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CAPITULO Filosofia, Ciéncia e Enfermagem wisn: rincipalmente devido ao trabalho dos cientistas, dos tebricos e dos eseudiosos de enferima- gem durante as tltimas quatro décadas, a enfermagem foi reconhecida como profissio emergente e disciplina académica. As intimeras discussdes relacionadas com o fenémeno de interesse dos enfermeiros eos incontaveis eforcos para intensificar o envolvimento na utiliza cio da teovia, na geragdo da teoria ¢ nos testes da teoria para orientar a pesquisa e melhorar a prdtica foram essenciais para atingir essa distingéo, Uma revisao da literatura de enfermagem desde o final da década de 1970 até-a atualida- de mostra discussbes esporidicas sobre a enfermagem como uma profisdo, uma ciéncia ow uma disciplina académica. Fssas discussées sao, algumas veses, siplicas freqitentemente esotéricas e, em algumas ocasibes, confusas. As questies que foram levantadas incluem: O que define uma profissdo? O que constitui uma disciplina académica? O que éa ciéncia da enfermagem? Por que importante para a enfermagem ser vista como profissto ou como disciplina académica? 28 Melanie McEwen & Evelyn M, Wills ENFERMAGEM COMO PROFISSAO Recentemente, tém sido levantadas questées sobre a enfermagem ser uma profissio ow uma ocupacio. Isso € importante que os enfermeiros considerem por diversas razées. Uma ocupagao é um trabalho ou uma carreira, enquanto uma profissio é uma vocacio ou ocupagio aprendida que tem status de superioridade e precedéncia dentro da divisio do trabalho. Em termos gerais, as ocupagées exigem niveis amplamente variados de trei- namento ou de educacao, diferentes niveis de habilidades e bases definidas de conheci- mento muito varidveis. Na realidade, todas as profissées sto ocupagées, mas nem todas as ocupagées sao profisses (Logan, Franzen, Pauling e Butcher, 2004; Schwirian, 1998). ‘As profissdes sao valorizadas porque os servigos que os profissionais executam séo be- néficos aos membros da sociedade. As caracteristicas de uma profisséo incluem (1) uma base definida de conhecimento, (2) poder ¢ autoridade sobre o treinamento ¢ 0 ensino, (3) registro, (4) servico altruista, (5) cédigo de ética, (6) socializacao prolongada e (7) au- tonomia (Rutty, 1998). Uma profisséo também deve ter uma meta institucionalizada ou missio social, assim como um grupo de estudiosos, investigadores ou pesquisadores que trabalham para avancar continuamente 0 conhecimento da profissio com o objetivo de melhorar a pratica (Schlotfelde, 1989), Além disso, os profissionais sio responsaveis por seu trabalho perante o piblico (Northrup, Tschanz, Olynyk, Makaroff, Szabo ¢ Biasio, 2004). Tradicionalmente, as profissées incluiam o clero, a lei e a medicina. Até recentemente, a enfermagem era vista como uma ocupagéo, nao como uma pro- fisséo. A enfermagem tem tido dificuldade em set reconhecida como profissio, pois os ser- vigos executados pelos enfermeitos so percebidos como uma extensao daqueles prestados pelas esposas e maes. Além disso, historicamente a enfermagem tem sido vista como stub- serviente & medicina, e os enfermeiros demoraram a identificar e organizar o conhecimento profissional, Além disso, o ensino para os enfermeitos ainda nao esté padronizado, ea pet- sisténcia do sistema de ingresso & pritica em trés niveis (diploma, grau associado e bacha- relado)" talver tenha atrapalhado a profissionalizacao. Por fim, a autonomia é incompleta, pois a enfetmagem ainda depende da medicina para dirigir grande parte de sua prética Entretanto, muitas das caracteristicas de uma profissio podem ser observadas na enfermagem. Na realidade, a enfermagem tem um compromisso social de prestar aten- dimento de satide aos pacientes nas diferentes etapas do continuum satide-doenca, xiste uma base de conhecimentos em crescimento, a autoridade sobre 0 ensino, 0 servigo al- truista, um cédigo de ética e as exiggncias de registro para a pritica, Embora o debate seja permanente, pode-se argumentar com sucesso que a enfermagem é uma profissio aspi ante, em evolucio (Logan et al., 2004; Rarey, 1998; Schwitian, 1998; Smith, 2000) ENFERMAGEM COMO DISCIPLINA ACADEMICA As disciplinas so distingées entre os corpora de conhecimento encontrados nos ambientes académicos. Uma disciplina & um “ramo do conhecimento ordenado por meio de teorias € métodos que evoluem a partir de mais de uma visio do fendmeno de interesse” (Parse, 1997, p. 74). Também tem sido denominada como um campo de pesquisa caracterizado por uma perspectiva peculiar e uma maneira distinta de ver os fendmenos (Adam, 1985; Parse, 1999). Vista de outra forma, uma disciplina é um ramo da instrugéo educacional ou um departamento do aprendizado ou do conhecimento. As instituicées de educacéo superior *N. de RT: No Brasil, o ensino de enfermagem compreende: 0 enfermeiro, com nivel supetior; o técnico € o auxiliar de enfermagem, com nivel médio. 28 Melanie McEwen & Evelyn M, Wills ENFERMAGEM COMO PROFISSAO Recentemente, tém sido levantadas questées sobre a enfermagem ser uma profissio ow uma ocupacio. Isso € importante que os enfermeiros considerem por diversas razées. Uma ocupagao é um trabalho ou uma carreira, enquanto uma profissio é uma vocacio ou ocupagio aprendida que tem status de superioridade e precedéncia dentro da divisio do trabalho. Em termos gerais, as ocupagées exigem niveis amplamente variados de trei- namento ou de educacao, diferentes niveis de habilidades e bases definidas de conheci- mento muito varidveis. Na realidade, todas as profissées sto ocupagées, mas nem todas as ocupagées sao profisses (Logan, Franzen, Pauling e Butcher, 2004; Schwirian, 1998). ‘As profissdes sao valorizadas porque os servigos que os profissionais executam séo be- néficos aos membros da sociedade. As caracteristicas de uma profisséo incluem (1) uma base definida de conhecimento, (2) poder ¢ autoridade sobre o treinamento ¢ 0 ensino, (3) registro, (4) servico altruista, (5) cédigo de ética, (6) socializacao prolongada e (7) au- tonomia (Rutty, 1998). Uma profisséo também deve ter uma meta institucionalizada ou missio social, assim como um grupo de estudiosos, investigadores ou pesquisadores que trabalham para avancar continuamente 0 conhecimento da profissio com o objetivo de melhorar a pratica (Schlotfelde, 1989), Além disso, os profissionais sio responsaveis por seu trabalho perante o piblico (Northrup, Tschanz, Olynyk, Makaroff, Szabo ¢ Biasio, 2004). Tradicionalmente, as profissées incluiam o clero, a lei e a medicina. Até recentemente, a enfermagem era vista como uma ocupagéo, nao como uma pro- fisséo. A enfermagem tem tido dificuldade em set reconhecida como profissio, pois os ser- vigos executados pelos enfermeitos so percebidos como uma extensao daqueles prestados pelas esposas e maes. Além disso, historicamente a enfermagem tem sido vista como stub- serviente & medicina, e os enfermeiros demoraram a identificar e organizar o conhecimento profissional, Além disso, o ensino para os enfermeitos ainda nao esté padronizado, ea pet- sisténcia do sistema de ingresso & pritica em trés niveis (diploma, grau associado e bacha- relado)" talver tenha atrapalhado a profissionalizacao. Por fim, a autonomia é incompleta, pois a enfetmagem ainda depende da medicina para dirigir grande parte de sua prética Entretanto, muitas das caracteristicas de uma profissio podem ser observadas na enfermagem. Na realidade, a enfermagem tem um compromisso social de prestar aten- dimento de satide aos pacientes nas diferentes etapas do continuum satide-doenca, xiste uma base de conhecimentos em crescimento, a autoridade sobre 0 ensino, 0 servigo al- truista, um cédigo de ética e as exiggncias de registro para a pritica, Embora o debate seja permanente, pode-se argumentar com sucesso que a enfermagem é uma profissio aspi ante, em evolucio (Logan et al., 2004; Rarey, 1998; Schwitian, 1998; Smith, 2000) ENFERMAGEM COMO DISCIPLINA ACADEMICA As disciplinas so distingées entre os corpora de conhecimento encontrados nos ambientes académicos. Uma disciplina & um “ramo do conhecimento ordenado por meio de teorias € métodos que evoluem a partir de mais de uma visio do fendmeno de interesse” (Parse, 1997, p. 74). Também tem sido denominada como um campo de pesquisa caracterizado por uma perspectiva peculiar e uma maneira distinta de ver os fendmenos (Adam, 1985; Parse, 1999). Vista de outra forma, uma disciplina é um ramo da instrugéo educacional ou um departamento do aprendizado ou do conhecimento. As instituicées de educacéo superior *N. de RT: No Brasil, o ensino de enfermagem compreende: 0 enfermeiro, com nivel supetior; o técnico € o auxiliar de enfermagem, com nivel médio. Bases Teoricas para Enfermagem 29 sao organizadas em torno das disciplinas como faculdades, escolas departamentos (p. ex., administracio de empresas, quimica, historia e engenharia) ‘As disciplinas sto organizadas por estrutura e tradigao. A estrutura proporciona or- ganizagao e determina a quantidade, o relacionamento ¢ a proporgao de cada tipo de conhecimento que compreende a disciplina. A tradi¢éo promove 0 contetido, que inclui a tica, o pessoal, a estética 0 conhecimento cientifico (Riegel, Omery, Calvillo, Flsayed et al., 1992). As caracteristicas das disciplinas séo (1) uma perspectiva e uma sintaxe distintas, (2) a determinagao de quais fendmenos séo de interesse, (3) a determinagio do contexto em que sao vistos os fendmenos (4) a dererminagao de quais perguntas devem ser feitas, (5) a determinacio de quais métodos de estudo séo usados e (6) a determinacao de qual evidéncia ¢ prova (Donaldson e Crowley, 1978). © desenvolvimento do conhecimento em uma disciplina é proveniente de varias perspectivas e pontos de vista filosdficos e cientificos (Newman, Sime e Corcoran-Per- ry, 1991; Parse, 1997; Parse, 1999). Esses pontos de vista podem servir para dividir ou segregar os membros da disciplina. Por exemplo, os profissionais de psicologia podem considerar-se comportamentalistas, freudianos ou adeptos de qualquer uma das outras intimeras divisées. ‘Tém sido propostas virias formas de classificagao das disciplinas académicas. Elas podem ser divididas, por exemplo, em ciéncias bisicas (fisica, biologia, quimica, sociolo- gia, antropologia) ¢ em cigncias humanas (Filosofia, ética, belas artes). Nesse esquema de classificacto, é possivel argumentar que a enfermagem possui caracteristicas de ambas. ‘Também podem ser feitas distingGes entre as disciplinas académicas (p. ex., fisica, fisiologia, sociologia, matemética, hist6ria, filosofia} ¢ as disciplinas profissionais (p. ex., medicina, direito, enfermagem, assisténcia social). Nesse esquema de classificacéo, as disciplinas académicas visam a “conhecer” ¢ suas teorias sio de natureza descritiva, A pesquisa nas disciplinas académicas € tanto basica quanto aplicada. De modo inverso, as disciplinas profissionais sao de natureza pratica ¢ sua pesquisa tende a ser mais prescritiva ¢ descritiva (Donaldson e Crowley, 1978). A base de conhecimento da enfermagem tira proveito de muitas disciplinas. No pas- sado, ela dependia consideravelmente da fisiologia, sociologia, psicologia ¢ medicina para proporcionar sustentago académica ¢ informar a pritica. Recentemente, no entanto, tem buscado 0 que é exclusivo na enfermagem e desenvolvido tais aspectos em uma dis- ciplina académica. As dreas que identificam a enfermagem como uma disciplina distinta sto as seguintes: @ Uma filosofia identificavel ® Uma estrutura conceitual (perspectiva), pelo menos, para o delineamento do que pode ser definido como enfermagem ® Abordagens metodol6gicas aceitaveis para a busca ¢ 0 desenvolvimento do conhe- cimento (Oldnall, 1995) Para iniciar a luta visando a validar a enfermagem tanto como profissio quanto como disciplina académica, este capitulo proporciona uma visio geral dos conceitos de ciéncia e de Filosofia. Examina as escolas de pensamento filoséfico que influenciaram a enferma- gem e explora a sua epistemologia para explicar por que o reconhecimento das miiltiplas “maneiras de conhecimento” é um conceito importante para o desenvolvimento e a apli- cagao da teoria na enfermagem. Por fim, o capitulo apresenta os aspectos relacionados 20 modo como os pontos de vista filoséficos afetam o desenvolvimento do conhecimento por meio da pesquisa. O capitulo conclui com um estudo de caso que descreve como “as formas de conhecimento” sio usadas na enfermagem no dia-a-dia, ou mesmo de um momento 20 outro, por todos os profissionais da area. 30 Melanie McEwen & Evelyn M. Wills INTRODUGAO A CIENCIA E A FILOSOFIA A ciéncia preocupa-se com a causalidade (causa ¢ efeito). A abordagem cientifica a0 entendimento da realidade é caracterizada pela observagao, verificagio e experiéncia; 0s testes das hipéteses e a experimentacao séo considerados métodos cientificos, En comparacio, a filosofia preocupa-se com a finalidade da vida humana, a natureza do set ¢ da realidade, a teoria e os limites do conhecimento. A intuigio, a introspeccao € © raciocinio sio exemplos de metodologias filosdficas. A ciéncia e a filosofia com. partilham a meta comum de aumentar 0 conhecimento (Fawcett, 1999; Silva, 1977) A ciéncia de qualquer disciplina estd ligada a sua flosofia, que fornece a base para o entendimento ¢ o desenvolvimento das teorias para a ciéncia (Gustafsson, 2002; Silva ¢ Rothbert, 1984), Visao geral da ciéncia A ciéncia € tanto um processo como um produto. Parse (1997) define a ciéncia como a “explicacao tedrica do sujeito da inquiri¢go e 0 processo metodolégico de sustentagao do conhecimento em uma disciplina” (p. 74). A ciéncia também tem sido descrita come uma forma de explicar os fendmenos observados, assim como um sistema de coleta, veri. ficagao ¢ sistematizacio da informaséo sobre a realidade (Streubert-Speziale e Carpenter, 2003). Como proceso, a ciéncia ¢ caracterizada pela inquiricéo sistemética que conta, de forma consistente, com as observagées empfticas do mundo natural. Como um produto, ela tem sido definida como conhecimento empitico fundamentado e testado na expe- riéncia e resulrante dos esforgos investigativos (Johnson, 1991 ). Além disso, a ciéncia é concebida como a opinio consensual e informada sobre 0 mundo natural, incluindo o Comportamento humano e a agao social (Gortner e Schultz, 1988). A ciéncia passou a representar 0 conhecimento e set gerada pela aplicagéo de uma série de procedimentos ou métodos para adquirir esse conhecimento, Citando Van Lace Silva (1977) lista seis caracteristicas da ciéncia (Quadro 1-1) A ciéncia tem sido classificada de varios modos, entre eles a ciéncia pura ou bésica, a cigncia natural, a ciéncia social ou humana e a ciéncia aplicada ou pritica, As clasifice 0es nao séo mutuamente exclusivas ¢ esto abertas & interpretagdo baseada na orientacio filosdfica, A Tabela 1-1 lista exemplos de inimeras ciéncias segundo esse modo de clas- sificagao. Caracteristicas da ciéneia | 1. Aciéncia deve mostrar certa coeréncia 2. Aciéncia preocupa-se com campos definidos do conhecimento. 3. Aciéncia 6 preferenclalmente expressa em dectaracdes universais, 4, As declaragGes da ciéncia devem ser verdadeiras ou provavelmente verdadeiras. | 5. As declaragdes da ciéncia devem ser ordenadas de forma légica 6. A ciénola deve explicar suas investigagdes e argumentos. | | Fonte: Siva M.C. (1977). Philosophy, science, theory: Inerrelationships and implications for nursing research. Jmage: Journal of Nursing Scholarship, 9(3), 59-63 ~~ —=~—UOCOC—COS—S—C(C(— Bases Tedricas para Enfermagem 31 fea TABELA 1-1 Classificagées da ciéncia Ciéncias naturais Quimica, fisica, biologia,fisiologia, geologia, meteorologia Cigncias puras ou basicas Matemética, gica, quimica, fisica linguas Ciéncias humanas ou sociais Psicologia, antropologia, sociologia, economia, ciéncia politica, historia, religigo Ciéncias aplicadas ou préticas Arquitetura, engenharia, medicina, farmacologia, direito Algumas ciéncias desafiam a classificacao, Por exemplo, a ciéncia da computagio é alegadamente aplicada e talvez pura. O dircito é certamente uma ciéncia pritica, mas também é social. A psicologia pode ser uma ciéncia bésica, uma ciéncia humana ou estd fazendo uma ciéncia aplicada, dependendo do aspecto da psicologia ao qual referéncia, Existem diferencas significativas entre as ciéncias humanas e as naturais. As ciéncias humanas referem-se aos campos da psicologia, antropologia ¢ sociologia e podem até se estender & econon nicia politica. Tais disciplinas lidam com varios aspectos dos ead seres humanos ¢ das interagées humanas. As ciéncias naturais, entretanto, preocupam-se com os elementos encontrados na natureza que nao se relacionam com a totalidade do individuo. Hé diferencas inerences entre as ciéncias humanas e as naturais que tornam as técnicas de pesquisa das ciéncias naturais (i., a experimentagio laboratorial) impréprias para as ciéncias humanas (Gortner e Schultz, 1988) Tem sido postulado que, embora a enfermagem recorra as ciéncias basicas e puras (p. ex., a fisiologia ¢ a quimica) e tenha muitas caracteristicas das ciéncias sociais, ela uma ciéncia aplicada ou pratica. Entretanto, é importante observar que ela também & plinas estabelecidas ~ inclusive sintetizada, pois recorre ao conhecimento de outras di de outras disciplinas préticas (Oldnall, 1995). Visao geral da filosofia Dentro de qualquer disciplina, tanto os estudiosos como os estudantes devem estar conscientes das orientagées filos6ficas que so basicas para o desenvolvimento da teoria © para o avanco do conhecimento (DiBartolo, 1998; Northrup eral., 2004). Him vez de se concentrar na solucio dos problemas ou na resposta as questées relacionadas a essa disciplina (que sio tarefas da ciéncia da disciplina), a filosofia de uma disciplina estuda 0s conceitos que estruturam os seus processos de raciocinio com a intengio de reco- nhecer ¢ revelar fundamentos e pressupostos (Blackburn, 1994; Cronin ¢ Rawlings- Anderson, 2004), A filosofia tem sido definida como “o estudo dos problemas que so definitivos, abstratos e gerais. Esses problemas sao concernentes 4 natureza da existéncia, ao conhe- cimento, A moralidade, ao raciocinio e a finalidade humana” (‘Teichman e Evans, 1999, p. 1).A filosofia tenta descobrir 0 conhecimento ¢ a yerdade ¢ procura identificar 0 que € valioso ¢ importante. A filosofia moderna remonta, geralmente, a René Descartes, Francis Bacon, Baru- ch Spinoza e Immanuel Kant (entre 1600 a 1800). Descartes (1596-1650) e Spinoza (1632-1677) foram os primeiros racionalistas. Os racionalistas acreditam que a razao é 32 Melanie McEwen & Evelyn M. Wills “les tentam determinar a natureza superior 4 experiéncia como fonte de conhecimento. do mundo ¢ da tealidade pela deducio e destacam a importincia dos procedimentos matemdticos. Bacon (1561-1626) foi um empirico precoce. Como os racionalistas, ele apoiou a experimentagio e os métodos cientificos para a solugio dos problemas O trabalho de Kant (1724-1804) estabeleceu os fundamentos para muitos desenvol- vimentos posteriores na filosofia. Kant acreditava que o conhecimento é relativo e que a mente desempenha um papel ativo no conhecimento, Outros filésofos também influen- ciaram a enfermagem e 0 progresso da ciéncia da enfermagem. Virios deles sio abordados posteriormente neste capitulo. Embora haja alguma variacéo, tradicionalmente os ramos da filosofia incluem ame tafisica (ontologia e cosmologia), a epistemologia, a légica, a estética ¢ a ética (ou axiolo- gia). A filosofia politica e a filosofia da ciéncia sio adicionadas por alguns autores (Teich- man ¢ Evans, 1999; Rutty, 1998). A’Tabela 1-2 resume os principais ramos da filosofia. ESCOLAS DE PENSAMENTO CIENTIFICO E FILOSOFICO O conceito de ciéncia, como entendido no século XI, é relativamente novo. No perfodo da ciéncia moderna, trés filosofias da ciéncia dominam ~ 0 racionalismo, 0 empirismo ea ciéncia humana/fenomenologia. O racionalismo e 0 empirismo sio freqiientemente denominados visdo recebida, e a ciéncia humana/fenomenologia e os pontos de vista rela- cionados (i, ¢., 0 historicismo) s4o considerados visdéo percebida (Hickman, 2002; Meleis, 2005; Moody, 1990). Visdo recebida (empirismo, positivismo, positivismo légico) O empirismo tem suas taizes nos escritos de Francis Bacon, John Locke ¢ David Hume, que valorizavam a observacio, a percepcao pelos sentidos ea experiéncia como fontes de conhecimento (Gortner e Schultz, 1988). O empirismo é fundado sobre a crenga de que 0 que € experimentado ¢ 0 que existe ¢ sua base de conhecimentos exige que essas experiéncias sejam verificadas com 0 uso da metodologia cientifica (Gustafsson, 2002; a TABELA 1-2 Ramos da filosofia Metatisica Estudo da natureza fundamental da realidade e da existéncia — teoria geral da realidade Ontologia Estudo da teoria do ser Cosmotogia Estudo do universe fisico Epistemologia Estudo do conhecimento (maneiras de conhecer, natureza da verdade e relacionamentos entre conhecimento e crenga) L6gica Estudo dos principios ¢ métodos de raciocinio (inferéncia e argumento) Etica (axiologia) Estudo da natureza dos valores; certo e errado (flosofia moral) Estética Estudo da apreciagdo das artes ou de coisas betas Filosofia da ciéncia Estudo da ciéncia e da pratica cientifica Filosofia politica Estudo do cidadio e do estado eee Fonte: Blackburn (1994); Teletiman e Evans (1999) Bases Teéricas para Enfermagem 33 Waintight, 1997). Tal conhecimento é, entao, passado aos outros na discipline e, sub- seqiientemente, utilizado como base. O termo visio recebida ou conhecimento recebido denota que os individuos aprendem por meio de algo dito a eles ou ao receberem 0 conhecimento. O empirismo afirma que a verdade corresponde a observacio, & reducio, & verifica- fo, 20 controle e & ciéncia livre de parcialidade. Enfatiza as formulas matemiticas para explicar os fendmenos e prefere dicotomias simples ¢ classificacao de conceitos. Além disso, tudo pode ser reduzido a uma formula cientifica com pouco espaco para a interpre- tacio (DiBartolo, 1998; Gortner e Schultz, 1988). O empirismo concentra-se no entendimento das partes, em uma tentativa de com- preender o todo. Luta para explicar a narureza por meio do teste de hipsteses e do desenvolvimento de teorias. As teorias séo feitas para descrever, explicar ¢ prever os fenémenos da natureza e proporcionar um entendimento dos relacionamentos entre os fendmenos. Os conceitos devem ser operacionalizados na forma de afirmagées pro- posicionais tornando, desse modo, possivel a mensuragao. A instrumentagéo, a con- fiabilidade e a validade sio destacadas nas metodologias empfricas de pesquisa. Uma 10, & possivel testar as reorias por meio da experimentacio ver determinada a mensura ou da observ: 1987; Suppe 40, 0 que resulta na verificagao ou na falsificacio (Cull-Wilby e Pepin, Jacox, 1985). positivismo é, com freqiiéncia, igualado ao empirismo. Como o empirismo, 0 po- sitivismo sustenta os principios mecinicos, reducionistas, quando complexo pode ser melhor entendido em termos de seus componentes bisicos (Gortner, 1993). O positivis- mo légico foi a filosofia empirica dominante da ciéncia entre 1880 ¢ 1950. Os Positivistas légicos reconheciam apenas as bases légicas ¢ empiricas da ciéncia e afirmavam que nao havia espago para a metafisica, 0 entendimento ou 0 significado dentro do ambito da ciéncia (Polifroni e Welch, 1999). O positivismo légico assegurava que a de valor, € independente do cientista e € obtida usando-se métodos objetivos. A mera da iéncia é livre ciéncia é explicas, prever e controlar. As teorias sio verdadeiras ou falsas, sujeitas 4 obser- vacdo empirica e capazes de serem reduzidas as teorias cientificas existentes (Riegel et al., 1992; Rutty, 1998). Empirismo e pos-positivismo contemporéneos O positivismo softeu criticas na década de 1960, quando o positivismo légico foi con- siderado inconsiscente (Rutty, 1998). A confianca excessiva na experimentacdo estrita- mente controlada nos ambientes artificiais produziu resultados em que grande parte do conhecimento ou da informagio significativa era perdida, Recentemente, os professores determinaram que a visio positivista da ciéncia esta desatualizada e errénea, pois con- tribui para a fragmentacao excessiva do conhecimento e da teoria do desenvolvimento (DiBartolo, 1998). Foi observado que a andlise positivista das teorias ¢ fundamentalmen- te defeituosa devido a insisténcia em analisar de forma légica o ideal, o que resulta em achados que tém pouca relagao com a verdadeira ciéncia. Foi estabelecido que 0 contexto da descoberta é artificial e que as teorias e as explicacées podem ser entendidas apenas no contexto das suas descobertas (Suppe e Jacox, 1985). Além disso, a pesquisa cientifica & inerentemente carregada de valor, pois mesmo a escolha do objeto a investigar e/ou das técnicas empregadas refletem os valores do pesquisador. Os pés-positivistas accitam a nacureza subjetiva da pesquisa, mas ainda sustentam 0 rigor e 0 estudo objetivo por meio dos métodos quantitativos. Na realidade, observow-se que os empiricos modernos estéo preocupados com a explicagao e a previsio dos fendme- nos complexos, reconhecendo as varidveis contextuais (Kermode e Brown, 1996). 34 Melanie McEwen & Evelyn M. Wills Enfermagem e empirismo Como disciplina nova ¢ emergente, a enfermagem acompanhou as disciplinas estabeleci das (i.e., a fisiologia) ¢ 0 modelo médico destacando 0 positivismo légico. Os primeiros enfermeiros cientistas adotaram a importancia da objetividade, do controle, do fato ¢ da mensuragéo de partes cada vez menores. Com base nessa influéncia, a geracdo de conhecimento na enfermagem salientou os métodos tradicionais, ortodoxos e, preferen- Gialmente, experimentais. O positivismo continua a influenciar fortemente a ciéncia da enfermagem (Riegel et al., 1992). Esse ponto de vista tem sido, entretanto, desafiado recentemente. Como DiBartolo (1998) afirmou, “a maioria dos estudiosos em enfermagem agora concorda que a visio recebida é, fundamentalmente, incompativel com 0 compromisso filos6fico complexo da disciplina, com o holismo ¢ a abordagem humanista, sendo, portanto, es sencialmente descartada como base para a ciéncia de enfermagem” (p. 353). Viso percebida (ciéncia humana, fenomenologia, construtivismo, historicismo) No final da década de 1960 e inicio dos anos de 1970, varios filésofos, incluindo Kuhn, Feyerbend ¢ Toulmin, desafiaram a visio positivista argumentando que a in- flugncia da historia sobre a ciéncia deveria ser enfatizada. A visio percebida da ciéncia, que também pode ser denominada como viséo interpretativa, inclui a fenomenolo- gia, 0 construtivismo e o historicismo. A visdo interpretativa concentra-se sobre as percepc6es, tanto do sujeito em estudo como do pesquisador, e tende a nao enfatizar 2 confianga sobre 0 controle rigido e a experimentagio nos ambientes laboratoriais (Monti ¢ Tingen, 1999). Avvisio percebida da ciéncia centraliza-se nas descricées que derivam das experiéncias vivenciadas de forma coletiva, inter-relacionamentos, interpreta¢io humana ¢ realidade aprendida, em oposigao & realidade artificial (Rutty, 1998), Argumenta-se que a busca do conhecimento e da verdade Assim, nio existe uma tinica verdade, Ao contririo, o conhecimento é considerado verda- deiro caso resista aos testes praticos de utilidade e razdo (DiBartolo, 1998). A fonomenologia & 0 estudo dos fendmenos ¢ enfatiza a aparéncia das coisas em oposi- io as préprias coisas. Na fenomenologia, o entendimento ¢a meta da ciéncia, com o ob- , por natureza, histérica, contextual e carregada de valor. jetivo de reconhecer a conexio entre a experiéncia, os valores ¢ as perspectivas do indivi- duo, Segunda ela, a experiéncia de cada individuo ¢ tinica e existem muitas interpretacoes da realidade (Gortner e Schultz, 1988; Monti ¢ Tingen, 1999; Polifroni e Welch, 1999). questionamento comeca com os individuos e suas experiéncias com os fendmenos, O foco sao as percepgdes, os sentimentos, os valores e os significados que passaram a fazer parte das coisas e dos eventos. Para os cientistas sociais, as abordagens construtivistas da visio percebida enfocam 0 entendimento das ages ¢ do significado dos individuos. O que existe depende do que se percebe existit. O conhecimento é subjetivo e criado pelos individuos. Assim, a meto- dologia da pesquisa acarreta a investigacto do mundo do individuo (Wainwright, 1997) Existe énfase na subjetividade, nas verdades miiltiplas, nas tendéncias e nos padres, no descobrimento, na desctigéo e no entendimento feminismo ¢ a teotia da critica social também sao consideradas como visio per- Of cebida. Essas escolas filos6ficas de pensamento reconhecem a influéncia do género, da cultura, da sociedade e da histéria compartilhada como componentes essenciais da cién- Bases Teoricas para Enfermagem 35 Ee ELA 1-3 Comparagéo das visées recebida e percebida da ciéncia scebida da ciéncia ~ Ciéneias rigidas Visto percebida da ciéncia - Ciéncias maledveis 2 positivismo/positivismo légico Historicismo/fenomenologia verdade/fatos considerados niio-contextuais _—Realidade/verdade/fatos oonsiderados no contexto ardade/fatos considerados néo-hist6ricos Realidade/verdade/fatos considerados em relago & historia Subjetiva Indutiva controle Descrigdo e entendimento 2 Verdades miltiplas replicagao Tendéncias e padrées 2 ITSM. Construtivismo ce pesquisa quantitativa Métodos de pesquisa qualitativa ee eeeeeeeFSFSFSFSFSFSFSS 2s (2008); Moody (1990), cia (Riegel et al., 1992). Os teéricos da critica social afirmam que a realidade € dindmi- cae formada pelos valores sociais, politicos, culeurais, econdmicos, étnicos ¢ de género (Streubert-Speriale e Carpenter, 2003). Isso foi graficamente ilustrado pelas diferencas dramaticas nas perspectivas e nos pontos de vista que levaram aos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. A teoria da critica social ¢ as reorias feministas serio descritas com mais detalhes no Capitulo 12. Enfermagem e fenomenologia Devido ao fato de examinarem os fenémenos dentro do contexto, a fenomenologia € as outras filosofias de visio percebida sto condutiva: mento do conhet a descoberta ¢ ao desenvolwi- mento inerente & enfermagem. A fenomenologia é aberta, variével, relativista e baseada na experiéncia humana e nas interpretagées pessoais, Como tal, um paradigma de orientacao para a teoria € 0 ensino da pratica de enfermagem (DiBartolo, 1998) Na ciéncia de enfermagem, a dicotomia do pensamento filoséfico entre a vis cebida, empirica da ciéncia, e a visio percebida, interpretativa da ciéncia, ainda persiste Isso pode ter resultado, em parte, porque a enfermagem vincula-se fortemente tanto as ciéncias naturais (Fisiologia, biologia) como as ciéncias sociais (psicologia, sociologia). A Tabela 1-3 compara as duas vis6es filosdficas dominantes da ciéncia na enfermagem. Ore _OSOFIA DA ENFERMAGEM, CIENCIA DA ENFERMAGEM E FILOSOFIA DA =NCIA NA ENFERMAGEM Os termos filosofia da enférmagem, ciéncia da enfermagem ¢ filosofia da ciéncia na enfer- magem sio usados, algumas veres, de modo intercambidvel. No encanto, ¢ importance reconhecer as diferengas no significado geral desses conceitos. 36 Melanie McEwen & Evelyn M. Wills Filosofia da enfermagem A filosofia da enfermagem tem sido descrita como uma “declaragio de pressupostos fun- damentais ¢ universais, crengas e princ{pios sobre a natureza do conhecimento e do pen- samento (epistemologia) e sobre a natureza das entidades representadas no metaparadig- ma (.., a pratica de enfermagem € os processos de satide humana [ontologial)” (Reed, 1995, p. 76). A Filosofia da enfermagem, porranto, refere-se ao sistema de crenga da profissao e proporciona perspectivas para a pratica, ensino € pesquisa (Gortner, 1990). Nenhuma filosofia dominante isolada tem prevalecido na disciplina de enfermagem. Muitos pesquisadores e teéricos de enfermagem escreveram extensivamente na tentativa de identificar o sistema de crenga prevalence, mas até agora nenhum foi universalmente bem-sucedido. Ciéncia da enfermagem Barrert (2002) definiu a ciéncia da enfermagem como 0 “conhecimento substantivo, especifico 2 disciplina, que enfoca o processo humano-universo-satide articulado nas estruturas e teorias de enfermagem” (p. 57). Em geral, a ciéncia da enfermagem refere- se ao sistema de relacionamentos das respostas humanas na saide ¢ na doenga abor- dando os dominios bioldgico, comportamental, social ¢ cultural (Gortner ¢ Schultz, 1988). A meta da ciéncia da enfermagem é representar a natureza da enfermagem — para entendé-la, explicd-la € usd-la para o beneficio da humanidade. E a ciéncia da enfermagem que dé direcao & futura geracéo de conhecimento substantivo, ¢ é ela também que proporciona o conhecimento a todos os seus aspectos (Barrett, 20025 Phillips, 1996). Filosofia da ciéncia na enfermagem A filosofia da ciéncia na enfermagem ajuda a estabelecer o significado da ciéncia por meio do entendimento ¢ do exame dos conceitos, teorias, leis e metas de enfermagem 3 medida que se relacionam com a pratica. Procura entender a verdade; descrever a enfermagem; cxaminar a previsio e a causalidade; relacionar criticamente as teotias, modelos e sistemas cientificos e explorar o determinismo e a vontade prépria (Poliftoni ¢ Welch, 1999). DESENVOLVIMENTO DO CONHECIMENTO E DA CIENCIA DA ENFERMAGEM O desenvolvimento do conhecimento de enfermagem reflete a interface entre a ciéncia € a pesquisa em enfermagem. A finalidade definitiva do desenvolvimento do conheci- mento & melhorar a prética de enfermagem. As abordagens ao desenvolvimento do co- nhecimento possuem trés facetas: ontologia, epistemologia e metodologia. A ontologia refere-se a0 que ou a0 que existe; a epistemologia refere-se as manciras de conhecer; ¢ a metodologia € 0 meio de aquisicao do conhecimento (Wainwright, 1997). Esta secio aborda a epistemologia da enfermagem ¢ os aspectos relacionados aos métodos de aqui- sigio do conhecimento. Epistemologia A epistemologia & o estudo da teoria do conhecimento. As questoes epistemolégicas in- cluem: O que nds sabemos? Qual é extenséo do nosso conhecimento? Como decidimos se sabemos? Quais sio os critérios do conhecimento? (Schultz ¢ Meleis, 1988). De acordo com Streubert-Speriale e Carpenter (2003), € importante entender a ma- neira como 0 conhecimento de enfermagem se desenvolve, proporcionando um contexto apropriado para julgar a propriedade desse conhecimento ¢ os métodos que os enfert nei- Bases Teoricas para Enfermagem 87 ros usam para desenvolver tal conhecimento. Isso, por sua vez, mudaré o foco dos méro- dos de obten¢ao do conhecimento, assim como o estabelecimento da legitimidade ou da qualidade do conhecimento obtido. Maneiras de conhecer ‘Na epistemologia, existem varios tipos basicos de conhecimento. Entre eles estéo os seguinte "= Empitico — forma cientifica de conhecer. O conhecimento empirico ver da ob- servacio, do teste ¢ da replicagao. ™ Conhecimento pessoal — conhecimento @ priori que pertence ao conhecimento obtido apenas a partir do pensamento. ® Conhecimento intuitivo — inclui os sentimentos e os palpites. Q conhecimento intuitivo nao é adivinhacdo, mas confia no padréo nao-consciente de reconheci- mento e experiéncia, | Conhecimento somatico — conhecimento do corpo em relagio ao movimento fisico. O conhecimento somético inclui uso experimental dos misculos e do cequilibrio para realizar uma tarefa fisica, ® Conhecimento metafisico (espiritual) — busca a presenga de um poder superior. Aspectos do conhecimento espiritual incluem a magica, os milagres, a psicocinese, a percep¢fo extra-sensorial ¢ as experiéncias de quase-morte. = Estética — conhecimento relacionado com a beleza, a harmonia e a expresséo. O conhecimento estético incorpora a arte, a ctiatividade ¢ os valores. = Conhecimento moral ou ético — conhecimento do que é certo ¢ errado, Os valores € as normas sociais e culeurais de comportamento sio componentes do conheci- mento ético, Epistemologia da enfermagem ‘A cepistemologia da enfermagem foi definida como “o estudo das origens do conhecimen- to de enfermagem, as suas estruturas ¢ os scus métodos, os padroes de conhecimento dos seus membros ¢ os critétios para a validacio das afirmagées do conhecimento” (Schultz Meleis, 1988, p. 21). Como a maioria das disciplinas, a enfermagem é dotada tanto do conhecimento cientifico como do conhecimento que pode ser denominado sabedoria convencional (aquele que nio foi empiricamente testado). ‘Tradicionalmente, apenas o que apéia o teste de repetidas mensuragdes constitui verdade ou conhecimento. Os processos cientificos cléssicos (i.e., a experimentacio), no entanto, nio sio adequados para a criacdo € a descrigéo de todos os tipos de conhecimen- to. As ciéncias sociais, as ciéncias comportamentais € as artes contam com outros méto- dos para estabelecer 0 conhecimento. Como possui caracteristicas das ciéncias sociais ¢ comportamentais, assim como das ciéncias bioldgicas, a enfermagem deve contar com miiltiplas formas de conhecimento. Em um estudo cléssico, Carper (1978) identificou quatro padres fundamentais para o conhecimento de enfermagem: (1) empitico — a cigncia da enfermagem; (2) estético —a arte da enfermagem; (3) 0 conhecimento pessoal em enfermagem; ¢ (4) ético - 0 conhe- cimento moral em enfermagem. © conhecimento empirico & objetivo, abstrato, geralmente passivel de quantificacio, modelar, formulado discursivamente e verificével. Quando confirmado pelo uso de testes repetidos ao longo do tempo, é engendrado em generalizagdes cientificas, leis, teorias ¢ principios que explicam e prevéem (Carper, 1978, 1992). Recorre as idéias tradicionais que podem ser verificadas pela observacao e provadas pelos testes das hipdteses. 38 Melanie McEwen & Evelyn M. Willis © conhecimento empirico tende a ser 0 mais enfatizado na enfermagem, pois existe a necessidade de saber como o conhecimento pode ser organizado em | finalidade de descrever, explicar ¢ prever os fendmenos de interesse para os enfermeiros. A maior parte do desenvolvimento da teoria dos esforcos da pesquisa esté engajada na busca ¢ na geracéo de explicacdes que sejam sistemdticas e controlaveis pela evidéncia factual (Carper, 1978, 1992). O conhecimento estético & expressivo, subjetivo, exclusivo e experimental, nao-formal ou descritivo. A estética inclui a sensibilidade do significado de um momento. E evidente por meio das agées, condutas, atitudes e interagées de um enfermeiro em resposta a ou- tro. Nao é expresso na linguagem (Carper, 1978). O conhecimento estético conta com a percepsao. Ele € criativo e incorpora a empatia is e teorias com a eo entendimento. F interpretativo, contextual, intuitivo ¢ subjetivo, exigindo mais sin- tese que andlis: valores e significado para explicar as varidveis que ndo podem ser formuladas de forma quantitariva (Carper, 1978, 1992). O conhecimento pessoal refere-se 4 maneira como os enfermeiros véem a si mesmos ¢ 20 paciente. O conhecimento pessoal é subjetivo e promove a totalidade ¢ a integridade nos encontros pessoais. O engajamento, ¢ nao o afastamento, é um componente desse Além disso, a estética vai além do que é explicado pelos principios ¢ cria tipo de conhecimento. O conhecimento pessoal incorpora experiéncia, conhecimento, encontros e atualiz: ¢4o de si mesmo na pratica. A maturidade ¢ a liberdade sao componentes desse conheci- mento, que pode incluir formas espirituais e metafisicas. Como 0 conhecimento pessoal é dificil de expressar lingiiisticamente, é revelado sobretudo na personalidade (Carper, 1978, 1992). A ética refere-se ao cédigo moral da enfermagem ¢ est baseada na obrigacao de servir ¢ respeitar a vida humana. O conhecimento ético ocorre & medida que surgem os dilemas morais, nas situacdes de ambigitidade e incerteza e quando as conseqiténcias sio dificeis de prever. O conhecimento ético exige exame tacional ¢ deliberado ¢ avaliagao do que é bom, valioso ¢ desejavel como metas, motivos, ou caracteristicas (Corper, 1978, 1992. A ética deve dirigir-se para normas conflitivas, interesses ¢ principios e proporcionar insight as dreas que nio podem ser testadas. Fawcett, Watson, Neuman, Walkers e Fitzpatrick (2001) destacam que a integragio de todos os padroes de conhecimento é essencial para a pratica de enfermagem profis- sional e que nenhum padréo deve ser usado de forma isolada. Na realidade, eles sao inter-relacionados e interdependentes porque existem muitos pontos de contato entre eles (Carper, 1992). Assim, os enfermeiros devem ver a pratica de enfermagem a partir de uma perspectiva ampliada, que atribua valor a outras maneiras de conhecimento além da empirica (Silva, Sorrell ¢ Sorrell, 1995). A'Tabela 1-4 resume as caracteristicas seleciona- das dos padrdes de conhecimento em enfermagem de Carper. Outras vises dos padrées de conhecimento em enfermagem Embora o trabalho de Carper seja considerado classico, ele nao esté livre de criticas. Schultz ¢ Meleis (1988) observaram que ele nao incorporava 0 conhecimento pratico aos meios de conhecimento de enfermagem. Por causa disso e de outras questoes, eles descreveram ués padrées de conhecimento na enfermagem: 0 clinico, 0 conceitual ¢ 0 empirico O conhecimento clinico tefere-se a0 conhecimento pessoal do enfermeiro individual- mente. Resulta do uso de miltiplos meios de conhecimento na solucao dos problemas durante a prestacao do atendimento ao paciente. O conhecimento clinico é manifestado Bases Teéricas para Enfermagem 39 fe TABELA 1-4 Caracteristicas dos padrées de conhecimento em enfermagem de Carper Patirdo de Relagaocom Fonte de Fonte de Método de Finalidade/ conhecimento —enfermagem —_criagao validagao expressio resultado Empitico Ciénciada ——“Odservagdo.ou ——_—Replicagao Fatos, modelos, _Descrigéo, enfermagem — mensuragao direta principios explicagao @ ou indireta ientificos, leis, _previstio declaragdes, teotias, descrigbes Estétioo Arte da Criagéo do valor —_Apreciagéo: Apreciagio; Iralém do que enfermagem edosignificado, _experiéncia: empatia; pode ser explicado, sintese do inspiragaio: critica estética; — formulado abstrato € do percepeao do engajamento, quantitativamente, concreto equilibrio, ritmo, —_intuigao e equilibrio do proporcio e visualizagéo entendimento unidade Conhecimento Uso Engajamento, Resposta, Empat, Uso terapéutico essoal terapéutico ——_abertura, reflexao, patticipagao = do.eu doeu centralizacéo, experiéncia ava atualizagéo do eu Componente Esclarecimento ——_—Dilogo, Principio, Avaliagdo do que moral da os valores, justiicacdo, cédigos, tgorias bom, valioso @ enfermagem raciocfnio racional ganeralizagio —_—éticas desejavel e deliberado, universal obrigacao, defesa ses: Carper (1978); Carper (1992); Chinn e Kramer (2004) nos atos da pritica dos enfermeiros ¢ resulta da combinacéo do conhecimento pessoal com 0 conhecimento empitico. Também pode envolver 0 conhecimento intuitivo e sub- jetivo, Esse tipo de conhecimento é comunicado, retrospectivamente, pela publicaca periédicos (Schultz e Meleis, 1988) O conbecimento conceitual & abstraido ¢ generalizado além da expetiéncia pessoal. Explica os padrées revelados nas miltiplas experiéncias dos pacientes que ocorrem em diferentes situagoes e articula-os como modelos ou teorias. No conhecimento conceitual, 9s conceitos so esbogados e as afirmagées relacionais sio formuladas. As proposigées si apoiadas pela evidéncia empirica ou defendidas pelo raciocinio ligico. © conhecimento conceitual usa 0 conhecimento a partir da enfermagem e de outras disciplinas. Incorpora a curiosidade, a imaginacio, a persisténcia e 0 compromisso no aciimulo de fatos e generalizagées confidveis pertencentes a disciplina de enfermagem. Ele € comunicado por meio de proposigées (Schultz ¢ Meleis, 1988). conhecimento emptrico resulta da pesquisa experimental, histérica ou fenomenolé- gica, sendo usado para justificar as ages e os procedimentos na pritica. A credibilidade do conhecimento empitico reside no grau em que o pesquisador observa os procedimen- tos aceitos pela comunidade de pesquisa ¢ na derivagao légica ¢ imparcial de conclusées a partir das evidéncias. Ele ¢ avaliado pela revisio sistematica e pela critica da pesquisa publicada e das conferéncias apresentadas (Schultz ¢ Meleis, 1988) oem io Bases Te6ricas para Enfermagem 39 ci TABELA 1-4 Caracteristicas dos padrées de conhecimento em enfermagem de Carper Pattrao de Relacdocom Fonte de Fonte de Método de Finalidade/ conhecimento —enfermagem —_criagdo validagéo expressdo resultado Empitico Cignciada —Observaedo ou —Reppicaedo Fatos, modelos, Descrigdo, enfermagem — mensurado direta princi explicagio e ou indirota cientiicos, leis, _previsio declaragées, teorias, descrigdes Estética Arte da Criagdo do valor ——_Apreciago; Apreciagao; Iralém do que enfermagem edo significado, _experléncia; empatia; pode ser explicado, sintese do inspiragao, critica estética;_formulado abstrato e do peroepgéodo —engajamento, -—_quantitativamente, conereto equiloro, ritmo, intuigéo e equilfrio do pronorgao e visualizagdo entendimento unidade Conhecimento Uso Engajamento, Resposta, Emoatia, Uso terapéutico pessoal terapéutico —_abertura, reflex, patticipagéo = do-eu docu centralzagao, experiéncia ativa atualizagao do eu Stica Componente —_Esclarecimento Didlogo, Principios, Avaliagdo do que moral da dos valores, justifcagao, cédigos, teorias @ bom, valiosoe enfermagem raciocinioracional generalizagdo—«éticas desejavel e deliberado, universal obrigagao, defesa ates: Carper (1978); Carper (1992); Chinn e Kramer (2004), nos atos da pritica dos enfermeiros e resulta da combinacéo do conhecimento pessoal com 0 conhecimento empirico, Também pode envolver o conhecimento intuitive e sub- jetivo. Esse tipo de conhecimento é comunicado, retrospectivamente, pela publicacio em periddicos (Schultz e Meleis, 1988). O conhecimento conceitual & abstraido e generalizado além da experiéncia pessoal Explica os padrées revelados nas miiltiplas experiéncias dos pacientes que ocotrem em diferentes situagées e articula-os como modelos ou tcorias, No conhecimento conceitual, | 08 conceitos so esbogados eas afirmacées relacionais sio formuladas. As proposicdes sio apoiadas pela evidéncia empirica ou defendidas pelo raciocinio légico. O conhecimento conceitual usa o conhecimento a partir da enfermagem e de outras disciplinas. Incorpora a curiosidade, a imaginacéo, a persisténcia e 0 compromisso no aciimulo de fatos ¢ generalizages confidveis pertencentes & disciplina de enfermagem. Ele ¢ comunicado por meio de proposigées (Schultz ¢ Meleis, 1988) O conhecimento empirico resulta da pesquisa experimental, histética ou fenomenol- gica, sendo usado para justificar as agdes ¢ os procedimentos na pritica. A credibilidade do conhecimento empirico reside no grau em que o pesquisador observa os procedimen- tos accitos pela comunidade de pesquisa ¢ na derivagio légica ¢ imparcial de conchusdes a partir das evidéncias. Ble ¢ avaliado pela reviséo sistemética e pela critica da pesquisa publicada e das conferéncias apresentadas (Schultz e Meleis, 1988). 40 Melanie McEwen & Evelyn M. Wills Moch (1990) também expandiu os padrées de conhecimento de Carper. Fla identi- ficou esses padrdes: conhecimento experimental (tornar-se consciente da participagio ou de estar no mundo), conhecimento interpessoal (maior consciéncia que ocorre por meio da interag4o intensa com os outros) e conhecimento intuitive (conhecimento imediato de algo, nao parecendo envolver o raciocinio consciente). Apés um exame profundo do trabalho de Carper, White (1995) acrescentou o ele- mento “contexto” ou 0 ambiente sociopolitico das pessoas (tanto o enfermeito como 0 nte) € sua interagao. Ela focalizou suas observagées na necessidade de reconhecer a pac situagao em que a intera Resumo das formas de conhecimento na enfermagem Durante décadas, a importancia das miltiplas formas de conhecimento tem sido reco- nhecida na disciplina de enfermagem. Se a enfermagem desejar atingir uma verdadeira integracao entre a teoria, a pesquisa ¢ a pratica, o desenvolvimento da teoria € a pesquisa devem integrar diferentes fontes de conhecimento. Kidd e Morrison (1988) declaram que a sintese das teorias derivadas de fonces distintas na enfermagem ird: 1. Incentivar 0 uso de diferentes tipos de conhecimento na prética, no ensino, no desenvolvimento da teoria ¢ na pesquisa. 2. Incentivar 0 uso de metodologias distintas na pratica ¢ na pesquisa. 3. Tornaro ensino de enfermagem mais relevante pata os enfermeiros com diferen- tes antecedentes educacionais. 4. Acomodar os enfermeiros nos diferentes niveis de competéncia clinica. 5. Promover, definitivamente, 0 atendimento de alta qualidade ¢ a satisfacéo do paciente. METODOLOGIA DA PESQUISA E CIENCIA DA ENFERMAGEM Sendo fortemente influenciados pelo empirismo légico, & medida que a enfermagem comegou a desenvolver-se como disciplina cientifica em meados de 1900, os métodos quantitativos eram usados quase exclusivamente na pesquisa. Nos anos de 1960 ¢ 1970, as escolas de enfermagem alinharam a pesquisa de enfermagem com a pesquisa cientifica no intuito de trazer reconhecimento ao ambiente académico, e os enfermeiros pesqui sadores ¢ educadores valorizaram os métodos de pesquisa quantitativa mais que outras formas (Fry, 1992). Na década de 1980, iniciou um debate sobre a metodologia, quando alguns enfer- meiros experientes afirmaram que a ontologia da enfermagem (0 que a enfermagem é) nao estava sendo adequada e suficientemente explorada com 0 uso de métodos quanti- tativos de forma isolada. Posteriormente, os métodos de pesquisa qualitativa comegaram a set utilizados. Os pressupostos eram que os métodos qualitativos mostravam os fend- menos da enfermagem de maneira naturalista e desestruturada, ¢ nao mal-tepresentada (Rutty, 1998). A transigao, no entanto, é incompleta. De acordo com Gortner (1990), 0 legado do positivismo filoséfico, que dominou a ciéncia de enfermagem primordial, continua a influenciar as crengas relativas & superioridade dos métodos quantitativos de investigacéo. A maneira como a ciéncia de enfermagem é conceituada determina as prioridades para a pesquisa ¢ proporciona as medidas para o estabelecimento da relevancia de varias Bases Tedricas para Enfermagem 44 questoes de pesquisa cientifica. Desse modo, a maneira como a ciéncia de enfermagem Econceituada também tem implicagées para a pritica, Os aspectos filosdficos referentes aos métodos de pesquisa voltam a se relacionar com o debate sobre a dtica da visio recebi- da versus visio percebida da ciéncia ¢ sobre a enfermagem ser uma ciéncia pratica ou uma ciéncia aplicada, uma ciéncia humana ou alguma combinagéo anteriormente descrita. A noao de pratica baseada em evidéncias emergiu durante os tiltimos anos, principalmente ‘em resposta a essas preocupacées € outras a clas relacionadas. A pratica baseada em evi- déncias seri descrita em detalhes no Capitulo 17. Enfermagem como ciéneia pratica Nos primeiros tempos, 0 debate concentrava-se em saber se a enfermagem era uma cién- cia basica ou uma ciéncia aplicada, ‘A meta da ciéncia bésica é a obtengao do conhecimen- co. Na pesquisa basica, 0 investigador esta interessado em entender o problema e produz, conhecimento apenas pelo conhecimento. Ela é analitica e sua fungao definitiva é analisar uma conclusio voltando aos seus prdprios principios (Johnson, 1991). Contrariamente, a ciéncia aplicada é a que usa 0 conhecimento das ciéncias bé- sicas para alguma finalidade prética. A engenbaria, a arquixetura e a farmacologia sio exemplos disso. Na pesquisa aplicada, o investigador trabalha em diregio & solucéo dos problemas ¢ & produgio de solugdes para os problemas. Nas ciéncias priticas, a pesquisa é principalmente clinica e orientada & agéo (Moody, 1990). Assim, como. Giéncia aplicada ou pratica, a enfermagem exige pesquisa que seja aplicada ¢ clinica (Fawcett, 1999). Enfermagem como uma ciéncia humana O termo ciéncia humana remonta ao filésofo Wilhelm Dilthey (1833-1911). Dilthey afirmou que as ciéncias humanas exigem conceitos, métodos e teorias fundamentalmen- re diferentes daqueles das ciéncias naturais, As ciéncias humanas estudam a vida, valo- rizam as experiéncias vivenciadas e buscam entender a vida em sta matriz de padres de significado e valor. Alguns estudiosos acreditam que existe a necessidade de abordar as ciéncias humanas de modo diferente do empirismo convencional e defendem que a experiéncia humana deva ser entendida no contexto (Cody ¢ Mitchell, 2002; Mitchell ¢ Cody, 1992). Nas ciéncias humanas, os cientistas esperam criar novo conhecimento para propor- cionar entendimento e interpretagao aos fendmenos. Nas ciéncias humanas, 0 conheci- mento toma a forma de teorias descritivas referentes a estruturas, processos, relaciona- mentos e tradigées subjacentes aos aspectos psicolégicos, sociais e culturais da realidade. Os dados sao interpretados dentro do contexto pata extrair significado ¢ entendimento (Wolfer, 1993). Os humanistas valorizam 0 componente subjetivo do conhecimento. Eles reconhecem que os seres humanos séo incapazes de objetividade total ¢ adotam a dia de subjetividade (Streubert-Speziale e Carpenter, 2003). A finalidade da pesquisa na ciéncia humana é produzir descrigées e interpretagdes que ajudem a entender a natureza da experiéncia humana, Cada vez mais a enfermagem tem sido referida como uma ciéncia humana (Cody ¢ Mitchell, 2002; Mitchell e Cody, 1992). Na realidade, a disciplina tem examinado aspec- tos relacionados ao comportamento ¢ & cultura, assim como com a biologia ¢ a fisiologia, ¢ procurado reconhecer associages entre os facores que sugitam varidveis explicativas para a saiide e a doenga humana (Gortner, 1993). Desse modo, ela ajusta-se ao padrao das outras ciéncias humanistas (i. ¢., antropologia, sociologia). Melanie McEwen & Evelyn M. Wills Metodologia quantitativa versus metodologia qualitativa | Os especialistas em enfermagem aceitam a premissa de que o conhecimento cientifico é | gerado a partir do estudo sistemstico. As metodologias ¢ os ctitétios de pesquisa usados para justificar a aceitacéo das afirmagées ou conclusdes como verdadeiras, dentro da di ciplina, resultam em conclusées ¢ afirmagdes apropriadas, vélidas e confidveis para 0 seu. | propésito. Duas formas dominantes de pesquisa cientifica foram identificadas na enfermagem: (1) 0 empitismo, que objetiva a experiéncia e pode testar as proposigdes ou hipéreses na experimentagao controlada; ¢ (2) a fenomenologia e outras formas de pesquisa qualitativa (ic. teoria fundamentada, hermenéutica, pesquisa histérica, etnografia), que estudam as experiéncias vividas ¢ os significados dos eventos (Gortner e Schultz, 1988; Monti ¢ Tingen, 1999). As revisées da situagao cientifica do conhecimento de enfermagem em geral comparam a abordagem positivista-dedutiva-quantitativa com a interpretativ: dutiva-qualitativa. Embora os teéricos ¢ os cientistas de enfermagem enfatizem a importincia dos con- textos socio-histéricos e as interagées individuo-ambiente, cles tendem a se concentrar na “ciéncia dura’ e no processo de pesquisa. Tem sido argumentado que hd uma valorizacéo excessiva da visio empirica/quantitativa porque ela é tida como a “ciéncia verdadeira’ (Tinkle ¢ Beaton, 1983). Na realidade, 0 método experimental é bastante considerado. Um ponte de vista que persiste no século XI é a presungéo de que a pesquisa descri- tiva ou qualitativa deva ser realizada apenas onde existe pouca informagio disponivel ou quando a ciéncia for recente. A pesquisa correlata pode acompanhar, e os métodos experimentais, entdo, podem ser usados quando os dois niveis inferiores tenham sido explorados. 2 Métodos quantitativos Tradicionalmente, a ciéncia tem sido somente quantitativa. A abordagem quantitativa rem sido justificada por seu sucesso na mensuragao, andlise, replicacao e aplicagio do conhecimento obtido (Streubert-Speziale e Carpenter, 2003). De acordo com Wolfer (1993), a cigncia deve incozporar os principios merodolégicos da observacio/descri- 40 objetiva, a mensuragio exata, a quantificagéo das var € estatistica, os métodos experimentais ¢ a verificagao por meio da replicagio sempre que pos Kidd ¢ Morrison (1988) declaram que, na pressa em provar a credibilidade da enfer- Imagem como profissio, os estudiosos enfatizaram o reducionismo e a validago emptica com 0 uso de metodologias quantitativas, enfatizando o teste das hipéteses. Nessa linha, © cientista desenvolve uma hipétese sobre o fendmeno e procura prové-la ou contesté-la, eis, a andlise maveméti Métodes qualitativos A tradigao de usar métodos qualitativos para estudar os fendmenos humanos esté ba- seada nas ciéncias sociais. A fenomenologia e outros métodos de pesquisa qualitativa surgiram porque os aspectos dos valores humanos, a cultura ¢ os relacionamentos néo Podiam ser descritos completamente com o uso dos métodos de pesquisa quantitativa. Costuma ser accito que os achados da pesquisa qualitativa respondem As questées cen. tradas na experiéncia social e dao significado & vida humana. A partir da década de 1970, 6s cientistas de enfermagem foram solicitados a explicar os fendmenos que desafiam a mensuragio quantirativa, e as abordagens qualitativas, que enfatizam a importancia da perspectiva do paciente, comegaram a ser usadas na pesquisa de enfermagem (Kidd e Morrison, 1988).

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