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Pressão eleitoral ajuda a aprovar voto secreto em 1º turno - Carta Maior Página 1 de 8

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Política

Pressão
eleitoral ajuda
a aprovar voto
secreto em 1º
turno

Por Maurício Hashizume* - Carta Maior

05/09/2006 00:00

BRASÍLIA – O primeiro passo para a


extinção do voto secreto no Congresso
Nacional foi dado. A Proposta de Emenda
Constitucional (PEC) 349/2001 foi
aprovada em primeiro turno, nesta terça-
feira (5), por larga margem de votos

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favoráveis, sem nenhum voto contra e com


apenas quatro registros de abstenção. Em
plena campanha eleitoral, 383
parlamentares - a matéria exigia a
confirmação de pelo menos 308 votos,
quantia que representa a parcela de três
quintos necessária para a aprovação de
emenda constitucional - se manifestaram
favoravelmente à proposta de autoria do
deputado Luiz Antonio Fleury Filho (PTB-
SP), que prevê o fim do voto secreto para
todas as votações do Parlamento, inclusive
para a eleição dos membros da Mesa
Diretora tanto da Câmara quanto do
Senado.

A votação foi marcada pelo isolamento (e


conseqüente retirada) de um requerimento
para a apreciação prévia de uma outra
proposta de emenda aglutinativa de autoria
do líder da minoria, José Carlos Aleluia
(PFL-BA), que mantinha a votação secreta
para a eleição das Mesas. Depois da
sustentação feita pelo deputado da base
do governo e relator José Eduardo Martins
Cardoso (PT-SP) da matéria pela extinção
integral do voto secreto, Aleluia iniciou a
defesa da sua proposta lembrando que o
Parlamento da Inglaterra passou a adotar,
em 2001, o voto secreto para
determinadas ocasiões com o objetivo de
contrabalançar a influência do Poder
Executivo e de outros poderes sobre o
Legislativo.

O líder tucano Jutahy Magalhães Jr.


(PSDB-BA) reforçou a argumentação de
Aleluia ao comparar a eleição para a Mesa
da Câmara com uma eleição comum, em
que os deputados não estão
representando a população, mas sim
exercendo o papel de eleitores que,
portanto, têm direito ao voto secreto. Tanto
Aleluia como Magalhães tentaram
transmitir a idéia de que o próprio atual
presidente da Câmara, Aldo Rebelo
(PCdoB-SP), de um partido com
representação relativamente pequena na

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Casa, não seria eleito se o voto fosse


aberto.

Às manifestações dos líderes da oposição


– aos quais se somou o líder do PFL,
Rodrigo maia (PFL-RJ) - se seguiram uma
seqüência de pronunciamento de líderes
partidários francamente contrários à
proposta de Aleluia. Presidente da Frente
Parlamentar pelo Fim do Voto Secreto, Ivan
Valente (PSol-SP) disse que a população –
ávida pela transparência, pelo
fortalecimento do interesse público e pelo
combate à impunidade - não entenderia a
aprovação do “meio voto aberto”. Wilson
Santiago (PMDB-PB), líder de seu partido,
também recusou o requerimento e foi
acompanhado por representantes de
outras legendas como Inácio Arruda
(PCdoB-CE) – que aproveitou para alfinetar
a oposição dizendo que “se fosse aberta, a
votação em Aldo Rebelo (para a
presidência da Câmara, em setembro de
2005) seria ainda maior”, Alexandre
Cardoso (PSB-RJ), Miro Teixeira (PDT-RJ),
Fernando Gabeira (PV-RJ) e José Múcio
Monteiro (PTB-PE), além do próprio líder do
PT, Henrique Fontana (PT-RS). Apenas o
PL aderiu publicamente à proposta dos
líderes da oposição.

Antes que pudesse ser anunciada a derrota


acachapante do requerimento, Aleluia
retirou-o de votação, sem antes fazer a
ressalva de que a proposta, como está, não
será mantida no Senado Federal. Para
entrar em vigor, a PEC 349/2001 precisará
ainda passar pelo segundo turno no
próprio plenário da Câmara e ainda ser
aprovada no Senado e, conseqüentemente,
promulgada pelo Congresso Nacional.

Com a retirada do obstáculo, o parecer do


petista Martins Cardoso foi à votação e,
cerca de 40 minutos depois, às 17h38, o
resultado veio a público anunciando a
aprovação quase unânime da proposta da
extinção incondicional do voto secreto.

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Habilmente, o presidente Rebelo prestou


homenagens aos líderes da oposição,
lembrando que a desobstrução da pauta
com a votação de 20 medidas provisórias
(MPs) só foi possível graças ao “gesto” de
Aleluia, Magalhães Jr. e Maia.

Um dos argumentos centrais lançados


pelo relator para garantir a aceitação por
parte de seus pares foi a de que a eleição
do terceiro cargo mais importante da
República, a Presidência da Câmara, não
pode ser secreta. “Felizmente prevaleceu o
voto aberto integral no primeiro turno. Mas
é muito importante que a sociedade se
mantenha alerta e vigilante para que o
processo de tramitação da PEC não pare
por aqui”, advertiu Cardoso. Para ele, a
proposta precisa ser votada ainda este ano
e ser aplicada nos processos de cassação
dos congressistas envolvidos no caso de
desvios dos recursos do orçamento para a
compra de ambulâncias por municípios
que ficou conhecido como “escândalo das
sanguessugas”.

Rebelo, por sua vez, declarou que a


aprovação em primeiro turno do fim do
voto secreto não deve ser entendida
apenas como uma resposta específica ao
caso dos sanguessugas, mas como uma
“vitória da democracia”, que interessa ao
País e aproxima a Câmara do povo
brasileiro. Mas o próprio Ivan Valente, da
frente parlamentar que impulsionou a
aprovação da proposta, ressaltou que a
votação se deu principalmente pela
exigência do momento. “É uma questão
relativamente pequena que ficou grande
por causa da impunidade”, afirmou,
fazendo referência à absolvição da maioria
dos deputados envolvidos no chamado
"mensalão".

Para além do contexto atual e da


articulação do presidente da Casa com os
líderes partidários, a aprovação da emenda
do fim do voto secreto teve uma outra

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motivação fundamental. Mesmo antes da


votação, havia a possibilidade de que o
plenário – que votara pela manhã desta
mesma terça-feira (5) tanto a Lei Geral da
Micro e Pequena Empresa como o projeto
da loteria do Timemania - fosse esvaziado
para as votações do período da tarde. A
permanência, a chegada e a manifestação
pelo voto dos parlamentares foi grande e
significativa (quase 400 registraram
presença) especialmente por causa de um
fator específico: eles próprios se deram
conta de que o resultado da votação teria
reflexos diretos nas suas próprias
campanhas pela reeleição. De acordo com
levantamento feito pelo Departamento
Intersindical de Assessoria Parlamentar
(Diap), dos 513 deputados da legislatura
atual, 453 vão tentar a reeleição. Dos 60
restantes, 13 concorrem ao Senado, 11 a
governos estaduais, cinco a vice-
governador, quatro a primeiro suplente, um
a segundo suplente de senador e outros 11
disputam pleitos para conquistar uma vaga
como deputados estaduais. Ou seja,
apenas 17 desistiram completamente de
concorrer para cargo algum nas eleições
de 1º de outubro.

Autor da emenda do fim do voto secreto, o


deputado Fleury, ex-governador de São
Paulo, salientou que a matéria estava
pronta para ser submetido à votação no
Plenário desde 2005. O parlamentar não
descartou a possibilidade de que o voto
secreto integral venha a reforçar o poder
de influência do Poder Executivo e
possíveis julgamentos midiáticos
patrocinados e antecipados
unilateralmente pelos meios de
comunicação, mas assumiu uma posição
firme: a pressão existe e será cada vez
maior e aqueles que não quiserem ser
pressionados têm a opção de deixar a vida
pública como representante no Congresso
Nacional. “Se não houver provas
contundentes contra alguém (em
processos de cassação, por exemplo), o

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parlamentar precisa ter coragem para votar


contra”, completou Valente, do PSol, que
também compartilha a preocupação com
uma possível concentração ainda maior do
poder da mídia.

Ataques não cessaram


Depois da votação, Aleluia insistiu com a
previsão de que a proposta de extinção
integral do voto secreto será fatalmente
derrubada no Senado. “Não tenho dúvidas
de que será rejeitado”, disse. Na opinião
dele, o PT em particular, ao orquestrar a
derrubada do substitutivo que mantinha o
voto secreto para a eleição das Mesas,
jogou fora “algo palatável” em nome do
“texto dos sonhos de alguns”. Ele enfatizou
que o parecer aprovado exigirá mudanças
nos regimentos internos das Casas e
garantiu que os senadores não abrirão
mão de outras votações secretas
específicas do Senado, como a indicações
para cargos diplomáticos. “Quem é a
Câmara para tirar a prerrogativa do
Senado?”, indagou. Nas previsões do líder
a minoria, a aposta do governo fará com
que a tramitação da proposta seja
estendida. “Se os processos dos
sanguessugas ainda forem votados em
voto secreto, a culpa será do PT”.

“Se o voto secreto fosse mantido para a


eleição da mesa seria um grande atraso”,
retrucou Fontana, do PT. Segundo o líder
petista, esse tipo de escolha não privilegia
a relação entre partidos e o embate entre
propostas. “O cidadão precisa saber se o
seu parlamentar votou no Severino
(Cavalcanti, ex-presidente da Câmara, que
renunciou depois de denúncia de
recebimento de propina) ou no (Luiz
Eduardo) Greenhalgh (candidato do
governo para as eleições para a Mesa
Diretora da Câmara, vencida por Severino)”,
colocou. Com isso, adicionou Fontana, as
eleições internas tendem a ficar mais
previsíveis e programáticas, menos
sujeitas a negociações de cunho particular

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de última hora. “Espero que o Senado não


vire as costas para essa posição defendida
não apenas pela Câmara, mas por todo o
País”.

*colaborou Nelson Breve

Créditos da foto: José Cruz/ABr

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