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1ª Edição
Maio 2008
Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
ÍNDICE
Introdução 3
I – Enquadramento 5
IV – Bibliografia 25
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
Introdução
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
Escavação arqueológica
(incorporando abordagens de várias arqueociências, seguindo estratégias previamente estabelecidas)
Estudo arqueobotânico
(recolha de campo, análise laboratorial, análise de dados)
Análise de dados
(articulação entre os dados de diversas origens - Arqueologia e Arqueociências)
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
I – ENQUADRAMENTO
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
Fig. 2 Género Cistus (esteva, sanganho). Em cima: flor e pólen (eixo polar: 59 μm – Deforce, 2006). Em
baixo: carvão (imagem SEM) e semente (Tereso, 2007).
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
1.2.1. A combustão
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
Nas duas primeiras fases, o material vegetal seca e dá-se uma perda de 35% do
peso, em forma de vapor de água, gás carbónico e outros componentes orgânicos.
Num sentido estrito, a combustão compreende somente as duas fases finais. A
carbonização (pirólise) é uma reacção térmica que conduz à formação de brasas,
implicando a degradação química da celulose e da lignina, enquanto que a fase
seguinte corresponde a uma reacção oxidante que conduz à formação de cinzas e
poderá acontecer sem a presença de chamas. A interrupção da combustão no final da
terceira fase, seja por cessar a alimentação de oxigénio ou pela perda de temperatura,
conduz à formação de carvões (por calcinação) que, desta forma, mantêm a estrutura
anatómica e a morfologia básica do material vegetal original (Chabal, et al., 1999;
Badal et al, 2003; Allué, 2002).
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1.4.1. Antracologia
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2002). Acrescente-se que a redução da massa com o fogo poderá não ser
proporcional em todas as espécies, o que deverá afectar de forma muito significativa
os espectros antracológicos (Chabal, et al., 1999).
Fig. 4 – Carvalho de folha caduca: toro queimado e imagem de microscópio de um corte transversal
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1.4.2. Carpologia
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
CUIDADOS A TER
Durante as recolhas de amostras no campo existem alguns procedimentos a ter em
atenção, para assegurar uma correcta leitura e interpretação de dados, assim como
para facilitar e optimizar os trabalhos laboratoriais ou para simplesmente permitir que
estes se realizem.
Controlo de proveniência:
- Assegurar o controlo contextual da proveniência dos macro-restos ou amostras,
evitando contaminações com realidades sedimentares adjacentes.
- Efectuar sempre uma correcta etiquetagem das amostras sedimentares, das
recolhas manuais e dos elementos resultantes das flutuações, em todas as fases de
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
trabalho, pois o material sem origem não tem qualquer significado. A etiquetagem
deve incluir os seguintes dados de proveniência:
-Nome de jazida;
- Quadrado/quadrante/Ambiente;
- Coordenadas de referência (quando aplicável);
- Camada/Unidade Estratigráfica;
- Número de referência ou inventário.
Significado da amostra:
- Referenciar sempre qual o tipo de amostra/recolha: dispersa, concentrada, pontual
ou integral.
- Os macro-restos de maior dimensão ou quebrados in situ e em conexão devem ser
recolhidos manualmente e individualizados, para contarem como um só, facilitando a
contagem e identificação. Se surgirem durante a recolha de uma amostra sedimentar,
deve-se anotar a sua conexão com essa amostra.
- Registar a percentagem de sedimento analisada, em especial para contextos
fechados, quando não é possível efectuar recolhas integrais. Por vezes o cálculo
poderá ser aproximado (e.g. através da contagem de baldes de terra).
- Registar o volume da amostra (preferencialmente em litros).
Integridade da amostra:
- Em escavação, a recolha de amostras deve ser efectuada de forma cuidadosa para
não aumentar a fragmentação dos macro-restos vegetais (e.g. se o contexto
sedimentar permitir, recolher a terra em torrões, estes irão desagregar-se durante a
flutuação);
- Os macro-restos (recolhas manuais ou produto de amostragens, após a flutuação)
devem ser guardados em recipientes rígidos de forma a diminuir os riscos de
fragmentação dos mesmos.
- Manusear de forma apropriada os sacos de amostras e os recipientes com macro-
restos vegetais para evitar o aumento da fragmentação dos vestígios.
Fig. 7 – Exemplos de
recipientes utilizados em
diversas fases dos estudos
arqueobotânicos
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Como nem todos os materiais flutuam da mesma forma, o sedimento que resta
da flutuação deve ser recolhido e alvo de triagem (integral ou por amostragem,
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ANTRACOLOGIA
O estudo de madeiras carbonizadas – antracologia – consiste na identificação
botânica dos fragmentos através do reconhecimento das suas características
anatómicas a um nível microscópico.
Os fragmentos de carvão de dimensões superiores a 2mm – recolhidos nas
malhas mais largas da coluna de crivos – são seccionados manualmente segundo três
secções de diagnóstico: transversal, radial e tangencial. A sua observação é depois
realizada com recurso ao microscópio óptico de luz reflectida.
A identificação dos taxa realiza-se com base em comparações com colecções de
referência de material actual, atlas de anatomia (Schweingruber, 1990a, 1990b;
Vernet, et al., 2001) e estudos anatómicos detalhados de grupos taxonómicos
particulares.
Na antracologia o fragmento é a unidade de medida – cada fragmento é uma
unidade, independentemente da sua dimensão. Estudos comparativos têm
demonstrado que o uso da massa, peso ou do nº de fragmentos oferecem resultados
equivalentes (Uzquiano, 1997; Badal et al., 2003). Acrescente-se que o último
apresenta uma maior rapidez de análise, sendo assim mais vantajoso para estudos
desta natureza.
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
Secção
transversal
Secção
radial
Secção
longitudinal
CARPOLOGIA
A observação de sementes e demais carporrestos é realizada à lupa binocular e
o diagnóstico efectua-se por comparação morfológica com elementos actuais, com
recurso a colecções de referência, atlas da especialidade (Berggren, 1981) e estudos
detalhados de determinados grupos morfológicos.
No que respeita aos carporrestos, a base de medida é a unidade – cada
carporresto equivale a uma unidade. Deve-se ter particular atenção à distinção entre
exemplares intactos e exemplares fragmentados. Por vezes é possível identificar o
número mínimo de sementes com base na identificação de um elemento particular
destas – e.g. o hilo da fava.
ANÁLISE DE DADOS
A análise dos resultados das identificações antracológicas e carpológicas passa
pela articulação de diferentes factores, dos quais salientamos: quantidade (quantidade
total de macro-restos de um contexto e quantidade de cada espécie), contexto de
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
1.0
C/E
C/L
L/E
Ts
Tm
Td
L
Ta
Tc
E
E/L*1OO
L/C*100
-1.0
-1.0 1.0
Fig. 10 – Exemplos de análise estatística. PCA com biometria de cariopses diferentes espécies
de trigo (à esquerda) e gráfico circular com quantidade relativa de cereais numa U.E.
DATAÇÃO ABSOLUTA
O trabalho laboratorial, tanto carpológico como antracológico, não impossibilita a
datação radiocarbonica pois no laboratório os fragmentos não recebem qualquer
tratamento químico. Pelo contrário, a identificação da espécie, previamente à datação,
ajuda na interpretação da data obtida.
Deve-se referir que as sementes são os macro-restos mais adequados para as
datações de C14 pois têm a vantagem de corresponder a um ano solar tornando a
datação mais precisa (Badal, et al., 2003). Processando-se um carvão é possível
estar-se a datar mais do que um anel de crescimento anual. Na verdade, 1cm³ de
madeira pode conter 100 anéis, consoante a espécie, correspondendo a 100 anos
solares (Badal, et al., 2003). Entre os carvões deve-se privilegiar os de espécies
arbustivas pois estas têm períodos de vida mais curtos que a generalidade das
espécies arbóreas.
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
IV – BIBLIOGRAFIA
A negrito assinalam-se as referências de leitura aconselhada para uma primeira
abordagem a estes temas.
BADAL, E.; CARRIÓN, Y.; RIVERA, D.; UZQUIANO, P. (2003). La Arqueobotânica en cuevas
y abrigos: objectivos y métodos de muestreo. In Buxó, R. e Piqué, R., dir., La
recogida de muestras en arqueobotánica: objectivos y propuestas metodológicas. La
gestión de los recursos vegetales y la transformación del paleopaisaje en el
Mediterráneo occidental. Barcelona: Museo d’Arqueologia de Catalunya, p.19-29.
BERGGREN, G. (1981). Atlas of seeds and small fruits of Northwest-European plant species
with morphological descriptions. Vol. 3. Salicaceae-Cruciferae. Swedish Museum of
Natural History.
BUXÓ, R. (1990). Metodología y técnicas para la recuperación de restos vegetales (en especial
referencia a semillas y frutos) en yacimientos arqueológicos. (Cahier Noir, 5),
Ajuntamento de Girona.
CHABAL, L.; FABRE, L.; TERRAL, J.-F.; THÉRY-PARISOT, I., (1999). L’anthracologie. In
Bourquin-Mignot C., Brochier J.-E., Chabal L., Crozat S., Fabre L., Guibal F., Marinval
P., Richard H., Terral J.-F., Théry-Parisot I., La botanique. Paris: Editions Errance, p.
43-104.
DEFORCE, K. (2006). The historical use of ladanum. Palynological evidence from 15th and
16th century cesspits in northern Belgium. Vegetation History and Archaeobotany, 15,
p. 145–148.
MARINVAL, P. (1999) – Les graines et les fruits: la carpologie. In : Bourquin-Mignot C., Brochier
J.-E., Chabal L., Crozat S., Fabre L., Guibal F., Marinval P., Richard H., Terral J.-F.,
Théry-Parisot I. La botanique. Paris: Editions Errance, p. 105-137.
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Introdução ao estudo de macro-restos vegetais em sítios arqueológicos
RENFREW, J.M. (1973). Palaeoethnobotany. The prehistoric food plants of the Near East and
Europe. New York: Columbia University Press.
SCHWEINGRUBER, F.H (1990) – Anatomy of European woods. Paul Haupt and Stuttgart
Publishers
SCHWEINGRUBER, F.H (1990b). Microscopic Wood Anatomy. Swiss Federal Institute for
Forest, Snow and Landscape Research.
VERNET, J-L (1999). Reconstructing vegetation and landscapes in the Mediterranean: the
contribution of Anthracology. In Leveau, P.; Triment, F.; Walsh, K.; Barker, G., eds.,
Environmental Reconstruction in Mediterranean Landscape Archaeology. (The
Archaeology of Mediterranean Landscapes, 2). Oxbow books, p. 25-36.
VERNET, J-L; OGEREAU, P.; FIGUEIRAL, I.; MACHADO YANES, C.; UZQUIANO, P. (2001).
Guide d’identification des charbons de bois préhistoriques et récents. Sud-Ouest de
l’Europe: France, Péninsule ibérique et îles Canaries. Paris: CNRS Editions.
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