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Frio, muito frio. Uma cidade praiana, beijada pelo mar normalmente é fresca. Mas fazia frio.


era tarde da noite, perambulava por uma praça mal cuidada, uma praça onde mais cedo alguns
velhos se sentaram para jogar dominó ou canastra. Mas naquele momento, ela estava vazia.

Em algum lugar eu ouvi jazz. Ecoava pelas ruas lúgubres e sujas. Desci uma rua lateral e
paralela à praça, o paralelepípedo estava encrustado de sujeira. Urina, sangue, baratas,
sensação fétida e abominável. Alguns bêbados cantavam mais além, o cheiro da cachaça vinha
trazido de longe e se instalava em minhas narinas, pútrido.

Cheguei a uma área habitada por mendigos, um mastro se estendia no cais à minha frente.
Uma velha escuna.

Frio, muito frio. O frio se instalou em meu tutano, esmaecendo a pouca alegria de minha alma.
Gélida noite, a morte perambulava taciturna por entre os arbustos.

A pálida lua refletia na água do mar, majestosa e solitária; adormecida em sua tristeza. Segui
lentamente pela calçada. Um posto de gasolina decadente jazia quase falido a minha frente.
Continuei pela calçada até dar em uma ponte. Alta, fria, caótica.

Me estiquei para subir no parapeito.

O estuário abaixo de mim era caudaloso e barrento. Água do mar em mistura com a do rio.

Pulei.

Frio, muito frio. A morte se instalou sangrenta em minha alma.

Frio, muito frio.

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