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organização
Anderson De Moura Lima on 15 de setembro de 2007
O importante não é se preocupar com as propostas que vêem á tona, mas com as
propostas que vêem á tona e não são analisadas pelo grupo-alvo. Para alguns
esse processo se chama democracia (ou gestão) participativa. Para outros é
somente a forma mais fácil, prática e rápida de se dificultar decisões e medidas
ditatoriais, sem fundamento, descontextualizadas, que não resolvem o que se
propõe a resolver e ainda por cima privilegiam poucos. Por mais complicada e
trabalhosa que possa ser esse tipo de democracia ela impede muita coisa além de
geralmente fazer com que os “controlados” e “contracontrolados” se envolvam com
os interesses grupais mais do que com interesses pessoais nos momento em que
isso deve ocorrer.Um último aspecto a ser tratado antes de iniciar o
desenvolvimento desse texto é considerar que a proposição de formas de
organização social para um grupo não é pressuposto para se afirmar que esse
grupo esteja desorganizado. Um grupo que tenha como meta final a sobrevivência
deve variar, mudar, modificar permanentemente o contexto para que ele seja
modificado por esse contexto e as mudanças não devem ser encaradas
necessariamente como sinal de enfraquecimento, de falecimento, de extinção de
desagregação, mas como a base para a sustentação e para o desenvolvimento.
2- A análise do comportamento
O grupo social sobre o qual se discorrerá contém membros que são denominados
ou se denominam Behavioristas Radicas e/ou Analistas do Comportamento. No
Brasil eles são majoritariamente registrados em Conselhos Profissionais de
Psicologia e/ou cursam graduações e pós-graduações de Psicologia. “Filósofos e
Psicólogos geralmente dividem o conhecimento em operacional e declarativo:
’saber como’ e ‘saber sobre’.” (BAUM, 1999, p.114). Por isso antes de iniciar a
discussão sobre o que é conhecimento seria interessante distinguirmos os tipos.
“Saber ‘sobre’ difere de saber ‘como’ apenas por envolver controle de estímulo”
(BAUM, 1999, p.116). Isso quer dizer que quando se diz que alguém sabe falar
sobre “algo” então está se dizendo que aquela pessoa pode, por exemplo,
responder a uma série de perguntas e respeito desse “algo” que podem ser feitas
por outras pessoas, ou até por ela mesma, ou seja, as respostas derivadas das
perguntas são a base para se dizer que alguém conhece algo, afinal só se sabe
que alguém sabe sobre “algo” se ela expressa esse saber de alguma forma , caso
contrário nunca ter-se-ia essa certeza, além disso pode-se dizer que essa
expressão assume várias formas.
Quando se afirma que alguém sabe fazer “algo” está sendo revelada uma ligação
desse fato com o seu contexto de ocorrência. Está se dizendo que essa pessoa
sabe fazer uma, duas, três, quatro, uma série de ações que estão ligadas
intrinsecamente ao saber como fazer “algo”. Ela pode fazer esse “algo” á tarde, á
noite, quando outra pessoa pede para ela fazer, quando ela presencia um outro
fato e se lembra de fazer esse “algo”, enfim pode-se arrolar uma série de situações
que poderiam resultar em dizer que alguém sabe como fazer “algo”. Assim falar
que alguém sabe como fazer “algo” é relatar ou expressar fatos relacionados a
esse fazer.“O conhecimento operacional, ou o ‘saber como’, significa que algum
comportamento ou categoria de comportamento particular foi observado. […] O
conhecimento declarativo ou o ‘saber sobre’, significa que o comportamento
referido está sob controle de um estímulo […] O ‘saber sobre’ refere-se à
discriminação. No caso especial de ‘saber sobre’ em que o comportamento sob o
controle de estímulo é um comportamento verbal, diz-se que uma pessoa sabe
sobre um assunto se ela fez asserções que foram reforçadas (que são “corretas”)
sob controle de estímulos discriminativos do ambiente […], particularmente
estímulos providos por outras pessoas como perguntas” (BAUM, 1999,
p123).Poder-se-ia dizer então que o conhecimento é uma forma – na verdade um
conjunto vasto de formas, ou classes, ou tipos – de comportamento. Conhecer é
falar, escrever, pensar, agir, sentir, apontar, conversar. O conhecimento não é algo
metafísico, abstrato, não paira sobre as nossas cabeças ou está dentro dela.
O que os cientistas fazem para disseminar seu conjunto de práticas culturais, seu
repertório verbal? Os cientistas escrevem artigos e os lançam em revistas para
leigos e para outros cientistas, redigem e publicam livros, constroem fundações e
centros de pesquisa, se organizam em associações, sociedades, academias e
ligas científicas, publicam textos em sites, palestram, ministram cursos e aulas,
publicam relatórios de produção científica, inventam produtos e serviços –
tecnologias – para serem oferecidos e ofertados pelo governo e pelo mercado
sucessivamente, lutam por verbas públicas e patrocínios da iniciativa privada,
fundam museus de ciência e tecnologia, se engajam em projetos sociais e
comunitários, organizam feiras, congressos, encontros, simpósios, colóquios,
jornadas, abrem e coordenam cursos de graduação, pós-graduação, formação,
capacitação e especialização, fazem convênios com faculdades, universidades,
escolas, academias, com o poder público e o privado para a obtenção de apoio
financeiro, dão entrevistas em revistas, rádios, jornais e telejornais, etc. Tudo isso
integra o repertório comum desse conjunto de pessoas que são chamadas de
cientistas e não poderia ser diferente com os Analistas do Comportamento que
também se auto-intitulam cientistas naturais. Pode-se dizer que a organização e a
promoção de uma ciência (como a Análise do Comportamento, por exemplo)
podem ser feitas de várias formas. Algumas formas são mais eficazes que
outras…
3. Uma comparação…
Mallot e Glenn (2005, p.101) afirmam que “organizações são entidades complexas
em constante mudança” e […] “todas as organizações são entidades culturais”.
Basicamente uma organização funciona assim: “Algumas vezes o comportamento
de uma pessoa A, ou o produto desse comportamento, é a ocasião para a pessoa
B fazer algo. O comportamento de B, ou seu produto, pode por sua vez
estabelecer a ocasião para a pessoa C fazer algo. As contingências
comportamentais de A, B e C são interligadas. O mesmo evento ou objeto (e.g., o
produto de A) é uma conseqüência do comportamento de A e estabelece a
ocasião para o comportamento de B[…] O comportamento de cada pessoa torna-
se parte do ambiente passando a integrar contingências comportamentais para
outras pessoas. Chamamos esses tipos de relações entre os comportamentos de
duas ou mais pessoas de contingências comportamentais entrelaçadas. Elas são
os fundamentos da complexidade cultural” (MALLOT e GLENN, 2005, p. 103)
Mallot e Glenn (2005, p.102) continuam sua explicação afirmando que O
comportamento de A, B e C pode ser parte de um conjunto maior de contingências
comportamentais entrelaçadas que, juntas, resultam em um produto agregado […]
As contingências entrelaçaras determinam as características dos produtos; e as
características dos produtos determinam a aceitação do produto pelo consumidor.
A aceitação do produto pelo consumidor é o ambiente externo contingente ao
produto das contingências comportamentais entrelaçadas. Assim, “Em
organizações estamos interessados nos produtos do comportamento entrelaçado
de múltiplos indivíduos; portanto, o comportamento de indivíduos permanece
sendo o componente fundamental das organizações.
O termo sistema é usado para uma variedade de relações entre muitos tipos de
elementos isolados, combinados em um todo para alcançar um resultado”
(MALLOT e GLENN, 2005, p. 104) Como poderia então ser definido um grupo de
pessoas que ensinam, pesquisam, e estudam uma Ciência Natural voltada para o
estudo do comportamento dos organismos íntegros e vivos e para a modificação
do mesmo? Esse grupo poderia ser comparado a uma organização, uma entidade
cultural, uma comunidade composta de professores, estudantes, pesquisadores e
trabalhadores que se comportam e se voltam basicamente para a construção,
disseminação e utilização de tecnologias voltadas para a modificação do
comportamento de indivíduos e grupos.Partindo do pressuposto que esse grupo –
na verdade estamos nos referindo ao grupo composto por Analistas do
Comportamento – existe e de que o produto agregado resultante do trabalho do
mesmo tem utilidade um das primeiras perguntas que podem surgir é se esse
grupo, no caso essa organização, está conseguindo atingir seu objetivo maior:
disseminar a utilização de tecnologias comportamentais.
A resposta para essa pergunta não está nesse texto, mas o entendimento de que a
Análise do Comportamento pode ser considerada uma organização no sentido em
que Mallot e Glenn tentam passar no seu texto nos ajudaria a encontrar a resposta
e caso ela não fosse satisfatória provocar uma mudança. Mallot e Glenn (2005,
p.105) explicam que Organizações são como ecossistemas, formados por
inúmeras interdependências. A ecologia comportamental oferece uma visão
ordenada da natureza que simplifica o estudo das relações entre organismos e
seus ambientes físicos, incluindo outros organismos. […] Pensamos ser útil
considerara três tipos de complexidade organizacional: ambiental, de componentes
e hierárquica. “O número de variáveis externas à organização que afetam seu
desempenho determina a complexidade ambiental” (MALLOT e GLENN, 2005, p.
106). Assim, poder-se-ia enumerar as seguintes variáveis externas à Análise do
Comportamento que afetam seu desempenho: flutuações na economia do país
que determinam o grau de acesso aos serviços oferecidos por Analistas do
Comportamento, desenvolvimento de tecnologias analítico-comportamentais,
regulamentações legais que afetam a prática do Analista do Comportamento,
criação ou falência de empresas que oferecem serviços baseados em tecnologias
analítico-comportamentais e a concorrência gerada pela atuação de profissionais
que prestam serviços semelhantes. Já “o número de elementos que compõe uma
organização determina a complexidade dos componentes”, (MALLOT e GLENN,
2005, p. 107/108), os elementos são as fazes de elaboração do produto agregado.
Mas cabe advertir que “Sem um esforço sistemático, as organizações tendem a
crescer em complexidade de componentes e se tornam redundantes e ineficientes.
Uma complexidade de componentes desnecessária pode ser contraprudentes para
os objetivos últimos da organização” (MALLOT e GLENN, 2005, p. 108).
De maneira sintética a seguinte interação entre os componentes pode ser
observada na Análise do Comportamento, de acordo com Lattal (2005, p.15) As
interações mais comuns e influentes na ciência da análise do comportamento
envolvem ciência básica para ciência básica e ciência aplicada para ciência
aplicada. A análise do comportamento foi caracterizada como uma ciência
histórica, visto que práticas atuais e descobertas são construídas a partir de
observações e de experimentações prévias. […] o conhecimento atual sobre
processos e fenômenos comportamentais é o resultado do acúmulo de
experimentação em que novos experimentos são fundamentados em experimentos
anteriores. As fontes mais fortes de controle sobre práticas científicas atuais em
ciência básica e em ciência aplicada são os experimentos que as precederam em,
na maioria das vezes, uma área similar ou relacionada. Pode ser só um leve
exagero dizer que muitos, se não a maioria dos cientistas básicos lêem
principalmente o que outros cientistas básicos escrevem. Quer dizer, eles lêem
pouco sobre ciência aplicada ou áreas tecnológicas de sua disciplina. O mesmo
pode ser dito de cientistas aplicados com respeito a literatura aplicada. O trecho
acima não expõe claramente a realidade da Análise Aplicada do Comportamento,
mas a respeito dele podemos fazer algumas ponderações. A Análise Aplicada do
Comportamento teria duas funções vitais: “(1) manter o contato com o mundo real
e alimentar os pesquisadores na área com problemas comportamentais do mundo
natural e (2) mostrar a relevância social de tais pesquisas e justificar sua
manutenção e ampliação da área como um todo. Como uma ciência baconiana,
não contemplativa, a Análise do Comportamento tem compromissos de melhoria
da vida humana e o seu braço aplicado pode funcionar como um eficiente aferidor
das conseqüências práticas prometidas”. (CARVALHO NETO, 2002). Canaan-
Oliveira (2003 p.1) afirma que O adjetivo “aplicado (a)” se refere a algo que foi
sobreposto, posto em prática ou empregado […]o uso da palavra “aplicada” na
linguagem cotidiana parece implicar numa separação entre dois mundos: um
mundo que produz conhecimento e um mundo onde o conhecimento é aplicado
na prática. Muitos Analistas do Comportamento utilizam a palavra “aplicada” no
sentido de prestação de serviço, concebendo o trabalho aplicado como
intimamente ligado à psicologia profissional. (Azrin, 1977; Johnston, 1996; Luna,
1997; Oliveira, 2003 p. 1).
Canaan-Oliveira (2003 p.4) afirma que O que ocorre na maioria dos estudos
publicados é que a demonstração da capacidade para resolver um problema
prático específico acaba comprometendo os objetivos ditos ‘científicos’ tais como
aprender sobre etiologia e manutenção do comportamento, elucidar fontes de
controle ou compreender a contribuição de múltiplas variáveis para o fenômeno
sob estudo A Análise Aplicada do Comportamento acaba sendo, portanto, alvo de
críticas de muitos Analistas do Comportamento que se perguntam se a mesma não
estaria excessivamente tecnológica. Até que ponto o Analista do Comportamento
não seria um mero reprodutor de tecnologia comportamental? Essa é uma
pergunta que grandes Analistas do Comportamento como Holland, Geller e Hayes
se fizeram.
Referências Bibliográficas
ABDELNUR, Aline de Carvalho; QUEIROZ, Anna Beatriz Müller Queiroz. Análise
do comportamento aplicada: tecnologia x teoria? Behaviors, 2006, vol. 10, p.39-42.
BAUM, Willian M. Compreender o behaviorismo: ciência, comportamento e cultura.
Porto Alegre: Editora Artes médicas Sul, 1999.