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NA CARTOGRAFIA DIGITAL
A cartografia em suporte digital é actualmente produzida com finalidades e exigências de qualidade muito
distintas das que caracterizavam a cartografia tradicional para impressão. Algumas das características da
cartografia impressa transformaram-se em inconvenientes e as opções relativas ao modo de produção e ao
conteúdo e estrutura de dados no produto final surgem como objecto de discussão. O conteúdo e a estrutura,
definidas ao nível de catálogos de características e outras especificações, apresentam-se assim como aspectos
que requerem uma análise cuidada, nomeadamente ao nível de custos e benefícios, compatibilidade e qualidade.
Na presente comunicação é feita a descrição e análise de algumas normas e documentos técnicos, nomeadamente
dos utilizados em Portugal, contendo especificações sobre conteúdo e estruturas de dados para cartografia
digital. Numa perspectiva de sistematização, são ainda apresentadas as alternativas e os factores a ponderar na
elaboração de especificações para cartografia digital.
1. Introdução
O termo cartografia digital , com desenvolvimentos percursores que remontam à década de 50 e cuja utilização
generalizada se terá iniciado na década de 80, surge inicialmente como designação para uma tecnologia de apoio
à produção de cartografia impressa.
Até há muito pouco tempo, eventualmente até ao início da década de 90, o contexto de disseminação da
tecnologia de cartografia digital era o de produtores, dispondo de equipamento de manutenção complexa e
elevado custo, produzindo em formato digital os dados que gerariam as versões impressas, consideradas como
produto final.
A vulgarização do hardware e de programas adequados a utilização da cartografia digital, coloca a própria
versão digital como um produto final, que não sendo o mais importante para o grande público é-o agora para
uma vasta comunidade profissional.
Encarando assim a cartografia digital como um produto final, é necessário reflectir sobre as suas características,
nomeadamente as que se reflictam nos custos, na compatibilidade para importação e exportação e na
manutenção. A utilização em sistemas de informação geográfica, assumindo-se cada vez mais como o principal
destino da cartografia digital, tem no entanto objectivos de análise, de exploração e de integração de informação,
que justificam modelos de dados distintos dos utilizados na cartografia, com estruturas vectoriais mais
complexas e descritores alfanuméricos complementares. Sendo a cartografia input para estes sistemas, e gerindo
e actualizando estes não só informação adicional, como também informação organizada de uma forma diferente,
é essencial garantir a entrada adequada da informação cartográfica no sistema bem como a articulação dos
mecanismos de actualização da informação nas suas vertentes de base de dados geográfica e de produção
cartográfica.
Considera-se a cartografia digital, mantendo o termo consagrado pelo uso, como um caso particular de conjunto
de dados geográficos (CDG) com uma estrutura básica vectorial e com os atributos estritamente necessários à
identificação do tipo de objecto, complementada com informação alfanumérica com elementos gráficos de texto,
em ambiente de desenho assistido por computador. Reconhece-se que esta é uma definição algo insatisfatória,
dado que uma estrutura de CAD pode ser enriquecida com atributos para os elementos gráficos, armazenados ou
não num sistema de gestão de base de dados, tornando difusa a separação relativamente ao que se considera
como sistema de informação geográfica.
A questão em apreço na presente comunicação prende-se essencialmente com as bases cartográficas digitais de
âmbito nacional, regional ou municipal e de propósito genérico. Tipicamente, esta informação é compilada por
uma entidade pública para servir fins geralmente não especificados detalhadamente, podendo ser fornecida aos
utilizadores em subconjuntos organizados por regiões ou por temas.
Na medida em que se trata de um recurso de interesse público, são especialmente relevantes as preocupações
com a sua estrutura e formato. Os aspectos relativos a conteúdo e qualidade, sendo igualmente importantes, serão
no entanto aqui abordados com menos profundidade.
3. Conteúdo e Qualidade
3.1 Conteúdo
O conteúdo é definido por um catálogo de características e deve traduzir o nível de generalização (“escala”)
escolhido e o interesse para a utilização prevista. Não existe actualmente uma forma objectiva de definir o nível
de generalização em todas as suas vertentes e para todos os tipos de características, assim como a dedução do
conjunto de características mais adequadas para um dado produto. Actualmente em elaboração, a futura norma
ISO 15046-10 (ISO TC-211,1998;1) apresenta indicações importantes para a construção e especificação de
catálogos de características.
Não tencionando aprofundar aqui as questões associadas à construção de um catálogo de características, é no
entanto de referir dois aspectos: a clarificação de conceitos e a estrutura.
As características a inserir num catálogo provêm do designado “universo do discurso”, existindo um
conceptualização verbal da sua existência. Atendendo a que os conceitos não surgiram obviamente para
sustentarem a informação geográfica, ocorre frequentemente um conceito não ser suficientemente claro para
permitir uma delimitação espacial inequívoca (p.ex. montanha) e pode ainda acontecer a sobreposição parcial de
conceitos (p.ex. igreja, monumento, edifício).
A estrutura de um catálogo, visando uma utilização sem dificuldades inultrapassáveis e que permita a
conformidade de casos particulares com uma estrutura geral, deverá apresentar uma estrutura que permita a
agregação de características, necessária para atingir a satisfação de um propósito e nível de generalização
específicos.
Tanto a utilização de catálogos-tipo como de características solicitadas pelos utilizadores deverá ser feita com
sentido crítico, ponderando os benefícios de maior número e detalhe das entidades contra o maior custo directo
na produção. É ainda da maior importância avaliar até onde é razoável levar a descriminação das características
numa estrutura gráfica vectorial, tendo presente a possibilidade de utilizar informação alfanumérica associada
numa base de dados com uma estrutura SIG.
3.2 Qualidade
Sobre a forma de abordar a qualidade remete-se para os documentos normativos da Comissão Técnica 211 da
International Standards Organization (ISO) (ISO TC 211, 1998;2,1999) e para a versão portuguesa da norma
CEN (Comissão Europeia de Normalização) ENV12656.
Relativamente aos aspectos de qualidade de produtos específicos, questão não abordada nas normas referidas,
refira-se simplesmente que deverão ser avaliados em função da utilização prevista e do custo de produção.
IMPRESSÃO
IMPRESSÃO
3 - satisfação simultânea do objectivo de produção de RESULTADO DO LEVANTAMENTO
cartografia impressa e produção de dados para
utilização em SIG (estratégia seguida pelo IPCC e pelo MODELO ANALÍTICO MODELO CARTOGRÁFICO
IGeoE);
SIG IMPRESSÃO
SIG
A primeira estratégia é actualmente aceitável para um número reduzido de situações, em que o objectivo final é a
cartografia impressa e a versão digital não se destina a divulgação. A segunda estratégia foi e é adoptada como
solução de recurso para conversão para SIG de cartografia já elaborada. A terceira estratégia é talvez a mais
aconselhada para satisfazer o objectivo
simultâneo de fornecimento de cartografia digital
de propósito genérico e de produção de CDG Exploração
cartografia impressa de elevada qualidade gráfica.
A quarta estratégia é vantajosa em situações em
que o SIG seja efectivamente o objectivo e a
preocupação com a qualidade gráfica das Actualização
impressões uma preocupação secundária. A
passagem por um produto intermédio com
estrutura CAD justifica-se por razões ligadas ao
próprio processo de produção e prevendo
eventuais utilizações exclusivamente em CAD. A Actualização
CDG
última estratégia corresponde à assumpção do
SIG como produto final para utilização e um Exploração
modelo analítico com estrutura CAD, a ser
necessário, é gerado a partir do SIG (basicamente
Figura 1
corresponde à inserção dos atributos directamente
em SIG e não como propriedades gráficas).
Do ponto de vista de utilização é importante
salientar duas situações (Figura 1):
- a base cartográfica é produzida e mantida de modo independente da utilização;
- a base cartográfica é actualizada no decurso da utilização:
- por introdução, alteração ou remoção de novos objectos;
- por introdução de novos tipos de informação (novos temas);
- por acréscimo com informação derivada ou adaptada da existente.
Do ponto de vista da utilização é importante identificar qual o CDG principal, o que constitui o núcleo que deve
ser mantido actualizado e consistente, em confrontação com os CDG transitórios e os de utilização que não
geram repercussões no CDG principal.
Se o CDG principal tiver uma estrutura SIG, a quinta estratégia apresentada (e em menor grau a quarta) é a mais
racional.
6. Estruturas de dados cartográficos utilizadas em Portugal
6.1 Cartografia do Instituto Português de Cartografia e Cadastro
7. Considerações finais
Em face do anteriormente exposto é conveniente sintetizar algumas conclusões de âmbito geral:
- é evidente a necessidade de melhorar o processo de construção de catálogos de características tendo em conta a
clarificação de conceitos e características associadas, a facilidade de adaptação a diferentes produtos específicos;
- a tendência de evolução para estruturas SIG e não para estruturas estritamente CAD, conduzindo à necessidade
de avaliar se será razoável prosseguir pela produção completa em CAD para posterior conversão.
No caso específico de Portugal afigura-se recomendável o uso de prudência e reflexão relativamente à utilização
da estrutura de multicódigos como norma nacional implícita. As características desta estrutura apresentam-se
como profundamente negativas para a sua constituição como formato de transferência e como estrutura de dados
para utilização. A situação actual é ainda reversível, evitando prejuízos futuros consideráveis.
A sua utilização ao nível de produção, que apresenta vantagens e inconvenientes, não é aqui objecto de análise,
devendo essa avaliação ser feita pelos produtores com base na sua eficiência e nas alternativas possíveis.
8. Referências
Chan,K. – DIGEST: A Primer for the International GIS Standard. Ed. Lewis Publishers, 1998.
Fernandes,J. – A Nova Carta Topográfica 1:10000 do IPCC. In Cartografia e Cadastro, nº5, pp 3-9. Ed. IPCC,
1996.
IPCC – Proposta de Caderno de Encargos para Elaboração de Cartografia em Escalas Grandes. Ed. IPCC,
1992.
ISO TC-211 – Geographic Information – Part 10: Feature Cataloguing Methodology. Documento N604
(Committee Draft) ISO TC-211, 1998.
ISO TC-211 – Geographic Information – Part 13: Quality Principles. Documento N531 (Committee Draft)
ISO TC-211, 1998.
ISO TC-211 – Geographic Information – Part 13: Quality Evaluation Procedures. Documento N665
(Committee Draft) ISO TC-211, 1999.
Matos,J.;Bento,J.;Gonçalves,A.;Costa,F. – The 4-Sets Classification Problem. Proceedings EPMESC VII, pp.
1117-1126. Macau, 1999.
Matos,J. – Contributo para uma Sistematização da Abordagem ao Projecto em Informação Geográfica.
Ingenium, Revista da Ordem dos Engenheiros, II Série, nº35, Março de 1999, pp.73-77
Matos,J.;Gonçalves,A.;Costa,F. – MC2LAYER: Guia de utilização. Relatório ICIST, EP nº 14/99. Instituto
Superior Técnico, 1999.
Moellering,H.; Hogan,R. (Eds.) – Spatial Database Transfer Standards 2: Characteristicas for Assessing
Standards and Full Descriptions of the National and International Standards in the World. Ed. ICA,
Pergamon, 1996.
ANEXO 1
Normas nacionais para dados cartográficos
País Designação Data Trf Soft MD Lay Qual. C.C. Smb LPP Top Att
África do Sul NES 1993 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim
Alemanha ATKIS 1993 Sim Sim Não Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim
(in. 1977)
Austrália SDTS - Austrália 1994 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim
Áustria ONORM A 2260 1994 Sim Não Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim ?
Canadá SAIF 1995 Sim Sim Sim Sim Sim Não(?) Não(?) Sim Sim Sim
(v. 3.2)
China DEFS 1993 Sim Não Não Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim
Espanha NICCa 1989 Sim Não Não Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim
EUA SDTS 1992 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim
(In. 1980)
Finlândia JHS 111-119 1993 Sim Sim Sim Sim Sim S/N Não Sim Sim Sim
França EDIGEO 1992 Sim Sim Sim Sim Sim ? Não Sim Sim Sim
Holanda NEN 1878 1993 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Israel IEF’91 1992 Sim Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não(?) Sim
Japão SPDFDM 1988 Sim Não Não ? Sim Não Sim Sim Não Sim
Noruega SOSI 1994 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Sim Sim Sim
Reino Unido NTF 1992 Sim Sim Sim Não Sim Não Não Sim Sim Sim
(In. 1985)
Rússia DEMTS 1995 Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Suíça INTERLIS 1991 Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Sim Sim Sim
Trf – formato de transferência; Soft – Software para apoiar a implementação da norma; MD – Metadados; Lay – Aceita estrutura de layers; Qual – Modelo de qualidade;
C.C. – Catálogo de características; Smb – Simbologia gráfica; LPP – Contempla linhas, pontos e polígonos; Top – Contempla topologia; Att- Contempla atributos .
ANEXO 2
Normas internacionais para dados cartográficos
Organismo Designação Data Trf Soft MD Prod. Qual. C.C. Smb LPP Top Att
DGIWG DIGEST 1991 Sim Sim Sim Não Sim Sim Não Sim Sim Sim
CERCO ETDB (1991-...) S/N Não Sim Não Não Sim Sim Sim Sim Sim
IHO S-57 1985-96 Sim Sim Sim ? Sim Sim Sim Sim Sim Sim
Trf – formato de transferência; Soft – Software para apoiar a implementação da norma; MD – Metadados; Lay – Aceita estrutura de layers; Qual – Modelo de qualidade;
C.C. – Catálogo de características; Smb – Simbologia gráfica; LPP – Contempla linhas, pontos e polígonos; Top – Contempla topologia; Att- Contempla atributos .