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A dimensão ético-política

A FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL

A ética é o ramo da Filosofia que analisa as questões que decorrem das nossas ações terem consequências que
afetam as outras pessoas, os animais não humanos ou mesmo os seres sencientes em geral. Tenta responder à
questão: “Como devo agir?”

As teorias éticas deontológicas (do grego deontos – dever) classificam o valor moral de uma ação em função das
intenções e propósitos com que ela foi realizada.

As teorias éticas consequencialistas classificam o valor moral de uma ação em função das suas consequências.

A TEORIA ÉTICA DE KANT

A ética kantiana é uma ética deontológica. Segundo ela, só é correto atribuir um valor ético às ações em função da
intenção do seu agente, porque só ela, e não as consequências das nossas ações, pode ser controlada pela nossa
vontade.

Para Kant, a única motivação moralmente boa para as nossas ações é o cumprimento do dever.

Uma ação praticada por dever é aquela que praticamos quando motivados pela ideia de que esse é o nosso dever.
Distinta desta é a ação conforme ao dever, que consiste em fazer o que coincide com o que o dever manda, mas
motivado por outra razão.

Para nos orientar sobre que modos de identificar o nosso dever são moralmente corretos, Kant apresenta o imperativo
categórico, um mandamento a que devemos obedecer, seja quais forem as circunstâncias, simplesmente porque
somos seres racionais que têm uma dignidade especial, e, logo, a obrigação de seguir os mandamentos que exprimem
essa dignidade e racionalidade.

Os imperativos hipotéticos são os mandamentos que devemos seguir apenas na condição (hipótese) de isso nos
permitir obter algo mais. Não fazem parte da ética kantiana, pois não têm a ver com o dever.

O imperativo categórico tem diferentes formulações:

- Age de modo a que possas desejar que a máxima da tua ação se torne uma lei universal. A máxima da ação é um
princípio do tipo “Age de modo X”, em que X é o tipo de ação sobre o qual estamos a refletir se devemos praticar.
Devemos perguntar se concordaríamos com uma situação em que todos consideram bom agir desse modo.

- Trata sempre as pessoas como fins em si, nunca como meros meios. Tratar alguém como um mero meio é usá-lo
como um objeto que nos permite alcançar o que verdadeiramente queremos. Tratar alguém como um fim em si é
tratá-lo reconhecendo que ele é uma pessoa com dignidade individual, e não com a finalidade de chegar a algo (o
verdadeiro fim).

CRÍTICAS À ÉTICA KANTIANA

Não resolve conflitos entre deveres: a teoria não nos permite decidir no caso de o dever, pelo imperativo categórico
e a regra da generalização, nos obrigar a uma ação e a outra incompatível com ela, pois os deveres são sempre
categóricos.

Desculpa a negligência bem-intencionada: ignorar as consequências das ações para a sua classificação moral é
contraintuitivo quando o agente, apesar de uma intenção boa, a do cumprimento do dever, é tão descuidado que
origina consequências desastrosas devido à sua incompetências e ignorância.

Ignorar o papel das emoções na moralidade: a teoria considera moralmente irrelevantes os aspetos emocionais das
nossas ações, sentimentos como a piedade, a generosidade, que, para algumas pessoas, são claramente morais.
A TEORIA ÉTICA DE MILL

O utilitarismo é uma teoria é tica consequencialista, pois considera que são as consequências da ação que determinam
se esta é moralmente correta.

A felicidade é o único bem com valor intrínseco e consiste no prazer e na ausência de dor. Só a felicidade tem para nós
valor em si mesma e consiste em ter o maior número de experiências de prazer e o menor de experiências de dor (mas
há prazeres superiores, os de ordem intelectual, e prazeres inferiores, os de ordem mais física; devemos preferir nos
superiores).

O princípio da maior felicidade (ou da utilidade): as ações são boas na medida em que maximizam a felicidade (gerar
o prazer mais intenso possível para o maior número de pessoas possível).

Faz parte do utilitarismo um cálculo de ganhos e perdas relativamente às consequências prováveis de cada ação,
determinando-se com base nelas o valor moral da ação.

CRÍTICAS AO UTILITARISMO

Objeção do criminoso avarento: se aceitarmos o utilitarismo, alguém claramente mal-intencionado terá agido
corretamente ao ter o azar da sua ação corre mal e tiver consequências benéficas que não foram por si desejadas, e o
mesmo para alguém bem-intencionado cuja ação, contra o previsto, gera apenas sofrimento.

A resposta utilitarista é distinguir entre afirmar que alguém é bom ou mau e dizer o mesmo de uma ação sua.

Males sem prejuízo: algumas ações são más (ou boas) mesmo quando os visados por elas não experimentam as
consequências más (ou boas) dessas ações. Mas não poderão ser consideradas más (ou boas) segundo o utilitarismo.

Os benefícios de sacrificar: segundo o utilitarismo, seria moralmente correto provocar muito sofrimento a uma pessoa
se daí resultasse poupar-se mais do que uma a igual sofrimento, pois o cálculo da utilidade de tal ação teria saldo
positivo (por exemplo, aceitar matar alguém numa situação em que, se não o fizermos, morrerão várias pessoas).

Objeção da máquina do prazer: a identificação entre felicidade e prazer leva a concordar que alguém a quem
possibilitam ter continuamente experiências de prazer artificialmente criadas por uma máquina está a ter uma vida
feliz e boa.

Problemas no cálculo da utilidade:

 Pressupõe que prazeres e dores de tipos variáveis, sentidos de modos diversos por pessoas diversas, podem
ser reduzidos a alguma escala puramente numérica, para calcular se o saldo é positivo ou negativo.
 Pressupõe que podemos saber quais serão as consequências prováveis das ações, quando, na prática, não o
sabemos, especialmente no caso das consequências a longo prazo.

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