Você está na página 1de 7

Tecnologia para redução da energia incidente nas instalações industriais Página 1 de 7

Tecnologia para redução da energia incidente nas instalações


industriais
0 Comentários

Edição 97 - Fevereiro de 2014


Aula prática: Segurança
Por Vagner José dos Santos e Wendel Rosado Baldon*

Diversos estudos e tecnologias vêm sendo empregados a fim de se determinar os riscos inerentes ao arco
elétrico e garantir que os trabalhadores façam seus trabalhos com segurança.

A fim de determinar os riscos inerentes ao arco elétrico oriundo de um curto-circuito, vários estudos têm sido
foco de especialistas nos últimos anos e várias tecnologias vêm sendo empregadas para garantir que os
trabalhadores desempenhem seus trabalhos com segurança e que os riscos sejam minimizados ao máximo.
Dentre estas metodologias destacam-se: seletividade lógica, relé diferencial de barra, relé de arco, substituição
de relé eletromecânico, seccionadora de alta velocidade, reatores, transformador de alta impedância, limitador
pirotécnico, resistor de alto valor, resistor de baixo valor, painéis de baixa e média tensão testados, e segundo
grupo de ajuste dos relés de proteção ativo.

A necessidade de substituir os relés de proteção eletromecânicos por eletrônicos trouxe recursos que, na
maioria das vezes, não eram utilizados na filosofia de proteção empregada, como o segundo grupo de ajuste,
que para redução da energia incidente vem sendo aplicado em uma indústria de grande porte há dois anos. Esta
metodologia visa minimizar os efeitos da energia incidente quando de um curto-circuito nas pessoas que
trabalham nas instalações elétricas energizadas, sendo que nesta condição a seletividade poderá ser
comprometida, não abordando, portanto, seus efeitos dinâmicos.

Na maioria dos casos, os custos inerentes à implantação destas várias metodologias para redução da energia
incidente apresentada acima são altos, necessitando de grandes paradas no processo produtivo para serem
implementadas.

Outro fato muito importante é que, para qualquer que seja a metodologia a ser empregada, alguns fatores
devem ser observados antes de utilizá-la, tais como: ter em mãos estudo de curto-circuito e seletividade da
planta; profissional habilitado para execução dos trabalhos; e procedimentos específicos para trabalhos nas
instalações.

Estudo de curto-circuito e seletividade – Pelo estudo de curto-circuito é possível determinar as correntes de


curto-circuito Ibf, corrente de curto-circuito para faltas trifásicas em kA e Ia corrente de arco elétrico em kA em
todas as barras do sistema elétrico.

A quantidade de energia a que um trabalhador pode estar exposto está relacionada diretamente a corrente de
curto-circuito pelo tempo (I2*t), sendo que a única variável que pode ser facilmente controlada é o tempo de
atuação do sistema de proteção, definido pelo estudo de seletividade, e que sofrerá alteração em sua unidade
instantânea, fazendo com que a energia incidente diminua com um tempo menor.

Profissional habilitado para realizar os estudos – De acordo com o IEEE 1584, são necessários nove passos
para se determinar a energia incidente de uma instalação, obedecendo a seguinte ordem: coleta de dados dos
equipamentos elétricos das instalações e do sistema; determinação da forma operacional do sistema; cálculo
das correntes de curto-circuito nas barras; cálculo das correntes de arco nas barras; levantamento do tempo de
atuação da proteção e cálculo do tempo de duração do arco; determinação da tensão e a classe dos
equipamentos; determinação da distância de trabalho; cálculo a energia incidente nas barras; e determinação da

http://www.osetoreletrico.com.br/web/colunistas/jobson-modena/1257-tecnologia-par... 18/03/2014
Tecnologia para redução da energia incidente nas instalações industriais Página 2 de 7

distância segura de aproximação contra arco elétrico. Em função da complexidade dos trabalhos a serem
executados, reforça-se a necessidade de profissional com expertise em sistema elétrico de potência para
analisar/executar os estudos propondo mudanças que acarretem na diminuição da energia incidente.

Procedimentos – Os procedimentos são muito importantes para que haja uma conscientização dos
profissionais que lidam com as instalações energizadas quanto ao fato de que um simples ato de mudar uma
chave poderá minimizar os efeitos do arco ou até mesmo salvar suas vidas.

Princípio de funcionamento

O princípio de funcionamento da metodologia do segundo grupo de ajuste é muito simples, sendo o mesmo
composto por uma chave seletora que quando ativada envia sinal ao relé de proteção que, por sua vez, altera a
função de proteção 50 para valores mais sensíveis, conforme a Figura 1 itens a e b.

De forma a garantir que o grupo de ajuste esteja ativo enquanto houver pessoas dentro das subestações, um
painel com uma chave seletora foi instalada na entrada de cada uma delas, e ela deverá ser bloqueada por todos
que venham adentrar as instalações. O bloqueio é composto por um cadeado e cartão de identificação pessoal.

A Figura 2 demonstra o comportamento de uma curva de proteção de um barramento em que se utiliza do


estudo de seletividade sem o segundo grupo de ajuste ativo, e a energia incidente calculada é de 22 cal/cm2
cat03. Já a Figura 3 busca retratar uma condição em que o segundo grupo de ajuste é solicitado e a mudança da
energia de incidente cai para 4 cal/cm2 cat02.

http://www.osetoreletrico.com.br/web/colunistas/jobson-modena/1257-tecnologia-par... 18/03/2014
Tecnologia para redução da energia incidente nas instalações industriais Página 3 de 7

Estudo de caso

O curto-circuito aconteceu após retorno de um equipamento que havia sofrido parada para manutenção, e,
conforme procedimento para liberação de equipamento para manutenção corretiva, é prevista a extração e o
bloqueio do contator que alimenta a carga. O barramento da carga é alimentado em 4,16 kV. No retorno
operacional da carga o contator, foi inserido no cubículo e liberado para funcionamento e, após algum tempo,
houve um curto-circuito nesta carga originando derretimento das tulipas do contator conforme a Figura 4.

http://www.osetoreletrico.com.br/web/colunistas/jobson-modena/1257-tecnologia-par... 18/03/2014
Tecnologia para redução da energia incidente nas instalações industriais Página 4 de 7

Neste tipo de instalação é comum identificar sobreposição das tulipas na barra fixa do painel ou até mesmo
empeno das barras do contator e/ou painel provocando aquecimento e consequentemente curto-circuito. A
Figura 5 exemplifica uma situação onde houve sobreposição das tulipas devido a fragilidade do material
utilizado na construção do braço do contator.

http://www.osetoreletrico.com.br/web/colunistas/jobson-modena/1257-tecnologia-par... 18/03/2014
Tecnologia para redução da energia incidente nas instalações industriais Página 5 de 7

Os registros fotográficos e a oscilografia do relé de proteção comprovam que o curto-circuito foi trifásico e,
portanto, as três tulipas foram danificadas.

Pontos relevantes do registro: falta trifásica com valor RMS de cerca de 2,5 kA,
a primeira proteção a ser sensibilizada com a falta foi a função 51, sendo que o responsável pelo envio do sinal
de trip foi a função 50; o tempo de abertura do disjuntor foi de cerca de 100 ms, valores estes compatíveis com
valores estudados e implementados no relé de proteção.

Os danos ao painel se limitaram ao derretimento de uma pequena quantidade de cobre dos contatos fixos da
barra e das garras do contator de média tensão envolvido. Para liberação foi necessária a substituição dos
contatos fixos do painel, além da utilização de um contator reserva, e houve a necessidade de realizar uma
pequena limpeza no interior do cubículo antes de liberá-lo para energização. Destaca-se, ainda, que não houve

http://www.osetoreletrico.com.br/web/colunistas/jobson-modena/1257-tecnologia-par... 18/03/2014
Tecnologia para redução da energia incidente nas instalações industriais Página 6 de 7

danos a equipamentos instalados na porta deste painel, bem como demais componentes que o constituem, e que
sofreram a ação do curto-circuito em função de sua característica construtiva que não existe segregação.

Conclusão

Ficou evidenciado pelos fatos apresentados que, neste evento ocorrido no cubículo de média tensão, as
consequências poderiam ser mais graves caso o segundo grupo de ajustes do relé não estivesse selecionado.
Isso é reforçado pelo relato daqueles que atenderam a ocorrência e já tiveram outras experiências semelhantes.

O sistema de grupo de ajuste tem se mostrado uma forma eficaz de reduzir os níveis de energia incidente e
minimizar os efeitos do curto-circuito nas instalações, mas deve ser visto como uma forma paliativa, para uso
somente em período de transição para medidas de proteção com abrangência maior para as pessoas que lidam
com instalações energizadas, garantindo também a segurança quando de uma falha do sistema de proteção da
instalação contra os riscos elétricos e efeitos dinâmicos que atualmente são esquecidos.

Referências

Lee, R. The other electrical hazard: electrical arc blast burns. IEEE Transactions on Industry Applications, v.
1A-18, n. 3, p. 246, maio/jun. 1982.
Guide for performance arc-flash hazard calculations. IEEE Std 1584. IEEE-SA Standards Board. Approved 12
set. 2002.
Occupational safety and health administration. OSHA 3151-12R 2003.
NFPA 70e standard for electrical safety in the workplace 2009 Edition.
JOSÉ, Vagner. A energia incidente na instalações industriais. Escola Federal de Engenharia de Itajubá, M.G
“Tese M.sc”.

*Vagner José dos Santos é engenheiro eletricista especializado em proteção de sistemas elétricos. Exerce
atividades de estudos elétricos em sistemas industriais e projetos.
Wendel Rosado Baldon é engenheiro eletricista com habilitação em computação, especializado em sistemas
elétricos de potência. Atua como engenheiro de manutenção em sistemas elétricos de potência.

Veja também:

Itens relacionados:

17/03/2014 00:00 - De apagões, calor e pontos quentes


17/03/2014 00:00 - O fator de potência em unidades consumidoras residenciais
17/03/2014 00:00 - Marco histórico no setor de baixa tensão
17/03/2014 00:00 - Fevereiro de 2014
17/03/2014 00:00 - "99, foi o 50 ou 51?" - "Não sei, 86!"

Itens mais antigos:

25/02/2014 00:00 - Fascículos 2014


18/02/2014 00:00 - Alumínio versus cobre em projetos de painéis elétricos
18/02/2014 00:00 - Monitoramento de subestações e linhas de transmissão
18/02/2014 00:00 - Coordenação e seletividade Uma revisão de conceitos e os benefícios das
técnicas disponíveis
18/02/2014 00:00 - Iluminação pública: de quem é a responsabilidade?

Próxima página >>

http://www.osetoreletrico.com.br/web/colunistas/jobson-modena/1257-tecnologia-par... 18/03/2014
Tecnologia para redução da energia incidente nas instalações industriais Página 7 de 7

http://www.osetoreletrico.com.br/web/colunistas/jobson-modena/1257-tecnologia-par... 18/03/2014

Você também pode gostar