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ILUMINAÇÃO NATURAL DE EDIFÍCIOS

Conforto visual e introdução ao projecto

António Moret Rodrigues


IST
EXIGÊNCIAS I
z As exigências de conforto visual podem ser
encaradas em 2 planos:
- No estritamente fisiológico, que decorre da
necessidade de garantir a satisfação do órgão do
sentido visual (olhos) na execução das diversas
tarefas;
- No plano psicológico, que decorre do assumir
as melhores relações mútuas entre o homem e o
ambiente que o cerca (exigências de aspecto).
EXIGÊNCIAS II
z Os edifícios devem assegurar as exigências de
conforto visual nos dois planos referidos,
podendo fazer recurso:
- quer à iluminação natural, que tem origem no sol
e, portanto, é o meio por excelência para
cumprir a função durante pelo menos uma parte
do dia;
- quer pela iluminação artificial, quando a luz
natural não existe (noite), ou é insuficiente (dia).
GRANDEZAS I
z Energia radiante (Q) é a quantidade de radiação
electromagnética recebida ou emitida por um corpo.
A fracção que cai no domínio visível do espectro
electromagnético designa-se por Energia luminosa.

ELECTROMAGNÉTICO
ESPECTRO
GRANDEZAS II

z Fluxo luminoso (φ) é a potência da fracção


visível da radiação electromagnética emitida ou
recebida por um corpo:
dQ
Unidades – lumen (lm) φ= (lm)
dt
GRANDEZAS III
z No caso geral, uma fonte luminosa não emite a
luz de maneira idêntica em todas as direcções
do espaço.
z Intensidade luminosa (I), referida a uma dada
direcção, é o quociente entre o fluxo luminoso
gerado por uma fonte, num cone contendo a
direcção pretendida, e o ângulo sólido desse
cone:
φ
I= (cd) ω
ω
Unidades – candela (cd)
GRANDEZAS IV
z O ângulo sólido ( ω ) é uma grandeza
tridimensional que está para o espaço assim
como o ângulo está para o plano.

ω KS

S
ω= 2 (sr) Unidades: esteradiano (sr)
R
GRANDEZAS V
z A iluminância (E), ou iluminação, é o fluxo
luminoso incidente numa superfície, por
unidade de área dessa superfície: φ (lux)
E=
S

I I cos(α)
E= 2 E= 2
d d Unidades – lumen/m2 = lux
GRANDEZAS VI
z Na figura, a superfície iluminada S é vista na direcção
indicada tal que a superfície aparente Sa faz um ângulo
α com S.

z A luminância (L) é dada pela razão entre a intensidade


luminosa e a área da I
superfície aparente: L = (cd/m2)
S cos (α )
COR E REFLEXÃO I
z Cada cor é um conjunto de radiações com um
comprimento de onda bem determinado.
z A luz produz uma impressão de claridade nos
olhos. No entanto, a sensibilidade dos olhos
varia com cada cor.
A contribuição de
todas as cores produz
a impressão de luz
branca (luz do sol).
COR E REFLEXÃO II
z É a reflexão do fluxo luminoso que estimula os
nossos olhos.
z A reflectância dá a % do fluxo luminoso que é
reflectida na direcção do observador para dar ao
objecto o seu brilho físico (luminância) e cor.
z Um material tem a cor da luz que ele reflecte
com maior intensidade.
Um objecto diz-se vermelho
quando ao receber luz branca
absorve os raios luminosos de
todas as cores menos os vermelhos
CONFORTO VISUAL I
z No plano fisiológico, o conforto visual é obtido
com a reunião de um conjunto de condições, num
determinado ambiente, que permitam às pessoas
desenvolver as suas tarefas visuais com o máximo
de acuidade e precisão visual, nesse ambiente.
z Essas condições dirigem-se ao sentido da
percepção visual, que depende, nomeadamente, da:
- Sensibilidade ao contraste;
- Acuidade visual;
- Possibilidade de encadeamento.
CONFORTO VISUAL II
z A sensibilidade ao contraste mede a aptidão de
perceber a diferença de luminâncias de duas superfícies
contíguas.
z Sendo L0 e La, respectivamente, as luminâncias de duas
superfícies, sendo a primeira o pormenor e a segunda o
seu fundo, designa-se contraste C a relação:
La
EFEITO CONTRASTE
L0
Lo − La DISTINTO 10
C= FORTE 30
La DRAMÁTICO 100
CONFORTO VISUAL III
z A acuidade visual é a aptidão do olho em
distinguir pormenores. É definida em termos do
ângulo visual, em minutos (1º = 60’) , contido nos
extremos do menor pormenor perceptível:

1
a=
α

z Uma boa legibilidade do pormenor exige um


ângulo de 1’ de arco, isto é, um elemento com 1
cm pode ser distinguido a 33 m.
CONFORTO VISUAL IV
z A possibilidade de encadeamento resulta da
ocorrência de grandes diferenças de contraste
entre a área da tarefa e a circunvizinha, o que é
prejudicial para os ambientes, principalmente
de trabalho.

z A ocorrência de grandes diferenças de


contraste resultam normalmente de: reflexos,
focos de luz e sombras existentes no campo
visual.
CONFORTO VISUAL V
z No plano psicológico do conforto visual, a cor
desempenha um papel importante através de
diferentes tipos de sensações subjectivas,
nomeadamente: Efeito de Distância,
Temperatura, Afectividade Psicológica.
Efeito da
Cor Efeito de Distância Efeito Psíquico
Temperatura
Azul Afastamento Frio Calmante
Verde Afastamento Frio a Neutro Muito Calmante
Muito Estimulante e
Vermelho Aproximação Quente
Cansativo
Laranja Muita Aproximação Muito Quente Excitante
Amarelo Aproximação Muito Quente Excitante
Muita Aproximação e
Castanho Neutro Excitante
Claustrofobia
Agressivo, Cansativo e
Violeta Muita Aproximação Frio
Deprimente
RECOMENDAÇÕES I
z A fixação de exigências no conforto visual
defronta-se com algumas dificuldades: em regra,
não podendo actuar directamente sobre os
factores referidos da percepção visual, procura
influenciar esses factores indirectamente,
através da luminância do fundo (fixando-se
assim níveis globais de iluminação e
recomendando-se valores para as reflectâncias
de fundo).
RECOMENDAÇÕES II
z ILUMINAÇÃO
Tipos de locais e actividades Níveis de iluminação
(lux) Natural
Acessos e circulações 30-50
Espaços técnicos 60-100
Iluminação geral e ambiente 15-200
Trabalho oficinal 350-400
Leitura intermitente 300-500
Leitura prolongada (estudo) 500-700
Desenho gráfico, trabalho de precisão 700-1000

Artificial

Geral Localizada Combinada


RECOMENDAÇÕES III
z REFLECTÂNCIAS DE FUNDO

Reflectividade
de tectos: ρ > 0.6 (de preferência entre 0.8 e 0.9);
do chão: ρ < 0.3 (toda a zona abaixo do plano de trabalho;
das paredes: ρ > 0.5 (maior se existirem janelas)
RECOMENDAÇÕES IV
z Para além destas recomendações, há ainda a
necessidade de fazer referência a outros factores,
que são de difícil quantificação, como:
- níveis máximos de incomodidade;
- estabilidade de luz e contrastes luminosos;
- necessidades de obscurecimento;
- participação da iluminação natural.
RECOMENDAÇÕES V
z As exigências de obscuridade visam a assegurar o
sono e traduzem-se pela possibilidade de
obscurecer os compartimentos de molde a garantir
um nível máximo de 0.2 lux.
z As exigências de níveis máximos de
incomodidade e da estabilidade da luz e contrastes
luminosos, visam limitar o incómodo devido a
encadeamentos com mudanças bruscas do campo
de visão de “claros/escuros”, por requererem uma
constante e fatigante adaptação da pupila.
RECOMENDAÇÕES VI
z Finalmente, é hoje em dia corrente a assunção
da necessidade de presença de iluminação
natural (e não só por motivos económicos).
z Esta exigência pode ser traduzida através do
parâmetro “factor de luz de dia”, que se define
como a razão entre a iluminação exterior e a
interior (mais precisamente, é o quociente entre
a iluminância medida num ponto do interior e a
iluminância exterior medida em plano
horizontal e sem interferência de obstruções).
RECOMENDAÇÕES VII
z O factor de luz de dia traduz a eficácia com que
o projecto tira partido da luz natural para a
iluminação interior.
z Mostram-se os valores mínimos recomendados
do factor de luz de dia consoante o tipo de local.
Tipo de Local DF- Factor de Luz de Dia Mín.
(%)
Estúdio de Arte 4.0 – 6.0
Fábrica, Laboratório 3.0
Escritório, Sala de Aula, 2.0
Ginásio
Sala de Jantar, Sala de 1.0
Espera
Quartos, Corredores 0.5
ILUMINAÇÃO NATURAL I
z A luz de dia que entra num edifício resulta
de: iluminação directa da abóbada celeste,
iluminação directa do sol, e iluminação
reflectida do solo e de outras superfícies.

Luz de céu
limpo
Luz de céu
nublado
Luz directa
do sol

Superfície
Luz reflectora
reflectida Luz
reflectida
ILUMINAÇÃO NATURAL II
zPara o projecto de iluminação natural existem
3 modelos de céu que podem ser utilizados
para o cálculo das luminâncias:
- Distribuição Uniforme de Luminância, que
representa um céu de luminância constante,
correspondendo a uma situação de céu
encoberto com nuvens espessas, em que o sol
não é visível.
ILUMINAÇÃO NATURAL III
- Distribuição Padrão de Céu Encoberto, em que a
luminância não é uniforme, correspondendo a
uma situação de céu coberto com nuvens ligeiras
numa atmosfera limpa, em que
o sol não é visível.

A luminância é tipicamente 3 vezes


maior no zénite que no horizonte.
ILUMINAÇÃO NATURAL IV
- Distribuição de Céu Limpo, que é um modelo
de luminância variável, correspondendo a uma
situação de céu limpo. O efeito da posição do
sol é considerado mas não a
sua luz directa.

Α zona à volta do sol é a de maior claridade e é cerca de 10 vezes


mais brilhante que a de menor claridade, a qual forma um ângulo
de 90º com o sol.
FACTOR DE LUZ DE DIA I
z O Factor de luz de dia médio é calculado pela
seguinte expressão:
(M × τ) × A w × θ
DFmédio = (%) em que:
A × (1 − ρ )
2

M - factor de conservação dos envidraçados;


τ – Coeficiente de transmissão do vidro;
Aw – Área dos envidraçados;
θ - ângulo no plano vertical normal à janela, entre o centro da
janela e o céu visível;
A – Área total da envolvente interior;
ρ - Coeficiente de reflexão médio da envolvente interior.
FACTOR DE LUZ DE DIA II
Factor de conservação dos envidraçados
Localização Tipo de Inclinação dos Factor de
θ do Edifício Trabalho Envidraçados Conservação
vertical 0.9
Trabalho não
Zona não inclinada 0.8
poluente
industrial ou horizontal 0.7
de indústrias vertical 0.8
não poluentes Trabalho
inclinada 0.7
poluente
horizontal 0.6
vertical 0.8
Trabalho não
inclinada 0.7
poluente
Zona industrial horizontal 0.6
poluente vertical 0.7
Trabalho
inclinada 0.6
poluente
horizontal 0.5

θ: ângulo subtendido, no plano vertical normal à janela, pelo céu


visível a partir do centro da janela.
FACTOR DE LUZ DE DIA III
Exterior Interior
Admite-se excluída a luz directa
1
do sol no cálculo do factor de luz 3
2
de dia médio. 4

Tipo de Vidro Espessura Transmitância Vidro Duplo


(mm) Com os 2 vidros incolores 0.89
Vidro Simples Com vidro bronze no exterior e 0.78
Incolor 3 mm 0,90 incolor no interior
6 mm 0.89 Com vidro selectivo verde no 0.48
9 mm 0.88 exterior e incolor no interior
12 mm 0.86 Com vidro de baixa 0.59
emissividade com película
Cinzento 3 mm 0.62 (e=0.2 mm) na superfície 2 (ver
6 mm 0.41 Fig.1) e vidro incolor no
9 mm 0.28 interior
12 mm 0.19 Com vidro incolor no exterior e 0.73
Bronze 3 mm 0.69 vidro de baixa emissividade
6 mm 0.52 (ver Fig.1) com película (e=0.2
9 mm 0.37 mm) na superfície 3
12 mm 0.28 Com vidro de baixa emissividade 0.70
Azul-Verde 12 mm 0.74 com película (e=0.05mm) na
superfície 2 (ver Fig.1) e vidro
incolor no interior
FACTOR DE LUZ DE DIA IV
Material Coeficiente de Reflexão (%)
A multiplicação do factor de
Relva 6 luz de dia pelo valor médio da
Vegetação (média) 25
Água 7 luz de dia correspondente às
Asfalto 7
condições mais desfavoráveis
Macadame 18
Terra Húmida 7 (céu encoberto), permite estimar
Pedra 5 - 50
Ardósia 8 o valor médio mínimo da
Cascalho 13
Mármore (branco) 45 iluminação natural interior.
Cimento 27
Betão 30 - 50 ILUMINAÇÃO MÉDIA DE CÉUS
Ladrilhos, Tijolo (barro) 25 - 45 ENCOBERTOS
Vidro 80 - 90
Latitude Norte Iluminação
Incolor, Bronze ou Cinzento 7
Reflectante 20 - 40
Espelho (vidro) 80 - 90
46° 7500 lux
Pinturas 42° 8000 lux
Preto 5 38° 8500 lux
Vermelho Vivo 17 34° 9000 lux
Azul Pálido 45 30° 9500 lux
Laranja Pálido 54
Amarelo Pálido 70 Os valores acima são típicos de condições de céu
Branco 85
encoberto, das 8 da manhã às 4 da tarde.
Madeira 5 - 40
Adaptado de “Concepts in Architectural Lighting
Neve 60 - 75 “ (Egan, McGraw Hill).
VISUALIZAÇÃO DO EFEITO DA LUZ I
z O efeito da iluminação de uma fonte difusa sobre
um dado ponto de referência é uma função da
claridade (brilho) e da dimensão aparente da fonte.
z Esta é uma função da dimensão real, inclinação e
distância a que a fonte está do ponto de referência:
decresce com a diminuição da dimensão real da
fonte, com o afastamento em relação ao ponto, e
com a sua inclinação.
Se uma fonte plana está S P
inclinada de 90º, a sua
dimensão aparente é zero.
n
VISUALIZAÇÃO DO EFEITO DA LUZ II
z A iluminação diminui de A para B porque aumentou a
distância e inclinação da janela relativamente à mesa.
z As fontes de luz são a janela e o tecto. Embora a
claridade seja baixa, a iluminação do tecto é elevada
pela grande dimensão aparente. É a combinação desta
dimensão com a claridade que determina a contribuição
duma fonte.

Brilho elevado
Caso as paredes Brilho baixo
tenham cor clara, Tecto

Céu
também reflectirão
luz para a mesa. Esta
contribuição foi A janela, apesar da sua pequena dimensão
omitida no desenho. aparente, é a maior fonte de luz, porque
é muito mais brilhante que o tecto.

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