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Apesar de não se especialista em História do período joanino1, José Murilo de

Carvalho, que é Professor Titular, Departamento de História, Universidade Federal do


Rio de Janeiro (UFRJ), aceitou escrever o texto. O um ensaio parte do tema da
celebração dos 200 anos da chegada a Corte Portuguesa ao Brasil, com desdobramentos
para questões referentes a historiografia brasileira ao longo do século XIX e XX.
A história que teria sido escrita ao longo do século XIX, ou seja, no período da
coroa portuguesa se limita quase que exclusivamente do centro político da época,isto é,
o Rio de Janeiro.Em um segundo momento, ou seja, a partir dos anos 30,a
historiografia paulista, via Universidade de São Paulo (USP), teria começado a disputar
com o Rio de Janeiro o domínio da escrita dessa história. A partir da democratização
dessa escrita, isto é, no século XXI, os desafios se dão em âmbitos internacionais,
nacionais e não somente em regionais.
O autor evidencia sua posição quanto a importância da vinda corte portuguesa
no século XIX, sua tese é que sem a vinda da corte não haveria Brasil. Dessa forma, o
autor demonstra a importância da vinda da corte real portuguesa a colônia, a tratando
como necessária para a existência do Brasil como o conhecemos hoje. Visto que a
possível conseqüência da não vinda da corte, poderiam causar a fragmentação das
colônias, apesar de tal tese ser contra factual. A visão do autor se dá de maneira
instigante, pois o Brasil que despontou ao longo do século XIX como principal cidade
do império ultra-marino português, deve muito ao processo de organização e
burocratização que se deu com a vinda de D. João.
Assim, é possível inferir que o Brasil poderia vir a ter algumas de suas capitanias
divididas em novos países, ou seja, não haveria a preservação da unidade do Brasil.
Entretanto, o autor aponta que independente da predominância política, a valorização
deste tema, ou seja, a vinda da corte e o período de D. João, atinge o modo de abordar a
historiografia nacional, sendo este o debate que ele pretende se debruçar.
Em relação aos Estados que foram favorecidos com a vinda da corte portuguesa,
o Rio de Janeiro se destaca devido à formação social dos que o habitavam. O autor
também aborda a querela de Evaldo Cabral de Mello, que levanta a polêmica da
construção nacional de uma historiografia preponderante no Rio de Janeiro. Para Cabral
de Melo a vinda da família real só seria boa para o Rio de Janeiro, já para as demais
províncias, como, Pernambuco e outras províncias, a vinda da corte só significaria

1
CARVALHO, José Murilo. D. João e a História dos Brasis. Revista Brasileira de História, vol. 28, nº
56.p.551.
aumento de espoliações com mais e mais impostos. Para Carvalho2, o problema que
Cabral de Melo coloca, precisa ser enfrentado, sendo necessário que os historiadores
historicizem seus próprios trabalhos, chamando atenção aos possíveis pressupostos
valorativos na nossa historiografia.
Para o autor, a cidade do Rio de Janeiro só se tornou o que é, por conta da vinda
da família real, no século XIX e só em uma capital nacional, poderiam ter surgido
instituições, como o Instituto Histórico Geográfico (IHGB), que teria sido destinado a
escrever a história do Brasil. Deste modo, a história do Brasil teria sido escrita no Rio
de Janeiro a partir do século XIX. Ou seja, durante o Império e a Primeira República,
O Rio de Janeiro teria sido o local de escrita da história do Brasil, até pelo
menos, 1930, quando São Paulo fundou-se a USP. Nessa fase o Rio deixava de ser o
centro econômico do país, perdendo seu posto para o estado de São Paulo, onde teria
sido produzido pela primeira vez, a escrita de uma história do Brasil fora do Rio de
Janeiro.
Portanto, na perspectiva do autor, a vinda da corte para o Rio de Janeiro no
século XIX, permitiu a cidade ser o centro do império ultramarino português, centro em
que se realizava a escrita de sua história e onda se desdobrava os fatores econômicos
que foram criados no Rio de Janeiro.
A partir do século XXI, com a enorme difusão de programas de graduação na
área de história, multiplicaram-se interpretações sobre o Brasil, retirando assim a
preponderância anterior de Rio de Janeiro e São Paulo em contar a história do Brasil.
Portanto, o texto busca demonstrar uma panorama nacional da escrita da história do
Brasil, apresentando seus principais pontos de debates e desafios.

2
CARVALHO, op.cit.p.559.

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