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CAPÍTULO 4 – CRITÉRIO POPULAÇÃO

ICMS Solidário 2016


Carolina de Resende Pires Miranda Rodrigues
Consultora da Gerência-Geral de Consultoria Temática. Gerência de
Direito Constitucional e Administração Pública – ALMG.

Cristina de Noronha Magalhães


Consultora da Gerência-Geral de Consultoria Temática. Gerência de Economia. – ALMG.

1 DESCRIÇÃO DO CRITÉRIO

Esse critério é calculado pela relação percentual entre a população residente no


mu-nicípio e a população total do Estado, medida segundo dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. O objetivo desse critério é procurar
favorecer os muni-cípios mais populosos. Nos termos do Anexo I da Lei do
ICMS Solidário1, o percentual da distribuição dos recursos para esse critério é
2,70%. Participam desse critério todos os municípios.

O critério População é apurado pela Fundação João Pinheiro 2 – FJP –, com base
nos dados fornecidos pelo IBGE, e sua forma de apuração não foi alterada pela Lei
nº 18.030, de 2009, comparativamente à lei que a antecedeu, ou seja, a Lei nº
13.803, de 20003, a chamada Lei Robin Hood (art. 1º, III). Entretanto, à luz da citada
lei anterior, seu percentual era 0,01p.p. maior, ou seja, era de 2,71%.

2 ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DE RECURSOS FINANCEIROS DO CRITÉRIO

Esse critério contribui para diminuir a tendência à concentração representada pelo cri-
tério VAF. O VAF representa o movimento econômico do município, ou seja, o potencial
de cada município para gerar receitas públicas. Os municípios com maior atividade eco-
nômica, portanto, são aqueles que têm maior potencial para gerar maior arrecadação do
ICMS (receita de tributo, isto é, receita pública derivada). Nesse sentido, os municí-pios
com VAF mais alto terão aptidão para receber maior percentual de transferência

1 MINAS GERAIS. Lei nº 18.030, de 12 de janeiro de 2009. Dispõe sobre a distribuição da parcela da receita do
produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios.
2 FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos de Políticas Públicas. Distribuição de ICMS aos municípios
do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2013. (Banco de Dados.)
3 MINAS GERAIS. Lei nº 13.803, de 27 de dezembro de 2000. Dispõe sobre a distribuição da parcela da receita
do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios.

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de ICMS, pela regra do art. 158, parágrafo único, I, da Constituição Federal 4,
positivada aqui em Minas na Constituição do Estado 5, em seu art. 150, §1º, I, bem
como por meio da Lei nº 18.030, de 2009, em seu art. 1º, I. Ocorre que outro viés do
VAF é que os municípios que têm tal valor mais elevado não necessariamente são
aqueles que têm maior população. Vejamos alguns exemplos:

Tabela 1 – VAF per capita em três municípios escolhidos – Minas Gerais, 2012

Município
Jeceaba
Alfredo Vasconcelos
Mário Campos

Fonte: MINAS GERAIS. Assembleia Legislativa. Diretoria de Processo Legislativo. Gerência-Geral de Consultoria Temática.
Fontes primárias:
(1) IBGE.
(2)FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos de Políticas Públicas. Distribuição de ICMS aos municípios do
Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2013. (Banco de Dados.)

Assim, um município com VAF elevado e população baixa não


necessariamente terá uma cota-parte per capita elevada, no que se
refere ao ICMS. Os exemplos acima comprovam isso.

Partindo-se dessas premissas, o critério População é muito importante


para possibilitar uma melhor distribuição do ICMS entre os municípios.

Analisando-se os dados, observa-se que a maior parte do percentual distribuído por


esse critério, isto é, 35,60%, foi destinada à região Central, a mais populosa do
Estado, sendo que o valor repassado a Belo Horizonte corresponde a 12% do valor
distribuído por esse critério. Assim, verifica-se que, à luz do critério populacional, a
capital, embora possua maior atividade econômica, foi beneficiada em relação a
outros municípios po-pulosos do Estado localizados fora da região central.

Convém, ainda, a título ilustrativo, fazer um contraponto com uma das espécies de
transferências constitucionais, prevista no art. 159, I, “b”, da Constituição Federal.
Re-ferida transferência constitucional é de extrema importância para os municípios e
é feita pela União, relativamente a um percentual da arrecadação de impostos
federais (Imposto de Renda – IR – e Imposto sobre Produtos Industrializados – IPI)
destinado ao Fundo de Participação dos Municípios – FPM.

4 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Belo Horizonte: Assembleia
Legislativa de Minas Gerais, 2012.
5 MINAS GERAIS. Constituição (1989). Constituição do Estado de Minas Gerais. Belo Horizonte: Assembleia
Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2012.

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A distribuição de recursos ao citado FPM leva em consideração a população dos municí- F
pios, situando-a em faixas a cada uma das quais é atribuído um coeficiente. Ainda sobre o P
M, no que se refere às capitais, além da população, a renda per capita também é

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considerada para fins de distribuição de recursos. Entretanto, numa mesma faixa popu-
lacional, segundo o critério para distribuição do FPM, podem estar municípios com reali-
dades muito distintas. Por exemplo, em relação ao índice 0,6 do FPM, que corresponde
à primeira faixa populacional, que vai de 1 a 10.188 habitantes, o universo de municípios
que se enquadram em tal critério pode ser muito vasto e distinto, levando-nos à conclusão
de que, quanto ao critério do FPM, pode haver uma distorção em relação aos municípios
que se encontram mais próximos ao valor superior da faixa populacional.

Como outro exemplo, se analisarmos o índice 0,4 do FPM, no qual se enquadram os


municípios com população igual ou superior a 156.216 habitantes, também
poderemos vislumbrar tal distorção – que, na verdade, poderá se manifestar em
todas as faixas populacionais, relativamente aos municípios que se encontrarem
mais próximos ao va-lor superior de cada faixa. Some-se a esse argumento o fato de
que, pelo critério de faixas populacionais adotado pelo FPM, um município que se
encontra no limite superior da faixa populacional depara-se com uma distorção em
relação ao município que se encontra no limite inferior da faixa populacional
seguinte. Por exemplo, na primeira faixa populacional, já citada acima, encontram-se
os municípios que possuem entre 1 e 10.188 habitantes, e à referida faixa é atribuído
o índice 0,6. A segunda faixa popu-lacional começa com 10.189 habitantes, mas o
índice é 0,8, ou seja, poderemos ter dois municípios com a diferença mínima de
população e, no entanto, 0,2 de diferença no índice do FPM.

Por outro lado, se analisarmos o ICMS Solidário, em especial à luz do critério População,
este permite um incremento na distribuição do imposto, no sentido oposto à distorção
citada, pois se está tratando da relação percentual entre a população residente no mu-
nicípio e a população total do Estado. Nesse sentido, um município mais populoso, ao
menos em tese, demandará mais recursos para suprir custos de, por exemplo, serviços
públicos. Assim, se receber uma destinação de ICMS conforme essa demanda (refletida
pelo critério População), estaremos diante de um mecanismo de melhor distribuição dos
recursos do tributo. E o fato de um município que já recebe pelo critério População vir a
receber também pelo critério População dos 50 Municípios mais Populosos, ao menos em
tese, só reforça esse argumento. Tais critérios, somados, equivalem a 4,70%.

Cabe ressaltar que essa distorção é maior nos municípios menos populosos do Estado.

Dessa feita, o FPM traz distorção para o município que fica no limite superior da faixa. O

critério população da lei do ICMS solidário diminui isso, especialmente se combinada com

o critério “população dos 50 municípios mais populosos”, somando 4,70%.

Observamos, portanto, a importância do critério População e, em especial, da maneira

como ele é utilizado na Lei do ICMS Solidário. Podemos exemplificar positivamente

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a adoção desse critério para municípios que têm população elevada, mas baixa
ativi-dade econômica, como aqueles que têm característica de cidade-dormitório,
como o Município de Ribeirão das Neves. No entanto, tal critério não é isento de
críticas, pois pode haver um município com população elevada, mas também
atividade econômica elevada, como o Município de Betim, o que não refletiria um
caráter tão expressivo de diminuição da concentração que o VAF representa,
conforme explicitado no relatório do critério População dos 50 mais populosos.

A título ilustrativo, destacamos que há doutrina no sentido de que a finalidade


dos 25% distribuídos pelos estados conforme lei própria (art. 158, parágrafo
único, II, da Cons-tituição Federal) é evitar a guerra fiscal entre os municípios.
Nesse sentido, citamos Roque Antonio Carrazza (2011)6, que assim leciona:

Graças ao percentual previsto neste inciso II, todos os Municípios


localizados no território do Estado acabam de algum modo partilhando o
produto da arrecadação do ICMS. Não fosse assim, pequenos
Municípios, onde são realizadas poucas operações ou prestações
tributadas por meio de ICMS, ficariam à margem do progresso do Estado
e se sentiriam inclinados a encetar verdadeiras guerras fiscais dentro da
região onde se localizam, o que a Carta Magna absolutamente não
permite. (CARRAZZA, 2011, p. 678.) (Grifo nosso.)

Assim, o critério População objetiva reduzir a concentração dos recursos. De toda for-ma,
a redução é louvável, especialmente considerando-se, conforme doutrina citada, que a
norma constitucional que determinou a repartição da receita tributária do ICMS, no que se
refere à parcela sobre a qual o estado tem autonomia na determinação dos critérios de
distribuição do referido imposto aos municípios (art. 158, parágrafo único, II, da
Constituição Federal), buscou evitar a guerra fiscal entre esses.

6 CARRAZZA, Roque Antonio. ICMS. 15. ed. rev. amp. até a Emenda Constitucional 67/2011, e de acordo com a
Lei Complementar 87/1996, com suas ulteriores modificações. São Paulo: Malheiros Editores, 2011. p. 678.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Belo

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Horizonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais, 2012. Disponível em: <http://www.
almg.gov.br/consulte/legislacao/Downloads/pdfs/ConstituicaoFederal.pdf>. Acesso em: 14
ago. 2015.

CARRAZZA, Roque Antonio. ICMS. 15. ed. rev. amp. até a Emenda
Constitucional 67/2011, e de acordo com a Lei Complementar 87/1996, com
suas ulteriores modificações. São Paulo: Malheiros Editores, 2011. p. 678.

FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Centro de Estudos de Políticas


Públicas. Distribuição de ICMS aos municípios do Estado de Minas
Gerais. Belo Horizonte, 2013. (Banco de Dados.)

MINAS GERAIS. Constituição (1989). Constituição do Estado de Minas Gerais. Belo


Horizonte: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, 2012. Disponível em:
<http://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/Downloads/pdfs/ConstituicaoEstadual.
pdf >. Acesso em: 14 ago. 2015.

MINAS GERAIS. Lei nº 13.803, de 27 de dezembro de 200. Dispõe sobre a distribuição da


parcela da receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios.
Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa. html?
tipo=LEI&num=13803&comp=&ano=2000>. Acesso em 17 ago. 2015.

MINAS GERAIS. Lei nº 18.030, de 12 de janeiro de 2009. Dispõe sobre a distribuição da


parcela da receita do produto da arrecadação do ICMS pertencente aos municípios.
Disponível em: <https://www.almg.gov.br/consulte/legislacao/completa/completa. html?
tipo=LEI&num=18030&comp=&ano=2009>. Acesso em: 14 ago. 2015.

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