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Isometrias do Plano
Belém
2011
Aluzimara Nogueira Bezerra
Isometrias do Plano
Belém
2011
Bezerra, Aluzimara
Isometrias do Plano / Aluzimara Bezerra - 2011
52.p
1.Geometria.. I.Tı́tulo.
CDU 514
Aluzimara Nogueira Bezerra
Isometrias do Plano
BANCA EXAMINADORA
We study the isometries of the Euclidean Plane and use the software Geogebra to explore
visually the isometries.
Desejo expressar minha gratidão a José Miguel M. Veloso não somente pela
orientação eficiente, mas especialmente pelo interesse, dedicação, apoio e valiosas sugestões
em todas as fases de preparação deste trabalho.
1 Introdução 5
2 Isometria do plano 7
3 Translações 15
3.3 Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
4 Rotação 25
4.3 Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5 Reflexão 35
5.3 Exemplo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Referências Bibliográficas 48
5
1 Introdução
A obra de M.C. Escher é admirada no mundo todo, não somente pela beleza de suas figuras
e desenhos, mas também pela magia que parecemos sentir quando entramos em contato
com ela. Escher parece brincar em suas obras com o mágico e o real, ora elaborando
desenhos de construções impossı́veis, mas que à primeira vista parecem naturais, ora
jogando com o infinito, através de repetições de padrões que se encaixam perfeitamente,
preenchendo o plano da obra (veja, por exemplo, [2]). Por detrás dessas obras, aparecem
os objetos de estudo deste trabalho: as isometrias.
2 Isometria do plano
Iniciaremos este capı́tulo dando um significado preciso para a palavra transformação,
depois exibiremos uma definição de isometria do plano e suas principais propriedades
algébricas e geométricas.
Definição 2.1.1. Uma transformação do plano é uma aplicação bijetora do conjunto dos
pontos do plano sobre si mesmo.
(h ◦ g) ◦ f = h ◦ (g ◦ f )
f ◦ Id = f = Id ◦ f e f ◦ f −1 = Id = f −1 ◦ f
(a) se f , g ∈ F, então g ◦ f ∈ F;
(b) se f , g, h ∈ F, então (h ◦ g) ◦ f = h ◦ (g ◦ f );
(i) se f , g ∈ G então g ◦ f ∈ G;
(ii) se f ∈ G então f −1 ∈ G
P f (P )
Q f (Q)
f (P )
~v
P
~v
(a) A imagem de um ponto P . (b) Capa do livro Regelmatige Vlakverdling, Escher.
f (P )
P
α
O
(a) A imagem de um ponto P . (b) Prato de Samarra.
Exemplo 2.1.5. Dado uma reta r no plano, a aplicação f que associa a cada ponto P
do plano sua imagem em relação à reta, f (P ), é uma isometria denominada reflexão.
Veremos as reflexões mais detalhadamente no Capı́tulo 5.
2.1 Definições e propriedades básicas 10
r r
f (P )
Prova: Seja Isom o conjunto de todas as isometrias. Temos que Isom é não
vazio, pois a função identidade é claramente uma isometria e, portanto, Id ∈ Isom.
g ◦ f ∈ Isom. (2.1)
= d(P, Q)
e, portanto,
f −1 ∈ Isom. (2.2)
Proposição 2.1.2. Toda isometria do plano preserva colinearidade, isto é, se f é uma
isometria e P , Q e R são três pontos colineares, então f (P ), f (Q) e f (R) são colineares.
Além disso, preserva a relação “estar entre”, isto é, se Q estiver entre P e R, então f (Q)
estará entre f (P ) e f (R).
Proposição 2.1.3. Toda isometria do plano preserva ângulos, isto é, se f é uma iso-
metria e P , Q e R são três pontos, então os ângulos ∠P QR e ∠f (P )f (Q)f (R) são
congruentes.
Proposição 2.1.4. Se uma isometria do plano fixa dois pontos distintos de uma reta
então ela fixa ponto a ponto, esta reta.
Q1 Q2
P
B r
A C
Seja então P um tal ponto e r uma reta que passe por P , distinta das retas
←→ ←→ ←→
P A, P B e P C (lembre-se que por um ponto passam infinitas retas!), como mostra a
←→ ←→ ←→
Figura 2.6. Como as retas AB, BC, CA são concorrentes duas a duas, r pode ser paralela
a, no máximo, uma delas, devendo intersectar ao menos duas. Como A, B e C não
pertencem a r, então r intersecta essas retas em pontos distintos, digamos, Q1 e Q2 , que
são fixos pela isometria f . Portanto, usando novamente a Proposição 2.1.4, f fixa r, logo
fixa o ponto P .
Corolário 2.1.1. Se f e g são isometrias do plano tais que f (A) = g (A), f (B) = g (B)
e f (C) = g (C) para três pontos não colineares A, B, e C do plano, então f = g.
3 Translações
Veremos neste capı́tulo as isometrias denominadas translações. A Figura 3.1 apresenta
parte do mosaico pertencente ao Portal de Ishtar. Nela podemos ver principalmente
representações de flores e de leões transladados horizontalmente. Construı́do por volta de
575 a.C., a mando do rei Nabucodonosor II, na Babilônia, o Portal de Ishtar tornou-se a
principal entrada da cidade e foi dedicado à deusa Ishtar. A reconstrução do Portal de
Ishtar está no Museu do Antigo Oriente Próximo, seção do Museu Pergamon, em Berlim.
Definiremos agora translação no plano, mas antes precisaremos nos lembrar do conceito
de vetor. Dois segmentos de retas orientados são equipolentes se possuem a mesma norma,
direção e sentido. Um vetor é uma classe de equivalência de segmentos orientados equi-
polentes1 .
1
A equipolência é uma relação de equivalência. Lembre-se que uma relação é de equivalência se satisfaz
as propriedades simétrica, reflexiva e transitiva.
3.1 Descrição das translações 16
A Figura 3.2 mostra a translação determinada pelo vetor ~v aplicada a um
triângulo ABC.
A0
~v
B0 C0
A
B C
1. se P + ~v = P + w
~ então ~v = w;
~
2. se P + ~v = Q + ~v então P = Q;
3. (P + ~v ) + (−~v ) = (P + (−~v )) + ~v = P .
−→ −→
Uma vez que P + P P 0 = P 0 é usual denotarmos o vetor P P 0 também como
P 0 − P , ou seja, escrevemos ~v = P 0 − P . Podemos dizer também que o segmento orientado
−→
P P 0 é o representante do vetor ~v com origem P , isto é, ~v =P P 0 .
Definição 3.1.1. A soma de ponto com vetor nos permite definir a aplicação chamada
translação na direção do vetor ~v , ou translação de vetor ~v , ou simplesmente, translação
no plano por:
T~v (P ) = P + ~v , para todo P do plano.
Prova: Seja T~v a translação por um vetor ~v . Para mostrarmos que se trata
de uma transformação do plano, basta mostrarmos que se trata de uma transformação
bijetora ou, equivalentemente, que é uma transformação invertı́vel. Basta observar então
que a translação T−~v é a inversa de T~v . De fato, pelo item 3, é imediato que
T −→ ◦ T−→ = T−→ ◦ T −→ .
PQ RS RS PQ
Q R S
P X0 −→
RS X 00
−→
X RS Y0
−→ −→ −→
Como X 0 X 00 = RS = XY 0 , segue que os segmentos X 0 X 00 e XY 0 são paralelos e
tem a mesma medida. Logo, como todo quadrilátero que possui um par de lados opostos
congruentes e paralelos é um paralelogramo, segue que o quadrilátero XX 0 X 00 Y 0 é um
−→ −→ −→
paralelogramo e, portanto, Y 0 X 00 = XX 0 = P Q. Daı́, temos que
T−→ ◦ T −→ = T −→ .
RS PQ PM
T −→ (X) = T −→ (T −→ (P ))
PM PM PX
= T −→ (T −→ (P ))
PX PM
= T −→ (M )
PX
= T −→ (T−→ (Q))
PX RS
= T −→ (T−→ (T −→ (P )))
PX RS PQ
= T −→ ◦ (T−→ ◦ T −→ )(P )
PX RS PQ
= (T−→ ◦ T −→ ) ◦ T −→ (P )
RS PQ PX
= (T−→ ◦ T −→ )(X).
RS PQ
Da demonstração da Proposição 3.1.1, já sabemos que a inversa de uma translação é uma
translação, o que conclui a demonstração de que o conjunto das translações é um subgrupo
abeliano.
−→
Y PQ Y0
−→
X PQ X0
Proposição 3.1.4. Dados dois pontos distintos A e B do plano, existe uma única trans-
lação T~v tal que T~v (A) = B.
Prova: A Proposição 3.1.3 nos diz que a única translação que fixa um ponto
é a função identidade. Suponhamos que haja duas translações T e T̃ tais que T (A) = B
e T̃ (A) = B. Temos então que
=A
Portanto (T̃ )−1 ◦T é uma translação que fixa o ponto A e, pela Proposição 3.1.3,
(a) (b)
(c)
3.3 Exemplo
Podemos usar o geogebra para simularmos como seria o corredor de leões do Portal de
Ishtar, a partir de translações de uma imagem inserida no Geogebra4 , como na Figura 3.8.
Para isso, utilizamos a ferramenta translação por um vetor para gerar a imagem da figura
original transladada por um vetor ~v , de modo que a translação do primeiro leão seja
4
Para inserir uma figura no Geogebra, utilize a ferramenta Inserir Imagem
3.3 Exemplo 23
sobreposta ao segundo leão da figura original, como se pode ver na Figura 3.9.
Ao fazermos translações sucessivas das imagens pelo mesmo vetor ~v , obtemos uma sucessão
de leões, como no Portal de Ishtar, conforme Figura 3.10.
4 Rotação
Estudaremos neste capı́tulo as rotações. Na obra Lizard (Lagarto), de M.C. Escher, que
se encontra na página anterior, podemos ver imagens de diversos lagartos rotacionados.
Maurits Cornelis Escher nasceu em Leeuwarden, Holanda, em 1898, e é um dos mais
famosos artistas gráficos do mundo. Em uma visita a um castelo mouro do século XIV,
em Granada, na Espanha, Escher ficou fascinado pela divisão regular do plano presente
nos mosaicos do castelo e isto foi o ponto de partida para uma série de trabalhos, fei-
tos em xilogravuras e litografias, que apresentam enorme riqueza em termos geométricos
e artı́sticos, e onde podemos encontrar não apenas rotações, mas todos os tipos de si-
metrias do plano. Porém, no preenchimento de superfı́cies, Escher substituı́a as figuras
abstrato-geométricas, usadas pelos árabes, por figuras concretas, perceptı́veis e existentes
na natureza, como pássaros, peixes, pessoas, répteis, etc, como na obra Peixes voadores,
apresentada na Figura 4.1.
Antes de definimos rotação temos que determinar uma orientação para os ângulos do
plano. Os ângulos com medida positiva serão aqueles orientados no sentido anti- horário,
e os com medida negativa aqueles orientados no sentido horário.
4.1 Descrição das rotações 26
Definição 4.1.1. Dados um ponto O do plano e um número real α pertencente ao in-
tervalo −π < α ≤ π, a rotação de centro O e ângulo α é a função f que fixa o ponto O
e associa a cada ponto P do plano, P distinto de O, o ponto f (P ) pertencente à circun-
ferência de centro O e raio OP e tal que a medida do ângulo orientado ]P Of (P ) é igual
a α.
Prova: Seja RO,α uma rotação de centro O e ângulo α. Para mostrarmos que
se trata de uma transformação do plano, basta mostrarmos que se trata de uma trans-
formação bijetora ou, equivalentemente, que é uma transformação invertı́vel. Observe
então que a rotação RO,−α é a inversa de RO,α .
Definição 4.1.2. Seja α ∈ R, existe um único real α̃ ∈ ]−π, π] tal que α = α̃ + 2kπ, para
algum inteiro k. Definimos a rotação de centro O e ângulo α como sendo RO,α = RO,α̃ .
e que
medida(]P OP 0 ) = β , medida(]P 0 OP 00 ) = α. (4.2)
P0
P 00
P0
α β
α
β O
O
α + β − 2π
P
P P 00
(a) (b)
= α + β. (4.3)
Segue de (4.1), (4.2) e (4.3) que P 00 = RO,α+β (P ). Portanto RO,α ◦ RO,β = RO,α+β .
= α + β − 2π. (4.4)
e, como pela Definição 4.1.2, RO,α+β−2π = RO,α+β , segue que RO,α ◦ RO,β = RO,α+β .
4.1 Descrição das rotações 28
iii. Suponha −2π < α + β ≤ −π. Este caso é análogo ao anterior, diferindo apenas na
orientação dos ângulos e no fato de que
medida(]P OP 00 ) = α + β + 2π,
Finalmente, se α, β ∈ R, então
α = α̃ + 2k1 π
β = β̃ + 2k2 π,
e que já provamos o resultado para os valores α̃, β̃ ∈ ]−π, π]. Portanto, da Definição 4.1.2
e do resultado para α̃, β̃, segue que
= RO,α̃+β̃
= RO,α̃ ◦ RO,β̃
= RO,α ◦ RO,β .
= RO,α+β
= RO,β+α
= RO,β ◦ RO,α .
4.1 Descrição das rotações 29
Como já sabemos, da Proposição 4.1.1, que as rotações são transformações do plano, segue
que formam um subgrupo abeliano do grupo de transformações do plano. Resta-nos mos-
trar somente que se tratam de isometrias, isto é, que preservam distâncias. Para isso, con-
sidere uma rotação RO,α e dois pontos quaisquer do plano, P e Q. Sejam P 0 = RO,α (P ) e
Q0 = RO,α (Q). Temos então que
e que
medida(]P OP 0 ) = α e medida(]QOQ0 ) = α.
Observe que, se P ou Q forem iguais a a O, então (4.5) já garante que d(P 0 , Q0 ) = d(P, Q).
Suponha então que os pontos P e Q sejam distintos de O. Precisamos considerar dois
casos:
Q0
0
P Q
P
α α
O α
O
P Q Q 0
P0
Q0
P0
α
α
Q
O
P
Figura 4.4: Se P , Q e O forem não colineares.
o que nos diz que RO,α é uma isometria e conclui a demonstração da proposição.
(a) (b)
(c) (d)
4.3 Exemplo
Neste exemplo, usaremos o geogebra para redesenhar uma das “divisões regulares do
plano” feitas pelo artista holandês M. C. Escher. Para isso, após inserir a imagem de
um dos lagartos, criamos um ponto O, que será o centro da rotação, e o ângulo θ que
foi criado com a ferramenta Seletor ou Controle Deslizante 1 , como mostra Figura 4.6(a).
Em seguida, usamos a ferramenta Rotação em Torno de um Ponto por um Ângulo para
rotacionar o lagarto em torno do ponto O de θ = 60◦ , como ilustra a Figura 4.6(b). Feito
isso, podemos mover o seletor θ, de modo a obtermos a imagem do lagarto pela rotação
1
Um seletor é a representação gráfica de um número livre, isto é, um valor escalar que pode ser
“movido”, com o uso da ferramenta mover.
4.3 Exemplo 32
de qualquer ângulo, em particular dos ângulos 120o , 180o , 240◦ e 300◦ , que são os ângulos
que geram os demais lagartos da obra de Escher, como podemos ver na Figura 4.6.
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
5 Reflexão
Neste capı́tulo, estudaremos as isometrias denominadas reflexões (em relação a retas).
A obra Narciso, de Caravaggio, que se encontra na página anterior, apresenta Narciso
contemplando sua imagem refletida nas águas de um lago. O belı́ssimo efeito de reflexão
foi conseguido através do trabalho de perspectiva e pelas nuances da relação luz e sombra,
claro e escuro, que caracterizou fortemente a obra do autor. Michelangelo Merisi da
Caravaggio nasceu em Milão e se destacou como o primeiro grande pintor barroco italiano.
Esta obra se encontra em exposição na Galleria Nazionale d’Arte Antica, no Palazzo
Barberini, em Roma [7].
As reflexões são consideradas por alguns autores o tipo mais importante de isometrias do
plano. Esta importância se dá pelo fato de podermos obter qualquer isometria do plano
usando somente reflexões.
t
P
A
s
P0
Proposição 5.1.1. Toda reflexão em relação a uma reta s é uma transformação do plano.
Ls (Ls (P )) = Ls (P ) = P.
Por outro lado, se P não for ponto de s, pela observação anterior (que se P 0 é o reflexo
de P , então P é o reflexo de P 0 ), temos que, se P 0 = Ls (P ), então Ls (P 0 ) = P . Logo,
Ls (Ls (P )) = Ls (P 0 ) = P.
Proposição 5.1.2. Toda reflexão em relação a uma reta s é uma isometria do plano.
Ls (P ) = P e Ls (Q) = Q,
logo,
d(Ls (P ), Ls (Q)) = d(P, Q).
ii. Suponha agora que P pertença a s e Q não pertença s. Temos então que
Ls (P ) = P e Q0 = Ls (Q) 6= Q.
5.1 Descrição das reflexões 37
Sendo A o ponto de interseção entre o segmento QQ0 e a reta s dada, temos que s é
a mediatriz de QQ0 . Portanto os segmentos AQ e AQ0 são congruentes, os ângulos
QAP e Q0 AP também são congruentes (ambos retos) e o segmento P A é comum
(veja Figura 5.2(a)). Logo, pelo caso de congruência L − A − L (lado, ângulo, lado)
os triângulos 4P QA e 4P Q0 A são congruentes, e portanto
Q Q
P B s
A s
A
P
Q0 0
Q0
P
(a) P pertence a s. (b) P e Q não pertencem a reta s.
P 0 = Ls (P ) 6= P e Q0 = Ls (Q) 6= Q.
Da parte (ii) acima, sabemos que os triângulo BAP e BAP 0 são congruentes e por-
tanto os segmentos P B e P B 0 são congruentes e também o são os ângulos ∠ABP
e ∠ABP 0 . Como os ângulos ∠QBP e ∠Q0 BP 0 são complementares a ∠ABP
e ∠ABP 0 , respectivamente, segue que o ângulo ∠QBP é congruente ao ângulo
∠Q0 BP .
Prova: Pela Proposição 5.1.2 temos que d(B, P ) = d(B, P 0 ), além disso, sabe-
mos da demonstração desta mesma proposição, que os triângulos ABP e ABP 0 são con-
gruentes. Logo, a medida do ângulo (orientado) ]ABP 0 é −α (o sinal negativo justifica-se
pelo fato de P e P 0 estarem em semiplanos distintos), e portanto:
= −α + (−α)
= −2α
Teorema 5.1.1. Sejam RO,α uma rotação de centro O e ângulo α, então existem duas
retas r e s, tais que
RO,α = Lr ◦ Ls .
qualquer que seja o ponto Q do plano. Dividiremos essa demonstração em três casos:
5.1 Descrição das reflexões 39
Q00 r Q00 r
P0 B
Q Q
α
s α A s
+β
2 α 2
2 Q0 β
O P O β
Q0
(a) (b)
Q0 = RO,−2(− α ) (Q),
2
ou seja,
Lr (Ls (Q)) = RO,α (Q).
= RO,2β+α (Q0 )
= RO,α (Q)
5.1 Descrição das reflexões 40
Teorema 5.1.2. Seja T~v uma traslação por um vetor não nulo ~v , então existem duas
retas paralelas r e s, tais que
T~v = Lr ◦ Ls .
T~v = Lr ◦ Ls .
Seja Q um ponto qualquer do plano e m a reta que passa pelo ponto Q e é perpendicular à
reta s. Então a reta m será paralela à reta que contém o segmento P P 0 (veja Figura 5.4).
Fixaremos orientações nessas retas de modo que os segmentos orientados dessas retas te-
−→
nham medida (orientada) positiva se tiverem a mesma orientação do vetor P P 0 e negativa,
caso contrário. De modo que a medida(P P 0 ) = d (> 0) e medida(P 0 P ) = −d (< 0).
s r
d
2
P P0
d d
x x 2
−x
2
−x
Q A Q0 B Q00 m
x = medida(QA).
= 2x + d − 2x
= d.
ou seja,
Lr ◦ Ls (Q) = T~v (Q) .
Teorema 5.1.3. Toda isometria do plano f pode ser obtida através da composição de
uma translação, seguida de uma rotação e, eventualmente, seguida de uma reflexão.
C∗
B
C
A A∗
Figura 5.5: As imagens de A, B e C pela isometria f : A∗ , B ∗ e C ∗ .
5.1 Descrição das reflexões 42
Sabemos, pelo Corolário 2.1.1, que duas isometrias do plano são iguais se coin-
cidem em três pontos distintos e não colineares. Usaremos este resultado para demonstrar
o Teorema. Para isso, determinaremos uma translação T , uma rotação R e, se necessário,
uma reflexão L, de tal forma que L◦R◦T coincida com f nos pontos A, B e C, concluindo
então que
L ◦ R ◦ T = f.
−→
Sejam ~v =AA∗ e T = T~v a translação na direção do vetor ~v . Denotemos, agora,
por A0 , B 0 , C 0 as imagens de A, B e C pela translação T , conforme a Figura 5.6,
A0 = T (A) = A∗
B0 = T (B)
C0 = T
(C) .
B∗
C∗
B B0
C C0
A ~v A0 A∗
Pela Proposição 3.1.2 sabemos que a translação é uma isometria do plano, logo
B 00
∗
C 00
C
B B0
θ
C C0
A A00 A∗
←→
(i) Se o segmento A∗ C 00 estiver no mesmo semi-plano determinado pela reta A∗ B ∗
que o segmento A∗ C ∗ , então necessariamente os segmentos coincidem, e portanto
C 00 = C ∗ . Nesse caso, teremos que
R ◦ T (A) = A∗ = f (A)
R ◦ T (B) = B ∗ = f (B)
R ◦ T (C) = C ∗ = f (C),
(ii) Se o segmento A∗ C 00 estiver no semi-plano oposto (veja Figura 5.8), então o triângulo
A∗ C 00 C ∗ é isósceles e, sendo M o ponto de intersecção do segmento C 00 C ∗ com a reta
←→
A∗ B ∗ , então temos que o segmento A∗ M é bissetriz do triângulo (pois ∠C 00 A∗ B ∗ é
congruente a ∠C ∗ A∗ B ∗ ) e portanto é também altura e mediana.
5.2 Reflexão no Geogebra 44
00
B∗ B
M C 00
C∗
B
C
A∗ A00
A
←→
Logo C ∗ C 00 é perpendicular à reta A∗ B ∗ e C 00 M é congruente a C ∗ M . Isto significa
←→
que a reflexão em torno da reta A∗ B ∗ , L = L ←→ , leva C 00 em C ∗ . Observe ainda
A∗ B ∗
que L(A∗ ) = A∗ e L(B ∗ ) = B ∗ e portanto
L ◦ R ◦ T (A) = L(A∗ ) = A∗ = f (A)
L ◦ R ◦ T (B) = L(B ∗ ) = B ∗ = f (B)
L ◦ R ◦ T (C) = L(C 00 ) = C ∗ = f (C),
Corolário 5.1.1. Toda isometria do plano pode ser obtida através da composição de até
cinco reflexões.
Descrevemos nesta seção como utilizar a ferramenta Reflexão em Relação a uma Reta
no aplicativo Geogebra. Essa ferramenta permite construir a imagem de um objeto (ou
conjunto de objetos) por uma reflexão em relação a uma reta. Suponha que tenhamos
construı́do um triângulo T e uma reta r, como na Figura 5.9(a), e que desejamos criar a
imagem de T pela reflexão Lr . Para tal, selecionamos a ferramenta Reflexão em Relação
5.3 Exemplo 45
a uma Reta, como na Figura 5.9(b). A seguir, primeiramente selecionamos o objeto a ser
refletido (no caso, o triângulo) e, depois, clicamos na reta r que será a reta de reflexão.
Será criada automaticamente a imagem do triângulo pela reflexão, como na Figura 5.9(c).
(a) (b)
(c)
5.3 Exemplo
Neste exemplo, usaremos o geogebra para fazer uma montagem com a obra O Narciso
de Caravaggio. Após inserir a imagem, criamos uma reta r que usaremos para refletir a
parte superior da imagem como mostra Figura 5.10.
5.3 Exemplo 46
Em seguida, inserimos uma nova imagem, onde só aparece a parte superior da
imagem original1 , conforme a Figura 5.11:
[1] ALVES, Sérgio & GALVÃO, Maria Elisa Esteves Lopes. Um estudo geométrico das
transformações elementares. São Paulo, IME-USP, 1996.
[4] LIMA, Elon Lages. Isometrias. Coleção do Professor de Matemática. 2a ed. Rio de
Janeiro, SBM, 1996.