Você está na página 1de 16
KONRAD HESSE AFORCA NORMATIVA DA CONSTITUICAO TRADUCAO DE. GILMAR FERREIRA MENDES Sergio Antonio Fabris Editor Titulo do original: Die normative Kraft der Verfassung © J.C.B. Mohr (Paul Siebeck), Tut As caracteristicas grificas desta obra e 0s direitos de publicagao, total ou parcial, em lingua portuguesa, pertencem ao editor. SERGIO ANTONIO FABRIS EDITOR Rua Miguel Couto, 745 Caixa Postal 4001 — Telefone (0512) 33 26 81 APRESENTACAO, Este trabalho do Professor Konrad Hesse que apresenta- mos 20 leitor brasileiro, base de sua aula inaugural na Univer- sidade de Freiburg-RFA, em 1959, € um dos textos mais signi- ficativos do Direito Constitucional moderno. Contrapondo-se as reflexdes desenvolvidas por Lassalle (*), esforca-se Hesse por demonstrar que o desfecho do embate entre os fatores reais de Poder ¢ a Constituigio no hi de vetificar-se, necessaria- mente, em desfavor ‘desta. A Constituicio nao deve ser consi- detada a parte mais fraca: Ressalta Hesse que a Constituigio nao ignites apenasumn pedacoidejpapel: mamergetiaide por Lassalle. Existem pressupostos realizaveis (realizierbare Voraus- setzungen), que, mesmo em caso de eventual confronto, per- mitem assegurar a sua forca normativa. A conversio das ques- Wes juridicas (Rechtsfragen) em questdes de poder (Machefra- gen) somente hi de ocotrer se esses pressupostos nao puderem ser satisfeitos. Sem desprezar o significado dos fatores histéricos, politi- cos e sociais para a forga normativa da Constituicdo, confere Hesse peculiar realce 4 chamada vontade de Constituigazo (Wille zur Verfassung). A Constituigao, ensina Hesse, transfor- ma-se em forca ativa se existir a disposicao de orientar a pro- pria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se fizerem- se presentes, na consciéncia geral — particulamermente, na consciéncia dos principais responsiveis pela ordem constitucio- nal —, nao s6 a vontade de poder (Wille zur Macht), mas tam- bém a’ vontade de Constituigo (Wille zur Verfassung). Fazemos votos que a reflexdo sobre as teses desenvolvidas por Hesse possa contribuir para uma fecunda discussio, entre és, sobre o significado e o valor da Constituigio ¢ sobre @ necessidade de preservar a sua forca normativa. "A presente traducio foi feita diretamente do original ale- mio, publicado pela Editora J.C, B, Mohr (Tubingen, 1959), tendo sido confrontada, posteriormente, com a traducdo para © espanhol claborada por Pedro Cruz Villalén (in: Escritos de Derecho Constitucional, Madrid, 1983, p. 60-84). Gilmar Ferreira Mendes (°) CE. Ferdinand Lasslle, Uber das Verfassungswesen, Berlim, Buchlandlung Vor Paul Singer, 1907; . amber a wadupio pata o ‘espanhol de W. Roces sob o titulo ‘Que es una Constitucion?””, Buenos Aes, Siglo Veinte, 1957, e as tradus6es para 0 portugués: “A Eséncia dda Constituicio”, baseada na traducio de Walter Stonner (Liber Juris, Rio de Jani, 1985) ¢ "0 que € uma Consiigto Politi” tradurida por Manuel Soares, Global Editora, Sio Paulo, 1987, 6 AGR Dav DVBI LF VVDSIRL. ZgesstW Abreviaturas Archiv des dffentlichen Rechts Die dffentliche Verwaltung Deutsches Verwaltungsblatt Lei Fundamental Vercinigung der Deutschen Staatstechtslehrer Zeitschrift fiir die gesamte Staatswissenschaft A Forca Normativa da Constituigao Em 16 de abril de 1862, Ferdinand Lassalle proferiu, nu- ma associagio liberal-progressista de Berlim, sua conferéncia sobre a esséncia da Constituicao (Uber das Vertassungswesen): Segundo sua tese fundamental, questées constitucionais nao so questoes juridicas, mas sim questdes politicas. E que a Cons- tituigio de um pais expressa as relagdes de poder nele domi- nantes: 0 poder militar, representado pelas Forcas Atmadas, © poder social, representado pelos latifundiatios, 0 poder eco- nomico, representado pela grande indiistria e pelo grande ca- pital, ¢, finalmente, ainda que nao se equipare ao significado doe demais, © poder intelecunal, represenado pelt eotaciencia ¢ pela cultura gerais. As relagdes faticas resultantes da conjuga- io desses fatores constituem a forca ativa determinante das feis ¢ das instituigoes da sociedade, fazendo com que estas ex: resem, tdo-somente, a cortelagio de forcas que resulta dos fatores reais de poder, Esses fatores reais do poder formam a Constituicao real do pais. Esse documento chamado Constitui- (Ao - a Constituigao juridica - nfio passa, nas palavras de Las- salle, de um pedaco de papel (ein Stiick Papier). Sua capacida- de de regular e de motivas esta limitada a sua compatibilida- de com a Constituicio real. Do contrario, torna-se inevitavel © conflito, cujo desfecho ha de se verificar contra a Constitui- cao escrita, esse pedaco de papel que tera de sucumbir diante dos fatores reais de poder dorninattes no pals. Questdes constitucionais nao sio, originariamente, ques- tes juridicas, mas sim questdes politicas. Assim, ensinam-nos no apenas os politicos, mas também os juristas. ‘Tal como ressaltado pela grande doutrina, ainda nao apreciada devida- 1.Gesammelte Reden und Schriften, org. ¢ introducao de Eduard Bernstein 11(1919), p. 25 s. mente em todos os seus aspectos — afirma Georg Jelinek qua- fenta anos mais tarde —, 0 desenvolvimento das Constituigocs demonstra que regras juridicas nao se mostram aptas a contro- lar, efetivamente, a divisdo de poderes politicos. As forcas po- Iiticas movem-se consoante suas prOprias leis, que atuam inde- pendentemente das formas juridicas’”. Evidentemente, esse pensamento nao pertence ao passado. Ele se manifesta, de for- ma expressa ou implicica, também no presente. E verdade que hoje ele surge apenas de forma mas simplificads e imprecsa, no se atribuindo relevancia maior a consciéncia ¢ A cultura gerais, também contempladas por Lasalle como fatores reais le poder. A concepcao sustentada inicialmente por Lassalle parece ainda mais fascinante se se considera a sua aparente sim- plicidade e evidéncia, a sua base calcada na realidade — 0 que totna imperioso 0 abandono de qualquer ilusio — bem como a sua aparente confitmagio pela experiéncia historica. E que a hist6ria consticucional parece, efetivamente, ensinar jue, tanto na_ praxis politica cotidiana quanto nas’ questoes indamentais do Estado, o poder da forca afigura-se sempre superior 4 forca das normas juridicas, que a normatividade sub- mete-se a realidade fitica. Pode-se recordar, a propésito, tan- t0.0 conflito relativo ao orcamento da Prussia (Budgeckonilike), teferido por Lassalle, como a mudanea do papel politico do Paslamento, subjacente a tesignada afitmacdo de Georg Jeli nek, ou ainda o exemplo da debacle da Constituigao de Wei- mar, que, em virtude de sua evidéncia, revela-se insuscetivel de qualquer contestacio. Considerada em suas conseqiiéncias, a concepcao da for- ga determinante das relacoes faticas significa o seguinte: a con- digio de eficiia da Constituigio juridica, isto € a coincidén: cia de realidade € norma, constitui apenas um limite hipotéti- co extremo. E que, entre a norma fundamentalmente estatica € racional ¢ a realidade fluida ¢ irracional, existe uma tensio necessitia ¢ imanente que nao se deixa eliminar. Para essa con- cepgio do Dircito Constitucional, esta configurada permanen- temente uma situacio de conflito: a Constituigao juridica, no que tem de fundamental, isto nas disposicées nao propriamen- 2. Verfassungsinderung und Verfassungswandlung (1906), p. 72 10 a te de indole técnica, sucumbe cotidianamente em face da Cons- tituigio real. A idéia de um efeito determinante exclusivo da Constituicao real nio significa outra coisa sendo a propria nega- ao da Constituico jurtdica. Poder-se-ia dizer, parafraseandor as conhecidas palavras de Rudolf Sohm, que o Direito Consti- tucional esta em contradigio com a propria esséncia da Consti- tuigio. Essa negacio do direito constitucional importa na negacao do seu valor enquanto ciéncia juridica. Como toda ciéncia ju- ridica, 0 Direito Constitucional € ciéneia normativa; Diferencia- se, assim, da Sociologia ¢ da Ciéncia Politica enquanto cién- cias da realidade. Se as normas constitucionais nada mais ex- pressam do que relacées faticas altamente mutaveis, nao ha co- mo deixar de reconhecer que a ciéncia da Constituicao juridi- ca constitui uma ciéncia juridica na auséncia do direito, nao Ihe restando outra funcZo senio a de constatar ¢ comentar os fatos criados pela Realpolitik. Assim, o Direito Constitucional nndo estaria a servico de uma ordem ‘estatal justa, cumprindo- Ihe tao-somente a miserdvel funcio — indigna’ de qualquer ciéncia— de justificar as relagdes de poder dominantes. Se a Ciéncia da Constituicao adota essa tese e passa a admitir a Cons- tituicao real como decisiva, tem-se a sua descaracterizagdo co- mo ciéncia normativa, opetando-se a sua conversio numa sim- ples ciéncia do ser. Nao haveria mais como diferenga-la da So- ciologia ou da Ciéncia Politica Afigura-se justificada a negacio do Direito Constitucional, € a conseqiiente negacao do préprio valor da Teoria Geral do Estado enquanto ciéncia, ‘se a Constituicdo juridica expressa, cfetivamente, uma momentinea constelacho de poder, AO contrario, essa doutrina afigura-se desprovida de fundamento se se puder admitir que a ConstituigZo contém, ainda que de forma limitada, uma forca propria, motivadora ¢ ordenadora da vida do Estado. A questio que se apresenta diz respeito 2 forca normativa da Constituigio, Existiria, ao lado do poder determinante das relacoes faticas, expressas pelas forcas polit case sociais, também uma-forca determinante do Direito Cons- titucional? Qual o fundamento € 0 alcance dessa forca do Di- reito Constitucional? Nao seria essa forca uma fic¢o necessiria para o constitucionalista, que tenta criar a suposigdo de que 0 u direito domina a vida do Estado, quando, na realidade, outras forcas mostram-se determinantes? Essas quest6es sutgem parti cularmente no ambito da Constituicdo, uma vez que aqui inc- xiste, a0 contrério do que ocorre em outras esferas da ordem juridica, uma garantia externa pata execucio de seus preceitos. conceito de Constituicao juridica e a propria definicio da Ciéncia do Direito Constitucional enquanto ciéncia normativa dependem da resposta a essas indagacbes. 2 Uma tentativa de resposta deve ter como ponto de parti- da 0 condicionamento reciproco existente entre a Constituigao juridica e a realidade politico-sociab (1.), Devem ser considera- dos, nesse contexto, 0s limites ¢ as possibilidades da atuagio da Constituicao juridica (2.). Finalmente, hio de ser investiga- dos os pressupostos de eficacia da Constituico (3.). 1. O significado da ordenagao juridica na realidade ¢ em face dela somente pode ser apreciado se ambas — ordenacio ¢ realidade — forem consideradas em sua relagio, em seu inse- parivel contexto, € no seu condicionamento reciproco. Uma anilise isolada, unilateral, que leve em conta apenas um ou outro aspecto, nao se afigura em condicées de fornecer respos- ta adequada a questo, Para aquele que contempla apenas a ordenacao juridica, a norma ‘‘esta em vigor”’ ou “‘esta derroga- da’'; Nao ha outra possibilidade. Por outro lado, quem consi- dera, exclusivamente, a realidade politica ¢ social ou nao con- segue perceber o problema na sua totalidade, ou seri levado a ignorar, simplesmente, o significado da ordenacao juridica A despeito de sua evidéncia, esse ponto de partida exige particular realce, uma vez que 0 pensamento constitucional do passado recente est mafcado pelo isolamento entre norma ¢ realidade, como se constata tanto no positivismo juridico de Fscola de Paul Laband Georg Jellinek, quanto no "‘positivis- mo sociolégico”’ de Carl Schmitt. Os efeitos dessa concepgao 3. A questio_ aqui apresentada sobre a forca normativa nfo constitui inda. gacio da teotia das fontes juridicas. Nao é decisivo, assim, definic se princ pios do direito suprapositivo podem integrar a ""Constituicao juridica’”. A problemitica subsiste mesmo em caso de uma resposta afitmativa (1),(2) € (3) Ver tépicos a seguir 4, Expressivos exemplos dessa forma de pensar podem ser identificados 3 ainda no foram supetados. A radical separagao, no plano cons- titucional, entre realidade e norma, entre set (Sein) ¢ dever set (Sollen) nao leva a qualquer avanco na nossa indagacio Como anteriormente observado', essa separacio pode levar a uma confirmacio, confessa ou nao, da tese que attibui exclusi- va forca determinante 3s relacoes fiticas:. Eventual énfase nu- ma ou noutta direcao leva quase inevitavelmente aos extremos de uma norma despida de qualquer elemento da realidade ou de uma tealidade esvaziada de qualquer elemento normati vo. Faz-se mister encontrar, portanto, um caminho entre o abandono da normatividade em favor do dominio das telacoes fiticas, de um lado, ¢ a normatividade despida de qualquer elemento da realidade, de outro. Essa via somente poder’ set enconttada se se renunciar a possibilidade de responder as in- dagacdes formuladas com base numa rigorosa alternativa. A hotma constitucional nao tem existéncia auténoma em face da realidade. A sua esséncia reside na sua vigéncia, ou seja, a situacio por cla regulada pretende ser concretizada na realida- de. Essa pretensio de eficécia (Geleungsanspruch) no pode ser separada das condicées historicas de sua realizacdo, que em P. Laband, Das Staatsrecht des Deutschen Reiches (5a. ed. 1911) I p. IX s.; G, Jellinek, Allgemeine Staatslehte (3a. ed. 1921) p. 20, 50 8.; © Schmitt, Verfassungsihre (1928). p22 5 he 5. CE. v.g. G. Leibholz, Verfassungsrecht und Verfassungswiklichkeit, edi sao reduzida, agora, in: Strukcurprobleme det modemnen Demokratie (1958), p. 279 s.: H. Ehmke, Grenzen der Verfassungsinderung (1953). . 33; Chr. Graf v. Crockow, Die Entscheidung (1958). p. 65 s. 6. V.g.: G. Jellinek, VerfassungsAnderung und Verfassungswandlung, cit., € Allgemeine Staasichre, p. 359; C, Schmitt, politische Theologte (2a ca 1934), . 18's. Guano ett a0 Formalismo ¢ ao Postvismo, © necessitio foi dito j4 Epoca de Weimar, principalmente por E. Kauf, ‘mann, R. Smend, H Helle © G. Holstein. C..a propésito, as teferencias ibiogrdfica indicadas na nor 7, particularmente, ainda i, Hele, Be ‘merkungen zur staats- und rechtsthcoretischen Problematik der Gegenwart, AGRINE 16 (1525). p- 901 sem especial 343 “ 4 esto, de diferentes formas, numa relacio de interdependéncia, criando regras proprias que nio podem ser desconsideradas. Devem ser contempladas aqui as condigées naturais, técnicas, econdmica,¢ soci, A pretensio de eficcia da norma judi ca somente sera realizada se levar em conta essas condicées. Hi de ser, igualmente, contemplado o substrato espiritual que se consubstancia num determinado povo, isto €, as concepcoes sociais coneretas ¢ 0 baldrame axiologico’ que influenciam de- cisivamente a conformacio, 0 entendimento ¢ a autoridade das proposices notmativas. Mas, — esse aspecto afigura-se decisivo — a preten de eficicia de uma norma constitucional no se confunde com as condicées de sua realizacio; a pretensio de eficacia associ se a essas condigdes como elemento auténomo. A Constituicio nao configura, portanto, apenas expressio de um ser, mas tam- bém de um dever ser; ela significa mais do que o simples refle- xo das condicbes fiticas de sua vigéncia, particularmente as for- as sociais e politicas, Gragas pretensio de eficacia, a Consti- tuigdo procura imprimir ordem e conformacio 3 tealidade poli tica € social. Determinada pela realidade social e, a0 mesmo tempo, determinante em telacio a ela, nao se pode definir co- mo fundamental nem a pura normatividade, nem a simples eficacia das condigées s6cio-politicas e econdmicas. A forca con- dicionante da realidade e a normatividade da Constituigéo po- dem ser diferengadas; elas nao podem, todavia, ser definitiva- mente separadas ou confundidas. 2. Para usar a terminologia acima referida, ‘*Constituicao real’” ¢ '*Constituigao juridica”” estao em uma telagio de coor- denagio.. Elas condicionam-se mutuamente, mas nao depen- dem, pura ¢ simplesmente, uma da outra, Ainda que nao de forma absoluta, a Constitui¢io juridica tem significado pro- prio. Sua pretensio de eficacia apresenta-se como elemento au- ténomo no campo de forgas do qual resulta a realidade do Es- 7. A despeito de todas as diferencas de ponto de vista, essa concepgio da estrutura do direito nao se perdeu no passado recente e no presente. Cf. v.g. O. Gietke, Die Grundbegriffe des Staatsrechts und die neuesten Sta: aistheorien ZgesStW 30 (1874), p. 159; E. Huber, Recht und Rechtsverwit- lichung (2. d., 1923), p31 sens: 281 ses: E. Kaufmann, Das Wesen des Valkertechts und die clausula rebus sic stantibus (1911) passim, especial 15 tado. A Constituicio adquire forca normativa na medida em que logra realizar essa pretensio de eficacia, Essa constatacio leva a uma outta indagacio, concemnente as possibilidades ¢ 40s limites de sua realizacéo no contexto amplo de interdepen- déncia no qual esta pretensio de eficdcia encontra-se inserida Como mencionado, a compreensio dessas possibilidades ¢ limites somente pode resultar da relacao da Constituicao juri- dica com a realidade. Nao se trata, a evidéncia, de revelacio nova. Ela permanece uma obviedade para a Teoria do Esta. do do Constitucionalismo, para a qual uma separacio entre 2 Constituicio jutidica e 0 Todo da realidade estatal ainda se afi- gura estranha. Se estou a analisar corretamente, esse entendi- ‘mento encontra a sua mais clara expresso nos escritos politi- cos de Wilhelm Humboldt. “Nenhuma Constitui¢ao politica completamente funda- da num plano tacionalmente elaborado — afirma Humboldt num dos seus primeiros escritos — pode lograr éxito; somen- te aquela Constituigao que tesulta da lura do acaso poderoso com a_racionalidade que se Ihe opée consegue desenvolver- se”. Em outros termos, somente a Constituigio que se vincu- le a uma situacio historica concreta e suas condicionantes, do- tada de uma ordenacio juridica orientada pelos parimetros da raza, pode, efetivamente, desenvolver-se. (...) ““Cuida-se de uma conseqiiéncia — acrescenta ele — da natureza comple- tamente singular do presente’” (aus der ganzen Beschaffenheit der Gegenwart). ‘‘Os projetos que a razao pretende concreti- zat recebem forma ¢ modificagao do objeto mesmo a que se dirigem. Assim, podem eles tornar-se duradouros ¢ ganhar uti- lidade. Do contratio, ainda que sejam executados, permane- cem eternamente estéreis.... A razio possui capacidade para dar forma a matéria disponivel. Ela nao dispde, todavia, de forca pata produzir substincias novas. Essa forca reside apenas na natureza das coisas; a razio verdadeiramente sibia empres- ‘mente p. 102.s., 107 s. 115, 125 s, 129 s.; idem, Untersuchungsausschug und Staatsgetichtshof (1920), p. 68: resumindo ¢ particularmente impres- sionante, com certeza, com uma tendéncia fundamental para harmoniza- Sf Kerik der neukanischen Rechtsphilosophie (1921) passim; D. Sch ler, Verfassungsrecht und soziale Struktur (3a. ed., 1950); com particular 16 ta-lhe estimulo, procurando dirigi-la. Ela mesma permanece modestamente estagnada. As Constituig6es nao podem ser im- ostas aos homens tal como se enxertam rebentos em Arvores. ¢ © tempo € a natureza nfo atuaram previamente, é como- se se pretendesse coser pétalas com linhas. O primeito sol do meio-dia haveria de chamusca-las'’». Na monografia sobre a Constituigao Alema, de dezembro de 1813, desenvolveu Humboldt as Seguintes teflexdes. ‘‘As Constituigées, afirma, pertencem aquelas coisas da vida cuja realidade se pode ver, mas cuja origem jamais podera ser to- talmente compreendida e, muito menos, reproduzida ou copia- da. Toda Constituigfo, ainda que considerada como simples construcio tedrica, deve encontrar um germe marerial de sua forca vital no tempo, nas cifcunstincias, no caréter nacional, necessitando apenas de desenvolvimento. Afigura-se altamen: claeza: H. Heller op.cit, ¢ Staatslchre (1934) passim, particularmente, p 184s; U. Scheuner® Beirite der Bundestepublik zur europdischen Verte digungsgemeinschaft-und Grundgesetz, Rechisgutachten in: Der Kampf tum den Wehrbeitrag I1 (1953), p. 101 s; idem, Grundfrage des modernes Staates in; Recht, Staat und Wirschaft III (1951), p. 1s4; J. Winch, Ober Eingenar und Methode verfassungsgerictlcher Rechtsprechung.in Verfassung und Verwaltung in Theorie und. Wistlichket, Fesschafe fir Wilhelm Laforet (1952), p22; G. Diirig, Art. 2 des Grundgesetzes und die Generaleomihugung zu aleencnpoliclchen Mageahmen, A&R 79 (1953/54), p. 67 541 Idem, Det deuschem Staat im Jahte 1943'und sei ther, Verotfendichungen der Nedcnigng der Beutel Sacchi 13 (1955) p. 33 81 G. Leibholz, Vertassungsrecht und Verfssungswirklich- eis tp 280A coi da inegrago egrionehr) erase pa 1 tealizal uma aproximagdo entie norma ¢fato e redurit, xsi, 4 neces tia tendo entre ambos, cl como resaltado por R. Smend (Artikel "Integra sole’ is Handwsbuch dex Sovabwssostaten, Vp. 301) medida em que ela vslumbra o problema como uma ""questio concernen- te A substinga especifiea do Estado como objeto de disciplina juridica na Consttuigo"”(R. Smend, Verfasung und Verfassungstecht in: Staatstecht- Tiche ABhandiungen (1955), p- 188) 8. Ideen der Staatsverfassung, durch die neue franzésische Konstitution ve- ranlat (1791), Ges. Schriften, organizado pela Preussische Akademie der Wissenschaften 1 (1903), p. 78 (Grifos meus). 7 te precario pretender concebé-la com base, exclusivamente, ‘nos prinefpios da razéo e da experiéncia’ Com essas assertivas, logrou Humboldt explicitar os limi- tes da forca normativa da Constituigao, Se nao quiser permane- cer “‘eternamente estéril’’, a Constituicgo — entendida aqui como ‘‘Constitui¢io jutidica’’” — nao deve procurar construir © Estado de forma abstrata ¢ teérica. Ela nao logra produ nada que ja nao esteja assente na natureza singular do presen- te (individuelle Beschaffenheit der Gegenwar). Se Ine'tltaea esses pressupostos, a Constituicio nao pode emprestar ‘“for- ma ¢ modificacio” 4 realidade; onde inexiste forca a ser des- pertada — forca esta que decorre da natureza das coisas — ‘no pode a Constituicao emprestar-Ihe direcZo; se as leis cultu- rais, sociais, politicas e econdmicas imperantes sdo ignoradas pela Consticugfo, carece cla do impresindivel game de sua forca vital. A disciplina normativa contritia a essas leis no lo- gra concretizar-se. Definem-se, a0 mesmo tempo, a natureza peculiar € a possivel amplitude da forca vital ¢ da eficécia da Constituicio. ‘A notma constitucional somente logra atuar se procura cons. ttuir 0 futuro com base na natureza singular do presente. Tal como exposto por Humboldt alhures, a norma constitucional mostra-se eficaz, adquite poder e prestigio se for determinada pelo principio da necessidade. Em outras palavras, a forca vi- tal c a eficacia da Constituigao assentam-se na sua vinculacio as forcas espontineas e as tendéncias dominantes do seu tem. Po, 0 que possibilita o seu desenvolvimento ¢ a sua ordenacio objetiva. A Constituiclo converte-se, assim, na ordem geral objetiva do complexo de relacdes da vida 9. Ges. Schriften 11, p. 99 10. Ideen zu einem Versuch, die Wirksamkeit des Staates zu bestimmen Ges, Schriften I, p. 244, 245; Vgl. auch Denkschrift uber Prewaens stindis: che Verfassung (1819) Ges. Schriften 12, 232 18 Mas, a forca normativa da Constituicio nao reside, tdo-so- mente, na adaptacio inteligente a uma dada realidade». A Constituicio jutidica logra converter-se, ela mesma, em forca ativa, que se assenta na natureza singular do presente (indivi-* duelle Beschaftenheit der Gegenwart). Embota a Constituicdo ‘no possa, por si s6, realizar nada, ela pode impor tarefas. A Constituicao transforma-se em forca ativa se essas tarefas forem cfetivamente realizadas, se existir a disposicio de otientar a prOpria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se, a des- peito de todos os questionamentos e reservas provenientes dos juizos de conveniéncia, se puder identificar a vontade de con cretizar essa ordem. Concluindo, pode-se afitmar que a Consti- tuigio converter-se-4 em forca ativa se fizerem-se presentes, nna consciéncia geral — particularmente, na consciéncia dos prin. cipais responsaveis pela ordem constitucional —, nao s6 a von- tade de poder (Wille zur Mache), mas também a vontade de Constituicao (Wille zur Verfassung). Essa vontade de Constituicao origina-se de trés vertentes diversas. Bascia-se na compreensio da necessidade ¢ do va- lor de uma ordem normativa inquebrantivel, que proteja 0 Estado contra o arbitrio desmedido e distorme. Resi- de, igualmente, na compreensio de que essa ordem constitui- da € mais do que uma ordem legitimada pelos fatos (e que, pot isso, necessita de estar em constante processo. de legitimacdo). Assenta-se também na consciéncia de que, 20 contratio do que se dé com uma lei do pensamento, essa 11, Com acerto observa G. Ritter sobre esse pensamento de Humboldt que, estranhamente, nele se encontra muito pouco sobre uma vontade ctia: tiva capaz de estabeiecer grandes metas e de lutat para a superacdo de te sisténcias, De qualquer forma, cogita-se muito mais de uma inteligente adequacio a uma realidade (Stein - Il - p. 260). Também R. Smend (Att Incegrationslehre, p. 301) ressalta enfaticamente os perigos de uma concep. sto constitucional que enfatiza, unilateralmente, o significado das leis ima- nnentes da matéria e que empreste pouco significado a vontade de conformacio. 19 ordem nao logra ser eficaz sem o concurs da vontade huma- nna. Essa ordem adquire ¢ mantém sua vigéncia através de aros de vontades. Essa vontade tem conseqiiéncia porque a vida do Estado, tal como a vida humana, nao esti abandonada a acao surda de forcas aparentemente inelutaveis, Ao contrario, todos nds estamos permanentemente convocados a dar confor- macao a vida do Estado, assumindo ¢ resolvendo as tarefas por ele colocadas. Nao perceber esse aspecto da vida do Estado re- presentaria um perigoso empobrecimento de nosso pensamen- to. Nao abarcariamos a totalidade desse fendmeno e sua inte- gral e singular natureza. Essa natureza apresenta-se no ape- nas como problema decorrente dessas circunstancias inelutaveis, mas também como problema de determinado ordenamento, isto €, como um problema normativo. 3. A forca que constitui a esséncia e a eficécia da Consti- tuigio reside na natureza das coisas, impulsionado-a, conduzin- do-a e transformando-se, assim, em forca ativa. Como demons- trado, dai decorrem os seus limites, Dai resuitam também. 0s ressuipostos que permitem & Constituigao desenvolver de for- ‘ma 6tima a sua forca normativa. Esses pressupostos referem- se tanto ao contetido da Constituigio quanto a praxis constitu- cional. Tentarei enunciar, de forma resumida, alguns desses re- quisitos mais importantes. 2) Quanto mais o contetido de uma Constituicio lograr corresponder & natureza singular do presente, tanto mais segu- ro ha de ser 0 desenvolvimento de sua forca notmativa. Tal como acentuado, constitui requisito essencial da forca normativa da Constituicio que ela leve em conta nao s6 os ele- mentos sociais, politicos, ¢ econdmicos dominantes, mas tam- bém que, principalmente, incorpore o estado espiritual (geistige Situation) de seu tempo. Isso Ihe ha de assegurar, enquanto otdem adequada e justa, 0 apoio c a defesa da consciéncia geral Afigura-se, igualmente, indispensivel que a Constituico mostre-se em condigées de adaptar-se a uma eventual 12, H, Heller, AOR NF 16, p. 341, 353. 20 mudanca dessas condicionantes. Abstraidas as disposigées de indole técnico-organizatoria, ela deve limitar-se, se possivel, ao estabelecimento de alguns poucos principios fundamentais, cujo contetido especifico, ainda que apresente caracteristicas novas em virtude das céleres mudancas na realidade s6cio-poli- tica, mostre-se em condigdes de ser desenvolvido». A "‘constitu- cionalizagio’” de interesses momentineos ou particulares exi- ge, em contrapartida, uma constante revisio constitucional, com a inevitavel desvalorizagao da forca normativa da Consti- tuicio. Finalmente, a Constituigao nao deve assentar-se numa es- trutura unilateral, se quiser preservar a sua fozca normativa num mundo em processo de permanente mudanca politico-so- cial. Se pretende preservar a forca normativa dos seus princi- pios fundamentais, deve ela incorporar, mediante meticulosa ponderacio, parte da estrutura contriria, Direitos fundamen- tais ndo podem existir sem deveres, a divisio de poderes ha de pressupor a possibilidade de concentragio de poder, o fede- ralismo nao pode subsistir sem uma certa dose de unitarismo. Se a Constituicio rentasse concretizar um desses principios de forma absolutamente pura, ter-se-ia de constatar, inevitavel- mente — no mais tardar em momento de acentuada crise — jue cla ultrapassou os limites de sua forca normativa. A reali- de havests deiple-semmo & soa normatiidede; of principios due ela buscava concetizarestatiam inremediavelmente derto gados. b) Um 6timo desenvolfimento da forca normativa da Cons- tituig@o depende nao apenas do seu contetido, mas também de sua praxis. De todos os participes da vida constitucional, exige-se partilhar aquela concepcio anteriormente por mim denominada vontade de Constituicao (Wille zur Verfassung). Ela € fundamental, considerada global ou singularmente ‘Todos os interesses momentineos — ainda quando realiza- dos — nao logram compensar o incalculavel ganho resultante do comprovado respeito 4 Constituigio, sobretudo naquelas 13. 0 fato de a Constituigio americana estar assentada nesse principio con figura nao a tinica, mas, certamente, a fonte essencial de sua incomparavel vitalidade. a situagdes em que a sua observancia revela-se incémoda. Co- mo anotado por Walter Burckhardt, aquilo que é identificado como vontade da Constituicio ‘‘deve ser honestamente preser- vado, mesmo que, para isso, tenhamos de renunciar a alguns beneficios, ou até a algumas vantagens justas. Quem se mostra disposto a suctficar um interesse em favor da preservarao de um principio constitucional, fortalece o respeito a Constitui garante um bem da vida indispensavel a esséncia do Estado, mormente ao Estado democratico’’. Aquele, que, ao contratio, nfo se dispée a esse sactificio, “‘malbarata, pouco a pouco, uum capital que significa muito mais do que todas as vanta- gens angariadas, e que, desperdicado, nao mals sera recuperado’ Igualmente perigosa para forca normativa da Constituicao afigura-se a tendéncia para a freqiiente revisio constitucional sob a alegacdo de suposta ¢ inarredavel necessidade politica. Cada reforma constitucional expressa a idéia de que, efetiva ou aparentemente, atribui-se maior valor as exigéncias de indo- le fatica do que & ordem normativa vigente. Os precedentes aqui sio, por isso, particularmente preocupantes. A freqiiéncia das reformas constitucionais abala a confianca na sua inquebran- tabilidade, debilitando a sua forca normativa. A estabilidade constitui condicio fundamental da eficécia da Constituicao. Finalmente, a interpretacio tem significado decisivo para a consolidacio € preservacto da forca normativa da Constitui- cao. A intetpretacdo constitucional esta submetida ao principio da 6tima concretizagio da norma (Gebot optimaler Verwir- Klichung der Norm). Evidentemente, esse principio nao pode set aplicado com base nos meios fornecidos pela subsuncio 16- gica e pela _construgao conceitual. Se o diteito ¢, sobretudo, a Constituigdo, tém a sua eficacia condicionada pelos fatos con- cretos da vida, nao se afigura possivel que a interpretagao faca deles tabula rasa. Ela ha de contemplar essas condicionantes, cortelacionando-as com as proposigées normativas da Constitui- cdo. A interpretacao adequada € aquela que consegue concretizar, 14, Walter Burckhardt, Kommentar der schweizerichen Bundesverfassung Ga. ed., 1931) p. VIIL 22 de forma excelente, o sentido (Sinn) da proposigio normativa dentro das condigdes reais dominantes numa determinada si- tuacio. Em outras palavras, uma mudanca das relagdes faticas po- de — ou deve — provocar mudancas na interpretacao da Cons- tituicfo. Ao mesmo tempo, o sentido da proposicio juridica estabelece o limite da interpretacio ¢, por conseguinte, o limi te de qualquer mutacio normativa. A finalidade (Telos) de uma proposico constitucional ¢ sua nitida vontade normativa ndo devem ser sacrificadas em virtude de uma mudanca da si tuacio. Se o sentido de uma proposicio riormativa néo pode mais ser realizado, a revisio constitucional afigura-se inevit vel. Do contratio, ter-se-ia a supressio da tensio entre norma ¢ telidade com a suprssio do proprio diteto, Uma interpre: tago construtiva € sempre possivel ¢ necesséria dentro desses limites. A dinamica existente na interpretacio construtiva cons- titui condicio fundamental da forca normativa da Constituicao €, por conseguinte, de sua estabilidade. Caso ela venha a fal- tar, tornar-se-d ineviavel, cedo ou tarde, a ruptuta da situacio juridica vigente. .» * 23 -ll- 1. Em sintese, pode-se afirmat io jutidica est condicionada pela realidade hist6rica. Ela nfo pode ser separa da da tealidade concreta de seu tempo. A pretensio de efica- cia da Constituicéo somente pode ser realizada se se levar em conta essa realidade. A Constituicao juridica nao configura ape- nas a expressio de uma dada realidade. Gracas ao elemento normativo, ela ordena e conforma a realidade politica e social. [As possibilidades, mas também os limites da forca normativa da Constituicao resultam da cortelacio entre ser (Sein) ¢ dever set (Sollen). ‘A ConstituigZo juridica logra conferir forma e modificacao a realidade. Ela logra despertar ‘‘a forca que reside na nature- za das coisas’’, tornando-a ativa. Ela propria converte-se em forca ativa que influi ¢ determina a tealidade politica ¢ social Essa forca impée-se de forma tanto mais efetiva quanto mais ampla for a conviecdo sobre a inviolabilidade da Constituicao, quanto mais forte mostrar essa conviceo ente os principals responsiveis pela vida constitucional. Portanto, a intensidade da forca normativa da Constituicio apresenta-se, em primeiro plano, como uma questao de vontade normativa, de vontade de Constituigio (Wille zur Verfassung)). ‘Constatam-se os limites da forca normativa da Constitui- io quando a ordenacéo constitucional nao mais se baseia na natureza singular do presente (individuelle Beschaffenheit der Gegenwart). Esses limites nao sao, todavia, precisos, uma vez que essa qualidade singular é formada tanto pela’ idéia de vontade de Constituicdo (Wille zur Verfassung) quanto pelos fatores sociais, econémicos ¢ de outra natureza. Quanto mais intensa for a vontade de Constituiso, menos significativas hao de set as resttigées ¢ os limites impostos a forca normativa da Constituicio. A vontade de Constituigao nao € capaz, porém, de suprimir esses limites. Nenhum poder do mundo, nem mesmo a Constituicio, pode alterar as condicionantes naturais. Tudo depende, portanto, de que se conforme a Constituicio 24 a esses limites. Se os pressupostos da forca normativa encontra- rem correspondéncia na Constituigio, se as forcas em condi- soes de violé-la ou de alteri-la mostrarem-se dispostas a ren- der-Ihe homenagem, se, também em tempos dificeis, a Consti tuigio lograr preservar a'sua forca normativa, entao ela configu- ra verdadeira forca viva capaz de proteger a vida do Estado con- tra as desmedidas investidas do arbitrio. Nao é, portanto, em tempos tranqiiilos ¢ felizes que a Constituicdo’ normativa vé- se submetida sua prova de forca. Em verdade, esta prova dé-se nas situacdes de emergéncia, nos tempos de necessidade. Em determinada medida, reside aqui a relativa verdade da co- nhecida tese de Carl Schmitt segundo a qual o estado de ne- cessidade configura ponto essencial para a caracterizacao da for- g@ normativa da Constituigto, Importance, todavia, nao € ver icar, exatamente durante o estado de necessidade, a superiori- dade dos fatos sobre o significado secundirio do elemento nor- mativo, mas, sim, constatar, nesse momento, a superioridade da norma sobre as circunstancias faticas. 2. Tudo isso nao significa mais do que uma primeira orienta- Gio basica em relagio aos problemas anteriormente enunciados. Essa orientacio fornece, porém, uma resposta prévia as ques- tes colocadas. A Constituicdo juridica nao significa simples pedaco de papel, tal como caracterizada por Lassalle. Ela nao se afigura “'impotente para dominar, efetivamente, a disttibui- cao de poder"’, tal como ensinado por Georg Jellinek e como, hodiernamente, divulgado por um naturalismo ¢ sociologis: mo que se pretende cético. “A Constituicio nfo esta desvincula- da da realidade hist6rica concreta do seu tempo. Todavia, ela no esti condicionada, simplesmente, por essa realidade. Em ca- 0 de eventual conflito, a Constituicio nao deve ser considerada, necessariamente, a parte mais fraca, Ao contrario, existem pressu- postos realizaveis (realizierbare Voraussetzungen) que, mesmo em caso de confronto, permitem assegurar a forca normativa da Constituigio. Somente quando esses pressupostos no puderem set satisfeitos, dar-se-4 a conversio dos problemas constitucionais, ‘enquanto questdes juridicas (Rechesfragen), em questées de poder (Machefragen). Nesse caso, a Constituiga0 juridica sucumbira em face da Constituigdo real. Essa constatagio nio justifica que se ne- 25 gue 0 significado da Constituicio juridica: 0 Direito Constitucio- nal nfo se encontra em contradicio com a natureza da Constituicao. Portanto, o Direito Constitucional nao esta obrigado a abdi- car de sua posigio enquanto disciplina cientifica, Se a Constitui- cio juridica possui significado proprio em face da Constituigio re- al, no se pode cogitar de perda de legitimidade dessa disciplina enquanto ciéncia juridica, Ele nao € — no sentido estrito da So- ciologia ou da Ciéncia Politica — uma ciéncia da realidade. Nao é mera ciéncia normativa, tal como imaginado pelo positivismo formalista. Contém essas duas caracteristicas, sendo condicionada tanto pela grande dependéncia que o seu objeto apresenta em re- lacio a realidade politico-social, quanto pela falta de uma garan- tia externa para a observincia das normas constitucionais. Em ver- dade, esse fato mostra-se mais evidente na Ciéncia do Direito Constitucional do que em outras disciplinas juridicas. A intima conexio, na Constituicio, entre a_normatividade e a vinculacao do direito com a realidade obriga que, se nao quiser faltar com © seu objeto, o Dircito Constirucional se conscientize desse condi- cionamento da normatividade. Para que as suas proposigées te- iiham consisténca em face da realidade, cle nto deve contentar se com ua, complementasio superficial do“ pensamento jut 0 rigoroso”” através da adocio de uma perspectiva historica, so- cial, econémica, ou de outra indole». Devem ser examinados to- dos os elementos necessérios atinentes as situacoes e forcas, cuja atuacio afigura-se determinante no funcionamento da vida do Estado. Por isso, 0 Direito Constitucional depende das ciéncias da realidade mais proximas, como a Historia, a Sociologia ¢ a Eco- nomia. Isso significa que o Direito Constitucional deve preservar, modestamente, a consciéncia dos seus limites. Até porque a forca normativa da Constituigao € apenas uma das forcas de cu- ja atuagio resulta a realidade do Estado. E esta forca tem limi- tes. A sua eficicia depende da satisfacio dos pressupostos aci- ‘ma enunciados. Subsiste para o Direito Constitucional uma enor- me tarefa, sobretudo porque a fora normativa da Constitui- go nao est4 assegurada de plano, configurando missio que, somente em determinadas condigées, poder ser realizada de 15. R. Smend, Art. “Integrationslehre"’, p. 300. 26 forma excelente. A concretizacio plena da forca normativa cons- titui meta a ser almejada pela Ciéncia do Direito Constitucio- nal, Ela cumpre seu mister de forma adequada nio quando procura demonstrar que as questes constitucionais si0 ques- tGes do poder, mas quando envida esforgos para evtar que clas se convertam em questoes de poder (Machefragen) Em outros termos, o Direito Constitucional deve explici- tar as condigdes sob as quais as normas constitucionais podem adquirir a maior eficécia possivel, propiciando, assim, 0 desen- volvimento da dogmatica e da’ interpreta¢ao constitucional Portanto, compete ao Direito Constitucional realcar, despertar € preserat a vontade de Constituicto (Wille zur Verfusung), que, indubitavelmente, constitui a maior garantia de sua for- ca normativa», Essa orientaco torna imperiosa a assuncio de luma visio critica pelo Direito Constitucional, pois nada seria mais perigoso do que permitir 0 surgimento de ilusdes sobre questées fundamentais para a vida do Estado. 16, W. Hennis ressaltou, corretamente, que, em face do fascinio exercido peia forga normativa das relagbes fiticas, cabe a ciéncia a missio de “'recor- dar o significado da forca normativa da Norma’” (Meinungsforschung. und reprisentative Demokratie (1957) p. 52; Cf. também W. Kagi, Rechtsfta igen der Volksinitiative auf Partialrevision, in: Vethandlungen des Schweize Fischen Juristenvereins, (1956), p. 741s. 27 -IV- ‘Tendo tido oportunidade de conscientizar-nos dessa pro- blematica, tentarci, finalmente, demonstrar a sua relevancia com base na analise da ordem constitucional vigente. Pode-se imaginar que o status dominante repudia, de for- ma clara, todo qualquer questionamento da Constituicio ju- fidica, Em verdade, exitem elementos quc fessaltam 0 peeu- liar significado atribuido 4 Constituigao juridica na vida do Estado moderno. A politica interna afigura-se, em grande me- dida, ‘‘juridicizada’’. A argumentacio ¢ discussio constitucio- nal assumem particular significado tanto na rclagao entre a Unido ¢ os Estados, quanto na relaco entre diversos 6rgios estatais ¢ suas diferentes fungdes. Embora elas parecam, por natureza, refratarias a uma regulamentacio juridica, até mes- mo as forcas que imprimem movimento e ditesao 4 vida politi- ca — os partidos politicos — estio submetidas a ordem consti- tucional. Os principios basilares da Lei Fundamental nao po- dem ser alterados mediante revisio constitucional, conferindo preeminéncia ao principio da Constituicio juridica sobre 0 pos- tulado da soberania popular (I). O significado superior da Constituigao normativa manifesta-se, finalmente, na quase ili- mitada competéncia das Cortes Constitucionais — principio até entdo desconhecido —, que esto autorizadas, com base em parimetros juridicos, a’ proferir a tiltima palavra sobre os conilitos constitucionais, mesmo sobre questes fundamentais da vida do Estado. A Constituigio nao ficou limitada a esses aspectos. Até mesmo no ambito do Direito Civil, que antes parecia rigorosamente isolado, assegura-se-Ihe, através da juris- digo dos Tribunais Federais, “uma posicao de relevo. ‘Todo esse complexo nao deve ser subestimado. Nés nao devemos, todavia, olvidar que estamos colocados, de forma particular, diante do problema relativo a forca normativa da Constituicio. ‘Tal como acentuado, a forca normativa da Cons- tituicao depende da satisfacio de determinados pressupostos atinentes a praxis e 20 contetido da Constituigio, Esses pressu- postos nao foram ainda totalmente satisfeitos. (DV. nota do Tradutor no final do livro. 28 Aquela posigio por mim designada vontade de Constitui- sao (Wille zur Verfassung) afigura-se decisiva para a praxis cons- titucional, Ela é fundamental, considerada global ou singular. mente. O observador critico nao poder negar a impressio de que nem sempre predomina, nos dias atuais, a tendéncia de sactificar interesses particulares com vistas a preservagio. de um postulado constitucional; a tendéncia parece encaminhar- se para o malbaratamento no varejo do capital que existe no fortalecimento do respeito a Constituicio. Evidentemente, es- sa tendéncia afigura-se tanto mais perigosa se se considera que a Lei Fundamental nao esta plenamente consolidada na cons- ciéncia geral, contando apenas com um apoio condicional Nao menos significativo afigura-se 0 questionamento da forca normativa de varias disposicdes constantes da Lei Funda- mental. Muitas vezes foram ressaltadas as tensdes existentes en- tre 0 Direito Constitucional e a realidade constitucional no sis- tema da Repiblica Federal da Alemanha». O exemplo mais conhecido — ainda que nao constitua exemplo fundamental — refere-se ao art. 38, I da Lei Fundamental, no qual se estabele- ce que os deputadoé do Parlamento alemio sio representantes de todo 0 povo, nao estindo vinculados a ordens ou instru- goes. Embora passe muitas vezes despercebido, 0 perigo do div6rcio entre 0 Direito Constitucional e a realidade amea- ca.um elenco de principios basilares da Lei Fundamental, par- 17. As céticas observagoes de W. Kagi(op. cit. p. 762 ¢ s.) demonstram que essa constatacio expressa uma tendéncia eral, que nao se limita a Re- ppblica Federal da Alemanha e & sua pouco tradicional Constituisio. Ante- riormente, H.Huber, Niedergang des Rechts und Krise des Rechtsstaaes, in: Demokratie und Rechtstaat, in: Festgabe fiir Z. Giacometti (1953) p. 71 segs ¢, particularmente, W. Kagi, Die Verfassung als rechtliche Grund- ordauing des Staates (1945), p. 9s 18. Cf particulatmente W. Weber, Spannungen und Krifie im westdeutschen Verfassungssystem (2a. ed., 1958), 19. A propésito, CF. sobretudo: G. Leibholz, Der Strukturwandel der mo: dernen Demokrate: in Srukturprobleme p78 segs: especialmente p 112. Nao se considera, todavia, que o art. 38 I da Lei Fundamental deve des renhar uma nova ¢ essencial funciona modema democracia institufda pe- ls Constituicdo. Ele no esté em contradigio com o art. 21, sendo que con figura uma conseqiiéncia desse dispositivo, particularmente do seu parigr 29 ticularmente 0 postulado da liberdade. Este se torna um sério problema no contexto da profunda mudanca de concepsao de vida do homem moderno, resultante das condicées impostas pela sociedade industrial» Aqui se encontra o presente confrontado, em toda profun- didade, com a indagacio sobre a efetividade das normas juridi- cas no contexto de uma realidade dominada por correntes e tendéncias contraditérias. O questionamento da Constituicao nao decorre de um estado de anormalidade. Ao contririo da Constituigao de Weimar, a Lei Fundamental (Grundgesetz) — promulgada numa época de inesperado desenvolvimento eco- némico e sob a influéncia de relacées politicas relativamente estveis — nao foi submetida a uma prova de forca. Como re- ferido, as siruacées de emergéncia no ambito politico, econ6- mico ou social configuram a maior prova desse tipo para a for- a normativa da Constituig’o, uma vez que elas nao podem ser resolvidas com base no exercicio das competéncias conven- cionais previstas na Constituicio. A Lei Fundamental (Grund- _gesetz) no esta preparada para esse embate® . fo 1°, 3° periodo, na medida em que assegura a democracia interna nos partidos, garantindo o desenvolvimento intrapartidatio € 0 processo de li- ve formacao de opinito publica. Esse aspecto foi ressaltado por O. Kirch- heimer (Parteistruktur und Massendemokratie in Europa, AdR 79 (1953/54), B, 3105. 3158) : sie i 20. A propésito, principalmente, H. Freyer, Das soziale Ganze und die Freiher det Einzelner unter den Bedingungen des industiellen Zeitalters (1987): E: Fechner, Die soviologische Grenze der Grundrechte (1954), R Guardini, Das Ende der Neuzeit (1950), p. 66 s. 21. Cf. a propésito: K, Hesse, Ausnahmezustand und Grundgesetz, DOV 1955, 741 s. Accritica desse artigo por A. Hammann (Zur Frage eines Aus- rnahme- oder Staatsnotstandstechts, DVBI. 1958, p. 405 segs) nio levou ‘em conta os objetivos visados por esse trabalho. Trata-se de uma tentativa de esclarecer a problematica fundamental e suscitar discussio a propésito, antes de examinar questées particulates. Por iss, fiz, na inttoducao do tra- batho, uma apresentacio exemplificativa e nao um catalogo exaustivo das possiveis situacdes de emergéncia, acentuado que, hodiernamente. Esses éasos nd se dexam mais eterminar preyiament (p. 741s). Ndo me pare ceu, portanto, decisivo emprestar uma determinada conformacio 20 ditci- 10 do estado de necessidade (Recht des Ausnahmezustandes), afigutando se-me suficiente que o problema seja identificado e levado a sério. 30 Em virtude da experiéncia colhida com 0 art. 48 da Cons- tituigdo de Weimar, a Lei Fundamental (Grundgesetz) nao ado- tou qualquer clausula especial para 0 estado de necessidade Para essas situagdes, dispoe ela apenas de competéncias isola? das ¢ estritamente limitadas, que nao se afiguram suficientes para arrostar situacées de perigo relativamente sérias”. A ques- tio sobre 0 estado de necessidade nao precisava ser decidida definitivamente em 1949, uma vez que, nos termos do Estatu- to de Ocupacio, esse tema integrava as matérias reservadas a competéncia das Forgas de Ocupacio. Nos tetmos do art. 5° Il do Tratado sobre a Alemanha (Deutschlandsvertrag), essa te- serva somente haverd de extinguir-se quando as autoridades alemas receberem a correspondente autorizacio legal, passan- doa dispor de condigoes para enfentarseiosdisttbios da se- guranca ou da ordem pablica (II). Essa autorizacao nao existe, subsistindo, portanto, a clau- sula autorizativa da intervencio das Forcas de Ocupacio. Tod: ‘ia, cla somente deveriaeomnar-se atual em caso. de uma ame- aca externa ou de uma agressio contra a Repablica Federal da ‘Alemanha. Outros casos de ameaca para a ordem ¢ seguranca pablicas ou para a vida constitucional, decorrentes, pot exem- plo, de profunda crise econdmica (wirtschaftlicher Notstand), nao foram contemplados, pelo menos em primeito plano, pe- To art. 3° do Tratado sobre a Alemanha (Deutschlandsvertrag). Resta indagar se as trés Poténcias, eventualmente, fatto uso de seu poder de intervencio. Nao se pode, portanto, negar que, ressalvadas as excecdes teferidas, a Repablica Federal da ‘Alemanha no dispde de um estatuto juridico sobre o estado de necessidade (II Sem diivida, a existéncia de competéncia excepcional esti mula a disposiglo para que dela se faa uso. Esse perigo ex te. Maiores riscos poderio advir, todavia, da falta de coragem (1D, (II) V. notas do Tradutor no final do livto. 22. Es ist cine Vesharmlosung, negar esse fato, como faz o A. Hammar (DVI. 1958, 406); Nao deveriam ser desconsideradas aqui as experiéne estrangeis, ‘Nao deve causaradmiagio que uma pespeetiva limiad existéncia da notma acabe por escamotear © problema da forca notmat da Constituiglo. * 3 de enfrentar 0 problema. Trata-se de um terrivel engano ima- ginar que, por no ser esperada, uma ameaca no se deverd concretizar. Caso se verifique essa situacio, faltaré uma disci- plina normativa, ficando a solugao do problema entregue a0 poder dos fatos, As medidas eventualmente empreendidas po. deriam ser justificadas com base num estado de necessidade suprapositivo. Ressalte-se que o contetido dessa regra juridica suprapositivasomente podetia expressaraidela de que 2 neces- sidade nao conhece limites (Not kennt kein Gebot). Tal propo- sigdo no conteria, portanto, regulagio normativa, no poden- do, por isso, desenvolver forca normativa. Assim, a renncia da Lei Fundamental (Grundgesetz) a uma disciplina do esta- do de necessidade revela uma antecipada capitulacao do Direi- to Constitucional diante do poder dos fatos (Mache der Fak- ten). O desfecho de uma prova de forca decisiva para a Consti- tuigdo normativa nao configura, portanto, uma questio aber- ta: essa prova de forca nao se pode sequer verificar. Resta ape- nas saber se, nesse caso, a normalidade institucional sera resta- belecida e como se dari esse restabelecimento. Nao se deve esperar que as tenses entre ordenacio consti- tucional ¢ tealidade politica ¢ social venham a deflagrar sétio conflito. Nao se poderia, todavia, prever o desfecho de tal em- bate, uma vez que os pressupostos asseguradores da forca nor- mativa da Constituicio nao foram plenamente satisfeitos. A resposta a indagacZo sobre se o futuro do nosso Estado € uma questio de poder ou um problema juridico depende da preser- vacao ¢ do fortalecimento da forca normativa da Constituigao, bem como de seu pressuposto fundamental, a vontade de Constituigdo. Essa tarefa foi confiada a todos és, 32 Notas do Tradutor * (1) A Lei Fundamental consagrou, no art. 79, Ill, eldusula ps trea que considera inadmissivel qualquer reforma constitucio- nal que pretenda introduzir alteracio na ordem federativa, modificar 2 participacao dos Estados no processo legislativo, ou suprimir os postulados estabelecidos nos arts. 1§ (inviolabi lidade da dignidade humana) e 20 (estado republicano, fede- ral, democritico e social, divisio de poderes, regime represen- tativo, principio da legalidade). Segundo a jurisprudéncia da Corte’ Constitucional alema (Bundesverfassungsgericht), essa disposicéo tem por escopo impedir que ‘'a ordem constitucio- nal vigente seja destruida na sua substincia ou nos seus funda- mentos, mediante a utilizacao de mecanismos formais, permi- tindo a’ posterior legalizacao do regime toralitario’” (BVerfGE 30, 1 (24) (Cf. a propésito, nosso ‘Controle de Constituciona- lidade", Si0 Paulo,-1990, p. 96, 100 s.) (II) Na declaracio de 27.09.1968 reconheceram as trés antigas Forcas de Ocupacio que, com a entrada em vigor da 17a. Emen- da Lei Fundamental ¢ da Lei que disciplina o sigilo de cor- respondéncias postais, das comunicac6es telegraficas e telefon cas, ter-se-ia verificado a extincio do seu direito de intervencio (Cr. sobre o assunto, Hesse, Konrad, Grundzige des Ver assungstechts, Heidelberg, 16. ed., 1988, p. 286, n§ 762). (III) Como ressaltado por Hesse, a Lei Fundamental nio esta- beleceu, inicialmente, um estatuto sobre o “Estado de necessi- dade”. Limitou-se a disciplinar o chamado_“‘Estado de neces- sidade interno” (innerer Notstand) (att. 37; art. 91). Compe- téncias mais amplas, nesse aspecto, foram asseguradas pela Re~ forma Constitucional sobre Defesa (Vertcidigungsnovell) de 19.03.1956. A Emenda Constitucional n° 17, de 24.06.1968 introduziu na Lei Fundamental a base de um estatuto do. “Es- tado de necessidade”’, com a modificacio ou a introdugao de 28 artigos na Constituigio. O Estado de necessidade envolve 33

Você também pode gostar