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pesquisa empírico-fenomenológica1
Resumo
Este estudo visa apresentar, numa perspectiva teórica, a pesquisa qualitativa e o método fenomenológico, tomando por base o
modelo empírico-compreensivo de Amedeo Giorgi. Na busca por minimizar as dificuldades encontradas na aplicação do
método fenomenológico, no que concerne à grande variedade de interpretações, e explicitar como se constituem os resultados
dessa prática de pesquisa, foi necessário esclarecer a natureza qualitativa da realidade investigada, o modelo de relação entre
investigador-investigado e o modo como se obtiveram o conhecimento do problema e os aspectos intrinsecamente relaciona-
dos. Com o intuito de abranger esse conteúdo, o artigo dividiu-se em três partes. Foi feita, inicialmente, uma introdução sobre
a pesquisa qualitativa; posteriormente, propôs-se discutir a fenomenologia e seus principais conceitos, e, na terceira parte deste
artigo, foi estudado o método fenomenológico, em especial o modelo desenvolvido por Giorgi.
Unitermos: Fenomenologia. Métodos empíricos. Pesquisa qualitativa.
Abstract
▼▼▼▼▼
1
Artigo elaborado a partir da dissertação de C.C. ANDRADE, intitulada “A vivência do cliente no processo psicoterapêutico: um estudo fenomenológico na
Gestalt-Terapia”. Universidade Católica de Goiás, 2007.
2
Universidade Federal de Goiás, Faculdade de Educação, Departamento de Psicologia. R. 1138, 212, Setor Marista, 74180-170, Goiânia, GO, Brasil.
Correspondência para/Correspondence to: C.C. ANDRADE. E-mail: <celana@terra.com.br>.
3
Universidade Federal do Paraná, Departamento de Psicologia. Paraná, PR, Brasil. 259
natural” para a “atitude fenomenológica”. Como explicita É pela redução fenomenológica que se chega às essên-
Forghieri (1993), essa mudança de atitude permite cias invariantes, constitutivas da realidade. Petrelli (2004)
visualizar o mundo do sujeito como fenômeno “ou resgata que a redução fenomenológica é “conduzida
como constituinte de uma totalidade, no seio da qual o pela consciência com um instrumento que Husserl indi-
mundo e o sujeito revelam-se, reciprocamente, como ca com o termo de ‘intencionalidade’, caracterizando,
significações” (p.15). O pesquisador somente alcança o assim, a essência da própria consciência” (p.19).
fenômeno em si se consegue pôr fora de circuito o Husserl (2000) aponta que as essências repre-
conhecimento do mundo (Husserl, 1985). sentam as unidades básicas do entendimento comum
Nessa perspectiva, o pesquisador fenomenólogo de qualquer fenômeno, aquilo sem o qual o próprio
262 coloca-se em posição orientada para a descoberta, ou fenômeno não pode ser concebido. Essência é aquilo
isso, basta notarmos que, historicamente, vários grupos teses, mesmo que suspensas? Na concepção de Petrelli
foram se formando ao redor de Husserl e alguns desses (2004), o método fenomenológico não rejeita hipóteses,
grupos ganharam independência do mentor, como foi mas as suspende num primeiro momento e as recupera
o caso do grupo de Göttingen, que não seguiu a linha a posteriori, numa postura dialética.
do idealismo transcendental das Ideen ou mesmo do A suspensão dos conceitos é o primeiro momen-
desenvolvimento de filosofias autônomas, como encon- to do processo. Essa redução chamada teorética consiste
tramos em Scheler ou Merleau-Ponty (Giorgi, 1985, 2006; em eliminar qualquer construto conceitual, ou seja, reter
Holanda, 2002; Mohanty, 1996; Morujão, 1990). o saber acumulado (Petrelli, 2004). A redução teorética é
Creswell (1998) segue uma trajetória semelhante necessária, pois a fenomenologia deve garantir à ciência
ao afirmar que o uso do método fenomenológico pode sua própria pureza ao buscar a dimensão ética, não
264 ser desafiador. Além de o pesquisador precisar de uma manipuladora da realidade.
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C.C. ANDRADE & A.F. HOLANDA