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GT 07
CONSTRUÇÃO DE CONCEITOS GEOGRÁFICOS: A PERCEPÇÃO DOS
ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL DO MUNICÍPIO DE SÃO JOÃO DO
CARIRI-PB

LUIZ GUSTAVO BIZERRA DE LIMA MORAIS


Graduando em Geografia – UEPB
FABRÍCIA DE FARIAS SOUSA
Graduanda em Pedagogia – UFCG
HOSANA VIEIRA DA SILVA
Graduanda em Geografia – UEPB

RESUMO

A construção de conceitos é tomado como exercício indispensável a aprendizagem


geográfica em âmbito escolar, teóricos que trabalham a prática de ensino em Geografia,
afirmam que o desconhecimento ou trato científico indevido desses em sala de aula,
repercuti negativamente na aprendizagem. Diante do quadro atual, a Geografia assume
uma importância estratégica, porém, percebe-se uma crise em seu ensino, caracterizando-
se como descontextualizado e fragmentado. Papel muito mais amplo do que se tem
observado, tem-se em vista nessa disciplina: esclarecer as relações de poder e dominação,
contribuindo na formação de indivíduos conscientes de seu papel como cidadãos no
mundo, desde que, o educador utilize de uma prática pedagógica pautada em observação,
descrição, experimentação, analogia e síntese, permitindo aos alunos aprender e
compreender os processos de construção do espaço, lugar e dos diferentes tipos de
paisagens e territórios do mundo. Portanto, objetivou-se saber qual a percepção dos alunos
do primeiro e último ano do ensino fundamental da E. E. E. F. M. Jornalista José Leal
Ramos em São João do Cariri-PB, acerca da Geografia e seus conceitos? A pesquisa
realizou-se em 18 de outubro de 2011, envolvendo 62 alunos. A análise dos questionários
remeteu a uma superficialidade das respostas, de forma objetiva e sem justificativa,
constatando que existe um pensamento vago por parte dos estudantes em relação aos
conceitos geográficos, evidenciando que a geografia tem entre os alunos uma importância
meramente descritiva. Tal realidade é algo preocupante, sendo conveniente a provocação:
que tipo de ensino dar-se a estes alunos?

Palavras-chave: Ensino; Aprendizagem geográfica e Percepção.

 
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INTRODUÇÃO

A aprendizagem a partir de conceitos geográficos tem por objetivo nortear


conteúdos escolares contribuindo para o sucesso do processo pedagógico (BOLIGIAN;
ALMEIDA, 2002, p. 236). Mesmo assim, percebe-se que a maioria dos alunos na
atualidade desconhece os conceitos base desta ciência, papel de responsabilidade da
geografia escolar, constituindo uma das maiores problemáticas na aprendizagem dos
conhecimentos geográficos.
Dessa forma, ensinar a geografia escolar passa a ser um desafio para o professor, ao
mesmo tempo em que sua aprendizagem, nos moldes atuais, constitui outro desafio, agora
para o aluno. De ciência com relevância para o crescimento intelectual e o
desenvolvimento social do aluno, a Geografia resume-se a ser mera repassadora de
conteúdos desprovidos de qualquer utilidade prática para a vida cotidiana, segundo
Boligian e Almeida (Op. cit. P. 235), caracterizada pela transmissão de conteúdos advindos
de uma Geografia tradicional e descritiva, cujos métodos baseiam-se na memorização de
conceitos.
Sustentando-se nestas premissas, este trabalho tem como objetivo analisar a carga
teórica dos alunos do ensino fundamental da E. E. E. F. M. Jornalista José Leal Ramos,
localizada no município de São João do Cariri-PB, acerca da importância da Geografia
para sua vida prática, para tal tomou-se como pressuposto a aprendizagem dos conceitos ou
categorias chaves da Geografia, entendidos aqui como elementos capazes de mensurar
qualitativamente a carga teórica dos alunos do ensino fundamental acerca da aprendizagem
dos conhecimentos geográficos.
O trabalho, para melhor abordagem das problemáticas elencadas, foi dividido em
três etapas. A primeira enfoca o papel da geografia escolar, em um momento posterior
discutiu-se a necessidade de se construir um conhecimento tomando como pressuposto os
conceitos geográficos e encerra com a análise da percepção dos alunos do ensino
fundamental de uma escola pública do Estado da Paraíba, considerando-se este, o ponto
chave deste trabalho.

1. O PAPEL DA GEOGRAFIA ESCOLAR

Diante da abrangência dos conteúdos abordados pela Geografia em sala de aula,


sendo uma matéria que discute “de tudo no mundo um pouco”, surge a muitos alunos uma
indagação: afinal, qual o objetivo do estudo da Geografia? Será que os multi enfoques
trabalhados por ela em sala de aula não a faz uma disciplina que serve apenas para
depositar conteúdos gerais, ou seja, deixar o aluno bem informado ou até mesmo decorar
conteúdos?
Pode-se então afirmar que a falta de interesse por esta disciplina, fato este
recorrente, estaria na acessibilidade por parte do aluno a meios mais eficazes de atingir o
programa proposto, destacando-se nesse cenário os meios de comunicação modernos?
Estas arguições não passam na verdade de provocações, se bem que, grande parte dos

 
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alunos toma estas para si. É verdade também, o desinteresse que se tem pelas aulas de
Geografia.
Na contramão ao que se tem posto, outra realidade se projeta, segundo Milton
Santos (1988, p. 29) “[...] nesta fase da história se está afirmando o caráter geográfico da
sociedade” pois “ O homem atinge enfim um conhecimento analítico e sintético de toda a
Natureza e adquire a capacidade de uma utilização geral e global das coisas que o cercam”.
Chega a ser contraditório, mas, a medida que se estabelece em nossa realidade uma espécie
de crise do ensino geográfico, urge a necessidade de apreendê-lo, pois, o mundo
globalizado exige uma sociedade capaz de corresponder ao nível de conhecimento que se é
difundido, ao contrário, corre-se o risco de ficar a margem desse processo. Ficar a margem,
porém, não tem o mesmo significado de ser excluído, ao contrário, significa incluir-se só
que de maneira mais perversa, já que a globalização não alforria, apenas encontra outras
funções.
Dessa forma o ensino de Geografia apresenta-se como base ao entendimento do
mundo e de sua dinamicidade, bem como suas contradições. A aprendizagem geográfica na
atualidade se constitui na percepção de um mundo interligado. Para Cavalcanti (2008, p.
46):

A geografia é um campo do conhecimento científico que desde sempre se


constituiu com base na multidimensionalidade, já que buscou compreender as
relações que se estabelecem entre o homem e o mundo natural, e com essas
relações, ao longo da história, vêm constituindo diferentes espaços.

Encontra-se, portanto, as razões pelas quais levam a Geografia a pluralidade de


enfoques. Pois, a Geografia ao estudar o espaço, objeto de estudo desta ciência, se depara
com toda a dinâmica que há nele. De acordo com a autora (op. cit., p. 42).

O espaço como objeto da análise geográfica não é aquele da experiência


empírica, não é um objeto espacial em si mesmo, mas sim uma abstração, uma
construção teórica; o espaço geográfico é concebido e construído
intelectualmente como um produto social e histórico que se constitui em
ferramenta de análise da realidade em sua dimensão material e em sua
representação.

Assim, a Geografia escolar não pode ser vista como um depósito de conteúdos e
muito menos afirmar que ela não possua significância, sobretudo, a vida do aluno. A
realidade brasileira é muito perversa no que tange o aspecto social, a cidadania clássica que
se têm nos dias atuais, não resolveu as profundas desigualdades sociais e a emancipação
política da população. Outra realidade ainda mais triste é a inserção das técnicas dentro do
território, excluindo aqueles que não possuem meios de dominá-las, essa falta de
conhecimento ameaça a realização de uma cidadania ativa, como nos lembra Santos
(1988).
Não se pode tomar, porém, esta questão como sendo exclusividade da escala local
aqui mencionada, organismos que detém o poder em outras escalas também agem para
impor suas formas de organizações. A mídia, suposta candidata a substituir o “papel” de

 
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transmissora do conhecimento e da informação é o principal canal de difusão desses


agentes e, portanto, estando a serviço dos interesses dos organismos perversos.
Dessa forma a Geografia enquanto disciplina escolar assume um papel muito mais
amplo do que se tem pensado ou imaginado alguns estudiosos da área, ela vai permitir uma
análise dos seus conceitos bases, o que será tratado adiante, e a partir dos mesmos
esclarecer as relações de poder e dominação, contribuindo na formação de indivíduos
conscientes de seu papel como cidadãos.

2. QUAL O PAPEL DA GEOGRAFIA ESCOLAR E ATRAVÉS DE QUE ELA O


EXERCE?

Sabe-se que é por meio das discussões dos conteúdos de Geografia que os alunos
desenvolvem uma visão de mundo e essa competência é essencial para que os mesmos
possam atuar como cidadãos em seus espaços. No entanto, é através da perspectiva
tradicional que o ensino de Geografia se procede nas escolas, ou seja, em um ensino
restrito a mera memorização dos conteúdos fragmentados trabalhados pelo educador em
sala de aula.
De acordo com os PCNs de Geografia (1997), várias abordagens atuais vêm
buscando práticas pedagógicas que possibilitem aos alunos a compreensão de maneira
clara e consistente dos conteúdos dessa matéria nos diferentes momentos da escolaridade.
Assim, segundo o mesmo, o ensino requer que os alunos:

[...] desenvolvam a capacidade de identificar e refletir sobre diferentes aspectos


da realidade, compreendendo a relação da sociedade-natureza. Essas práticas
envolvem procedimentos de problematização, observação, registro, descrição,
documentação, representação e pesquisa de fenômenos sociais, culturais ou
naturais que compõem a paisagem e o espaço geográfico, na busca e formulação
de hipóteses e explicações das relações, permanências e transformações que aí se
encontram em interação (BRASIL, 1997, P. 14).

Desse modo, o ensino da Geografia propicia aos alunos a compreensão de sua


posição no conjunto das relações da sociedade com a natureza, aprofundando seus estudos
em relação as culturas, desenvolvendo hábitos e a construção de valores importantes para a
vida em sociedade. Tornando os educandos conscientes da importância e influência do
passado e presente sobre os patrimônios culturais, nas questões políticas, sociais, naturais,
entre outras que interferem decisivamente sobre o futuro da sociedade como um todo.
Conforme Farias (2007), os educadores, por meio do ensino de Geografia devem
oferecer condições que propiciem aos alunos a realização de uma leitura de mundo, para
que estes se tornem cidadãos ativos frente às questões que lhe são impostas no ambiente
social, no qual diferentes grupos sociais estão inseridos. Sendo esta leitura requisitada
pelos professores desde as primeiras séries iniciais do Ensino Fundamental. Em
consequência disso, os alunos desenvolvem uma visão de mundo, tornando-se sujeitos
ativos perante os acontecimentos da sociedade.

 
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Nesse contexto, o professor deve planejar e criar situações em sala para que os
alunos sejam provocados a pesquisar novos conhecimentos, a questioná-los, a participar de
discussões, de maneira que os alunos adquiram o conhecimento de modo, a saber,
relacionar com outros conhecimentos, ao mesmo tempo, saber transportá-los para a sua
realidade. Mas isso só se torna possível quando o educador utiliza de uma prática
pedagógica pautada em observação, descrição, experimentação, analogia e síntese que
permite aos alunos aprender e compreender os processos de construção do espaço, do lugar
e dos diferentes tipos de paisagens e territórios.

3. POR QUE UMA ABORDAGEM GEOGRÁFICA POR CONCEITOS?

Segundo Castelar e Vilhena (2010, p. 102) “os conceitos são construções de


significados dos fenômenos e objetos que criamos para interpretar ou explicar o mundo ao
nosso redor, e a escola auxilia na transformação deles”.
O ensino de geografia esteve por muito tempo segundo os PCNs de Geografia
(1997), vinculado a simples memorização, descrição empírica dos elementos que compõem
o espaço geográfico, sem, contudo, esperar que os alunos estabelecessem atitudes e
procedimentos como de analogia, relações, observação, registro, entre outros, tendo apenas
como objetivo abordar o conceito de espaço geográfico, paisagem, território e lugar de
forma objetiva sem priorizar a dimensão subjetiva e as relações sociais existente em cada
conceito geográfico, ensino esse que ficou denominado como Geografia Tradicional.
Com o surgimento de uma nova concepção de Geografia, isto é, a Crítica o ensino
tradicional passou a ser questionado como um ensino limitado, pois diferente do
tradicional o ensino da Geografia Crítica, tem como finalidade formar um cidadão ativo na
sociedade, onde o mesmo possa discutir sobre as condições sociais, políticas, econômicas,
levando-se em conta neste ensino as experiências, os significados, as percepções, vivências
construídas pelos indivíduos, sociedade ou grupos em determinado espaço geográfico,
paisagem, lugar e território.
Nesse sentido, para que os alunos compreendam a Geografia e possa utilizar desse
conhecimento geográfico em sua realidade é imprescindível que a princípio os mesmos
tenham aprendido e não memorizados os conceitos geográficos, pois a partir deste
elementar conhecimento mais extremamente importante os alunos terão entendimento para
compreender os conteúdos geográficos. Com base nos Parâmetros Curriculares de
Geografia no decorrer dos oito anos do ensino fundamental alguns objetivos, com relação
ao aprendizado dos alunos, se pretendem atingir entre eles:

Conhecer a organização do espaço geográfico e funcionamento da natureza em


suas múltiplas relações; identificar e avaliar as ações dos homens em sociedade e
suas consequências em diferentes espaços e tempos; compreender que as
melhorias nas condições de vida, os direitos políticos, os avanços tecnológicos;
conhecer e saber utilizar procedimentos de pesquisa da Geografia; fazer leituras
de imagens, de dados e de documentos de diferentes fontes de informação; saber
utilizar da linguagem cartográfica e valorizar o patrimônio histórico sociocultural
e respeitar a sociodiversidade (BRASIL, 1997, p.121/122).

 
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Embora existam novas propostas metodológicas que incorporam outras concepções


de Geografia, há uma predominância do ensino tradicional, isso gera consequências na
aprendizagem dos alunos, pois o ensino de Geografia se encontra vinculado a
memorização principalmente no que se refere aos conceitos geográficos, de maneira a
gerar nos educandos dificuldades na compreensão dos conteúdos geográficos,
consequentemente não participam de discussão em sala de aula, não questionam, nem
opinam e nem muito menos conseguem relacionar os assuntos de Geografia discutidos em
sala de aula com os acontecimentos da sociedade.
Diante dessa situação, quando o professor contraria por meio da sua metodologia
em sala de aula o método de ensino tradicional, enfrenta muitas dificuldades no sentido de
explicar os conteúdos geográficos e torná-los compreensíveis aos alunos. Tal situação
decorrente de um ensino tradicional ocasionando deficiências na aprendizagem dos alunos
em relação ao conhecimento aos conceitos geográficos, ou seja, de espaço, lugar,
paisagem, território e etc. advindos desde as séries iniciais do Ensino Fundamental I,
impossibilitando aos alunos o desenvolvimento de discussão, participação,
questionamento, opinião sobre os conteúdos de Geografia em sala de aula.
De acordo com Farias (2007), para que o docente possa desenvolver um ensino de
Geografia de qualidade é fundamental que o mesmo tenha adquirido, em sua formação
acadêmica, conceitos e teorias da Geografia, pois esses conhecimentos permitem que o
professor organize melhor a sequência didática dos conteúdos a serem trabalhados,
possibilitando também ministrar suas aulas de maneira mais clara para os seus alunos.
Para que o ensino se dê através de conceitos, é necessário que o professor tenha um
nível de conhecimento mais aprofundado acerca dos fundamentos epistemológicos dos
mesmos, pois, compreender tais fundamentos e suas mudanças, seja na história, no
pensamento geográfico ou na geografia escolar torna-se condição essencial (CASTELAR;
VILHENA, 2010, p. 99).
Tem-se em vista ainda que é imprescindível que o docente ao explorar, em sala de
aula, os temas e os conceitos da Geografia, utilize de exemplos, em meio as suas
explicações, que estejam próximo da realidade dos alunos, tais como: a cidade, o Estado, o
país e o mundo, relacionando a realidade dos alunos com a temática discutida em sala de
aula. Em meio a essa socialização que os educandos podem realmente adquirir os
conhecimentos da Geografia.
Sendo papel do professor comportar-se didaticamente, valorizando a realidade
concreta do aluno. Começando por explorar em sala de aula o espaço, o território, a
paisagem, a região e o lugar como categorias imprescindíveis para a explicação e
compreensão na análise geográfica, instigando os alunos a discutirem sobre os conteúdos, a
questionarem, se posicionarem em relação aos problemas do meio social e suas relações
com a natureza. Possibilitando, assim, aos alunos compreenderem a influência do tempo e
do espaço na modificação do meio sobre as transformações na vida humana, visando à
formação de um cidadão ativo perante a sociedade.

 
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MATERIAIS  E  MÉTODOS

A pesquisa foi realizada no dia 18 de outubro do ano de 2011 em turmas do ensino


fundamental do turno manhã do Colégio de Ensino Fundamental e Médio Jornalista José
Leal Ramos, localizada no município de São João do Cariri-PB.
Envolveu-se na análise um universo de 62 alunos, estando distribuídos na
configuração a seguir: 6° ano “A”- 30 alunos e 9° ano “A”- 32 alunos, os quais
responderam a um questionário contendo questões acerca do entendimento deles sobre os
principais conceitos geográficos como: lugar, região, território, paisagem e espaço, e, da
Geografia em si, bem como, a importância desta para a vida cotidiana deles.
O questionário visou saber dos alunos do primeiro e último ano do ensino
fundamental, qual sua carga teórica e cotidiana empírica sobre a Geografia e seus conceitos
fundamentais. A seguir, com os dados em mãos, se deu a tabulação.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

A análise dos questionários permitiu visualizar de forma bem clara a concepção dos
alunos acerca da Geografia e de seus principais conceitos. Para compreender melhor,
convencionou-se colocar as principais concepções em quadros ilustrativos, constituindo
estes, os mapas conceituais dos alunos.

Qual é a concepção dos alunos sobre a Geografia?

De acordo com o Quadro 1, o entendimento amplo acerca da Geografia por parte


dos alunos está ancorado, sobretudo, numa visão que tem os aspectos físicos e humanos
dissociados. Apesar dos alunos fazerem alusão a conteúdos de competência da geografia
escolar, a partir da análise de suas colocações, pode-se perceber que não há uma
sistematização dos conhecimentos. Temáticas como: natureza, sociedade, política foram
citadas, porém, não de forma que possam apontar uma correlação entre elas.

Quadro 1. Compreensão dos alunos do 6° e 9° acerca do que é a Geografia.


O que é Geografia?
6° Ciência que estuda a terra (19)1 e o espaço (4); Ciência que estuda mapas
ano geográficos (2).

9° Ciência que estuda outros países e as economias (6); Ciência que estuda o território
ano (3), mapa (4), lugar, natureza (2), sociedade (3), espaço (5), planetas, entre outros;
Ciência que estuda as paisagens e lugares (3); Ciência que estuda o mundo (3); A
Geografia trabalha com desenvolvimento populacional e industrial (2); Estuda
clima (2), vegetação; Sociedade (2), meio ambiente; É a matéria que estuda espaço
político, avanços tecnológicos, regiões (3); Nada (2);

 
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Como visto, dificilmente a compreensão do que seja a Geografia para os alunos


aparece dotada de inter-relação dos objetos estudados, no máximo, posicionamentos gerais
como mundo, planetas, terra, cidades, etc. Este fato evidencia que o ensino de Geografia é
feito de forma fragmentada, o aluno acaba recebendo uma carga teórica que permite
conhecer diversos aspectos do mundo. No entanto, esta forma de aprendizagem
caracteriza-se, sobretudo, pela memorização, uma vez que aparecem distanciados da
realidade do aluno.

Qual a concepção do que a Geografia estuda?

Assim como o significado da Geografia, o seu objeto de estudo é concebido com


dificuldade pelos alunos. Percebe-se a partir do Quadro 2 que isto é ainda mais difícil para
os alunos do 6° ano, para os mesmos a Geografia se debruça sobre conteúdos pontuais: a
terra, o espaço (aqui visto em sua dimensão física), os territórios, os mapas, etc., mostrando
mais uma vez a fragmentação pelo qual passa a prática de ensino em Geografia.

Quadro 2. Concepção dos alunos do 6° e 9° anos acerca do que a Geografia estuda.


O que a Geografia estuda?
6° ano A terra (16); O espaço (8); A paisagem (5); Os países (5); O tempo (5); O
clima (3); Ao mapas (3); As cidades (3); Os lugares (2); As regiões (2); Os
territórios (2);
9° ano O espaço geográfico (17); Mapas (2), sociedades (4), planetas; Lugar, região
(3); Meio ambiente (3); Estuda a economia de países e território (3);
Natureza (2), paisagens (3) e lugares; Posição das cidades, distancias,
terremotos, etc.; Os países as indústrias, as culturas (2) e lugar; O
desenvolvimento dos países (2) economia (2); Países, cidades, população,
clima (2).

O 9° ano, apesar de também apresentar visões fragmentadas, conteúdos como meio


ambiente e espaço geográfico permite perceber a abertura da visão do objeto de estudo da
Geografia. Os alunos conseguiram, através desses objetos, expressarem uma relação que
estabelece a máxima do estudo da Geografia que é a relação sociedade-natureza.
A partir destas abordagens gerais pelos alunos do 6° e 9° anos acerca da Geografia,
parte-se agora para a visão conceitual desta ciência. O objetivo principal deste enfoque é
estabelecer a relação entre o conhecimento científico discutido pelos teóricos da Geografia
e o conhecimento dos alunos.

Qual a concepção de lugar?

O mapa conceitual abaixo definido apresenta as principais concepções acerca do


que seja o conceito de lugar segundo os alunos estudados. A partir dele percebe-se que o

 
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conceito hora tratado é concebido como um objeto que ocupa um determinado espaço.
Dessa forma, a perspectiva de Lugar como espaço de pertencimento é deixada a margem.

Quadro 3. Entendimento dos alunos do 6° e 9° ano sobre o conceito de lugar.


O que você entende por lugar?
6° ano Onde estamos (4); Um determinado espaço (10); É onde vivemos (4); Onde
se localiza uma casa ou cidade (4); Uma escola; Onde tem uma praia muito
linda; Paraíba.
9° ano Onde estamos vivendo ou morando (10)-( Espaço em movimento onde
habitamos); Uma cidade (3), um país; Qualquer espaço existente (3).

O conceito de lugar segundo Cavalcanti (2008, p. 50) compreende “o habitual da


vida cotidiana, mas, por outro lado, também é onde se concretizam relações e processos
globais”. Desse modo este conceito assume importância singular não só a aprendizagem
geográfica, como também, a vida dos alunos.

Qual a concepção de região?

O conceito de região, por sua vez, é concebido desde o completo distanciamento


real conceitual, até uma concepção que pode ser analisada como do senso comum.
Segundo Gomes (2002, p. 53), o conceito de região dentro deste enfoque apresenta
domínios de noção que engloba a localização e a extensão como fundantes. Para Castelar
(2007, p. 93), sobressai-se a ideia de que a região é um “local definido de forma absoluta e
estática” tomada no “senso comum, como unidade político-administrativa”. São estas as
visões que se sobressaem no Quadro 4.

Quadro 4. Entendimento dos alunos do 6° e 9° ano sobre o conceito de região


O que você entende por região
6° ano É uma cidade, um local (14); Nordeste (7); Uma escola (2); Espaço que
agrupa vários estados (2).
9° ano Várias cidades ou sítios que possuem mesmo tipo de vegetação e clima (5);
Território que separam estados e capitais (4); Espaço marcado/ divisa de
lugares, cultura (2).

No entanto, o conceito de região deve ser compreendido como: “Um espaço médio,
menos extenso do que a nação ou grande espaço da civilização, mais vasto do que o espaço
social de um grupo, e a fortiori de um lugar”. Dessa forma a região “Integra lugares
vividos e espaços sociais com um mínimo de coerência e de especificidade” (FRÉMONT,
1980, apud CAVALCANTI, 1998, P. 105).

 
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Qual a concepção de paisagem?

Quanto a paisagem, pode-se dizer que esta trata-se do “domínio do visível”


(CAVALCANTI, 2008, p. 51). A partir desse entendimento, pode-se dizer que o Quadro 5,
traz algumas percepções que remete diretamente a paisagem como aquilo que podemos
ver. Observa-se também, que grande parte desse entendimento compreende uma
idealização. Não se trata de qualquer forma visível, é necessária ser bonita. Isto mostra o
distanciamento por parte dos alunos de uma compreensão mais abrangente do conceito de
paisagem, uma vez que, assim como os demais conceitos, a paisagem assume diversas
formas no espaço, e, portanto, não é absoluta.

Quadro 5. Entendimento dos alunos do 6° e 9° ano sobre o conceito de paisagem.


O que você entende por paisagem
6° ano Lugar bonito (lindo) (8) (Lugar lindo com flores, plantas, montanhas, É a
vista de um lugar, uma montanha uma serra, Rios, lugares, praia); Tudo que
podemos ver (3); A natureza (13).
9° ano Lugar ou algo bonito, belo (14)-(imagem bonita que pode ser a natureza;
Tudo que vemos (6).

No entanto, a compreensão da paisagem como objeto idealizado, é visto por


Cavalcanti (1998, p. 101), como a “primeira referência” que se tem do conceito, sendo
muito importante para o aluno, pois, a partir dela, ele pode assimilar o conceito no todo.
Faz-se premente ainda, destacar conforme Santos (1988, p. 62) que a paisagem não
é puro aspecto, ela é “materialidade, formada por objetos materiais e não-materiais”
constituindo uma “dimensão da percepção”.

Qual a concepção de território?

A análise feita a partir da percepção dos alunos sobre o conceito de território revela
concepções distintas, sendo basicamente três: 1) o território como espaço político
administrativo; 2) o território como o local onde se dão as relações cotidianas (o lar); 3) o
território como espaço de domínio do poder. Pode-se afirmar, no entanto, que de uma
forma ou de outra, esta última está presente nas demais, constituindo de fato uma
construção conceitual (Quadro 6).

Quadro 6. Entendimento dos alunos do 6° e 9° ano sobre o conceito de território.


O que você entende por território
6° ano É um lugar (2); Onde moramos (vivemos 14); Brasileiro (5); Um espaço
demarcado com dono (2); É o que cada país tem (2).
9° ano Espaço da terra dominado por alguém (7) Espaço que cada pessoa ocupa no
dia a dia (2); Local onde se mora (2); Lugar pertencente a um país (2).

 
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Estas concepções, embora algumas compartimentadas e soltas, remetem a questão


central acerca do conceito de território, que é a relação de poder. De acordo com Bogligian
e Almeida (2009, p. 241) o território é o “Espaço definido e delimitado por e a partir de
relações de poder entre os atores sociais. É o espaço apropriado, transformado, construído
e organizado de acordo com os interesses dos atores dominantes”.

Qual a concepção de espaço geográfico?

O conceito de espaço geográfico é a totalização dos demais conceitos aqui


discutidos, trata-se do objeto principal de estudo da ciência geográfica. De acordo com
Santos (1988, p. 71), o espaço geográfico é o “conjunto de objetos e de relações que se
realizam sobre estes objetos, não entre estes especificamente, mas, para as quais eles
servem de intermediários”.
Como visto, o conceito de espaço geográfico está muito além da dimensão física,
ou seja, espaço mensurável, pois engloba toda a teia de relações que se estabelece entre os
objetos geográficos, entre eles estando o próprio ser humano que, por sua vez é o condutor
de todo o sistema de relações. No entanto, este conceito está longe de ser compreendido
dentro desse arcabouço teórico por parte de grande parcela dos alunos do ensino
fundamental. Para estes o espaço geográfico se apresenta de forma estática, sendo
confundido até com o espaço sideral como se observa no Quadro 7.

Quadro 7. Entendimento dos alunos do 6° e 9° ano sobre o conceito de espaço.


O que você entende por espaço geográfico
6° ano É o lugar em que vivemos (10); Lugar onde fica o planeta (Um lugar longe
da terra, cheio de estrelas e astros) (5); Lugar espaçoso (3).
9° ano Cada lugar onde podemos estar ou morar (4); Espaço geográfico (4);
Tamanho de um país ou lugar de regiões (4).

A partir dessa análise pode-se perceber que a maneira como vem sendo conduzida a
construção dos conceitos geográficos no âmbito escolar não está pautada no
enriquecimento teórico do aluno, pois tem-se em vista que, a mesma está se dando de
modo que o aluno apenas busque decorar determinado conceito e não sua apreensão de
fato.
Tomando como base as exposições dos alunos, fica claro que há certo
distanciamento conceitual acerca do conceito de espaço geográfico como sendo um
‘‘espaço vivido’’, resultado das dinâmicas sociais e como produto das relações que são
estabelecidas pelos homens. O espaço geográfico que foi posto por alguns alunos, remete a
ideia de um espaço vazio, distante, dividido, sem considerar as mais diversas ações
dinâmicas que contribuíram e contribuem no processo de metamorfose do mesmo.

Terminada a fase de construção de conceitos por parte dos alunos, buscou-se saber
dos mesmos que importância possui o estudo da Geografia. As respostas a este
questionamento se encontra no Quadro 8.

 
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Quadro 8. Importância da Geografia para vida segundo os alunos do 6° e 9° anos


Qual a importância da Geografia para a vida?
6° ano Por que ensina coisas sobre a terra (“Podemos ver a forma da terra e tudo que
é importante nela”) (16); Aprender a ser gente na vida (“Aprender a ter a
‘algum’ na vida”) (3); Nenhuma (2).
9° ano Como são divididos os países (2); “Aprendemos sobre os países e seu
desenvolvimento” (2); “Para aprendermos a localização, estados, cidades,
países, populações, dimensões e economia” (2); “Conseguir entender coisas
do dia a dia que passam despercebidas”; “Entendemos melhor o lugar onde
vivermos, nossa natureza, meio ambiente”; “Aprendemos coisas novas para
nossa orientação”; “Posso aprender sobre os mapas”; “Aprendemos as
capitais e os climas das cidades”; “Explica como aconteceram a formação de
certas formas e como ocorreram os fenômenos naturais”; “Aprendemos sobre
as regiões, economia, meio ambiente”; “Aprendemos economia e a viver em
sociedade”; “Saber sobre a natureza, território, de uma região ou país”; “Pra
mim nada, pois, odeio! Mas se não fosse ela não saberíamos nada sobre bolsa
de valores e de outras coisa de espaço e etc.”; “Sei lá! Acho que para
entender melhor a sociedade, o nosso ambiente...”

Nessa perspectiva, a Geografia enquanto ciência é representada de forma


fragmentada por meio de seus conteúdos e das categorias que se encontram intrínsecas nas
respostas de alguns alunos. Contudo, sua importância real e funcionalidades não são
mencionadas, deixando claro que há uma deficiência na aquisição do conhecimento. A
Geografia necessita ter uma utilidade para que os alunos possam compreender de fato o seu
papel diante da sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao analisar as respostas dos alunos pode-se perceber uma superficialidade, isto é,


os alunos simplesmente responderam de maneira extremamente objetiva as perguntas do
questionário sem nem uma justificativa, a qual constata que existe um pensamento vago
por parte dos mesmos em relação aos conceitos geográficos.
Observou-se também o desconhecimento na descrição desses alunos sobre os
principais conceitos geográficos como: lugar, região, território, paisagem e espaço, e, da
Geografia em si, bem como, saber associar o conhecimento geográfico a sua vida
cotidiana. Outro fator crítico que foi notificado por meio das análises é que o não saber
definir conceitos geográficos não é um caso restrito a primeira série do ensino
fundamental, o 9° ano, última série dessa modalidade, também apresenta sérios problemas.
Tal realidade é algo que deve remeter bastante preocupação entre os docentes,
principalmente das séries iniciais do Ensino Fundamental I, uma vez que estas séries são as
bases fundamentais para a vida estudantil dos alunos. Diante de tais problemáticas, se
pretende aqui encerrar com uma provocação: que tipo de ensino foi e está sendo propiciado
a estes alunos?

 
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REFERÊNCIAS

BOLIGIAN, L.; ALMEIDA, R. D. A transição didática do conceito de território no


ensino de Geografia. In. GERARDI, L. H. O. (Org.). Ambientes - estudos de Geografia.
1. ed. Rio Claro: AGETEO/Programa de Pós-graduação em Geografia, 2003. v. 1. 252 p.

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Fundamental.- Brasília:MEC/SEF, 1997.156p.

CASTELAR, S. Educação geográfica: teoria e prática docentes. São Paulo: Contexto,


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_________; VILHENA, J. Ensino de Geografia. São Paulo: Cengage Learning, 2010.

CAVALCANTI, L. S. A Geografia escolar e a cidade: ensaios sobre o ensino de


Geografia para a vida urbana cotidiana. Campinas: Papirus, 2008.
_________. Geografia, escola e construção de conhecimentos. Campinas: Papirus, 1998.

FARIAS, P. S. C. A alfabetização geográfica em questão: reflexões sobre a formação


docente para o ensino de geografia nos anos iniciais do Ensino Fundamental. In:
LEAL, Fernanda de Lourdes Almeida & FARIAS, Paulo Sérgio Cunha (orgs.). A
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GOMES, P. C. C. O conceito de região e suas discussões. In: CASTRO, I. E.; GOMES,


P. C. C.; CORRÊA, R. L. Geografia: Conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2002.

SANTOS, M. Metamorfose do espaço habitado. São Paulo: Hucitec, 1988.

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