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Olhares Políticos sobre os Territórios

Philippe Rekacewicz Le monde Diplomatique, março 2002

A cartografia vista de certa maneira, está na fronteira entre a ciência exata e a


arte.
A carta, representação minúscula de imensos territórios, é uma imagem truncada da
realidade, um tipo de mentira por omissão. A representação simbólica exige o sacrifício de uma
parte da informação, tudo que existe, e se movimenta sobre centenas de milhares de Km², não
pode aparecer sobre uma pequena folha de papel. O criador da carta faz uma escolha
teoricamente aceitável dos elementos que vai representar. Diante dos dados ele deve sintetizar,
simplificar e renunciar. Sua carta é um documento filtrado, ele censurou elementos talvez
importantes, mas que freqüentemente são julgados secundários ou inúteis; ele a simplificou
para torna-la legível; ele imprimiu sua maneira de ver o mundo e sua sensibilidade.
A carta pode desta maneira ser objeto de todo o tipo de manipulação, dos mais
grosseiros aos mais discretos. Ela é iminentemente política e considerada com uma ferramenta
útil de propaganda pelo poder. Vejamos um exemplo no mundo árabe, Sadan Hussein, quando
da invasão do Kuait por suas tropas em agosto de 1990, apresentou-se na TV com um novo
mapa oficial do Iraque contendo o Kuvait, apresentado sua “nova província”. A geografia
poderia lhe dar razão: O Kuvait, situado nas desembocaduras do Tigre e do Eufrates, faz
“naturalmente” parte do Iraque.
Por sua parte, Rabat durante muito tempo censurou todas as publicações onde os mapas
distinguiam o Marrocos do Saara ex-espanhol. Um traço mesmo intermitente, entre os dois
territórios e sua difusão era interditada.
Em muitos países do mundo árabe, a simples representação ou menção ao nome de
Israel sobre um mapa, equivale à interdição pura e simples da publicação. Por isso se troca o
nome Israel, por Palestina, ou Israel acaba desaparecendo do índice, e se coloca
providencialmente um gráfico no espaço do local do país. A representação das fronteiras
políticas é um exercício perigoso. Estaremos errados se pensarmos que existem
representações “oficiais” da divisão política do mundo. Mesmo as divisões cartográficas das
diversas Agências das Nações Unidas, contém sempre o cuidado de indicar nas cartas, que a
representação das fronteiras é simbólica, e não revelam seu pensamento. Para administrar
sensibilidades, o Banco Mundial recentemente “desaconselhou” seu serviço de cartografia a
produzir cartas da península indiana, que colocassem em evidência a região da Cachemira.
Entre as diversas visões nacionais e internacionais, a cartografia, não escapa de dificuldades
de ter que escolher. A China, vista pela China, não se superpõe à China vista pela Índia
Mas a cartografia não é somente a representação de fronteiras: ela é também uma
imagem que mostra a relação, (a marca) do ser humano no território. O mapa permite de um só
golpe de vista, compreender a lógica da organização e da ocupação do espaço, a extensão e
as conseqüências dos conflitos. Somente a carta dos Grandes Lagos Africanos, construída ao
final de 1994 logo após o genocídio ruandês permite acompanhar de que forma as populações
afetadas percorreram centenas de quilômetros na savana antes de eles serem acolhidos nos
campos de refugiados
A dimensão histórica completa também nosso saber: não se pode compreender as
questões africanas atuais, sem reinterpretar as cartas do período colonial. Não se compreende
a repartição atual das grandes famílias étnicas-linguísticas, senão através dos mapas dos
antigos e grandes impérios. Esta dupla abordagem, geográfica e histórica, aprimora nosso
conhecimento dos grandes problemas contemporâneos. Ela nos permite, sem dúvidas, nos
enganarmos um pouco menos, quando tentamos nela encontrar o significado.
A Carta nos convida a visualizar, com a distância necessária, as evoluções territoriais,
econômicas e políticas. Ela desenha o quadro e posiciona os atores, nos ajuda desta forma a
formular as questões e mais ainda, ela nos dá a solução.
Ela nos convida a muitas reflexões dentro de nossas análises, as ligações entre os
fenômenos cartográficos são freqüentemente incertos. A carta publicada, é antes de tudo uma
mensagem complexa e subjetiva que um autor oferece a seus leitores. A nós, interessa uma
leitura lúcida e critica.

Tradução Pedro Vianna nov/2003


Regards politiques sur les territoires
Philippe Rekacewicz
«La cartographie vit de cette sorte d’ambiguïté qui la situe à la confluence de la science exacte
et de l’art.» - Jean-Claude Groshens

La carte, représentation en minuscule d’immenses territoires, est une image tronquée de la


réalité, une sorte de mensonge par omission. La représentation symbolique exige le sacrifice
d’une partie de l’information : tout ce qui se passe sur des centaines de milliers de kilomètres
carrés ne peut tenir sur une petite feuille de papier. Le créateur de la carte fait un choix
théoriquement raisonné des éléments qu’il veut représenter. En présence des données, il doit
synthétiser, simplifier, renoncer. Sa carte finale est un document filtré ; il l’a censurée d’éléments
parfois importants, mais le plus souvent jugés secondaires ou inutiles ; il l’a simplifiée pour la
rendre lisible ; il y a imprimé sa manière de concevoir le monde et sa sensibilité.
La carte peut ainsi faire l’objet de toutes sortes de manipulations, des plus grossières aux plus
discrètes. Elle est éminemment politique, et considérée comme un efficace outil de propagande
par le pouvoir. Prenons quelques exemples dans le monde arabe. M. Saddam Hussein, au
lendemain de l’invasion du Koweït par ses troupes en août 1990, apparaît à la télévision avec la
nouvelle carte officielle de l’Irak intégrant le Koweït - qu’il présente alors comme sa nouvelle
province. La géographie, prétend-il, lui donne raison : le Koweït, situé au débouché du Tigre et
de l’Euphrate, fait « naturellement » partie de l’Irak... Pour sa part, Rabat a pendant longtemps
censuré toutes les publications dans lesquelles les cartes distinguaient le Maroc du Sahara ex-
espagnol. Un trait, même tireté, entre les deux territoires, et la diffusion était interdite. Dans les
pays du monde arabe, la simple représentation ou mention du nom d’Israël sur une carte
équivalait à l’interdiction pure et simple de la publication. Soit on remplaçait le mot Israël par
celui de Palestine et Israël disparaissait de l’index, soit on plaçait judicieusement un graphique
en lieu et place du pays. La question était à ce point sensible que les services commerciaux des
éditeurs scolaires français intervenaient directement auprès des responsables de collection
pour imposer une représentation acceptable du Maroc et du Proche-Orient, et éviter ainsi de
perdre d’importants marchés dans les pays francophones d’Afrique du Nord.
La représentation des frontières politiques est un exercice périlleux. On aurait tort de penser
qu’il existe des représentations « officielles » du découpage politique du monde. Même les
divisions cartographiques des diverses agences des Nations unies prennent toujours le soin
d’indiquer sur les cartes que la représentation des frontières est symbolique, et ne relève pas
de leur responsabilité... Pour ménager les susceptibilités, la Banque mondiale a récemment «
déconseillé » à son service cartographique de produire des cartes de la Péninsule indienne qui
mettraient trop précisément en évidence la région du Cachemire... Entre les différentes visions
nationales et internationales, le cartographe n’a que l’embarras du choix. La Chine vue par la
Chine ne se superpose pas à la Chine vue par l’Inde.
Mais la cartographie n’est pas seulement la représentation de frontières : elle est aussi une
image qui montre les rapports de l’être humain au territoire. La carte permet, d’un seul coup
d’oeil, d’appréhender la logique d’organisation et d’occupation de l’espace, l’étendue et les
conséquences des conflits. Seule la carte des Grands Lacs dressée fin 1994 à la suite du
génocide rwandais permettait de réaliser que les populations effrayées avaient parcouru des
centaines de kilomètres dans la brousse avant d’être accueillies dans les camps de réfugiés. La
dimension historique complète aussi nos savoirs : on ne peut comprendre les questions
africaines sans relire les cartes de la colonisation. On ne comprend la répartition actuelle des
grandes familles ethnolinguistiques qu’avec les cartes des anciens grands empires.
Cette double approche, géographique et historique, affine notre connaissance des grands
problèmes contemporains. Elle nous permet sans doute de nous tromper un peu moins lorsque
nous tentons d’en trouver la signification. La carte nous invite à visualiser, avec la distance
nécessaire, les évolutions territoriales, économiques et politiques. Elle dresse le décor et
positionne les acteurs, nous aide ainsi à poser les questions - plus qu’elle nous donne les
solutions. Elle nous invite à beaucoup de retenue dans nos analyses, les liens entre les
phénomènes cartographiés étant souvent incertains. La carte publiée est avant tout un
message complexe et subjectif qu’un auteur offre à ses lecteurs. A nous d’en proposer une
lecture lucide et critique.

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