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PRINCIPIOS INFORMADORES DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL ANDREA BOARI CARACIOLA ANDRE PaGANt DE SOUZA 6.1, Introdugio: conceito e relevancia dos principios 6.1. Constitucionalizagto do processo ‘os ramos do diteto, sendo certo que sua relagio camo direto constitucional € marcante € intensa, a evidencis-lo como base fundamental. O processo deixa de ser estudado como mecanismo puramente formal e técnico de so: lugio de conflitos para ser influenciado por elementos histéricos, cultura sociologicos e politicos e, assim, ser compreendido como instrumento| 2 refletir 0 momento € 0 centexto historico e social Ficil constatar na atualidade a opcdo metodolégice do estudo do pro- ccesso a partir do suporte const 1m diteito processual constitucional, que wicionais do pro- cesso; “a Justiga constitucional consiste em decidir vinculativamente, num processo jurisdicional, o que € direito, tomando como pardimetro material 8 constituigio ou 0 bloco de legalidade reforeada’ © CANOTILHO, 5.ed. Coimbra: Almedina 199. . 905 54 TEORIA GERAL 00 PROCISSO CONTEMPORANEO O direito processua constitucional nao versa um ramo autonome do direito processual, mas nos remete a uma visio cientifica e a um enquadrs- mento metodoligico e sitematico pelo qual se pode analisar 0 processo em suas relagdes com a de uma colocagio cientifica ‘que abarca a tutela constitucional dos principios fundamentais da organizacio judicidria e do processo, se diferenciando assim do direito constitucional pre cessuial, que cuida das nornas de processas contidas na Carta Constituciond. ‘Trata-se, assim, de uma interligacio metodoldgica entre dois ramos do direita, processual e constituciond, para a interpretacio principiolégica do processo! © movimento de consttucionalizacio do direito mostra-se particulay- ‘mente intenso no que toca wo processo,a revelar uma inequivoca interface entre Constituigao.eprocesso, no que diz respeito a tutela constitucional do process, voltada ao controle de constitucionalidade e & preservagdo das garantias cons ‘itucionals por meio da chamada jurisdic constitucional das liberdades, A questio adstrita utela constitucional do processo, matéria atinen 4 teoria geral do process», comporta dupla conformacao, qual seja: (a) 0 direito de acesso a Justica, também denominado direito de agdo e de defese, bem como (b) 0 diteito ae processo, dreito este que abarca as garantias de devido processo legal. © horizonte que se abre & processualistica a partir da consagracio ¢ sistematizagio da tutela constitucional do processo impde-the a busca do aperfeigoamento do sister juridico a partir dos principios constitucionais, tendo em vista a consecucio do amplo acesso a Justiga e da efetividade de processo, abtendo-se a juita ¢ adequada tutela em um prazo razodvel.” No que se refere a0 ordenamento patrio, a nossa atual Constituigic Federal alberga varios dispositivos relativos ao processo, de sorte a tecer ums verdadeira tutela constitucional da acdo e da defesa &A JONIOR, Joel. Liminares nas ajdespossessbrias 2. ed So Paulo: Reviste dos Tribunais, 199, ps. «pretago consttucional a doutrinadestaca oda “mixima Fnelpio sk segundo 0 quel "a uma norma consttucional deve set lo que nso efi José Joaquim Gomes. Op.ct.p.227.1 sabenio ape (Cap + PRINCIOS INFORMADORES DO DIRETOPAROCESSUAL CML 55 isto de 1988 demarca, no ambito uridico,atransigio demo critica ea institucionalizagio dos direitos humnanos no pais, destacando se como uma das Consttuigdes mais avangadas do mundo no que toca i con- solidagto legislativa das garantis direitos fundamentais* A Carta de 1988 assumiu expressa e amplamente a tutela do proceso, de modo a estabelecer um verdadeiro programa de pi da atividade processual, principios estes que, muito embora nao cheguem a tecer uma teoria geral da tutela constitucional, vém realgando as garantias, fundamentais do processo, de sorte a nortear a atividade jurisdicional, bem como a informar as decisées judiciais dos valores constitucionais® Considerando-se que toda ConstituigSo ha de serinterpretada como uma tunidade sistémica, podemosafirmar que a nossa atual Carta elege o valor da , Aceso en 2 jan, 2002, jona Nelson Nery junior: "E cada vex maior o nimero de trabalhos e estudos juridicos envolvendo interoretagioe apicagio da Constituigio Federal. 9 gu de. iabrasileirade colocaro Direito Constiticional em seu verdadeiro «© meritério lugar: o de bas: fundamental para oditeto do Pais. © interprete deve posto 0 *Assevera Rogerio Aguiar Munhor Soares que & C vondew as novas demands soci 2000p. 25 56 | TEOMA GERALDO PROCESO CONTEMPORANEO Acerca do tema, perceptivel se nos afigura a coordenagi de tais princi pios no sentido de tornar acess administrado, justoe efetivo o sistema processual, de sorte a assegurar e revestir 0 processo de feicao humana quz Ihe deve ser inerente. 6.1.2, Sistema principiodgico eo NCPC 612 istema Nitidaa opcdo dos processualistas, notadamente a partir de NCPC, qu consagra uma parte geral destinada ds “normas fundamentais do process) pelo estudo da ciéncia processual a partir de seus principios informa lores, principios estes que foram algados a um patamar constitucional sob 1 clausula do devido proceso legal Derivado do grego systema, o significado do termo ‘sistema’ nos remet? ‘A ideia de reuniio, métode, formaa abarcar o conjunto de regras e principios sobre uma matéria, tendo elagdes entre si, de sorte a formar uma unidad? na realizagio de um fim: ‘Transportado o estudo para a modernidade, podemos afirmar qu: sistema significa aquilo que € construido, destacada a articulagao, 0 nexo das partes para com o tods, sendo a sua estrutura o que Ihe confere coesia. Duias sio as suas principais caracteristicas: a ordenagio e a unidade, elementos estes destacados por Claus-Wilhelm Canaris? em sua obra so bre 6 tema. O sistema impoe seja ordenado e unido de sorte a existir uma inter-relagao dinamica e harmoniosa entre as partes que o compdem part © fim pretendido, Conclui-se, desta forma, que por sistema podemos captar a ideia de ‘um conjunto de objetos e reus atributos, nas relagbes entre eles estabelecida conforme certas regras, se1do certo que a interagao entre tais elementos Ihe indispensavel para a sua harmonia, juriico: edi universtiia, 2. ed. Rio de lanceo Forense, 1997. p.) Cep6 » PRINCIPIOS NFORKEADORES 0001 ropRoce com | 57 Releva notar que, ndoobstante ero termo "sistem" empregado nas mais diversas ciéneias do conhecimento, comum a todas elas a ideia de unidade harmoniossa partir da elacio e interagdo entreoselementos que o compaem, Importanteconsignar neste contexto queo sistema ou subsistema normati vyonaocompreende apenas eto somente as normas elaboradas pelo legislador, :mas também regras e principios, superada, assim, a perspectiva positivist, 1Nessa medida destacamosa Teoria dos Direitos Fundamentais, publicada ‘em 1985, por Robert Alexy.* em que 0 autor rompe com a teoria tradicional positivista na qual, em nao havendo para o caso concteto apresentado uma resposta a ser retirada do préprio sistema normativo, ao arbttio ou dscri- cionariedade do magistraco caberia a solugio do conflito, desprezada que era. possibilidade de aplicagio dos principios de dreito A teoria concebida por Alexy precursiona a escola pés-positivsta e inaugura uma nova forma de pensar a ciencia do diteto: diante de um caso dificil (hard case), ndo ha como autorizar a0 magistrado decidir atbi mente, devendo, pois, se valer das regras e das principios de diteito, uma vez aque estes também compiem o sistema juris 6.1.22. Principios Extremamente dificil delimitar conceitualmente o termo “principio’, caracterizando-se, assim, como uma expressio indeterminada, fato que, somado A flagrante polissemia que envolve a termo, nos remete a uma rea. lidade tormentosa Derivado do latim principizon,o terme est relacionado a linguagem da ‘geometria, na qual designa as verdades primeiras e nos conduz a nogao de pponto de partida, fundamento ou causa de um proceso qualquer. Também pode ser entendido como elemento consttutivo das coisas ou dos conheci- ‘mentos, ainda, ponto de partida do ser, do devir ou do conhecer. Nio indica coisa, mas a sua razao de ser. les. Madi: Cer Palticos y Constitucionaes, 2001 Expoe Técio Sampaio Ferra hnioy:"Oconceitode ordenamentox oper vortante para a dogmatic; nele se incluen el bu dogmatica pensa logo.em to 2 sua estruturarevela regra de vrio o: Als, 1994. p. 176 58 TEOMIAGERAL DOPROCISSO CONTEMPORANEO Espécies de normasa conferirem coeréncia ao sis juridicos ocupam posigia de destagque no ordenamento, na medida em que ‘eiculam um enunciado logico, genérico e fundamental, dotado de referencia direta de valor, atuando como diretivas de interpretagio e de integracio do direito.” ma, os principles Exercem, pois, uma fungio dinamizadora e transformadora, dotades de forgaexpansiva e constutiva,contribuindo, sobremaneira, quer na inter, Pretacio evolutiva do orcenamento, na medida em que sugerem a adoci de novas formulagées ou normas que com eles tenha imbricacao, quer nt aplicacao do ionam a atuagio do Poder judicidrio de sorte 1 mpor as decisOes judiciais sua observancia,* Vale aqui transcrever a ligio de Candido Range! Dinamarco: “Ne "hum principio constitui um objetivo em si mesmo e todos eles, em seu onjunto, deve valer ccmo meios de melhor proporcionar um sistem processual justo, capaz de efetivar a promessa consttucional de acess0 { Justia (entendida esta como obtencio de solusdes justas ~acesso A orden jiurfdicajusta)") 6.1.3. Principios eo diveto processual civil O direito processual esti subordinado a certos principios setoriais que the sio proprios e que atuam de forma a direcionar a elaboracio, a interpre tagio e a aplicagao das normas que Ihe sio afetas. Duas as classes de principios que se abrem para andlise: @) 08 principios informativos, universais que sio, que se traduzem em verdadeiros postulados, sem qualquer contedido ideoligico e adstritos 2 critérios estritamente légicos e técnicos, objetivando melhor apa- relhar 0 Poder juctcidtio e conferir maior efetividade ao processo. Alguns desses priacipios atuam no plano do dever-ser, enquanto ‘outros atuam diretimente sobre a realidade."* Sao eles 0s principios nal: Constiuigio- in bra: Coimbra, 1996p. 226-227. rescual civil 2. ed, Sto (CaP6 + PRYCIPIOS INFORMADORES DO OREO PROKESSUALCMR 59 indo-se nesta classe, trumentalidade e l6gico,juridico, politico e econdmico" (incl ‘pa doutrina de Rui Portanova, 0s principios da da etetividade) e, de outro lado, ) os principios fundamentais ou gerais, de natureza poitco-constitu- ional eque tecem 3m verdadeiro modelo constitucional de processo, uma ver que o sistema juridico acerca deles pode fazer opio, Com 6 primeiros (informativos) se completam e traduzem uma opgio do sistema a luz de aspectos politicos e ideoldgicos que permeiam 2 realidlade, sendo analisados sob a égide do direito constitucional tendo em vista a universalizacio cla tutelajurisdicional Requer-se uma abordagem interativa entre os principios acima men cionados, afastando-se, pois, uma interpretagao estanque e que os considere isoladamente, Mais uma vez a douttina nio & undnime na dogmatizagio principio: Jégica relativa a0 processo e, em consequéncia, nao ha como se cogitar uma estratificago unitaria acerca do tema. Sob a cléusula do devido processo legal, principio fundamental do processo civil, repousam todos 0s outros principios adotados pela sistema e que envolvem tudo isso tdo somente isso: “o direito a um processo ea uma sentenca justa’ No que toca a0 processo, os principios estabelecem a forma como se desenvolve o procedimento judicial, veiculando comandos que norteiam a atuacio em juizo, Representam garantias processuais, ou sea, direitos fun damentais que devem estar presentes para que se possa assegurar o devido rocesso na salvagtarda dos direitos fundamentais, Nelson. Prncpios do processo ‘So Paulo: Revista dos Tribunals, 2000p. 28, ‘ORTANOVA, Rui. Principios do proceso civil. 4. ed. Porto Alege: Livratia do Advogado, 2001, p. 48.58 ria Consttigao Federal 6. ed wes: José Cretella Neto € Rui Portanova, ao dogmatizarem 0 do ja a0 pedido da parte? CRETELLA NETO, lost 4.¢d, Porto Alegre: Livraria 160 TEORIA GERAL DO PROCESSO CONTEMPORANEO Importante aqui sublinhar que a percepeio do uso cada vex mais re corrente de principios cono fundamento da aplicacie do direito foi um des pilares da elaboragio do NCPC.” © NCPC é constttido por um sistema principiol6gico de normas, tanto que a Parte Geral do novo diploma processual enfatiza a importincia dio modelo constitucionaldo processo ao reproduzir uma série de principics consttucionais do process, destacando ainda @ art. 1° do NCPC que: “0 serd ordenado,disciplinado einterpretado conformeos valor ios fundamertais estabelecidos na Constituigio da Repiblica Federativa do Brasil, observando-se as disposigbes deste Cédigo’ Nio obstante a importancia da tematica ea necessidade de delineamento acesso & Justica mantém imbricagées com outros, dentre os quais sul 'mos os principios da efeividade do processo, da tempestividade da tutes jurisdicional, da adequasio dos meios & natureza do conflito, como de rest> também da gratuidade da Justia. Essas as relagées que nos propomos 3 investigar, notadamente fice previsio contida no art. 3° do NCPC: "Art. > Nao se excluird da aprecicgao jurisdicional ameaga ou lesio a diteto, § Ie 2 Permitidaaarbitragem, ne forma dalei. § 2° O Estado promovera, sempre qu Possivel a solu¢io consensual dos confitos. § 3°A conciliagdo,a mediagao ‘conflitos deverao ser estimulados advogados, defensores publicose membros do Ministério Publice inclusive no curso do processo judicial Inserido no contexte pertinente ao acesso a Justica, o tema da efetivi dade constitui preocupasio de toda e qualquer discussao que se desenvolva relativa a ciéncia processual, questao esta de relevancia internacional ¢ gue repercute nos mais diversos instrumentos de protegao aos dircitos ¢ Iiberdades individuais, Important salientar que, 10 Brasil. a Constituigio Federal de 1988 assegura em set a5 inciso XXXV.odirdto de acess fustiga,"A le ni exe Poder Judictrio lesio ou ameaca a direita,gaantia esta introduzida pelo inciso L3XV1 judi assegurados a razoavel diragdo do processoe os mets que garat garantie pele princi a realidade de dircito mater le do processo Revista dos Tribunais, ano83, ‘Cap6 » PRINCIPOSINFORMADORES DO DREITO PROCESSLALCNL 63 Dolatim effcere,efetivar significa executar, cumpris, satsfazer, de sorte a apontar para aquilo que est& sendo cumprido ou executade, de modo a produzir, em regra, os resultados desejados.* Consoante José Carlos Bat- bosa Moreira, o termo “efetividade” esta adstrito a “aptidao de um meio instrumento para realizar os fins ou produair os efeitos a que se ordena A concreta atuacio da garantia constitucional da ago exige, pois, a predisposigdo de uma adecuada gama de meios de atuagao ede realicagio da tutela, meias estes que devem estar acessveisa quem quer que delesnecessite, rnum tempo e custo razodves, por meio de atividades que veaham a garantir resultados concretos, adequados e diferenciados a cada situagio juridica de direito material controvertida, Sendo a missio do processo a solugio dos conflites e a pacificagio com Justica, éimprescindivel que ele esteja aparelhado de meios capazes a0 atingimento deste objetivo, de sorte que @ eftividade do processo depende, principalmente, da predisposigdo de meios adequados & solucio dos mais variados problemas surgidos no plano material. Assim, é preciso assegurar a0 satisfative™ {oder se-lacogitar, ntm primeiro momento, em que medida as exces des 3 inafastabilidade da jurisdicao previstas nos pardgrafos do art. 3° do NCPC Wiolam 0 acesso a Justca, que & consttucionalmente assegurado, Yo se hi olvidar que estamos inseridos em uma sociedade cada vez mais Givers ¢ conifituosa, na qui aadversidade surge como algo cotdiano ¢ que interfere na arte de viver ¢ conviver. Em contrapartida, é notoria a tual cose réu, © que se afigura indispensivel a Consiga avaliar o que de por possa acontecer face aa acolhime! £ Para que Passa se Orientar e decidir acerca da sua atuacio em juizo, o que i até mesmo, a decisio de nao se delender. Como expressio dislética do processo, 0 contraditrio revela, a par do bindmoinformagio-Fossilidade de eas, oduloyo onseeruenn Processusis,atraduzir o deverimposto a0 juiz de informar a parte sobre tude @ ae ocorte no processoddaquilo que é de seu conhecimento a respeito causa e de todas as atividades da parte contriria, de maneira a ser efetivads oportunidade para manifestacao, © contraditério tambym se manifesta adstrto&ideia de colaborago esta belecda no processo entre spares eo juz, Por esse prima de andlise emerge a necessidade de sere satieitasexigincias de solidariedadee socalidade pelo Drocesso, de sorte a atuar omagistrado na busca da igualdade substancial das partes quando estas no postuirem a mesma disponibilidade de meios de defesa © contraditério garante uma “triplice ordem de situagses subjetivas rocessuais' situagdes estis que compreendem: (a) o direito de receber Informacdes adequadas ¢ tempestivas sobre as atividades realizadas, as in, ara movimentar a maquina judicidria, esgotando 2 ed, Sio Paul Caps + PmNCIPIOS INFORMADORES BOREOPROCESSUKL WL 75 contetido a sua manifestagio. Nao se ha cle confundie a provocasao, 0 ato de incoagao, com o conteiido da provocacao, a primeira relacionada 20 wo da demanda, enquanto esta tima afeta a uma das manifestagoes io dispositive. A questio atinenteao poder de dl se sentido, deve estar adstrito aos limites do pedido ~ dai exsurgindo o principio da congruéncia ~ultrapassao contetido do principio da demanda para versar a disponibilidade conferida & parte no process. ‘Assim, no que concerne ao principio da demanda, destacamosa manifes. tagdo relative a inicitiva na inauguragio do processo, nica a vontade da parte interessada ~ 0 que revela atuaro principio dispositivo na ddemanda -, vedada, em regra,a atuagdo de oficio do juz Observa-se, por taisrazbes, no que toca i questio dai cess0, a contraposigao estabelecda para com o principio ing pois, ao mesmo érgio de julga,instauraro processo. ado pro. vo, vedado, cm regra, a iniciativa da parte para a movimentagéo Wwidacle jurisdicfonal, dat afirmar-se que “um processo no se entende como instaurado se nao houver uma demanda ropasta pela parte" Ji 0 principio dispostivo, conhecido que éem todos os paises civilzados, ‘ensea, face daustncia de uniformidade interpretativa de que se eveste, uma investigagao explorativa acerca de seu significado, Dotado de varia facetase ‘manifestacGes, impde-sea rellexao 0 seu verdadeito conteiido eabrangéncia, imeira dficuldade no estudo da questio reside na delimitacio do exato significado da expressio principio dispositive, teimo equivoco © que Pela doutrina éuilzado para designarsituagbes diversas, sem que possanios extrair uma uniformidade interpretative: “poucas expressdes to equivocas em ciéncia juridiea como esta principio dispositivo, Ela éusada em diver simos contextos, ora para aludiriniciativa da instauracio do process |.j, ‘ora para aludir a delimitaczo do objeto do processo e, portanto, do objeto do julgamento [.). Mas também se fala em principio dispositive acerca, por exemplo, da iniciativa na produgio de provas. Etambém se fala em principio dlispositivo no tocante i possibilidade de praticar atos de disposigo do di sioso do feito, por exemplo, transacio, rentincia, reconhecimento, ete, como reflexo, acrescenta-se, da chamada autonomia da vontade’ 76 TEORIA.GERAL DO PaOCESSO CONTEMPORANED Vole aqui registrarque o principio sendo depurac torica podemos encontar suas raizes no direi "0,20 longo de tempo, ven sndo que em perspectiva hs- romano, adstrito & ideia de queas partestém bos em juz (ou nao.” Diane dessas consderases, controvert tasio do exato contetido do ositivo, Em que pesem as divergénci arvoramo-nos na tentatira de delimitar o seu contetido. Cumpre-nos evi Acessa tu Peetanova:"A p 1a liberdade das partes d Feaquerimenta da parte, OC, ‘cap + PANCPOSINFOMAADORES BODIREITO FRacessuAL CW 77 judicial, poderes estes que, no entanto, encontram posta em juizo"" Resta-nosainda analisaro principio da correlagio ou adsirigd, que refletecorrespondéncta exata entre o pedi e a sentenga, de forma a revela:Jimites& atuagio judicial, vedado ao magistrado proferir solusao distinta ou inadstrita ao pedido. Na prelecao de José Carlos Barbosa Moreira" “O juiz ceve julgar todo 0 pedido es6 0 pedido,e nao deve dizer absolutamente nada sobre 0 que nio e ido nesse inculo”, ‘A doutrina italiana fala em principio della correlazione tra azfonee se- fenza, ou sea, principio da correlagio entre acdo-esentenga, para se relerir a congruéncia da tuela principio este que se resolve e radu duss obcigayoes 30 juiz:a primeira, de pronanciar-se sobre toda a demands e,a segunda, de ronunciar-se, apenas ¢ taos6, sobre ela"* Ressaltamos que a atvasio jurisdicional esata, em regra, s6 poder ser exercitada se provocadé e na exata medida e limites dessa provocagao, Neste contexto exsurge o principio da congruencia da sentenca ao pedido, como limite a ingeréncia do Estado na drbita privada das partes, de modo 4 preservi-las e garanti-las contra excessos discricionavios ¢ arbitvariedacles Perpetradas na sentence, Enguanto pretensio projetada para o processo, o pedo surge na selacio Processual, em observinciaainércia da jurisdigdo ea imparcialidade do juz, indispensivel, ademais, a0 exercicio do contraditario, como condigao el Aatividade jurisdcional num Estado de direito,Oautor,ao deduriro pedido, indica 0s fundamentos de fato ede direito que Ihe conferem substrato, ede outro lado, o réu, a0 oferecer a sta defesa, de forma idéntiea e simetrica, pont as causas que justificam a improcedéncia desse pedido. Conformade © pedido pela defesa, ao juz se impoea limitagao ao deduzido em juizo™ itagdo na pretensio sgruéncia, também denominado er. 2001, 121 78 TEORIAGERAL DO PROC:SSO CONTEMPORANED Aose debrucar sobreo objeto do processo,a0 magistrado impoe-seanalisr todos 0s elementos objetivos da demanda. Deve ater-se ao pedido, iluminado rela causa de pedir, como também, a defesan festada pelo eu, ndo senco permitido ao magistrado se afastar dos termos en 1 foi desenhada pelo autor e redesenhada, pela participagio do réu, aa relagdo processual.” E, seapés a propositura da ago algum fato constitutivo, ‘modificativo ou extintivedo direito do autor influir na decisio da lide, cabe a0 magistrado dele conhecer, ex officio ou a requerimento, e exami momento de proferira dedsio final. Desta forma, aatuacio d «star circunscrita as limes da pedo, observado. thema dec pelas partes, o que se nos afgura decorrente, principalmente,d principio dispositivo, coms também, do contraditério.e daampla defesa. Assin, “se exige que a sentenca se refira as alegagbes das partes: éa unica forma de «¢ ter certeza de que o princpio do contraditério foi tespeitado’* lo dedurido em juizo, pedido este que norteador dor daatividade judicial. Outrossim, signifi a individualizacao ¢ idemificagao do pedido se mostram insuficientes para aferir a congruéncia da tutela, situacdo esta que nos remete & inportancia ¢a dinamica da relacao processual como elemento a ser considerado na prolacio da sentenga.” Em que pesea tendéncia manifestada nas ttimas reformas processuas «de modo a apontar para s concessio de maiores poderes 4 magistratura nos afigura imperioso, en observancia tutelaconstitucional do process 'bem como & autonomia da vontade assegurada pelo principio dispositive, explicitar que, a nosso vay, a0 Estado se impde subse parte exteriorizada na ddlimitagio do pedido, sob pena de, a0 alargarmes ‘0 espectro da atuacio juisdicional, legitimarmos a concessao de tutela ex ‘officio, rellexo de atuagao eingerénciaestaal sema respectiva e imprescindivel Provocagio,o que nos afigiraatentatorio a feigio democritica da jurisdigio." ‘Cap + PRIECIPIOS INFORMADORES DO DIEITO PROCESSUAL CML 79 Nao raro a doutrina se val dda congruéncia, das espécies de oquesi dogmatica processual enfatiza o tema da incongruéne! a congruéncis, por exclusio, Vale dizer, sera congruen estiver elvada dos vicios de incongru ou citra petita, Nesse sentido o art. 141 do NCPC: “O juiz decidira 0 mérito 1nos limites propostos pelas partes, sendo-Ihe vedado conhecer de questoes nnio suscitadas a cujo respelto a lei exige iniciativa da parte’ que deve ser con- jugado com o art, 492 do mesmo Codigo: “E vedado ao juiz proferir deci de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado” to do principio fica dizer que a deforma. exsurgit 6.6. Duracao razoavel do process” Naatualidadeimpée-se a agilizacao ea dinamizagio dos meios de entre _g8,da prestacio jurisdicional, como também a ntroducio de mecanismos que assegurem uma tutela justac adequada a composicao do conflito submetido apreciaeao do Poder Judiciario, Sio exigidos novos caminhos a m queassola o Poder Judiciario, objetivando conferir maior tonus de efetividade a0 processo e a tutela jurisdicional: este © censrio face ao qual se pretende discutir ¢ problematizar o tempo de duragao do processo, Nao obstante a jurisprudéncia do Tribunal Europeu de Direitos Huma- nos identifique critérios objetivos para a aferigio do que seja prazo razoavel, ‘ais como @ complexidade da causa, © comportamento dos comportamento das autoridades, importante sublinhar que o prazo razoavel, conceito indefinido que é, ha de ser afe mizagio da atual crise de Justiga Nao obstante a auséncia de consenso acerca do marco inicial de tal preocupagao, reputa-se a Convengaio Europeia para a Protecio dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundament lagdes indevidas. Hoje, podemos identificar que a garantia do pro. ‘cesso em um prazo razosivel sncontra-se positivada em alguns dos principais documentos assecuratorios de direitos fundamentais, Assim Pacto Internacional de Diteitos Civis ¢ Politicos de 1966 (PIDCP), em seu art. 9° S 29.49 80 TEORIAGEnAL DO PRCESSO.CONTEMPORANEO 3° preleciona: “Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de intra so penal devera ser conduzida, sem demore, i presenca do juiz ou de outta autoridade habiltada por lea exercer fungoes judiciais tera o dieitadeset julgada em prazo razosvel ou de ser posta em liberdade. A prisio prevent va, de pessoas que aguardan julgamento nio deveré constituiraregya geral mas a soltura poders estar condicionada a garantias que assegurem o compare cimento da pessoa em cuestao a audiénciae a todos os atos do processo, se necessirio for, para a execusio da sentenca’ No mesmo sentido a Convengio Americana de Direitos Humanos, assinada em 1969 em Sto José da Costa Rica, segurido previsio contida cm seuatt, 8 I “Toda pessoa tem direitoa ser ouvida, com as devidas garantas e dentro de um prazo razodvel, por um juiz ou -ompetente, ince- pendente ¢ imparcial, stabelecido anteriormente por lei, na apuracio te ualquer acusagao penal formulads contra ela, ou para que se determinan seus direitos ou obvigacées de natureza civil, trabathista fiscal ou de qualquer outra natureza’ A preocupagio con o tempo de demara do processo constituin pre cupacio também da Orginizagio das Nagdes Unidas, por meio do Grupo de Integridade Judicial, responsivel pela elaboragéo do documento intitalado “Principios de Conduta Judicial de Bangalore”, aprovados no ano de 2001 {em Haia, ¢ que consiste om um projeto de c6digo judicial a ser aplicado en Ambito mundial, basead> em textos integrantes dos sistemas de protegio nacionais, regionais ¢ internacionais, dentre os quais podemos destacar a Declarasao Universal dos Direitos do Homem, da propria ONU: “6.5, Un juiz deve executar todos os seus deveres, incluindo a entrega de decisées reservadas, eficientemenve, de modo justo e com razoavel pontualidade O direito de acessara ordem juridica usta cxige uma prestacao quali «ada que, dentre outros aributos, hé de ser concedida em um prazo razosvd Este 0 tor do art, $°, neo LXXVIIL, da Constituicio Federal de 1988, par ‘meio da Emenda Constitacional 45 de 20042" “a todos, no ambito judiciale * KAYATH, Hind Ghassan. O prazo razodvel no proceso civil. 2008, Dissertagan (Mestrado em Direito) ~ Faculdade de Di ia Universidade Catalin 0 Paulo. p. 26-27, te {UNODC), Comer. Tradusio de Marlon S. Mai Federal, 2008, 7, ‘Cops + PRIICIIOS WFORVEADORES DO DICITOPROCESSUALCIM, 81 adm r, so assegurados @ razodvel duracao do processo e os meios ‘que garantam a celeridade de sua tramitagao"” ‘O dispositive consttucional em comentoexpl reito fundamental um proceso com duragao razoavel, nos ambitos judicial e administe bem como 0s meios que gatantam esta sua qualidade, de sorte a integrar o rol dos di nenials previstos em nossa Carta Constitucional. Considerando a inegivel morosidade na tramitagao dos processos no Brasil olegislador constitucional positivousduragdo rezoivel do processo, mas sem definir qual seria 0 tempo de tramitagio para que se verificasse o - gurar os ideais que devem permear um Estado democritico de direito” Mais especificamente, campre ressaltar também a importincia conferiéa 8 Justis, prestigiada como um dos valores supremos da nagdo,” fato ese TARTUCE, Plivio, Boa ot 0 do nove edi = Reflexdes quanto ao atwal CPCe mi chip. Maviowartuce josbr ra processual-refl -e-a0-projeodo-newo-codigo>. Acesn Cap + PrivciPos isFORMACORES 00 RETO PROCESSUALEML 83 que, infraconstitucionalmente,repercute na superacio da visio puramente técnica e formal do processo, Exige-se oafastamentocbanimento dascondutas que impliquem abuso do procesio,impondo- seem respostaaatuacio prontaeefetivedoFstado-juiznoset «combate, de modo a valorizar 0 comportamento ético dos sueito processuaise eliminar méculas morais que possam comprometerafuncio social do processo. Conforme salientado por Humberto Theodore funior:” A proc nagdo maliciosa, a infidelidade a verdade, o dolo, a fraud, e toda e qualquer _manifestagio de mé-f8 ou temeridade, praticados em juizo, conspurcam 0 objetivo do processo moderno no seu compromisso institucional de buscar dos coctertes com os valores de “equidade substancial ede justiva procedimental, consagrados pelas normas constitucionais” Embora o abuso do processo possa se apresentar pelas mais diversas formas, capituladas na litgincia de m-fé,nafraude processual,no manifesto propésito protelatori, dertre outras ~ sem que se faga mengao expressa, contudo,ao termo “abuso, faz-se mister salientar que todas esas formas tratam de um mesmo fendreno,unitirio que é,o qual reine em sicondutas Praticadas com o desvio da finalidade do process. Este € 0 elemento imprescindivel & caracterizagéo do abuso do pro. ‘cesso, mas que se conjuga a outros, tais como a falta de seriedade do ato, a oben-estar o desenvolvimento, a igualdade eajustigacomo, jos de uma scciedade fratern lugio pacfica das controve sia, promulgamos, sob a protegdo de Deas a seine CONSTITUICAO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL” % THEODOROJUNIOR, Humbert, Boa-té principios cosa repressto: demiste- pape ‘84 TEOMIA GERAL 00 PROESSO CONTEMPORANEO tude ea ilegitimidade do fim desejado peto a administragao da Justign =" Vale destac Jade do dano advindo do abuso. sj ele de cardter patrinonial ou mora, a atingir quera dignidade dos pir ticipantes do processo, quer a autoridade do proprio Estado" En que pese a importancia da prevengdo ao abuso do processo a patt da veiculagio de deveresde lealdade e boa-fe, destacam-se, por outro ladowas ‘medidas de natureza punitiva - dotadas também de carter preventivo ~ que culmsinam na imposigie de malta, Nestecontexto, importa consignaro reptidio ulilizagao do processo:le modo a desvis-lo de sua inalidade constitucional eontologica, que o revelam como instrumento de picificagao social Sem prejuizo das discussOes estabelecidas em sede doutrindtia a respeito do beneficidti» das multas pracessuais aplicadas pelo juiz, 4e oficio ou a requerimento, em decorréneia da caracterizagao do abuso do Drocesso, impde:se, emregra, que o valor da mila seja revertido & parte Prejudicada, em que peseseja,inevitavelmente, o Estado sempre o maior fo. Assim, ao aplicar as sangSes impostas is condutas que venhar a revelaro desvio da final dade ontolégica do processo, estaré o magistrado a cle conferindo efetividade! Aboa-fé objtiva ésobrelevada pelo NCPC que, em diversosdispositivos Jegais, a ela faz mengao, Nesse sentido, exemy smente, destacamos: (9) bem como por il ABDO, Helena Najer. 6 pis, No que toca a prescindiniidade (ou nio) de se perquirir presenga do elemeno subjetivo~ dolo ou culpa- para caracterizagéo do abuso do processo,asceve {que questo suscitadivrgéncia doutrndria, Em que peseo Posicto mats coerente a seralotada reativamente aoabuso do pracessa sea izacom a previo veiculada no an, 187 da Cdigo Ci ico, segundo o qual nig € necessiia a cor caracterizagao do abuso, Humberto Theodore 1so do process. Sao Paulo: Revista dos Tribunals, 2007 io direto de recoreer. In: NE} ty), Aspectos pol Lv, puta? =, por oa culpa, Drocesso €0 tempo justo do process, Cop + PRIVCIPIOS NFORMADORES DO RETO PROCESSUAL CK 85 m de outros previstos neste Codigo, io deveres das partes, de seus procuradores ¢ de tocos aqueles que de qualquer forma p: processo: I ~ expor os fatos em juizo conforme a verdade; pretensio ou de apresentar defesa quando cientes de que sio destituidas de fundamento; I ~ nao produzir provas e nao praticaratos imiteis ou desne cessirios & declaracio ou a delesa do direto; IV ~ decisdes jursdicionais, de natureza proviséria ou final, eno eriar embaracos A sua efetivacao; V ~ dectiner, no primeito momento que lhes couber falar nos autos, 0 endereco residencie ou profisional onde receberi intimacdes, atta. lizando essa informagao sempre que ocorrer qualquer modificagao temporaria, ou definitiva; VI ~ nao praticar inovagio ilegal no estado de fato de bem ou direto litigioso”; (b) art. 322, § 2° ~ “A interpretagio do pedido considerard © conjunto da postulacio e observaré o principio da boa-f; (c) art, 489 § 3° ~ "A deciséo judicial deve ser interpretada a partic da conjugacao de todas os s elementos ¢ em conformidade com o principio da boa-fe’s (d) Art. 774 “Considera-se atentatérie & dignidade da justia a conduta comissiva ou ‘omissiva do executado que: ~ frauda a execusio; Il se opde maliciosamente a execugio, empregando arcis e meios artficiosos: Il -dificulta ou arealizacdo da penhora; IV -resisteinjus intimado, nao indica a0 juizquaiss20 e onde estio os bens sujcitos a penhora 0s respectivos valores, ner» exibe prova de sua propriedade e, se for 0 caso, certido negativa de onus” 6.8. Cooperasio O art. 6° do NCPC consagra expressamente o principio da cooperasio 20 estabelecer que “todos os sujeitos do processo devem cooperar entte si pata que se obtenha, em tempo razoivel, decisio de mérito justae efetiva’ © que se busca instituir com inegével inspiracio nos principios constitu cionais do devido processo legal, do contraditério eda ampla defesa (Cart. 5%, ncisos LIV e LV), éum "modelo de pracesso cooperative® “vocacionado A prestagdo da eetiva tel 08 sujeitos processuais, do i, Sérgio Cruz Arenart para qce o processo se desenvolva regularmente é ne- idade de no minimo trés pessoas ~ um autor que pede, um Revista dos » Paulo, Saraiva, 2015, p45,

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