Você está na página 1de 51

Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.

CAPÍTULO 2

SUPRIMENTO ENERGÉTICO PARA TERMELÉTRICAS

Flávio Neves Teixeira


Electo Eduardo Silva Lora

2.1 - INTRODUÇÂO 2
2.2 - CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS 2
2.3 - PROPRIEDADES, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E PODER CALORÍFICO
DOS COMBUSTÍVEIS 2
2.4 - COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS 7
2.5 - PETRÓLEO 8
2.6 - ÓLEO COMBUSTÍVEL 14
2.7 - GÁS NATURAL 22
2.8 - CARVÃO MINERAL 32
2.9 - COMBUSTÍVEL NUCLEAR 44
2.10 - BIOMASSA 45
2.11 - COMBUSTÍVEIS SIDERÚRGICOS RESIDUAIS 48
2.12 - REFERÊNCIAS 50
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.2

2.1- INTRODUÇÃO
Este capítulo apresenta o conceito de combustível, os principais tipos utilizados no Brasil,
detalhando-se a composição química, o poder calorífico dos mesmos, suas reservas e consumo. Na
seqüência, detalham-se as características técnicas de alguns combustíveis brasileiros, tais como
petróleo e seus derivados, gás natural e carvões minerais, incluindo-se as especificações técnicas de
acordo com as normas brasileiras. Também se explana sobre a biomassa e o combustível nuclear, além
de gases siderúrgicos residuais.

2.2 - CONCEITO E CLASSIFICAÇÃO DOS COMBUSTÍVEIS


Combustível é toda a substância que em contato com o calor e um agente oxidante (geralmente o
oxigênio do ar) sofre reações químicas liberando energia térmica. As reações químicas ocorrem com
altas velocidades e com grande conversão de energia química em energia térmica.
Os combustíveis podem ser classificados segundo sua origem ou método de obtenção (Tabela
2.1) e segundo seu estado físico (Tabela 2.2).

Tabela 2.1 - Classificação dos combustíveis segundo a origem.


Origem Combustível natural Combustíveis derivados
Gás liquefeito de petróleo (GLP), gasolina, óleo Diesel, óleo
Petróleo
combustível e óleo residual
Fóssil
Carvão mineral Gases manufaturados, coque
Gás natural Gás natural liquefeito (GNL)
Resíduos agroindustriais Bagaço de cana, casca de arroz
Carvão vegetal, gases manufaturados, metanol, serragem, cavacos,
Natural Lenha
resíduos florestais
Resíduos animais Biogás
Urânio U-235, U-238
Nuclear
Tório Th-232

2.3 - PROPRIEDADES, COMPOSIÇÃO QUÍMICA E PODER CALORÍFICO DOS


COMBUSTÍVEIS
Os produtores e distribuidores de combustíveis devem fornecer aos consumidores os dados
correspondentes às características de seus produtos concernentes às análises laboratoriais de campo.
Essas características devem ser contratualmente acertadas e conferidas pelo consumidor a fim de
garantir o desempenho correto da central termelétrica, além de permitir o manuseio, transporte e
armazenagem adequados. Tratando-se de um combustível da mesma fonte, admite-se que estas
características (propriedades) permaneçam inalteradas ou com pequenas alterações.

Tabela 2.2 - Classificação dos combustíveis segundo o estado físico.


Estado físico Combustíveis
Sólido Carvão mineral, carvão vegetal, xisto, turfa, lenha
Líquido Gasolina, querosene, Diesel, óleos combustíveis
Gasoso Gás natural, GLP, biogás

Algumas propriedades são comuns a todos os combustíveis, enquanto outras são específicas.
Dentre as propriedades comuns se destacam o poder calorífico, a composição química elementar e
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.3

aproximada e o teor de enxofre e nitrogênio. Dentre as propriedades específicas pode-se destacar,


para o gás natural, a densidade relativa ao ar, o índice de Wobbe e a velocidade de chama. Para os
óleos combustíveis, a viscosidade, o ponto de fulgor, a densidade relativa e o ponto de fluidez. Para os
carvões minerais, a lavabilidade, a moabilidade e a fusibilidade das cinzas. As propriedades específicas
serão definidas quando se analisar os respectivos combustíveis.
A fim de se determinar a potencialidade de um combustível, e, portanto, saber se este está sendo
utilizado dentro de sua plena capacidade, deve-se primeiramente conhecer as suas características
fundamentais: composição química elementar e imediata. Além disso, como característica importante, o
tipo de base que se efetuou a análise. A Tabela 2.3, a seguir, apresenta as relações entre as diversas
bases.

2.3.1 - Composição química elementar:


A composição química elementar de uma amostra de combustível é o conteúdo, em
percentagem de massa ou volume, dos elementos que formam parte da composição química do
combustível, ou seja, carbono (C), hidrogênio (H2), enxofre (S), oxigênio (O 2), nitrogênio (N2), cinzas
(A) e umidade (W). A composição química elementar é determinada de acordo com os procedimentos
descritos na norma ASTM Standard Methods for the Ultimate Analysis of Coal and Coke, D3176-
74 (ASTM, 1983).
É a característica técnica mais importante do combustível e constitui a base para a análise dos
processos de combustão (cálculo do volume de ar necessário para a combustão, da quantidade de
gases gerada e da sua entalpia). Conhecendo-se esta característica pode-se também determinar o
poder calorífico do combustível, além de permitir avaliar o impacto ambiental da queima do mesmo.

2.3.2 - Composição química imediata:


A composição química imediata de uma amostra de combustível é o conteúdo, em percentagem
de massa ou volume, de carbono fixo (F), voláteis (V), cinzas (A) e umidade (W). A composição
química imediata é determinada de acordo com os procedimentos descritos nas normas ASTM
Standard Methods for the Ultimate Analysis of Coal and Coke, D3172-73 e D3175-73 (ASTM,
1983).
O conhecimento da composição química imediata é importante para o cálculo do projeto da
fornalha e das quantidades de ar primário e secundário necessários em função da percentagem de
voláteis. Também o teor de voláteis tem um papel importante durante a ignição e as etapas iniciais da
combustão de combustíveis sólidos.
O teor de umidade da amostra deve ser determinado por secagem, antes das respectivas análises
e pode ser realizado colocando-se a amostra até que a massa permaneça constante em uma estufa
calibrada para 105 ± 4 oC, segundo o Método ASTM D3173-73 (ASTM, 1983).

2.3.3 - Tipos de base para os dados da composição elementar e imediata:

2.3.3.1 - Base úmida ou de trabalho: identifica o combustível no seu estado natural, considerando-se
a umidade e os componentes químicos que ele possui no momento da queima. Aqui se denota esta
base com o subscrito ‘t’.
• elementar: Ct + H t + O t + N t + S t + A t + W t = 100%
• imediata: F t + V t + A t + W t = 100%
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.4

2.3.3.2 - Base seca: é o combustível sem umidade, após ter sido colocado na estufa conforme
descrito anteriormente. Aqui se denota esta base com o subscrito ‘s’.
• elementar: C s + H s + O s + N s + S s + A s = 100%
• imediata: F s + V s + A s = 100%

2.3.3.3 - Base analítica: é o combustível tal qual é analisado no laboratório, sem umidade externa
(Wext). Aqui se denota esta base com o subscrito ‘a’.
• elementar: C a + H a + O a + N a + S a + A a + W a = 100%
• imediata: F a + V a + A a + W a = 100%
sendo: W t = W ext + W a
A umidade externa é aquela que a amostra perde no trajeto até o laboratório, apenas sendo
exposta ao ar ambiente de menor umidade.

2.3.3.4 - Base combustível: é o combustível sem cinzas e sem umidade, considerando apenas os
principais componentes a serem oxidados. Esta base é importante para o carvão mineral, onde
amostras de uma mesma jazida diferenciam-se apenas pelo teor de cinzas e umidade. Aqui se denota
esta base com o subscrito ‘c’.
• elementar: C c + H c + O c + N c + S c = 100%
• imediata: F c + V c = 100%

Na prática, geralmente a composição do combustível está disponível como composição química


imediata, base úmida ou seca. Dessa forma, a Tabela 2.3 permite a conversão entre as diferentes
bases.

2.3.4 - Poder calorífico:


O poder calorífico de um combustível é a quantidade de energia que é liberada durante a
combustão completa da unidade de massa (1 kg) ou unidade de volume (1 Nm3) do combustível
podendo ser medida em kJ/kg (kcal/kg) ou kJ/Nm3 (kcal/Nm3). Quando se considera o calor latente
de vaporização do vapor de água gerado pela reação de combustão durante a queima do combustível
com o ar seco, refere-se ao poder calorífico superior (PCS) e quando não se considera este calor
latente está se referindo ao poder calorífico inferior (PCI). Entretanto, em instalações industriais,
geralmente a temperatura dos gases de saída é maior que a temperatura de condensação, portanto o
calor latente não é possível de ser recuperado. Devido a esta consideração, o PCI é de maior
aplicação para os cálculos de rendimento e viabilidade econômica.

Tabela 2.3 - Conversões da composição elementar de uma base para outra.


Base do combustível Base do combustível que se deseja obter (multiplicar vezes)
conhecida Úmida (de trabalho) Seca Combustível
100 100
Úmida (de trabalho) 1
100 − W t 100 − W t − A t
100 − W t 100
Seca 1
100 100 − A s
100 − W t − A t 100 − A s
Combustível 1
100 100
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.5

Vários autores têm-se dedicado a estabelecer relações entre a composição elementar e o poder
calorífico de um combustível. O cientista russo Mendeliev apresentou, já em 1897, uma fórmula geral
para a determinação do PCI (kJ/kg), base úmida, a partir da composição química elementar de
qualquer combustível.

PCI t = 339 ⋅ C t + 1.030 ⋅ H t − 109 ⋅ (O t − S t ) − 24 ⋅ W t [kJ/kg]

Borman e Ragland (1998) apresentam, para qualquer tipo de combustível, que a diferença
entre o PCS e o PCI de um combustível é obtida subtraindo o calor de vaporização da água nos
produtos, ou seja:

m agua
PCI = PCS − ⋅ h vap [kJ/kg]
m comb

sendo hvap (calor latente de vaporização da água) a 25 °C cerca de 2.400 kJ/kg. Por exemplo, para a
combustão do metano tem-se que um mol de metano (CH4) produz dois moles de água (H2O). A
massa de 1 kmol de CH4 é 16 kg e a de 2 kmol de H2O vale 36 kg.
Culp (1991) apresenta uma fórmula para o cálculo do PCS (kJ/kg) em função do PCI (kJ/kg) e
da fração em massa do hidrogênio e da umidade do combustível (base úmida) para qualquer tipo de
combustível, em base mássica.

PCS − PCI = 2.400.( W + 9 H t ) [kJ/kg]

Mason e Gandhi (1983 - apud Tomeczek, 1994) apresentam uma equação para o cálculo do
PCS (kJ/kg), em base seca, do carvão mineral com composição química elementar conhecida. Nesta
equação, deve-se utilizar a fração decimal dos constituintes do combustível.

PCS s = 34.095 ⋅ Cs + 132.298 ⋅ H s + 6.848 ⋅ S s − 1.531⋅ A s −11.996 ⋅ (O s + N s ) [kJ/kg]

Também para os combustíveis líquidos existem equações empíricas para o cálculo do PCS. Por
exemplo, Lloyd e Davenport (apud Lozano, 1980) apresentam uma equação onde o PCS (cal/kg)
pode ser determinado a partir da análise elementar em base seca:

PCS s = (8,552 ⋅ C s + 27,144 ⋅ H s - 2,02 ⋅ Os + 1,42 ⋅ N s + 2,674 ⋅ S s ) ⋅10 6 [cal/kg]

A determinação do PCS ou PCI de uma mistura de gases combustíveis é igual a soma do


produto da fração mássica ou volumétrica de um componente individual pelo respectivo PCS ou PCI
do componente. Dessa forma, se a composição conhecida está em base mássica, o PCS ou PCI deve
estar nas unidades kJ/kg ou kcal/kg ou outra unidade equivalente. Por outro lado, se a composição
conhecida está em base volumétrica, o PCS ou PCI deve estar nas unidades kcal/Nm3 ou kJ/Nm3 ou
outra unidade equivalente, ou seja:
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.6

n
PCS = ∑ PCSi ⋅ x i
s

i=1

ou

n
PCI s = ∑ PCI i ⋅ x i
i =1

Sendo:
PCSi = é o PCS de cada componente (Tabela 2.4);
PCIi = é o PCI de cada componente (Tabela 2.4);
xi = é a fração mássica ou volumétrica de cada componente.

Tabela 2.4 - Poder calorífico de alguns gases (Borman e Ragland, 1998 e Grigoriev e Zorin)
Gás PCS (MJ/Nm3) PCI (MJ/Nm3)
Metano (CH4) 37,06 33,38
Etano (C 2H6) 64,94 59,39
Propano (C 3H8) 92,40 85,06
Butano (C4H10) 119,82 110,62
Pentano (C 5H12) 158,20 146,00
Etileno (C2H4) 58,72 55,03
Propileno (C 3H6) 92,10 86,01
Butileno (C4H8) 121,12 113,20
Penteno (C 5H10) 150,80 141,00
Benzeno (C6H6) 146,10 140,00
Acetileno (C2H2) 54,06 52,24
Monóxido de carbono (CO) 11,77 11,77
Hidrogênio (H2) 11,90 10,06
P = 1 atm e T = 20 °C

Ravich (1977) sugere as seguintes equações para o cálculo do poder calorífico de combustíveis
gasosos em kcal/Nm3, sendo o valor dos gases considerados estando em porcentagem.

PCS = 30, 2 ⋅ CO s + 30,5 ⋅ H 2 s + 61⋅ H 2 S s + 95 ⋅ CH 4 s + 166 ⋅ C 2 H 6 s


+ 237 ⋅ C 3 H 8 s + 307 ⋅ C 4 H 10 s + 377 ⋅ C 5 H 12 s + 150 ⋅ C 2 H 4 s
+ 220 ⋅ C 3 H 6 s + 290 ⋅ C 4 H 8 s + 360 ⋅ C 5 H10 s + 350 ⋅ C 6 H 6 s

PCI = 30, 2 ⋅ CO s + 25,8 ⋅ H 2 s + 56 ⋅ H 2 S s + 85,5 ⋅ CH 4 s + 152 ⋅ C 2 H 6 s


+ 218 ⋅ C 3 H 8 s + 283 ⋅ C 4 H10 s + 349 ⋅ C5 H 12 s + 141 ⋅ C 2 H 4 s
+ 205 ⋅ C 3 H 6 s + 271⋅ C 4 H 8 s + 337 ⋅ C 5 H10 s + 335 ⋅ C 6 H 6 s
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.7

2.4 - COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS

Todos os combustíveis fósseis são resultados da fossilização da matéria orgânica vegetal. A


maior parte deles são hidrocarbonetos, e as composições típicas são: carbono, hidrogênio e oxigênio
(Tabela 2.5). Esses compostos com fórmula química geral Cx(H2O)y, são produzidos pelas plantas nos
processos de fotossíntese. A maior parte dos combustíveis fósseis foi gerada no período carbonífero
da Era Paleozóica (por volta de 325⋅106 milhões de anos atrás). Após a morte das plantas, os
compostos carboníferos foram convertidos, sob a ação de altas pressões e temperaturas, em
compostos hidrocarbonetos com fórmula geral CnHm.

Tabela 2.5 - Composição típica de alguns combustíveis.


C H O N, S, etc.
Petróleo ~ 75 ~ 25 - -
Gás Natural 84 ~ 86 11 ~ 14 0~3 0~5
Carvão Mineral 78 ~ 95 ~7 1 ~ 15 1~5
Lenha 49 6 43 ~1

Conforme apresentado na Tabela 2.1, os combustíveis fósseis podem ser divididos em três
classes gerais: petróleo (e seus derivados), gás natural e carvão mineral. Deve-se lembrar que estas
reservas são limitadas e sua duração está relacionada com o consumo e à descoberta de novas jazidas
e do estado da arte.
A Figura 2.1 apresenta as reservas de combustíveis fósseis para os diferentes continentes e
regiões do mundo, podendo-se observar que estas reservas estão distribuídas de uma maneira
extremamente desigual. Na Tabela 2.6 são apresentadas as reservas mundiais dos combustíveis fósseis,
enfocando a relação reservas/consumo que pode ser traduzida como o tempo em que se esgotariam
tais reservas. Pode-se constatar que as reservas de petróleo e gás, mantido a relação entre a produção
e o consumo existentes, se esgotariam em 39,0 e 63,7 anos, respectivamente (ANP, 1999). O carvão
mineral será o combustível mais utilizado nos próximos séculos, pois com o ritmo de consumo atual,
suas reservas devem durar 236 anos (OLADE, 1994). Porém, cabe ressaltar que o carvão mineral,
entre os combustíveis fósseis, é o mais poluente, daí o esforço no desenvolvimento de tecnologias
limpas.

Tabela 2.6 - Reservas comprovadas de petróleo e gás natural (ANP, 1999) e carvão mineral
(OLADE, 1994) no mundo.
Tipo de combustível Reservas Reservas/Consumo, anos
9
Petróleo (10 Barris) 1.053,1 39,0
12 3
Gás natural (10 m ) 146,4 63,7
9
Carvão mineral (10 tons) 1.039,2 236,0
]
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.8

Reservas em bilhões de TEP


250,0
Gás Natural
200,0 Petróleo

150,0 Carvão Mineral

100,0

50,0

0,0

a
te

lia
e

io
a

ic

ric
ib

op
or

éd


ét
ar

Áf
N

ur

st
vi
C

E
do

So

Au
e
e

nt
a
a

ão

e
rie
tin
ic

ia
ni
ér

O
La

Ás
U
Am

ica

a
tig
ér

An
Am

Figura 2.1 - Distribuição das reservas de combustíveis fósseis pelos diferentes continentes e regiões do
mundo (OLADE, 1999).

A seguir serão apresentadas as principais características de cada um dos principais


combustíveis fósseis, bem como um panorama do consumo e das reservas no Brasil e no mundo.

2.5 - PETRÓLEO

O petróleo é uma mistura de hidrocarbonetos que apresenta composição variável e dependente


de fatores geológicos tais como a localização da jazida, a idade, a profundidade, etc. É uma substância
líquida fóssil natural, de origem orgânica mista vegetal/mineral, formada no subsolo ao longo de milhares
de anos pela ação da temperatura e pressão. Os principais constituintes orgânicos do petróleo são os
alcanos (ou parafinas - CnH2n+2), ciclanos (ou naftênicos - CnH2n), aromáticos (anel benzênico),
compostos sulfurados, nitrogenados, oxigenados e metálicos e impurezas inorgânicas.
Até que o petróleo alcance os consumidores finais ele deve passar por, pelo menos, 5 atividades:
• Exploração: o ponto de partida na busca do petróleo é a exploração, que realiza os estudos
preliminares para a localização de uma jazida. Nesta fase é necessário analisar muito bem o solo e o
subsolo, mediante aplicações de conhecimentos de Geologia e de Geofísica, entre outros. A geologia
realiza estudos na superfície que permitem um exame detalhado das camadas de rochas onde possa
haver acumulação de petróleo. Quando se esgotam as fontes de estudos e pesquisas de Geologia,
iniciam-se, então, as explorações Geofísicas no subsolo;
• Perfuração: a perfuração é a segunda fase na busca do petróleo. Ela ocorre em locais previamente
determinados pelas pesquisas Geológicas e Geofísicas. Para tanto, perfura-se um poço - o poço
pioneiro - mediante o uso de uma sonda, que é o equipamento utilizado para perfurar poços. Esse
trabalho é feito através de uma torre que sustenta a coluna de perfuração, formada por vários tubos.
Na ponta do primeiro tubo encontra-se a broca, que, triturando a rocha, abre o caminho das camadas
subterrâneas. Comprovada a existência de petróleo, outros poços são perfurados para se avaliar a
extensão da jazida. Essa avaliação é que vai determinar se é comercialmente viável, ou não, produzir o
petróleo descoberto. Caso positivo, o número de poços perfurados forma um campo de petróleo;
• Produção: revelando-se comercial, começa a fase da produção naquele campo. Nesta fase, o óleo
pode vir à superfície espontaneamente, impelido pela pressão interna dos gases. Nesses casos temos os
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.9

chamados poços surgentes. Quando, entretanto, a pressão fica reduzida, são empregados processos
mecânicos, como, por exemplo, o cavalo-de-pau, equipamento usado para bombear o petróleo para a
superfície, além de outros. Os trabalhos em mar seguem os mesmos critérios aplicados em terra, mas
utilizam equipamentos especiais de perfuração e produção: as plataformas e os navios-sonda.
Junto à descoberta do petróleo pode ocorrer, também, a do gás natural. Nas bacias
sedimentares brasileiras, o gás natural, muitas vezes, encontra-se dissolvido no petróleo sendo
separado durante as operações de produção. Tecnicamente chama-se a isto de gás associado ao
petróleo. O petróleo e o gás descobertos não são totalmente extraídos (isto depende do nível de
desenvolvimento tecnológico e da implantação ou não de métodos de estimulação de poços. Em geral,
a média de extração num poço é de 40 % da reserva total). Boa parte deles pode ficar em
disponibilidade para futuras produções, em determinado momento estratégico. São chamadas de
reservas de petróleo e de gás. Dos campos de produção, seja em terra ou mar, o petróleo e o gás
seguem para o parque de armazenamento, onde ficam estocados. Este parque é uma grande área onde
se encontram instalados diversos tanques que se interligam por meio de tubulações;
• Refino: Refinar petróleo é separar suas frações, processá-lo, transformando-o em produtos de
grande utilidade: os derivados de petróleo. A instalação de uma refinaria obedece a diversos fatores
técnicos, dos quais destacam-se a sua localização nas proximidades de uma região onde haja grande
consumo de derivados e/ou nas proximidades das áreas produtoras de petróleo. A Petrobrás possui 11
refinarias, estrategicamente localizadas do norte ao sul do País (Figura 2.2). Responsáveis pelo
processamento de milhões de barris diários de petróleo, essas refinarias suprem nosso mercado com
todos os derivados que podem ser obtidos a partir do petróleo nacional ou importado: gasolina, óleos
combustíveis e outros;
• Transporte: o transporte na indústria petrolífera se realiza por oleodutos, gasodutos, navios
petroleiros e terminais marítimos. Oleodutos e gasodutos são sistemas que transportam,
respectivamente, o óleo e o gás, por meio de dutos (tubos) subterrâneos. Navios petroleiros
transportam gases, petróleo e seus derivados e produtos químicos. Terminais marítimos são instalações
portuárias para a transferência da carga dos navios para a terra e vice-versa.
Segundo Regulamento Técnico N° 001/2000 da Portaria da ANP nº 009 de 21 de janeiro de
2000 (PANP 009/2000), o Petróleo é definido como todo e qualquer hidrocarboneto líquido em seu
estado natural, a exemplo do óleo cru e condensado. Quanto às características físico-químicas, o
Petróleo pode ser considerado como toda mistura de hidrocarbonetos existentes na fase líquida nas
condições originais de reservatório e que permanece líquido nas condições normais de pressão e
temperatura na superfície, possuindo viscosidade absoluta menor ou igual a 10 [kg/m⋅s] (10.000
centipoises), medida nas condições de temperatura original do reservatório e pressão de superfície.
Quanto à densidade, referida a 20°C/20°C (temperatura petróleo/água), pode ser classificado
em (PANP 009/2000):
• Petróleo Leve - todo petróleo com densidade igual ou inferior a 0,87 (ou grau API igual ou
superior a 31°);
• Petróleo Mediano - todo petróleo com densidade superior a 0,87 e igual ou inferior a 0,92 (ou
grau API igual ou superior a 22° e inferior a 31°);
• Petróleo Pesado - todo petróleo com densidade superior a 0,92 e igual ou inferior a 1,00 (ou grau
API igual ou superior a 10° e inferior a 22°);
• Petróleo Extrapesado - todo petróleo com densidade superior a 1,00 (ou grau API inferior a 10°).
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.10

Figura 2.2 - Localização das refinarias da Petrobrás (1999).

O petróleo tal qual é extraído do subsolo é inadequado ao uso industrial, devendo ser submetido
a um processo de destilação fracionada separando produtos de emprego distintos (Figura 2.3). A
qualidade e característica do petróleo determinam a faixa de extração de cada componente principal,
embora existam processos, como o craqueamento, que permitem pequena variação no ajuste. A Figura
2.4 mostra típicos produtos finais a partir do petróleo bruto (Borman e Ragland, 1998).
O petróleo por ser um composto de ampla utilização tanto como combustível como também em
indústrias químicas onde se constitui matéria prima de vários produtos, tem sido na história mundial,
fonte de conflitos. Uma das principais razões desse problema reside na distribuição demográfica não
homogênea das reservas mundiais, conforme pode ser verificado na Tabela 2.7. Estes conflitos geraram
várias guerras e fizeram com que o preço do petróleo tenha atingido altos valores históricos, conforme
mostra a Figura 2.5.
No Brasil, segundo ANP (1999), o valor das reservas totais de petróleo para o ano de 1998 era
de 2,296⋅109 m3 (ou 14,441⋅109 barris), enquanto que o valor das reservas provadas situa-se em
1,170⋅109 m3 (ou 7,357⋅109 barris). Portanto, pode-se concluir que somente cerca de metade das
reservas totais descobertas são confirmadas. A produção nacional, segundo ainda dados da ANP, no
ano de 1998, estava por volta de 56,587⋅106 m3 (ou 355,921⋅106 barris) o que resulta em 40 anos
para se esgotar, considerando as reservas totais atuais ou por volta de 20 anos considerando apenas as
reservas provadas. A Tabela 2.8 apresenta os dados de reservas totais, provadas, e o consumo de
petróleo para cada região do Brasil, considerando ainda a sua procedência (mar ou terra). A Tabela
2.9 mostra os dados da produção de derivados de petróleo nas refinarias nacionais. Ambas as tabelas
foram baseadas nos dados fornecidos pelo anuário da ANP (1999).
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.11

Figura 2.3 - Curva de destilação do óleo cru e suas frações segundo a temperatura de evaporação dos
produtos (Leffler, 1985).

GLP (3,7%)

Gás de refinaria (2,9%)


Nafta (1,3%)

Gasolina automotiva (38,9%)

Gasolina de avião (0,2%)


Querosene de aviação (5,6%)
Querosene (0,8%)

Diesel e óleo combustível (18,2%)

Óleo combustível residual (16,6%)


Matéria prima para petroquímica (5,9%)
Graxas e lubrificantes (0,9%)
Asfalto (2,3%)
Coque, cera (2,5%)

Perdas brutas e gás (0,2%)

Figura 2.4 - Típicos produtos finais do petróleo bruto. Uma simples refinaria produz apenas alguns dos
produtos acima. As percentagens referem-se à produção global de uma refinaria “total” segundo
Borman e Ragland (1998).
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.12

Tabela 2.7 - Distribuição das reservas e da produção de petróleo no mundo. (ANP, 1999)
Reservas mundiais provadas de petróleo Produção mundial de petróleo
109 barris % 103 barris/dia %
Am. Latina e Caribe 137,5 13 10.290 14
África 75,4 7 7.713 10
Oriente Médio 673,7 64 22.464 31
Antiga União Soviética 65,4 6 7.660 10
América do Norte 37,3 4 10.691 15
Ásia e Oceania 43,1 4 8.368 11
Europa 20,7 2 6.853 9
Mundo 1.053,1 100 74.039 100

Tabela 2.8 - Dados de reservas totais, provadas e consumo de petróleo no Brasil. (ANP, 1999)
Reservas nacionais totais 103 Reservas nacionais provadas 10 3 Produção nacional 103
m3 (109 barris) m3 (109 barris) m3 (109 barris)
Terra 186.393 (1,18) 124.627 (0,78) 12.351 (0,078)
Amazonas 25.546 (0,16) 20.287 (0,13) 1.891 (0,013)
Ceará 4.469 (0,03) 838 (0,005) 186 (0,0012)
Rio Grande do Norte 62.730 (0,39) 37.215 (0,23) 5.011 (0,033)
Alagoas 2.961 (0,02) 2.001 (0,012) 247 (0,0016)
Sergipe 34.393 (0,22) 30.235 (0,19) 1.432 (0,01)
Bahia 43.994 (0,28) 28.921 (0,18) 2.867 (0,018)
Espírito Santo 12.300 (0,08) 5.130 (0,032) 516 (0,003)
Mar 2.109.462 (13,24) 1.045.083 (6,58) 44.235 (0,278)
Ceará 14.392 (0,09) 10.341 (0,07) 664 (0,004)
Rio Grande do Norte 19.017 (0,12) 9.425 (0,06) 477 (0,003)
Alagoas 527 (0,003) 439 (0,002) 35 (0,0002)
Sergipe 10.013 (0,06) 5.000 (0,03) 609 (0,004)
Bahia 1.990 (0,01) 1.727 (0,01) 97 (0,0006)
Espírito Santo 131 (0,001) 87 (0,0005) 32 (0,0002)
Rio de Janeiro 2.053.686 (12,9) 1.011.513 (6,38) 41.647 (0,262)
São Paulo 1.139 (0,007) 1.139 (0,007) 199 (0,0013)
Paraná 8.567 (0,05) 5.412 (0,003) 474 (0,0029)
Brasil 2.295.855 (14,4) 1.169.710 (7,36) 56.587 (0,356)
Obs: inclui óleo e condensado.

Tabela 2.9 - Produção de derivados de petróleo nas refinarias nacionais em 1998. (ANP, 1999)
Descrição 10 3 m3 10 9 barris
Gasolina automotiva 19.585,7 0,123
Gasolina de aviação 108,9 0,0007
Querosene iluminante 75,7 0,0005
Querosene de aviação 3.765,4 0,0237
Óleo Diesel 29.336,3 0,185
Óleo lubrificante 772,8 0,005
Solvente 426,3 0,003
Nafta 7.158,6 0,045
Óleo combustível 16.099,5 0,101
Gás liquefeito de petróleo 6.735,7 0,042
Parafina 126,5 0,0008
Asfalto 2.009,4 0,0126
Total 86.200,9 0,54
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.13

6 10
US$ por barril 12 13

1 2 3 4 5 7 8 9 11 14

90

80

70

60

50

40

30

20

10

1861 - 69 1870 - 79 1880 - 89 1890 - 99 1900 - 09 1910 - 19 1920 - 29 1930 - 39 1940 - 49 1950 - 59 1960 - 69 1970 - 79 1980 - 89 1990 - 98

Dólar de 1998 Dólar do dia

1 - ‘Boom’ do petróleo na Pensilvânia; 2 - Início das exportações de petróleo na Rússia; 3 - Início de produção na Sumatra; 4 - Descoberta de jazidas em Spindletop, Texas, 5 -
Medo de escassez nos EUA, 6 - Crescimento da produção na Venezuela; 7 - Descoberta de campos no leste do Texas; 8 - Reconstrução pós-guerra; 9 - Perda do fornecimento
Iraniano; 10 - Crise no canal de Suez; 11 - Guerra de Yom-Kippur - 1a crise (1973); 12 - Revolução Iraniana - 2a crise (1979); 13 - Netback pricing introduced; 14 - Invasão do
Kuwait pelo Iraque.

Figura 2.5 - Comportamento do preço do petróleo a partir de 1861 até 1998. (adaptado de BP Amoco, 1999)
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.14

2.6 - ÓLEO COMBUSTÍVEL

Entende-se por óleo combustível as frações residuais da destilação do petróleo. Quimicamente,


os óleos combustíveis são constituídos de hidrocarbonetos de peso molecular elevado, apresentando
constituintes parafínicos, naftênicos, aromáticos e oleofínicos, cujas proporções dependem do petróleo
e dos processos utilizados.
Os óleos combustíveis industriais no Brasil são produzidos basicamente a partir do resíduo de
destilação a vácuo. Em algumas refinarias, o resíduo de vácuo é ainda processado em unidades de
desasfaltação a propano, produzindo uma corrente denominada resíduo asfáltico (RASF) que é
também a base para a fabricação dos óleos combustíveis. Os resíduos de vácuo e asfáltico são
extremamente viscosos, sendo necessário adicionar a eles óleos mais leves de modo a enquadrar a
viscosidade do óleo combustível na faixa exigida pela legislação vigente.
O óleo combustível é um dos principais derivados do petróleo, sendo muito utilizado na
indústria, na geração de energia elétrica e em sistemas de aquecimento, devido principalmente ao seu
baixo preço. A Portaria da ANP nº 80, de 30 de abril de 1999 (PANP 080/99) especifica os óleos
combustíveis de origem nacional ou importada a serem comercializados em todo o território nacional, e
cujas especificações de que trata a portaria aplicam-se tanto aos óleos combustíveis de origem nacional
como aos importados. Ou seja, os óleos combustíveis comercializados em todo o território nacional
deverão estar de acordo com as especificações estabelecidas pelo regulamento técnico mencionado.
Os óleos combustíveis, especificados no presente Regulamento, são óleos residuais de alta
viscosidade, obtidos do refino do petróleo ou através da mistura de destilados pesados com óleos
residuais de refinaria. São utilizados como combustível pela indústria de modo geral, em equipamentos
destinados a geração de calor tais como fornos, caldeiras e secadores, ou indiretamente em
equipamentos destinados a produzir trabalho a partir de uma fonte térmica (turbinas ou geradores).
A utilização do óleo combustível para a geração de calor em fornos e caldeiras exige,
inicialmente, o seu aquecimento para reduzir a viscosidade, favorecendo o seu escoamento e a sua
nebulização. A atomização, ou seja, a redução do óleo a pequenas gotículas para propiciar o máximo
de mistura com o ar e sua vaporização, é feita através de sistemas auxiliares, utilizando-se queimadores
ou maçaricos. Para se obter uma boa combustão do óleo nos queimadores, é necessário que haja uma
atomização adequada do mesmo. Esta atomização pode ser feita mecanicamente ou através do uso de
um fluido dispersor como vapor ou ar comprimido. O parâmetro fundamental para uma maior ou menor
dificuldade de atomização do óleo é a sua viscosidade. A faixa usual de viscosidade que permite obter
uma queima eficiente é de 32 a 45 cSt (centistokes) no bico queimador (ANP, 2000). Assim, para
qualquer óleo, inclusive os ultraviscosos, basta aquecê-lo até uma temperatura específica para que a
sua viscosidade caia nesta faixa onde se terá uma boa queima. Além de serem manuseados aquecidos,
devem ser homogêneos, livres de ácidos inorgânicos e isentos, tanto quanto possível, de partículas
sólidas ou fibrosas, partículas estas que determinam a freqüência necessária da limpeza ou troca dos
filtros de combustíveis.
As características contempladas pela portaria PANP 080/99 são aquelas de maior importância
para a determinação do melhor desempenho deste produto e seu menor impacto ambiental, para as
finalidades em que sã mais comumente utilizados. Na seqüência é feita uma breve descrição das
mesmas:
• Viscosidade - a viscosidade de um fluido é a medida da sua resistência ao escoamento a uma
determinada temperatura. É uma das características de maior importância do óleo combustível, que
determinará as condições de manuseio e transporte (alimentação). Também é um parâmetro importante
no estudo da intercambiabilidade de combustíveis líquidos, permitindo definir o diâmetro da gota
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.15

quando necessário substituir por outro combustível. A viscosidade de um líquido pode mudar
apreciavelmente com uma mudança na temperatura do líquido, porém varia pouco com a pressão. Por
exemplo, sabe-se que um óleo quente está mais ‘fino’ do que um óleo frio. Assim, é necessário
conhecer sempre a temperatura do fluido quando a viscosidade é medida.
Pode ser medida diretamente por alguns aparelhos como o viscosímetro de Ostwald de
Covette. Na prática, geralmente mede-se a viscosidade relativa, referida a um fluido padrão, visto obter
resultados menos sensíveis a erros. O valor da viscosidade, neste caso, é expressa em unidades
arbitrárias, como é o caso da viscosidade em graus Engler, viscosidade Saybolt e graus Redwood
(Pera, 1990).
A viscosidade Engler mede-se pelo tempo que certa quantidade de óleo (200 ml), mantido à
temperatura constante, escoa através de um orifício calibrado, em condições padrões. Dividindo-se
este tempo, pelo obtido no escoamento de mesmo volume de água, mantido a 20 °C, pelo mesmo
orifício, obtém-se a viscosidade Engler, cujas temperaturas usuais são 20, 50 e 100 °C. A viscosidade
Saybolt corresponde ao tempo, em segundos, necessário para escoar uma amostra de 60 ml, a uma
determinada temperatura mantida constante durante o ensaio, através de um orifício calibrado. As
temperaturas de ensaio mais comuns são 10, 38 e 99 °C. Se o orifício for universal, a viscosidade será
denominada Viscosidade Saybolt Universal. Se o orifício for chamado Furol, o valor obtido fornecerá a
Viscosidade Saybolt Furol. O orifício Furol é 10 vezes maior que o orifício Universal e geralmente
aplicado nas determinações para derivados de petróleo que apresentam viscosidades maiores que do
que 1.000 segundos Saybolt Universal. A palavra Furol é a abreviação de “Fuel and Road Oils” (Pera,
1990). A Tabela 2.10 mostra a conversão das unidades de viscosidade para bases diferentes.

Tabela 2.10 - Conversão de unidades de viscosidade.


de para multiplicar por
Centipoise N⋅s/m2 10-3
Poise N⋅s/m2 0,1
kgf⋅s/m2 N⋅s/m2 9,80665
°Engler N⋅s/m2 ( 0,073 ⋅ ° E − 0,0631) ⋅10 −4
0,0631
°Engler Poise ( 0,073 ⋅ ° E − ) ⋅10 −6
°E
°Engler Redwood 30,75
°Engler Saybolt 34,55
Stokes (cm2/s) m2/s 10-4
Redwood °Engler 0,03254
Saybolt °Engler 0,02395
N⋅s/m2 kgf⋅s/m2 0,10197

• Enxofre - o teor de enxofre de um óleo combustível depende da origem do petróleo e do processo


através do qual foi produzido. Deve ser limitado por atuar nos processos de corrosão na fornalha (ou
câmara de combustão) e causar emissões poluentes (SOX);
• Água e Sedimentos - o excesso desses contaminantes poderá causar problemas nos filtros e
queimadores bem como formar emulsões de difícil remoção. A presença de água é também uma das
responsáveis pela corrosão nos tanques de estocagem. Na presente especificação (PANP 080/99) ela
é determinada somando-se os resultados obtidos nos ensaios de Água por Destilação e Sedimentos
por Extração;
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.16

• Ponto de Fulgor - é definido como a menor temperatura na qual o produto se vaporiza em


quantidades suficientes para formar com o ar uma mistura capaz de inflamar-se momentaneamente
quando se aplica uma centelha sobre a mesma. É um dado de segurança para o manuseio do produto e
uma ferramenta utilizada para detectar a contaminação do óleo combustível por produtos mais leves;
• Densidade Relativa a 20/4ºC - é a relação entre a massa específica do produto a 20°C e a massa
específica da água a 4°C. Como dado isolado tem pouco significado no que diz respeito ao
desempenho de queima do óleo combustível. No entanto, associado a outras propriedades pode-se
determinar o poder calorífico superior e desta maneira permitir a determinação da eficiência dos
equipamentos onde esta sendo consumido;
• Ponto de Fluidez - é a menor temperatura na qual o óleo combustível flui quando sujeito a
resfriamento sob condições determinadas de teste. Ele estabelece as condições de manuseio e
estocagem do produto. Especificam-se limites variados para esta característica, dependendo das
condições climáticas das regiões, de modo a facilitarem as condições de uso do produto;
• Teor de Vanádio - metal encontrado com freqüência no petróleo, sendo o seu limite máximo
especificado para o óleo combustível, a fim de se prevenir a formação de depósitos por incrustação nas
superfícies externas de tubos aquecidos. Estes depósitos causam a corrosão e a perda da eficiência
térmica dos equipamentos.
A verificação das características do óleo combustível far-se-á mediante o emprego de Normas
Brasileiras Registradas - NBR e Métodos Brasileiros - MB da Associação Brasileira de Normas
Técnicas - ABNT e dos métodos da American Society for Testing and Materials - ASTM,
observando-se sempre os de publicação mais recente. A análise do produto deverá ser realizada em
amostra representativa do produto segundo método ASTM D 4057 - Practice for Manual Sampling of
Petroleum and Petroleum Products.
As Tabelas 2.11, 2.12, 2.13, 2.14 2.15, 2.16 e 2.17 a seguir apresentam as normas específicas
para cada uma das propriedades descritas anteriormente, ou seja, viscosidade cinemática, ponto de
fulgor, densidade, água e sedimentos, enxofre, ponto de fluidez e teor de vanádio, respectivamente.

Tabela 2.11 - Viscosidade cinemática.


NBR Produtos de petróleo - Líquidos transparentes e opacos - Determinação da
10441:1998 viscosidade cinemática e cálculo da viscosidade dinâmica.
NBR 5847:1973 Material betuminoso - Determinação da viscosidade absoluta.
MB 326 Método de ensaio para determinação da viscosidade de produtos de petróleo.
ASTM D 2171 Test Method for Viscosity of Asphalts by Vacuum Capillary Viscometer.
Test Method for Kinematic Viscosity of Transparent and Opaque Liquids (and the
ASTM D 445
Calculation of Dynamic Viscosity).
ASTM D 88 Test Method for Saybolt Viscosity.

Tabela 2.12 - Ponto de fulgor.


MB 48 Determinação do Ponto de Fulgor (Método pelo vaso fechado Pensky Martens).
ASTM D 93 Test Method for Flash Point by Pensky - Martens Closed Cup Tester.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.17

Tabela 2.13 - Densidade.


NBR 7148:1992 Petróleo e Derivados - Determinação da densidade - Método do densímetro.
NBR Destilados de petróleo e óleos viscosos - Determinação da massa específica e da
14065:1998 densidade relativa pelo densímetro digital.
Practice for Density, Relative Density (Specific Gravity) or API Gravity of Crude
ASTM D 1298
Petroleum and Liquid Petroleum Products by Hydrometer Method.
ASTM D 4052 Test Method for Density and Relative Density of Liquids by Digital Density Meter.

Tabela 2.14 - Água e sedimentos.


NBR Produtos de petróleo e materiais betuminosos - Determinação do teor de água por
14236:1998 destilação.
Test Method for Water in Petroleum Products and Bituminous Materials by
ASTM D 95
Distillation.
Método de ensaio para a determinação de sedimentos em petróleos e óleos
MB 294
combustíveis -Método por Extração.
ASTM D 473 Test Method for Sediment in Crude Oils and Fuel Oils by the Extraction Method.

Tabela 2.15 - Enxofre.


MB 902 Determinação de enxofre em produtos de petróleo-Método de alta temperatura.
ASTM D 1552 Test Method for Sulfur in Petroleum Products (High -Temperature Method).
ASTM D 2622 Test Method for Sulfur in Petroleum Products by X - Ray Spectrometry.
Test Method for Sulfur in Petroleum Products by Energy Dispersive X - Ray
ASTM D 4294
Fluorescence Spectroscopy

Tabela 2.16 - Ponto de fluidez.


NBR 11349:1990 Produtos de petróleo - Determinação do ponto de fluidez.
ASTM D 97 Test Method for Pour Point of Petroleum Products.

Tabela 2.17 - Teor de Vanádio.


Test Method for Determination of Nickel, Vanadium, Iron, and Sodium in Crude
ASTM D 5863
Oils, and Residual Fuels by Flame Atomic Absorption Spectrometry.
Test Method for Determination of Nickel, Vanadium, and Iron in Crude Oils and
ASTM D 5708
Residual Fuels by Inductively Coupled Plasma Atomic Emission Spectrometry

A partir de 1986 os óleos combustíveis no Brasil passaram a ser classificados em dois grandes
grupos: o grupo “A” e o grupo “B”. No grupo “A” concentravam-se aqueles com alto teor de enxofre
(maiores do que 1 % e menores do que 5,5 %), e no grupo “B” concentravam-se aqueles de baixos
teores de enxofre (menores ou iguais a 1 %). Cada um destes grupos dividia-se em nove tipos de
óleos, de acordo com suas viscosidades. Existia ainda o óleo tipo “C”, de viscosidade muito baixa e
sem especificação do teor de enxofre. Portanto, eram especificados dezenove tipos de óleo. A Tabela
2.18 apresenta alguns deles (os mais utilizados para a geração de calor e energia elétrica) bem como as
suas principais características.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.18

Tabela 2.18 - Características dos Óleos Combustíveis produzidos pela Petrobras. (CSN, 2000)
Óleo Viscosidade Densidade (20 Enxofre Ponto de Ponto de PCS PCI
combustível (SSF) 50 oC o
C/4 oC) (% peso) fulgor fluidez (kcal/kg) (kcal/kg)
(Tipo) (máx.) (oC) (oC)
1A 600 1,003 2,20 85 13 10.221 9.663
2A 900 1,007 2,80 105 6 10.088 9.552
3A 2.400 1,010 2,85 103 14 10.079 9.552
4A 10.000 1,013 3,50 100 > 50 10.218 9.663
7A 300.000 1,027 4,30 160 > 50 10.140 9.597
8A 1.000.000 1,030 4,90 240 > 50 9.716 9.419
1B 600 0,965 0,80 82 7 10.428 9.838
2B 900 0,976 0,74 85 12 10.107 9.819
3B 2.400 0,979 1,00 80 32 10.628 10.008
4B 10.000 0,980 1,00 92 > 50 10.534 9.919
7B 300.000 1,015 0,91 240 > 50 10.224 9.686

Tabela 2.18 (continuação) - Características dos Óleos Combustíveis produzidos pela Petrobras.
(CSN, 2000)
Óleo Cinzas Asfalteno Resíduo Metais (ppm) Composição (% peso)
combustível (% peso) (% peso) carbono
(Tipo) (% peso) Sódio Vanádio Cálcio Potássio Ferro Carbono Hidrogênio

1A 0,07 6,5 11,7 33 94 6,0 3,0 15 85,2 10,8


2A 0,05 5,7 11,3 22 77 2,6 3,2 19 85,3 10,4
3A 0,06 6,5 8,7 22 122 7,7 2,2 30 85,8 10,3
4A 0,06 7,3 9,5 23 192 5,0 3,0 25 86,2 10,2
7A 0,09 8,4 12,4 56 235 8,0 5,0 24 86,5 10,7
8A 0,05 8,5 6,2 15 170 8,0 7,0 21 86,9 11,0
1B 0,04 7,0 12,5 16 40 2,2 0,1 15 85,6 11,3
2B 0,02 5,7 9,8 26 39 4,6 2,2 13 87,3 11,1
3B 0,04 7,8 8,2 100 41 9,0 6,0 23 87,1 11,4
4B 0,05 8,1 10,3 27 46 7,0 4,0 18 87,4 11,2
7B 0,05 8,2 15,5 41 53 8,0 0,6 23 86,1 11,1
1) - Os valores representam a média dos produtos produzidos pelas refinarias;
2) - Por se tratarem de produtos residuais os valores são garantidos conforme Regulamento Técnico n o 09/82 - Rev.1
da Resolução CNP 03/86.

Dos dezenove tipos de óleo especificados, apenas quatro (1 A, 1 B, 2 A e 2 B) respondem por


cerca de 65 % do mercado. Os demais óleos são de distribuição regional, restritos às áreas de
influência das refinarias. Este fato, aliado à necessidade de adequação da especificação do óleo
combustível aos padrões internacionais e à nova política de preços, fez com que fosse realizada uma
nova especificação para este produto, publicada na Portaria da ANP nº 80, de 30 de abril de 1999
(PANP 080/99). De acordo com esta portaria, apenas quatro tipos de óleo foram especificados,
conforme Tabela 2.19. As siglas OCB1 e OCA1 significam, respectivamente, óleo combustível com
baixo teor de enxofre e baixa viscosidade e óleo combustível com alto teor de enxofre e baixa
viscosidade. As siglas OCB2 e OCA2 significam, respectivamente, óleo combustível com baixo teor de
enxofre e alta viscosidade e óleo combustível com alto teor de enxofre e alta viscosidade.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.19

Tabela 2.19 - Especificação de óleos combustíveis. (PANP 080/99)

MÉTODO TIPO
CARACTERÍSTICA UNIDADE
ABNT ASTM OCB1 OCA1 OCB2 OCA2
Viscosidade Cinemática a 60°C, NBR 10441 /
mm²/s (cSt) D445 / D2171 620 620 960 960
máxima NBR 5847
Viscosidade Saybolt Furol a 50°C,
SSF MB 326 D88 600 600 900 900
máxima
D1552 / D2622 /
Enxofre, máximo % massa MB 902 1,0 2,5 1,0 2,5
D4294
Água e Sedimentos, máximo (3) % volume MB 37 / MB294 D95 e D473 2,0 2,0 2,0 2,0
Ponto de Fulgor, mínimo °C MB 48 D93 66 66 66 66
NBR 7148 / NBR
Densidade 20/4°C - D1298 / D4052 Anotar Anotar Anotar Anotar
14065
Ponto de Fluidez Superior, máximo °C NBR 11349 D97 (4) (4)
Vanádio, máximo mg/kg D5863 / D5708 200 200 200 200
Observações: (1) Todos os limites especificados são valores absolutos, de acordo com a norma ASTM E 29. (2) A
comercialização de óleos combustíveis com viscosidades e teores de enxofre diferentes dos indicados nesta tabela
deve atender ao disposto no artigo 4º desta Portaria. (3) É reportado como teor de água e sedimentos a soma dos
resultados dos ensaios de água por destilação e sedimentos por extração. Uma dedução no volume fornecido deverá
ser feita para toda a água e sedimentos que exceder a 1% vol. (4) O ponto de fluidez superior deverá ser, no máximo,
igual ao indicado na Tabela que se segue:

Ponto de fluidez superior, [°C]. (PANP 080/99)


Unidades da Federação Dez, Jan, Fev, Mar Abr, Out, Nov Mai, Jun, Jul, Ago, Set
DF-GO-MG-ES-RJ 27 24 21
SP-MS 24 21 18
PR-SC-RS 21 18 15
Demais regiões 27 27 24

Com relação ao teor de enxofre, ficaram vedadas a comercialização e a utilização, em todo o


território nacional, de óleos combustíveis com teores superiores aos estabelecidos abaixo, observando
as datas limites:
• 1,0% em massa: nas regiões metropolitanas de São Paulo, Baixada Santista, Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, conforme o seguinte cronograma:
a partir de 01/05/1999 - São Paulo e Baixada Santista; a partir de 01/07/1999 - Belo Horizonte; a
partir de 01/11/1999 - Rio de Janeiro; a partir de 01/01/2000 - Porto Alegre e Curitiba
• 2,5% em massa: nas demais regiões do País;
Esta nova especificação para o óleo combustível, cujas características e limites demonstram um
avanço na qualidade em relação aos limites anteriormente especificados, foi o início de um processo de
qualificação do óleo combustível, a fim de atender aos padrões internacionais. Segundo dados da
Petrobrás, o valor da qualidade média dos atuais óleos produzidos por ela, baseados na média de
todas as refinarias, pode ser observado na Tabela 2.20.
Comparando-se a especificação antiga com a atual pode-se notar algumas diferenças:
com relação ao teor de enxofre foram especificados dois tipos de óleo: 1,0 % e 2,5 %, equivalentes
aos anteriores “B” (até 1,0 % S) e “A” (até 5,0 % S), respectivamente. Além disso, a comercialização
de óleos com teores de enxofre acima de 2,5 % até o limite de 4,0 % só serão permitidos mediante ao
atendimento da legislação ambiental vigente;
• quanto a viscosidade, foram especificados dois tipos: 620 e 960 centistokes, equivalentes aos
antigos óleos 1 e 2;
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.20

• o vanádio, um dos metais de maior influência na corrosão nos equipamentos durante o processo de
combustão do óleo, foi finalmente contemplado na especificação brasileira, tal e como é feito em vários
países;
• o limite mínimo especificado para o controle do ponto de fulgor, característica fundamental de
segurança para o manuseio do produto, está compatível com os níveis médios internacionais.

Tabela 2.20 - Valor da qualidade média dos OC produzidos na Petrobras. (Petrobras, 2000)
TIPO Dens. Enxofre P. Fulgor Cinzas BSW Visc 60ºC PCS PCI Asfalteno V C H N
20/4 (% p) (ºC) (% p) (% v) (cSt) kcal/kg kcal/kg (% p) (ppm) (%p) (%p) (%p)
A1 1,03 2,8 95 0,05 0,10 568,4 9.981 9.487 7,3 77 87,1 9,5 0,5
B1 0,95 0,6 98 0,02 0,04 524,6 10.340 9.820 4,7 23 87,0 12,0 0,5
A2 1,03 3,1 97 0,06 0,08 823,2 9.988 9.502 8,1 105 86,3 9,4 0,5
B2 0,98 0,8 80 0,05 0,09 899,1 10.150 9.660 6,5 70 87,2 11,2 0,6
3A 1,04 2,8 102 0,06 0,09 2.055 9.983 9.505 9,4 115 87,3 9,5 0,6
3B 0,99 0,6 105 0,01 0,01 1.935 10.360 9.840 7,6 22 87,0 10,5 0,4
4A 1,04 2,9 113 0,05 0,09 6.009 9.998 9.545 9,8 80 86,4 9,6 0,6
6B 0,99 0,6 106 0,01 0,01 32.857 10.350 9.840 8,6 26 87,4 10,4 0,3
7A 1,06 2,9 131 0,06 0,09 127.177 9.992 9.544 12,2 144 86,1 10,0 0,8
7B 1,05 0,9 130 0,05 0,12 140.498 10.100 9.620 9,4 75 87,1 11,1 0,7
9A 1,07 1,2 128 0,05 0,08 3.688.736 10.042 9.525 15,1 84 87,3 10,2 1,1
Obs: Os valores são uma média dos óleos de um mesmo tipo produzido por todas as Refinarias da Petrobras, não
servindo para caracterizar a qualidade produzida por uma Refinaria.

As Figuras 2.6, 2.7, 2.8, 2.9, 2.10 e 2.11 apresentam uma comparação entre os dados
mencionados na especificação PANP 080/99, com relação a algumas especificações internacionais
(ANP, 2000). A sequência entre as barras do gráfico e a legenda é: barras - da esquerda para a direita
e legenda - de cima para baixo.

Viscosidade a 50 °C (cSt) - máximo

Tailândia
960 Japão/N. Zelândia
Austrália
Filipinas
620 630 USA/Canadá
530 R. Dominicana
432 Brasil (OC-A)
260 Argentina
180 200 Brasil (OC-B)
80

Figura 2.6 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais da viscosidade a 50 °C (cSt),


considerando os valores máximos. (ANP, 2000)
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.21

Teor de enxofre (% m) - máximo


Japão
4,5 Suécia
4 USA/Canadá/Alemanha
3,5 Brasil (OC-B)
Dinamarca
3
Argentina
2,5
Brasil (OC-A)
Tailândia
1,5 1,5
UK/N. Zelândia
1 1
0,8 Filipinas
0,4 R. Dominicana

Figura 2.7 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do teor de enxofre (% em


massa), considerando os valores máximos. (ANP, 2000)

Ponto de fulgor (°C) - mínimo

101 Argentina/Suécia
Filipinas
N. Zelândia
66 68 70 Austrália
62 63 65
60 Brasil/USA/Canadá
UK/Dinamarca
Japão
Alemanha

Figura 2.8 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do ponto de fulgor (°C),
considerando os valores mínimos. (ANP, 2000)

Ponto de fluidez (°C) - máximo

Argentina
50 Japão
42 R. Dominicana/Austrália
40
Filipinas/N. Zelândia
30 Brasil/Dinamarca
27 UK/Suécia
24
20 21 Alemanha
18
USA/Canadá
Japão

Figura 2.9 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do ponto de fluidez (°C),
considerando os valores máximos. (ANP, 2000)
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.22

Vanádio (mg/kg)

450
N. Zelândia
USA/Canadá
300 Filipinas
Brasil
200 200 Austrália
175 UK
120 125 R. Dominicana

Figura 2.10 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do teor de vanádio (mg/kg),
considerando os valores máximos. (ANP, 2000)

PCI (kcal/kg) - mínimo calculado

9654
9598 9606
Brasil (OC-A)

9397 9403 9414 9420 UK


9334 Austrália
Filipinas
N. Zelândia
9032 Brasil (OC-B)
Suécia
Alemanha
USA/Canadá

Figura 2.11 - Comparação segundo diferentes especificações mundiais do poder calorífico inferior,
considerando os valores mínimos calculados. (ANP, 2000)

2.7 - GÁS NATURAL

Gás natural é todo hidrocarboneto ou mistura de hidrocarbonetos que permaneça em estado


gasoso nas condições atmosféricas normais (PANP 009/2000), resultantes da decomposição da
matéria orgânica fóssil no interior da Terra. No seu estado bruto, como encontrado na natureza, o gás
natural é composto principalmente por metano, além de apresentar proporções de etano, propano,
butano, hidrocarbonetos mais pesados e também, porém em menores proporções, CO2, N2, H2S,
água, ácido clorídrico e outras impurezas. É extraído diretamente a partir de reservatórios petrolíferos
ou gasíferos, incluindo gases úmidos, secos, residuais e gases raros. A proporção em que o petróleo e
o gás natural se encontram misturados na natureza varia muito. Pode ocorrer petróleo com muito pouco
gás associado, bem como jazidas em que há quase exclusivamente a presença do gás natural.
Quando há predominância do petróleo, quem define as condições de exploração da jazida é a
produção de petróleo e, então, o gás natural associado (gás natural produzido de jazida onde ele é
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.23

encontrado dissolvido no petróleo ou em contato com petróleo subjacente saturado de gás - PANP
009/2000), dissolvido no óleo ou sob forma de capa de gás, é um subproduto da produção do
primeiro. Não havendo condições econômicas para o aproveitamento do gás natural, ele é reinjetado
na jazida ou queimado em queimadores de segurança (flare), para se evitar uma atmosfera rica em
gases combustíveis nas vizinhanças das instalações de produção. Quando o gás é dominante, ou seja,
gás natural não associado (gás natural produzido de jazida de gás seco ou de jazida de gás e
condensado (gás úmido) - PANP 009/2000), aquele que, no reservatório, está livre ou em presença de
quantidades muito pequenas de óleo, o seu aproveitamento econômico é condição essencial ao
desenvolvimento da produção. As maiores ocorrências de gás no mundo são de gás não associado ao
petróleo. A Figura 2.12 representa cada uma das categorias deste combustível.

Gás livre
Gás livre
Capa de gás

Gás em solução Gás

Gás + Óleo
Gás em solução
Gás + Óleo

Água Água

Reservatório produtor de Óleo e Gás Reservatório produtor de Gá s

Figura 2.12 - Reservatórios de gás associado e gás não associado.

Até chegar ao consumidor final, o gás natural passa pelos seguintes processos: (CONPET,
2000)
• Exploração: a exploração é a etapa inicial do processo e consiste em duas fases: a pesquisa, onde é
feito o reconhecimento e o estudo das estruturas propícias ao acúmulo de petróleo e/ou gás natural, e a
perfuração do poço, para comprovar a existência desses produtos em nível comercial;
• Produção: ao ser produzido, o gás deve passar inicialmente por vasos separadores, que são
equipamentos projetados para retirar a água, os hidrocarbonetos que estiverem em estado líquido e as
partículas sólidas (pó, produtos de corrosão, etc.). Daí, se estiver contaminado por compostos de
enxofre, o gás é enviado para unidades de dessulfurização, onde esses contaminantes serão retirados.
Após essa etapa, uma parte do gás é utilizada no próprio sistema de produção, em processos
conhecidos como reinjeção e gás lift, com a finalidade de aumentar a recuperação de petróleo do
reservatório. O restante do gás é enviado para processamento, que é a separação de seus
componentes em produtos especificados e prontos para utilização. A produção do gás natural pode
ocorrer em regiões distantes dos centros de consumo e, muitas vezes, de difícil acesso, como, por
exemplo, a floresta amazônica e a plataforma continental. Por esse motivo, tanto a produção como o
transporte são, normalmente, atividades críticas do sistema. Em plataformas marítimas, por exemplo, o
gás deve ser desidratado antes de ser enviado para terra, para evitar a formação de hidratos, que são
compostos sólidos que podem obstruir os gasodutos. Outra situação que pode ocorrer é a reinjeção do
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.24

gás para armazenamento no reservatório se não houver consumo para o mesmo, como na Amazônia.
Atualmente, dez estado da Federação possui sistemas de produção de gás natural, sendo o Rio de
Janeiro o maior deles;
• Processamento: nesta etapa, o gás segue para unidades industriais, conhecidas como UPGN
(Unidades de Processamento de Gás Natural), onde ele será desidratado (ou seja, será retirado o
vapor d'água) e fracionado;
• Transporte: no estado gasoso, o transporte do gás natural é feito por meio de dutos ou, em casos
muito específicos, em cilindros de alta pressão (como GNC - gás natural comprimido). No estado
líquido (como GNL - gás natural liquefeito), pode ser transportado por meio de navios, barcaças e
caminhões criogênicos, a -160 °C, e seu volume é reduzido em cerca de 600 vezes, facilitando o
armazenamento. Nesse caso, para ser utilizado, o gás deve ser revaporizado em equipamentos
apropriados.
• Distribuição: a distribuição é a etapa final do sistema, quando o gás chega ao consumidor, que pode
ser residencial, comercial, industrial ou automotivo. Nesta fase, o gás já deve estar atendendo a
padrões rígidos de especificação e praticamente isento de contaminantes, para não causar problemas
aos equipamentos onde será utilizado como combustível ou matéria-prima.
O manuseio do gás natural requer alguns cuidados, pois ele é inodoro, incolor, inflamável e
asfixiante quando aspirado em altas concentrações. Geralmente, para facilitar a identificação de
vazamentos, compostos à base de enxofre são adicionados ao gás em concentrações suficientes para
lhe dar um cheiro marcante, mas sem lhe atribuir características corrosivas, num processo conhecido
como odorização. Por já estar no estado gasoso, o gás natural não precisa ser atomizado para queimar.
Isso resulta numa combustão limpa, com reduzida emissão de poluentes e melhor rendimento térmico, o
que possibilita redução de despesas com a manutenção e melhor qualidade de vida para a população.
Quanto à fase em que se encontra em subsuperfície, o gás natural pode ser classificado em
(PANP 009/2000):
• Gás Livre - todo gás natural que se encontra na fase gasosa nas condições originais de pressão e
temperatura do reservatório;
• Gás em Solução - todo gás natural que se encontra em solução no petróleo nas condições originais
de pressão e temperatura do reservatório.
Quanto à existência em um sistema monofásico ou bifásico, o gás natural pode ser classificado em
(PANP 009/2000):
• Gás Seco - todo hidrocarboneto ou mistura de hidrocarbonetos que permaneça inteiramente na
fase gasosa em quaisquer condições de reservatório ou de superfície;
• Gás Úmido - todo hidrocarboneto ou mistura de hidrocarbonetos que, embora originalmente na
fase gasosa, venha a apresentar a formação de líquidos em diferentes condições de reservatório ou de
superfície.
O gás natural é o insumo básico da indústria da Gasoquímica, similar à Petroquímica, que produz
uma série de produtos químicos utilizados na indústria, porém com um espectro de produtos ainda
maior. Para a Gasoquímica, os componentes do gás natural podem ser agrupados em material não
hidrocarbonado (inertes), gás seco (metano, etano, propano), gases liquefeitos de petróleo (propano,
iso-butano e n-butano) e gasolina natural (iso-butano e n-heptano). Esta separação é feita de acordo
com a demanda de mercado.
O gás natural extraído de uma jazida precisa ser tratado inicialmente para que apresente
condições comercialmente adequadas e/ou especificadas para o uso. Tanto o gás natural não associado
extraído, quanto o gás associado recuperado, constituem-se no que se costuma denominar de gás
natural úmido, já que contêm em suspensão, pequenas quantidades de hidrocarbonetos que são
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.25

líquidos nas condições atmosféricas. Este último é composto predominantemente de metano, etano e,
em menores proporções, de propano e outros hidrocarbonetos de maior peso molecular, apresentando
contaminantes como nitrogênio, dióxido de carbono, água e compostos de enxofre.
O tratamento inicial, também denominado secagem do gás natural, normalmente realizado junto à
jazida, é feito em unidades de processamento de gás natural (UPGN), resultando, de um lado, gás
natural seco e de outro, líquidos de gás natural (LGN) (Figura 2.13). Durante o processo de secagem
do gás natural nas UPGN, são também removidos contaminantes ou reduzidos seus teores, para
atender às especificações do mercado. Esses tratamentos são muito eficazes, razão pela qual o gás
natural seco (que forma o gás processado ou residual e sob a qual é normalmente comercializado e,
simplificadamente, chamado de gás natural) é composto de uma mistura de metano e etano, com
reduzidas proporções de outros hidrocarbonetos e contaminantes. Os líquidos de gás natural (LGN)
correspondem às frações que se liquefazem facilmente, como o propano e o butano que são líquidos
nas condições ambientais e apresentam alto valor comercial, sendo aproveitados como gás liquefeito de
petróleo (GLP - utilizado no Brasil como combustível doméstico) e um produto na faixa de gasolina,
denominado C5+ ou gasolina natural (utilizada para a formulação de gasolinas automotivas e como
matéria prima para as unidades petroquímicas). Os processos de tratamento de gás vêm-se tornando
mais complexos e mais caros, para atender às exigências cada vez maiores do ponto de vista ambiental
(qualidade do ar) e, ao mesmo tempo, para permitir o aproveitamento de reservas onde o gás
apresenta maior teor de impurezas (Abreu e Martinez, 1999).

Figura 2.13 - Esquema de uma UPGN. (www.petrobras.com.br)

O uso do gás natural como combustível em substituição a praticamente todos os demais


combustíveis, especialmente pela facilidade de seu manuseio e pelo efeito ambiental limitado de sua
queima, é dominante. Enumerar as vantagens desta utilização pode ser um exercício bastante complexo,
mas fundamental para a escolha dos diversos tipos de combustíveis disponíveis no mercado. Uma
listagem das vantagens do uso do gás natural, aplicada às condições brasileiras, é apresentada a seguir:
(adaptado de Abreu e Martinez, 1999)
1) - Vantagens macroeconômicas:
• diversificação da matriz energética;
• disponibilidade ampla, crescente e dispersa;
• redução do uso do transporte rodo-ferro-hidroviário;
• atração de capitais de riscos externos;
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.26

• melhoria do rendimento energético;


• maior competitividade das indústrias;
• geração de energia elétrica junto aos centros consumidores.

2) - Vantagens ambientais e de segurança:


• baixíssima presença de contaminantes;
• combustão mais limpa;
• não emissão de particulados (cinzas);
• não exige tratamento dos gases de combustão;
• rápida dispersão de vazamentos;
• emprego em veículos automotivos diminuindo a poluição urbana.
3) - Vantagens diretas para o usuário:
• fácil adaptação das instalações existentes;
• menor investimento em armazenamento/uso de espaço;
• menor corrosão dos equipamentos e menor custo de manutenção;
• menor custo de manuseio do combustível;
• combustão facilmente regulável;
• elevado rendimento energético;
• pagamento após o consumo;
• custo competitivo com outras alternativas.
Porém, para poder usufruir destas, algumas características próprias devem ser avaliadas as quais
constam na Portaria No 41 de 15/03/1998, (PANP 041/98). Na seqüência detalham-se, de forma
sucinta, estas propriedades:
• Densidade Relativa: é a densidade do gás relativa ao ar nas mesmas condições de temperatura e
pressão. O gás natural, em comparação com o óleo combustível, requer operação cuidadosa, sob o
ponto de vista de combustão espontânea. Porém, quando comparado ao GLP (DR > 1,0) é mais
seguro, pois tem densidade relativa em torno de 0,6 e, enquanto o GLP tende a se acumular no piso, o
gás natural, sendo mais leve que o ar, tende a se dispersar com maior facilidade;
• Massa Molecular Aparente: massa de 1 mol da mistura gasosa, levando-se em consideração a
contribuição de seus componentes individuais. Geralmente expressa em g/mol;
• Relação Gás/Ar: é a relação volumétrica entre a quantidade de gás e a quantidade de ar utilizada
na combustão, nas mesmas condições de pressão e temperatura. É um parâmetro importante para
determinar se a mistura se apresenta com falta de ar, excesso de ar ou na relação estequiométrica
teórica comumente apresentada nas unidades de m3 de gás/m3 de ar;
• Velocidade da Chama: é a velocidade que a chama se propaga na mistura
comburente/combustível. É um parâmetro que varia de acordo com o tipo de combustível e que se
apresenta desde um máximo, quando a mistura estiver com sua relação próxima da estequiométrica,
com leve excesso de comburente; até um mínimo, quando a chama desaparece por falta ou excesso de
combustível ou comburente. Geralmente se apresenta nas unidades de m/s ou cm/s;
• Limites de Inflamabilidade: o limite máximo (superior) de inflamabilidade do gás natural é de 15%,
em volume de gás no ar atmosférico e o limite mínimo (inferior) é de 5%, sendo sua temperatura de
ignição da ordem de 750°C. Desse modo, os estreitos limites de inflamabilidade associados a sua alta
temperatura de ignição, fazem com que os riscos de explosões, nos casos de vazamento de gás natural,
sejam bastante limitados;
• Índice de Wobbe: é o parâmetro mais importante para os combustíveis gasosos serem
intercambiáveis, relacionando o poder calorífico e a raiz quadrada da densidade relativa (DR) do
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.27

combustível. Ou seja, se o índice de Wobbe de um combustível substituto é significantemente diferente


do combustível de projeto, o queimador deve ser modificado.
Observe que o número de Wobbe tem a ver com a quantidade de energia por volume que é
possível passar por determinado orifício para uma queda de pressão correspondente. Assim, se dois
combustíveis gasosos forem fornecidos com a mesma pressão e tiverem o mesmo índice de Wobbe, a
potência fornecida será a mesma para os dois combustíveis. A grande maioria dos sistemas de
combustão de gases de aplicação industrial requer que os gases tenham o mesmo índice de Wobbe e a
relação PCI / VolTot iguais para que possam ser intercambiáveis. A relação PCI / VolTot representa a
razão entre o poder calorífico de um gás e o volume de gases de combustão gerados (N 2, CO2 e H2O)
pela queima estequiométrica. Na Figura 2.14 apresenta-se esta relação para alguns gases de aplicação
industrial, adaptado de IPT (1995). Nesta, CO significa monóxido de carbono, CH4 metano, C2H6
etano, C3H8 propano, C4H10 butano, GN gás natural, COG gás de coqueria, GAF gás de alto-forno e
GLP gás liquefeito de petróleo. Analisando-se a Figura 2.14 observa-se que alguns destes gases
podem ser intercambiáveis sem que seja necessária a substituição do queimador, constituindo-se numa
propriedade importante na hora de escolher o tipo de combustível a ser adotado.

4,5

4
PCI / VolTot

3,5

2,5

2
G

r
0
6

F
N
4
O

a
1
2H

3H
H

A
O
G
C

+
C

G
C
C

P
C

L
G

Figura 2.14 - Relação PCI / VolTot para alguns gases de aplicação industrial. (IPT, 1995)

A composição do gás natural pode variar conforme a origem, influindo, além das características
próprias do campo de origem, o fato do mesmo estar associado ou não ao óleo e também de ter sido
ou não processado em unidades industriais. Para um gás associado, define-se como RGO a razão entre
os volumes produzidos de gás associado e óleo, conhecendo-se, desta forma, a característica do
reservatório. A Tabela 2.21 apresenta o valor da razão gás/óleo de alguns estados brasileiros e de
alguns campos.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.28

Tabela 2.21 - Razão gás óleo para algumas regiões brasileiras.


Região / Campo RGO (m3 gás/m3 óleo)
Brasil 137
Amazonas 500
Ceará / Rio Grande do Norte 120
Alagoas / Sergipe 280
Bahia 220
Espírito Santo 260
Rio de Janeiro 100
Juruá > 10.000
Merluza 4.100
Urucu 500
Tubarão 400
Albacora 120
Marlim 90
Equivalência energética: 1 m3 de óleo = 1.000 m3 de gás
De acordo com o departamento de produção da Petrobrás, a composição média típica do gás
natural brasileiro, segundo o tipo de reservatório ou processamento, caracteriza-se conforme a Tabela
2.22. A Tabela 2.23 apresenta a composição média e algumas características do gás natural para
diferentes países e a Tabela 2.24 apresenta as características do gás natural em outros estados
brasileiros.

Tabela 2.22 - Composições típicas do gás natural brasileiro e do Rio de Janeiro.


% Molar
Brasileiro (média) Diferentes campos
Elementos
Não- Não- Processado
Associado Processado Associado 1 2 3
Associado Associado
Metano 68,07 91,98 87,59 81,57 87,12 88,56
Etano 16,29 3,24 9,13 9,17 6,35 9,17
Propano 9,36 1,15 0,36 5,13 2,91 0,42
Iso-Butano 1,57 0,25 - 0,94 0,52 -
N-Butano 2,11 0,29 - 1,45 0,87 -
Iso-Pentano 0,49 0,11 - 0,26 0,25 -
N-Pentano 0,40 0,07 - 0,30 0,23 -
Hexano 0,22 0,06 - 0,15 0,18 -
Heptano e Superiores 0,08 0,04 - 0,12 0,20 -
Nitrogênio 0,69 1,34 1,18 0,52 1,13 1,20
Dióxido de Carbono 0,72 1,47 1,74 0,39 0,24 0,65
Densidade relativa 0,82 0,62 0,62 0,71 0,66 0,61
PCS (MJ/Nm3) - - - 45,80 42,80 39,98
PCI (MJ/Nm3) 46,73 35,06 35,53 41,52 38,72 36,09
1- Campo de Garoupa, Bacia de Campos-RJ; 2- Campo de Merluza, Bacia de Santos-SP; 3- UPGN, Candeias-BA.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.29

Tabela 2.23 - Composição bruta de alguns tipos de gás natural no mundo. (www.gasnet.com.br)
Composição Pérsia Mar do Norte Holanda Venezuela Argentina Chile
Metano (% vol) 66,0 94,7 81,2 78,1 95,0 90,0
Etano (% vol) 14,0 3,0 2,9 9,9 4,0 6,6
Propano (% vol) 10,5 0,5 0,4 5,5 - 2,1
Butano (% vol) 5,0 0,2 0,1 2,8 - 0,8
> C4 (% vol) 2,0 0,2 0,1 2,1 - -
CO2 (% vol) 1,5 0,1 0,9 0,4 - -
N2 (% vol) 1,0 1,3 14,4 1,2 1,0 -
Densidade relativa 0,87 0,59 0,64 0,702 0,578 0,64
PCS (MJ/Nm3) 52,3 38,6 31,4 47,7 40,7 45,2
Índice de Wobbe (MJ/Nm3) 56,1 50,2 39,3 56,9 53,5 56,6

Tabela 2.24 - Composição bruta de alguns tipos de gás natural brasileiros (www.gasnet.com.br)
Composição Rio de Janeiro Bahia Nordeste Espírito Santo Ceará
Metano (% vol) 86,4 85,5 87,15 84,8 76,05
Etano (% vol) 9,6 8,4 9,2 8,9 8,0
Propano (% vol) 1,9 0,3 0,5 3,0 7,0
Butano (% vol) 0,25 - - 0,9 2,5
> C4 (% vol) 0,23 - - - 1,8
CO2 (% vol) 0,49 0,7 1,15 0,3 1,08
N2 (% vol) 1,14 1,86 2,02 1,58 1,53
Densidade 0,82 0,64 0,624 0,66 -
PCS (MJ/Nm3) 43,9 41,6 41,8 45,4 52,4
Índice de Wobbe (MJ/Nm3) 48,4 52,1 52,9 55,7 -

Além de sua composição e pureza, são características técnicas fundamentais: a densidade


relativa ao ar, o poder calorífico, o índice de Wobbe, o ponto de orvalho de água, o ponto de orvalho
dos hidrocarbonetos, o teor de compostos sulfurosos, o teor de CO2, o teor de CO, o teor de
hidrogênio e o teor de oxigênio. A Tabela 2.25 apresenta algumas destas características do gás natural
fornecido pela Comgás proveniente da Bolívia (www.comgas.com.br). Também nesta tabela foram
incluídos os dados de composição do gás natural a ser fornecido para a Usina Termelétrica de
Uruguaiana pela YPF através do gasoduto Argentina - Brasil via entrada em Uruguaiana/RS (dados
fornecidos pela AES Uruguaiana Empreendimentos Ltda.). Finalmente, ainda contemplando as
características de gases, a Tabela 2.26 apresenta um quadro comparativo entre o gás natural e outros
gases.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.30

Tabela 2.25 - Algumas das importantes características do gás natural da Bolívia distribuído pela
Comgás (www.comgas.com.br) e do gás natural da Argentina fornecido pela YPF (AES, 2000).
Bolívia Argentina
Propriedades Bolívia Argentina Composição média
(% vol) (% molar)
PCS (MJ/Nm3) 41,62 39,05 Metano 91,80 91,54
PCI (MJ/Nm3) 37,59 - Etano 5,58 4,13
Densidade relativa (ar = 1) 0,602 0,616 Propano 0,97 0,92
Massa molecular aparente (g/mol) 17,367 - Iso-Butano 0,03 0,16
3
Índice de Wobbe (MJ/Nm ) 53,64 49,75 N-Butano 0,02 0,25
3 3
Relação gás/ar (m /m ) 1 / 9,96 - Pentano 0,10 0,12
Velocidade de chama (cm/s) 49,4 - Dióxido de Carbono 0,80 1,80
Limite de inflamabilidade superior * 14,9 - Nitrogênio 1,42 0,995
Limite de inflamabilidade inferior * 4,8 -
* - (% de gás no ar)

Considerando a necessidade de assegurar a qualidade do gás natural a ser utilizado no País e,


também, de viabilizar o uso de combustíveis alternativos menos poluentes nos grandes centros urbanos,
a Agência Nacional do Petróleo (ANP) elaborou a Portaria N° 41 de 15/03/1998, (PANP 041/98).
Esta trata da necessidade de estabelecer normas técnicas para a especificação do gás natural a ser
comercializado no País, tanto de origem interna como também externa. A Tabela 2.27 apresenta as
especificações que o gás natural deve atender.
Na seqüência, a Tabela 2.28 mostra os valores das reservas e da produção mundial total e por
região de gás natural. Na Tabela 2.29, são apresentados dados de reservas totais, provadas e a
produção nacional de gás natural para cada região do Brasil.

Tabela 2.26 - Comparação entre o gás natural e outros gases. (CONPET, 2000)
Gás natural GLP Gás de rua Gás de refinaria
(manufaturado)
processos de refino de
destilação de
reforma termocatalítica petróleo (craqueamento
reservatórios de petróleo e petróleo e
Origem de gás natural ou de catalítico, destilação,
de gás não associado processamento de
nafta petroquímica reforma e coqueamento
gás natural
retardado)
Peso molecular 17 a 21 44 a 56 16 24
rico: 45,64
PCS (MJ/Nm3) 100,48 a 133,98 18,00 41,87
(processado: 38,94)
Densidade
0,58 a 0,72 1,50 a 2,0 0,55 0,82
relativa
hidrogênio, metano,
Principais nitrogênio, monóxido de hidrogênio, nitrogênio,
metano, etano propano, butano
componentes carbono, dióxido de metano, etano
carbono
residencial, comercial,
industrial,
automotivo e geração
Principais residencial e residencial e comercial industrial (combustível
termelétrica: (combustível)
utilizações comercial (combustível) e petroquímica)
industrial: (combustível,
(combustível)
petroquímica e siderúrgica)
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.31

Tabela 2.27 - Especificações técnicas do gás natural segundo ANP. (PANP 041/98)
GRUPOS
CARACTERÍSTICAS (1) UNID. MÉTODOS
B (baixo) M (médio) A (alto)
33.440 a 36.780 a 41.800 a
Poder calorífico superior (PCS) kJ/m 3 ASTM D 3588
37.620 42.640 52.250
Densidade relativa ao ar 0,54 a 0,60 0,55 a 0,69 0,66 a 0,82 ASTM D 3588
3 ASTM D 5504 ou
Teor de Gás Sulfídrico (H2 S), máx. mg/m 20 20 20
ISO 6326-3
Teor de Enxofre (H2 S e enxofre 3 ASTM D 5504 ou
mg/m 80 80 80
mercaptídico), máx. ISO 6326-3
% ASTM D 1945 ou
Teor de Dióxido de Carbono (CO2 ), máx. (2) 2 2 2
volume ISO 6974
(3) % ASTM D 1945 ou
Teor de Inertes, máx. 4 4 4
volume ISO 6974
% ASTM D 1945 ou
Teor de Oxigênio (O2 ), máx. 0,5 0,5 0,5
volume ISO 6974
(4)
Pto de orvalho de água, 1atm, máx ºC - 45 - 45 - 45 ASTM D 5454
Obs.: (1) - Limites especificados são valores referidos a 20ºC a 101,33 kPa (1 atm), exceto onde indicado; (2) - Para as Regiões Norte e
Nordeste, admite-se o valor de 3,5; (3) - Para as Regiões Norte e Nordeste, admite-se o valor de 6,0; (4) - Para as Regiões Norte e
Nordeste, admite-se o valor de - 39.

Tabela 2.28 - Distribuição das reservas e da produção de gás natural no mundo. (ANP, 1999)
Reservas mundiais provadas - GN Produção mundial de GN
109 m3 % 109 m3/ano %
Mundo 146.386 100 2.296,4 100
Am. Latina e Caribe 8.006 6 138,7 6
África 10.220 7 85,9 4
Oriente Médio 49.530 33 140,3 6
Antiga União Soviética 56.700 39 688,5 30
América do Norte 6.550 5 693,1 30
Ásia e Oceania 10.170 6 236,2 10
Europa 5.210 4 313,9 14

Tabela 2.29 - Dados de reservas totais, provadas e consumo de gás natural em cada região do Brasil no ano de 1998.
(ANP, 1999)
Reservas nacionais totais Reservas nacionais provadas Produção nacional
(10 9 m3) (10 9 m3) (10 9 m3)
Terra 157,14 98,18 3,79
Amazonas 96,77 59,96 0,62
Ceará 0,00086 0,00086 0,001
Rio Grande do Norte 4,67 3,77 0,33
Alagoas 10,28 8,18 0,54
Sergipe 1,14 0,90 0,06
Bahia 40,36 22,26 1,91
Espírito Santo 3,12 2,31 0,29
Paraná 0,80 0,80 0,05
Mar 252,66 127,76 7,04
Ceará 1,81 1,44 0,14
Rio Grande do Norte 19,69 13,21 0,11
Alagoas 1,29 0,98 0,67
Sergipe 6,96 4,16 0,74
Bahia 3,52 2,55 0,03
Espírito Santo 5,64 3,49 0,003
Rio de Janeiro 205,86 94,42 4,54
São Paulo 50,66 5,66 0,14
Paraná 2,22 1,84 0,65
Brasil 409,81 225,94 10,83
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.32

Analisando-se os dados da Tabela 2.29, fornecidos pela ANP (1999), o valor das reservas
totais de gás natural para o ano de 1998 é de 409,81⋅109 m3, enquanto que o valor das reservas
provadas situa-se em 225,94⋅109 m3. Portanto pode-se concluir que somente uma parte das reservas
totais descobertas é confirmada. A produção nacional, segundo ainda dados da ANP, no ano de 1998,
estava por volta de 10,83⋅109 m3 o que resulta em 38 anos para se esgotar, considerando as reservas
totais atuais, ou por volta de 21 anos, considerando apenas as reservas provadas.
Lembrando-se que em 1995, o setor elétrico brasileiro estava diante de uma grave crise, com
riscos de déficit de energia crescentes que poderiam comprometer o pleno atendimento de mercado,
vários estudos foram realizados e algumas medidas tomadas, a fim de viabilizar o desenvolvimento
econômico do País. Uma destas medidas foi o aumento da oferta de gás natural e o incentivo à geração
descentralizada com unidades menores e modulares próximas ao ponto de consumo.
O Gasoduto Bolívia - Brasil é uma das ações tomadas pelo MME com o objetivo de viabilizar
o aumento da oferta de energia elétrica, em especial termelétrica. É o maior, mais importante e mais
complexo projeto da Gaspetro (Petrobras Gás S.A.) e, por isso mesmo, o que exigiu, até o momento,
o maior volume de recursos. Com 3.150 quilômetros de extensão e um custo total em torno de US$ 2
bilhões, a rede de dutos passa pelos Estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, sendo que o traçado do gasoduto foi criteriosamente estudado e
seguindo orientações do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/Rima), do Ibama. Até o ano de 2007,
serão 30 milhões de metros cúbicos diários de gás natural transportados e consumidos por milhares de
indústrias e residências e que possibilitarão, nos próximos anos, a implementação de novas usinas
termelétricas. Serão, inicialmente, 30 City-gates (pontos de entrega do gás às distribuidoras) assim
distribuídos: três no Mato Grosso do Sul, treze em São Paulo, um no Paraná, nove em Santa Catarina
e quatro no Rio Grande do Sul. A Figura 2.15 apresenta o mapa do trecho do gasoduto Bolívia -
Brasil, bem como os demais gasodutos brasileiros, além dos principais sul americanos.
Em parceria com a iniciativa privada, está sendo construído, como parte do projeto de
importação de gás natural da Argentina, o Gasoduto Uruguaiana - Porto Alegre, com 615 quilômetros
de extensão e capacidade para transportar até 12 milhões de metros cúbicos/dia de gás natural. O
gasoduto deverá entrar em operação no final do ano 2000 e será interligado ao Gasoduto Bolívia -
Brasil nas proximidades de Porto Alegre. Outros empreendimentos importantes que estão sendo
desenvolvidos são os gasodutos Urucu - Coari na Amazônia e Guamaré - Pecém e Pilar-Cabo na
Região Nordeste. O gás natural de Urucu, sob concessão da Gaspetro, vai garantir a geração de 930
MW na Amazônia Legal, utilizando cinco milhões de metros cúbicos/dia de gás natural, oriundos dos
campos de Urucu e de Juruá, na Bacia do Solimões, no Alto Amazonas.

2.8 - CARVÃO MINERAL

Substância mineral, rica em carbono, contendo ainda, menores quantidades de oxigênio, enxofre
e nitrogênio. É a segunda fonte de energia primária mais utilizada no mundo, logo depois do petróleo.
Na indústria pode ser usado como combustível nas centrais termelétricas ou como redutor (para a
produção do ferro gusa) nas siderúrgicas. Neste último caso, a destilação do carvão (tratamento
térmico em retortas especiais onde o carvão é colocado sob pressão), ocorre desprendimento de gases
e o volume da substância sólida se contrai um pouco, facilitando a retirada do coque. Este processo de
destilação fornece gases combustíveis, alcatrão e ácido pirolenhoso, substâncias com as quais pode-se
obter naftalina, fertilizantes, tintas, perfumes, plásticos, etc.
O carvão é fruto de um processo geológico, onde durante milhares de anos substâncias orgânicas
foram decompondo-se pela ação de microorganismos. O resultado deste processo é uma substância
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.33

rica em carbono. Bazzo (1995) apresenta uma classificação de acordo com o teor de voláteis. Nela,
designa-se por carvão betuminoso todo o carvão com alto teor de matérias voláteis (acima de 18 %).
Segue-se o carvão sub-betuminoso (matérias voláteis entre 10 e 18 %) e o antracito (matérias voláteis
entre 5 e 10 %). Montgomery (1995) apresenta uma classificação de acordo com a Figura 2.16. Nesta
figura, os dados representados por um “triângulo” representam os carvões de Cabo Frio e Rezende, os
dados representados por um “quadrado” representam os carvões de Rio Grande do Sul, Paraná e
Santa Catarina e os demais são aqueles apresentados por Montgomery. Da Silva (1992) apresenta um
enquadramento do carvão sul brasileiro (Tabela 2.30) levando-se em consideração as diversas
classificações mundiais.
O carvão nacional caracteriza-se por um baixo poder calorífico e elevado teor de cinzas e
enxofre, variando de acordo com a mina onde é explorado. A presença destes componentes não é
desejada por implicarem numa série de inconvenientes de ordem ecológica ou material. O enxofre, se
combinado com o vapor de água, forma ácido sulfúrico, atacando as partes mais frias da unidade
geradora de vapor, e sendo emitido à atmosfera em forma de óxidos de enxofre, que é um poluente
nocivo à saúde humana e dos vegetais e precursor da chuva ácida. A cinza, dependendo da
temperatura na câmara de combustão, pode fundir e se aglomerar junto às superfícies de aquecimento
da caldeira o que prejudica a transferência de calor (fusibilidade das cinzas).
Em termos gerais, a combustão do carvão implica na emissão de fuligem, óxidos sulfurosos,
metais tóxicos e compostos orgânicos carcinogênicos, necessitando-se, portanto, de métodos de
controle ambiental para a sua utilização. A quantidade de enxofre do carvão tal e como extraído da
jazida, ROM, varia entre 0,5 % e 8 %. Estes carvões normalmente são laváveis o que possibilita a
redução das cinzas e do enxofre. A jazida de Candiota, no Rio Grande do Sul, é a maior do País. Seu
carvão apresenta reduzida lavabilidade, sendo consumido pulverizado, com teores da ordem de 53 %
de cinzas e 1,58 % de enxofre. O principal uso do carvão mineral nacional é a geração de energia
elétrica. Outros usos menos significativos ocorrem nas indústrias de siderurgia, cimento, petroquímica,
celulose, cerâmica e de alimentos.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.34

Figura 2.15 - Principais gasodutos brasileiros - interligações na América do Sul.


(www.petrobras.com.br)

40000
Antracito

Betuminoso

30000
PCS (kJ/kg)

Sub-betuminoso

20000

Lignito

10000

0
10 20 30 40 50 60 70 80

% Carbono no carvão

Figura 2.16 - Tipos de carvão mineral em função do PCS e da percentagem de carbono.


Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.35

Tabela 2.30 - Enquadramento dos carvões sul brasileiros nas diversas classificações mundiais. (Da
Silva, 1992)
Sistema Classificação Parâmetros principais considerados
Americana Sub-betuminoso (RS) Poder calorífico
Alto volátil (SC e PR) Poder aglomerante
Francesa “Flambant sec” Materiais voláteis e índices de inchamento
Alemã “Flammkohle” Matérias voláteis e poder refletor
Russa “Chama longa - tipo D” Matérias voláteis
Polonesa “Grupo 30 - Gasowoplomienny” Matérias voláteis, poder aglutinante e poder
calorífico
Inglesa “High volatile”

A classificação brasileira é baseada na designação comercial do carvão usado em cada Estado,


havendo entre os mesmos uma diferenciação quanto às características, como a sua origem, teor de
cinzas, granulometria, poder calorífico, estágio de beneficiamento ou destinação final do consumo.
Estas especificações são estabelecidas pelo Ministério de Minas e Energia, através da Portaria CNP-
DIPLAN no 100, de 01/04/1987, e que orienta a comercialização do carvão nacional. De acordo com
a portaria, define-se:
• carvão pré-lavado (CPL): é um carvão obtido pela lavagem do carvão mineral bruto e que a
atende uma série de especificações;
• carvão metalúrgico: é um carvão coqueificável resultante da lavagem do carvão mineral bruto ou
pré-lavado e que também atende a uma série de especificações;
• carvão energético: é o carvão não coqueificável que também deve atender a uma série de
especificações, conforme mostra a Tabela 2.31.

Tabela 2.31 - Especificações dos carvões energéticos brasileiros. (Da Silva, 1992)
Características CE6000 CE5900 CE5200 CE4700 CE4500 CE4200 CE3700 CE3300 CE3100
PCS (b.s.) [kcal/kg] 5.700 5.900 5.200 4.700 4.500 4.200 3.700 3.150 2.950
Umidade max. [%] 15 20 10 19 10 19 15 17 15
Cinzas max. [%] 25 22 35 35 43 40 47 54 57
Enxofre max. [%] 6,5 1,5 2,5 1,5 3,5 1,5 1,5 1,5 1,0

As Tabelas 2.32 e 2.33 apresentam valores da composição química de alguns carvões minerais
nacionais. A Tabela 2.34 indica dados de propriedades de carvões internacionais para que se possa
avaliar e comparar os carvões minerais nacionais com alguns estrangeiros.

Tabela 2.32 - Análise Imediata de alguns carvões brasileiros. (CNP, 1978)


Origem do carvão
Charqueadas
Propriedade Candiota (RS) Leão (RS) Vapor (SC) Paraná (PR)
(RS)
PCS (kcal/kg) 2.600-3.200 3.100 4.300 3.800-4.500 7.100-7.280
Umidade (%) 12-17 6,4-6,8 5,5 5-7 5,8-13,6
Voláteis (%) 19,3-23,0 19,0-22,7 25,6 20,0-23,7 26,4-36,4
Carb. Fixo (%) 27,5-28,4 27,5-30,8 34,8 37,7-42,1 49,8-60,4
Cinzas (%) 50,1-52,6 46,5-53,3 39,6 35,4-44,0 9,1-13,8
Enxofre (%) 0,7-2,9 0,7-0,8 2,6 2,9-3,6 3,3-6,0
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.36

Tabela 2.33 - Características do carvão mineral brasileiro (UNICAMP, 1999). Os dados assinalados
com * (GERASUL, 2000).
Origem C (%) S (%) H2 (%) N2 (%) O2 (%) Cinza (%) Umidade (% ) Voláteis (%) PCS (kcal/kg)
Butiá 42,88 1,35 - - - 13,59 11,51 32,02 -
Jacuí 49,82 0,85 - - - 21,18 9,58 19,42 -
Tubarão 40,79 1,10 - - - 28,21 1,90 29,10 -
Criciúma 46,90 1,63 - - - 23,64 1,50 27,96 -
Rio Grande Sul 46,00 12,99 4,05 0,29 9,27 27,40 11,00 - 4.750
Paraná 56,60 2,00 3,11 0,80 17,73 25,76 15,00 - 6.340
S. Catarina 51,80 3,60 3,34 0,52 7,58 33,09 10,00 - 6.310
Cabo Frio 20,50 - - - - - 15,80 42,00 2.895
Rezende 12,60 - - - - - 12,00 33,2 2.520
CE - 3.100* 33,80 0,61 2,41 0,65 10,03 52,50 12,65 20,10 3.160
CE - 4.500* 46,29 2,01 3,06 0,95 4,09 42,98 - 21,72 4.515
Os termos em branco representam propriedades não avaliadas.

Tabela 2.34 - Propriedades de alguns carvões internacionais. (Babcock & Wilcox, 1992 e Niño,
1992)
Propriedade Austrália África do Sul Espanha Colômbia
PCS (kcal/kg) 5.370 6.760 3.388 7.000 - 8.000
Carbono (%) 56,60 69,70 37,02 (nd)
Hidrogênio
3,50 4,50 2,75 (nd)
(%)
Nitrogênio (%) 1,22 1,60 0,88 (nd)
Enxofre (%) 0,35 0,70 7,46 0,35 - 1,0
Cinzas (%) 24,00 10,10 38,69 1,0 - 6,0
Oxigênio (%) 7,43 9,10 11,39 (nd)
Umidade (%) 6,90 4,30 1,80 2,0 - 7,0
Voláteis (%) 24,80 35,30 45,27 34,0 - 39,0
Carb. Fixo (%) 44,30 50,30 14,24 65,0 - 60,0

Segundo relatório do Ministério da Ciência e Tecnologia - Caracterização Tecnológica de


Carvões Minerais (1995), a metodologia NBR 8293 da ABNT é utilizada para a determinação do teor
de umidade de um carvão mineral, enquanto que a NBR 8289 descreve a metodologia para a
determinação do teor de cinzas e a NBR 8290 determina a matéria volátil. O teor de carbono fixo é a
fração residual do carvão mineral descontados os teores de cinzas, umidade e matéria orgânica e
determinado através da NBR 8299. A determinação do teor de enxofre pode ser realizada através das
normas NBR 8294, NBR 8295, NBR 8296 e NBR 8297.
Durante ensaios com os carvões nacionais apresentados ao CNP (1977), concluiu-se o seguinte:
• Os carvões das minas do Rio Grande do Sul apresentam teores de cinzas na faixa de 50 %,
considerando-se toda a camada (carvão ROM); os carvões de Santa Catarina apresentam teores
semelhantes;
• A lavabilidade dos carvões do Rio Grande do Sul mostra diferenças notáveis: enquanto que os de
Candiota e Charqueadas apresentam dificuldades em separar a matéria carbonosa e a matéria inerte
(cinzas), os carvões da mina do Leão mostram uma distinção mais nítida entre essas duas camadas,
resultando em um beneficiamento de maior facilidade;
• A moabilidade dos carvões, que revela a facilidade de moagem dos mesmos, foi considerada
excelente sendo eles inclusive, aptos à pulverização;
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.37

• Outro aspecto analisado nos ensaios diz respeito à fusibilidade das cinzas. Esta propriedade
apresentou as seguintes temperaturas (oC) como resultado:

Candiota 1 Candiota 2 Leão3 CE 3.100 CE 4.500


Atmosfera (oC) Redutora Oxidante Redutora Oxidante Redutora Oxidante Oxidante Oxidante
o
Amolecimento ( C) 1.405 1.440 1.460 1.470 1.460 1.480 1.560 1.500
Fusão (oC) >1.500 >1.500 >1.500 >1.500 >1.500 >1.500 > 1.600 > 1.550
Fluidez (oC) >1.500 >1.500 >1.500 >1.500 >1.500 >1.500 > 1.600 > 1.550
1 - camada superior; 2 - camada inferior; 3 - camada total.

O carvão é um combustível que apresenta variado teor de cinzas e voláteis, dependendo da


região na qual foi extraído. O tipo brasileiro, como já mencionado, é caracterizado por um alto teor de
cinzas e voláteis (betuminoso). O conhecimento da composição elementar das cinzas permite
determinar alguns fatores com relação à fusibilidade da mesma o qual é um parâmetro altamente
necessário para o projeto da fornalha. O comportamento da matéria mineral durante a combustão é
caracterizado pela temperatura correspondente a pontos específicos durante um aquecimento lento
(por volta de 8 K/min) de amostras padrões de cinzas (tipo pirâmide, cone ou cubo). Usualmente, estas
temperaturas são: temperatura de deformação inicial (ponto de amolecimento), hemisférica (ponto de
fusão) e de fluidez (ponto de fluidez), conforme mostra a Figura 2.17.

T ambiente T inicial T hemisférica T fluidez


deformação
Figura 2.17 - Exemplo de amostra tipo cone a temperaturas características

Geralmente, cinzas de carvão com alto valor da temperatura de fluidez são benéficas para
câmaras de combustão com remoção no estado sólido, enquanto que aquelas com baixo valor da
temperatura de fluidez devem ser usadas em câmaras de combustão com remoção da cinza no estado
líquido. Estas considerações são importantes durante a análise da escorificação (incrustação) da cinza
nas superfícies de troca de calor da caldeira.
As cinzas existentes no carvão são provenientes dos diversos componentes minerais existentes na
matriz vegetal que deu origem ao mesmo. Segundo relatórios de ensaios fornecidos pela GERASUL,
os carvões CE-3.100 e CE-4.500, apresentam a composição das cinzas conforme Tabela 2.35. Em
geral, os elementos com significante concentração e que podem contribuir para problemas durante a
queima do carvão são apresentados na Tabela 2.36 (Bryers, 1996).

Tabela 2.35 - Composição das cinzas dos carvões CE-3.100 e CE-4.500. (GERASUL, 2000)
Parâmetros CE-3.100 (%) CE-4.500 (%)
Óxido de silício (SiO2) 56,40 64,00
Óxido de alumínio (Al2O3) 27,20 28,00
Óxido de ferro (Fe2O3) 5,40 2,04
Óxido de cálcio (CaO) 1,70 1,14
Óxido de magnésio (MgO) 0,70 0,51
Óxido de sódio (Na 2O) 0,24 0,12
Óxido de potássio (K2O) 2,50 1,44
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.38

Tabela 2.36 - Principais elementos presentes na composição química das cinzas dos carvões e que
contribuem para a formação de escorificação, deposição e corrosão (Bryers, 1996).
Elemento Carvão betuminoso Carvão sub-betuminoso Lignito
Si S - S
Al S - S
Fe S - S
Mg S - S
Ca S S, F S, F
Na F, C F S, F
K S - -
Pb - - -
Zn - - -
Ni - - -
V - - -
Cl C - -
S C S, F F
S: slagging (escorificação); F: fouling (deposição); C: corrosão.

O comportamento das cinzas quando em contato com as superfícies frias dos tubos dentro da
fornalha ou dos dutos de convecção depende tanto das propriedades da cinza como da dinâmica do
gás. Os minerais inorgânicos, transformados em cinza durante a combustão, podem provocar
deposições nas áreas de transferência de calor, o qual afeta o desempenho da troca térmica. Os
principais problemas que podem acontecer são:
• Escorificação das cinzas (slagging): fusão das cinzas, devido a altas temperaturas nas paredes da
fornalha, que causa a diminuição da transferência de calor entre os gases de combustão e o vapor, além
de estar associada a processos de corrosão a ao aumento à resistência aerodinâmica dos dutos
localizados imediatamente após a fornalha. A tendência a escorificação na qual Fe2O3 > CaO + MgO,
pode ser avaliada quantitativamente a partir da composição química das cinzas por diferentes critérios.
A seguir é apresentada a equação sugerida por Attig e Duzy (apud Tomeczek, 1994):
Fe O + CaO + MgO + K 2 O + Na 2 O s
Rs = 2 3 .S
SiO 2 + TiO 2 + Al 2 O3

sendo Ss o percentual em massa de enxofre (base seca). O valor do índice de escorificação (Rs) é
utilizado como uma base para a classificação da cinza do carvão, ou seja:
Rs < 0,6 tendência de escorificação fraca;
Rs = 0,6 - 2,0 tendência de escorificação moderada;
Rs = 2,0 - 2,6 tendência de escorificação alta;
Rs > 2,6 tendência de escorificação severa;
• Deposição das cinzas (fouling): deposição de partículas secas (incrustação) nas paredes da
fornalha, que causa a diminuição da transferência de calor entre os gases de combustão e o vapor, além
de aumentar a resistência aerodinâmica dos dutos. A tendência a esta deposição sendo Fe2O3 > CaO
+ MgO, pode ser avaliada segundo diferentes critérios. A seguir é apresentada a equação sugerida por
Winegartner (apud Tomeczek, 1994):
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.39

Fe 2 O 3 + CaO + MgO + K 2 O + Na 2 O
Rf = .Na 2 O
SiO 2 + TiO 2 + Al 2 O 3

sendo que Na2O deve ser considerado em percentagem da composição da cinza normalizada. O valor
do índice de deposição (Rf) também é utilizado como uma base para a classificação da cinza do
carvão, ou seja:
Rf < 0,2 tendência de deposição fraca;
Rf = 0,2 - 0,5 tendência de deposição moderada;
Rf = 0,5 - 1,0 tendência de deposição alta;
Rf > 1,0 tendência de deposição severa;
• Corrosão: deterioração da parede dos tubos devido à ação de alguns compostos presentes na
composição das cinzas podendo levar ao rompimento dos mesmos.
O grau de escorificação ou deposição das cinzas varia em toda a parte do gerador de vapor
dependendo do impacto da temperatura local do gás, temperatura do tubo, velocidade do gás,
orientação do tubo e fluxo de calor local em cada partícula. Porém uma avaliação dos carvões
brasileiros CE-3.100 e CE-4.500, segundo as propostas anteriores, mostra que ambos apresentam
uma tendência fraca tanto para a escorificação como também para a deposição. Os valores
encontrados a partir das Tabelas 2.33 e 2.35 foram: CE-3.100: Rs = 0,08 e Rf = 0,03 e CE-4.500: Rs
= 0,11 e Rf = 0,01.
Segundo estudos do MME, o carvão nacional compete com carvões importados na produção de
energia elétrica quando as usinas situam-se próximo às minas. No uso industrial, compete com
derivados de petróleo quando as distâncias de transporte são pequenas. Até 1990, as siderúrgicas
nacionais estavam obrigadas a adquirir parte de suas necessidades de carvão metalúrgico de
produtores nacionais. Com o fim desta obrigação, este tipo de carvão deixou de ter mercado, por não
ser competitivo em relação ao importado. O carvão que, em Santa Catarina, era um subproduto da
lavagem do carvão destinado à metalurgia, sustenta hoje a indústria de produção de carvão mineral no
Brasil. Entre os carvões nacionais, o mais competitivo, para produção de energia elétrica é o de
Candiota, no Rio Grande do Sul. Ocorre na superfície do solo em espessas camadas, por isso pode
ser minerado "a céu aberto" a baixo custo. Estima-se que, numa adequada escala de produção, o custo
da tonelada poderá ficar entre US$ 5,00 e US$ 7,00 (www.mme.gov.br). O potencial das jazidas de
Candiota, sua localização junto às fronteiras do MERCOSUL e seu baixo custo de produção tornam
promissor o desenvolvimento de sua exploração.
A Tabela 2.36 apresenta dados relativos às reservas e produção de carvão mineral no Brasil e
nas principais regiões do mundo. A produção nacional de carvão tipo energético, em 1998, teve um
decréscimo de 8% em relação ao ano anterior, devido, principalmente, ao estado do Rio Grande do
Sul, cuja produção de carvão beneficiado caiu 14%. Em Santa Catarina, ao contrário, houve um
aumento de 13%. No Paraná, onde a produção carbonífera é pouco significativa, a queda foi de 46%,
em relação a 1997.
No estado de Santa Catarina, a entrada em operação da Usina Termoelétrica Jorge Lacerda IV,
em 1997, elevou o nível de demanda por carvão. No Rio Grande do Sul, os consecutivos adiamentos
na implantação dos projetos termoelétrico já programados vêm concorrendo para uma estagnação do
mercado carbonífero desse estado ou mesmo uma queda, como a que ocorreu nesse último ano. A
mina de Candiota, maior do estado, teve uma redução na sua produção beneficiada de 6%.
Apesar da queda da produção do Rio Grande do Sul e do crescimento da produção de Santa
Catarina em 1998, a posição do ranking dos estados produtores de carvão não se alterou. Em termos
de produção de carvão beneficiado, a distribuição por Estado da Federação em 1998 foi a seguinte:
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.40

50% para o Rio Grande do Sul, 49% para Santa Catarina e 1% para o Paraná. A Figura 2.18
apresenta as principais minas de carvão localizadas no sul do Brasil.

Tabela 2.37 - Reserva e produção mundial de carvão mineral


Reservas 1 (106 t) Produção de Carvão2 (106 t)
Países 1995 % 1996 1997 %
Brasil 6.496 0,6 5 5 0,1
Ex - URSS 241.000 23,3 - - -
Rússia - - 255 244 5,1
Estados Unidos 240.558 23,3 964 987 20,7
China 114.500 11,1 1.374 1.360 28,5
Austrália 61.865 5,9 314 322 6,7
Polônia 42.100 4,1 199 199 4,2
Índia 69.947 6,7 310 321 6,7
África do Sul 55.333 5,3 205 220 4,6
Outros 203.462 19,7 973 1.115 23,4
TOTAL 1.035.261 100,0 4.599 4.773 100,0
Fontes: BP Statistical Review of World Energy - 1996, Metals & Minerals Review - 1998 e DNPM (Brasil).
Notas: (1) reservas lavráveis de carvão (Brasil - reservas medidas).
(2) corresponde a todos tipos d e carvão, betuminoso, sub-betuminoso e lignito (hard coal and brow coal).
Os dados referentes aos anos de 1995 e 1996 já foram revisados, enquanto os de 1997 são provisórios.

Figura 2.18 - Principais minas de carvão do sul do Brasil.

Em 1998, as importações brasileiras de carvão tiveram uma queda de 12%, em quantidade, e de


7% em valor, em relação a 1997. Na distribuição por país de origem, em termos de quantidade, foi de
48% os Estados Unidos, 21% a Austrália, 17% a África do Sul e 8% o Canadá. Em termos de valor, a
composição foi 50%, 22%, 8% e 13%, respectivamente, para esses mesmos países, e o preço médio
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.41

desse carvão importado foi de US$ 57,00/t. Ainda em 1998, o Brasil importou também 1.516.037
toneladas de coque de carvão mineral para as suas siderúrgicas, sendo que o principal fornecedor foi a
China com 71% de participação, seguido pelo Japão com 16%, Polônia com 8% e Suíça 4%. O
dispêndio em divisas para essa importação de coque foi de US$ 133 milhões, o que corresponde a um
preço médio de US$ 87,6/t. Por outro lado, as exportações foram insignificantes.
O consumo total de carvão no Brasil, em 1998, foi de 15,4 milhões de toneladas, desse total,
66% corresponde a carvão metalúrgico importado, destinado à siderurgia. Quanto ao carvão
energético, cerca de 80% destina-se à termoeletricidade e o restante para o consumo industrial,
principalmente dos setores petroquímico, cimento, papel e celulose, entre outros. A Tabela 2.38
apresenta alguns dados relativos ao carvão mineral no Brasil.

Tabela 2.38 - Principais estatísticas do consumo de carvão mineral no Brasil


Discriminação Unidade 1996 1997 1998
Produção: Energético (10³ t) 4.788 5.847 5.382
Metalúrgico para fundição (10³ t) 70 91 90
Importação: (10³ t) 12.847 12.364 10.880
(10³ US$ - CIF) 617.567 668.162 618.563
Exportação: (10³ t) 0,00 0,00 0,00
(10³ US$ - FOB) 141 190 35
Consumo: Metalúrgico para siderurgia (10³ t) 9.935 10.481 10.200
Finos metalúrgicos (10³ t) 70 90 80
Energético (10³ t) 4.825 5.615 5.200
Preço médio: Carvão Importado (US$/t) 48 54 57
Fontes: DNPM, MF - SRF, MICT - SECEX, Anuário Estatístico Setor Metalúrgico/MME.
Notas: Os dados referentes ao ano de 1996 já foram revisados, enquanto os de 1997 e 1998 são provisórios.

Os principais fatores que afetam a competitividade de uso do carvão no Brasil são os elevados
custos atuais de produção e beneficiamento, os encargos de preservação ambiental exigidos tanto na
produção quanto no consumo, além da atual disponibilidade de gás natural da Argentina e da Bolívia
junto às áreas produtoras de carvão. Por outro lado, a evolução da tecnologia de gaseificação do
carvão poderá permitir seu uso em condições semelhantes ao do gás natural - com alto rendimento
termodinâmico e sem criar problemas ambientais (o Ministro de Minas e Energia, através da Portaria
MME no 19 de 21/01/99, criou um grupo de trabalho para examinar com profundidade estas questões,
visando superar as limitações a uma maior participação do carvão na matriz energética brasileira).
Deve-se considerar ainda o fato de o Brasil estar reestruturando seu setor elétrico. O modelo
adotado tornou a geração e a comercialização da energia elétrica atividades competitivas, em que o
preço passa a ser determinado pelo mercado. Como o principal uso do carvão está na produção de
eletricidade, o aumento do seu consumo ficará na dependência do preço que a energia elétrica
produzida puder chegar ao mercado. Durante um período de transição, que deverá se estender até o
ano de 2005, a energia elétrica produzida pelas térmicas, consideradas na Lei no 9.648/98, estará,
parcialmente incluída nos "contratos iniciais". Neste período ainda existirá a CCC (Conta de Consumo
de Combustíveis), porém já em fase de redução gradativa. Depois, a energia produzida pelas unidades
térmicas a carvão, assim como a energia elétrica de qualquer outra fonte, deverá ser ofertada a preços
competitivos para ter mercado (MME).
Atualmente, a participação do carvão nacional na matriz energética brasileira é de 0,8 %. Para
que esta participação aumente é preciso que ele se torne competitivo em relação às demais fontes
primárias. A fim de avaliar alguns parâmetros técnicos e econômicos entre a geração termelétrica com
gás natural e a geração com carvão mineral, apresenta-se a Tabela 2.39, baseada em estudos
desenvolvidos pelo MME. Analisando-se esta tabela pode-se observar que o maior peso na geração
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.42

com carvão está no investimento da planta, devido principalmente aos aspectos ambientais. Porém, à
medida que a disponibilidade do gás natural tenda a diminuir (esgotamento das reservas), seu preço irá
aumentar e, associando este cenário ao desenvolvimento de tecnologias de geração com carvão mineral
mais modernas e, conseqüentemente, menos dispendiosas, este combustível terá a sua atratividade e
deverá aumentar sua fatia no sistema elétrico brasileiro.
O que é necessário e importante é preparar o caminho para que, quando a conjuntura energética
for favorável, as reservas de carvão mineral nacional possam ser exploradas mais intensamente.
Contudo, para que a geração de energia elétrica a partir do carvão se torne competitiva, será
necessário projetar as novas centrais através das técnicas modernas disponíveis, visando não só
aumentar o rendimento termodinâmico, mas também reduzir custos mantendo os níveis de emissão de
poluentes dentro dos padrões exigidos pelos órgãos ambientais. Além disso, estas plantas devem
situar-se tão próximas das minas quanto possíveis, a fim de diminuir os custos com transporte, e
permitir uma redução nos custos com combustível.

Tabela 2.39 - Competitividade dos carvões CE 3.300 e CE 4.500, com o gás natural, na geração de
energia elétrica. (www.mme.com.br)
CE 3.300 CE 4.500 Gás natural Gás natural
(Candiota) (Santa Catarina) (tipo a) (tipo b)
Preço unitário 13,60 R$/t 59,79 R$/t 2,0 US$/10 BTU 3,5 US$/106BTU
6

Custo da R$/Gcal 4,12 13,28 9,52 16,66


Rendimento [%] 35 35 55 55
MWh/Gcal 0,407 0,407 0,64 0,64
Custo combustível [R$/MWh] 10,12 32,62 14,87 26,03
Custo capital [R$/MWh] 36,74 36,74 18,37 18,37
Custo combustível + capital [R$/MWh] 46,86 69,36 33,24 44,40
Simplificações adotadas: fator de capacidade = 0,7; custos iguais de manutenção e operação por MWh; custo do kW
instalado: gás US$ 450,00 e carvão US$ 900,00.

Uma análise qualitativa bastante interessante entre a utilização do gás natural, do óleo
combustível e do carvão mineral é apresentada na Tabela 2.40, baseada em Abreu e Martinez, 1999.

Tabela 2.40 - Comparação qualitativa da utilização de GN, OC e CM (Abreu e Martinez, 1999)


Gás natural Óleo combustível Carvão mineral
Disponibilidade Consolidando-se Ampla Menos ampla
Acesso a grandes potências Fácil Difícil Mais difícil
Investimento inicial Menor Médio Maior
Custo para usar Menor Médio Maior
Custo de manutenção Menor Médio Maior
Estoque no local do uso Dispensa Necessário Necessário
Condição de pagamento Após o uso Antecipado Antecipado
Rendimento energético Maior Médio Menor
Uso de área Menor Médio Maior
Pátio de recebimento Dispensa Sim Sim
Condicionamento para uso Nenhum Aquecimento Moagem
Controle das emissões Simples Complexo Muito complexo
Controle da combustão Simples Médio Complexo
Limpeza do local do uso Fácil Média Difícil
Vazamentos Fácil dispersão Remoção difícil Não se aplica
Agressividade das emissões Muito baixa Alta Alta
Resíduos sólidos Não tem Não tem Muito volumosos
Emissões atmosféricas Sem tratamento Exigem tratamento Exigem tratamento
Efluentes líquidos Não apresenta Exigem tratamento Exigem tratamento
Desmatamento Não contribui Não contribui Contribui
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.43

Outro aspecto que deve ser levado em conta quando da escolha de um combustível com relação
a outro é o seu preço. A Tabela 2.41 apresenta valores médios de mercado para o OCA1 e OCB1,
gás natural, coque de petróleo, carvão mineral e lenha, sugeridos por Abreu e Martinez (1999). Note-
se que estes valores são apenas demonstrativos e que podem variar de acordo com as flutuações de
mercado.

Tabela 2.41 - Cotação de preços de energéticos: julho de 1999. (Abreu e Martinez, 1999)
Unidade de Preço unitário Poder calorífico Preço unitário
venda (R$) (kJ/unidade) (US$/MMBTU)
OC A1 - 2,5 % S / 620 cSt kg 0,1940 42.340 2,68
OC B1 - 1,0 % S / 620 cSt kg 0,2084 43.096 2,83
Gás natural p/ concess. m3 0,1610 39.292 2,40
Coque verde de petróleo kg 0,0880 35.530 1,45
Carvão mineral kg 0,0830 25.080 1,94
Lenha dm3 0,0155 4.140 2,19
1) - Preço unitário: valores médios de mercado, pesquisados junto a consumidores, incluindo, quando for o caso, o
ICMS estabelecido no estado do Rio de Janeiro;
2) - taxa de câmbio: R$ 1,7999 / US$ 1,00 (julho de 1999).

A Tabela 2.42, fatores de conversão de unidades, associando unidades do sistema métrico com
outras não métricas bastante empregadas.

Tabela 2.42 - Fatores de conversão. (Abreu e Martinez, 1999)


Em se tratando de Multiplique Por Para obter
t 1,165 m3
Petróleo t 7,330 bbl
bbl 0,159 m3
3
m 35,3 cuft
m3 36.000 Btu
Gás Natural (GN) 106 m3 900 tep
9 3
10 m 6,29 106 bep
9 3
10 m 0,73 106 t GNL
6
10 t 1,38 109 m3 GN
Gás Natural Liquefeito (GNL)
106 t 48,7 109 cuft GN
kcal 3,968 Btu
kcal 4,187 kJ
kWh 860 kcal
Energia kWh 3.412 Btu
Btu 0,252 kcal
tep 10.000.000 kcal
tep 12 MWh
Abreviaturas das unidades não métricas: bbl - barril; bep - barril equivalente de petróleo; Btu
- British thermal unit; cuft - pé cúbico; tep - tonelada equivalente de petróleo.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.44

2.9 - COMBUSTÍVEL NUCLEAR

Tradicionalmente, o elemento físsil é erroneamente denominado de combustível nuclear. No


entanto, apesar da reação que resulta na liberação de energia pela fissão do núcleo não manter
qualquer similaridade com o processo de combustão, a utilização deste elemento em reatores nucleares,
que são equivalentes às caldeiras convencionais utilizadas em centrais termelétricas, fez com que
surgisse uma associação do elemento físsil com os demais combustíveis e a denominação “combustível
nuclear” passou a ser largamente utilizada. Analogamente, o processo de fissão nuclear é designado,
algumas vezes, como “queima”.
Na natureza encontra-se basicamente um elemento que pode ser utilizado na fissão nuclear em
reatores comerciais, o urânio, que se apresenta sob a forma de dois isótopos: U235 e U238. Do total
de urânio natural apenas 0,7 % é U235, o único que sofre o processo de fissão em reatores nucleares.
A reação de fissão inicia-se pela captura de um nêutron (n) pelo núcleo de U235, rapidamente
convertendo se em U236 instável, que se parte, liberando energia e um nêutron. Este escapa com
grande energia, que em geral deve ser reduzida para que a reação em cadeia se processe. O processo
de redução desta energia é realizado por um “moderador”. Tradicionalmente podem ser utilizados
como moderadores água, água pesada, gás hélio, grafite, etc. Uma segunda reação importante que
ocorre é a captura do nêutron pelo U238 não físsil. Tal captura converte este elemento em Plutônio que
é físsil. Elementos que possuem a característica de transmutar-se em elementos físseis mediante a
captura neutrônica são denominados férteis.
Comercialmente existem duas tecnologias principais que “consomem” o combustível nuclear:
Estas tecnologias podem utilizar água como moderador e urânio enriquecido ou utilizando-se água
pesada como moderador e o urânio natural (na proporção como é encontrado na natureza).
Em reatores que utilizam água leve (comum) existe a necessidade de um processamento do
urânio para que a proporção de U235/U238 seja aumentada (existem centrais nucleares que operam
com urânio natural, mas são minoria). Este processamento é denominado de enriquecimento e é
altamente complexo. Em reatores que utilizam a água pesada, o enriquecimento não é necessário. No
Brasil, para as centrais termonucleares de Angra I e II, optou-se por uma tecnologia que utilize o
Urânio enriquecido como combustível e água leve como moderador.
A energia liberada no processo de fissão é extremamente elevada e o calor formado em
decorrência da quebra do núcleo de urânio pode ser utilizado para se aquecer água e produzir vapor,
permitindo o uso de turbinas a vapor para a geração de eletricidade.
No Brasil, o urânio natural passa pelas seguintes etapas até a sua possível utilização em centrais
nucleares (nem todas realizadas em território nacional):
• Mineração e beneficiamento do U3O8;
• Conversão para UF6;
• Enriquecimento nuclear;
• Reconversão para UO2;
• Fabricação do elemento combustível.
O ciclo do combustível nuclear inicia-se pela mineração do minério de urânio que, por processos
de beneficiamento, é purificado e concentrado sob a forma de um sal de cor amarela, o yellowcake
(U3O8). A segunda etapa consiste na conversão do U3O8 em urânio nuclearmente puro. O urânio é
então colocado sob forma gasosa (UF6) de forma a permitir o enriquecimento. A terceira etapa é o
enriquecimento isotópico do UF6 quando se aumenta a concentração do isótopo U235. Em geral,
aumenta-se a concentração de U235 dos 0,7 % encontrados na natureza para algo em torno de 3 %.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.45

A quarta etapa envolve a reconversão do UF6 enriquecido em dióxido de urânio UO2, material
apropriado à utilização como combustível. A quinta etapa consiste na fabricação das pastilhas de UO2
e seu acondicionamento no elemento combustível, que são formados por um conjunto de tubos
metálicos separadas por grades espaçadoras.
Apesar do Urânio ser o único combustível nuclear encontrado na natureza, existem reações
nucleares, estacionárias, que possuem como combustível principal, elementos não naturais, produzidos
por transmutação. Dentre estes podem ser citados combustíveis baseados nos U233 e Pu239
(Plutônio), formados nos Ciclos U238/Pu239 e Tório (Th232)/U233.
Reatores baseados na utilização destes ciclos não se encontram comercialmente disponíveis, no
entanto, grandes investimentos na investigação do potencial destas modalidades foram feitos, e duas
plantas utilizando o ciclo U238/Pu239 chegaram a funcionar - uma na França e outra no Japão. O ciclo
Th232/U233 também foi bastante investigado, em decorrência da grande quantidade de tório existente
no planeta, no entanto, reatores baseados na utilização deste ciclo tiveram seu uso confinado a
laboratórios de pesquisa. Reatores utilizando os ciclos do U238/Pu239 e Th232/U233 podem
funcionar como regeneradores, ou seja, produzem, em regime estacionário o próprio combustível
(breeder).em uma taxa superior ao consumo, e o saldo pode ser utilizado para alimentar outros reatores
equivalentes.
No Brasil, existem aproximadamente 310.000 t de Urânio (medidas e inferidas), tendo, o Brasil,
a Sexta maior reserva mundial, sendo que apenas 30% do território nacional foram prospectados
(INB). O urânio se encontra distribuído no país conforme a Tabela 2.43:

Tabela 2.43 - Principais Ocorrências de minério de Urânio (U3O8) no Brasil. (INB - Industrias
Nucleares Brasileiras)
Ocorrência Medidas e Indicadas (t) Inferidas (t) Quantidade total (t)
Lagoa Real / Caetité (BA) 94.000 6.700 100.700
Itataia 91.200 51.300 142.500
Outros 39.500 26.500 66.000
Total 224.700 84.500 309.200

A etapa de mineração/beneficiamento, é realizada no Brasil, atualmente, em Lagoa Real. Esta


unidade possui a capacidade de produzir anualmente 300 t de concentrado de urânio (U3O8) o
yellowcake .
O Brasil produz o elemento combustível na Fábrica de Elementos Combustíveis - FEC,
localizada na cidade de Rezende - RJ. Esta é a etapa final do ciclo do combustível nuclear. Na FEC, o
gás UF6 é reconvertido em UO2, este é então montado nas varetas do elemento combustível (uma
vareta é capaz de fornecer energia para uma cidade de 20.000 habitantes durante 24h), cada um
contendo 235 varetas. Atualmente, a FEC possui capacidade de processar 100 toneladas de urânio
por ano, fabricando anualmente 145 elementos combustíveis.
O mercado de Urânio no mundo vem atravessando uma queda da demanda, em virtude do
fechamento de centrais nucleares aliado ao cancelamento de novas unidades nos EUA e na Europa.

2.10 - BIOMASSA

O termo biomassa engloba a matéria vegetal gerada através da fotossíntese e os seus derivados,
tais como: resíduos florestais e agrícolas, resíduos animais e a matéria orgânica contida nos resíduos
industriais, domésticos, municipais, etc. Estes materiais contêm energia química provinda da
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.46

transformação energética da radiação solar. Essa energia química pode ser liberada diretamente por
combustão, ou convertida através de algum processo em outras fontes energéticas mais adequadas,
para um fim qualquer desejado, tal como o álcool e o carvão vegetal.
Os recursos energéticos da biomassa podem ser classificados de diversas maneiras, entretanto
deve-se reconhecer que aos fluxos de energia de biomassa são associados os biocombustíveis que, por
sua vez, podem ser apresentados em três grupos principais, de acordo com a origem da matéria que os
constitui. Dessa forma, existem os biocombustíveis da madeira (dendrocombustíveis), os combustíveis
de plantação não florestal (agrocombustíveis) e os resíduos urbanos. A Tabela 2.44 mostra esta
classificação dos biocombustíveis. Trata-se de uma descrição simples, apresentando os recursos de
maneira a comparar os tratamentos típicos utilizados nos estudos energéticos e florestais, e também
comparando dados de distintas fontes (Nogueira et al., 1998).
Vale observar que, de maneira geral, os energéticos podem ser considerados como primários,
quando correspondem a materiais ou produtos obtidos diretamente da natureza, por exemplo, a lenha e
a cana-de-açúcar, ou secundários, como são os combustíveis resultantes de processos de conversão
dos combustíveis energéticos primários. Nesta classe estão o carvão vegetal produzido a partir da
madeira e o álcool produzido a partir de substâncias fermentáveis.

Tabela 2.44 - Classificação dos biocombustíveis. (Nogueira et al., 1998)

1 o nível 2 o nível Definição


Combustíveis diretos da Madeira produzida para fins energéticos, usada direta
madeira ou indiretamente como combustível.
Incluem biocombustíveis sólidos, líquidos ou gasosos,
Biocombustíveis da
Combustíveis indiretos da subprodutos da exploração florestal e resultantes do
madeira
madeira processamento industrial da madeira para fins não
(de ndrocombustíveis
energéticos.
)
Madeira usada diretamente ou indiretamente como
Combustíveis de madeira
combustível, derivada de atividades socio-econômicas
recuperada
que empregam produtos de origem florestal.
Tipicamente combustíveis sólidos e líquidos
Combustíveis de
produzidos a partir de plantações anuais, como é o
plantações energéticas
caso do álcool da cana-de-açúcar.
Biocombustíveis não Principalmente resíduos de colheitas e outros tipos de
florestais Subprodutos agrícolas
subprodutos de culturas, como palhas e folhas.
(agrocombustíveis)
Subprodutos animais Basicamente esterco de aves, bovinos e suínos.
Basicamente subprodutos de agroindústrias, como o
Subprodutos agroindustriais
bagaço de cana, o licor negro e a casca de arroz.
Resíduos sólidos e líquidos gerados em cidades e
Resíduos urbanos
vilas.

Na Tabela 2.45 apresentam-se valores de poder calorífico e de composição elementar e


imediata para algumas biomassas de interesse energético, e na Tabela 2.46 são fornecidos alguns
valores de referência para biomassas e condições típicas, conforme dados de Jenkins (1990),
particularmente considerando a influência da umidade.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.47

Quando se busca determinar a disponibilidade de biomassa energética em um país ou região, é


importante considerar as restrições de ordem ecológica, econômica e tecnológica. Somente assim toda
a biomassa potencialmente disponível (recurso) pode assumir o conceito de reserva, a partir da qual se
determina o potencial anual de produção.
As restrições ecológicas estão associadas à preservação do meio ambiente e da qualidade de
vida. Assim se justificam, por exemplo, a proteção de maciços florestais naturais nas nascentes dos
rios, nos parques nacionais, nas encostas sujeitas à erosão, etc. Todavia os resíduos agrícolas devem
ser explorados com cautela, porque a longo prazo os custos ambientais, devido a uma eventual redução
de matéria orgânica e nutrientes do solo, podem ser maiores que os benefícios energéticos.

Tabela 2.45 - Características técnicas de diferentes tipos de biomassa (base seca). (Jenkins,1990)
Tipo de Composição elementar, % Composição imediata, PCI, MJ/kg
biomassa %
C H O N S A V A F
Pinheiro 49,29 5,99 44,36 0,06 0,03 0,30 82,54 0,29 17,70 20,0
Eucalipto 49,00 5,87 43,97 0,30 0,01 0,72 81,42 0,79 17,82 19,4
Casca de arroz 40,96 4,30 35,86 0,40 0,02 18,34 65,47 17,89 16,67 16,1
Bagaço de cana 44,80 5,35 39,55 0,38 0,01 9,79 73,78 11,27 14,95 17,3
Casca de coco 48,23 5,23 33,19 2,98 0,12 10,25 67.95 8,25 23,8 19,0
Sabugos de milho 46,58 5,87 45,46 0,47 0,01 1,40 80,10 1,36 18,54 18,8
Ramas de algodão 47,05 5,35 40,97 0,65 0,21 5,89 73.29 5.51 21,20 18,3
Composição imediata: V - voláteis; A - cinzas; F - carbono fixo.

Tabela 2.46 - Poder calorífico inferior de diferentes tipos de biomassa. (Nogueira et al., 1998)
Biomassa PCI (MJ/kg)
Lenha verde * 8,2
Lenha seca ao ar * 13,8
Lenha seca em estufa * 16,8
Carvão vegetal 30,8
Carvão de resíduos agrícolas 25,7
Bagaço 8,4 - 12,6
Palha e casca de arroz 13,4
Pontas e caules 13,8
Esterco 13,6
Licor negro 12,5
Resíduos sólidos urbanos 11,5 - 13,4
* Valores médios para diferentes tipos de lenha

As limitações impostas pelos aspectos econômicos analisam-se em dois níveis. Em primeiro


lugar, é necessário avaliar se a biomassa a ser explorada energeticamente não encontra um uso mais
interessante como matéria-prima industrial ou alimento; estes fins podem ser prioritários antes da
questão energética. Em segundo lugar é necessário demonstrar que os custos de produção agrícola,
colheita, transporte, armazenamento, processamento industrial, proteção ambiental e adaptação dos
equipamentos para o uso final são compatíveis com os benefícios energéticos e comparáveis com os
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.48

demais combustíveis de uso corrente. O balanço energético, relacionando o consumo e a produção de


energia no processo, é uma ferramenta importante na seleção das biomassas como potenciais vetores
energéticos.
Finalmente, as restrições tecnológicas se devem à existência ou não de processos confiáveis e
operações para conversão da biomassa em combustíveis de uso mais genérico. Estas restrições no
geral estão associadas aos limites de viabilidade econômica de cada processo. Além de considerações
de caráter regional, segundo as quais uma determinada biomassa pode ou não apresentar interesse
energético, a investigação tecnológica tem melhorado continuamente os sistemas de conversão de
biomassa, buscando ampliar suas possibilidades efetivas de utilização.

2.11 - COMBUSTÍVEIS SIDERÚRGICOS RESIDUAIS

Durante o processo de obtenção do aço em uma siderurgia, algumas etapas geram gases
residuais que podem ser aproveitados como combustíveis para a geração de energia na própria planta
e, cujas características principais são apresentadas na Tabela 2.47. Estes gases são provenientes das
seguintes cadeias de produção do aço:
• Gás de alto forno (GAF): gases formados durante a preparação do ferro gusa;
• Gás de aciaria (GLD): gases formados durante a transformação do ferro gusa em aço;
• Gás de coqueria (GCO): gases formados durante a preparação do carvão mineral a ser
introduzido no alto forno.

Tabela 2.47 - Composição química e propriedades dos gases siderúrgicos. (CSN)


Combustíveis GAF GLD GCO
Componentes % volume % volume % volume
mínimo Máximo mínimo máximo mínimo máximo
CH4 - - 0,00 0,10 22,2 24,81
CO 21,75 24,00 63,60 71,04 4,10 6,50
H2 2,0 6,38 1,2 2,38 56,78 60,79
O2 0,00 0,18 0,21 0,52 0,25 0,60
CO2 19,62 22,07 13,86 16,85 1,77 2,50
N2 47,55 54,00 16,33 18,50 2,46 5,20
C2H6 - - - - 2,20 4,95
C3H8 - - - - 0,18 0,60
C6H6 - - - - 0,11 0,16
IC 4 - - - - 0,00 0,01
NC4 - - - - 0,04 0,12
o
Temperatura média ( C) 30 30 30
Umidade (%) Saturado saturado 80
3
Particulados (mg/Nm ) 5 15 30 100 20
PCI (kJ/Nm3) 3.344 3.553 8.151 9.196 17.974 18.392
Os valores mínimos e máximos para o PCI não correspondem aos percentuais mínimos e máximos das composições.
Para efeito de cálculo, considerar os valores mínimos.

Além destes gases, há também a formação de alcatrão, um combustível residual líquido gerado
na conversão do ferro gusa em aço na aciaria. As características principais deste combustível estão na
Tabela 2.48.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.49

Tabela 2.48 - Propriedades do alcatrão bruto. (CSN)


Combustível Alcatrão
C (%) 93,1
H (%) 6,2
S (%) 0,7
Densidade média (kg/l) a 25 oC 1,185
Viscosidade cinemática (SSF, s) a 100 oC 12,5 (2,0 % de H2O)
Cinzas média (%) 0,068
Ponto de fulgor (oC) > 80
Enxofre (%) ≤ 0,7
PCI (kJ/kg) 35.950
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.50

2.12 REFERÊNCIAS

ABREU, P.L., MARTINEZ, J.A., “Gás natural: o combustível do novo milênio”, Porto Alegre, Plural
Comunicação, 1999.
AES Uruguaiana Empreendimentos Ltda, “Dados de composição do gás natural a ser fornecido a UTE
Uruguaiana pela YPF Argentina”, (comunicação pessoal), 2000.
ANP - AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, “Anuário estatístico da indústria brasileira do
petróleo 1990 - 1998”, Rio de Janeiro,1999.
ANP - AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, “Informações sobre óleos combustíveis”
(comunicação pessoal), 2000.
APOSTILA IM351, “Tecnologia da combustão”, UNICAMP, 1999.
APOSTILA do IPT, “Curso de combustão industrial”, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado
de São Paulo, 1995.
ASTM, “Standard Methods for the Ultimate Analysis of Coal and Coke”, D3176-74, 1983.
ASTM, “Standard Methods for the Ultimate Analysis of Coal and Coke”, D3172-73 e D3175-73,
1983.
ASTM, D3173-73, 1983.
BABCOCK & WILCOX, ”Steam - Its generation and use”, 40 a edição, editores: Steven C. Stultz e
John B. Kitto, The Babcock & Wilcox Company, Barberton, Ohio, USA, 1992.
BAZZO, E., “Geração de vapor”, Editora da UFSC, 1995.
BORMAN, L.B. e RAGLAND, W. R., “Combustion engineering”, McGraw-Hill, 1998.
BP AMOCO, 1999, Statistical review of world energy, june 1999.
BRYERS, R.W., “Fireside slagging, fouling and high temperature corrosion of heat transfer surface due
to impurities in steam-raising fuels”, Progress in Energy and Combustion Science, Vol. 22, pp. 29-
120, 1996.
CENTRAIS GERADORAS DO SUL DO BRASIL S.A. - GERASUL, “Ensaios em carvão”
(comunicação pessoal), 2000.
CNP - CONSELHO NACIONAL DO PETRÓLEO, “Regulamento técnico CNP N° 09/82 REV. 1,
Óleos Combustíveis”, 1982.
CNP - CONSELHO NACIONAL DO PETRÓLEO, “Legislação do carvão nacional: programas,
planos governamentais e trabalhos técnicos”, 1978.
CONPET, 2000, Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás
Natural, “Gás natural: informações técnicas”, www.petrobras.com.br/conpet.
CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, “Dados de composição de óleos combustíveis fornecidos a
CSN pela Petrobras Distribuidora S.A.”, (comunicação pessoal), 2000.
CSN - Companhia Siderúrgica Nacional, “Dados de composição e propriedades de gases
siderúrgicos”, (comunicação pessoal), 2000.
CULP, A.W., “Principles of energy conversion”, McGraw-Hill, (1991).
DA SILVA, N. I. W., “Caracterização para o beneficiamento gravimétrico do carvão mineral da jazida
de Iruí, RS”, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Metalúrgica e dos Materiais -
PPGEMM/UFRGS, Rio Grande do Sul, 1992.
GRIGORIEV, V.A., ZORIN, V.M., “Manuais de centrais termelétricas e nucleares”, Moscou,
Energoizdat (em russo), 1982.
INB - Indústrias Nucleares Brasileiras, www.inb.gov.br.
JENKINS, B.M., “Fuel properties for Biomass Materials, International Symposium on Application and
Management of Energy in Agriculture: The Role of Biomass Fuels”, New Delhi, 1990.
Capítulo 2 Suprimento energético para termelétricas 2.51

LEFFLER, W.L., “Petroleum refining for nontechnical person”, PennWell Books, 1985.

MCT - MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA, “Relatório sobre a caracterização


tecnológica de carvões minerais”, 1995.
MME - MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA, Portaria MME no 19 de 21/01/99.
METALS & MINERALS Annual Review – 1998.
MONTGOMERY, C.W., “Environmental geology”, fourth edition, Wm. C. Brown Publishers, 1995.
NBK Energia e Calor, “http://gp.sul2.com.br/nbk/combusti.htm”, 1999.
NIÑO F., R., “Caracteristicas tecnicas de los combustibles colombianos”, 3 a edição, Universidad del
Valle, Cali, Colômbia, 1992.
NOGUEIRA, L.A.H., LORA, E.E.S., TROSSERO, M.A., FRISK, T., “Dendroenergia: Fundamentos
e Aplicações”, FAO/FOD/FOWP, WETT - Wood Energy Today for Tomorrow, Rede Latino-
americana de Cooperação Técnica em Dendroenergia, ANEEL, Brasília, 2000.
OLADE (Organización Latinoamericana de Energia), “Energy statistics, energy-economic information
system”, Version No 11, Quito, June 1999.
OLADE (Organización Latinoamericana de Energia), “Geopolitica del petroleo: implicaciones para
América Latina y el Caribe”, revista energética OLADE, Ano 18, no 2, maio-agosto, pp.5-12,
1994.
PERA, H., “Geradores de vapor”, 2 a edição, Editora Fama, São Paulo, 1990.
PORTARIA da ANP nº 009 de 21 de janeiro de 2000 (PANP 009/2000).
PORTARIA da ANP nº 80, de 30 de abril de 1999 (PANP 080/99).
PORTARIA da ANP nº 152, de 15 de outubro de 1998 (PANP 152/98).
PORTARIA da ANP nº 41, de 15 de março de 1998 (PANP 041/98).
PETROBRAS, “Dados médios de propriedades e composição de óleos combustíveis produzidos nas
refinarias”, (comunicação pessoal), 2000.
RAVICH, M.B., “Eficiência da utilização do combustível”, Ed. Nauka, Moscou, 1977 (em russo).
TOMECZEK, J., “Coal combustion”, Krieger Publishing Company, 1994.
UNICAMP, “IM351 - Tecnologia da Combustão”, Apostila, 1999.
WWW.ANP.GOV.BR
WWW.COMGAS.COM.BR.
WWW.ECEN.COM.
WWW.GASNET.COM.BR.
WWW.MME.GOV.BR.
WWW.PETROBRAS.COM.BR.

Você também pode gostar