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Fichamento do livro:

GOMES, Núbia Pereira e PEREIRA, Edimilson de A.. “Mato do Tição: Isolados Negros, Desolados
remanescentes.” In: Mundo encaixado: significação da cultura popular. Belo Horizonte: Mazza,
1992

Introdução (fragmentos...)

Metodologia do livro: pesquisa in loco (com aplicação de questionários, entrevista e diálogo


livre); pesquisa por correspondência, pesquisa bibliográfica, registro fotográfico e organização
de arquivos por assunto.

Base teórica interdisciplinar, várias áreas do conhecimento.

Sobre a ambiguidade da cultura popular. Os autores nos falam que “a cultura popular só se
define em relação à outra instância, da qual difere: o modelo cultural erudito – dentro de uma
condição histórica determinada. A transmissão dos conhecimentos populares pela tradição
(muitas vezes só oral) mantém a força do passado e do conservadorismo. Essa permanência de
valores antigos também se liga ao fato de a cultura popular adotar esquemas tradicionais do
modelo dominante, e seria impossível que tal não ocorresse, já que o modelo alternativo se
elabora a partir do modelo hegemônico. A cultura popular apresenta uma dupla face
conservadora, pois sustenta a transmissão de sua própria herança cultural adquirida dos
antepassados e adota valores da tradição dos grupos dominantes. Mas há um outro lado nesse
processo, quando o povo recria a partir do modelo imposto, modificando-o, refazendo-o,
dando-lhe nova perspectiva: essa é a ação dinâmica da cultura popular. A convivência do
conservadorismo e do dinamismo reforça a complexidade da cultura popular” (págs 22 e 23)

Ver Luigi Sartriani (antropólogo italiano) que analisa as culturas subalternas - “ao mesmo
tempo que protesta contra o modelo imposto, a cultura popular se deixa prender por ele,
apresentando-se funcionalmente como contestadora e entorpecida (ou resistente e vencida)”
(pág 23)

Forças antagônicas

Parte IV

Mato do Tição: Isolados negros, desolados remanescentes

Introdução

Tendência em ver uma uniformidade entre os negros brasileiros (interpretando uniformidade


cultural como identidade cultural), sem levar em conta os múltiplos aspectos que orientam a
interação e a transformação dos grupos humanos.
“A abordagem simultânea de estruturas culturais africanas e brasileiras amplia as perspectivas
de compreensão de muitos fenômenos em ambas as sociedades; no entanto, é preciso
reconhecer que há nesses fenômenos regras internas que os direcionam para uma
interdependência e uma independência simultâneas” (p. 279)

“Os níveis de igualdade entre grupos sociais não são estabelecidos apenas pela conjunção de
fatores étnicos e culturais. A própria dinâmica desses fatores atribui-lhes inúmeras
possibilidades de reorganização, gerando o que se poderia entender como igualdade em
diferença.” (p. 280)

“No Brasil e em África as culturas tradicionais sustentaram-se sobre fragmentos de si mesmas,


adaptando-se a condições específicas de tempo e espaço. ” (p 280)

“No Novo Mundo o colonialismo forjou um modelo social estratificado, impondo aos africanos
cativos e aos seus descendentes brasileiros a vivência na marginalidade.” (p 280)

“O olhar sobre a cultura afro-brasileira depara-se com uma verdade factual nem sempre
acompanhada por uma reflexão teórica abrangente e relativizada: abrangente enquanto
tentativa de comparar os diferentes modelos culturais, e relativizada enquanto percepção das
particularidades de cada modelo investigado. Sob certos aspectos, a própria cultura atua como
força relativizadora de eventos desencadeados pelo homem. Diante do tronco de uma árvore,
é provável que sejam dessemelhantes as intenções manifestadas pelo habitante de uma aldeia
de pescadores e outras manifestadas por um homem dedicado à criação de rebanhos. Entre a
possibilidade de construir uma canoa e a de erguer a cerca que evite a fuga do rebanho
delineam-se diferenças que não são apenas de ordem objetiva: em torno das intenções de
utilização do tronco da árvore se desenvolvem modalidades específicas de percepção do
mundo, voltadas para a consolidação de estruturas culturais também específicas (p 280 -
281)”

“Entre os negros contemporâneos e os antepassados, entre os negros brasileiros e os africanos


estão inscritos pontos de aproximação e distanciamentos responsáveis por um quadro
histórico-cultural enigmático, ou seja, aqueles em que a comunidade negra procura construir
sua identidade baseada nos fragmentos do passado e do presente.” (p 281)

“É na vivência da comunicação social – que consolida tradições, descobre rupturas e aponta


mudanças – que os agrupamentos negros contemporâneos se definem por traços específicos e
se ligam a heranças comuns dos antepassados” (ROWLAND, 1987:8 – citado no livro)

Visão do pesquisador e do pesquisado

“Na comunidade negra do Mato do Tição – situada em Jaboticatubas, MG – alguns moradores


julgam que o passado foi o tempo melhor, apesar de não haver luz elétrica e sequer estrada
que ligasse o povoado à cidade. Mato do Tição era o melhor lugar do mundo: as histórias e as
festas preenchiam o espaço da fé, dando sentido à vida quotidiana.” (p.283)

“ (...) os mesmos moradores afirmam que o ferro elétrico é mais prático e confortável que o
antigo ferro a brasa, que a estrada – aberta recentemente – seria mais segura se possuísse
iluminação. Ao pesquisador paracerão incoerentes e desencontradas tais opiniões, mas cabem
inteiramente na visão mítica dos habitantes do Mato do Tição. A ambiguidade simbólica que
fundamenta o sagrado – permitindo a convivência do Cristo, mártir cristão, e do conga da
Umbanda – impregna o sentido da vida diária” (283)

Estudo do sagrado

No Brasil, Catolicismo – modelo dominante

Outras experiências do sagrado – submodelos

Matição – mescla do modelo e submodelo

“A comunidade do Mato do Tição constitui-se a partir da fragmentação: se há o retorno ao


tempo da totalidade ancestral, este é vivido no rito, não sendo questionado pragmaticamente.
A perda do passado é angústia para o pesquisador e não para o pesquisado: o primeiro indaga
ao sagrado aquilo que o segundo recebe como sabedoria vivida. Se os olhos do pesquisador
são os da História, o olhar dos negros citados não desaprendeu a leitura do sagrado, que
possibilita o êxtase da fé. A escrita do mundo sob a perspectiva do sagrado rompe o
imediatismo da História e reinaugura a volta ao passado: aí, junto aos antigos, o negro
contemporâneo, passageiro da fé, busca sua identidade em diferença. Ele já não é igual aos
ancestrais, mas pode chegar até eles através do discurso sagrado, fechado aos estranhos,
semi-aberto para os iniciados.” (p. 284)

Simultaneidade entre o homem arcaico e o homem moderno – nesse caso simbolizados pelo
homem do campo e o pesquisador.

“Em Mato do Tição observamos essa ambiguidade, quando o homem, sabedor dos mistérios
religiosos, participa também, como ser histórico, de uma sociedade tecnicista e pragmática.”
(p 285)

“(...) aquilo que o pesquisador entende como seu discurso sobre a cultura do Outro é, em
grande parte, a sua construção sobre as construções de outras pessoas. ” (GEERTZ. Ver
também Gilberto Velho – observando o familiar)

Confronto de subjetividades – antropologia social como ciência interpretativa

“A intepretação é elaborada na situação real, quando surgem os dados não-previstos, as


diferenças e especificidades que tornam o agrupamento analisado este e não qualquer outro”
(285)

“A realidade, familiar ou exótica, sempre é filtrada por um determinado ponto de vista do


observador, ela é percebida de maneira diferenciada. Mais uma vez não estou proclamando a
falência do rigor científico no estudo da sociedade, mas a necessidade de percebê-lo enquanto
objetividade relativa, mais ou menos ideológica e sempre interpretativa” (VELHO, 1978: 41)

Dispersão das culturas africanas no Novo Mundo

A diáspora africana demonstra a mobilidade das culturas


“O confronto com o modelo dominante do senhor, católico por conveniência e colonizador
por consequência política, fez com que a tessitura social africana sofresse uma rearticulação
acentuada. Se os grupos escravizados perderam traços culturais imediatamente perceptíveis,
configurando uma disjunção de elementos sociais aparentes (organização política e familiar),
não podemos dizer que tenha ocorrido o mesmo com os elementos simbólicos do sagrado.
Estes, além de serem exteriorizados nos ritos, compõem um sistema simbólico subjacente às
manifestações concretas no mundo. O sagrado dos negros cativos, relegado à condição de
submodelo de crença, apropriou-se de espaços psicossociais que a nova ordem demandava.”
(p. 286)

“Entre os obstáculos à sobrevivência, os negros da diáspora e seus descendentes tiveram de


enfrentar o esquecimento, nascido da violência a que foram submetidos e da falta de
referências que ligam o presente às experiências passadas” (p. 287)

“A inserção dos negros na lógica da sociedade dominante não representou o estrangulamento


do seu arcabouço sagrado. Os labirintos do inconsciente registram e fundamentam as
sobrevivências sociais e, através delas, as metamorfoses culturais se justificam perante o
próprio homem.” (287)

“Mato do Tição é hoje um relicário, lugar onde se guardaram expressões do passado, algumas
das quais tão arcaicas que beiram a visão de mundo experimentada em outros tempos.
Simultaneamente, os habitantes de Mato do Tição se projetam na fragmentação do presente,
embarcados como agentes periféricos de uma sociedade com grandes contradições” (287)

“O negro religioso – que aqui aproximamos do homem arcaico pela inserção no tempo mítico
– apreende seu conhecimento através do sagrado; o homem moderno – que se vale da
irreversibilidade da História – debate-se no espaço do profano, vivendo angustiadamente a
lembrança da totalidade. Em sua ambiguidade, os moradores de Mato do Tição traçam códigos
específicos para a vivência no sagrado e no profano: o sofrimento pela marginalidade social
está impregnado de mágoa, assinalando a surda revolta contra a opressão; o sofrimento pelas
provações religiosas é aceito como percurso iniciático, é o fardo que o homem religioso
carrega para chegar à plenitude.” (287)

“A dispersão das culturas africanas não destruiu uma das características mais sutis do sagrado:
sua dinamicidade interna, que corporifica a intenção humana de afirmar-se socialmente. Nesse
momento, se complementam o discurso histórico e o discurso simbólico: no primeiro o
homem vive a transitoriedade do profano, receoso de perder definitivamente sua casa e sua
crença; as competições sociais empurram-no para o centro dos conflitos ou relegam-no à
obscuridade das periferias. Com o discurso do simbólico, evidenciador do sagrado, o homem
se realimenta de forças primordiais constituídas fora do profano e dotadas de vitalidade
inesgotável.” (287)

2 – COMUNIDADE DE MATO DO TIÇÃO

O negro nas Minas Gerais

Irmandades marcam a vivência religiosa do negro em Minas Gerais.


História da capitania – por volta de 1711 – ouro chamara ao interior homens das mais diversas
procedências.

“Aos negros, trazidos como escravos, a constância dos esforços e as péssimas condições de
trabalho significavam ameaças à sobrevivência. Aviltados econômica e socialmente, viam-se
proibidos de manter os rituais da terra de origem: os proprietários cerceavam a vivência do
sagrado dos negros, em conformidade com as medidas repressivas do Estado e da Igreja.

Quando as vilas se instalaram, a conduta religiosa da capitania já se organizara em torno das


irmandades. Em Mariana e Vila Rica atuavam as irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos
Homens Pretos; em Sabará, as de Santa Quitéria e Santíssimo Sacramento; em São João Del
Rei, as de Nossa Senhora do Rosário e Santíssimo Sacramento. Como se observa, a sociedade
mineira à época reduplicava, no campo da fé, suas diferenças étnicas: Nossa Senhora do
Rosário para negros escravos ou forros, Santíssimo Sacramento para homens brancos.” (p.
289)

“Nessa época – tal como hoje em Minas – o culto a Nossa Senhora do Rosário encontrava na
população de negros e desclassificados sociais o seu alimentador essencial.”

“As associações religiosas reduplicaram a estratificação social dos grupos que formavam as
Minas Gerais; desse modo, brancos, negros e mulatos se reuniam em torno de irmandades
separadas, que rivalizavam entre si. (...) as irmandades de negros reforçavam a hierarquia do
preconceito social e racial, pois diferenciavam negros brasileiros (crioulos) e africanos, vetando
aos últimos o direito de exercerem cargos nas mesas diretoras das associações; o crioulo
estava situado acima do africano na escala hierárquica dos líderes das irmandades religiosas.”
(p. 290)

“A separação étnica e social que caracterizou as irmandades nos alerta para outras intenções
do caráter político, sutilmente manipuladas pelo Estado português nas Minas Gerais, na
medida em que a integração do escravo à religião do senhor era forjada através de seu
ingresso nas irmandades. A Igreja, ligada ao Estado, procurava inibir os rituais de procedência
não católica, levando os negros à pia batismal”

Mesmo nas irmandades dos devotos de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa
Efigênia observamos a restrição imposta à atuação os homens de cor. Os cargos deliberativos
das irmandades (...) eram exercidos por brancos letrados, o que denuncia a inferioridade social
dos cativos e a presença dissimulada do Estado e da Igreja junto à fé dos negros.” (290-291)

Sob outra perspectiva, as irmandades se reabilitavam como locais de vitalidade de heranças


africanas em Minas. Atendia aos filiados (com celebração de missas, sepultamentos,
assistência aos enfermos) e permitiram ao homem de cor subir nos labirintos da sociedade
mineira.

A sociabilidade consiste numa “das resistências maiores que o escravo opõe à escravidão: pois
para tornar escravo um homem, cumpre anular seus laços sociais prévios, na tentativa de fazer
do senhor único elo do escravo com o mundo (Manuela Carneiro da Cunha, 1988)”
“A sociabilidade do negro no interior das irmandades manteve-se graças à reelaboração de
mitos, crenças e percepções de mundo. Através da dinâmica do sagrado, o negro rearticulou
suas tradições, perenizando-as em meio às perspectivas do catolicismo dominante.” (p. 291)

O sítio de Mato do Tição

Limites histórico-sociais

A comunidade é constituída por membros da família Siqueira.

Situada em Jaboticatubas, a cerca de 4Km da sede do município

O município pertence à zona metalúrgica de MG e abrange uma área de 1124 Km (quadrados?


– confirmar informações no plano diretor atual do município)

Na época da pesquisa desse livro, a população era de cerca de 11.842 habitantes, sendo que
8198 viviam na zona rural e 3644 na área urbana.

O município era parte da antiga Estrada do Serro (que fazia ligação de Sabará com a cidade de
Serro Frio, muito importante para a capitania)

(ver história da ocupação do município, com relação com o recolhimento de Macaúbas –


páginas 292 e 293)

“Nas proximidades do recolhimento de macaúbas desenvolveram-se as primeiras habitações


da cidade de Jaboticatubas. A pecuária e agricultura nortearam o processo econômico
implantado na região. A mão-de-obra escrava forneceu os braços para a lavoura e o pastoreio.
Sobre essa base econômica traçou-se o perfil social da localidade, evidenciando a formação de
uma elite senhorial e o substrato constituído pelos cativos e a população pobre.” (p 293)

(ver na página 293 – “Arraial de Nossa Senhora da Conceição de Jaboticatubas era subordinado
à jurisdição da Paróquia do Santíssimo Sacramento de Taquaraçu de Cima, pertencente a
Caeté (GONÇALVES e COSTA, 1988:25)” “Em 1878 a freguesia da atual cidade de Jaboticatubas
foi desmembrada de Caeté, passando a pertencer ao município de Santa Luzia, na condição de
distrito”)

OBS.: Essa informação pode ser importante, na identificação, e pistas da questão do


documento das terras, em qual cartório está/estava, como foi feita a venda...

O IBGE publicou em 1945 os “Subsídios para o estudo de evolução política de Jaboticatubas –


Formação Administrativa (ver página 293). Formação judiciária (ver página 294). Subdivisão do
território em três distritos: Jaboticatubas, Riacho Fundo e Baldim”

(Ver mapa página 295)

O município de Jaboticatubas, instalado e, 1º de janeiro de 1939. Agropecuária a principal


atividade de ocupação da mão de obra local (obs. Atualmente talvez seja a construção civil,
por causa da grande quantidade de loteamentos de vem surgindo na região nos últimos anos –
turismo da Serra do Cipó, valorização imobiliária da região (aeroporto, cidade administrativa
etc....) – pesquisar isso mais a fundo, deve ter informações no plano diretor.

Agroindústria (produção em larga escala, com auxílio de tecnologia moderna e destinada ao


mercado interno e externo) também muito presente em Jaboticatubas. Contrasta com os
demais hábitos de cultivo da terra no município.

“No passado, os engenhos de cana, movidos por escravos, eram peças importantes no
quotidiano das fazendas; as demais culturas destinavam-se à subsistência de libertos e cativos”
(p 296)

À época de 1986 a 1988, projeto da Empresa Etecco, 1400.000 mudas de café – complexo
industrial com capacidade de beneficiamento de 15000 sacas de café/ano.

“O emprego da tecnologia na cafeicultura (seleção eletrônica dos grãos, controle de qualidade


no processamento final, irrigação, secadores aquecidos por caldeiras) e o espírito empresarial
mudaram as regras de relação entre trabalhador e patrão, entre agricultura de subsistência e
agricultura comercial. Uma parcela considerável dos trabalhadores da região de Jaboticatubas
emprega-se na agroindústria do café, trocando as pequenas lavouras pelo salário mínimo e
carteira assinada. Os laços de paternalismo mantidos entre fazendeiro e empregados estão
sendo substituídos pelo anonimato do trabalhador da agroindústria. A produção, que antes se
voltava para as necessidades familiares e locais, destina-se agora à exportação: a monocultura
do café tem por finalidade abastecer os mercados situados fora dos limites dos agentes de sua
produção.” (p. 296)

A atividade laticinista também atende a objetivos industriais.

“O turismo é fonte em potencial de aproveitamento econômico para Jaboticatubas. A


paisagem natural oferece os maiores atrativos. A região, localizada a 716m de altitude,
comporta a riqueza ecológica de inúmeras cachoeiras, rios e lagos. A Serra do Cipó ocupa lugar
de importância na região, principalmente a partir da criação do Parque Nacional da Serra do
Cipó, em 1984. Dos 33.800 hectares do Parque, cerca de 85% se encontram no município de
Jaboticatubas.” (p.297)

A autora considera a comunidade de Mato do Tição como uma “ilha de vivência do sagrado em
meio à fragmentação moderna” (p 299)

Levantamento jurídico e topográfico

“O sítio de Mato do Tição ocupa uma área de três hectares, incrustada entre as montanhas. A
parte habitada corresponde ao vale, cortado pelo córrego chamado Chico Matias. A vegetação
densa circunda as residências, obrigando os moradores à prática da queimada e derrubada de
árvores para a ampliação das roças ou hortas.

Duas versões explicam a origem do nome Mato do Tição. De acordo com a primeira, o lugar
recebeu essa designação por causa das tochas que os negros acendiam para se aquecerem do
frio das noites e para iluminar o caminho durante a locomoção nas trilhas. Os pequenos
pontos luminosos piscavam longe, ora fixos – denunciando o momento de união em volta da
fogueira – ora móveis, avisando que os negros se deslocavam pelo mato. O tição aceso passou
a ser a característica da região e, ao se referirem ao local e a seus habitantes, as pessoas
diziam “lá no mato do tição”, “lá no matição”.” (página 299)

Segundo Nilce de Siqueira, essa denominação diferenciava as famílias ali constituídas dos
outros moradores da cidade.

A segunda versão era de Divina de Siqueira: “Aqui era uma mata, que num tinha estrada. Nós
navegava num trizinho que tinha nem uns 25 centímetros de largura, só cabia o pé, nem
estrada de cavalo direito num era, era de cavaleero. Era uma mata fechada, com aquele
trizinho dentro, num existia luz, nem de querosene. Usava candeia, usava mesmo o tição. Teve
uma mata e a mata tomô fogo, aí quemô, quemô, quemô e ficô o tição aceso aí pra muito
tempo. Muito tempo ficô esse tição aceso d´uma madeira chamada manelume. Ele quemô
tanto, que tão grosso que era, ficô aceso quemano e ficô com o nome de Mato do Tição” (p
300)

“A família Siqueira tornou-se proprietária definitiva do sítio no ano de 1981. No passado –


ainda no período escravista – os negros cativos viam-se obrigados a constantes mudanças,
quando vendidos a senhores de regiões diferentes. Os ancestrais da família Siqueira –
Constança, Pedro e Rita Basílio – foram transferidos para a posse do coronel Chico Alves,
proprietário da Fazenda de Baixo, situada nas proximidades do atual sítio de Mato do Tição.
Após a abolição, os ex-escravos receberam do senhor as terras que passaram a habitar e na
qual promoveram a ampliação do núcleo familiar. A história de Mato do Tição, como a de
tantos outros negros brasileiros – está enraizada na contradição que envolve o paternalismo e
a opressão da classe dominante” (página 300)

Em 1981 o direito de usucapião em nome dos Siqueira foi reconhecido pela Comarca de
Jaboticatubas (ver documentos página 300 e 301)

Mapa na página 303

“O sítio de Mato do Tição encontra-se dividido entre os membros da família Siqueira. Dois
lotes, que antes pertenciam aos irmãos Julio de Siqueira e Isaura de Siqueira, foram vendidos a
terceiros: com essa operação o sítio de Mato do Tição perdeu sua unidade territorial. A
fragmentação dessa unidade nos permitirá discutir, posteriormente, a experiência social e
religiosa da comunidade de Mato do Tição: entre o sagrado e o profano, o passado e o
presente, a marginalidade e a interação social, a família Siqueira se caracteriza como um dos
importantes redutos da cultura afro-brasileira.” (302)

Os autores falam que, após a lei que aboliu o cativeiro em 1888, os antepassados da
comunidade de Mato do Tição, então libertos, “receberam como data de alforria as terras hoje
pertencentes à comunidade. O doador e ex-senhor não previu que os negros do Mato do Tição
teriam seu patrimônio violado: partes de suas terras foram cercadas por usuários da região,
evidenciando a frágil garantia de posse.” (p 304)
“A terra foi tirado um pouco, vendeno, de uma passo pra outro, foi passano de mão em mão.
Chegô em mão de um fazendeiro que por atividade pediu uma abertura de fazê bebida de
água pra boi. Então dero, porque as coisas era muito difícil, num tinha condição de compra
arame pra cerca. Então deu ele, com mode assim de amizade, o pedaço e cerco.” (Divina de
Siqueira)

A autora afirma que os negros do Mato do Tição têm na vivência do sagrado sua mais sutil e
vigorosa forma de resistência. A descoberta dos antepassados é a fonte de garantia para
manutenção da identidade do grupo.

Residências, à época desta pesquisa não ultrapassava 15. Contruídas de adobe, pequeno
porte, agua potável vinda de cisternas, sem rede de esgoto, utilização de fossas.

As residências situam-se às margens da estrada que conduz a São Sebastião do Campinho,


guardando certa distância umas das outras (àquela época)

Vias de acesso, terra batida

Em épocas anteriores foi maior o isolamento, pois não havia a estrada para São Sebastião do
Campinho.

Estrada sem iluminação elétrica em todos os pontos.

Utilização de lanternas

Moradores percorriam à pé os caminhos da região, caronas circunstanciais. Atalhos utilizados


com frequência.

“Durante os festejos religiosos os habitantes de Mato do Tição transformam os caminhos do


profano em sendas do sagrado; nesses momentos, o homem supera as dificuldades materiais
do lugar e se transporta da cidade terrena para a morada dos entes divinos” (p. 306)

A família Siqueira: origens

As origens da comunidade de Mato do Tição possui influências de negros, índios e brancos.

Lado paterno: marcado pela presença indígena. Benjamim José de Siqueira era filho de
Marcolino José de Siqueira (“puri” – negro com índio) e Luduvina Maria da Conceição, filha do
senhor branco com uma índia. Esse ramo da árvore familiar herdou a cultura do branco e
deixou esvaziar a influência indígena, pois a família, através de Benjamim, veio a adotar uma
vivência religiosa católica, eivada de ritos onde permanecem, em cânticos, os vestígios da
língua latina. O menino Benjamin, órfão, foi levado por um tio a Taquaraçu de Cima, para
trabalhar como sacristão na casa do padre José Tomaz. “Ali aprendeu os gestos, cânticos, ritos
que hoje – misturados e entranhados pela corrente negra de Josefa Basílio – fazem do Mato
do Tição uma linha sagrada nas cercanias do profano, um elo com o passado e a sacralização
do mundo” (p 306)

(entender por que a autora fala tanto desse sagrado/profano! criticar)


Por parte da mãe, Josefa Basílio, os habitantes conservam os elos com a África (espaço
geográfico da ancestralidade, e com a escravidão, momento histórico de instalação de
resistência)

Através da tia-avó, Constantina Augusta dos Santos, que os filhos de Josefa Basílio aprenderam
os segredos do Candombe, o movimento do corpo afro no Batuque, a alegria e a melodia das
cantigas de roda que animavam a vida nas senzalas.

Acontece no Mato do Tição, segundo a autora, “uma nova visão do sincretismo, como declara
Monique Augras, ao perceber que o negro não assimilou a religiosidade branca para revestir
seus símbolos, mas – muito mais que isso – africanizou os próprios santos dos brancos,
realizando um avesso do sincrestismo que se tem pretendido ver nas manifestações religiosas
de descendentes dos africanos.” (p 307)

“A tentativa de branqueamento ideológico resulta na inversão. São os santos católicos que


acabam colonizados, servindo de porta-voz às divindades africanas” (AUGRAS, 1989:4) – citado
no livro

“as antigas festas de brancos se tornaram propriedades dos negros, que as reescreveram com
a linguagem dos ancestrais” (p 307)

O ancestral mítico: Tia Tança

Constantina Augusta dos Santos – personagem/ancestral de grande importância para a


comunidade do Mato do Tição. Dela veio a força africana que bate os tambores da
comunidade. Todos se lembram da velha Tia Tança, “escrava liberta, catando lenha pela mata
e cantando as melodias que aprendera nas senzalas, durante o Candombe que os escravos
dançavam.

Pouco se sabe sobre a Tia Tança nos tempos de escravidão, no Capão Grosso, na Fazenda de
José Chagas.

A autora fala que a liberdade surpreendeu os negros velhos, que, acostumados com a batida
do trabalho/alimento/abrigo, se viram livres (sem trabalho), esfomeados (sem a comida dada)
e desprotegidos (sem o teto do senhor).

Dante Isaías de Siqueira assim explica a situação dos libertos:

“Diz que os negro velho pegaro foi a chorá por causa da liberdade. Eles num sabia o que fazê,
num tinha pra onde ir, num possuía nada de seu, nem vasilha, nem casa. Podia fazê casa, mas
com quê? Podia saí, mas pra onde? Voltaro pra casa do fazendeiro, o Coronel Chico Alves, que
era o dono deles, chorano, pedino pra ficá. O fazendeiro ficô com pena e falô que eles podia
volta na hora de comê. E eles voltava, os nego velho igual Pedro Basílio e Zé Basílio, que era os
irmão da nossa avó, a Rita Basílio.” (p 308)

Alguns negros encontraram na porta a liminaridade, os espaços mínimos das margens, onde
viriam a recomeçar a história interrompida nas terras de África: a formação da família negra
surgia também ali, no Mato do Tição, quando Benjamin José de Siqueira se casou com Josefa
Basílio. A velha Tança encontrou o lugar de tia-avó, criando os filhos da sobrinha como se
fossem seus próprios meninos. Não os chamava de filhos, mas a todos reservava o tratamento
de “nenego”, palavra que mistura nenê e nego.

Andava com saias largas e amplas.

Guardava na memória alguns cantos negros da senzala. Gostava de tomar cachaça.

O sobrinho Jair – que dela aprenderia o lamento do Candombe e a fala do dialeto africano –
era o amigo, o filho que não teve, o igual que compreendia e amava.

“A vida insistia em ter Tança, varrendo o chão com a roda enorme de suas saias, juntando a
lenha espalhada pelo mato, carregando e banhando os meninos de Josefa: passaram-se cento
e vinte e seis anos desde o dia em que nasceu Constantina Augusta dos Santos.

“Hoje Jair Teodoro de Siqueira, capitão do Candombe de Mato do Tição, trabalha na colheita
de café. E o canto triste do negro sobe de novo nos campos, relembrando a difícil história dos
desaterrados, ontem da África, hoje do próprio Brasil” (p. 310)

Isolados negros, desolados remanescentes

Diferentes tipos de isolamento: geográfico, histórico, social, econômico e o religioso – esses


tipos se inter-relacionam – em ação conjunta, produzem o isolamento geral que sobressai na
identificação de uma comunidade em relação à sociedade envolvente.

A marginalidade do homem negro demarca seus tipos de isolamento. Não lhe basta ostentar o
registro de cidadão para sentir-se parte de uma sociedade na qual os espaços são restritos.

Isolamento geográfico:

“Mato do Tição representa uma face pouco explorada do período pós abolição no Brasil: a
reincorporação social dos ex-escravos nas áreas do interior. De modo geral, as comunidades
rurais brasileiras estão por merecer atenção mais acurada em relação à sua organização; o
imaginário que resguardam é exemplo das visões de mundo que estrutram a existência
humana em níveis diversos.” (p. 312)

Nos centros urbanos, o negro forro deparou-se com possiblidades de trabalho assalariado
(com chances reduzidas devido à desqualificação e concorrência, reduzindo as possibilidades
de adaptação em curto prazo) e a iminência de pauperização e favelamento.

No interior, a ausência da indústria e de outras opções de sustento, houve uma certa


manutenção de antigos laços entre senhor e negro liberto;

As fazendas conservavam os esquemas de trabalho, com o ex-escravo recebendo apenas o


sustento necessário e a moradia;

Diversas comunidades se formaram à sombra dos ex-senhores


“A comunidade de Mato do Tição, afastada do centro do município de Jaboticatubas,
entranhada no interior de Minas, a comunidade é ponto complexo da reconstrução social dos
negros mineiros. Seus habitantes estão inseridos no conjunto maior de uma população pobre
do interior. O grupo se volta para os seus próprios valores e, fechando-se em si mesmo, realça
as contradições locais. O mistério que atrai a curiosidade para chegar até Mato do Tição é o
mesmo que gera receio de visitar o local desconhecido. Isto colabora para acentuar o
isolamento geográfico da comunidade. Os caminhos de acesso são precários, o que aumenta a
duração do percurso. Para alcançar Mato do Tição é necessário transpor a solidão das
montanhas e estradas: o homem que lá se conserva será o desafio maior a ser compreendido.
A geografia que isola a família dos Siqueira é aquela que lhe fornece espaço para a constituição
de um trajeto cultural ameaçado pelo esquecimento.”

Isolamento histórico

O distanciamento geográfico sustenta o isolamento histórico de Mato do Tição.

Há poucas referências históricas sobre a comunidade

A comunidade fica à margem da História (isolado, como um grupo descendente de ex-


escravos)

“As origens do agrupamento não foram investigadas detidamente, o que motiva seu
desconhecimento no presente. Os negros do Mato do Tição são tão somente “os negros lá do
mato”, com suas festas e seus tambores estranhos ” (p. 313)

Ausência de identidade civil no passado dos Siqueira (descendentes de negros e índios)

Os escravos não foram cidadãos constantes nos registros cartoriais; foram mercadorias ou
peças, propriedades alienáveis;

Na atualidade, embora como cidadãos, os Siqueira pertencem à camada subalterna da


sociedade. Suas reivindicações ressoam surdamente na História que se constrói.

A partir da ocorrência chamada nódulo, podemos interpretar o isolamento de Mato do Tição


na historiografia. “Nódulos históricos são reedições de antigos conflitos ocorridos no período
escravista; embora se apresentem como roupagem alterada, são constituídos por impasses
não resolvidos no tempo: os vínculos de tensão e paternalismo entre senhor e escravo se
replicam nos laços entre comerciante rico ou fazendeiro e negro pobre.” (p 314)

Isolamento social

Valores familiares – semelhantes a outros grupos do interior mineiro

Rigidez moral, autoridade dos pais, religiosidade – linhas mestras nas relações interpessoais

Individualidade dos filhos vincula-se estreitamente à experiência dos mais velhos,


estabelecendo uma hierarquia baseada no bom exemplo dos ancestrais.
Isolamento geográfico contribui para o enrijecimento dos padrões comportamentais.

Discrição e a desconfiança indicam que o grupo é um núcleo familiar inserido no contexto da


cidade, mas se articula através de regras próprias.

Casamentos intragrupais comprovam estreitamento de vínculos familiares.

“A gradativa integração da ordem familiar de Mato do Tição à ética moderna das relações
interpessoais – que privilegiam a ação do indivíduo – indicam uma modificação e uma
desagregação dos conceitos religiosos que consolidam os laços familiares. (...) o egresso da
Mato do Tição é o indivíduo pobre, que enfrenta as dificuldades do desclassificado social,
herdeiro do escravismo e afastado do núcleo familiar. Os jovens que emigram para os centros
urbanos se distanciam das celebrações religiosas e se debatem entre a vontade de tornar a
elas e a vergonha de demonstrá-la em sua nova condição de homens citadinos” (p 314)

Isolamento econômico

Precariedade do trabalho dos moradores da comunidade

Jovens da comunidade se deslocam para outras cidades ou se empregam sazonalmente,


acompanhando o fluxo das ofertas de trabalho

Instabilidade

Baixos salários

Atividades de subsistência, como a plantação de roças, eram mais representativas no passado

Alguns (poucos) equipamentos usados pelas moradoras de Mato do Tição – forno, moenda e a
prensa (“fábrica improvisada”)

Produção somente para consumo da comunidade

As mãos das mulheres engendram o processo produtivo

Marginalização da mão-de-obra e estabelecimento de formas liminares de produção

“A precariedade dessas formas as impede de se transformarem em fontes permanentes de


renda; elas se restringem a lucros temporários e incertos. Os moradores de Mato do Tição,
desse modo, estão à margem do grande sistema produtivo, isolando-se nas pequenas
atividades de subsistência ou empregando-se em setores de baixa remuneração.” (p 317)

Isolamento religioso

“Parece contraditório falar de um isolamento religioso dos moradores de Mato do Tição;;


afinal de contas, eles participam das missas e dos festejos na igreja Matriz, desfilam nos
cortejos de Nossa Senhora do Rosário de do Divino, dividindo o espaço com a população de
Jaboticatubas.”

No entanto
“ a experimentação do sagrado – traduzida no comportamento religioso – pressupõe uma
interação íntima, que une as almas e os interesses dos homens numa celebração comum. Isso
não ocorre em Mato do Tição, quando analisamos os eventos religiosos vividos na comunidade
e aqueles vividos na cidade que a cerca.” (p 317)

O fato de dividir os mesmos espaços nos cortejos não significa que haja um vínculo profundo
estalebelecido ente a comunidade e o restante da população

“A comunidade está voltada para si mesma, na expectativa de se manter coesa ante a recusa
de aceitação por parte do Outro” (p. 317)

Causas gerais do isolamento: isolamentos social, econômico, histórico – distanciamento que


caracteriza a comunidade

Diferenciação entre o rural e o urbano, o pobre e o rico, o negro e o branco.

Especificidade do sagrado: os negros de Mato do Tição são católicos, mas sabedores de um


catolicismo sincrético, reelaborado sob a influência de antigas tradições afro-brasileiras. “A co-
existência do catolicismo com a Umbanda provoca aqueles que estão fora do sítio, excitando-
lhes a curiosidade e o receio. Enquanto na cidade há uma gradual fragilização das cerimônias
da Semana Santa, por exemplo, em Mato do Tição os ritos dos passos de Paixão são
reinaugurados fervorosamente: os cantos e as rezas em latim, as promessas e os jejuns são
parte de uma prática que se torna arcaica, à medida que o sagrado se esvazia no contato com
o profano.” (p. 318)

(observação minha: me parece que a autora tem uma visão romantizada da comunidade, em
relação ao sagrado, ao isolamento, à pureza das tradições... e essa referência constante ao
sagrado e ao profano de forma separada é algo que me incomoda. Talvez seja pela época em
que o livro foi escrito... )

“As práticas são vividas na intensidade de seu valor e a tradução do mundo em símbolos
sagrados revela um homem voltado para as forças divinas. A aspereza da vida é compensada
pela vivência da fé, mulheres e homens pobres se transoformam em mães-de-santo, capitães
de Nossa Senhora do Rosário, anjos da coroação de Maria. Tal conformação existencial –
estreitamente marcada pela religiosidade – choca-se com a banalidade do quotidiano. Mato
do Tição adquire o aspecto de ilha, na qual a visão do sagrado personaliza o homem como
protagonista de uma aventura maior. Os símbolos sagrados estão no altar e nas portas das
casas, no corpo e na voz dos fieis. Em Mato do Tição o vínculo entre instante sagrado e
quotidiano se apresenta de maneira contundente. A tentativa de resgatar o homem do
esvaziamento do profano leva os moradores a experimentarem a densidade do sagrado: na
escuridão da noite, entre o silêncio das montanhas, o cântico e a reza reintegram a família dos
Siqueira em torno de si mesma, mas também a isolam pela especificidade de suas práticas – do
imediatismo social circuntante. ” (p 318)
(Outra crítica: os autores nunca aparecem no texto. É como se fosse uma descrição, onde os
antropólogos/etnógrafos não tem nenhuma participação e influência – não se fala da relação
entre os pesquisadores com os interlocutores. O próprio fato de pesquisadores irem até a
comunidade, conhecer sua cultura, seus aspectos religiosos, dentre outros, já demonstra que
essa ideia de isolamento tão reforçada no livro, na verdade é uma visão um tanto quanto rasa,
talvez romantizada e cristalizada)

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