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1. Introdução
A experiência da sexualidade é um dos tópicos mais importantes e
problemáticos da adolescência (Nero, 1999). Como bem destacam O‘Sullivan,
McCrudden & Tolman (2006), a sexualidade é reconhecida como um
comportamento de saúde psicológica que influencia pensamentos, sentimentos,
ações, relações interpessoais; o sentir-se saudável física e psicologicamente.
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Contato: Av. Pedroso de Morais, 144, apto. 302, Pinheiros 05420-000 – São Paulo, SP- Brasil.
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2. Método
Participantes
Foram participantes da pesquisa, 22 adolescentes, pacientes de Postos
de Saúde, gestantes do primeiro filho com a idade média de 16,5 anos. Sobre
seus pais, obtiveram-se as seguintes informações: mães, idade média de 40
anos e pais, idade média de 44 anos. Em termos de distribuição etária das
adolescentes, encontrou-se o seguinte: 63,6% de 16 anos; 22,7% de 15 anos e
13,6% de 14 anos.
Material
Para a coleta de dados, foi elaborado um questionário composto de
perguntas abertas e fechadas, incluindo a caracterização das participantes e de
seus familiares e, principalmente, perguntas sobre gravidez, consultas ao
ginecologista, orientação de profissionais sobre sexo e gravidez; o
desenvolvimento da própria gestação; a primeira relação sexual; o que
aprenderam sobre anticoncepcionais e o seu uso, como ficaram sabendo de
sua gravidez e os sentimentos decorrentes.
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3. Resultados e Discussão
Os dados coletados, assim como suas análises e discussões, estão aqui
apresentados em tabelas e cálculos de maneira a atender aos objetivos deste
estudo. A margem de erro foi estabelecida em pd” 0,05, utilizada em Psicologia,
em função do nível de mensuração do instrumento estatístico usado.
Nos dados da pesquisa de Maia (2004), a média de idade das adolescentes
foi de 15,9 anos e na pesquisa atual observa-se que elas eram um pouco mais
velhas (idade média de 16,5 anos). Em relação à escolaridade, obtiveram-se os
seguintes resultados: 63,6% das adolescentes freqüentam ou terminaram o
ensino médio e 36,3% freqüentaram ou freqüentam o ensino fundamental. Nos
dados da pesquisa de Magalhães (2004), constatou-se que, quanto à
escolaridade, 15,36% das adolescentes eram analfabetas ou com o ensino
fundamental incompleto, o mesmo não ocorrendo na atual pesquisa, sendo o
número das adolescentes no ensino fundamental igual a 36,3% e não havendo
analfabetas. Vale dizer que, no presente estudo, as participantes eram um pouco
mais velhas e apresentavam melhor nível de escolaridade, portanto com maior
probabilidade de acesso à informação.
Na pesquisa de Provenzi (2003), constatou-se que, ao ficar grávida, a
adolescente abandona de vez a escola, o que não foi uma constante na presente
pesquisa, pois somente seis das 22 participantes deixaram os estudos. A
valorização pela escolaridade manifestou-se pela permanência na escola durante
a gravidez e após o nascimento do bebê. Como na contribuição de Provenzi,
Vianna (2000) constatou resultado contrário: as adolescentes possuíam
escolaridade baixa e 40% abandonou a escola. Ao passo que as do presente
estudo estavam em um contexto educacional melhor, inclusive no que concerne
a manter-se na vida acadêmica.
Em relação à freqüência ao ginecologista antes da gravidez, 63,6% das
adolescentes afirmaram ter ido a esse especialista e 36,3% disseram não tê-lo
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sexual porque o próprio corpo vai saber identificar a hora certa; afastar-se do
companheiro no momento da excitação como única prática de prevenção;
acreditar na fidelidade do namorado, deixando de usar a camisinha como método
de prevenção; usá-la com uma garota mais nova porque é menos experiente,
com garota pobre porque vai menos ao médico, com garota madura depende
do momento, só no primeiro momento, depois passa a confiar; ou se a garota já
usa pílula, não precisa.
Segundo os dados da pesquisa de Zenevicz (2003), o preservativo, quando
oferecido pela parceira, era aceito por 94% dos adolescentes, a camisinha
feminina era conhecida por 75% das adolescentes pesquisadas, mas somente
3% já a utilizaram em suas relações. O autor apontou para alta prevalência de
história de gravidez na adolescência; 9% das moças já engravidaram, 3% dos
rapazes relataram ter engravidado alguém e 57% dos pesquisados assumiram
o filho.
Todas as pesquisas aqui citadas, inclusive a atual, mostraram que a maior
parte das adolescentes conhecem métodos contraceptivos, como a camisinha,
que proporcionam sexo mais seguro, mas observa-se uma incoerência entre a
intenção e a prática.
Quanto à atual pesquisa, em relação à consulta ao ginecologista, 72,4%
das adolescentes afirmaram ter ido a este epecialista depois da gravidez, o que
se justifica pelo fato dessas adolescentes estarem fazendo acompanhamento
nos Postos de Saúde, porém mesmo com esse apoio, 27,2% afirmaram não ter
consultado o ginecologista depois da gravidez. É possível que apenas tenham
feito cadastro, triagem e atendimento na enfermagem. O teste do ÷² resultou em
4,54, sendo superior ao valor crítico (3,84). Pode-se afirmar, portanto, que foi
significante o número das atendidas pelo referido profissional. Todavia pode ter
influído aqui o local onde foram selecionadas as participantes. Seria relevante
conduzir pesquisas para verificar se tal atendimento traz para a gestante outros
benefícios psicológicos e educacionais, além da assistência médica.
Segundo a pesquisa de Figueredo (2003), realizada com adolescentes
entre 15 e 19 anos, sobre a freqüência ao pré-natal, encontraram-se proporções
consideradas baixas entre as parturientes; (39,45% a 44,80%), isto é, bem inferior
ao aqui obtido.
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4. Conclusões e Sugestões
Não se pode ignorar que a experiência de engravidar, ser mãe e criar filhos
é única. A pesquisa aqui relatada, embora realizada com suporte estatístico,
incluiu em número reduzido de adolescentes gestantes, o que pede cautela na
generalização dos resultados. Muitos estudos precisam ser realizados para
aprofundar a questão e replicar aspectos aqui investigados.
O não uso de métodos contraceptivos nem sempre significou que as
adolescentes não tiveram conhecimento de sua existência, conhecê-los e ter
habilidades no seu uso revelaram ser duas coisas distintas. Na maioria das
vezes, as participantes revelaram pensamento mágico de que a gravidez não
acontece com ela, que transar sem camisinha é prova de amor, de confiança no
parceiro, o uso de pílulas implicaria no conhecimento dos pais sobre sua vida
sexual ativa. Estes por sua vez ignoraram a existência da sexualidade da filha,
por não se considerarem aptos a transmitir conhecimentos que possam ser
úteis aos filhos a respeito da sua sexualidade. Pode-se afirmar que há tabus
envolvendo esse assunto, porém com o acontecimento da gravidez na
adolescência, principalmente a mãe mostrou-se compreensiva e dedicada à
nova condição da filha, futura mãe. Os dados obtidos aqui e na literatura indicaram
contradições, o que sugere novas pesquisas.
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Referências
• Almeida, M.I.G.(2002). Representações da família sobre gravidez na
adolescência. Mestrado, Universidade Federal de Minas Gerais: Belo
horizonte.
• Andrade, E.A.(1997). Adolescentes apaixonados e apaixonantes: sugestões
para uma melhor qualidade de vida sexual através da educação. Mestrado,
Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro.
• Andrade, J., Alves; J.L; Diaz. G. A; Gomes, R.M. Manthey, S.J. (2001)
Camisinha: usar, ou não usar, esta é a questão. XI Encontro Nacional de
ABRAPSO-Psicologia Social e Transformação da Realidade Brasileira.
UNIVALI. Florianópolis. (CD-ROM)
• Baum, W.M.(2006).Compreender Behaviorismo: comportamento, cultura e
evolução. Tradução de M.T.Araújo Silva, da 2ª ed. Ampliada de 2005. Porto
Alegre: Artmed.
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