Você está na página 1de 7
A VELHA CATEDRAL PE. MISAEL GOMES Se 0 mundo, no pensamento de Descartes, 6 tal como eserita ou sigarismo que se procura interpretar; por sua vez, ume Catedral nfo é beleva a mirar-se de lieve; € antes um ensino a obter ou Itvro que convém ler @ compreender. Pe- triffea @ eterniza idéias. Quem sabe oS flos ténues que Ihe compartimam os acon~ teelmentos? Néo nos dispensemos do que se passou entre nés. Vieram do Recife os Jesuitas Francisco Pinto ¢ Luis Piguelra. Apds celebra- rem ¢ distribuirom a sagrada comunhde a alguns da comitive na fez do Jagua- ibe, puseram-se 8 caminhar, na diregio da Ibiapaba, dia de N. Senhora das Candelas, 2 de feveretro de 1607, Largavam o Joagoarive, Mucurive ou Camuci, como se quiser denomtnar ao iltoral cearense, pelo comégo do século XVII. Jamais thes pareceu tio ruidosa a manh& € téo jovial. © Pe. Pinto, Homem de talonto, de gravidade © agio, evangelizador mats que Gestro na lingua tupl; com quase © duplo de janelros, acompanhava-se do outro aos 28 de idade. Ventes Iépidos os felleltavam no arriscado lance, ordens de Fernéo Cardim, provincial da Companhia de Jesus no Brasil e mestre mut con- slderado no seu oficto. A guisa de relatério do imortal Vieira: “Levantaram os padres igreja — disse — na maior povoasiio da serra, sem contradi¢fio dos naturais, antes com grandes demonstragées de contentamento...” Longo ¢ minucioso, continuow narrando que os dois sacerdotes, apés entrados na conflanca tabsjara, as choupanas visitavam, receblam toda a gente fera, doutrinavam, pregavam e confessavam. “N&o; no ha fera tio fera, que nfo tenha um coracko!” (Tomis Ribeiro) A Iiapaba principiou verdadeira aurora de bem-ayenturanga, ie tudo marnviiha, quando Ihe desferimm atentado eruento os tocarijus, e a sorte des REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 1719 soru-lhe. Francisco Pinto acabou entre aquéles barbaros, ambula diving; Luis Figueira, com # alma debrucada sObre os olhos, viu-o-morrer e, na ilha de Mario, entre arus, dormiu morte idéntica. A vids é cruzada de sacriticios. © ou morre © homem na ids, feliz, coberto de glérta, ow surge © homem com vida, mostrande em cada ferlda © hino de ums vitérla!" Recorda Virgillo que mister se fez de muito labor para todo esplendor de Roma. Antonio Bezerra garantiu que, at6 1678, na capitania do Cearé, sé era habitado © presidio de Fortaleza e subtrblos da costs, “Note-se bom (costintia}, quando digo habitado o terreno, 6 viver om paz © colono som os sustos dos que assistlam mas casas-fortes guardados por gente armada para dofesa dos tapulos”. AU houve recato © mistério feittcos; porém a quieta¢éo nunca fot completa. A capela dos padres, a que se referiu Vielra; a ermida posterlormente fundade por Jerénimo de Albuquerque, sob invocagdo de N. Senhora do Rosério em Jericoncara, € a de N, Senhora do Amparo por Martim Soares Moreno, legitimo fundador do Cearé, desapareceram, improvisadas que tinham sido com materials ou recursos parcos @ frigeis. Qh! sementes que se foram! Ainda do século XVII 8 capela de N. Senhora da Assungéo, construida terrenos doados pelo Pe. José Rodrigues, a primeira e por muitos anos matriz de Fortaleza. Obra do capitdo Alvaro de Azevedo Botelho, prérimo do forte, all ‘05 ates religiosos se celebravam graces & Inmandade e ao patriménio da fazenda de gado, provivelmente a “Soledade”, residéncia daquelo sacerdote, terras de sesma- ria, eaminho da Caucaia Planta portuguesa da capital cearense mostra, no principio do XVIII século, 0 forte de madeira, o rlacho Pajeti e a capelinhs tsolada, cuja arrecadaco de bens patrimonials, Manyel José de Farias, 1745, mandou fazer pela Provedoria da Fa- uende Real. Demoiiram-na em 1857, para dar comégo a cua. Acudlu a restauracio de 1863, deruparecida afinal no govérne do dr. Pedro Lefio Veloso (1881), empregados os destrogos em obras do quartel ¢ transferidas as imagens, inclusive a da padroeira do forte, para outra parte; depols para a Sé. Via-se-Iho ainda 110 do alicerce em 1914, dentro J4 no pAtie interno do quartel. ‘Vai envio, 0 que se pode coneluir & que as desavengas entre Aquiraz e Fortaleza nfo esmoreceram nem u f€ nem os mllagres nem a devogdo e igrejas do Ceara. Botas rasgaram horlgontes tntinitos de esperanga, Almofala, obra de 2610 do pe, José Borges de Novals, igreja de 1702, terminaca 8 18 de outubro de 1712. Pelo que atestam paredes raidas das dunes, singular beleza mostrou Almofale, no reinado portugués de D, José I. © Almanaque do Cearé de 1953 meteu-se na corrente tradicionalista de que o civilizado Sousa Presa ealra com outros em mfos tapulas; escapou 86; 08 indlos 0 guardavam, com espiat melhor ensejo. A horas mortas, o pobre condenado, jungido 180 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA @ anoso tronco, elevou a mente até os cus... © prometeu ums igreja levantar nasituagéo hoje da cidade de Milagres, se porventura escapasse Aquele transe. “A coma ora Higubre, e & hora em que os médos vam entre os rochedos ouvir os segredos do anjo do mal. Obteve entretanto o milagre, mereé da india ¢ quem conflara a tribo o cuidado do branco, Fato aniilogo ao de John Smith na América do Norte, q quem salvou a menina Pacahontas, de 11 a 12 anos, filha do chefe indigena Powhaton. © santudrlo de Canindé, hoje Basilica Menor, data ainda do século XVIII, etevado & categoria de matriz, 30 de outubro de 1871; submotida mais tarde » varias reformas ¢ completa reconstrugéo (1910), segundo 9 planta de Antonio Mazzini e ‘Tomés Barbosa. Sublram as torres, 28 metros subiram. Cupula e trabalhos che- gram @ iormo em 1915. A decoraco, bem como as figuras, de um velor uobre, rasgado € puro, trabalhos de Kau, alemio especializado no assunto, Cérea de 300.000 visttantes, todos os anos. No mais, a stmpleza dos filhos de 8. Francisco e sombras onde se murmuram preces, contrastando com a luz das vidragas onde se imaginam vozes particulares do Alto. Ora bem, resumem os estilos o método costumetro e gostos de um Povo, antes que de algum individuo 4 muitipiicar obras; resultam por iguel do ¢lima e haveres da regifio onde surgem. Ediffelos religiosos mais importantes do Brasil mostram cobertures exigentes de paredes grosas, Janelas estrettas, com recelo de algum desaso. © interior escuro, porém de torre lanterna bre o eruzelro, com muita frequéncia. Pesa estilo mals ou menos romAnico nas igrejas do nosso vasto Setentrido. O cardter désse estilo, sério, grave e clissico, de uma dignidade nobre, mss forma simples, seu tanto ou quanto monumental, Mnformou Joio Brigido que, na curva de um riacho, os Sndios eolocaram a cus igreja, precisamente no terrenc em que hoje se levanta nova Catedral. O historiador péde adiantar: “fiste velho templo, para onde foram transferidas as imagens oxistentes om uma capeia da barra do Cearé, Vila Volha ou Matias Pacheco, fol demolide no coméco do século XIX, pelo vigirlo AntOnlo José Moreira, £ que, em 121, come perlgasse a matriz de Fortaleza, as imagens Ihe remo- veram pare a capele do Rosdtlo, até que construissem mutriz nova, s6 clevada 9 Catedral depois da primeira metade do tiltimo séenlo. Bm toda a parte, o levantamento de uma Catedral fol ceriménia estimuladora de vontades ¢ de exaltacia religiosa, que polarizou as classes no mesmo sentido, do senhor 20 servo, do aristocrats a0 plebeu. Culta e instrufda a velha Furopa, 14 os cAntieos devotes, 0 mais de tempo, ‘acompanhavam 0 ehisdo dos carros, © picar das pedras; o entusinsmo comunicava- se, dando factlidade ao esforgo; os milagres sucediam-se, abengoando a religloss faina; o mistérlo aureolava as frontes, prometendo a paz das conscténcias na tran- sitorledade do mundo. Eplsédlos désses, enternecedores, prendem o eristiantamo aos coragSes, por melo REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 181 da arte, colmendo-os de ventura, Com tal auxillo, crgueram-se, ou em comoro urbane ou na monotonia da planioio, 0 maiores bastiGes da té. Has catedrais Patentciam as expresses dimes d'arte sagrada, flores do sentimento © da razio. Colsas a'Espanha, @ arte do barroco, em contraste com outros paises, surde como arte monumental e impressionante. Deslumbram 0s templos colonials do ‘México, Lima e de cutras cidades. Carecin, porén, este pedago da terra Drasileira, ny América Portuguésa J independente, careeia o Ceara de uma igreja principal @ altura de sua devocio, de magnitude conveniente e Justo decdro. Tai aconteceu em 2 de abril de 1854. Precedidas da béngho local &s 7 horas, as 9 entraram cetimonlas inicladoras da, ‘Matriz nova. No Rosirio, ao proce Carlos Auguste Polxoto de Alencar, juntou-se o pe. dr. Tomas Pompeu de Sousa Brasil, vigirio foraneo, o clero secular e irmandades, © presidente da provincia (sacerdote paulisia) ¢ conselhelro de Estado, Vicente Pires da Mota; 0 vice-presidente @ comandante superfor da Guarda Nacional, Joaquim Mendes da Cruz Guimanies; 0 tenente-coronel José Antonio Macedo, 0 julz de direito da comarca e deputado & Cérte do Rlo de Janciro dr. Miguel Fernandes Vieira, mais pessors gradas, juizes de paz ¢ senado da camara. Socie- dade prineipal e numerosa Formava guarda de honra, melo Batathfo, sob © comande do major José Joaquim da Silva Gulmaries. Nas horas perturbadss que vivemos, hoje em dia, dominadas pelo signo da confustio € reptdio de velores trdicfonals, nada se perde em recordar nomes que encarnarem © espirito da reca; em quem latejow, com suas virbudes e debi- lidades, 0 coragio regional; ¢ que falou, com o sotaque ¢ tnflexbes caracteristicas, © verbo imperioso ¢ native do toric. Ao espocar das pirindolas, 9 cortejo guiou pare a Matrlz nova, bem posta e alfalada. Fora 0 S61, 0 nosso grande sol; cabegas, nfo obstante, deseobertas: muito respeito e pledade. Rneerrou-se 9 Santissimo Sacramento no seu tabernéewio; 2s imagens, nos respectivos aitares, © celebrou missa solene o Vigirlo que, do pulpito, encareceu devidamente a solenidade do dia, Prossegutndo esta, redigiu-Ihe térmo tinal ¢ ofleial, 0 pe, José Candido da Guerra Passos, escrivdo da vigararia foranea. Até 31 de jumho de 1854, orcavam os trabalhos em 95:8308337 ris. Faltavam as pinturas, doirides, sanefas nes portas laterals e 0 férro dos corredores; faltou outrossim a calgada em redor, coneluida por volta de setembro de 1858, Cobriram fa todas as despesas, os produtos de esmolas, loterias e fundos da Irmandade: iaas no se pense que tudo fot to fel como flea eserite; pols que a obra respitave atenedc, cuidado, trabalho assiduo, meticuloso e Util © relégio, espécie de coragio da vila, colmela ainda escassa e reduzida, o Big-Ren de Fortalez,, donativo de Joio da Costa e Silva, agriculter em Pacatuba, que fez presente de um conto de réis, para dito fim, 1 Trmandade de Sho José, mal termiava 2 Matriz. Acrescentar podemos, aum breve cote/o, que o mais entice xelécio de Ouro Preto (Minas Gerals), na igreja de Santa Irlgénia, 1762, eustou. apenas 2908000 eis. 182 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA Desmembrou-se de Olinda, consoante a pula Pro animarum salute do paps Plo TX, 6 de julho de 1254, a Diocese do Cearé, maugurada na presidéneia (pro- vinelal) do dr. Manuel AntOnto Duarte, 16 de Junho de 1861, pelo vigario ae Quixeramobim © procurador do 1° bispe sagrado Co nosro sélio, D. Luis Antdnto dos Santos, cuja entrada solene na Catedral se efetuou a 29 de sotembro daquele mesmo ano. Entre imagens, a que merece destacados louvores @ rogos nas catedrals, a da sobermma Rainha do céu. & tela hoje de maior valor no mundo encontrada ng Catedral de Miléo, a Vizgem com @ Menino Jesus. Tem im. 60 de altura © 1.90 de largura, tOda de oiro e incrustagées de lazulita. Os cantos da moldura, com o enfelte de pérolas, entre outros valores. Obra fina, precicsa, inestimavel. Devera entéio apsrecer no altat-mor do nosso grande templo, a imagem ou quadro de N. Senhora levady pelos serafing 40 céu, pols a vila se denominou — Fortaleza de N. Senhora da Assungéo. Fol prectsamente o que la se viu. Direse-ia que tudo, peio metnor, se ajustou. ‘Regelo do negociante uso Martim Borges, 2 imagem do “Senhor dos Passos", que se vé sair na procissfio do Encentro, todes os anos, ¢ venerava-se numa das capelas interiores da Sé. Sdbre tarde de 4 de maio de 1070, também all se recotheu a bandeira do extin- to 26 corpo de voluntérios na guerra do Paraguai, “uma das primeira a tremular no Passo da Patria e milagrosamente salva em conjunturas dificols" (Gustavo Barroso, “O BRASIL em face do Prata, pég. 37). Aquel cerimonia de 1870, com- pareceu a maior Autoridade da provinein e revpeitével multidiio. Lavrou-se uma, Ata comemorativa dos feltos da Bandelra, a merecer esta um poema, por invicta, @ gloriosa. Recordaremos ainda que nao a palavra auténticn do pe. Antonio Vieira, & claro, como acontecea na Bahia, S. Luis do Maranhéo ¢ na Cérie de Lisboa; porém ali se cuviu a voz altissonante do pe. Valétvino Nogueira, Ao dizer de Monsenhor Furtado, ée “fez do pilpito de Fortaleza um pedestal de gléria, pro- ounetando sermées e discursos que bem poderism ser firmados por Vielza ¢ Montaiverne". Sobrelevou a tédas, sua oragHo de 1903, a que pessoalmente sasistimos, quando da comemoraedio tricentensria Ga yinda des primetros portugueses ae Gear’. Graco Cardoso a respeito esereveu no érgéo oficial do Estado, a “Republica”: “Por espaco de cinquents minutes, 0 orador trouxe o auditério préso ao encanto da empolgante magia de uma pega toda rendilhada de brithantes”. Outro que enalteceu a mesma tribuna sagrada, o pe. dr. Jo%io Augusto da Frota, de quem nos coube esta cadelra n? 4 no Instituto do Ceara. Um de nossos Boletins, © ano passado, publiccu: “Era fluente orador na tribuna sacra e na, popular, tendo deixado renome os seus discursos, sempre eruditos © imaginosos”. Item no desmereceram dos dois, os abonados pregadores Constantine Gomes @e Matos, José Tolxeira da Graca, Pedro Rsmeraido da Silva, Jofo Alfredo Fur- ado, JGlio Simon, filho este de porto francés, J& reitor do Seminério desta capital, € 0 dr. Julio Maria (quando, felto Misstondrio Apostéiico, passou por era capital); ‘as conferéncias déle lembravam as de Lacordaire na Catedral de Notre Dame de. Paris, 8 de margo de 1835, comecadas. Nio morrem de todo, os que desvendam uo mundo xiguma nesga de verdade ou tragos de beleza. ‘Tudo se h& de perdoar ao zélo de nossas recordag6es, quando dizemos que svou REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA 183 naquele mesmo lugar g pelayre Inexperta aéste pequenino vosso inmio, Mals: a Catedral fol onde, em delicicsas primicias do ministéric, administrémos © santo atismo aqui em Fortaleza. Ja virtuose filha de S. Francisco a primeira nossa batizada aquele tempo, exerve hoje a diregéo de uma des casas seréfieas no Rio de Janeiro © nos propor clone esta Iembranga ou Reranga, como ineihor nome haje, dire quase a pedir © efitivio da manhé ao creptsculo de wma tarde, © desaparecido tempio perfaria 1° centenGrio em 2 de abril de 1954, Resplan- deceu no séilo pontifiee! @ mitra preciosa de D. Lis Antonio dos Santos, D. Joaquim José Viewra e de D. Manuel da Silva Gomes, elovado a arceblspo em 1915, erlado o Arceblspado pela buta Catholleae Religionis Bonum de Bento XV, 10 de novembro de 1915. A Huminar-nos 0 caminho, ficou © exemplo daquclas vidas, governadas pelos mais sublimes ideais, chelas de pastoral solleitude ¢ earldade. © Arcebispo D. Antonio de Almeida Tustosa néo aicencou a antiga Sé, que teve seus dias contados. Usereveu o desembargador Alvaro Gurgel de Alencar no seu proprio Dicionatio Googratico, Historica © Descritivo do Ceara, 2a. edteto, 1939, pag. 147 © 198 “A catedral do Arcebispado, que era um templo de construgio sélida, de boa eltura, © que em 1954 completaria com enos de edifieado, acabe dé ser demolido, prometendo os que o derribazam construlr em © mesmo local, uma igreja cule Planta $i feita @ para uma ottedrel de mutta riqucza, e que, som uns seis mil contos de r6is nfo se verd levantada. Com s demellgio nota-se bem a solide dessa Igreja tradicional. A maioria do yovo eearense nfo aploudiu a destrutcac”. Assim o desembargador entenden ¢ 0 disse sem rebuco, Rm artigo da imprensa carloca, Gustavo Barroso referlu-se, 2 de Julho de 1952, & “vetha €, hoje infellzmente desaparectaa”. Maver ternures atadas ou moderadas, que nfo se mostram a todas, ea ver~ @adelra entisa de um ate muita yer escapa a olhos travemos ou penetrantes. Sem embarge, tudo vale pelo que vale a ufeledo de cada um; donde o anexim: “Quem ama 0 felo, bonito Ihe parece”. A cldade espannola de Lérida possi! dias eatedrais. Nenhum mal por tss0. Também apresentam caso identico de duss catedrais: Cadiz, Madel, Placénela, Selamanca, Saragossa © Vitérle Entre of que nfo viram de boa sombra o derrutr dos paredées cearenses, desta~ course Jodo Nogueira; éste com o gesembargatior Alvaro Gurgel de Alencar séctos efetivos do Instituto, ambos de satidosa meméria, Uma vez laneou 0 1° éste raciose: reprocho: “A belezn ou feiura dus coltas esté mals em nés do que nelas meamas: tudo depende do modo ou interésse com que as olhamos”. Marla Tudor da Inglaterra aftrmou se porventura the abriesem 0 coracko, nele encontrariam a palavra Calais, terra que ela perdera em seu reinado Abertc fost 0 comesio de Jouo Nogueira, com certeza terlam dado de rosto ua pelayra Catedral, d@s que Ihe martelaram os ouvides golves demolldores, Jwicava que 6 remodelaeio seria para Tuas, pragas ¢ casarlo: munca Dara edificios enruldos (Give) sobre © invariével, 0 imutével. o eterno. Diferente das rufnes da antiga Roma a pedirem antes @ miisiea do siéncio, por espanar a melancolfa €o Jodozinho (conhecido assim no afete dos seus), cone versié-mo-lo a9 pé do Cruzeiro da 56, onde, MAS nites de segundas-fetres, pessoas do povo © gente fina acendiam volas ou rezavam @ tergo, costume tntroduzide por 184 REVISTA DO INSTITUTO DO CEARA Frei Serafim de Caténts, que maugurou aquéle monumento de ordem ccrintia © © rodeou de grades de fer0, 3 de malo de 1847. Frei Seafim mereceu sepuitar-se numa das paredes da yelha $6, aquele mesmo ano de 1847. Mals de uma ves escroven Joo Nogueira siure a Cctedral, sem ezedumes, manso que era @ humilde de coragiio. El-lo a desculpar-se: “Esperamos que nin- guém veja nestas Iinhas um protesto: falamos como aquéle que abrangando seu iamiio, Ihe dissesse docemente: — Gesta tua non lauéamus. Quanto dissemos € apenas a expansio do pesar que nos invade, quando vemos desnparecer um elemento tradicional de nossa terra. sempre que isso acontece mio podemos impedir que nos escape — una furtiva Jacrima’ Filho do desembargader Paulino Nogueira, que fol 0 primeiro presidente do nosso Instituto, Joso Franklin de Alencar Nogueira nasceu nesta capital aos 27 de outubro de 1867 @ aqui faleceu, 2 de dezembro de 1946, Engenhelro da R.V.C., além da mals subida honeetidade, mostrou profunde w6lo pelas tradigGes histérieo-cearenses. Fizemos-Ihe a despedida em nome do Instituto, & hora de sepultar-se. ‘Vivo, seria o primeira # apertar-nos a mf, solldério com a lembranga que estamos a avivar no espirite conservador de nosso Sodaliclo; morto, que nie dirt, se meméria desta vida se consente? Artigg de Joio Noguelra sob o titulo “Cidade de Fortaleza", publiesdo na Re- vista do Instituto, 1912, recorda at mesme 0 “Candinho da 86", glorioso por ter andado de bandeja, colsa dc tempo. Grande a importincis do tempo, alguimista habil: “Dé-se-lhe um punhado de Jodo, éle © restitd! em diamantes". Enenhuma época come s nossa se Inclinow mals ptedesamento sobre reliquias do pasasdo. . No luto das coisas mortas, quiséramos set um ralo de Juz. Que sirva tho modesta lembranga, pelo menos, de goivo da saudade, asa de dor do sentimento, em homenagem A casa de Deus e do seu inolvidével amigo, Joio Nogueira. ‘Ao homem podemos truncar a vida, ninguém Ihe destaz a morte; poré:n a casa de Deus & porta do céu; Domus Dei et porta coeli. No tecido ou trama do tempo que tudo envolve, esbateu-se o eilhueta da nossa primeira e velha Sé. Fortaleza, onde fraternizam opini6es em tomo Gas grandes memérlas, ¢ digna de mirar 0 futuro e aprecié-lo, Bem defronte daqui, val-se erguendo 0 novo templo, pelos cuidados do Sr. Atcenispo @ esforgos até hé pouco de Monsenhor Quinderé e a coadjuvacao de outros ‘atalhadores. Respeitavel a antiguidade, precisa nfo se opor & avalanche moderna. 86 se faz bem © que se fax com amor, Suavize, pols, a nova lgreja as sau- dades da outra, comparévels a flores rendidas sem se levarem do pé. Toda paudade € tristeza, com salptecs quigh de alguma alegrla: delicioso pungit de acerbo espinho, A nova Catedral, Unda como noscos mais puros amores, jf nos sort, como se tivera alma, — senha grande, esperanga grande, resaco doz espiritos, atalnin celeste. Devemos querer-Ihe ¢ muito, pelo nosso paseado e pelo seu futuro!

Você também pode gostar