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tool of the human imagination and the sec- um potencial imaginativo sem igual. O
ond as powerful vehicle of interests. homem primitivo achava que a imagem era
um duplo do representado, um desdobra-
mento. A imagem tinha um caráter privado.
1. Introdução
Pensamento pré-lógico, mágico e primitivo.
Os hominídeos do período paleolítico Pensamento para criar cenas e expressar seus
viviam nas árvores e, por isso, tinham neces- medos mais íntimos através da arte rupestre.
sidade instintiva de usar os pés e mãos. O in- Tempestades, trovões, bestas selvagens, o
strumento de corte era a boca. A mandíbula, medo do desconhecido e todo o leque de re-
consequentemente, era muito forte. Quando ceios e sentimentos inerentes à época eram
a vida na árvore se tornou inviável eles foram pintados rusticamente em paredes rochosas,
para a savana. Sem as dificuldades de sobre- demonstrando que o imaginário humano se-
vivência no alto das árvores, começaram a ria uma das constantes da evolução. Pas-
raciocinar, mesmo que de forma rudimentar. sando por épocas distintas, cada civiliza-
Já neste período formou-se no inconsciente ção edificou sua própria representatividade
o mito da queda. Eles desceram das árvores imaginativa dentro de circunstâncias especí-
e isso gerou uma gama extensa de signifi- ficas: os maias, os incas, os egípcios, os
cados que perdurariam durante todo o pro- gregos e romanos, os orientais e tantos out-
cesso evolutivo: o ato de cair relaciona-se ros povos transformaram idéias, criaram mi-
ao inferno que está embaixo, cair é perigoso, tos e imagens simbólicas dentro de estru-
bichos assustadores como serpentes e arac- turas complexas de significação tanto no
nídeos estão embaixo e a ameaça é rasteira, campo individual como no coletivo. Pode-
sempre à espreita. Ir para o chão é lidar se supor que cada civilização encerra um
com o desconhecido. Se o homem tinha uma repertório de significados mais amplos, caros
visão curvada na árvore, no chão ele precisou à sua existência e que ecoam dentro de um
ficar ereto, vertical. E o que aconteceu nessa repertório significativo individual. Cada civ-
verticalidade? Curvado, a espinha dorsal ex- ilização encara a vida e a morte de modo
ercia pressão impedindo o crânio de crescer. bem específico, observando o mundo sob
A verticalidade causou uma descompressão uma perspectiva única. Diante do até en-
que gerou um suporte fisiológico possível tão exposto, noosfera é o desenvolvimento
para o desenvolvimento da massa cefálica. de idéias gerais acerca da vida engendrada
Portanto, a atividade cognitiva ficou maior. pela coletividade e pelo indivíduo.
Ao liberar as mãos, a boca deixou de ser in-
strumento de corte e a mão passou a ser uti- Como os deuses, as idéias são seres
lizada como uma valiosa ferramenta para os desenfreados; escapam rapidamente ao
mais diversos fins. Iniciou-se a capacidade controle dos espíritos, apoderam-se dos
de desenvolver sons, de concatenar pensa- povos e desenvolvem fabulosa energia
mentos e promover a arte pictórica. histórica. Como pode acontecer de dar-
Desde a pré-história, o ser humano con- mos vida a seres de espírito, que lhes
fronta a si mesmo nos labirintos da imagi- ofereçamos, depois nossas vidas e que
nação. Pinturas em cavernas apontam para eles acabem por se apoderar delas? [...]
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Noosfera e Midiosfera: O Imaginário Humano e o Engenho da Mídia 3
As idéias são ainda mais teimosas e os e medos humanos. “Ser humano é ter mitos.
fatos quebram-se contra elas com mais A visão de mundo mítica não pode ser elim-
freqüência do que elas quebram contra inada” (BIERLEIN, 2003, p.341).
eles (MORIN, 2001, pp.148-149).
O mito é uma realidade cultural extrema-
Tais idéias são intrínsecas ao homem, que mente complexa, que pode ser abordada
cria individualmente e coletivamente ima- e interpretada em perspectivas múltiplas
gens, conceitos, seres imaginários, mitos e e complementares [...] o mito conta
significados. A noosfera trabalha as ima- uma história sagrada, relata um acontec-
gens endógenas do cérebro. Estas imagens imento que teve lugar no tempo primor-
endógenas dialogam com o inconsciente co- dial, o tempo fabuloso dos começos [...]
letivo. Dialogam com os arquétipos cole- o mito conta graças aos efeitos dos seres
tivos e individuais, fazendo uma ponte entre sobrenaturais, uma realidade que passou
o mundo cultural, imaginário e o mundo da a existir, quer seja uma realidade tetal,
vida, como nos diz Edgar Morin: o Cosmos, quer apenas um fragmento,
uma ilha, uma espécie vegetal, um com-
A noosfera não é apenas o meio con- portamento humano, é sempre, portanto,
dutor/mensageiro do conhecimento hu- uma narração de uma criação, descreve-
mano. Produz, também, o efeito de um se como uma coisa que foi produzida,
nevoeiro, de tela entre o mundo cultural, como começou a existir [...] (ELIADE,
que avança cercado de nuvens, e o mundo 2001, pp.12-13).
da vida. Assim, reencontramos um para- Desde cedo, o homem aprendeu a dimen-
doxo maior já enfrentado: o que nos faz sionar sua vida através de simbologias. Na
comunicar é, ao mesmo tempo, o que nos antiga civilização romana, o significado de
impede de comunicar (MORIN, 2001, objetos fálicos, por exemplo, estava em con-
p.141). sonância com a época e representava um
ideal de poder masculino. Do mesmo modo,
Dentro da humanidade, ao longo de sécu- a imagem da flor de lótus simboliza elevação
los, milênios, desenvolveu-se uma técnica e expansão espiritual e também encerra a es-
peculiar de criar universos particulares. Esta sência feminina na cultura asiática. Tais sig-
capacidade de imaginar, como já men- nificados nasceram na noosfera, são idéias
cionado, surgiu na pré-história com desen- gerais que tornam a vida mais fácil de ser
hos simples e seguiu por toda a história do conduzida e explicada. Na Idade Média,
homem, refinando-se. A noosfera está lig- com a Santa Inquisição, a imagem do diabo
ada ao significado das coisas, aos símbolos como ser maquiavélico, pronto para seduzir
e às tentativas de compreender o que é o ser o ser humano, também se concretizou no
humano dentro de um universo vasto que ul- ideário da época e, ainda hoje, está bem fin-
trapassa explicações. Inseridos na noosfera cado no inconsciente coletivo. Interessante
desenvolveram-se os seres mitológicos, os constatar que o conceito diabólico contem-
deuses, os heróis, os demônios e uma gama pla dois campos: o individual e o coletivo.
de criaturas imaginárias que refletem anseios Baschet diz:
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O diabo medieval pode ser definido programas, as suas crenças, os seus val-
como uma outra instância que funciona ores, as suas normas. Do ponto de vista
em múltiplos níveis: tanto individuais da noosfera, são entidades feitas de sub-
quanto coletivos. De um lado, os fan- stância espiritual e dotadas de certa ex-
tasmas diabólicos laçam raízes no lugar istência (MORIN, 2001, p.139).
mais profundo dos seres; a figura do di-
abo oferece uma solução para os conflitos Presta-se a uma partilha, uma forma co-
íntimos e ajuda a consciência a se con- munitária. As experiências da noosfera
stituir, a pensar a si mesma. De outro nascem de uma experiência mais concreta
lado, a figura terrível e poderosa do di- como, por exemplo, festas ligadas ao imag-
abo, unificando contra si todo o pan- inário cultural de anos e anos. O imag-
teão cristão, duplicando negativamente inário não é só local, mas seu grau de con-
as instituições, participa da afirmação das taminação e seus conteúdos do imaginário
modernas formas de estado e de sua vi- cultural acontecem numa experiência es-
olência necessária (BASCHET, 2002, p. paço/temporal concreta. Tudo o que é vivido
315). presencialmente é mais complexo daquilo
que é vivido apenas virtualmente. O corpo
O diabo representa, na cultura ocidental, vivencia e transforma a imagem mental mais
tudo o que ser humano não quer ver em si concreta e complexa. Ela vem acompan-
mesmo. Reflete os erros e assume a culpa hada pelo diferencial do sexto sentido, o sen-
por atos impensáveis. Este modo de pensar é sório motor, o trabalho corporal que inter-
um exemplo bem claro da noosfera, que trata fere na imagem mental. A passagem da
de idéias consensuais e conceituais, adotadas memória para a capacidade de memória que
pela coletividade. Outros exemplos claros combina o grupo com o que aquilo significa
são as superstições, como cruzar com gato é feito dentro de uma lógica temporal. Então
preto, atravessar embaixo de uma escada, tal- surge a narrativa que tem como base organi-
ismãs e outras idéias estabelecidas de azar e zar os acontecimentos de forma que façam
sorte. Todas estas regras estão inseridas den- sentido na ordem espaço temporal não ime-
tro da noosfera, que representa o domínio da diata. O pensamento é permeado pela lógica
imaginação, do homem e da criatividade. da narratividade por isso toda forma de lin-
A noosfera nasce com o pensamento, ele guagem embute uma narrativa. Narrativa é
a gera. Memória e tempo são fundamen- a construção de algo comum. As primeiras
tais: criação de símbolos que não são apenas grandes narrativas foram organizadas através
índices e tem sempre uma elaboração social da sobrevivência e são chamadas de mitos.
coletiva. Nos séculos XX e XXI, tais noções mi-
tológicas ainda existem bem delineadas. No
As representações, símbolos, mitos, cinema, por exemplo, não faltam exemplos
idéias, são englobados, ao mesmo tempo, de que o imaginário popular ainda precisa se
pelas noções de cultura e de noosfera. alimentar de mitos e heroísmos. A saga do
Do ponto de vista da cultura, constituem diretor e produtor George Lucas demonstra
a sua memória, os seus saberes, os seus com clareza a avidez com que o público as-
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Noosfera e Midiosfera: O Imaginário Humano e o Engenho da Mídia 5
simila enredos com forte caráter mitológico. sinal de que o mundo se torna opaco e os
Guerra nas Estrelas, de modo simplificado, nossos atos nos fogem – encontrando-nos
narra a trajetória de um herói auxiliado por então nós sem perspectiva sobre nós mes-
um mentor que precisa encarar o mal. Além mos. Sem esta caução, deixa de haver
de Guerra nas Estrelas, a recente safra de identidade possível: torno-me outro em
filmes baseados em histórias em quadrinhos relação a mim próprio, estou alienado
demonstra que a imagem do herói está longe (BAUDRILLARD, 1981, pp. 234-235).
do esgotamento. Só para ficar em quatro
exemplos, Homem-Aranha, Superman, Bat-
2. Midiosfera: Influência
man e Homem de Ferro, filmes baseados
em histórias em quadrinhos e sucessos ab- Externa
solutos de bilheteria da recente safra cine- Se a noosfera é intrínseca ao homem, a
matográfica demonstra que a idéia do herói, midioesfera é algo externo. Trata-se de uma
do sacrifício em prol da humanidade e dos influência criada por meios de comunicação
poderes além da capacidade humana não de massa. É a esfera das mídias, da in-
perdeu apelo junto ao público. Pelo con- formação pré-fabricada, da manipulação e
trário, o sucesso destes filmes mostra que o dos conglomerados. A midioesfera foge do
mito do herói ainda pulsa no inconsciente co- domínio do homem, pois o homem é sub-
letivo, que deseja ver algo fora do comum metido aos seus pressupostos. Com a inter-
nas telas do cinema. Algo que faça a audiên- net, a televisão e com os meios de comu-
cia fugir, ao menos por um tempo, da reali- nicação cada vez mais interativos, não so-
dade. O cinema é o domínio da imaginação, bra espaço para a imaginação, para a pro-
onde se sonha acordado e onde os ideários da liferação da noosfera, sempre invadida pela
noosfera se concretizam na frente dos olhos. midioesfera. Neste caso, a interação é nega-
O cinema é um microcosmo do mundo, um tiva, pois não há como controlar o fluxo de
simulacro da realidade. E neste simulacro, a informações e a overdose de imagens que
imagem é tudo, assim como a imagem é tudo replicam na midioesfera. Tal fluxo altera o
para o mundo. Hodiernamente, a imagem es- modo de perceber e imaginar. A midioesfera
pecular, como Baudrillard afirma: cria seus próprios seres imaginários, produz
seus mitos, suas notícias e fatos instantâneos.
[...] representa aqui simbolicamente o Desta forma, estabelece uma nova tradição
sentido dos nossos atos, que formam em que é totalmente oposta à tradição mais co-
redor de nós um mundo à nossa im- mum da noosfera: o imaginário do homem
agem. A transparência da nossa relação produzido na própria imaginação do homem.
ao mundo exprime-se bastante bem pela
relação inalterável do indivíduo ao re- Com a crescente consolidação dos meios
spectivo reflexo no espelho: a fidelidade tecnológicos, o imaginário do homem é ma-
de semelhante reflexo testifica, de certa nipulado pelos meios de comunicação. As
maneira, a reciprocidade real entre o imagens são cuidadosamente estruturadas, a
mundo e nós. Simbolicamente, portanto, construção de sentido é planejada em cada
no caso de a imagem nos vir a faltar, é
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detalhe e o que se vê é a repetição paulatina vas redes para suportar uma infra-estrutura
de conceitos e de signos com propósitos sub- capaz de armazenar dados, tornar estes da-
liminares, cujo interesse está agregado a val- dos presentes em tempo real e capaz também
ores de ordem econômica de grandes con- de criar mundos virtuais. A onipresença
glomerados de mídia. Todas as qualidades crescente dos computadores e de disposi-
apontadas pelo discurso tecnológico e vir- tivos relacionados à sua difusão em nosso
tual que é pautada na mídia possuem um ambiente requer transformação do relaciona-
forte vínculo com o capitalismo e o mer- mento complexo entre a tecnologia e o ser
cado. Toda essa tecnologia tem seu es- humano. Esta integração crescente da tec-
trato essencial guiado pelos valores estabele- nologia em escala mundial, continental, re-
cidos pelo mercado, na eficiência e nas es- gional, chegando aos aparelhos eletrônicos e
tratégias de guerras, para ter-se uma infor- ao nosso próprio corpo mostra como a ciber-
mação funcional imediata. Mídia feita para cultura tomou conta do modo de vida da
a catástrofe, sempre alarmista, priorizando sociedade. A midiosfera interfere e inter-
o corpo, as tragédias e o esporte. A cul- age nas dimensões evolutivas da noosfera in-
tura contemporânea investe no dinheiro, no fluindo em dimensões fundamentais do es-
trágico, no colapso e na quantidade. Ter é pírito humano: a comunicação, a informação
essencial. e criatividade. A rapidez que uma infor-
De fundamental importância nos dias at- mação torna-se obsoleta dá origem a uma
uais, os conceitos de noosfera e midiosfera sensação de angústia e uma pressa na busca
precisam ser compreendidos dentro de um de um tempo aparentemente perdido. E a
contexto que os coloque em rota de colisão evolução ligada à informação, transmissão
para que ambos sejam entendidos separada- de idéias e conhecimentos pela integração
mente e como os dois se relacionam. das redes continua a crescer sem limites.
A estes fatos, soma-se a exteriorização das
funções cognitivas humanas como memória
3. Nova Realidade Cognitiva
(palms, handhelds, pen-drives), visão, au-
Ciberespaço é o conjunto que engloba dição e tato (web-cam, web-phone e gloves),
uma nova cultura de pensamentos, técni- comunicação (web), entre outros aparatos
cas e atitudes dentro de um ambiente tec- que emulam ou complementam funções es-
nológico e midiático. Este ambiente é um pecíficas do ser humano. Deste modo surge
dos braços da midiosfera. As informações, uma realidade cognitiva nova, guiada pela
decisões e sensações que promovem uma tecnologia e manipulada pela midioesfera.
transcendência dentro do ciberespaço, uma Para resolver o problema de relacionamento
capacidade de ir além das possibilidades nor- com a tecnologia é necessário aprender e as-
mais só é possível devido à extensão da ca- similar o que é novo, mas com uma per-
pacidade individual: memória, imaginação cepção seletiva. A noosfera ou esfera do
e leitura. O ciberespaço possibilitou a cri- pensamento ou espírito humano foi assim
ação de novas plataformas de computadores, definida pelo paleontólogo e místico jesuíta
cada vez menores e mais adaptadas a ha- Teilhard Chardin. Conceito usado para ex-
bilidades humanas, mas que requerem no- plicar o nascimento e o desenvolvimento
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Noosfera e Midiosfera: O Imaginário Humano e o Engenho da Mídia 7
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se imagina. A cultura de massa se apropria Cada vez mais, nossos conceitos de pas-
dos mitos arcaicos. Todas as motivações e sado, presente e futuro são forçados a
processos que a indústria cultural consegue uma auto-revisão. Assim como o pas-
surgem a partir desse processo e dos proced- sado, em termos sociais e psicológicos,
imentos rituais arcaicos evocando respostas tornou-se vítima do acidente de Hirox-
inconscientes. ima e da era nuclear, o futuro também
Essa idéia dos imaginários resgata uma está deixando de existir, devorado pelo
crença ancestral e isso é matéria prima da presente voraz. Anexamos o futuro ao
mídia eletrônica desde o começo. O universo presente, como apenas uma das múlti-
midiático constrói, recorta e seleciona do plas alternativas que se abre para nós.
imaginário ancestral reconstruindo, não es- As opções se multiplicam ao nosso re-
pelhando a sociedade, mas a resignificando- dor, e vivemos num mundo quase infan-
a. Essa estética midiática é extraída dos til, em que qualquer demanda, qualquer
imaginários coletivos originais e não são possibilidade, seja por estilos de vida, vi-
fieis ou complexos como a sua estrutura. agens, por papéis sexuais ou por identi-
Não possuem a função de reorganização. dades, pode ser satisfeita de forma quase
Trata-se de uma representação. Nas palavras instantânea (BALLARD, 1995, p. vi).
de Ferrara:
As manifestações culturais são contra-
Representar é, portanto, tornar o mundo ditórias, a expressão artística é um fenômeno
cognoscível e compreensível ao pensa- mutável e a cultura de massa está em con-
mento que é o arquiteto das represen- stante adequação. As coisas, todas as que o
tações que medeiam as experiências do ser humano produz, são descartáveis, para-
mundo. Representar é deformar e criar, doxais, banais, esquisitas e adaptadas ao sa-
para o real, mediações parciais, mas rev- bor da mídia. Conceitos são instalados e de-
eladoras [...] O real enfrentado na sua pois subvertidos. Linhas de pensamento são
dimensão fenomênica e aprisionado em esboçadas para, em seguida, serem desafi-
mediações representativas parciais cria adas ou apagadas. Melhor, deletadas. O con-
a complexa ciência marcada pela im- ceito de midiosfera já nasce com uma bomba
precisão e pela relatividade do conheci- relógio plantada em seu interior que irá, em
mento que constitui a imagem (outra rep- curto período de tempo, explodir os próprios
resentação) da ciência no fim do milênio pressupostos. Para, em seguida, nascer de
(FERRARA, 2002, p.159). novo. Terá a mesma essência, só que em
A midiosfera, potencializada pelas redes nova embalagem.
móveis, rege uma nova forma de interação Na época em que predomina a midiosfera
e manipulação. Hoje em dia a perspectiva não há mergulhos profundos, estudos com-
é variável. Tudo depende do ponto de vista pletos ou verticalização nas formas de arte.
e os pontos de vista multiplicam-se feroz- Estranha, essa época contemporânea. Nela,
mente. Isso ocorre porque a midiosfera é não se cria, não se rompe e nem se continua
constituída de vários discursos, contestando nada. Vive-se de migalhas e fragmentos num
a si mesma a partir de sua própria criação. cenário de regurgitamento de pensamentos e
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Noosfera e Midiosfera: O Imaginário Humano e o Engenho da Mídia 9
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