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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA
SERVIÇO DE DOCUMENTAÇÃO E PUBLICAÇÕES
Orientador:
Doutor Pedro Renato Tavares de Pinho
Júri:
Presidente: Doutor Mário Pereira Véstias
Vogais:
Doutora Paula Maria Garcia Louro Antunes
Doutor Pedro Renato Tavares de Pinho
Novembro de 2013
“Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura.
O que importa é partir, não é chegar.”
Quero começar por agradecer ao meu orientador de Mestrado, Professor Doutor Pedro Pinho,
pelas suas sugestões do melhor caminho a seguir, pela sua disponibilidade e material técnico
disponibilizado.
Um agradecimento especial ao Pedro Soares, colega e aluno formado no ISEL, que deu uma
forte contribuição no arranque deste trabalho, ajudando no processo de familiarização com o
simulador VPI Photonics e pela partilha de conhecimento acerca do mundo das fibras óticas
de plástico.
Quero também agradecer aos meus colegas de trabalho da Refer Telecom, em particular ao
André Rio pela oportunidade de discutir diversos assuntos técnicos relacionados com o tema
desta dissertação. Um agradecimento especial ao Engenheiro Luís Figueiredo pela partilha do
seu conhecimento técnico na área das fibras óticas.
Por último e mais importante, um agradecimento muito especial aos meus pais, por todo o
esforço que fizeram para me proporcionar todas as condições necessárias para que fosse
possível ingressar e concluir um curso superior. Pelo carinho, por todo o apoio incondicional,
orientação para a vida e educação.
Muito Obrigado!
Resumo
O aumento crescente da largura de banda necessária por parte dos utilizadores residenciais e
empresariais tem sido um desafio nos últimos anos para os operadores de telecomunicações.
Por esse motivo, a fibra ótica tornou-se uma fortíssima candidata às redes de acesso,
permitindo débitos binários muitos superiores quando comparado com as infraestruturas até
então existentes, nomeadamente o par de cobre e cabo coaxial ou mesmo com os sistemas de
comunicação sem fios.
As fibras óticas podem existir em diferentes materiais: fibra ótica de sílica (GOF) e fibra
ótica de plástico (POF). As primeiras possuem baixas atenuações permitindo transmissões de
longa distância, mas são frágeis. As de plástico neste momento têm atenuações mais altas, no
entanto são de menor custo, mais flexíveis e robustas.
Pretende-se com esta dissertação estudar a viabilidade da utilização da fibra ótica de plástico
numa rede de acesso garantindo os requisitos mínimos especificados pelas normas das
tecnologias. Para tal, utilizou-se o programa VPIphotonicsTM de modo a simular uma rede de
acesso com vários tipos de fibras. Elaboraram-se dois cenários: o primeiro consiste na
implementação de uma rede GPON com POF e GOF na rede de acesso e o segundo na
análise do desempenho da POF num cenário onde a tecnologia GPON e 10G-PON coexistem
na mesma rede de distribuição ótica (ODN). Efetuou-se o cálculo teórico do power budget do
sistema, onde teve-se em conta as características de todos os componentes passivos e ativos
que constituem a rede. As fibras consideradas para teste e comparação foram uma fibra
monomodo G.657 ClearCurve da Corning, uma fibra multimodo ClearCurve e uma POF
designada por Fontex da Asahi Glass.
A qualidade do sinal ótico recebido foi analisada recorrendo a figuras de mérito como o BER
e o diagrama de olho. A distância máxima conseguida na última milha com POF foi de 115
metros para o primeiro cenário e de 40 metros para o segundo cenário. Na situação atual,
devido à elevada atenuação que as POF ainda possuem só se justifica quando a atenuação do
ODN é cerca de 15 dB.
Palavras-chave: fibra ótica de sílica (GOF), fibra ótica de plástico (POF), rede de
acesso, GPON, 10 GPON, power budget, FTTH.
i
ii
Abstract
The increasing bandwidth needed by the business and residential users has been a challenge
in recent years for telecom operators. For this reason, optical fiber became a strong
candidate to access networks, allowing high transmission rates when compared with existing
infrastructures, especially the twisted pair and coaxial cable or even with wireless
communication systems.
Optical fibers can exist in different materials: glass optical fiber (GOF) and plastic optical
fiber (POF). The GOF have low attenuation allowing long-distance transmission, but are
fragile. The POF currently have a higher attenuation, however is less expensive and is more
flexible and robust.
The purpose of this thesis is to study the feasibility of using plastic optical fiber in the access
network ensuring the minimum requirements specified by the standards of technologies. For
this purpose, it was used a program called VPIphotonicsTM to simulate an access network
with different types of fibers. Two scenarios were taken into account: the first one is an
implementation of a GPON network with POF and GOF in access network and the second
scenario consists on the analysis of the performance of POF in an environment where GPON
and 10G-PON coexists on the same optical distribution network (ODN). It was necessary a
theorical calculation of the power budget of the system, which took into account the
characteristics of all passive and active components that forms the network. The fibers that
were considered for testing and comparison were a singlemode fiber G.657 ClearCurve by
Corning, ClearCurve multimode fiber and POF called Fontex developed by Asahi Glass.
The quality of the optical received signal was analyzed using figures of merit such as BER
and eye diagram. The maximum distance achieved in the last mile with POF was 115 meters
to the first scenario and 40 meters for the second scenario. In the current situation, due to
the high attenuation of POF is only viable when the ODN attenuation is about 15 dB.
Keywords: Glass optical fiber (GOF), plastic optical fiber (POF), access network,
GPON, 10 GPON, power budget, fiber to the home (FTTH).
iii
iv
Índice
v
2.6.1 Dispersão intramodal (cromática) ............................................................................... 26
2.6.2 Dispersão intermodal .................................................................................................. 27
vi
3.4.8 WDM-PON ................................................................................................................ 55
3.4.8.1 CWDM ................................................................................................................................ 56
3.4.8.2 DWDM ............................................................................................................................... 56
3.4.8.3 Comparação entre CWDM e DWDM ................................................................................. 56
3.5 Power budget ................................................................................................................. 57
3.5.1 Perdas convencionais dos componentes passivos ........................................................ 58
3.5.2 Dimensionamento de uma rede PON .......................................................................... 60
3.6 Figuras de mérito.......................................................................................................... 63
3.6.1 BER ........................................................................................................................... 63
3.6.2 Diagrama de olho ....................................................................................................... 64
vii
CAPÍTULO 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 115
5.1 Conclusões................................................................................................................... 115
5.2 Trabalho futuro .......................................................................................................... 119
viii
Lista de Figuras
Figura 2.2 - Comprimento de onda de operação das GOFs e POFs (adapt. de [11]). ............ 10
Figura 2.3 - Refração e reflexão interna total e parcial da luz [13]. ....................................... 12
Figura 2.8 - MC-POFs com 37, 217 e 631 núcleos [6]. .......................................................... 18
Figura 3.1 - Esquema simplificado de uma rede telecomunicações com fibra ótica. ............. 31
ix
Figura 3.10 - Caixa de junção [26]. ........................................................................................ 40
Figura 3.29 - Link Power Budget vs Loss Power Budget (adpt. de [4]). ................................ 58
x
Figura 4.2 - Interface gráfica do VPItransmissionAnalyser. .................................................. 68
Figura 4.8 - Cálculo do power budget no sentido descendente (1490 nm) - GPON. ............. 75
Figura 4.10 - Cálculo do power budget no sentido descendente (1575 nm) - 10GPON. ....... 77
Figura 4.24 - Resultados para o ONT2 com POF Fontex. .................................................... 100
Figura 4.25 - Variação do BER em função do comprimento da POF (@1490 nm). ............ 101
xi
Figura 4.26 - Resultados no OLT/ sinal ascendente do ONT2. ............................................ 102
Figura 4.27 - Resultados para o ONT1 com fibra G.657 ClearCurve. ................................. 103
Figura 4.28 - Resultados para o ONT3 com fibra multimodo ClearCurve. ......................... 105
xii
Lista de Tabelas
Tabela 1.1 - Datas importantes das tecnologias óticas de redes de acesso [5]. ........................ 5
Tabela 1.2 - Datas importantes das fibras óticas [7] [8] [9]...................................................... 6
Tabela 2.1 - Normas da ITU-T para fibras óticas de sílica [15] [16] [17]. ............................. 17
Tabela 2.2 - Caraterísticas dos vários tipos de POFs [6] [17]. ............................................... 21
Tabela 2.6 - Comparação entre POFs de diversos fabricantes [6] [19]. ................................. 23
Tabela 2.7 - Comparação das caraterísticas entre POF, GOF e cobre [6]. ............................. 25
Tabela 3.5 - Power budget das várias classes para BPON e GPON [4]. ................................ 61
Tabela 3.6 - Valores típicos dos emissores e recetores do OLT e ONU [31]. ........................ 61
Tabela 4.1 - Atenuações dos componentes considerados para simulação [24] [26] [33]. ...... 74
Tabela 4.6 - Parâmetros sugeridos pelo VPI para modulação NRZ [32]................................ 86
Tabela 4.7 - Códigos binários atribuídos para fluxos no sentido ascendente. ........................ 92
Tabela 4.8 - Códigos binários atribuídos para fluxos no sentido descendente. ...................... 94
xiii
Tabela 4.9 - Atenuação total para definir nos atenuadores. .................................................... 97
Tabela 4.10 - Comparativo entre as potências teóricas e práticas do power budget. ............. 99
xiv
Lista de Acrónimos
CO Central Office
DL Downlink
FC Ferrule Connector
FP Fabry-Pérot
xv
FTTCab Fiber To The Cabinet
GI Graded-Index
IP Internet Protocol
LC Lucent Connector
LD Laser Diode
NRZ Non-Return-to-Zero
xvi
OLT Optical Line Terminal
PF Fluor Polymer
PIN Positive-Intrinsic-Negative
RN Remote Node
SC Subscriber Connector
SI Step-Index
ST Straight Tip
xvii
TDT Televisão Digital Terrestre
TV Television
UL Uplink
xviii
Lista de Símbolos
NA Abertura numérica
V Frequência normalizada
xix
θa Ângulo de aceitação (graus)
xx
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
O processo de comunicação entre os humanos é uma necessidade fulcral para o nosso dia-a-
dia, desde os nossos primórdios. Como é típico do homem, a atitude crítica perante o mundo
e otimizar cada vez mais os recursos que o rodeia, permitiu o desenvolvimento de
mecanismos e tecnologias otimizadas capazes de tornar o processo de comunicação mais
simples, rápido e eficaz [1].
O segmento da rede que permite a interligação aos diversos tipos de serviços e à partilha de
informação é designado por rede de acesso. Ao longo do tempo várias tecnologias foram
adotadas para as redes de acesso, com o intuito de fornecer uma largura de banda e uma
qualidade de serviço (QoS) adequado aos serviços de voz, televisão e dados [2].
Serviços como Internet Protocol Television (IPTV) exigem grande largura de banda, uma
vez que possibilitam a visualização de canais em alta definição, funcionalidades interativas e
de Video on Demand (VoD). Dadas as vantagens que a fibra ótica apresenta e o aumento da
necessidade de largura de banda, levaram os operadores de telecomunicações e os países a
investir em grande escala na implementação de fibra ótica nas redes de acesso. Este tipo de
infraestrutura não só suporta as aplicações já existentes, como também abriu novas
As redes de acesso possuem várias soluções tecnológicas, e cada uma tem vantagens e
desvantagens associadas. A seleção de uma determinada tecnologia depende da infraestrutura
existente. Nestes últimos anos, tem-se assistido à implementação de fibra ótica baseada nas
premissas Fiber to the x (FTTx) [2].
As redes de acesso enfrentaram vários desafios nos últimos anos. Um desses grandes desafios
prende-se com a convergência dos serviços de voz, dados e televisão (TV) sob a mesma
infraestrutura física. Começou-se por utilizar infraestruturas híbridas, isto é, a rede de
distribuição é constituída por fibra ótica e a rede de acesso utilizava o cabo de cobre e coaxial
para transmitir os sinais provenientes dos três tipos de serviços disponibilizados. Atualmente,
as redes óticas passivas têm-se estendido até às instalações dos próprios utilizadores,
permitindo débitos e distâncias elevadas.
Na Figura 1.1 pode-se verificar que a convergência pode ser dividida em dois campos.
Convergência de rede e convergência de serviços.
1.2 Objetivos
O âmbito desta dissertação passa por estudar as tecnologias atuais e emergentes das redes de
acesso, e o estudo da viabilidade da utilização de POF neste segmento da rede. Mais
especificamente, os objetivos são:
• Adquirir conhecimento acerca o estado da arte das atuais redes de acesso e das fibras
óticas de sílica e de plástico;
Existem dois grandes grupos que estabelecem normas que definem como as redes de
telecomunicações operam e se interligam: Institute of Electrical and Electronics Engineers
(IEEE) e o Telecommunication Standardization Sector of the International
A Tabela 1.1 apresenta as datas que marcam a evolução das tecnologias que utilizam a fibra
ótica como meio de transmissão nas redes de acesso.
Tabela 1.1 - Datas importantes das tecnologias óticas de redes de acesso [5].
Ano Acontecimento
1990 Nascimento da FSAN
1998 FSAN especifica a APON com débitos entre 155-622 Mbps
2001 ITU-T lança versão final da norma G.983 (baseado em APON), designando-a
por BPON
2003 ITU-T especifica a GPON G.984 com 2.4 Gbps no sentido descendente e 1.2
Gbps ascendente
2004 IEEE especifica a EPON 802.3ah com 1 Gbps simétrico
2006-09 Massificação de redes GPON na América e na Europa
2007 IEEE especifica a 10G-EPON 802.3av com 10 Gbps simétrico
2010 ITU-T especifica a 10G-PON G.987 com 10 Gbps no sentido descendente e
2.5 Gbps ascendente
O maior salto na evolução das POF deu-se em cerca de 1995 na Universidade de Keio,
quando apresentou-se a POF de índice gradual (GI) com polímero de flúor (PF). Com este
tipo de fibra, era possível obter atenuações inferiores a 50 dB/km para comprimentos de onda
compreendidos entre os 850 e os 1550 nm [6].
Na Tabela 1.2 registam-se as datas dos acontecimentos mais importantes relacionados com as
fibras óticas de sílica e de plástico.
Tabela 1.2 - Datas importantes das fibras óticas [7] [8] [9].
Ano Acontecimento
1956 Narinder Kanpany inventa a fibra ótica
1958 Arthur Schwalow e Charles Townes inventam o laser
1962 Foi inventado o primeiro fotodetetor PIN de silício de alta velocidade
1968 Desenvolvida a primeira POF-PMMA
1976 Primeiro sistema comercial de fibras óticas
1983 Introduzida a GOF monomodo com dispersão nula em 1310 nm – G652
1992 Prof. Koike anuncia 2.5 Gbps com 100m transmissão GI-POF-PMMA
utilizando um díodo laser (LD) nos 650nm
1994 Introduzida a GOF de dispersão nula (NZD) em 1500 nm – G655
1999 A Lucent anuncia 11 Gbps em 100 m de POF Lucina™ (PF-GI-POF)
2005 Primeira PMMA-GI-POF disponível comercialmente
A AGC apresenta a PF-GI-POF baseada no polímero CYTOP, com uma
2010 estrutura com dupla bainha para reduzir as perdas de potência associadas às
curvaturas
A fibra ótica assume um papel muito importante na área das telecomunicações nos dias de
hoje. Além de ser mais eficiente comparativamente ao seu antecessor, o cobre/cabo coaxial,
permite a transmissão de informação a distâncias superiores e com uma maior taxa de
transmissão. Independentemente do material que a constitui, o seu princípio de
funcionamento é o mesmo: propagação de um feixe de luz através de sucessivas reflexões
que ocorrem ao longo da fibra até ao recetor.
Na Figura 2.1 pode-se verificar que a fibra é constituída essencialmente por três camadas: o
núcleo é formado por um filamento de vidro de dimensões microscópicas cujo material é
geralmente composto por sílica ou até mesmo plástico, de modo permitir a propagação de luz
ao longo da fibra. A camada que se segue é designada por bainha, e é constituída por um
material dielétrico com um índice de refração inferior ao do núcleo, de modo a que o sinal
ótico tenha reflexão total no interior do núcleo, desde que o ângulo de incidência seja
superior ao ângulo crítico. Por último, para proteção das camadas anteriormente referidas, é
utilizado um revestimento com um material eletricamente isolante para proteção mecânica e
ambiental [8].
Figura 2.2 - Comprimento de onda de operação das GOFs e POFs (adapt. de [11]).
= (2.1)
Para calcular a refração, utiliza-se a lei de Snell, que é dada pela equação 2.2.
Quanto ao ângulo crítico θc, pode ser calculado pela equação 2.3.
= sen (2.3)
Para cálculo do ângulo de aceitação, utiliza-se a equação 2.4. De modo a garantir que a luz
que entra na fibra possa ser guiada através desta, tem de se verificar a condição n1 > n2. O
meio exterior à fibra é o ar, cujo índice de refração é n0 ≈ 1 [7]
= sen (2.4)
= sen = − (2.5)
Assim sendo, quanto maior a NA mais fácil será o acoplamento da fonte ótica à fibra. As
POFs são um exemplo desse caso, dado que, tipicamente possuem uma NA até 0,5. Já nas
fibras de sílica, os valores de NA encontram-se entre 0,1 e os 0,2. Contudo, uma elevada
abertura numérica também traz inconvenientes, pois possibilita um grande número de modos
de propagação, aumentando assim o efeito de dispersão intermodal [12].
= ×"× (2.6)
Valores de V inferiores a 2,4 a fibra diz-se monomodo, uma vez que apenas é permitida a
propagação de um único modo designado por modo fundamental. Para valores superiores dir-
se-á multimodo. É possível determinar o número de modos (M) de uma fibra utilizando a
equação 2.7, no caso de esta ser de índice em degrau (SI) [6].
%
#≈ (2.7)
Para fibras de índice gradual (GI) com perfil parabólico, recorre-se à equação 2.8.
%
#≈ (2.8)
&
dimensões associadas ao núcleo são entre os 5 e 10 µm e a bainha em torno dos 125 µm.
Relativamente à atenuação, apresentam perdas baixas, facilitando desta forma a transmissão
para longas distâncias sem utilização de repetidores. Tipicamente os valores concentram-se
na ordem dos 0,5 dB/km para 1300 nm e 0,2 dB/km para 1550 nm [14].
A Figura 2.5 ilustra o comportamento dos raios de luz no interior de uma fibra deste tipo.
Uma vez que existe uma diferença nos índices de refração da bainha e do núcleo, os raios
afastam-se do eixo da normal causando dispersão modal. As refrações só acontecem quando
verifica-se a condição sen ϕ < n2/n1, onde n1 é o índice de refração do núcleo e n2 da bainha
[14] [15].
Contudo, como se pode constatar pela Figura 2.6, continuam a existir caminhos diferentes na
propagação da luz. Comparativamente com as fibras de índice em degrau, estas apresentam
melhores condições para transmissão a débitos elevados, dado que diminui a dispersão do
impulso [14] [15].
A Tabela 2.1 resume as caraterísticas principais de cada norma da ITU-T para as principais
fibras de sílica.
Tabela 2.1 - Normas da ITU-T para fibras óticas de sílica [17] [18] [19].
A Figura 2.8 ilustra três exemplos de MC-POFs comercializadas pela AGC Asahi Chemical
[6].
Como é possível constatar pela Figura 2.10, os raios luminosos não se propagam com
trajetórias continuamente curvas, mas sim com trajetórias definidas pelos índices de refração
dos vários degraus [6].
A Tabela 2.2 resume as principais características das POFs que foram apresentadas
anteriormente.
Capacidade de
Perfil Refrativo Características
transmissão (B.L)
- Comunicações de curtas distâncias (< km)
Índice em degrau 5 MHz.km
(SI-POF) - Elevada dispersão intermodal
- Fácil acoplamento com a fonte ótica
- Comunicações de curtas e médias
Índice multi-degrau distâncias (< km)
30 MHz.km
(MSI-POF) - Baixa dispersão intermodal
- Fabrico relativamente simples
Multi-núcleo 55 MHz.km - Alta estabilidade de atenuação para
(MC-POF) curvaturas
Como se pode verificar na tabela anterior, as POFs do tipo GI têm uma abertura numérica
(NA) e raio de núcleo (a) menores que os restantes, à exceção da POF Optimedia que apesar
de ter um NA baixo tem um raio de núcleo maior. É importante também referir que valores
de V elevados resultam também um elevado número de modos propagados (M) [6].
Existem vários fabricantes de POFs com diferentes tipos de materiais e perfil refrativo. Na
Tabela 2.5 pode-se constatar a lista dos principais fabricantes de POFs a nível mundial.
Na Tabela 2.6 é possível verificar alguns exemplos de POFs que estão disponíveis no
mercado.
Relativamente às fibras óticas produzidas pela Asahi Glass, é importante referir que a Lucina
foi descontinuada, dando lugar a um novo modelo designado por Fontex. O fabricante
anuncia débitos teóricos de 10 Gbps para 100 metros, embora testes em laboratório revelaram
um desempenho de 40 Gbps para a mesma distância utilizando a modulação DQPSK e OOK
[23]. A Fontex possui um revestimento duplo, permitindo assim uma redução das perdas
associadas às curvaturas [21]. A Figura 2.11 ilustra o gráfico da atenuação em função do
comprimento de onda desta fibra.
Por outro lado, as POFs também possuem algumas desvantagens, nomeadamente o suporte a
altas temperaturas (> 125ºC), e às suas perdas durante a transmissão (quando comparadas
com as GOFs).
Na Tabela 2.7 pode-se verificar com mais detalhe a comparação de algumas caraterísticas
entre a POF, GOF e o cobre.
Tabela 2.7 - Comparação das caraterísticas entre POF, GOF e cobre [6].
2.5 Atenuação
A atenuação consiste na perda gradual da intensidade de energia de um sinal que se propaga
num determinado meio de transmissão. O seu cálculo pode ser efetuado através da equação
2.9.
'() = ' * +,
(2.9)
Aplicando este conceito à propagação de luz nas fibras óticas, a variável Pin representa a
potência do sinal injetado na fibra, Pout a potência à saída da mesma, α o coeficiente de
atenuação e l o comprimento da fibra. A expressão do coeficiente de atenuação em dB é dada
pela equação 2.10.
0 5678
-./ = log (2.10)
, 59
Contudo, nas fibras óticas a atenuação varia de acordo com o comprimento de onda utilizado.
Existe uma dependência direta com o processo de fabrico das mesmas e com o material que
estas são constituídas. A atenuação torna-se um factor muito importante nas comunicações
óticas, dado que o objetivo principal é obter alcances cada vez maiores, o que implica ter
atenuações muito baixas. Relativamente às POFs normalmente possuem uma atenuação
superior comparativamente às GOFs, derivado à absorção intrínseca do material da fibra [6].
2.6 Dispersão
A dispersão é um fenómeno que ocorre nas fibras óticas quando um determinado impulso de
luz se propaga ao longo da fibra e sofre um efeito de alargamento temporal. Este alargamento
determina a largura de banda da fibra ótica (dada em MHz.km), e está relacionada com a
capacidade de transmissão de informação das fibras [14]. No caso da transmissão digital, o
alargamento de um impulso pode sobrepor-se a impulsos adjacentes, um efeito conhecido por
interferência intersimbólica (ISI) [6].
A dispersão cromática resulta das propriedades que o material apresenta, dado que possui
diferentes valores de índice de refração em função do comprimento de onda, originando uma
velocidade de propagação diferente para cada comprimento de onda. O tipo de fonte utilizada
também pode contribuir para este efeito (por exemplo os LEDs). Relativamente à dispersão
de guia de onda, resulta principalmente da dependência do parâmetro V com o comprimento
de onda. É particularmente importante em fibras monomodo de sílica, em que a dispersão
material não é significativa. No caso das POFs, a dispersão de guia de onda é geralmente
muito pequena comparada à dispersão material, podendo ser desprezada [6].
A Figura 2.13 ilustra o efeito da dispersão modal nas POFs. Como se pode constatar, nas SI-
POFs existem vários modos de propagação, em que o modo de propagação de ordem mais
baixa percorre o caminho mais curto (em linha reta) dentro do núcleo da fibra chegando, ao
final da fibra, antes do modo de ordem mais alta. As SI-POFs são altamente afetadas por este
tipo de dispersão, derivado ao seu perfil do índice de refração. As GI-POFs surgiram para
minimizar os efeitos da dispersão intermodal que ocorrem nas SI-POFs. O perfil gradual do
núcleo minimiza esse efeito, fazendo com que os modos de propagação cheguem à
extremidade da fibra ótica em instantes muito próximos [6].
Pretende-se com este capítulo abordar as várias tecnologias de redes de acesso em fibra ótica.
Para tal, é necessário compreender melhor o que são as redes de acesso e quais as suas
estruturas atuais.
Paralelamente à evolução das tecnologias que utilizavam o par de cobre surgiu também a
Hybrid Fiber-Coaxial (HFC). Esta tecnologia foi desenvolvida com o propósito de suportar a
difusão televisiva por cabo, mas rapidamente tornou-se uma alternativa à xDSL, permitindo
também o transporte de tráfego de voz e dados.
Nestes últimos anos, tem-se assistido a um forte investimento por parte dos operadores na
implementação de fibra ótica nas redes de acesso, no sentido de aumentar a largura de banda
disponível aos clientes. Surgem então as tecnologias FTTx que permitem uma grande
variedade de serviços com uma qualidade inatingível pelo cobre ou cabo coaxial [25].
Figura 3.1 - Esquema simplificado de uma rede telecomunicações com fibra ótica.
A core concentra todos os serviços e servidores para voz, dados e transmissão de vídeo e TV,
assim como também faz a interligação com outros operadores de telecomunicações. De
seguida tem-se a rede de distribuição, cuja função serve para agregar as ligações provenientes
da rede de acesso e as interligar com a rede nuclear. A rede nuclear e a de distribuição, uma
vez que aglomeram grandes quantidades de tráfego são constituídas tipicamente por fibra
ótica. Por último, a rede de acesso, que é a área de estudo de interesse desta dissertação,
serve para interligação ao utilizador final. Neste segmento da rede, são utilizados o cabo de
cobre ou o coaxial numa fase inicial e que posteriormente foi substituído por fibra ótica até à
rede de acesso para responder as necessidades de largura de banda dos utilizadores.
Como é possível constatar pelo diagrama anterior, as tecnologias que utilizam o par de cobre
estão de facto limitadas em largura de banda, atingindo um máximo de cerca de 50 Mbit/s no
sentido descendente com a tecnologia Very-high-bit-rate digital subscriber line (VDSL).
Relativamente às tecnologias que utilizam o cabo coaxial, o desempenho é significativamente
melhor dado que se trata de uma arquitetura híbrida.
As tecnologias que utilizam o par de cobre ou cabo coaxial apresentam algumas limitações,
nomeadamente no débito binário e na distância de transmissão. Inúmeros fatores fazem com
que a fibra ótica seja um meio de transmissão preferível em relação ao cobre, cabo coaxial ou
a comunicação sem fios. A substituição dos meios de transmissão por cabos de fibra na rede
melhora a qualidade de serviço e reduz o custo de operação e manutenção da rede de acesso
[26].
Consoante o grau de penetração da fibra ótica, a designação FTTx pode tomar algumas
variantes. A Figura 3.3 ilustra algumas das arquiteturas mais conhecidas e implementadas
atualmente.
Pode-se também afirmar que a razão de existirem várias soluções e configurações para as
redes óticas passivas, deve-se ao facto de esta ter evoluído de uma forma gradual. Isto é, em
primeiro lugar a fibra ótica foi implementada na rede de distribuição, ou seja, entre os
equipamentos que se encontram na central principal e os equipamentos que se encontram nas
centrais secundarias. Posteriormente convergiu-se para uma solução onde a fibra passou a
substituir os lacetes de cabos de cobre das redes de acesso, e chegou-se a soluções onde o
todo o circuito entre o cliente final e a central principal é constituído por fibra. Assim sendo,
podem existir soluções onde o acesso através de fibra é ponto-a-ponto (P2P) ou ponto-
multiponto (P2MP), sendo que neste último caso é necessário a utilização de splitters
passivos para distribuição de sinal entre as várias fibras para os vários utilizadores [2].
A Figura 3.5 ilustra e estrutura de uma PON. A arquitetura de rede utilizada é ponto-
multiponto, onde o meio é partilhado por vários utilizadores. Os elementos passivos
existentes nestas redes, tal como é o caso do splitter, divide a largura de banda de uma única
fibra até 128 utilizadores, numa distância máxima de 20 km [2].
As topologias podem ser ponto-a-ponto, em que uma fibra é dedicada ao utilizador final, ou
ponto-a-multiponto, que necessitam de equipamentos ativos implementados no ponto de
distribuição. Como é possível verificar na Figura 3.6, neste tipo de redes os sinais são
enviados apenas para os utilizadores a que se destinam. Por esse motivo, os equipamentos de
distribuição necessitam de buffers, de modo evitar colisões [2].
As redes AON introduzem latência comparativamente às redes PON, dado que a informação
recebida nos equipamentos ativos de distribuição não é reenviada para todos os utilizadores
em broadcast, sendo necessário uma conversão ótico-elétrico-ótico. Como foi possível
verificar na secção anterior, existe um tratamento da informação e esta é enviada apenas para
o utilizador que a solicitou [2].
Contudo, as redes PON também possuem desvantagens. O equipamento terminal ótico que é
designado por Optical Network Terminal (ONT) requer maior largura de banda e
equipamentos óticos de maior qualidade. É também necessário a implementação de um
protocolo de acesso ao meio, por forma garantir que a informação de cada utilizador seja
sincronizada [26].
distâncias diferentes do OLT, o que significa que é necessário regular o nível de potência do
sinal. Todo o processo de registo dos ONTs é controlado pelo OLT.
Relativamente aos emissores e recetores, tipicamente o OLT utiliza o laser DFB como
emissor de luz e o fotodíodo de avalanche (APD) para o recetor [28].
A Figura 3.7 ilustra um exemplo de um equipamento deste tipo. Neste caso em particular
trata-se de um OLT com designação de OLT7-8CH que é utilizado pela PT para
fornecimento de serviço FTTH aos seus clientes. Contudo, podem existir outros modelos
mais robustos e modulares.
Quanto aos emissores e recetores, tipicamente o ONT utiliza dispositivos de mais baixo custo
quando comparados com os do OLT. Normalmente é utilizado o laser de Fabry-Pérot (FP)
como emissor de luz nos 1310 nm e o fotodíodo PIN como recetor [28]. Na Figura 3.8 pode-
se verificar um exemplo de um ONT, neste caso em particular o que é utilizado pela Portugal
Telecom (PT).
painel frontal está apto para adaptadores do tipo Subscriber Connector (SC), Ferrule
Connector (FC), Straight Tip (ST) ou E-2000 [30].
Relativamente ao pigtail é basicamente um patch cord em que numa das extremidades existe
um conetor (LC, FC, ST por exemplo) e na outra extremidade encontra-se sem conetor que
será utilizada para uma fusão. Tipicamente, nas aplicações FTTH são utilizados pigtails
monomodo [30].
A Figura 3.14 ilustra o esquema dos dois tipos de arquiteturas. Como se pode constatar na
arquitetura P2MP existe um splitter responsável por dividir o sinal ótico pelos vários
utilizadores.
Esta topologia tem a vantagem de utilizar pouca quantidade de fibra e é útil quando se
pretende instalar diversos armários de rua junto a urbanizações (FTTC). Deste modo pode-se
efetuar a distribuição de fibras para os vários ONUs utilizando vários splitters de 1:2. Por
outro lado, um corte na fibra principal implica a perda de serviço em todos os ONUs [27].
Esta topologia é a mais utilizada nas redes PON, derivado à sua simplicidade e ao seu baixo
custo de implementação e manutenção. Tipicamente as tecnologias PON existentes, como
por exemplo a Gigabit Passive Optical Network (GPON) permite alcançar distâncias de 20
km entre o ONU e o OLT. Apresenta a desvantagem de toda a rede depender de uma única
fibra (entre o OLT e o primeiro splitter), que em caso de falha coloca toda a rede em baixo
[27].
Existe ainda a rede híbrida que é uma combinação da TDM e WDM. Este tipo de arquitetura
permite melhorar a escalabilidade da rede permitindo rácios de splitting até 1:1000. Como se
pode verificar pela Figura 3.19, a rede híbrida WDM/TDM consiste em agregar uma TDM-
PON numa WDM-PON, resultando uma rede de elevada densidade capaz de oferecer
conectividade a um grande número de utilizadores [33].
3.4.1 APON
A ATM Passive Optical Network (APON) foi a primeira tecnologia ótica passiva a surgir (por
volta de 1998), definida pelo ITU-T segundo a norma G.983.1. É baseada no protocolo
Asynchronous transfer mode (ATM), e permite débitos de 622 Mbps no sentido descendente
e 155 Mbps no sentido ascendente. A distância máxima de ligação é de 20 km (atenuação
total entre 10 e 30 dB) e suporta splitters com um fator de divisão até 1:64. Como exemplo,
APON a operar a 622 Mbps com um splitter de 1:32 pode fornecer um débito de cerca 20
Mbps a cada cliente. Apesar de ser um protocolo baseado na técnica TDMA, poderá ser
utilizado dois comprimentos de onda sobre a mesma fibra ótica, usando os 1310 nm para o
tráfego ascendente e os 1550 para o tráfego descendente.
Uma vez que a distância entre cada ONU e o OLT pode ser diferente, é necessário existir
mecanismos para evitar colisões no sentido ascendente. Por esse motivo são utilizadas
células PLOAM (Physical Layer Operation, Administration and Maintenance) entre o OLT e
ONU, por forma sincronizar as transmissões e estabelecer a largura de banda necessária para
cada ONU. Estas células são enviadas de forma periódica nos dois sentidos. No sentido
ascendente as células PLOAM são usadas para o ONU transmitir o tamanho das filas de
espera. No sentido descendente serve para o OLT mapear a transmissão dos vários ONUs.
Esse processo é efetuado através de mapas designados por grants. Cada grant é uma
permissão única para um ONU transmitir carga útil em cada célula ATM [2] [33].
3.4.2 BPON
A Broadband Passive Optical Network (BPON) é uma evolução da APON, mas com
funcionalidades extras. Foi definida pela ITU-T em 2001 com a norma G.983.3. À
semelhança da APON é baseada também no protocolo ATM, permitindo débitos no sentido
ascendente de 155 Mbps. Já no sentido descendente permite débitos até 1244 Mbps [28].
A atenuação total do ODN pode ser dividida em classes. Existem 3 classes, que são a classe
A,B e C. A primeira possui uma atenuação no intervalo de 5 a 20 dB. A classe B especifica
uma atenuação total no intervalo de 10 a 25 dB e a classe C de 15 a 30 dB [28].
3.4.3 GPON
A tecnologia GPON é uma evolução da BPON e é definida segundo a norma ITU-T G.984.
Existem uma série de recomendações G.984.n (n = 1,2,3,4,5,6) que definem as caraterísticas
gerais da GPON, nomeadamente da camada física, da camada de convergência de
transmissão e interface de controlo e de gestão. Permite débitos superiores comparativamente
à tecnologia anterior, suportando 2.5 Gbps no sentido descendente e 1.25 ou 2.5 Gbps no
sentido ascendente. Apesar da evolução, a GPON é compatível com os débitos binários dos
seus antecessores. A Figura 3.21 apresenta a estrutura de uma rede GPON.
Além dos serviços tradicionalmente fornecidos pelas tecnologias anteriores, como os canais
televisivos, tráfego de dados e de voz, surgem novos serviços como Voice over IP (VoIP),
IPTV, VoD ou Televisão digital terrestre (TDT). Todo este tipo de tráfego pode ser
encapsulado utilizando o protocolo Ethernet, ATM, ou através do método de encapsulamento
GPON Encapsulation method (GEM). A utilização do método de encapsulamento GEM
permite uma utilização eficiente do meio de transporte, uma vez que suporta a fragmentação
de pacotes de modo permitir um QoS acessível a tráfego sensível ao atraso (voz e vídeo). O
código de linha utilizado quer para comunicações no sentido ascendente ou descendente é o
código NRZ (Non-return-to-zero). Esta tecnologia implementa também mecanismos de
segurança, tais como encriptação o Advanced encryption standard (AES).
Quanto às classes de rede de distribuição ótica que definem a atenuação total, tal como a
BPON suporta as classes A, B e C. Em adição são ainda especificadas as classes B+
(atenuação total entre 13 a 28 dB) e C+ (atenuação total entre 17 a 32 dB) na especificação
G.984.2 [28] [33].
3.4.4 10G-PON
A tecnologia 10G-PON é baseada na GPON e é definida pela norma ITU-T G.987. Como se
pode constatar na Figura 3.22, a transmissão no sentido descendente ocorre na banda de
1575-1580 nm com um débito de 10 Gbps. Já no sentido ascendente, opera nos 1260-1280
nm suportando débitos de 2,5 Gbps. Contudo, esta tecnologia também suporta débitos
simétricos, isto é, 10 Gbps no sentido ascendente e descendente, sendo que neste caso será
necessária a utilização de emissores mais caros nos ONUs [2]. A tecnologia 10G-PON é
capaz de suportar os serviços de distribuição de vídeo em alta definição (HDTV), e ao
mesmo tempo suportar a gama de serviços já suportada pelo seu antecessor [1].
A tecnologia 10G-PON coexiste com a GPON, tal se pode verificar na Figura 3.23. A
coexistência é viabilizada através da alocação do sistema 10G-PON em comprimentos de
onda diferentes daqueles utilizados pelo sistema GPON. Isto permite uma reutilização da
infraestrutura e de equipamentos, facilitando a migração da GPON para 10G-PON. São
utilizados componentes designados por Wavelength blocking filters (WBF) e Wavelength
division multiplexers (WDM) para que a GPON e 10G-PON partilhem a mesma rede de
distribuição ótica (ODN). Estes equipamentos têm a função de combinar/isolar os
comprimentos de onda das diferentes tecnologias [2].
3.4.5 EPON
Paralelamente às evoluções por parte da ITU, o IEEE também normalizou uma tecnologia de
rede passiva. Surge então a Ethernet PON (EPON) com a norma IEEE 802.3ah, que
possibilita débitos simétricos de 1 Gbps e um alcance de 20 km. Tal como o nome indica,
esta tecnologia é baseada no protocolo Ethernet, enquanto os protocolos apresentados
anteriormente são baseados em ATM. Isto implica que as tramas Ethernet são transportadas
no seu formato nativo. Esse facto permite a utilização de equipamentos IP, tornando estas
redes adequadas ao transporte de qualquer tipo de tráfego [1].
Como se pode constatar pela Figura 3.24 a estrutura da rede EPON é semelhante a uma
GPON, isto é, os equipamentos ativos também são OLTs e ONUs. A gama de comprimentos
de onda de funcionamento é idêntica à da GPON. No sentido descendente opera no intervalo
de 1480-1500 nm e no ascendente é de 1260-1360 nm. No sentido ascendente, o acesso ao
meio também é em TDMA, ou seja, apenas é permitido o acesso a cada ONU
individualmente no timeslot que lhe é dedicado. O intervalo de comprimento de onda de
1550 a 1560 nm é utilizado para distribuição de vídeo. O rácio de splitting máximo suportado
é de 1:32 [2].
Apesar das semelhanças com a GPON, a EPON também apresenta algumas diferenças.
Nomeadamente utiliza uma codificação de linha 8b/10b. Isto significa que por cada grupo de
8 bits é codificado um sinal de 10 bits, permitindo assegurar uma extração do relógio mais
fácil. Com este tipo de codificação, implica um aumento 20% de overhead, o que significa
que apesar de suportar uma taxa de transmissão de linha de 1,25 Gbps, a sua capacidade
máxima será de 1 Gbps, tanto no sentido ascendente como no descendente.
3.4.6 10G-EPON
A evolução da EPON deu-se para o 10 Gigabit - Ethernet PON (10G-EPON) e é definida
pela norma IEEE 802.3av. Esta norma permite a operação a 10 Gbps de forma simétrica ou
então de forma assimétrica, sendo 10 Gbps no sentido descendente e 1 Gbps no sentido
ascendente.
A Figura 3.25 ilustra a gama de comprimento de onda de operação da 10G-EPON. Para que a
migração para a tecnologia 10G-EPON não seja muito dispendiosa para o operador, é
necessário que as duas tecnologias coexistam no mesmo ODN. Para que isso aconteça, a
10G-EPON utiliza um comprimento de onda diferente no sentido descendente, situando-se na
gama dos 1575-1580 nm. Já no sentido ascendente, as gamas sobrepõem-se sendo necessário
o recurso à técnica de acesso ao meio TDMA. Contudo, a largura de banda é mais pequena
comparativamente à EPON, entre 1260-1280 nm.
Alcance físico 20 Km 20 Km 20 Km 20 Km 20 Km
Débito descendente 1,25 Gbps 2,5 Gbps 10 Gbps 1,25 Gbps 10 Gbps
1,25 / 2,5
Débito ascendente 622 Mbps
Gbps
10 Gbps 1,25 Gbps 10 Gbps
3.4.8 WDM-PON
As tecnologias TDM-PON operam segundo o princípio em que o acesso ao meio é efetuado
no domínio no tempo, cuja largura de banda é partilhada por todos os utilizadores. Contudo,
existe uma gama de comprimento de onda diferente para cada sentido do fluxo de tráfego
(ascendente e descendente), o que constitui uma semelhança ao funcionamento da tecnologia
WDM.
3.4.8.1 CWDM
O CWDM é um sistema WDM de baixa densidade em termos de comprimento de onda
sendo definido pela norma ITU-T G.694.2. A Figura 3.27 ilustra o princípio de
funcionamento deste sistema. Opera na gama de comprimento de onda de 1271-1611 nm e a
distância entre canais é de 20 nm [2].
3.4.8.2 DWDM
O DWDM é um sistema WDM de alta densidade em termos de comprimento de onda e é
definido pela norma ITU-T G.694.1. Como se pode verificar na Figura 3.28, tem o mesmo
princípio de funcionamento que o CWDM. Opera na gama de comprimento de onda de 1530-
1624 nm e a distância entre canais pode ser de 1,6 nm, 0,8 nm ou até 0,4 nm [2].
Vantagens Desvantagens
• Consumo potência reduzida;
• Menor capacidade;
• Necessita menor espaço;
CWDM • Menor alcance;
• Pode usar LED ou Laser;
• Regeneração do sinal.
• Custos iniciais mais baixos.
• Disponível máxima
capacidade; • Custos iniciais mais elevados;
amplificação ótica.
Existem dois conceitos importantes relativos ao power budget: Link Power Budget e o Link
Loss Budget. O primeiro é a diferença entre a potência introduzida na fibra e a sensibilidade
do recetor ligado ao cabo de fibra ótica. O Link Loss Budget é o valor total das perdas de
qualquer componente da ligação. Em todos os casos, o Link Loss Budget deve ser sempre
inferior ao Link Power Budget. Como pode ser constatado na Figura 3.29, o total do Link
Power Budget é a soma do Link Loss Budget e a margem de segurança para futuros requisitos
e também considerando o envelhecimento do sistema de fibra ótica ou possíveis reparações
[30].
Figura 3.29 - Link Power Budget vs Loss Power Budget (adpt. de [4]).
Como foi possível constatar na secção 3.4, o tráfego de vídeo e de dados (ascendente e
descendente) é transmitido em comprimentos de onda distintos numa rede PON. Para que
isso seja possível, são utilizados componentes designados por WDM couplers. Este tipo de
dispositivos permitem combinar e separar os vários comprimentos de onda (1310, 1490 e
1550) na entrada e na saída de uma fibra ótica. Existem dois locais possíveis de colocação
destes dispositivos. Tipicamente numa PON são necessárias duas unidades, sendo uma
instalada depois do OLT e outra antes do ONU.
segundo a recomendação da ITU-T G.957 especifica uma margem entre 3 a 4,8 dB para ter
em conta a degradação dos equipamentos e de possíveis reparações [4].
A Tabela 3.3 resume os vários fatores que influenciam o power budget e o seu respetivo
valor.
Num splitter a potência ótica de entrada é dividida pelos vários caminhos de saída que o
componente possui. Quantos mais caminhos de saída o splitter possuir, maior será a divisão
de potência (N) e por isso mais atenuação será introduzida. Idealmente a atenuação de um
splitter ótico é calculado segundo a equação 3.1.
Na Tabela 3.4 tem-se a representação dos valores de atenuação para os vários fatores de
derivação dos splitters óticos existentes [4].
Para o cálculo do power budget em primeiro lugar é importante saber as caraterísticas dos
componentes óticos que se encontram em cada uma das extremidades da fibra ótica (OLT e
ONU). A quantidade de luz disponível no sistema é calculada através da equação 3.2. A
variável PT representa a potência do sinal que é emitido na fibra e PR é a sensibilidade do
recetor.
Através do power budget sabe-se qual é a atenuação máxima que pode existir na rede
distribuição ótica, entre o emissor e o recetor. Existem várias classes que caraterizam a
atenuação máxima permitida numa rede de distribuição ótica. A Tabela 3.5 serve como
exemplo para ilustrar o par de emissores e recetores que se utilizam numa rede
BPON/GPON, consoante a classe do power budget.
Tabela 3.5 - Power budget das várias classes para BPON e GPON [4].
Emissor/Recetor Emissor/Recetor
PBudget (dB)
OLT ONU
Classe A DFB/APD FP/PIN 20
Classe B DFB/APD FP/PIN 25
Classe B+ DFB/APD DFB/APD 28
Classe C DFB/APD DFB/APD 30
Classe C+ DFB/APD DFB/APD 33
Para que se possa cumprir com o power budget é necessário que os emissores e recetores
sejam capazes de fornecer a potência necessária para que o sinal seja transmitido e chegue ao
recetor com um nível de sinal aceitável para sua deteção. A Tabela 3.6 ilustra os valores
típicos para cada classe dos emissores e recetores para o ONU e para o OLT. Contudo, é
importante referir que a respetiva tabela apenas constitui uma pequena amostra das soluções
existentes no mercado atual.
Tabela 3.6 - Valores típicos dos emissores e recetores do OLT e ONU [35].
Sensibilidade RX
Potência TX (dBm) Classe
(dBm)
OLT (DFB+APD) +1,5 ~ +5 < - 28 B+
ONU (DFB+APD) +0,5 ~ +5 < - 28 B+
OLT (DFB+APD) +3,5 ~ +7,5 < - 33 C+
ONU (DFB+APD) +0,5 ~ +5 < - 28 C+
Desta forma, caso não se verifique a condição de Link power budget > Link loss budget,
significa que o emissor e o recetor não irão funcionar corretamente, pois não terão potencia
suficiente. No recetor é desejável receber um sinal com uma taxa de erros (BER) baixa,
tipicamente de 10-11 neste tipo de sistemas [4].
Outro fator importante a considerar no cálculo do Link loss budget são os cortes de fibra que
poderão ocorrer após a implementação da rede distribuição ótica. Embora os cabos de fibra
possuam alguma proteção, são vulneráveis a inundações e escavações que podem danificar a
fibra, sendo necessário novas fusões [30].
3.6.1 BER
Quando a informação transmitida é formada por uma sequência de bits, a codificação digital
mais simples a utilizar é a NRZ. A Figura 3.31 ilustra o funcionamento deste tipo de
codificação. O bit “1” é representado com a presença de luz emitida pela fonte ótica e o bit
“0” pela ausência da mesma.
Um dos critérios mais utilizados para analisar o desempenho de sistemas digitais é o BER.
Como se pode constatar pela equação 3.4, este é dado pela razão entre o número de bits
errados obtidos na receção e o número de bits transmitidos originalmente.
Xº .E Z [ E\\ .([ \E EZ .([
MVW = (3.4)
Xº .E Z [ \ [ .([
Um BER na ordem dos 10-15 seria o desejado para uma transmissão de dados ideal. No
entanto, um BER = 10-10 consiste num valor bastante aceitável que é normalmente o limite
máximo para uma transmissão de dados fiável [6]. Contudo, cada tecnologia de transmissão
de dados possui um valor limite de BER que normalmente vem especificado na sua norma
[36].
Através da análise desta técnica de medida, pode-se obter informações acerca da distorção de
amplitude e do jitter (variação do atraso). A sua análise tem os seguintes fundamentos [6]:
• A abertura vertical indica a diferença de amplitude entre os bits a “1” e a “0” do sinal.
Quanto maior for esta abertura mais fácil será diferenciar os bits.
• A abertura horizontal permite quantificar o jitter presente no sinal. Quanto maior for
esta abertura menor será o jitter.
• A zona de transição de bit também indica a medida de jitter no sinal. Quanto mais
estreita esta for menor será o jitter.
• A melhor indicação da qualidade do sinal é a abertura do olho em si. Quanto maior
esta for mais fácil será a deteção dos bits e menor será o BER. Se o olho estiver
praticamente fechado, será muito difícil ou mesmo impossível interpretar os dados
corretamente.
Neste capítulo será abordado todo o procedimento para dimensionar e gerar uma simulação
de uma rede de acesso com POFe GOF no programa de simulação VPIphotonicsTM [37].
Seguidamente são propostos dois cenários para teste e comparação do desempenho da POF
com a GOF na rede de acesso. O primeiro cenário consiste numa rede de acesso baseada na
tecnologia GPON, onde são consideradas diferentes tipos de fibras para interligação ao
cliente final, que são uma fibra ótica monomodo G.657 ClearCurve da Corning, uma fibra
ótica de plástico designada por Fontex da Asahi Glass e uma fibra multimodo ClearCurve da
Corning. No segundo cenário apenas se considera a utilização de POF no último segmento da
rede para interligação ao cliente, e analisa-se o desempenho da mesma quando na mesma
rede de distribuição ótica coexistem as tecnologias GPON e 10G-PON.
O VPI é constituído por duas aplicações. A implementação da rede de acesso em fibra ótica e
toda a parametrização necessária dos vários componentes é efetuada recorrendo à aplicação
VPItransmissionMakerTM 8.5. A aplicação disponibiliza vários sistemas de transmissão para
demonstração, o que permite uma melhor familiarização com a ferramenta.
encontram-se os atalhos para executar/parar uma simulação, abrir um novo ficheiro para um
novo cenário, salvar ficheiros, etc. [6].
Como se pode constatar na Figura 4.3, existem três níveis hierárquicos: universo, galáxia e
estrela. Tal como o seu nome sugere, o nível universo é o mais alto da simulação, o que
significa que pode ser representado por uma rede de estrelas e de galáxias interligadas.
Uma galáxia representa o segundo nível mais elevado, e pode ser formada por um conjunto
de estrelas ou até mesmo galáxias interligadas. Para construir uma galáxia é necessário que
exista pelo menos um porto de input e outro porto de output, tal como exemplifica a Figura
4.3. Do ponto de vista do universo, uma galáxia atua como um módulo único e os módulos
nela contidos apenas podem ser vistos recorrendo à opção Look inside [6].
Por sua vez o nível designado por estrela é o nível mais baixo de uma simulação, pois não
pode representar outros esquemáticos. Tipicamente representam componentes base simples,
como por exemplo uma fibra ótica [37].
Tendo em conta a hierarquia descrita, os ficheiros podem ter as seguintes extensões: “.vtms”,
“.vtmg” ou “.vtmu”, correspondendo a uma estrela, galáxia ou universo, respetivamente [6].
Neste projeto esta estrutura hierárquica revelou-se ser uma mais-valia para o
desenvolvimento e simulação de uma rede de acesso, dado que se criou algumas galáxias
com o intuito de simplificar e estruturar a implementação dos módulos necessários no
programa.
É importante referir que os cenários propostos são meramente exemplificativos, uma vez que
numa situação real estes podem ser variáveis consoante as condições físicas e a localização
específica dos utilizadores.
Uma vez que o objeto de estudo é averiguar os limites de operação da POF na última milha
(vulgo “last mile”), consideraram-se três utilizadores sendo que cada um possui um tipo de
fibra distinta. O primeiro utilizador irá receber a sua ligação através de uma fibra ótica
multimodo ClearCurve da Corning, o segundo utilizador através de uma fibra ótica
monomodo G.657 ClearCurve da Corning e o terceiro através de uma fibra de plástico
designada por Fontex da Asahi Glass. Pressupõe-se que a instalação das fibras é efetuada
entre o ponto de distribuição ótico (PDO) que encontra-se no edifício e ao ONT que é
colocado dentro das casas dos utilizadores. O facto de se atribuir diferentes tipos de fibras
aos três utilizadores permitirá comparar a qualidade do sinal em cada um dos utilizadores.
Todas as caraterísticas necessárias para a parametrização das fibras no programa de
simulação foram obtidas através do próprio fabricante.
semelhante ao que se encontra representado na Figura 4.5. Como se pode constatar, o sinal
ótico é recebido pelo ONT através de uma POF (ou GOF), sendo depois convertido por este
para elétrico e distribuído pelos vários equipamentos existentes na casa. Embora os
equipamentos representados na figura sejam distintos, a informação que é enviada e recebida
por estes é toda sobre IP (VoIP, IPTV e Dados).
Contudo, para que seja possível implementar este cenário é preciso ter em conta alguns
aspetos essenciais. É importante relembrar que a GPON opera nos 1490 nm no sentido
descendente com um débito de 2,5 Gbps e nos 1310 nm no sentido ascendente com um
débito de 1,25 Gbps. Já a 10G-PON opera nos 1575 nm no sentido descendente e nos 1310
nm no sentido ascendente com débitos de 10 Gbps simétricos. Para que as duas tecnologias
Relativamente ao cálculo do power budget, terá que ser calculado para os 1575 nm, visto que
a atenuação da POF é de 200 dB/km neste comprimento de onda. No entanto o cálculo para
os 1310 nm é comum às duas tecnologias, uma vez que as atenuações dos componentes e
fibras óticas são idênticas.
Contudo, na prática será apenas efetuado o cálculo do power budget nos 1575 nm, 1490 nm e
nos 1310 nm, visto que por limitação do simulador não se utilizará a transmissão do sinal de
TV nos 1550 nm. Tanto no comprimento de onda descendente como o ascendente, a margem
de potência operacional deve ser positiva, para que o sistema opere com níveis de sinal
dentro dos limites suportados pelas classes dos componentes óticos que estão a ser utilizados
no mesmo.
Relativamente ao primeiro cenário, é importante referir que o cálculo do power budget foi
efetuado para o pior caso, isto é, o caso em que é utilizada a POF na rede de acesso (fibra
com maior atenuação). A Tabela 4.1 resume os componentes e as atenuações que foram
consideradas para o cálculo do power budget para os dois cenários. Os valores foram obtidos
através de vários fabricantes, em que por exemplo no caso das fibras foram considerados a
Corning e a Asahi Glass.
Tabela 4.1 - Atenuações dos componentes considerados para simulação [28] [30] [38].
A distância máxima considerada entre fusões foi de 6 km [30], dado que foi esse valor de
distância que foi considerado para as bobinas de fibra monomodo G.652C.
A margem operacional do sistema é calculada através da equação 4.1 e deve ser sempre um
valor positivo. Caso seja um valor negativo, todo o dimensionamento deve ser revisto.
Figura 4.8 - Cálculo do power budget no sentido descendente (1490 nm) - GPON.
Relativamente ao cálculo do power budget no sentido ascendente (1310 nm), este é efetuado
da mesma forma que foi efetuado no sentido descendente. A única diferença é que para este
caso não é considerado o acoplador WDM, uma vez que no sentido ascendente a informação
Como se pode constatar pela Figura 4.9, a margem do sistema é muito maior do que a que foi
obtida no sentido descendente. Isto deve-se ao facto da atenuação da POF ser muito menor
nos 1310 nm, resultando uma atenuação total do sistema mais baixa (cerca de 16 dB) quando
comparada com a que foi obtida no sentido descendente. De qualquer das formas, o mais
importante é que o valor de potência está em excesso, o que significa que o sinal chegará ao
recetor em excelentes condições para a sua detecção.
Também foi necessário o cálculo do power budget nos 1575 nm, uma vez que é este
comprimento de onda que a tecnologia 10G-PON utiliza para transmitir no sentido
descendente. Como se pode constatar na Figura 4.10 a única diferença para o cálculo dos
1490 nm da GPON prende-se no valor de atenuação da POF, que neste caso foi considerado
200 dB/km.
Figura 4.10 - Cálculo do power budget no sentido descendente (1575 nm) - 10GPON.
A primeira limitação registada prende-se com a utilização de dois fluxos de tráfego com
débitos distintos. O VPI não permite a injeção de dois fluxos de tráfego provenientes de
fontes distintas com débitos diferentes numa mesma fibra ótica, exceto a situação em que os
fluxos obtenham débitos que sejam múltiplos de 2 (ex: 100Mbps e 50 Mbps). Esta limitação
implica que no primeiro cenário seja impossível a transmissão simultânea do sinal de vídeo
analógico (RF), que é transmitido nos 1550 nm em modo broadcast e com um débito de
cerca de 40 Mbps constantes, e dos sinais de dados para os vários utilizadores que é
transmitido no comprimento de onda (1490 nm) que no limite pode agregar um débito de 2,5
Gbps. Após várias tentativas para contornar este problema, chegou-se à conclusão que o
programa de simulação possui apenas um único TimeWindow (parâmetro que permite definir
um período de tempo que é representado um bloco de dados) e que é geral para todos os
fluxos de tráfego. Por esse motivo, optou-se por lidar apenas com os sinais com codificação
NRZ que são transmitidos no sentido descendente (1490 nm) e ascendente (1310 nm).
A segunda limitação está associada ao facto de o VPI não possuir módulos próprios para a
implementação de PONs. Por outras palavras, não existe módulos específicos como por
exemplo o OLT e o ONT, sendo necessário elaborar o sistema com todos os componentes
necessários para construir cada um dos equipamentos ativos. Contudo, esta limitação não
impede a implementação dos cenários propostos e recorreu-se à utilização das galáxias para
representar cada um dos componentes ativos.
PRBS: Este módulo serve para gerar os bits “0” e “1” de forma aleatória,
representando a informação que se quer transmitir até ao destino. Neste caso em
particular cada módulo PRBS (Pseudo-Random binary sequence) representa um fluxo de
tráfego para um determinado utilizador.
Codificador NRZ: Tal como o seu nome indica, este módulo converte o sinal
digital para um sinal elétrico, segundo uma codificação NRZ (Non-return-to-
zero).
Fibra ótica: Este módulo representa uma fibra ótica que faz a ligação entre o
emissor e o recetor ótico. O bloco MultiModeFiber.vtms será utilizado para
representar POFs e fibras multimodo de sílica, enquanto que para da fibra monomodo será
utilizado o bloco UniversalFiberFwd.vtmg. É importante referir que este módulo é
unidirecional, isto é, o sinal ótico apenas pode circular num sentido.
FilterEl: Este módulo representa um filtro elétrico universal, com várias funções
de filtragem. O filtro pode ser do tipo passa-baixo, passa-alto ou passa-banda. A
nível de funções de transferência, podem ser do tipo: Bessel, Gaussiana, Butterworth,
Chebyshev e elíptica. Na prática vai ser utilizado o filtro passa-baixo do tipo Bessel, para que
deixe passar apenas os sinais abaixo da frequência de corte.
Atenuador: Tal como o seu nome indica, permite atenuar o sinal ótico que passa
pelo mesmo. O valor da atenuação pode ser definido. Este módulo é muito útil
para simular as perdas dos conetores e das fusões que são considerados no cálculo do power
budget.
Tal como o seu nome indica, os parâmetros individuais apenas dizem respeito ao próprio
componente, isto é, qualquer alteração que se faça neste tipo de parâmetros só produzirá
efeito no respetivo módulo. A Figura 4.11 serve como exemplo de uma janela de edição de
um módulo de uma fibra multimodo. Como se pode constatar, existem uma série de
parâmetros que podem ser modificados. Neste caso em particular, os parâmetros mais
relevantes para a simulação de uma fibra são: o comprimento da fibra (Length), a atenuação
(Attenuation), o perfil do índice de refração (TransversalIndexProfile-Description), o índice
de refração do núcleo (CoreRefrativeIndex), o contraste (IndexContrast) e o diâmetro do
núcleo (CoreDiameter) [6].
A grande vantagem da utilização dos parâmetros globais prende-se com o facto de permitir
configurar um determinado parâmetro que é comum a vários componentes, como por
exemplo fibras óticas ou emissores e recetores óticos que possuem o mesmo comprimento de
onda. Desta forma, sempre que se queira alterar esse parâmetro, basta alterá-lo na janela de
edição de parâmetros globais e essa modificação produzirá efeito em todos os módulos que
possuem esse parâmetro global definido. Neste projeto, existem alguns parâmetros globais
que aparece por defeito no VPI, sendo os mais importantes os seguintes:
TimeWindow - define o período de tempo em que cada bloco de dados é representado [6].
Este parâmetro deverá ser corretamente definido de acordo com o tipo de codificação e
débitos utilizados no sistema. Neste projeto foram adotados os valores sugeridos no manual
do utilizador.
BitRateDefault – tal como o seu nome indica, define o valor por defeito do débito binário de
operação. Os módulos que possuem o parâmetro do débito binário podem operar com o valor
por defeito da simulação ou com um valor definido manualmente pelo utilizador. Na prática
e devido às limitações previamente abordadas do simulador, deve-se ter em atenção aos casos
em que os valores são definidos manualmente para que respeitem a condição de o valor ser
múltiplo/divisível por 2 do valor por defeito.
Para além dos parâmetros globais que já existem por defeito no VPI foi necessário adicionar
dois parâmetros. São eles o comprimento de onda descendente (WavelengthDL) e o do
comprimento de onda ascendente (WavelengthUL). Estes dois parâmetros serão úteis em
todos os componentes onde será necessário representar o comprimento de onda de operação.
A Tabela 4.2 ilustra os parâmetros mais importantes definidos para o OLT tanto a nível de
emissão como de receção. Tal como se pode constatar, o transmissor do OLT é do tipo DFB
com uma potência mínima de transmissão de 1,5 dBm e com uma potência máxima de 5
dBm. No entanto, segundo o cálculo de power budget efetuado, será parametrizada no VPI
uma potência de transmissão de 3,5 dBm.
À semelhança dos equipamentos ativos que foram abordados anteriormente, as fibras óticas
também necessitam de parametrização. No caso da POF cujo modelo utilizado designa-se por
Fontex, para além da atenuação também é necessário ter em conta outros parâmetros
relacionados com as caraterísticas físicas da mesma. Todos os parâmetros necessários
encontram-se apresentados na Tabela 4.4.
No caso das GOFs, serão utilizadas três fibras de sílica distintas. A Tabela 4.5 reúne as
caraterísticas necessárias para configuração dos três tipos de fibras no VPI. A fibra G.651
representa a fibra multimodo e a G.652C e G657 são fibras monomodo, sendo a última
indicada para FTTH devido ao seu melhor desempenho com os raios de curvatura. A fibra
G.652C será utilizada para interligação entre o OLT e o splitter.
Para além da parametrização das fibras e dos equipamentos ativos, existem alguns
parâmetros globais que são importantes ter em conta para uma correta implementação e
simulação dos cenários propostos. É o caso do SampleRate, do TimeWindow e do Samples
per Block que são parâmetros que definem a frequência de amostragem e o período de tempo
que cada bloco de dados é representado. A Tabela 4.6 ilustra os valores que devem de ser
utilizados para os parâmetros anteriormente referidos quando se trata de um sistema com
codificação NRZ com débitos de 2,5 e 10 Gbps. Esta tabela foi obtida diretamente do manual
de utilizador do programa de simulação. Na prática utilizou-se os valores que estão
representados dentro do retângulo a vermelho.
Tabela 4.6 - Parâmetros sugeridos pelo VPI para modulação NRZ [37].
O splitter utilizado foi um de 1:4 dado que é o que possui maior fator de divisão no
simulador. Numa primeira fase, optou-se por não utilizar a POF na última milha para
interligação ao ONT de forma averiguar o correto funcionamento da rede GPON. As fibras
utilizadas foram fibras de sílica monomodo e a parametrização utilizada foi a que já existia
por defeito no respetivo módulo. Relativamente aos débitos, utilizaram-se os débitos padrão
da tecnologia GPON, sendo 2,5 Gbps no sentido descendente (do OLT para o ONT) e 1,25
Gbps no sentido ascendente (do ONT para o OLT).
Quanto às potências de emissão, utilizou-se 2 dBm no emissor do OLT e 0,5 dBm no ONT.
Estas potências revelaram-se ser suficientes para vencer a distância de 19 km de fibra ótica
monomodo cuja atenuação considerada foi de 0,3 dB e um splitter de 1:4 com atenuação de
6,8 dB. Para este caso não se teve em consideração os cálculos teóricos do power budget,
uma vez que o objetivo deste esquema era começar por uma implementação simples e aos
poucos adicionar os componentes necessários até se conseguir cumprir com o que foi
planeado nos cenários.
Ao gerar uma simulação com este primeiro esquema implementado, os resultados foram
satisfatórios e revelaram uma correta implementação do sistema. Os resultados encontram-se
representados na Figura 4.14.
Entrada
OLT
Entrada
ONT
Verifica-se que o tanto no OLT como no ONT, o sinal chega em boas condições para
deteção. Esse resultado é visível tanto pela análise do diagrama de olho como pelos valores
obtidos no BER. Os valores de BER registados em ambos os casos respeitam o valor mínimo
suportado pela tecnologia GPON (1x10-10).
Depois de entender o procedimento para criação de galáxias, começou-se por criar a galáxia
para representar um OLT. O esquema montado encontra-se representado no lado esquerdo da
Figura 4.15. Do lado direito da imagem, tem-se a representação do mesmo quando este
encontra-se implementado num universo.
Relativamente à criação da galáxia para o splitter ótico com fator de divisão de 1:8 teve-se
que utilizar um módulo de divisão de potência de 1 para N e outro de combinação de
potência de N para 1. Como se pode verificar na Figura 4.16, utilizaram-se também dois
atenuadores, um para cada direção do sinal ótico (sentido descendente com o comprimento
de onda de 1490 nm e sentido ascendente nos 1310 nm). No entanto, o valor de atenuação é
comum aos dois módulos, uma vez que o objetivo é introduzir a atenuação correspondente de
um splitter de 1:8, cujo valor é cerca de 10,2 dB.
É importante referir que esta era a única forma possível de construir um splitter numa
galáxia, ou seja, num sentido existir uma combinação e noutro uma divisão de potência.
Desta forma, a ligação a um ONT é efetuada com duas fibras no simulador, embora se saiba
que na prática e no mundo real é apenas uma fibra. Isto está associado ao facto de no
simulador não existir a possibilidade de parametrizar várias atenuações para vários
comprimentos de onda no mesmo módulo da fibra ótica. Assim sendo, de forma contornar
esse aspecto, teve-se que simular com duas fibras, sendo que uma possui a atenuação
respetiva dos 1310 nm e outra a atenuação dos 1490 nm.
Contudo, de forma cumprir com os requisitos dos cenários propostos, é desejável simular
uma rede GPON com POF com vários ONTs. Para que isso aconteça é necessário
implementar um mecanismo no simulador que controle a informação dos vários ONTs, dado
que o VPI não consegue ter esse grau de abstração quando se implementa esquemas com
vários fluxos de dados.
Para transmitir vários fluxos de dados do OLT para vários ONTs (ou vice-versa) é necessário
utilizar um módulo designado por commutator.vtms. A sua função baseia-se em multiplexar
no tempo os blocos de dados que este recebe à entrada proveniente de vários fluxos de dados.
Contudo, apenas com a utilização deste módulo não se consegue fazer corresponder um
determinado fluxo de dados a determinado ONT. Para que isso aconteça é necessário que
cada ONT saiba detetar o fluxo de dados que lhe pertence. Como já foi referido
anteriormente, o mecanismo desenvolvido consiste numa atribuição de códigos binários e de
canais lógicos aos fluxos de cada ONT. A Tabela 4.7 ilustra a correspondência utilizada na
prática dos respetivos códigos e canais lógicos no recetor do OLT.
Fluxo de dados ONT OLT Código binário atribuído Canal lógico atribuído
ONT 1 0100 Ch4
ONT 2 1000 Ch3
ONT 3 0010 Ch6
ONT4 0001 Ch8
Para definir estes códigos binários no simulador, foi necessário utilizar um módulo designado
por SwitchSignal.vtms acompanhado por um IntSource.vtmg. Relativamente ao primeiro, a
sua função é encaminhar para uma porta de saída o fluxo de dados selecionado (o fluxo que
recebeu o bit “1”) e os restantes fluxos são negados (fluxos que receberam o bit “0”). Este
módulo possui uma porta específica pela qual recebe os códigos binários que são definidos
no IntSource.vtmg.
Para além da atribuição dos códigos binários, foi necessário também atribuir canais lógicos.
Estes são definidos em dois módulos específicos. Na emissão define-se no Coder_NRZ.vtms
e na receção é definido no ClockRecoveryIdeal.vtms. O canal lógico funciona como uma
etiqueta que é gerada quando é efetuada a codificação NRZ. Cada fluxo possuirá então o seu
canal lógico, e tendo em conta que o ONT tem sempre dois fluxos (ascendente e
descendente) então este terá pelo menos dois canais lógicos associados.
Para melhor perceção da interligação destes módulos recorre-se à Figura 4.17 onde se pode
constatar as modificações que foram efetuadas à galáxia inicial que tinha sido implementada
para o OLT. Neste caso em particular o OLT está configurado para receber fluxos de dados
de quatro ONTs, mas se fosse necessário um número superior bastava replicar os módulos de
SwitchSignal.vtms e de IntSource.vtmg para um novo ONT com uma nova atribuição de
código binário e de um canal lógico.
A Figura 4.18 ilustra janela de edição da galáxia do OLT. Os valores dos códigos binários
estão de acordo com a Tabela 4.7. Aquando a implementação deste mecanismo, foi
necessário existir alguma afinação, isto é, por tentativa e erro alternou-se os códigos binários
até selecionar o correto fluxo de dados dos vários ONTs.
A implementação deste mecanismo também é necessária em cada ONT, isto é, aos fluxos de
dados que circulam no sentido descendente (OLT para ONT). Na Tabela 4.8 encontram-se
representados os códigos binários que foram atribuídos a cada ONT para o tráfego
descendente. Os canais lógicos são diferentes por forma não criar conflito com os que já
existem.
Fluxo de dados OLT ONT Código binário atribuído Canal lógico atribuído
ONT 1 1000 Ch2
ONT 2 0100 Ch1
ONT 3 0010 Ch5
ONT4 0001 Ch7
Uma vez que o ONT apenas necessita de selecionar o tráfego que lhe pertence e descartar o
restante, será apenas necessário configurar um código binário (o que lhe foi atribuído). A
Figura 4.20 ilustra um exemplo de uma janela de edição do ONT 2 com o respetivo código
binário atribuído.
4.4.4.1 Implementação
Depois da construção das galáxias necessárias e do desenvolvimento do mecanismo para
implementação da técnica TDMA no simulador, encontram-se reunidos todos os requisitos
necessários para a implementação dos cenários. O esquema final do primeiro cenário que foi
implementado no VPI encontra-se representado na Figura 4.21.
Como já foi referido na secção 4.2.1, este primeiro cenário pressupõe a simulação de uma
rede GPON com três ONTs, onde cada ONT possui um tipo de fibra diferente. São elas uma
POF designada por Fontex, uma fibra monomodo G.657 ClearCurve e uma fibra multimodo
ClearCurve. Contudo, como é possível constatar na Figura 4.21 optou-se na prática por
efetuar uma implementação com quatro ONTs, sendo dois dos quais interligados através de
POF. O motivo pela qual se tomou esta opção prende-se com o débito binário atribuído a
cada ONT. Uma vez que se pretende simular o pior caso, isto é, o caso em que a rede GPON
opera na sua máxima capacidade (2,5 Gbps no sentido descendente e 1,25 Gbps no
ascendente), colocou-se quatro ONTs em que cada um possui um débito de 625 Mbps no
sentido descendente e de 312,5 Mbps no ascendente. Como se pode constatar na Figura 4.22
o débito binário definido para o sentido ascendente do ONT1 foi de 1,25/4 Gbps. Desta
forma, o débito agregado de todos os ONTs totaliza os valores da capacidade máxima
suportada pela GPON. Contudo, sabe-se que na realidade os serviços FTTH vendidos
atualmente por parte dos operadores de telecomunicações nunca atingem débitos tão
elevados para um utilizador residencial. De qualquer das formas, esta era a única forma de
simular a rede na sua capacidade máxima, sem ter que colocar um grande número de ONTs.
Optou-se também por implementar módulos de atenuadores ligados às fibras de cada ONT. O
propósito destes atenuadores serve para introduzir a atenuação que resulta das fusões
térmicas, dos conetores (POF e GOF), da margem de segurança e do acoplador WDM que
embora não tenha sido utilizado, também foi considerado para o cálculo do power budget. Na
Tabela 4.9 pode-se verificar os valores de atenuação que foram definidos nos atenuadores
que fazem a ligação no sentido ascendente e descendente. O valor total é diferente nos dois
casos porque no sentido ascendente não é contabilizado a atenuação do acoplador WDM,
uma vez que este é utilizado apenas para o sentido descendente. Assim sendo, os atenuadores
que se encontram no caminho ascendente possuem uma atenuação de 4,4 dB e os que estão
no caminho descendente será de 5,2 dB.
Assinalado com um círculo de cor verde na Figura 4.21 está representado o módulo
commutator.vtms. Tal como já foi referido no capítulo anterior, este módulo é necessário para
efetuar a multiplexagem no tempo dos vários fluxos de tráfego provenientes dos ONTs
(sentido ascendente – 1310 nm).
Relativamente à parametrização das fibras, foi efetuada conforme os dados que foram
recolhidos das fichas técnicas dos fabricantes e que se encontram representados na Tabela 4.4
e Tabela 4.5. É importante referir que o módulo MultimodeFiber.vtms também foi utilizado
para representar a POF no simulador. A Figura 4.23 ilustra a janela de edição da POF no VPI
que foi utilizada para a ligação ascendente (1310 nm). A parametrização da POF para o
sentido descendente é idêntica excetuando o valor de atenuação que é de 120 dB/km.
Como se pode verificar, os valores obtidos foram razoáveis e estão próximos dos valores
calculados, o que representa uma correta implementação do cenário do simulador. A potência
teórica para os três casos foi efetuada recorrendo à folha do ficheiro Excel que já tinha sido
elaborada para o cálculo do power budget. É importante também referir que estes valores de
potência teóricos e práticos pressupõem a utilização de uma determinada distância na última
milha, que neste caso em particular foi de 100 metros para a POF e 200 metros para a fibra
multimodo e G.657 ClearCurve.
Após a verificação dos valores de potência ótica nos vários ONTs, determinou-se a distância
máxima com POF mantendo os níveis mínimos de BER normalizados pela tecnologia
GPON. Este processo foi efetuado por tentativa e erro, ou seja, efetuou-se várias medições
até encontrar o valor máximo de distância. O resultado pode ser visualizado na Figura 4.24.
ONT2
ONT2
De acordo com a Figura 4.24 pode-se constatar que a distância máxima de POF conseguida
no simulador no primeiro cenário foi de 115 metros para um valor de BER de 2.337 E-12,
obtendo-se assim um valor inferior ao permitido que era de 1 x 10-10. No diagrama de olho
ainda existe uma boa abertura horizontal e vertical. No segundo gráfico os impulsos elétricos
possuem alguma oscilação derivado ao sistema estar a operar no limites, mas ainda assim
existe uma boa diferenciação dos bits “1” e “0”.
Contudo, para se perceber como é que o BER evolui à medida que se varia a distância da
POF na última milha elaborou-se um gráfico no programa Excel com valores que foram
recolhidos no simulador. Esse resultado encontra-se representado na Figura 4.25.
Quanto ao sinal que circula no sentido ascendente (ONT para OLT) também foi analisado.
Os resultados encontram-se representados na Figura 4.26.
ONT2
ONT2
BER 0
Repare-se que neste caso teve-se que considerar no mínimo a distância que tinha sido
determinada anteriormente, os 115 metros. Verifica-se que a qualidade do sinal recebido no
OLT foi muito superior do que no caso anterior (sentido descendente). Tanto o diagrama de
olho como os impulsos rectangulares estão muito mais bem definidos. O valor de BER
obtido foi igual a 0, o que indica que a taxa de bits errados é nula. O facto de haver um
melhor desempenho no sentido ascendente comparativamente ao descendente, prende-se
pelas caraterísticas da POF. A Fontex possui uma atenuação muito mais baixa nos 1310 nm,
sendo a diferença de cerca 100 dB/km inferior quando comparada com a atenuação registada
nos 1490 nm.
ONT1
ONT1
Os resultados obtidos para a fibra monomodo G.657 foram excelentes. Tendo em conta que a
distância considerada ser já muito razoável (200 metros) para este tipo instalações (última
milha/ interior de edifícios), ainda assim obteve-se um BER igual a 0. Esse resultado também
é notável no diagrama de olho visto que apresenta uma linha fina com contornos suaves. Os
impulsos rectangulares também estão com melhor definição comparativamente aos que
foram obtidos pela POF. Relativamente ao sinal ótico no sentido ascendente, os resultados
foram muito semelhantes, isto é, a qualidade do sinal recebida no OLT também foi excelente
registando um BER igual a 0. Este resultado já era esperado, visto que trata-se e uma fibra
monomodo com atenuações muito mais baixas comparativamente às da POF.
Por último analisaram-se os resultados que foram obtidos com a fibra multimodo
ClearCurve. Os resultados registados no simulador VPI com este tipo de fibra encontram-se
representados na Figura 4.28. Como é possível verificar, os resultados também foram muito
satisfatórios. À semelhança do que aconteceu com a fibra G.657, o diagrama de olho e os
impulsos rectangulares também estão bem definidos e obteve-se um valor de BER igual a 0.
ONT3
ONT3
Face aos resultados obtidos foi possível tirar algumas conclusões acerca dos mesmos. Com
este primeiro cenário, pretendeu-se simular e analisar o desempenho da POF na rede de
acesso (última milha). Para o efeito foram consideradas para além da POF outras duas fibras
disponíveis no mercado para este tipo de aplicação, e efetuou-se uma comparação entre as
mesmas e determinou-se a melhor solução.
Após várias simulações realizadas, conseguiu-se uma distância de cerca 115 metros de POF
para o cenário implementado, mantendo um valor de BER inferior ao permitido que era de
1 x 10-10. Ainda assim é importante referir que esta distância foi conseguida para este cenário
em específico. A grande limitação da POF encontra-se na atenuação na janela dos 1490 –
1550 nm, que é de cerca 120 dB/km. Face a este elevado valor, torna-se difícil efetuar o
dimensionamento do power budget, apesar de esta possuir outras vantagens quando
comparada com fibras de sílica.
Relativamente à fibra monomodo G.657 e à fibra multimodo, os resultados foram bem mais
satisfatórios. As simulações revelaram nível de sinal ótimo para os ONTs que possuíam estas
fibras. Poder-se-ia até eventualmente adicionar mais atenuação no ODN, através da adição de
outros componentes passivos (como por exemplo um splitter), mantendo uma boa qualidade
de sinal.
Comparando o desempenho dos três tipos de fibras, conclui-se que a fibra G.657 ClearCurve
constitui uma melhor escolha para aplicações FTTH. A POF para uma distância de 115
metros e para um cenário relativamente simples já operava nos limites permitidos pela
GPON. Já com a fibra G.657 obteve-se ótimos resultados e confortáveis para cenários mais
complexos com mais atenuação na rede de distribuição ótica.
4.4.5.1 Implementação
Como já foi referido, o segundo cenário trata-se da análise do desempenho da POF para
débitos superiores aos que foram utilizados no primeiro cenário. Para tal, elaborou-se um
esquema onde as tecnologias GPON e 10G-PON coexistem na mesma rede de distribuição
ótica. O esquema final do segundo cenário que foi implementado no VPI encontra-se
representado na Figura 4.29.
Os débitos configurados em cada ONT no sentido ascendente foram de 1,25 e 10 Gbps para
as tecnologias GPON e 10 GPON, respetivamente. Foram também definidos parâmetros
globais, nomeadamente o “WavelengthG”, o “Wavelength10G” e o “WavelengthUL”. Estes
parâmetros foram úteis para a definição dos comprimentos de onda de operação de ambas as
tecnologias. Como se pode constatar na Figura 4.30 o débito binário definido por defeito foi
de 10 Gbps, o que significa que o débito definido nos equipamentos ativos da tecnologia
GPON foi efetuado de forma manual sem recurso ao parâmetro global “BitRateDefault”.
Uma vez que ambas as tecnologias partilham o mesmo meio físico é necessário existir
mecanismos que evitem o conflito de operação entre as mesmas. Para tal, no sentido
descendente as duas tecnologias operam em comprimentos de onda diferentes. Esse
procedimento pode ser feito através da utilização de um acoplador WDM que encontra-se
representado com um círculo de cor verde. Este módulo possui duas entradas e uma saída e
tem a função de multiplexar comprimentos de onda num mesmo meio físico (fibra). As
entradas encontram-se ligadas aos OLTs das duas tecnologias, sendo que no caso da GPON
irá enviar um sinal ótico nos 1490 nm e o da 10 GPON nos 1575 nm. Na saída deste
componente os sinais de ambas as tecnologias serão enviados para uma única fibra mas em
comprimentos de onda distintos. Tal como tinha sido definido no cálculo do power budget, a
atenuação introduzida pelo acoplador WDM no simulador é de 0,8 dB.
ONT_GPON
ONT_GPON
Distância 90 metros
ONT_
10GPON
ONT_
10GPON
Distância 40 metros
OLT_GPON
Distância 90 metros
BER 0
Por último, analisou-se o sinal ascendente do ONT que utiliza a tecnologia 10 GPON. O
diagrama de olho do respetivo sinal encontra-se representado na Figura 4.35. Para uma
distância máxima de 40 metros de POF na rede de acesso, obteve-se um BER de
5.22 x 10-150. Existe uma grande melhoria do sinal recebido no sentido ascendente, pelo facto
de a atenuação da POF nos 1490 nm ser muito superior aos 1310 nm.
OLT_
10 GPON
Distância 40 metros
Os resultados das simulações revelaram que é possível utilizar POF na rede de acesso e para
débitos de 10 Gbps. Conseguiu-se uma distância de 40 metros utilizando a tecnologia 10
GPON. Esta diminuição do alcance da POF na última milha deve-se a duas razões. A
primeira pela utilização de um comprimento de onda diferente (1575 nm), introduzindo uma
atenuação superior (200 dB/km) ao sinal transmitido. O segundo motivo deve-se ao facto do
débito binário transmitido ser quatro vezes superior ao que foi utilizado no primeiro cenário,
aumentando assim a probabilidade de um bit estar errado.
Quanto à distância obtida com a tecnologia GPON no mesmo ODN, foi de 90 metros para as
mesmas taxas de transferências de dados que tinham sido utilizadas no primeiro cenário. Este
resultado significa uma redução na distância que tinha sido determinada no primeiro cenário,
que era de 115 metros. Pensa-se que isto está associado ao facto de neste segundo cenário
ter-se utilizado o acoplador WDM e ter causado uma perda de desempenho no sistema.
5.1 Conclusões
O tema desta dissertação incidiu no estudo e simulação do desempenho da fibra ótica de
plástico nas redes de acesso. Para o efeito, em primeiro lugar fez-se o estudo do estado da
arte atual das fibras óticas e das redes de acesso.
Nas fibras óticas, verificou-se que estas podem ser de vários tipos, sendo as de mais
importância para esta dissertação as de sílica e as de plástico. As de sílica podem ser
monomodo ou multimodo. As primeiras têm um raio de núcleo pequeno e uma atenuação
baixa, sendo por isso utilizadas para longas distâncias. Já as multimodo têm um raio de
núcleo e uma atenuação superior, pelo que são utilizadas em distâncias curtas. Relativamente
às fibras óticas de plástico, viu-se que estas também existem em vários tipos e com materiais
diferentes. As mais atuais e desenvolvidas são as GI-POF com polímero de flúor. Foi
efetuado uma pesquisa em vários fabricantes e decidiu-se utilizar para a prática uma POF
designada por Fontex da Asahi Glass, devido aos valores de atenuação que esta apresenta
(120 dB/km nos 1490 nm e 18 dB/km nos 1310 nm).
Nas redes de acesso, começou-se por abordar a estrutura de uma rede de telecomunicações e
viu-se que esta pode ser dividida em três segmentos: rede nuclear, rede distribuição e rede de
acesso. Constatou-se que existem várias tecnologias de transmissão que são utilizadas nas
redes de acesso consoante o tipo de infraestrutura existente (cobre, coaxial ou fibra). O
aumento gradual da largura de banda necessária por parte dos utilizadores levou o mercado a
desenvolver novas soluções e nestes últimos anos tem-se assistido a um forte investimento
por parte dos operadores de telecomunicações na instalação de fibra ótica até à casa dos
utilizadores. Existem várias tecnologias PON que permitem o fornecimento do serviço FTTH
(voz, televisão e internet) aos utilizadores. Atualmente sabe-se que alguns operadores de
telecomunicações em Portugal fornecem este tipo de serviço com base na tecnologia GPON,
mas o futuro poderá passar pela utilização da 10G-PON ou WDM-PON.
Apesar das limitações encontradas no simulador, elaboram-se dois cenários para estudo do
desempenho da POF na última milha. A tecnologia escolhida para a elaboração dos cenários
foi a GPON. Esta tecnologia tem um débito máximo de 2,5 Gbps no sentido descendente e de
1,25 Gbps no sentido ascendente. O motivo pela qual se escolheu esta tecnologia para
simulação no VPI prende-se na existência de muita documentação acerca da mesma, até
mesmo artigos com projetos e simulações noutros simuladores. O primeiro cenário consiste
numa rede GPON com três utilizadores (ONTs). Cada utilizador possui um tipo de fibra
diferente. As fibras utilizadas foram uma monomodo G.657 ClearCurve da Corning, uma
multimodo G.651 ClearCurve da Corning e uma POF Fontex da Asahi Glass. Pressupõe-se
que a instalação das fibras é efetuada entre o ponto de distribuição ótico que se encontra no
edifício e o ONT que é colocado dentro da casa do utilizador. Neste cenário averiguou-se a
distância máxima permita pela POF para transmissão tendo em conta o limite do valor de
BER (1x10-10 para a GPON e 10G-PON) e comparou-se o seu desempenho com as restantes
fibras.
Para ambos os cenários foi efetuado o cálculo teórico do power budget. Este procedimento é
muito importante no dimensionamento de uma rede PON, pois é com base nele que se
garante uma qualidade de sinal adequada para cada ONT. Utilizou-se óticos de classe B+,
permitindo assim uma atenuação total na rede de distribuição ótica de 28 dB. Apesar do
desenvolvimento prévio de vários cenários para implementação no programa de simulação, a
sua implementação foi efetuada de forma progressiva. Numa fase inicial, executaram-se
alguns testes simples com o intuito de se familiarizar com o funcionamento do programa.
Posteriormente foi-se adicionando mais complexidade e desenvolveu-se um mecanismo para
implementação da técnica TDMA no simulador e criaram-se algumas galáxias para
simplificação do esquema.
A análise de resultados foi efetuada com base nos diagramas de olho e valores de BER
gerados pelo simulador para cada ONT e OLT. Os resultados obtidos em ambos os cenários
foram satisfatórios. No primeiro conseguiu-se uma distância máxima para a POF de cerca
115 metros, cumprindo o valor mínimo de 1x10-10 de BER. No entanto, as fibras multimodo
e monomodo G.657 revelaram um desempenho muito superior, dado que estas possuem uma
atenuação muito mais baixa. No segundo cenário, com um débito de transmissão de 10 Gbps
da tecnologia 10G-PON, conseguiu-se uma distância de 40 metros para a POF na rede de
acesso.
Tendo em conta ao estudo efetuado e aos resultados obtidos, conclui-se que atualmente a
POF apenas é viável para situações onde a atenuação do ODN é relativamente baixa (por
volta de 15 dB), caso contrário a utilização na última milha não se torna viável. Os resultados
obtidos em ambos os cenários revelaram de facto que a principal limitação da POF se prende
com a elevada atenuação na janela dos 1490-1550 nm, que mesmo considerando a melhor
POF atual do mercado para este tipo de aplicações (Fontex), possui uma atenuação de cerca
120 dB/km nos 1490 nm. Por outro lado, os resultados obtidos no sentido ascendente (1310
nm) foram muito satisfatórios derivado à atenuação ser cerca de 100 dB/km inferior à do
sentido descendente, resultando margens operacionais dos sistemas muito confortáveis para
adição de novos componentes. A sua viabilidade pode tornar-se possível neste segmento de
rede, caso sejam desenvolvidos novos tipos de materiais e mais transparentes que
possibilitem obter atenuações mais baixas na janela utilizada em telecomunicações.
Das fibras testadas no primeiro cenário, conclui-se que a melhor opção para instalação em
redes de acesso e para serviços FTTH é a fibra G.657 ClearCurve da Corning dado que esta
não só possui uma baixa atenuação nos 1310 e 1490 nm como também está otimizada para
possuir baixas perdas devido a raios de curvatura.
[2] S. Lopes, “Fibra Óptica na Rede de Acesso: Cenários de Evolução,” (Tese de Mestrado),
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[33] T. J. Carvalho, “Uso das camadas físicas e de acesso para mapeamento de redes PON,”
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OUTROS TRABALHOS EM:
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