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HALFORD MACKINDER E A GEOPOLÍTICA DO HEARTLAND

A concepção histórico-geográfica
A teoria do poder terrestre só adquire pelo significado quando analisada no contexto
mais amplo da concepção histórico-geográfica que perpassa o pensamento geopolítico de
Mackinder. Essa concepção tem como elementos ordenadores a visão compreensiva do mundo
como sistema político fechado, a ideia de história universal baseada na casualidade geográfica
e o postulado da luta pela supremacia entre o poder marítimo e o poder terrestre.
O Mundo como Sistema Político Fechado
No que diz respeito à visão do mundo como sistema político fechado, é importante
recordar que, na época da conferência de Mackinder, em 1904, a expansão das grandes
potências europeias estava praticamente concluída. Com isso fechava-se o ciclo histórico que
o geógrafo denominou época colombiana, iniciado quatro séculos antes por dois outros
movimentos expansionistas realizados simultaneamente a partir dos pontos extremos da
Europa. (p.27)
Essa dupla expansão – o controle dos mares pelos europeus ocidentais e a posse da mais
extensa massa territorial contínua do planeta pelos russos – demarcou nos séculos seguintes a
oposição oceanismo versus continentalismo e descortinou o cenário do embate entre o poder
marítimo e o poder terrestre pela hegemonia mundial.
O terceiro surto expansionista, realizado em fins do século XIX, na África e na Ásia,
completou a integração das diferentes regiões da superfície terrestre numa sociedade
internacional unificada. Com o advento do barco a vapor e dos canais interoceânicos, da
locomotiva e das ferrovias transcontinentais, todas aquelas áreas estavam sendo interligadas
por um sistema de transportes marítimos e terrestres sendo totalmente envolvidas por uma rede
de relações políticas e econômicas do âmbito mundial.
Diversamente do ocorrido na época precedente, na recém-iniciada era pós colombiana,
não havia mais oceanos ignotos a explorar, terras desconhecidas a descobrir ou novos
continentes a conquistar. No plano político, a sociedade internacional encontrava-se
fragmentada num sistema interestatal anárquico e oligopolista; no plano econômico, estava
integrada a um mercado de dimensão planetária. (p.28)
Num sistema cujo cenário de ação era todo o planeta, tornavam-se cada vez mais raros
os acontecimentos isolados ou eventos de repercussão localizada [...] Diversamente do sucedido
desde o Congresso de Viena, as guerras locais comportavam agora o perigo de deflagrar uma
guerra geral, colocando em risco não só os países beligerantes, mas o sistema como um todo.
(p.29)
A anarquia internacional e o “estado de natureza” hobbesiano, que caracterizavam as
relações entre as grandes potências, prenunciavam o conflito generalizado que implodiria o
concerto europeu em 1914. Dessa forma, o início do século presenciou o surgimento de um
sistema político fechado de extensão verdadeiramente mundial, do qual não estava excluído
nenhum país ou nenhuma região e cujo raio de abrangência estendia-se por todos os continentes.
(p.30)
A Casualidade Geográfica na História Universal
A concepção de uma ordem mundial estruturada como unidade compacta permitiu a
Mackinder desenvolver a ideia de uma história universal baseada na causalidade geográfica. A
proposta de Mackinder era realizar uma abordagem da história mundial à luz dos fenômenos e
dos fatos da geografia. Para ele, a unificação do mundo pelo terceiro surto expansionista
europeu oferecia a oportunidade inédita de generalizar as realidades e os processos históricos
globais, sintetizando-os numa fórmula abrangente e capaz de exprimir (p.32)
[...]A visão mackinderiana baseia-se no condicionamento exercido pelas realidades
geográficas sobre os processos históricos, no confronto secular entre as potências oceânicas e
as potências continentais, assim como no declínio da supremacia mundial do poder marítimo e,
no advento da era pós-colombiana do poder terrestre. (p.33)
Para Mackinder, as inovações tecnológicas nos meios de transporte, com o advento da
locomotiva e das ferrovias transcontinentais, dariam ao poder terrestre uma mobilidade muito
superior à do poder marítimo o que poderia acarretar a substituição do poder marítimo pelo
poder terrestre no domínio mundial. (p.34)
Segundo o materialismo geográfico de Mackinder, as coerções, as servidões e os
desafios impostos pelo ambiente acabavam por influenciar decisivamente a história dos povos,
modelando em larga medida seu caráter nacional e desenvolvendo neles uma vocação
predominantemente marítima ou continental. (p.35)
A Rivalidade Oceanismo versus Continentalismo
Na visão do geógrafo britânico, os processos históricos eram passíveis de ser
interpretados à luz da oposição oceanismo versus continentalismo, como pareciam comprovar
as guerras recorrentes travadas desde a Antiguidade entre potências marítimas e potências
terrestres. (p.36)
As potências terrestres utilizavam-se de sua posição central e de suas linhas interiores
para se expandir em direção às regiões periféricas e conseguir saídas para os mares e oceanos.
As potências marítimas apoiavam-se em sua posição insular e em suas linhas exteriores para
dominar as regiões litorâneas e manter as potências terrestres encurraladas dentro dos limites
de sua posição mediterrânea. (p.37)
A tese por ele defendida era de que o poder terrestre poderia conquistar as bases do
poder marítimo, caso conseguisse adicionar à sua retaguarda continental uma frente oceânica
que lhe possibilita-se tornar-se um poder anfíbio, simultaneamente terrestre e marítimo. (p.39)
A Teoria do Heartland
O mundo como unidade compacta, o primado da casualidade geográfica e a oposição
terra-mar constituem, pois, os três grandes pilares da filosofia da história que está na origem da
teoria do poder terrestre. (p.40)
De acordo com o conhecimento arraigado e difundido pela ciência geográfica da virada
do século, existiam na Terra quatro oceanos e seis continentes [...] Segundo o geógrafo
britânico, existia na verdade apenas o Grande Oceano (Great Ocean), isto é, um oceano único
cujas águas contínuas e intercomunicantes recobriam da totalidade do globo. Do restante um
quarto de terras emersas, dois terços correspondiam aos continentes da Europa, Ásia e África
que, não visão de Mackinder, formavam de fato um único grande continente. Com efeito, os
montes Urais e o istmo de Suez uniam e interligavam, em vez de separar, as terras da Eurásia-
África que , envolvidas por todos os lados pelo oceano único, constituíam uma grande ilha
mundial: a Word Island. O restante da superfície sólida englobava as Américas e a Austrália,
que seriam ilhas-continente menores, satelitizadas pela grande ilha basilar. (p.41-42)
A noção de Heartland – que pode ser entendida como área-pivô, região-eixo, Terra
Central ou coração continental – é o conceito-chave que constitui a pedra de roque da teoria do
poder terrestre. Tal conceito foi cunhado por Mackinder para designar o núcleo basilar da
grande massa eurasiática que coincidia geopoliticamente com as fronteiras russas no início do
século. (p.45)

1 – Explique em que consistia a ideia de Heartland proposta por Halford Mackinder.

2 – Observando o mapa explique as divisões propostas por Mackinder.

3- Com base nas Geopolíticas Clássicas, relacione as teorias de Haushofer, Mackinder e Mahan.

4 – Existem Heartlands no Sistema Internacional no Século XXI? Quais regiões no mundo que são
mais sensíveis ao assédio das grandes potências do que outras?

5 – Discorra sobre a teoria do poder terrestre e a importância do “heartland” na concepção geopolítica


de Halford Mackinder, apontando a dinâmica expansionista do poder terrestre versus poder marítimo e
sua érea geográfica de embate.

http://www.universiaenem.com.br/sistema/faces/pagina/publica/conteudo/texto-
html.xhtml?redirect=45093318230511859525042387764

Texto limpo: https://pt.scribd.com/document/48516745/Halford-Mackinder-e-a-Geografia-


Do-Heartland

Lista de exercícios: https://pt.scribd.com/document/352932726/Guia-de-Estudos


RESPOTAS

Existem heartland no sistema internacional do século XXI?

Para Mackinder existia apenas um Heartland, e este se localizava na Eurásia , sendo que
o embate pela hegemonia global se daria pelo controle desta região. Porém alguns
analistas consideram que a abstração do conceito poderia ser aplicada a outros
continentes, que, mesmo menores, também teriam seu próprio "Heartland", como as ricas
planícies do interior da América do Norte - que vão dos EUA ao Canadá, ou no caso da
América do Sul, as ricas planícies centrais que vão da Amazônia ocidental no Brasil ao
Pantanal e Chaco, incluindo Bolívia e Paraguai.

Porém, é importante ressaltar que existem regiões no mundo que são mais sensíveis ao
assédio das grandes potências do que outras, e que o empenho para controlá-las também
é diferenciado. Logo, mesmo aceitando a existência de vários Heartlands regionais, temos
que levar em consideração uma hierarquia entre estas regiões, sendo que determinadas
áreas são mais importantes do que outras do ponto de vista geoestratégico.

Porém, após o término da União Soviética e dos atentados de 11 de setembro de 2001,


quais seriam as regiões do globo que são mais sensíveis para a ordem mundial? Se
utilizarmos o critério das áreas mais conflituosas do mundo, no início do século XXI,
algumas regiões se destacam, e geram impactos distintos para o ordenamento mundial.
Temos que deixar claro que este é um dos critérios colocados por Mackinder (1904), como
forma de identificar uma área Core. É importante ressaltar também que não são somente
as áreas mais conflituosas as mais sensíveis para a ordem mundial, mas levar em
consideração a combinação sobre a natureza dos conflitos, a riqueza de tais regiões e a
complexidade etno-religiosa de tais populações, que também são fatores que influenciam
na determinação do Heartland.

Nesse contexto, a África e a Ásia são as regiões com maior concentração de focos de
tensão, onde se destacam: conflitos internacionais, conflitos independentistas, guerras
civis e graves distúrbios internos (Le Monde Diplomatique, 2003). A natureza das guerras
na África remonta o processo neocolonial europeu naquele continente (MILZA, 1999), o
que fomentou guerras tribais, guerras civis, conflitos independentistas e internacionais. A
formação das fronteiras dos Estados Nacionais africanos e sua incompatibilidade territorial
com as minorias étnicas e religiosas que lá habitavam proporcionou uma multiplicidade de
conflitos, como por exemplo: No chifre da África (Somália, Eritréia e Etiópia), na costa
Atlântica (Côte d’Ivoire, Libéria e Serra Leoa), no Magreb (principalmente Líbia, Argélia,
Saara Ocidental, Mauritânia e outros), e a África Sub-Saariana (Ruanda, Burundi, República
Democrática do Congo, República do Congo, Moçambique, Angola e etc) (Le Monde
Diplomatique, 2003). Porém, devido à natureza destes conflitos e o isolamento africano no
sistema internacional, as iniciativas para solução destes conflitos, ou os impactos que eles
têm no sistema também são minorados.

Já a Ásia, devido à sua grande extensão territorial, e por ser o continente com o maior
número de conflitos e Estados que possuem armas nucleares (Le Monde Diplomatique,
2003), aparece como região extremamente sensível à política internacional. Vamos nos
ater a uma sub região específica da Ásia; o Oriente Médio
Um fato distintivo da posição do Oriente Médio é que ele Está localizado na soldadura de
três continentes: o europeu, o africano e o asiático, sendo um entroncamento comercial
histórico e que mantêm sua importância até a atualidade. Não é por coincidência que os
três países que fazem contato direto com as regiões limítrofes (Europa, África e Ásia
Central) são os mais populosos dentre os demais. O Egito é considerado como parte do
Oriente Médio, pois mesmo sendo um país africano, sempre teve um papel importante na
política regional do território vizinho, seja como liderança político-militar, ou como um
atalho estratégico do mar europeu para o mar da Arábia e o oceano Índico.

Além das características posicionais, que torna a região um ponto de contato entre três
continentes, esta área possui três pontos estratégicos de imenso valor para a economia,
comércio e política internacional, que são: 1) O estreito de Bósforo e de Dardanelos na
Turquia; 2) O Canal de Suez no Egito; 3) O Golfo Pérsico e o Estreito de Hormuz no Irã.

O Estreito de Bósforo e de Dardanelos, no extremo noroeste da região, representa a ligação


entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo. Ele é a principal porta de entrada para o Cáucaso
e a única saída da Rússia para o Mediterrâneo. Este aspecto é relevante pois o Estreito de
Bósforo, localizado na cidade de Istambul, possui uma distância entre suas margens, nas
áreas mais estreitas, de menos de 700 metros, isto significa que os petroleiros russos e a
marinha mercante russa, que pela ausência de mares quentes, muitas vezes se vê
vulnerável por necessitar usar esta ligação fundamental entre a Rússia continental e o mar
europeu (o Mediterrâneo).

O Canal de Suez no Egito, localizado à sudeste do Mediterrâneo, liga o mar europeu à costa
oriental Africana, e à Península Arábica. Possui uma extensão aproximada de 163 km e
uma largura média de 365 metros. Mesmo com o aumento do tamanho das embarcações,
e as limitações que o canal de Suez vêm sofrendo, ele continua sendo um atalho vital para
o comércio internacional e o transporte de tropas. Um exemplo de sua importância é levar
em consideração a necessidade de transportar mercadorias ou tropas fazendo o périplo da
África pelo Cabo da Boa Esperança, ou usando o Canal de Suez. No primeiro exemplo, uma
viagem de Roma até Bombaim percorreria uma distância aproximada de 21.000 km,
enquanto pelo Canal de Suez, esta distância seria de 8.250 km. Com isto, percebe-se a
importância econômica e estratégica deste canal.

O terceiro ponto que quero salientar é o Golfo Pérsico e o estreito de Hormuz. O Golfo
Pérsico possui uma área de aproximadamente 233 mil Km2, e concentra a maior reserva,
produtores e exportadores de petróleo do mundo. São sete os países que fazem parte da
orla do Golfo Pérsico, dentre eles as cinco maiores reservas mundiais de petróleo. Além
disto, a desembocadura do Rio Tigre e do Rio Eufrates, por meio do Canal de Chat al Arab,
se dá no Golfo Pérsico.
Com isto, o transporte da maior parte deste petróleo é feita pelas rotas marítimas
atravessando o estreito de Hormuz, que possui aproximadamente 50 km de largura em
seu ponto mais estreito, e passando pelo Golfo de Omã. O controle deste estreito
representa o monitoramento de uma das mais vitais linhas de abastecimento energético
no sistema internacional, sendo esta uma área extremamente importante. Estes pontos
estratégicos, juntamente com a posição desta região, atribui a esta área uma grande
importância geopolítica, devido à sua característica de centralidade geográfica no sistema
internacional.

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