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PSICOPATOLOGIA I – MATUTINO/ NOTURNO

PROFA. DRA. ALESSANDRA DILAIR FORMAGIO MARTINS

Transtornos de ansiedade, os sintomas e a organização da aparência


neurótica

(MARCELLI, D. COHEN, D. Infância e Psicopatologia, Porto Alegre: Artmed, 2010.)

Ansiedade: estado afetivo penoso associado a uma atitude de expectativa de um


acontecimento imprevisto, mas vivenciado como desagradável.

Angústia: sensação de extremo desconforto acompanhada de manifestações somáticas.

Medo: relacionado a um objeto, uma situação precisa, quer devido à experiência, quer à
educação.

A angústia surge quando o equipamento maturativo do indivíduo não pode responder


adequadamente a uma tensão experimentada como ameaçadora: o fato de que esta tensão
seja de origem interna ou externa, que o equipamento maturativo esteja enfraquecido ou que
ainda não tenha sido experimentado em nada muda a natureza do estado afetivo. Importante
distinguir as manifestações de angústias pré-verbais das descritas verbalmente pela criança.

Anna Freud descreve que “não é a presença ou a ausência de angústia, sua qualidade ou
mesmo sua quantidade que permitem prever o equilíbrio psíquico posterior ou a doença. O
que é significativo a esse respeito é apenas a capacidade do Eu para dominar a angústia”.

Ansiedade crônica ou hiperansiedade na criança:

A criança hiperansiosa vive permanentemente com sentimento vago de apreensão, como se


algo terrível fosse ocorrer. Podem ocorrer episódios agudos, com verdadeiros ataques de
angústia, baseado em gatilhos externos.

Características:

 Inquietude com relação ao futuro com, muitas vezes, o temor da ocorrência de um


acidente ou doença a si própria ou a familiares.
 Irritabilidade, recusas, caprichos.
 Exigência ou necessidade de ter um adulto sempre próximo para sentir-se seguro.
 Temores relacionados à atitude anterior.
 Pensamentos depressivos: culpa, desvalorização.

Ataque de pânico (crise de angústia aguda):

Apresenta um início espontâneo e paroxístico, caracterizado por:


 Sinais somáticos: palpitação, taquicardia, sensação de sufocamento, dores torácicas,
abdominais, náuseas.
 Sinais neurológicos: tremores, espasmos musculares, vertigem, mal-estar.
 Sinais motores: agitação, prostração.
 Sinais vasomotores: suor, fogachos ou calafrios.
 Sinais psíquicos: sensação de estranhamento, perda de referências, medo de morrer,
de ficar louco.

Quanto menor for a criança, mais rico será o contexto somático. Geralmente aparece a partir
dos 7/ 8 anos, apenas a presença de um familiar, pai ou mãe, é capaz de acalmar-lhe. Muitas
vezes a contenção física firme, mas benevolente, a limitação da destrutividade da criança
representam as melhores atitudes para acalmar num primeiro momento o acesso agudo de
angústia.

Condutas fóbicas (medos):

Os medos constituem pela sua frequência, um acontecimento quase constante no decorrer do


crescimento: medo do escuro a partir de 18 meses a 2 anos, medo de pequenos animais, medo
de animais que mordam, medo de estranhos, de fantasma, bicho papão. A partir dos 8 anos, a
criança defronta-se com o medo da morte, muitas vezes relacionado ao temor hipocondríaco.
Fatores que intervém nas reações de medo:

 Emergência do sentimento de individualidade, de um eu que deve ser preservado.


 Clima familiar: identificação com pais fóbicos, confrontação com objeto fóbico.
 Aprendizagem: estado afetivo que acompanhou primeira vivência de medo.

A fobia constitui-se quando o medo invade o Eu da criança e entrava suas capacidades


adaptativas e/ou evolutivas.

Fobias ditas arcaicas ou pré-genitais: caracteriza-se por estados de pânico intenso com todos
os sinais de terror ativados por objetos ou situações muito comuns da vida cotidiana e
observados, na maioria das vezes, em crianças pequenas apresentando manifestações
psicóticas. Esses medos arcaicos parecem corresponder à incapacidade de elaborar
mentalmente a angústia. Comum medo de descarga do vaso sanitário, aparelho
eletrodoméstico, banho, barba, etc. Nesses casos as crises de descarga motora de tensão
(agitação, automutilação, colérica) tornam-se a única saída possível para liberar angústia.

Fobias do período edipiano: corresponde a segunda infância (2 a 3 anos/ 6 a 7 anos), nessa


idade a natureza dos objetos e situações fóbicas é infinita: animais, elementos naturais,
paisagem urbana, personagens, situações emocionais, temor da doença, escola. O aspecto
fundamental para avaliação é o peso do investimento econômico do objeto e da situação
fóbica. Na maioria dos casos as fobias atenuam-se por volta dos 7/ 8 anos. A atitude das
pessoas ao redor da criança e como lidam com a fobia tem papel preponderante na fixação ou
não do transtorno, geralmente um dos pais é fóbico, podendo estar relacionada a mesma
fobia.
Condutas obsessivas da criança

A obsessão é uma ideia que assedia (obsidere=assediar) o paciente com um sentimento de


mal-estar ansioso do qual não pode se desfazer. Descrevem-se também rituais ou compulsões
a agir contra os quais o paciente luta com mais ou menos angústia.

Rituais obsessivos: representam o primeiro estágio de surgimento das condutas obsessivas.


Existe um vínculo direto entre as primeiras interações do bebê com as pessoas que o cercam, a
repetição e a aprendizagem que disso resultam para chegar até o ritual em si. As exigências
familiares não deixam de influenciar as exigências pulsionais internas: lavar as mãos,
comportar-se bem, não dizer palavrões. A atitude educativa modula a fase anal do
desenvolvimento da libido, possível fonte de fixação posterior. Há rituais normais no
desenvolvimento da criança.

Os rituais obsessivos parecem representar tentativas mais ou menos desesperadas de


contenção das pulsões vividas como perigosas e destrutivas.

Ideias obsessivas: muito raras na infância, são encontradas na pré-adolescência e adolescência.


Trata-se de pensamentos conjuratórios ou de verdadeiras ideias obsessivas.

Condutas histéricas na criança:

Exceto na adolescência, os sintomas histéricos são raros na criança, principalmente menores


de 10 anos. Quando ocorrem as conversões acometem o aparelho motor, particularmente o
andar, é comum observar um sintoma idêntico entre as pessoas que o cercam, quanto menor
for a criança.

Inibição

Todos os graus de inibição podem ser vistos no comportamento, no ponto máximo


observamos o quadro de mutismo extrafamiliar. Na maioria dos casos, a família fala da timidez
que em excesso, pode entravar os processos de socialização da criança, chamando-se fobia
social. A inibição também pode afetar o corpo da criança.

A inibição é a expressão de uma limitação funcional do Eu, cujo objetivo é o de evitar um


conflito com o Id, ou seja, evitar a confrontação com as pulsões libidinais e agressivas. O
sintoma representa um compromisso que permite uma satisfação pulsional ao menos parcial,
a inibição coloca-se aquém do sintoma.

Inibição das condutas mentalizadas: A inibição recai sobre a própria organização fantasmática
(imaginação), quanto sobre o funcionamento intelectual. Pode acompanhar traços obsessivos.
As crianças brincam pouco, ou de forma conformista, preferindo copiar o comportamento,
brincadeira, desenho do outro. Pode facilitar a inserção social pela atitude conformista. Na
inibição intelectual parecem travadas na capacidade de pensar, sempre retraídas, pouco
intervém nas atividades escolares, temem ser interrogadas.

Neurose na criança

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