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10 3.  Camilo Castelo Branco

Amor de Perdição

OEXP11CAE © Porto Editora


Sugestão biográfica (Simão e narrador) e construção do herói romântico

Segundo o autor, a ideia de escrever a obra veio-lhe de ter consultado, na cadeia, o livro de
registos de entradas referente a um seu tio, Simão Botelho, que havia sido degredado para a
Índia e de que se mantinha na família um maço de cartas de amor trocadas com Teresa Albu-
querque, por quem se apaixonara. A história, a que Camilo dá, pois, cunho de relato histórico e
familiar verídico, era, diz-se na Introdução, a história de como Simão, seu tio, “amou, perdeu-se
e morreu amando”, uma história trágica de amor e de ódio que se resolvera na perdição e na
morte prematura [...] de seu tio e, como o relato no-lo dirá, igualmente de Teresa Albuquerque
e de Mariana, vítimas do ódio e da repressão familiar, conventual e judicial. Uma história de
amor e de violência, portanto, bem ao jeito e ao gosto da novela passional de Camilo.
PAIS, Amélia Pinto, 2004. História da Literatura em Portugal
– Uma perspetiva didática. Vol. 2. Porto: Areal (pp. 78-79)

A obra como crónica da mudança social

Na contradição entre a ética pessoal, resultante do processo de consciencialização indivi-


dual que advém do encontro amoroso, e a honra social e familiar, causa e sinal de alienação,
debatem-se os protagonistas deste conflito trágico. Na generalidade, poder-se-ia considerar
que as figuras mais diretamente comprometidas na história narrada agem em defesa de um
ideal comum: a honra. No entanto, a luta de paixões entre si é também resultante do embate
entre duas gerações, que se chocam por perfilharem conceções opostas desses valores.
Transgressor por natureza, este amor nascido à revelia das convenções sociais encontra em
Simão, Teresa e Mariana tenazes defensores do seu prosseguimento, embora sob perspetivas
individuais e de tonalidades diversas, sendo vivido pelos três de forma violenta e irremediável.
Aos olhos do narrador, do herói e eventualmente do leitor, há situações que são justificáveis,
mas que podem ser julgadas como crimes pela sociedade, pelo que perpassa nesta obra uma
intenção crítica a essa mesma sociedade, numa perspetiva romântica: o herói assume os seus
direitos individuais, vivendo-os lucidamente em oposição aos seus deveres sociais, revelando
uma extrema capacidade de sentir, amar e sofrer até à morte. O livre-arbítrio, o temperamento
e o destino são fatores que se entrelaçam na obra, pelo que o herói é simultaneamente vítima e
culpado e tanto o amor, como o sofrimento nos surgem como meios de autoconhecimento e
elevação espiritual.
Esta obra equaciona de forma generalizada o sentido histórico das relações humanas a
nível da sociedade, da família e do indivíduo. Especificamente, o que a domina é um problema
mais profundo: o da probabilidade das relações amorosas, que se tornam, afinal, a génese fí-
sica e moral de toda a outra ordem de relações.
DIAS, Ana Paula, 1996. Para uma leitura de Amor de Perdição de Camilo Castelo Branco.
Lisboa: Presença (pp. 66-67)

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