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Introdução
O ensaio de tração é amplamente utilizado para determinação do comportamento mecânico de
materiais. Para isto, faz-se necessário a fabricação de um corpo de prova padronizado segundo a norma
regularizadora (Figura 1).
Figura 1. Desenho técnico do corpo de prova utilizado no ensaio mecânico monotônico de tração.
O corpo de prova é então tracionado pela máquina de tração MTS (Figura 2), que possui capacidade
de carga de até 100 𝑘𝑁, pela aplicação de uma carga gradualmente crescente que alonga o corpo de
prova até sua ruptura. Até atingir o limite de resistência do material, o controle de alongamento do
corpo de prova é feito por deformação, com auxílio de um clip gauge de 25 𝑚𝑚 de length gauge
(+ 5 / −2,5 𝑚𝑚). A identificação do limite de resistência a tração, durante o experimento, se dá pela
observação da força de reação. Quando esta assume um comportamento decrescente, tem-se um
indicativo de que o corpo está sofrendo estricção, ou seja, redução da área da seção transversal do
comprimento de interesse do corpo ensaiado. A partir de então, o clip gauge é retirado e o ensaio é
continuado fazendo o controle por deslocamento até que o corpo de prova chega à fratura.
Figura 2. Máquina de Teste Usada no Ensaio de Tração.
Identificação Paramétrica
Os dados extraídos do ensaio são fornecidos em três colunas representando força, deformação de
engenharia e deslocamento. Inicialmente, busca-se converter essas unidades para que o comportamento
do material seja descrito em um gráfico tensão-deformação. Como em uma das colunas já é fornecida
a deformação de engenharia (𝜀), basta normalizar a força para o parâmetro tensão de engenharia (𝜎),
dada pela Equação 1:
𝐹
𝜎=𝐴 , (1)
0
A tensão e a deformação de engenharia são calculadas levando-se em conta a área inicial da seção
transversal do comprimento de interesse do corpo de prova, porém, como foi dito anteriormente, o
alongamento axial introduz contrações laterais para materiais isotrópicos devido o efeito de Poisson.
Deste modo, é relevante a introdução de representações que levem em consideração esse efeito, são eles
a tensão (𝜎𝑉 ) e a deformação (𝜀𝑉 ) verdadeiras:
Na Figura (3) é possível visualizar que a aparente diminuição de tensão é corrigida ao se considerar
a área transversal instantânea do corpo de prova, comprovando que a resistência do material aumenta à
medida que ele é deformado, fenômeno conhecido como encruamento.
Inicialmente, verifica-se que o material possui comportamento linear, sendo regido pela Lei de
Hooke. Portanto, basta apenas a determinação do parâmetro módulo de elasticidade (𝐸) para descrever
a relação tensão-deformação na região conhecida como domínio elástico:
𝜎 = 𝐸𝜖, (4)
No domínio elástico toda deformação aplicada ao corpo de prova não é permanente, ou seja, quando
o carregamento é retirado o corpo recupera seu estado não deformado anterior. Já a deformação plástica
é caracterizada pela presença de deformação residual após o carregamento ser retirado. Como regra de
transição entre o domínio elástico e a admissibilidade plástica, estabelece-se uma função de escoamento
dependente do estado de tensão atual aplicado sobre o corpo de prova e uma tensão de escoamento 𝜎𝑦 :
Φ = 𝜎𝑎𝑥𝑖𝑎𝑙 − 𝜎𝑦 , (5)
Por convenção, adota-se, para materiais metálicos, que a função de escoamento é inicialmente Φ =
0 quando o material sofre uma deformação plástica de 0,2 %, o que significa 𝜎𝑎𝑥𝑖𝑎𝑙 = 𝜎𝑦0 . Aplicando
este conceito à Figura (3), determinam-se a tensão de escoamento e o módulo de elasticidade do material
(Figura 4):
Para a região em que a Lei de Hooke não é mais válida, faz-se um ajuste de curvas de modo a
descrever o encruamento do material de acordo com o modelo de Ludwick (1909) (Equação 6) e com
o modelo de Kleinermann-Ponhot (2003) (Equação 7):
𝑛
𝜎 = 𝜎𝑦0 + 𝐻𝜀̅𝑝 (6)
Os mesmos procedimentos são repetidos para o corpo de prova recozido, porém desta vez leva-se
em consideração os dados de deslocamento da garra que alonga o material. Para isto, faz-se necessário
converter o deslocamento para deformação de engenharia (Equação 8) e então para deformação
verdadeira (Equação 3).
𝑙𝑖 −𝑙0 Δ𝑙
𝜀= 𝑙0
= 𝑙0
. (8)
Para a região em que a Lei de Hooke não é mais válida, faz-se um ajuste de curvas de modo a
descrever o encruamento do material de acordo com as Equações (6) e (7).
Figura 7. Identificação Paramétrica do Corpo de Prova Recozido Segundo os Modelos de Ludwick (1909) (Equação 6) e
com o modelo de Kleinermann-Ponhot (2003) (Equação 7).
Portanto, como resultado, tem-se a extração dos parâmetros materiais dos corpos de prova
normalizado e recozido, conforme o modelo de Ludwick (1909) (Equação 6) e o modelo de
Kleinermann-Ponhot (2003) (Equação 7):
Barra Normalizada
𝑬(𝑮𝑷𝒂) 𝜎𝑦0 [𝑀𝑃𝑎] 𝐻[𝑀𝑃𝑎] 𝑛
187,92 651,25 1621,23 0,44
𝑬(𝑮𝑷𝒂) 𝜎𝑦0 [𝑀𝑃𝑎] 𝜉 𝜎∞ 𝛿
187,92 651,25 3046,66 915,58 120,34
Barra Recozida
𝑬(𝑮𝑷𝒂) 𝜎𝑦0 [𝑀𝑃𝑎] 𝐻[𝑀𝑃𝑎] 𝑛
61,43 501,57 1516,98 0,67
𝑬(𝑮𝑷𝒂) 𝜎𝑦0 [𝑀𝑃𝑎] 𝜉 𝜎∞ 𝛿
61,43 501,57 -2066,47 1215,92 11,79
Conclusão
Realizaram-se ensaios de tração para dois corpos de prova lisos, sendo um normalizado e outro
recozido. Com a informação obtida, os parâmetros elástico e de encruamento foram determinados,
segundo os modelos de Ludwick (1909) (Equação 6) e de Kleinermann-Ponhot (2003) (Equação 7).
Analisando os parâmetros extraídos e as peculiaridades de cada curva, verifica-se que o tratamento
térmico sofrido por um material influencia consideravelmente suas características mecânicas. O
material recozido é menos resistente à deformação devido sua redução considerável do módulo de
elasticidade e limite de resistência à tração. Assim, a zona elástica no material recozido é menor quando
comparado ao material normalizado, pois para uma mesma deformação de 0,2 %, o material
normalizado atinge 𝜎𝑦0 = 651,25 𝑀𝑃𝑎, ao passo que o material recozido chega à 𝜎𝑦0 = 501,57 𝑀𝑃𝑎.