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Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA

Centro de Ciências Humanas - CCH


Curso de História - 6° Período
Disciplina: Ceará I
Acadêmico (a): Maely Mesquita

Residualidade indígena em Camocim: Um nome, uma identidade, um


povo e o que não ficou na memória.

Resumo

Pretende-se aqui trabalhar a identidade local da cidade de Camocim e suas


residualidades indígenas a partir da sua toponímia e de suas localidades,
auxiliado pela literatura local e das construções imaginárias, que com o passar
do tempo sofreu processo inverso se apagando de sua própria história cultural a
presença indígena e seus resquícios culturais, não se propões aqui uma
resposta instantânea, mas uma visão historiográfica daquilo que é um processo
de esquecimento, incitando assim, a rememoração a partir de resíduos na
nomenclatura da cidade.

Palavras-chave: residualidade, indígenas, toponímia, Camocim.

Abstract

The intention this work is to talk about the local identity of Camocim city and
residues of the indigenous culture, starting from its toponímia of its places, helped
by the local literature and of the imaginary constructions, that in the course of
time suffered inverse process fading of its own cultural history the indigenous
presence and its cultural traces. It doesn't the intention in this work to give a
instantaneous answer, but a historical vision of a forgetfulness process, inciting
the remembrance starting from residues in the nomenclature of the city

Key-words: Residues, indigenous culture, toponímia, Camocim.


A toponímia das cidades cearenses é uma residualidade relevante para a
história local. A teoria da Residualidade trabalha com o princípio de que não há
nada novo em uma cultura. Na verdade, toda cultura contém, portanto, os
resíduos de outras anteriores a essa. Assim, a residualidade seria em uma
remanênscia, em uma breve definição é aquilo que “na cultura e na literatura
nada é original. Tudo é residual. ” (PONTES, s/d, p. 1).

Entender a residualidade indígena local é busca apontar e/ou explicar as


remanescências desses povos e dessa cultura que de algum modo foi
conservado ou construído pela historiografia, pelo imaginário ou pela literatura.
Com esse fim, explicitaremos os conceitos operacionais da residualidade: os
resíduos e o imaginário.

Como resíduo indígena usar-se aqui uma análise dos topônimos que não
é somente linguístico, mas histórico. A origem, as denominações dos lugares
evidenciam o processo político-cultural de uma localidade. Sob uma perspectiva
histórica, geográfica e cultural. Esse elemento em particular sugere diferentes
focos de pesquisa, o acaso aqui sugerido e problematizado é o nome da cidade
de Camocim, assim desenvolveremos, primeiramente, o estudo da toponímia
que serão ilustrados através de exemplos concretos: 1) Um nome e um povo.
A análise dos nomes dos lugares e cidades do Ceará, suas origens e sua
distribuição espacial, levando-se em conta as diferentes teorias sobre o nome e
a correlação entre a toponímia e o mapa como legitimador da validade dos
nomes e a localização das tribos indígenas da região e seus resíduos; 2) A
identificação de quem somos: Um pote esquecido? Uma discussão sobre
identidade indígena e da cidade e as interpretações do significado dos nomes
dos lugares no processo de construir identidades em face do simbolismo e da
iconografia do lugar que aos poucos foi sendo esquecido.

A proposta aqui não seria validar o nome, ou tentar buscar justificativas


para se imprimir uma identidade, mas incitar o pensamento a cerca dessa
história indígena que por vezes é negligenciada em uma cidade de base histórica
indígena. Cabe aqui apenas o que seria uma proposta de se investigar, comparar
e interpretar o significado dos nomes dos distritos de Camocim, como o próprio
nome e as suas diferentes versões e visões da sua topogênese para contribuir
para uma melhor compreensão da relação entre espaço e cultura no passado e
no presente.

Usa-se aqui a literatura local como auxiliar para apresentar algumas de


algumas versões sobre o nome de Camocim e como a própria literatura ajuda no
processo de identificação e o embasamento historiográfico para compreender a
construção da identidade indígena de Camocim.

A toponímia nos auxilia a entender as construções simbólicas e culturais.


Assim, ressalta-se a importância de compreender como se constrói a identidade
indígena nas cidades do Ceará, seus povos indígenas e as variações linguísticas
que designavam suas identidades que ressoam até nossos dias. Entende-se que
os povos indígenas, ao longo de mais de 500 anos de colonização, padeceram
de repressão cultura e física, sendo forçados a reprimir e até negar suas culturas,
sua identidade, para poderem sobreviver. Exterminados fisicamente por força do
processo de integração e assimilação à sociedade nacional, os povos indígenas
do Brasil foram drasticamente reduzidos: de mais de 1500 povos, falando mais
de 1000 línguas indígenas, quando da chegada do Pedro Álvares Cabral ao país
em 1500.

Não se pretende aqui dar uma resposta ou uma solução ante ao


esquecimento das identidades indígenas locais, ou impor um ponto de vista da
possibilidade de um desaparecimento físico dos nativos, mas refletir sobre a
história criada acerca desses elementos que mesmo ainda presentes na cultura,
não são tomados por uma identidade cultural.

O que se trata aqui é a ideia de um desaparecimento ideológico e


identitário de uma construção histórico-cultural que de modo seletivo determinou
a memória coletiva sobre os indígenas em Camocim, abordando algumas das
origens em paralelo com a literatura local.

Assim, pode-se traçar um leve ensaio das questões acerca do nome de


Camocim e as possibilidades de se identificar uma cultura, e compreender como
ela se identifica, principalmente. Com conceitos históricos e o auxílio do estudo
das residualidades pode-se descobrir algo mais a fundo nesse pote de
identidades.
Um nome e um povo: o resíduo de quem fomos e somos.

É preciso que entendamos primeiramente os conceitos de residulidade e


da construção do imaginário coletivo como elementos da história cultural e da
literatura. Os conceitos aqui trabalhados são extraídos a partir da perspectiva do
pesquisador e crítico literário, marxista Raymond Williams, que influenciou
fortemente a historiografia cultural. Em sua obra Marxismo e Literatura (1979),
Williams trata do conceito do que é rsidual em uma determinada cultura,
desenvolvendo essa ideia no capitulo “Dominante, Residual e Emergente”1

Para o autor o resíduo seria aquele elemento que pertencente a uma dada
sociedade que é posteriormente encontrado em outra cultura, com pleno vigor,
como podemos perceber pelas palavras de Raymond Williams (1979, p. 125):

Por “residual” quero dizer alguma coisa diferente do


“arcaico”, embora na prática seja difícil distingui-los.
Qualquer cultura inclui elementos disponíveis do seu
passado, mas seu lugar no processo cultural
contemporâneo é profundamente variável. Eu chamaria
de “arcaico” aquilo que é totalmente reconhecido como
um elemento do passado, a ser observado, examinado,
ou mesmo, a ser “revivido” de maneira consciente, de
uma forma deliberadamente especializante. O que
entendo pelo “residual” é muito diferente. O residual, por
definição, foi efetivamente formado no passado, mas
ainda está vivo no processo cultural, não só como um
elemento do passado, mas como um elemento ativo do
presente. Assim, certas experiências, significados e
valores que não se podem expressar, ou verificar
substancialmente, em termos da cultura dominante,
ainda são vividos e praticados à base do resíduo –
cultural bem como social – de uma instituição ou
formação social e cultural anterior.

1WILLIAMS, Raymond. “Dominante, Residual e Emergente”. In: Marxismo e Literatura. Rio de


Janeiro: Zahar, 1979.
A Residualidade, portanto, estuda o que remanesce dos imaginários
anteriores, desde o pensar, agir e viver de um grupo social especifico de uma
determinada época. Essa residualidade serve como elemento na construção do
imaginário local e temporal. O que seria, portanto, o imaginário? Esse termo
oriundo da História abrange assim, o modo de pensar e de agir de um
determinado agrupamento social numa dada época (e tudo que o constitui
culturalmente).

Vejamos o que nos diz a definição do Dicionário de Conceitos Históricos


(SILVA E SILVA, 2006, p. 213-214),

Imaginário significa o conjunto de imagens guardadas


no inconsciente coletivo de uma sociedade ou de um
grupo social; é o depósito de imagens de memória e
imaginação. Ele abarca todas as representações de
uma sociedade, toda a experiência humana, coletiva ou
individual: as ideias sobre a morte, sobre o futuro, sobre
o corpo. Para Gilbert Durant, é um museu mental no qual
estão todas as imagens passadas, presentes e as que
ainda serão produzidas por dada sociedade. O
imaginário é parte do mundo real, do cotidiano, não é
algo independente. Na verdade, ele diz respeito
diretamente às formas de viver e de pensar de uma
sociedade. As imagens que o constituem não são
iconográficas, ou seja, não são fotos, filmes, imagens
concretas, mas sim figuras de memória, imagens
mentais que representam as coisas que temos em nosso
cotidiano.

O cotidiano do povo cearense está permeado de elementos que


constroem o imaginário e sua cultura, esteja ela ligada ao cangaço, a seca, a
arquitetura rustica das casas de taipas, ou ao coro e o vaqueiro. O elemento
indígena seria assim a base de todas as otros elementos, por ser o elemento
primitivo da terra. Esses elementos estão fortemente impregnados nos nomes
dascidades, nas comidas, nas lendas e histórias. a toponímia das principais
cidades do estado do Ceará dão conta de representar e rememorar a presença
indígena.

Ora estado do Ceará tem origem vinculada aos povos indígenas, e sua
nomenclatura provém de "ciará" ou "siará", que significa "canto da jandaia", que
na linguagem em tupi é um tipo de papagaio. A literatura auxilia a montar esse
imaginário. Na obra de José de Alencar, Iracema, o autor além de ressaltar a
beleza do estado, traz consigo elementos indígenas e suas nomenclaturas que
dão sentido ao símbolos e aos resíduos ainda hoje presentes. Em suas notas,
José de Alencar traz o significado desses nomes, segundo a tradição e como
regra da língua:

Onde canta a jandaia — Diz a tradição que Ceará


significa na língua indígena — canto de jandaia. Aires do
Casal, Corografia Brasílica, refere essa tradição. O
senador Pompeu em seu excelente dicionário
topográfico, menciona uma opinião, nova para mim, que
pretende vir Siará da palavra suia — caça, em virtude da
abundância de caça que se encontrava nas margens do
rio. Essa etimologia é forçada. Para designar
quantidade, usava a língua tupi da desinência iba; a
desinência ára junta aos verbos designa o sujeito que
exercita a ação atual; junta aos nomes o que tem
atualmente o objeto; ex.: Coatiara — o que pinta; Juçara
— o que tem espinhos. Ceará é o nome composto de
cemo — cantar forte, clamar, e ará — pequena arara ou
periquito. Essa é a etimologia verdadeira; não só
conforme com tradição, mas com as regras da língua.
(grifo do autor )2

2 ALENCAR, José de. Iracema. 2017.pp.47


Assim os nomes e os símbolos, as plantas e os rios do estado estão
ligados a toponímia e a forte influência indígena.
A cidade de Camocim situada no extremo norte do litoral do estado
cearense, não foge à regra quando se trata de origem indígena em sua
nomenclatura, assim como tantas outras cidades e distritos no Ceará. Sabe-se
que o Brasil era habitado por povos indígenas de diferentes denominações, ou
melhor dizendo, nações indígenas. Em Camocim havia a presença de índios
Tremembé, Tabajara, Jurema, Jenipaboaçu, Cambida. Em especial os primeiros
citados, os Tremembé que habitaram por algum tempo a cidade das primeiras
famílias advindas do Maranhão.
A origem do nome de Camocim é por vezes controversa, há algumas
teorias para a origem do nome. Uma delas está ligada a origem indígena, pela
palavra Camucim que significa pote, pote de enterrar defuntos. Ainda na obra de
José de Alencar pode-se ver esse termo sendo associado ao utensílio indígena
em suas notas.

Camucim — Vaso onde encerravam os indígenas os corpos


dos mortos e lhes servia de túmulo; outros dizem camotim, e
talvez com melhor ortografia, porque, se não me engano, o
nome é corrupção da frase co — buraco, ambira — defunto,
anhotim — enterrar; buraco para enterrar o defunto: c´ am´
otim. O nome dava-se também a qualquer pote. (grifo do
autor)3

A outra versão da origem do nome é defendida por alguns autores


camocinenses, como Arthur Queiros em sua obra “E a vida continua” (2009) e
pelo autor do livro Camocim Centenário, Tobis de Melo Monteiro. Ambas as
obras exercem influencia como fonte na historiografia local, mas não como base
para a verdade quanto a origem do nome da cidade.

Ambos os autores recorrem a orihem egípcia do nome de Camocim. As


duas obras dão conta de explicar como é feita essa associação, minimizando
assim a presença de uma influência indígena. Associando a climatologia e a
outro elemento, o vento, e não o pote indígena.

3
ALENCAR, José de. Iracema. 2017.pp.47
Os portugueses em tempos remotos, portanto, já
observavam a existência em Camocim, de um forte e
morno vento que soprava vinha do mar e que hoje o
chamamos de “viração”, vento quente do verão que é,
sem dúvidas, o KHAMSIN, como chamado era,
naquele tempo. Por aí, por tanto, os portugueses,
batizaram o lugar que é hoje a cidade de CAMOCIM,
como o nome daquele vento. (QUEIRÓS, 2009)

Já o autor de Camocim Centenário separa um tópico especialmente para


explicar a origem do nome da cidade, e defende a origem egípcia da
nomenclatura, trazendo como respaldo a nota transcrita da “ Folha o Povo de”
de 7.12.1915, assinada pelo desembargador Joaquim Olímpio de Paiva,
afirmando que “Camocim - que jamais a poderá se derivar dessa frase indígena
co, ambyra, anhotim”4.

Seria assim que aos poucos o imaginário e os resíduos vão sendo


recriados e transformando, desassociando a presença indígena da localidade, e
apagando a influência de uma cultura sobre ela mesma. Um dos argumentos
apresentados pelos autores é que seria errôneo associar o nome da cidade a
língua indígena apenas pela presença de um elemento comum entre os índios,
o pote, logo todas as cidades em que se pudessem achar tal vasilhame deveriam
chamar-se Camocim.

Partindo de algumas inferências sobre esse assunto percebe-se que há


um processo de construção cultural ligado ao nome. Ao sumir-se uma das
origens, seja indígena ou egípcia (supostamente dada pelo colonizador
português),a cidade deixa de carregar em suas configurações linguísticas e
culturais a identificação indígena. Seria isso portanto, um processo de negação
de suas raízes ou apenas mais uma vez a adaptação cultural? Não se pode aqui
concluir qual das possibilidades está correta, mas é impossível não afirmar que
há nitidamente hoje, na cidade, uma negligencia quanto as raízes indígenas.

4
MONTEIRO, Tobias de Melo. Camocim centenário: 1879-1979. Fortaleza: Imprensa Oficial
do Ceará, 1984.pp.22.
A identificação de quem somos hoje: Um pote enterrado?

Sobre a história local, o pesquisador Cruz Filho (1931) estabelece em


suas pesquisas uma correlação entre a história local e a história do Brasil,
demonstrando que o Ceará, mesmo com suas peculiaridades, faz parte de
uma nação, portanto a questão da identidade e o sentido de pertencimento a
história da colonização do Brasil.

Em sua obra História do Ceará, CruzFilho faz logo no início do capítulo


III, intitulado “As Tribus selvagens do Ceará”5, uma referência à extinção dos
índios cariri, quando afirma que estes:

Na época da invasão portuguesa, encontravam-se


espalhados e fragmentados em numerosíssimas tribus pelos
sertões, pela chapada do Araripe e por pequenos pontos da
riba marítima. Esses selvagens, que parecem extintos
inteiramente no Brasil, habitavam a vasta região localizada
entre os rios Paraguassú, na Bahia, e Itapicurú, no Maranhão.
Parece que sómente os Tremembés, pertencentes à nação
Cariry, habitavam as praias cearenses. (CRUZ FILHO, 1931,
30).

A região do litoral oeste era povoada também por essa nação. Sabe-se
que espaço e cultura são indissociáveis, não há sociedades que vivam sem
espaço para lhes servir de suporte e sem identidade para designa-lo. Assim,
para se compreender um povo, deve-se observar o ambiente que ele habita,
seus costumes, sua história e sua origem.

O nome Camocim faz referência as essas práticas também indígenas, a


cultura e os costumes praticados pelos Tremembé. O vasilhame, ou pote que se
utilizava para enterrar os entes queridos. Alguns moradores mais velhos
recorrem a suas memórias e histórias que seus pais e avós contavam que o
nome se dava por conta de um achado, o pote com ossos. Daí então o nome.

5
CRUZ FILHO. Historia do Ceará - resumo didactico. São Paulo: Comp. Melhoramentos de S. Paulo,
1931.
Quando se compreende que habitar um lugar significa conhecê-lo e
transformá-lo, para que esse espaço seja também um espaço cultural, que se
determina tanto por sua dimensão geográfica, como por sua dimensão histórica
e cultural, compreende-se também como as nações indígenas – dentre elas os
Tremembé – que habitaram a região oeste, precisamente em Camocim deixaram
seus resíduos, seja nos costumes, na culinária ou como a língua, as palavras
com seus símbolos e significados.

Se vê através da etimologia dos nomes de algumas praias da cidade que


tem sua origem indígena, como a Tatájuba, Caraúbas e também o distrito de
Guriú. A relação entre os indígenas e os atuais e as nomenclaturas estão ligados
a características de cada região.

Mesmo com uma presença relevante de resíduos indígenas em sua


etimologia, a maioria dos escritos literários não reverencia ou desenvolve uma
possível influência indígena para o próprio nome da cidade. Há assim, um
processo de esquecimento ou negligência quanto a identidade indígena local.

O imaginário, com o auxílio da memória e da oralidade, seria a o que


reconstruiria ou formaria o quebra-cabeça dessa identidade camocinense, pois
a memória legitima o imaginário, constrói sentidos e identidades, como atesta
Lucas (1998, p. 96): "A memória funciona como espaço de legitimação, espaço
este que atualiza e reorganiza o imaginário, tendo a linguagem como constitutiva
de sentidos e identidades". 6

O nome da cidade carrega em si essa função de relembrar e legitimar um


resíduo que foi esquecido e construído a partir de outros elementos que também
fazem parte da história comocinense, mas que precisam ser comparados a
outros elementos presentes, como os indígenas.

Considerações finais

Quando temos um nome temos uma identidade, uma origem e ele carrega
em muitos significados que mesmo não explicando por inteiro o que somos, ele
monta uma das características que carregamos ao longo do tempo. O nome de

6
LUCAS, Clarinda Rodrigues. Os senhores da memória e do esquecimento. Transinformação, Campinas,
v.10, n. 1, p. 87-96, jan./abr. 1998.
uma cidade diz muito a respeito de quem a construiu e de quem a inventou, no
sentido cultural.

A toponímia da cidade de Camocim ajuda a montar mais uma peça no


quebra cabeça tão rico e curioso que foi nossa colonização, que nos suscita até
hoje inquietações sobre a questão dos povos indígenas que perderam suas
terras e que tiveram suas culturas subjugadas e transformadas pela ação do
colonizador europeu. A violência como traço marcante na disputa pelo território
nos faz compreender como essa colonização e ocupação das terras influenciam
até hoje nas características que trazemos culturalmente, quer seja na negação
ou na fuga de traços indígenas em nossas raízes.

Camocim não é só um nome, é uma fonte de possibilidades, de se


entender a história e a construção da identidade da própria cidade. Aprofundar-
se na toponímia de Camocim seria assim, o caminho inverso, ou uma
rememoração da identidade indígena através desse resíduo. Não seria apenas
um pote esquecido e enterrado com ossos de um passado colonial
negligenciado, seria, portanto, o juntar das peças desse pote histórico.

Referências bibliográficas.

ALENCAR, José de. Iracema. 2017.

CRUZ FILHO. Historia do Ceará - resumo didactico. São Paulo: Comp.


Melhoramentos de S. Paulo, 1931.

LUCAS, Clarinda Rodrigues. Os senhores da memória e do esquecimento.


Transinformação, Campinas, v.10, n. 1, p. 87-96, jan./abr. 1998.

MONTEIRO, Tobias de Melo. Camocim centenário: 1879-1979. Fortaleza:


Imprensa Oficial do Ceará, 1984.

PONTES, Roberto. Entrevista sobre a Teoria da Residualidade, com Roberto


Pontes, concedida à Rubenita Moreira, em 05/06/06. Fortaleza: (mimeografado),
2006.
QUEIRÓS, Artur. E a vida continua.2009.
WILLIAMS, Raymond. “Dominante, Residual e Emergente”. In: Marxismo e
Literatura. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.

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