Tendências Pedagógicas
TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS
Tendências Progressistas
As Tendências Pedagógicas Liberais
Se, nas Tendências Liberais, a escola possuía
As Tendências Pedagógicas Liberais tiveram uma função equalizadora,
seu início no século XIX, tendo recebido as nas Tendências Progressistas, derivada das
influências do ideário da Revolução Francesa teorias críticas, a escola passa a ser analisada
(1789), de "igualdade, liberdade, fraternidade“. como reprodutora das desigualdades de classe e
Sua preocupação básica é o cultivo dos reforçadora do modo de produção capitalista.
interesses individuais e não-sociais. Para essa Segundo LIBÂNEO(9), a pedagogia progressista
tendência educacional, o saber já produzido designa as tendências que, partindo de uma
(conteúdos de ensino) é muito mais importante análise crítica das realidades sociais,
que a experiência do sujeito e o processo pelo sustentam implicitamente as finalidades
qual ele aprende, mantendo o instrumento de sociopolíticas da educação.
poder entre dominador e dominado.
Seu método enfatiza a transmissão de conteúdos A escola passa a ser vista não mais como
e a assimilação passiva. redentora, mas como reprodutora da classe
É ainda intuitivo, baseado na estimulação dos dominante.
sentidos e na observação. Snyders foi o primeiro a usar o termo "Pedagogia
Através da memorização, da repetição e da Progressista", partindo de uma análise crítica da
exposição verbal, o educador chega a um realidade social, sustentando, implicitamente, as
interrogatório (tipo socrático), estimulando o finalidades sociais e políticas da educação.
individualismo e a competição.
Envolve cinco passos que, segundo Friedrich A Pedagogia Progressista Libertadora
Herbart, são os seguintes: preparação,
recordação, associação, generalização e A Pedagogia Progressista Libertadora que,
aplicação. partindo de uma análise crítica das realidades
sociais, sustenta os fins sociopolíticos da
Tendência Liberal Renovada educação.
Teve seu início com Paulo Freire, nos anos 60,
Para essa tendência, o papel da educação é o de rebelando-se contra toda forma de autoritarismo e
atender as diferenças individuais, as dominação, defendendo a conscientização como
necessidades e interesses dos educandos, processo a ser conquistado pelo homem, através
enfatizando os processos mentais e habilidades da problematização de sua própria realidade.
cognitivas necessárias à adaptação do homem ao Sendo revolucionária, ela preconizava a
meio social. O educando é, portanto, o centro e transformação da sociedade e acreditava que a
sujeito do conhecimento. educação, por si só, não faria tal revolução,
embora fosse uma ferramenta importante e
Renovada Progressivista fundamental nesse processo.
Tendência Renovada não-Diretiva
A Pedagogia Progressista Libertária
Renovada Progressivista (que se refere a
processos internos de desenvolvimento do A Pedagogia Progressista Libertária tem como
indivíduo; não confundir com progressista, que se idéia básica modificações institucionais, que, a
refere a processos sociais) ou Pragmatista, partir dos níveis subalternos, vão "contaminando"
inspirada nos Pioneiros da Escola Nova. todo o sistema, sem modelos e recusando-se a
Tendência Renovada não-Diretiva, inspirada considerar qualquer forma de poder ou
em Carl Rogers e A. S. Neill, que se volta muito autoridade.
mais para os objetivos de desenvolvimento No Brasil, os libertários recebem a influência do
pessoal e relações interpessoais (sendo que este pensamento de Celestin Freinet e suas técnicas
último não chegou a desenvolver um sistema a nas quais os próprios alunos organizavam os seus
respeito dos métodos da educação). plano de trabalho. O método de ensino é a própria
autogestão, tornando o interesse pedagógico
Tendência Liberal Tecnicista dependente de suas necessidades ou do próprio
grupo.
Atendendo os interesses da sociedade capitalista,
inspirada especialmente na teoria behaviorista, A Pedagogia Progressista Crítico-Social dos Conteúdos
corrente comportamentalista organizada por
Skinner e na abordagem sistêmica de ensino, Essa tendência prioriza o domínio dos conteúdos
traz como verdade absoluta a neutralidade científicos, os métodos de estudo, habilidades e
científica e a transposição dos acontecimentos hábitos de raciocínio científico, como modo de
naturais à sociedade. formar a consciência crítica face à realidade
social, instrumentalizando o educando como
sujeito da história, apto a transformar a sociedade
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MAGISTÉRIO – FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
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MAGISTÉRIO – FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
passa a compor a estrutura cognitiva para ser de transmitir uma mensagem, informações de um
empregado em novas situações. É a tomada de emissor a um receptor. Portanto, para os estruturalistas,
consciência, segundo Piaget. saber a língua é, sobretudo, dominar o código.
No ensino da língua, essas idéias escolanovistas não No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa
trouxeram maiores conseqüências, pois esbarraram na concepção de linguagem, o trabalho com as estruturas
prática da tendência liberal tradicional. lingüísticas, separadas do homem no seu contexto
social, é visto como possibilidade de desenvolver a
2.3. TENDÊNCIA LIBERAL RENOVADA NÃO- expressão oral e escrita. A tendência tecnicista é, de
DIRETIVA certa forma, uma modernização da escola tradicional e,
apesar das contribuições teóricas do estruturalismo, não
conseguiu superar os equívocos apresentados pelo
Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na ensino da língua centrado na gramática normativa. Em
formação de atitudes, razão pela qual deve estar mais parte, esses problemas ocorreram devido às
preocupada com os problemas psicológicos do que com dificuldades de o professor assimilar as novas teorias
os pedagógicos ou sociais. sobre o ensino da língua materna.
Todo o esforço deve visar a uma mudança dentro do 3. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PROGRESSISTAS
indivíduo, ou seja, a uma adequação pessoal às
solicitações do ambiente.
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa as
tendências que, partindo de uma análise crítica das
Aprender é modificar suas próprias percepções. Apenas realidades sociais, sustentam implicitamente as
se aprende o que estiver significativamente relacionado finalidades sociopolíticas da educação.
com essas percepções. A retenção se dá pela
relevância do aprendido em relação ao “eu”, o que torna
a avaliação escolar sem sentido, privilegiando-se a auto- 3.1. TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTADORA
avaliação. Trata-se de um ensino centrado no aluno,
sendo o professor apenas um facilitador. No ensino da As tendências progressistas libertadora e libertária têm,
língua, tal como ocorreu com a corrente pragmatista, as em comum, a defesa da autogestão pedagógica e o
idéias da escola renovada não-diretiva, embora muito antiautoritarismo. A escola libertadora, também
difundidas, encontraram, também, uma barreira na conhecida como a pedagogia de Paulo Freire, vincula a
prática da tendência liberal tradicional. educação à luta e organização de classe do oprimido.
Segundo GADOTTI (1988), Paulo Freire não considera
2.4. TENDÊNCIA LIBERAL TECNICISTA o papel informativo, o ato de conhecimento na relação
educativa, mas insiste que o conhecimento não é
suficiente se, ao lado e junto deste, não se elabora uma
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento da nova teoria do conhecimento e se os oprimidos não
ordem social vigente (o sistema capitalista), articulando- podem adquirir uma nova estrutura do conhecimento
se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, que lhes permita reelaborar e reordenar seus próprios
emprega a ciência da mudança de comportamento, ou conhecimentos e apropriar-se de outros.
seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse
principal é, portanto, produzir indivíduos “competentes”
para o mercado de trabalho, não se preocupando com Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de
as mudanças sociais. classes, o saber mais importante para o oprimido é a
descoberta da sua situação de oprimido, a condição
para se libertar da exploração política e econômica,
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada através da elaboração da consciência crítica passo a
na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como passo com sua organização de classe. Por isso, a
depositário passivo dos conhecimentos, que devem ser pedagogia libertadora ultrapassa os limites da
acumulados na mente através de associações. Skinner pedagogia, situando-se também no campo da
foi o expoente principal dessa corrente psicológica, economia, da política e das ciências sociais, conforme
também conhecida como behaviorista. Segundo Gadotti.
RICHTER (2000), a visão behaviorista acredita que
adquirimos uma língua por meio de imitação e formação
de hábitos, por isso a ênfase na repetição, nos drills, na Como pressuposto de aprendizagem, a força
instrução programada, para que o aluno for me “hábitos” motivadora deve decorrer da codificação de uma
do uso correto da linguagem. situação-problema que será analisada criticamente,
envolvendo o exercício da abstração, pelo qual se
procura alcançar, por meio de representações da
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, que realidade concreta, a razão de ser dos fatos. Assim,
implantou a escola tecnicista no Brasil, preponderaram como afirma Libâneo, aprender é um ato de
as influências do estruturalismo lingüístico e a conhecimento da realidade concreta, isto é, da situação
concepção de linguagem como instrumento de real vivida pelo educando, e só tem sentido se resulta
comunicação. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998) de uma aproximação crítica dessa realidade. Portanto o
– é vista como um código, ou seja, um conjunto de conhecimento que o educando transfere representa uma
signos que se combinam segundo regras e que é capaz
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MAGISTÉRIO – FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
resposta à situação de opressão a que se chega pelo De acordo com esse quadro teórico de José Carlos
processo de compreensão, reflexão e crítica. Libâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas liberais,
ou seja, a tradicional, a renovada e a tecnicista, por se
declararem neutras, nunca assumiram compromisso com
No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista, as transformações da sociedade, embora, na prática,
sintetiza sua idéia de dialogismo: “Eu vou ao texto procurassem legitimar a ordem econômica e social do
carinhosamente. De modo geral, simbolicamente, eu sistema capitalista. No ensino da língua, predominaram os
puxo uma cadeira e convido o autor, não importa qual, a métodos de base ora empirista, ora inatista, com ensino da
travar um diálogo comigo”. gramática tradicional, ou sob algumas as influências
teóricas do estruturalismo e do gerativismo, a partir da Lei
3.2. TENDÊNCIA PROGRESSISTA LIBERTÁRIA 5.692/71, da Reforma do Ensino.
Já as tendências pedagógicas progressistas, em oposição
às liberais, têm em comum a análise crítica do sistema
A escola progressista libertária parte do pressuposto de capitalista. De base empirista (Paulo Freire se proclamava
que somente o vivido pelo educando é incorporado e um deles) e marxista (com as idéias de Gramsci), essas
utilizado em situações novas, por isso o saber tendências, no ensino da língua, valorizam o texto
sistematizado só terá relevância se for possível seu uso produzido pelo aluno, a partir do seu conhecimento de
prático. A ênfase na aprendizagem informal, via grupo, mundo, assim como a possibilidade de negociação de
e a negação de toda forma de repressão, visam a sentido na leitura.
favorecer o desenvolvimento de pessoas mais livres. A partir da LDB 9.394/96, principalmente com a difusão das
No ensino da língua, procura valorizar o texto produzido idéias de Piaget,
pelo aluno, além da negociação de sentidos na leitura. Vygotsky e Wallon, numa perspectiva sócio-histórica, essas
teorias buscam uma aproximação com modernas correntes
do ensino da língua que consideram a linguagem como
3.3. TENDÊNCIA PROGRESSISTA CRÍTICO-SOCIAL forma de atuação sobre o homem e o mundo, ou seja,
DOS CONTEÚDOS como processo de interação verbal, que constitui a sua
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-social realidade fundamental.
dos conteúdos, diferentemente da libertadora e libertária, BIBLIOGRAFIA
acentua a primazia dos conteúdos no seu confronto com as ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação.
realidades sociais. A atuação da escola consiste na São Paulo : Editora Moderna, 1998.
preparação do aluno para o mundo adulto e suas COSTA, Marisa Vorraber et al. O Currículo nos Limiares
contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio da do Contemporâneo. Rio de Janeiro : DP&A editora, 1999.
aquisição de conteúdos e da socialização, para uma GADOTTI, Moacir. Pensamento Pedagógico Brasileiro.
participação organizada e ativa na democratização da São Paulo : Ática, 1988.
sociedade. LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola
Na visão da pedagogia dos conteúdos, admite-se o Pública. São Paulo : Loyola, 1990.
princípio da aprendizagem significativa, partindo do que o MATUI, Jiron. Construtivismo. São Paulo : Editora
aluno já sabe. A transferência da aprendizagem só se Moderna, 1998.
realiza no momento da síntese, isto é, quando o aluno RICHTER, Marcos Gustavo. Ensino do Português e
supera sua visão parcial e confusa e adquire uma visão Interatividade. Santa Maria : Editora da UFSM, 2000.
mais clara e unificadora. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. Gramática e Interação. São
4. TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS PÓS-LDB 9.394/96 Paulo : Cortez, 1998.
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de
n.º 9.394/96, revalorizam-se as idéias de Piaget, Vygotsky Aprofunde seus estudos com os vídeos online
e Wallon. Um dos pontos em comum entre esses www.concursovirtual.com.br
psicólogos é o fato de serem interacionistas, porque
concebem o conhecimento como resultado da ação que se
passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com ARANHA
(1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como
queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam os
empiristas, mas resulta da interação entre ambos. Para
citar um exemplo no ensino da língua, segundo essa
perspectiva interacionista, a leitura como processo permite
a possibilidade de negociação de sentidos em sala de aula.
O processo de leitura, portanto, não é centrado no texto,
ascendente, bottom-up, como queriam os empiristas, nem
no receptor, descendente, top-down, segundo os inatistas,
mas ascendente/descendente, ou seja, a partir de uma
negociação de sentido entre enunciador e receptor. Assim,
nessa abordagem interacionista, o receptor é retirado da
sua condição de mero objeto do sentido do texto, de
alguém que estava ali para decifrá-lo, decodificá-lo, como
ocorria, tradicionalmente, no ensino da leitura.
As idéias desses psicólogos interacionistas vêm ao
encontro da concepção que considera a linguagem como
forma de atuação sobre o homem e o mundo e das
modernas teorias sobre os estudos do texto, como a
Lingüística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica
Argumentativa e a Pragmática, entre outros.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS