13). Ele faz isso demonstrando que a Trindade é uma verdade e que, apesar de normalmente ser vista como uma doutrina irrelevante e simplesmente usada para defender a posição ortodoxa, Sua unidade e diversidade são a base da vida cristã. A introdução do livro começa com a premissa que “Deus é amor justamente por ser Trindade”. Reeves demonstra ser possível conhecer o Deus Trino por Ele ter-se revelado. E que Ele é diferente de todos os deuses. Muitas vezes deixado de lado, o aspecto Trino de Deus é de incomparável importância e promove um estilo de vida diferente naqueles entendem tal aspecto. No primeiro capítulo, ao abordar a atividade de Deus antes da criação, o autor demonstra o amor mútuo que a Trindade sempre teve. Esse amor, perfeito e suficiente, indica que não havia necessidade alguma em Deus. Ele sempre se completou. Sua decisão de criar, então, foi baseada nesse amor. Assim, iniciativa de Deus por amar o levou a decisão de criar para compartilhar esse amor perfeito. O autor se propõe ainda a demonstrar que a Trindade é um Deus, mas três Pessoas distintas. O segundo capítulo demonstra Deus amando o Filho desde a eternidade. Essa foi a motivação de Deus criar. O amor pelo Filho “transbordou” e O motivou a expandir Seu amor. É demonstrado também que o conhecimento sobre Deus só pode ser alcançado em sua clareza, profundidade e precisão por meio de conhecer o Filho. No terceiro capítulo, é focalizado na salvação do homem. Reeves demonstra como Adão e Eva, criados para desfrutarem do amor de Deus e viverem-no uns para com os outros, escolheram deixar seu amor pelo Criador e redirecioná-lo de forma a desviar do propósito original. Ao amarem a si mesmos e outras coisas acima de Deus, o ser humano se torna necessitado de redenção para voltar ao seu propósito original. Desta forma, a obra da salvação foi uma grande demonstração do Deus que é amor. A cruz, então, ressaltou o significado de amor, pois, mais uma vez, torna evidente o amor transbordante da Trindade. O Filho se achega a nós e nos conduz a desfrutarmos do amor de um Deus Trino. No quarto capítulo a obra do Espírito está em destaque. Ele traz vida ao homem como trouxe vida ao Filho, ressuscitando-O dentre os mortos. O Espírito redireciona nosso amor ao Pai e ao Filho. Ele nos persuade, demonstrando, assim, o amor de Deus por nós. Ao derramar o amor em nossos corações, Ele nos capacita e nos motiva a redirecionar nosso amor de forma que reflita o amor de Deus. A salvação, então, é receber gratuitamente o amor de Deus e o privilégio de nos relacionarmos novamente com Ele. Após isso, o Espírito continua conosco para desenvolver esse relacionamento de amor com Deus e uns com os outros. O que era para ser desde o princípio, adoradores/amantes do Deus Trino e não de si mesmos. No quinto capítulo, o autor responde a seguinte pergunta: Como a santidade, a ira e a glória de Deus devem ser vistas à luz do fato de Deus ser Trino? Em primeiro lugar Reeves demonstra que amar a Deus e uns aos outros são expressões máximas de santidade. Deus ama e ser como Ele é amar/ser santo. A segunda expressão usada é a ira. Como afirma, ira é a “resposta do Deus amoroso ao mal... Deus se ira com o mal porque Ele ama”. A ira de Deus é nossa esperança de erradicação do pecado e, assim, do desfrute pleno de Seu amor perfeito por toda a eternidade. A terceira palavra relacionada à Trindade é a glória de Deus. Reeves conclui seu livro demonstrando que a escolha de uma vida norteada por um Deus Trino conduz o cristão a um cristianismo correto e saudável. Motiva a uma vida teocêntrica a não antropocêntrica.
É particularmente interessante a abordagem de Reeves ao afirmar que o Deus
Trino é o único que pode amar sem ter a necessidade de fazê-lo ou de ser amado. O autor afirmou que “mesmo que, como Deus, ele decidisse me livrar das consequências da quebra da lei, ainda não o amaria. Eu poderia sentir-me grato, e essa gratidão talvez fosse profunda, mas isso não é a mesma coisa que amar.”. Parece-me que essa afirmação desconsidera Lucas 7.41-48, onde o perdão, que é essencialmente o livramento das consequências do pecado, produz amor. É desconhecido para mim que o Deus Trino tivesse funções de Pai e Filho na eternidade. Embora seja o padrão natural das Escrituras, Reeves focaliza apenas no amor do Pai pelo Filho. Sim, a hierarquia é claramente destacada na Palavra, mas eu me pergunto se esta hierarquia sempre existiu. Minha impressão é que não, já que as três Pessoas da Trindade são iguais em essência. Isso, é claro, não significa que Deus deixa de ser o que é antes da hierarquia. Outra afirmação que me chamou a atenção foi que “não havia nada com que estar furioso até que Adão pecasse em Gênesis 3”. Isso me fez pensar acerca da crença de Reeves sobre quanto Satanás teria caído. O livro conduz à reflexão, combina teologia e simplicidade. E, mesmo sendo intencionalmente repetitivo, ele promove transformação de dentro para fora, exatamente o que Deus deseja de seus filhos amados.