Você está na página 1de 4

Direito da Moda: um ramo jurídico em construção?

http://www.migalhas.com.br/dePeso/16,MI203163,71043-Direito+da+Moda+um+ramo+juridico+em+construcao
23.06.2014

João Ibaixe Jr. e Valquíria Sabóia1

Nas aulas de Introdução ao Direito, as primeiras lições ensinam que o mundo

jurídico é dinâmico, no sentido de sempre buscar a normatização das relações

sociais. Assim, surgem os ramos do Direito e se agrupam de acordo com os

assuntos, temas e agendas que necessitam de disciplina específica. Os ramos

mais comuns são o do Direito Civil, Processual, Penal, Administrativo e

Constitucional. Todavia, com os avanços da sociedade, novos ramos jurídicos

vão surgindo e, por exemplo, no fim do século passado, tivemos o advento do

Direito do Consumidor, o Direito Ambiental, dentre outros que surgiram.

Em pleno século XXI, que já caminha em sua segunda década, outras

realidades fazem frente ao Direito, necessitando de normatização. Uma delas é

o mundo da Moda.

Quem não acompanha, mesmo indiretamente, esse universo? Quem não sabe,

por exemplo, quem é Gisele Bündchen? Ou então, Jesus Luz, o ex-namorado

da popstar Madonna? E as grifes como Armani, Vitor Hugo e outras?

João Ibaixe Jr – advogado criminalista, escritor e produtor cultural, é Diretor-Presidente do


Instituto Ibaixe e Vice-Presidente da Comissão de Estudos em Direito da Moda da OAB-SP.

Valquíria Sabóia – editora do Blog Fashion Law VS, é Coordenadora Executiva da Comissão
de Estudos em Direito da Moda da OAB-SP e Curadora do painel jurídico do Circuito de Moda
e Arte.
O mundo da Moda já entrou em nosso cotidiano e São Paulo ocupa lugar de

destaque com a Fashion Week e o Circuito de Moda e Arte, já sendo

reconhecida como uma das capitais mundiais da moda. O mercado da Moda

movimenta bilhões de dólares no mundo todo e envolve diversos profissionais

e empresas de diversos ramos. No ano de 2013, por exemplo, o movimento do

mercado brasileiro da Moda foi estimado em cerca de R$ 129 bilhões, segundo

pesquisa Pyxis-Consumo/Ipobe.

Os reflexos jurídicos são consequentemente sensíveis, por exemplo, um desfile

só acontece depois de assinaturas de contratos diversos; as profissionais que

desfilam buscam resguardar seu direito à imagem; os estilistas querem

proteger suas criações; as grandes grifes aspiram a proteção de suas marcas.

São muitas questões que produzem reflexos no mundo jurídico a ponto de nos

Estados Unidos já existir uma especialização ou um ramo do Direito

denominado de Fashion Law – o Direito da Moda.

Investigar este tema e um novo ramo é sempre um desafio para o estudante

que se forma e que tem a necessidade de encontrar novos campos de

trabalho. É quase natural querer ser um dos primeiros, apesar do pouco

material existente, a desbravar um possível novo ramo do Direito.

Enfrentar esse desafio de falar sobre o novo já é interesse que nos faz voltar os

olhos ao tema da relação entre Moda e Direito. Além disto, o gosto pela leitura
de questões referentes à Moda também nos atrai. Assim, somos levados a falar

sobre o tema e sobre esse novo ramo que é o Fashion Law.

A Moda e seu mercado, desenvolvendo relações mais complexas, precisam de

normatização, principalmente na esfera da proteção da imagem e das criações

autorais. Com o aumento de investimentos, ações e estratégias, o mundo da

Moda não pode mais funcionar de maneira amadora, sem a proteção adequada

de leis, contratos e dispositivos jurídicos adequados a evitar discussões e

litígios. E estes já começam a surgir de modo cada vez mais perceptível.

Pretendemos aqui lançar indagações introdutórias de pesquisa sobre o tema. O

objetivo seria provocar discussões iniciais sobre problemas do universo da

Moda e verificar as possíveis incidências normativas presentes em nosso

ordenamento jurídico, buscando respondê-las num diálogo com os leitores em

textos seguintes.

Num primeiro momento, a pergunta lançada é: a que ramo pertenceria o Direito

da Moda? Seria decorrente do Direito Civil, por conta dos contratos e proteção

à propriedade imaterial? Ou do Direito Constitucional, pela necessidade de

resguardo de direitos da personalidade, como a imagem? Ou ainda, em face

das relações presentes na chamada Indústria da Moda, não estaríamos diante

de uma linha multidisciplinar, que, por conta disso, já seria um desafio teórico

para o operador do Direito?


Estas e outras questões, pretendemos colocar neste espaço para o proposto

diálogo com os futuros leitores, a fim de investigar esse desafiante “ramo” do

Direito da Moda.

Você também pode gostar