TERESINA, 2015
RESUMO
2-Justificativa
Muitas vezes passamos distraidamente por antigos prédios escolares e não nos
damos conta do quanto expressam da fabricação de uma nova sensibilidade pela infância
e da compreensão de que este seria o espaço privilegiado para educar musicalmente as
novas gerações. Parece que sempre estiveram ali. Mas, não é bem assim. Olhares
atentos para o acervo musical das escolas instigam a aprofundar o conhecimento sobre a
importância que desempenharam na história da educação e na construção da identidade
nacional. Elas trazem as marcas do tempo. Como lugares de memória, as canções
escolares se constituem em convites investigações, o que exige driblar a ausência de
fontes, a dispersão documental e o descaso com a documentação da escola.
A partir do levantamento das centenárias instituições, observa-se um conjunto
eclético e bastante diverso no que se refere às centenárias instituições de ensino da
cidade de Teresina. Tal diversidade sinaliza diferentes memórias e projetos em torno das
causas da instrução e da educação desde meados do século XIX. Aponta também, a
possibilidade de inventariar documentos de natureza variada tais como fotografias de
apresentações, relatórios e registros institucionais diversos. Assim, interrogar os
significados dos diferentes projetos pedagógicos musicais construídos em torno destas
instituições e suas relações com as ideologias nacionalistas é o horizonte principal da
presente investigação.
Investigar a problemática das centenárias instituições de ensino de Teresina
justifica-se na preocupação em incluir pesquisadores em diferentes momentos de
formação (graduandos, mestres, mestrandos, doutorandos e doutores), em um projeto
integrado, proporcionando a troca e a ampliação dos conhecimentos produzidos em
âmbito acadêmico para além dos muros da Universidade, evidenciando, com isto, a
dimensão social e ética das pesquisas, conforme salientado por Joseph Fontana
assumindo um posicionamento e compromisso em relação ao tempo presente
(FONTANA, 1998). Outro pilar do presente projeto é a sensibilização das novas gerações
de estudantes de história e da Licenciatura em Música, de modo geral, para a importância
da preservação da memória musical escolar. Só assim, as histórias musicais das escolas
não se perderão com o passar do tempo.
3-Objetivo Geral
De um ponto de vista mais amplo, o presente projeto tem como objetivo dar
visibilidade às diferentes memórias musicais em torno das centenárias instituições
educativas de Teresina, indicando com isso, diferentes usos e significados em relação a
identidade nacional, atentando também, para a importância da preservação desses
arquivos como patrimônio histórico-cultural da cidade.
4-Objetivos Específicos
5-Metodologia
1
BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico. Lisboa: Dinalivro (2006 [1938]), p. 27.
2
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Rio de Janeiro/ Lisboa: Bertrand Brasil / Difel, 1990, p.
17.
3
Idem.
relações estabelecidas com os diferentes atores dos contextos político e pedagógico da
Era Vargas.
Juntamente com Anderson, sustento que, formada por um mosaico de
representações, a identidade nacional pode ser pensada como vínculo pelo sentimento de
pertença que transitava pelas aulas de Canto Orfeônico e pelos orfeões do Instituto, numa
conjuntura que ultrapassa e transcende a concepção local e a representação regional.
Como elucida Benedict Anderson, uma comunidade:
4
ANDERSON, Benedict. Nação e consciência nacional. São Paulo: Ática, 1989 p. 14-16.
5
SWANWICK, Keith Ensinando Música Musicalmente. Trad. Alda Oliveira e Cristina Tourinho. São Paulo, Moderna, 2003.
6
ABREU JUNIOR, Laerthe de Moraes. Apontamentos para uma metodologia em cultura material escolar. In: Pro-Posições
(Unicamp), Campinas, v. 16, n. 1, p. 145-164, 2005.
Swanwick7 e Abreu Junior8, também busco no presente estudo investigar a identidade
nacional numa prática musical, o canto coletivo como um discurso cultural e seus
desdobramentos nos objetos e utensílios escolares, tais como: instrumentos e hinários.
Nessa direção, juntamente com Mignot 9, entendo que a cultura material da escola é
impregnada de registros, evidências de um cotidiano passado, agendas educativas de
outrora que sinalizam o currículo explícito ou oculto e a cultura que se transmite ou se
produz.
Neste estudo, entendo que existe a necessidade de uma interlocução teórica que
precisa perpassar por todo o trabalho, premissas e conceitos que serão invocados para o
diálogo com a empiria conforme a necessidade, pois, dessa maneira, será possível
compor “uma combinação de abordagens teóricas, desde que compatíveis, ou utilizar
livremente conceitos oriundos de matrizes diversas, contanto que de maneira coerente e
fazendo as adaptações necessárias.”10 Nessa perspectiva, as teorias estão aqui
associadas à abordagem científica, com um objetivo fundamental que é tentar chegar a
um determinado conhecimento, um “caminho para se chegar a determinado fim [...] como
o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o
conhecimento.”11
A primeira etapa do processo será o aprofundamento das leituras em teses,
dissertações e outras publicações referentes às instituições investigadas no presente
estudo. A coleta de fontes em locais variados será a etapa subsequente, com a
preocupação de compreender os sentidos das ausências e mesmo da guarda de
determinados documentos como parte das disputas em torno da manutenção de
determinadas memórias, em detrimento de outras. Dentre estes locais, a escola terá
papel central.
No auxílio teórico para análises sobre a escola, autores como Antonio Viñao
(2005), proporcionam embasamento para a elaboração das perguntas feitas às fontes,
sobretudo na preocupação com a memória escolar, com ênfase a história material e social
das instituições educativas. Além disso, historiadores da educação têm se defrontado com
a urgência de preservar acervos escolares e, nesta tarefa, se veem desafiados a enfrentar
questões teóricas e práticas sobre a salvaguarda de documentos, que se traduzem em
7
SWANWICK, Keith. Op. Cit.
8
ABREU JUNIOR, Laerthe de Moraes. Op. Cit.
9
MIGNOT, Ana Chrystina Venancio. Sobre coisas de outros tempos: rastros biográficos nas crônicas de Cecília Meireles na "Página
de Educação". In: História da Educação (UFPel), v. 14, p. 81-99, 2010.
10
BARROS, José D'Assunção. O Projeto de Pesquisa em História. 7. ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2011, p. 88-89.
11
GIL, Antonio Carlos. Métodos e Técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1994. LE GOFF, J. Documento/Monumento. 1984.
In: Enciclopédia Einaudi: memória – história. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, p. 27
diálogos fecundos com arquivistas e bibliotecários a respeito das técnicas de seleção,
classificação e descarte.
12-Bibliografia
BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
BOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: Lembrança dos Velhos. São Paulo, SP. T.A. Editor,
1979.
DECCA, Edgar Salvadori De. Memória e Cidadania. O Direito a Memória. Patrimônio
Histórico e Cidadania. Departamento do Patrimônio Histórico. Secretaria Municipal de
Cultura.1992.
LE GOFF, Jacques, NORA, Pierre. História: novos problemas. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1995.
MIGNOT, Ana Chrystina; SILVA, Alexandra Lima da; SILVA, Marcelo Gomes da. Tantas
escolas, tantas memórias. Rio de Janeiro: FAPERJ, 2011, 50 min. (Vídeo documentário).
MOACYR, Primitivo. A instrução no Império. São Paulo: Companhia Editora Nacional, v. II,
1937.
NAGLE, Jorge. Educação e sociedade na Primeira República. São Paulo: EPU – Editora
Pedagógica e Universitária; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Material Escolar, 1974.
VINÃO FRAGO, Antonio. “La memoria escolar: restos y huellas, recuerdos y olvidos.
Múrcia: Universidade de Múrcia.” Trabalho apresentado em congresso realizado em
Bréscia, Itália. 2005.