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Os emergentes do digital
Cultos, bem-sucedidos e ricos, eles são tratados com desdém pelo
preconceituoso mundinho da alta tecnologia
Nos condomínios de alto padrão dos Jardins e da Barra da Tijuca todos esnobam
os pobres novos-ricos. De nada adianta o dinheiro que tenham, conquistado
muitas vezes a duro suor, já que sua falta de naturalidade nos ambientes que
frequentam insiste em revelar a falta de "berço". Sem conhecerem os códigos
de etiqueta, muitos acabam isolados, tristes e revoltados contra um mundo que
nunca estendeu a mão para educá-los.
Mas, ao contrário do grande físico que não entende nada de moda e pode se dar
ao luxo de ignorar o assunto, ou do grande dentista que não se interessa por
futebol e pena para listar dez grandes clubes brasileiros, uma parte da sociedade
contemporânea não tolera quem não vê muita graça em gigabytes, gigahertz e
gigawatts, não se comove com atualizações de sistemas operacionais e ainda se
dá ao luxo de voltar do exterior sem o novo gadget no bolso, no pulso ou na
mala.
O desprezo é tanto que não há canal de comunicação para educar aqueles que,
mesmo distantes ou tardios, tenham os recursos e estejam interessados em saber
como funciona um Mac, um Blu-ray, um Kinect, um Kindle, uma FuelBand.
A segregação tecnológica é tamanha -e tão amplamente praticada- que causa
em suas vítimas um complexo de inferioridade parecido com aquele que tanto
combatemos na defesa das minorias étnicas, etárias, econômicas e sociais. É
comum ver nos párias digitais a sensação de serem velhos, anacrônicos, burros,
ultrapassados ou simplórios. Como aqueles que, em séculos passados, se
diminuíam por pertencer a qualquer casta que não fosse a dominante. A
tecnologia, inventada para integrar as pessoas e melhorar a qualidade de vida,
pode, curiosamente, ter o efeito contrário.
ANDRÉ CONTI
escreve neste espaço na próxima semana